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Osteoporose na ortopedia 1 Osteoporose na ortopedia Introdução SISTEMA ESQUELÉTICO → sustentação, movimentação do corpo, proteção de órgãos internos, armazenamento de minerais e íons, produção de células sanguíneas. O osso é constituído com aproximadamente 50% do peso de matéria orgânica e 50% inorgânica. ORGÂNICA → formada por fibras colágenos, principalmente tipo I, e pequena quantidade de proteoglicanas e glicoproteinas adesivas INORGÂNICA → sendo o fosfato e o cálcio mais abundantes (formando hidroxapatita - fosfato de cálcio) Outros: bicarbonato, magnésio, potássio, sódio e citrato. obs.: o osso é dividido em osso cortical (80%) e trabecular/esponjoso (20% - função mecânica de formar as linhas de distribuição de forças e abrigar a MO vermelha) Osteoporose OSTEOPOROSE (OP) → doença que se caracteriza pela perda progressiva de densidade óssea, tornando os ossos enfraquecidos e predispostos a fraturas - “diminuição da massa óssea mineral e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo orgânico, levando à fragilidade mecânica e consequente predisposição a fraturas”. A OP é uma doença esquelética sistêmica caracterizada por um comprometimento da resistência óssea, determinada pela densidade óssea + qualidade óssea (relacionada com a microarquitetura óssea e taxa e grau de remodelação óssea), que aumentam as chances de fratura. obs.: os locais mais comuns de fratura são rádio distal, vértebras, fêmur proximal (trocânter maior e colo) Osteoporose na ortopedia 2 Há um desequilíbrio entre a formação (osteoblastos e osteócitos) e a reabsorção (osteoclastos). A proteína RANKL (ligante do recetor ativador do fator nuclear kappa B) e os seus dois recetores RANK (recetor ativador do fator nuclear kappa B) e OPG (osteoprotegerina) são fundamentais para os osteoclastos, sendo a interação RANKL/RANK é essencial para a estimulação da osteoclastogênese e promoção da reabsorção óssea. Por outro lado, a interação RANKL/OPG inibe a estimulação da osteoclastogênese, inibindo assim a reabsorção óssea. Também está muito relacionada com o metabolismo do Ca2+, vitamina D (estimula a absorção intestinal de Ca2+), calcitonina (liberada quando há altos níveis de Ca2+ plasmáticos e diminui a reabsorção óssea) e PTH (estimula reabsorção óssea e aumenta os níveis plasmáticos de Ca2+). Remodelação óssea → ao ser ativada, há reabsorção por osteoclastos e formação por osteoblastos Osteoporose na ortopedia 3 FATORES DE RISCO: Idade avançada (>60 anos) Fratura óssea >50 anos Quedas frequentes Redução da altura Baixo peso (<57 kg) ou IMC <18,5 Histórico familiar Tabagismo e etilismo Pouco sol/atividade física Baixo consumo de laticínios Artrite reumatoide DM Hipertireoidismo/hiperparatireoidismo Doenças digestivas Tto com glicocorticoides/omeprazol prolongado Terapia contra CA mama/próstata Níveis baixos de testosterona Menopausa precoce Ovários removidos obs.: FR maiores → idade avançada, em qualquer sexo; sexo feminino; história familiar; fratura prévia, em qualquer idade; etnia branca e asiática; menopausa precoce/histerectomia. obs.: pte acamado não tem estímulo para formação óssea Principais medicações → GC, anticonvulsivantes, quimioterapia e imunossupressores, inibidores da bomba de prótons, ISRS Osteoporose na ortopedia 4 FATORES INFLUENTES: Ingestão de cálcio → adolescência e adulto jovem Vitamina D e B12 Genética Hormonal – amenorréia (aumento risco de OP) Peso corporal (menor massa magra) Exercício físico PICO: EPIDEMIO → doença óssea mais comum; a partir dos 50 anos, 30% das mulheres e 13% dos homens poderão sofrer algum tipo de fratura por osteoporose ao longo da vida; mulheres caucasianas - 1 a cada 2 terão uma fratura relacionada a osteoporose; custo alto para sociedade. Após fratura de fêmur → apenas 40% voltam ao nível de independência pré-fratura. COMPLICAÇÕES DA FRATURA DE FÊMUR: Mortalidade 8-36% em 1 ano, mais em homens. Aumenta 2,5x a chance de outras fraturas. Pode causar → infecções, TVP e TEP, falha de fixação, necrose avascular, luxação da prótese. A ocorrência de uma fratura, vertebral ou não, gera diversas consequências, transitórias ou permanentes, e pode aumentar o risco de mortalidade no 1° ano após uma fratura de quadril. Também há diversos custos: hospitalares, cirúrgicos, diagnósticos, com medicamentos e com a perda de produtividade. Classificação Dividida em primária e secundária. OP primária Cálcio, fósforo e fosfatase alcalina normais - sem alterações laboratoriais. TIPO I → osteoporose pós menopausa; alta reabsorção óssea, decorrente de uma atividade osteoclástica acelerada - geralmente, apresentada por mulheres mais jovens, a partir dos 50 anos. TIPO II → osteoporose senil ou de involução; reabsorção óssea normal ou ligeiramente aumentada, associada a uma atividade osteoblástica diminuída, com formação óssea diminuída - mais frequente nas mulheres mais idosas, a partir dos 70 anos, e também no homem. OP secundária CAUSAS: Hipercortisolismo (endógeno ou exógeno) - corticóide Hiperparatireoidismo primário ou secundário Hipertireoidismo Acromegalia Doenças inflamatórias intestinais Doença celíaca Pós-gastrectomia Homocistinúria Osteoporose na ortopedia 5 Neoplasias do sistema hematopoético Cirrose biliar primária Hemocromatose Doenças reumáticas inflamatórias → AR, Epa, Lúpus CE >3m >5mg/dia = aumento do risco de osteoporose (suplementar Ca2+ e vitamina D - se >40a = bifosfonatos). Quadro clínico ❗OP NÃO TEM SINTOMAS❗ Somente após perda de pelo menos 30% de massa óssea, há sinais de osteoporose. Não tem dor❗As dores aparecem na fase mais avançada, quando se instalam as microfraturas, principalmente na coluna vertebral. A dor pode, ainda, manifestar-se de forma difusa e/ou com predominância noturna. A fratura típica da osteoporose geralmente decorre de trauma mínimo ou ainda de forma atraumática. O paciente pode apresentar diminuição da estatura, cifose torácica, atrofia da musculatura paravertebral e dor à percussão dos processos espinhosos vertebrais e na face interna da tíbia. No idoso, a cifose dorsal é característica com encurtamento do tronco, rotação anterior do quadril, proeminência do abdome e diminuição da distância entre o rebordo costal e o ilíaco. obs.: pior em idosos → quadril e fêmur Diagnóstico Como rotina e para o diagnóstico diferencial, são recomendados os seguintes exames: hemograma; velocidade de hemossedimentação; fosfatase alcalina; ureia; creatinina; cálcio; fósforo; eletrólitos; eletroforese de proteínas; enzimas hepáticas - aspartato transaminase (AST) e alanina transaminase (ALT); e cálcio urinário de 24 horas. O PTH deve ser solicitado na presença de hipercalcemia. DDX → na OP primária, a dosagem sérica de cálcio, fósforo, fosfatase alcalina e PTH é normal. Nas doenças renais, principalmente na osteodistrofia renal, os valores de fósforo, ureia e creatinina estão alterados. No hiperparatireoidismo e em algumas neoplasias ósseas, é o cálcio sérico que está aumentado, no mieloma múltiplo há aumento da velocidade de hemossedimentação e inversão da relação albumina-globulina na eletroforese de proteínas. Radiografias podem evidenciar fraturas torácicas e lombares e ajudam a fazer o ddx de outras doenças que podem levar à fratura patológica, como mieloma múltiplo e metástases ósseas. ✨PADRÃO OURO✨ → densitometria mineral óssea (DMO) - coluna lombar, segmento proximal do fêmur (colo) e, em alguns casos, segmento distal do rádio. DMO por densitometria absorciometria radiológica de dupla energia (DXA), feita em densitômetro, é o teste-padrão para o diagnóstico de osteoporose, de acordo com a classificação da OMS. ESCORES DE VALORES ABSOLUTOS: ESCORE T → comparação com a média do adulto jovem NORMAL = T≥ -1,0 OSTEOPENIA = -2,4≤ T ≤ -1,0 OP = T≤-2,5 OP severa ou estabelecida = T<2,5 + fratura por fragilidade ESCORE Z → comparação com a média da mesma idade Osteoporose na ortopedia 6 INDICAÇÕES PARA RASTREAMENTO, CHECK-UPE PREVENÇÃO QUATERNÁRIA: Mulheres ≥65 anos e homens ≥70 anos Mulheres com menopausa precoce (<45a) ou hipogonadismo ou IMC <19 ou perda de estatura >2,5cm ou hipercifose torácica Mulheres na pós-menopausa ou na transição menopausal e homens ≥50a com FR Adultos com antecedentes de fratura por fragilidade (atraumática ou por trauma mínimo), condição clínica (causas secundárias - hiperparatireoidismo ou outras desordens patológicas ou nutricionais que levam à perda óssea, como amenorreia prolongada por mais de um ano; evidência de osteopenia na radiografia ou fraturas vertebrais) ou uso de medicamentos associados à baixa massa óssea ou perda óssea (CE >3m ≥5mg/dia) Indivíduos para os quais são consideradas intervenções farmacológicas para OP Indivíduos em tto para OP, para monitoramento da eficácia Indivíduos que não estejam sob tto, mas a identificação de perda de massa óssea pode determinar a indicação de tto obs.: hipercifose é sinal de osteoporose! RISCO DE FRATURA: obs.: FR e rastreio → diagnóstico; avaliação do risco de fratura → tto obs.: muito alto risco de fratura: Idade avançada Fratura por fragilidade → coluna e fêmur, úmero, antebraço e pelve (osteopenia) Fratura <12 meses Múltiplas fraturas vertebrais T score <-3,0 Fratura em vigência de glicocorticóide Alto risco de quedas FRAX com risco muito elevado RX no início do tto e anualmente → torácico e lombossacral Osteoporose na ortopedia 7 Tto não farmacológico O tto não farmacológico consiste em reduzir os FR e prevenir quedas em idosos, de forma intrínseca e extrínseca, e em mudanças no estilo de vida (MEV), como a prática de atividades físicas, com ênfase em exercícios de equilíbrio e força muscular - visam minimizar a perda de massa óssea e evitar quedas, pois promovem equilíbrio, melhoram padrão da marcha, reação de defesa e propriocepção. Deve-se aumentar a ingestão de cálcio e, s/n, promover a suplementação, além de adequada exposição solar para produção de vitamina D na pele. Quando os níveis de 25-hidroxivitamina D são insuficientes, também é necessária suplementação. Cálcio INGESTA DE CÁLCIO → necessidade varia de acordo com o estágio da vida Mulheres sadias >50a → 1200mg (copo de leite 300mg) Mulheres com osteoporose, em uso de GC, grávidas, amamentando e >65a → 1500mg Cálcio elementar 1000-1500 mg/dia pela dieta; s/n suplementar (com risco CV sempre). Pct sem complicações → 2 comprimidos carbonato de cálcio (cada 1 = 600mg) + 400 mg/dia vitamina D - mesmo se níveis normais: dose de manutenção. obs.: o consumo adequado é fundamental para a mineralização e o desenvolvimento da massa óssea na infância, para prevenção da OP na vida adulta e, na velhice, para o tto da OP. SUPLEMENTOS DE CÁLCIO: Carbonato e o fosfato tribásico de cálcio são os que contêm a maior biodisponibilidade de cálcio, cerca de 40%. Atenção com medicamentos anti-hipertensivos e hipoglicemiantes orais, pois eles alteram o nível de consciência e aumentam o risco de queda. Vitamina D Vitamina D 25OHD ideal → >30 ng/mL SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D: Deficiência = <20 ng/mL → 50.000 U colecalciferol/sem por 3 meses, após: 1000 U/dia Adequado para a população <65a = 20-60 ng/mL; ideal para população de risco = 30-60 ng/mL Risco de intoxicação = >100 ng/mL - risco de insuficiência renal (manter entre 30-60 → >60 risco de aumentar PTH). Osteoporose na ortopedia 8 ⚠ obs.: em casos de hipercalciúria (>4mg/kg/24h) e história de litíase renal → tiazídicos Orientações simples na prevenção das quedas Não encerar o assoalho Evitar tapetes e fios soltos, preferir pisos antiderrapantes Instalar luzes nos corredores junto ao chão para andar à noite Evitar pequenos degraus entre os ambientes Não guardar objetos em prateleiras altas Não colocar carpetes ou pisos lisos nas escadas e usar corrimão dos dois lados Colocar barras de segurança no banheiro Tto farmacológico CONSISTE EM: ANABÓLICOS → teraparatida (análogo PTH), romosozumab ANTIRREABSORTIVOS → bifosfonados (alendronato), denosumab, terapia hormonal, raloxifeno, calcitonina Bifosfonados Reduzem a ação dos osteoclastos. ❗Jejum, com copo cheio de água, comer após 30 minutos, não deitar (só após 30 minutos)! Alendronato Risedronato (mensal) Ibandronato Ác. zoledrônico Denosumabe 1. Alendronato de sódio → 70mg/semana (30min jejum): Osteoporose na ortopedia 9 Diminui 50% fx coluna, quadril, punho Esofagite/alteração do TGI Fratura atípica do alendronato → >5a uso; aumento do depósito de cálcio = aumento do risco de fraturas atípicas (geralmente, subtrocantéricas transversas) Osteonecrose de mandíbula 2. Ácido Zoledrônico → Iv 4-5mg/ano: Diminui 70% fraturas de coluna e quadril 41% FRATURA DE FÊMUR ATÍPICA: Rara na população geral, mais comum em pacientes usando BP oral longo prazo. Risco de FFA <<< fratura quadril. Terapia por menos tempo para evitar. Características maiores: 1. Diáfise fêmur ou abaixo do trocanter menor 2. Configuração transversal ou oblíqua curta 3. Fratura não cominutiva 4. Frat completa – ambas corticais, espículas ou 5. Frat incompleta – córtex lateral obs.: fratura + comum de fêmur = trocanter Características menores: 1. Reação periosteal localizada no córtex lateral 2. Aumento generalizado na espessura cortical - diáfise (pausar) 3. Bilateral 4. Cicatrização retardada 5. Co-morbidades (AR, DM, deficiência vitamina D, hipofosfatasia) 6. Medicações (bifosfonatos, GC, inibidores da bomba de prótons) Biópsia óssea → baixo turnover, ausência de dupla marcação com tetraciclina, ausência de osteoclatos Osteoporose na ortopedia 10 Tto → parar BP, adequar cálcio e vit. D, teriparatida, tixação intramedular profilática OSTEONECROSE DE MANDÍBULA: Área de osso exposto na região maxilofacial. Evolui sem cicatrização, período de 8 semanas ou mais. Sintomática ou assintomática. Uso de bisfosfonato EV ou denosumabe. Evitar manipulação dentária. FA e arritmias: SINTOMAS GRIPAIS: Febre, mialgia, artralgia, náuseas. Bloqueio da via Farnesil pirofosfato (FPP) → induz expansão de cels T γδ: produção de citocinas inflamatórias (INF-γ, TNF-α). Menos frequentes em infusões subsequentes. Contornados com analgésicos e antipiréticos. BIFOSFONATO E PTH: Uso concomitante alendronato pode reduzir os efeitos anabólicos do PTH. PTH e Raloxifeno parece mostrar sinergismo → uso concomitante Raloxifeno pode melhorar os efeitos anabólicos do PTH PTH e ácido Zoledrônico → efeito benéfico Raloxifeno Mulheres na pós-menopausa sem sintomas de climatério com OP de coluna, história de displasia ou ca de mama Moduladores seletivos do receptor de estrogênio → inibe reabsorção óssea Agonista no osso Efeitos benéficos do estrogênio no osso Sem EA Osteoporose na ortopedia 11 Calcitonina Diminui a atividade e a formação dos osteoclastos e alivia a dor óssea, por meio do aumento de betaendorfinas. Porém, é menos efetiva contra a redução de fraturas do que outras drogas. Terapia hormonal Os estrogênios bloqueiam os osteoclastos e, possivelmente, estimulam os osteoblastos. Somente estão indicados quando existe insuficiência hormonal, não sendo drogas de escolha para o tto da osteoporose propriamente dita, principalmente pelo risco aumentado de AVE, TVP e neoplasias ginecológicas. Teraparatida OP grave (Tscore <-3.0), múltiplas fraturas vertebrais, resposta inadequada com bisfosfonatos, OPIG grave, fratura atípica. Atua no PNP1 PTH recombinante → indicada para ptes com risco elevado de fraturas; é a única com efeito comprovadamente anabólico, aumentando a densidade mineral óssea Agente anabólico → estimula a formação de osso Homens hipogonadismo Intolerantes com outros tto Romosozumab Anticorpo monoclonal contra a esclerotina (inibe a ativação da Via Wnt e consequentemente suprime a formação, inibindo os osteoblastos = medicamento inibe a inibição dos osteoblastos; aumenta a reabsorção óssea ao estimular a produção do RANKL = medicamento reduz reabsorção óssea). Usado para tto em mulheres pós-menopausacom alto risco de fratura. Osteoporose na ortopedia 12 obs.: CIRURGIA → a menos que os riscos>benefícios, fazer cirurgia para reduzir dor em quadril e fêmur, mesmo que não recupere a mobilidade Duração da terapia Terapia hormonal → usar menor tempo possível, para obter menor efeito colateral Raloxifeno → dados de eficácia de tratamento - 5 anos. Bisfosfonatos (5-10 anos?) → questionamento: supressão excessiva do turnover ósseo Denosumabe → 5-10 anos Teriparatida → 18-24 meses Ranelato de estrôncio → 5-8 anos Tto Vo por 5 anos ou 3 anos EV - pode causar espessamento cortical → pausar Seguimento FR (fratura e quedas) e altura (exercício físico) → anual Laboratório → Ca2+, P, vitamina D, PTH, FAlc = anual Calciúria → se sinais de hipercalciúria Eletroforese de proteínas Fezes P1NP → 3-6 meses e depois anual CTX → 6 meses e depois anual Densitometria – anual; se estável, sem mudança medicação = cada 2 anos RX coluna torácica (T7) e lombar (L2) perfil → anual RX de quadril → se bisfosfonato por mais de 2 anos
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