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METABOLISMO E FUNÇÃO ANIMAL FUNÇÃO RESPIRATÓRIA A função principal do sistema respiratório é o transporte de oxigênio e CO2 entre o meio ambiente e os tecidos. O sistema respiratório fornece oxigênio para manter o metabolismo tecidual e remove o CO2. O consumo de O2 e a produção de CO2 variam com a taxa metabólica, que é dependente do nível de atividade do animal. O metabolismo basal, que é aquele encontrado no animal em repouso, é função do peso corpóreo metabólico. A consequência dessa relação é que espécies menores consomem mais oxigênio por quilograma de peso corpóreo que as maiores. Como espécies menores possuem maior área de superfície em relação ao peso corporal, elas têm uma maior superfície para perda de calor e menor capacidade de armazenagem de calor, necessitando, então, de maior metabolismo basal para gerar mais calor. O sistema respiratório também está envolvido na comunicação por sons e feromônios e é importante na termorregulação, na proteção do animal contra poeiras inaladas, gases tóxicos e agentes infecciosos. Processos envolvidos na troca gasosa: ventilação, distribuição de gases dentro do pulmão, difusão pela membrana alveolocapilar, transporte de O2 presente no sangue dos pulmões para os capilares teciduais e de CO2 na direção oposta, e a difusão de gases entre o sangue e os tecidos. VENTILAÇÃO A ventilação é o movimento de gás para dentro e para fora dos pulmões. As necessidades metabólicas de oxigênio requerem que um animal receba certo volume de ar dentro de seus pulmões, especialmente os alvéolos, a cada minuto. O volume total de ar inspirado por minuto, também conhecido como ventilação minuto (VE), é determinado pelo volume de cada respiração, conhecido como volume corrente (VC), e o número de respirações por minuto é conhecido como frequência respiratória (f), sistema representado na seguinte equação: O ar flui para os alvéolos através das narinas, da cavidade nasal, faringe, laringe, traqueia, brônquios e bronquíolos. Estas estruturas constituem as vias aéreas de condução. Como a troca gasosa não ocorre nestas vias, elas também são conhecidas como espaço anatômico morto. Também pode ser observado espaço morto dentro dos alvéolos. Este espaço morto alveolar é originado por alvéolos com uma má perfusão sanguínea, de modo que a troca gasosa não ocorre de forma ideal. O espaço morto fisiológico é a soma dos espaços mortos alveolar e anatômico. IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO MORTO NA TERMORREGULAÇÃO: O ar que entra no sistema respiratório geralmente é mais frio que a temperatura corporal e não é saturado por vapor d’água. Conforme o ar passa pelo espaço morto para o pulmão, ele é aquecido pela transferência de calor dos capilares das mucosas respiratórias e umidificado pela evaporação de água da superfície mucosa do espaço morto. Quando o animal exala, o calor é perdido devido à saída de ar umidificado e aquecido do corpo. Quando algumas espécies, como o cão, estão sob estresse pelo calor, elas ficam ofegantes. Um volume corrente baixo e uma frequência alta, características das situações de ofego em cães, fazem que maior quantidade de ar ventile o espaço morto para aumentar e evaporação de água e a perda de calor. Os animais submetidos ao estresse por frio apresentam uma maior taxa metabólica, necessária para manter a temperatura corporal em situações de frio. Isto leva ao aumento do consumo de O2 e da produção de CO2, tornando necessário o aumento da ventilação alveolar e a diminuição da ventilação do espaço morto. Necessidade da energia muscular na ventilação A inspiração ocorre quando os músculos respiratórios se contraem para expandir o tórax, estendendo o pulmão, e criar a pressão alveolar subatmosférica que faz com que o ar entre no sistema respiratório. Durante a expiração, a energia elástica armazenada no tórax e no pulmão estendido faz com que eles diminuam de volume, ocasionando um aumento na pressão alveolar que leva o ar para fora do sistema respiratório. Portanto, na maioria dos mamíferos em repouso, a expiração não exige esforço muscular. Os cavalos são uma exceção, pois possuem uma fase ativa durante a expiração, mesmo em repouso. O músculo inspiratório mais importante é o diafragma, que é uma lâmina musculotendinosa em formato de cúpula que separa o abdome do tórax e que é inervada pelo nervo frênico. Os músculos intercostais externos também são ativos durante a inspiração. As fibras destes músculos são direcionadas caudoventralmente, de modo que a contração muscular move as costelas rostralmente e para fora. A pressão subatmosférica gerada dentro do trato respiratório durante a inspiração leva ao colapso das narinas externas, faringe e laringe. A contração dos músculos abdutores ligados a estas estruturas é essencial para a prevenção do colapso. A contração do músculo abdutor durante a inspiração pode ser observada pela dilatação das narinas externas. Os músculos expiratórios principais são os músculos abdominais e os intercostais internos. A contração dos músculos abdominais eleva a pressão abdominal, o que força o diafragma relaxado em direção anterior, reduzindo o tamanho da cavidade torácica. Conforme a cavidade torácica fica menor, a pressão intratorácica aumenta e força a saída de ar dos pulmões. Resistência das vias aéreas Ao final da expiração normal certa quantidade de ar permanece nos pulmões. Esse volume de ar é conhecido como capacidade residual funcional (CRF). Durante a inspiração, conforme os músculos inspiratórios se contraem, o tórax é aumentado e a pressão da cavidade pleural (Ppl) diminui. Essa diminuição na Ppl estica o pulmão elástico e aumenta seu volume, que diminui a pressão dentro dos alvéolos (Palv). A diminuição na Palv faz com que o ar flua para os pulmões através da árvore traqueobronquial. A complacência pulmonar é uma medida das propriedades elásticas dos pulmões e a resistência das vias aéreas é uma forma de medir o atrito delas. Elasticidade pulmonar A elasticidade pulmonar é resultante das forças do tecido e da tensão superficial. Uma pressão subatmosférica na cavidade pleural mantém o pulmão inflado. Se o tórax for aberto e os pulmões, expostos à pressão atmosférica, estes entram em colapso até o seu volume mínimo. Neste volume, certa quantidade de ar permanece dentro dos alvéolos, posterior aos bronquíolos. Este gás sequestrado faz com que os pulmões normais colapsados flutuem na água. O colapso dos pulmões que ocorre quando o tórax é aberto e durante a expiração é resultado da elasticidade inerente dos pulmões, a qual é originada tanto pelo tecido elástico quanto pelas forças de tensão superficial. A estabilidade alveolar é uma consequência da presença de um surfactante pulmonar, que reduz a tensão superficial do revestimento dos alvéolos. O surfactante pulmonar é uma mistura de lipídios e proteínas. O componente lipídico mais abundante, a dipalmitoilfosfatidilcolina, é responsável pela redução da tensão superficial. O surfactante é produzido nas células alveolares tipo II, e suas porções hidrofílicas e hidrofóbicas fazem que ele procure a superfície do revestimento alveolar. Conforme o volume pulmonar diminui e a área de superfície alveolar é reduzida, as moléculas do surfactante ficam concentradas sobre a mesma, reduzindo a tensão superficial e promovendo a estabilidade alveolar. Diagrama de um alvéolo mostrando o movimento dos componentes do surfactante através da célula tipo II e do líquido alveolar. Existem quatro importantes proteínas surfactantes. As proteínas surfactantes B e C são hidrofóbicas e intimamente associadas com o filme lipídico. Elas regulama absorção de lipídios para a superfície, sequestro reversível de lipídios em um reservatório de surfactante na hipofase do revestimento líquido alveolar conforme a superfície se contrai e se expande com a respiração; e o recrutamento dos lipídios do reservatório para espalhar sobre a superfície pulmonar em expansão, por exemplo, durante um suspiro. As proteínas surfactantes A e D são hidrofílicas e desempenham funções importantes na defesa antimicrobiana inata. O surfactante pulmonar é liberado para os espaços alveolares e para o fluido traqueal durante a gestação. Seu surgimento se correlaciona com a elevação dos níveis de cortisol plasmático fetal. Os animais prematuros apresentam dificuldade de inflar os pulmões devido à quantidade inadequada de surfactante. Após o nascimento e durante toda a vida, a liberação de surfactante de células alveolares tipo II é auxiliada pelo suspiro, que também redistribui os surfactantes pela superfície alveolar do estoque na hipofase. Animais anestesiados e aqueles com dor no peito podem não suspirar e, consequentemente, alguns dos alvéolos entram em colapso, isto é, desenvolvem atelectasia. A provisão de respirações profundas com um ventilador ou máscara de válvula respiratória (bolsa Ambu) auxilia na manutenção da atividade surfactante, previne o colapso pulmonar e mantém a complacência pulmonar normal. A complacência pulmonar é a inclinação da curva pressão-volume pulmonar. Como a curva pressão-volume não é linear, a complacência varia com o estado de inflação pulmonar. Um pulmão complacente é aquele fácil de inflar. Um pulmão com baixa complacência, como ocorre em algumas doenças, é aquele difícil de inflar. Líquido pleural Os pulmões são recobertos pela pleura visceral, e o tórax é revestido pela pleura parietal. Estas duas superfícies pleurais são mantidas proximamente apostas por meio de uma fina camada de fluido pleural. Como consequência desta ligação mecânica dos pulmões com o tórax às custas do fluido pleural, o sistema respiratório se comporta como uma única unidade. Quando o tórax se expande durante a inspiração, por exemplo, os pulmões se expandem também. De forma similar, quando um animal expira, o tórax rígido resiste progressivamente à deformação, de modo que o volume residual, o volume de ar dentro dos pulmões no final da expiração máxima, é determinado pelos limites de compressão da caixa torácica. Atrito das vias aéreas Durante a respiração, o ar flui através de tubos das vias aéreas superiores (p. ex., narinas, faringe e laringe) e da árvore traqueobrônquica, a qual oferece resistência friccional ao movimento de ar. No animal em repouso, a cavidade nasal, a faringe e a laringe, que aquecem e umidificam o ar, fornecem aproximadamente 60% da resistência das vias aéreas. A árvore traqueobrônquica é um sistema de ramificação que fornece ar aos alvéolos. O número de ramificações depende do tamanho do animal. A árvore traqueobrônquica é revestida por um epitélio secretor ciliado. As vias respiratórias maiores — traqueia e brônquios — são mantidas por cartilagem e supridas de glândulas brônquicas e células caliciformes, cujas secreções contribuem para o revestimento mucoso das vias aéreas. As vias respiratórias menores, conhecidas como bronquíolos, não possuem cartilagem, glândulas e células globosas; o revestimento líquido na superfície epitelial se origina nas células Clara. Com exceção da traqueia e da porção cranial do brônquio principal, as vias aéreas são intrapulmonares. O septo alveolar está ligado às camadas mais externas das vias aéreas de modo que a tensão dentro do septo abre as vias aéreas, ajudando a manter a sua patência.
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