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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE Centro de Ensino a Distância-CED Manual de Curso de Licenciatura em Ensino de História HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância CED Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância (CED) e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passivel a processos judiciais. Elaborado Por: dr. Luís Meno, Licenciado em História pela UEM- Maputo, Colaborador do Curso de Licenciatura em ensino de História no Centro de Ensino à Distância (CED) da Universidade Católica de Moçambique – UCM. Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância-CED Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa· Moçambique-Beira Telefone: 23 32 64 05 Cel: 82 50 18 44 0 Fax: 23 32 64 06 E-mail: ced @ ucm.ac.mz Website: www. ucm.ac.mz Agradecimentos A Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância, gostaria de agradecer a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Pela Coordenação e 2ª edição dra. Georgina Nicolau HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. i Índice Visão geral 5 Bem-vindo a Introdução aos Estudos da História ........................................................... 5 Objectivos da cadeira .................................................................................................... 6 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 6 Como está estruturado este módulo................................................................................ 6 Ícones de actividade ...................................................................................................... 7 Acerca dos ícones 7 Habilidades de estudo .................................................................................................... 7 Precisa de apoio? ........................................................................................................... 8 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 8 Avaliação ...................................................................................................................... 8 Unidade I 10 História como forma de Conhecimento ........................................................................ 10 Introdução 10 Exercícios.................................................................................................................... 13 Unidade II 14 Sumário ....................................................................................................................... 17 Exercícios.................................................................................................................... 17 Unidade III 19 AFIRMAÇÃO DA HISTÓRIA COMO CIÊNCIA ...................................................... 19 Introdução 19 Sumário ....................................................................................................................... 23 Exercício ..................................................................................................................... 24 Unidade IV 27 A DIVISÃO DA HISTÓRIA ....................................................................................... 27 Introdução 27 4.1.2. Divisão da História em função do espaço .......................................................... 28 4.1.3. Divisão da História quanto ao tema .................................................................... 29 Sumário ....................................................................................................................... 30 Exercícios.................................................................................................................... 30 Unidade V 31 Introdução 31 5.1. A HISTÓRIA E A CONCEPÇÃO DO TEMPO 31 HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. ii Sumário ....................................................................................................................... 35 Exercícios.................................................................................................................... 35 Unidade VI 36 O METODO DA HISTÓRIA: heurística ..................................................................... 36 Introdução 36 Sumário ....................................................................................................................... 39 Exercícios.................................................................................................................... 39 Unidade VII 40 A CRITICA EXTERNA NA HISTÓRIA .................................................................... 40 Introdução 40 7.1. As Particularidades da Crítica Externa 40 Sumário ....................................................................................................................... 42 Exercícios.................................................................................................................... 42 Unidade VIII 44 A CRITICA INTERNA NA HISTÓRIA ..................................................................... 44 Introdução 44 8.1. As Particularidades da Crítica interna 44 Sumário ....................................................................................................................... 47 Exercícios.................................................................................................................... 47 Unidade IX 48 CIÊNCIAS AUXILIARES DA HISTÓRIA ................................................................. 48 Introdução 48 9.1. História e as ciencias auxiliares 48 Sumário ....................................................................................................................... 53 Exercícios.................................................................................................................... 54 Unidade X 55 A HISTÓRIA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS ........................................... 55 Introdução 55 Sumário ....................................................................................................................... 59 Exercício ..................................................................................................................... 59 Unidade XI 61 A INTERDISCIPLINARIDADE E A TRANSDISCIPLINARIDADE 61 Introdução 61 HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. iii Sumário ....................................................................................................................... 64 Exercícios.................................................................................................................... 64 Unidade XII 65 AS FONTES DA HISTÓRIA E A CLASSIFICAÇÃO CLÁSSICA ............................ 65 Introdução 65 As fontes e os diversos ambientes de conservação e Preservação 67 Sumário ....................................................................................................................... 70 Exercícios.................................................................................................................... 70 Sumário .......................................................................................................................71 Exercícios.................................................................................................................... 71 Unidade XIII 73 CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES QUANTO A INTENCIONALIDADE.................. 73 Introdução 73 Sumário ....................................................................................................................... 75 Exercícios.................................................................................................................... 75 Unidade XIV 76 CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES QUANTO AO MATERIAL ................................. 76 Introdução 76 Sumário ....................................................................................................................... 78 Exercícios.................................................................................................................... 78 Unidade XV 79 A SÍNTESE EM HISTÓRIA ....................................................................................... 79 Introdução 79 Sumário ....................................................................................................................... 81 Exercícios.................................................................................................................... 81 Unidade XVI 82 EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA ............................................................................ 82 Introdução 82 Exercícios Ex Exercicios ..................................................................................... 84 Unidade XVII 85 EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA: Natureza do conhecimento histórico .................. 85 Introdução 85 16.1. A ciencia Histórica e a sua Natureza 85 HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. iv Sumário ....................................................................................................................... 87 Exercícios.................................................................................................................... 88 Unidade XVIII 89 A OBJECTIVIDADE EM HISTÓRIA ........................................................................ 89 Introdução 89 17.1. A Natureza da Objectividade em História 89 Sumário ....................................................................................................................... 92 Exercícios.................................................................................................................... 92 Unidade XIX 93 A HISTÓRIA NA ACTUALIDADE: AS NOVAS POSSIBLIDADES TEMÁTICAS DA PESQUISA HISTÓRICA ..................................................................................... 93 Introdução 93 19.1. A ciencia Histórica na actualidade 93 Sumário ....................................................................................................................... 95 Exercícios.................................................................................................................... 95 Unidade XX 96 A HISTÓRIA E A POLÍTICA: O LUGAR DA HISTÓRIA FACE AO PODER POLÍTICO E A IDEOLOGIA ..................................................................................... 96 Introdução 96 20.1. A RELAÇÃO ENTRE A HISTÓRIA EA COMPONENTE POLÍTICO- IDEOLÓGICA 97 Sumário ....................................................................................................................... 98 Exercícios.................................................................................................................... 99 Referências Bibliográficas ......................................................................................... 100 HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 5 Visão geral Bem-vindo a Introdução aos Estudos da História Caro cursante Este documento constitui o ponto inicial do seu contacto com História no nível superior. Nele, você tem uma possibilidade de aprender, a reflectir e a criar um raciocínio em torno desta área do saber. Será que a história é ciência? Não porquê? Sim porquê? Hesitação porquê? Estas questões subjazem na mente de muitos, mas o cursante deverá no fim apresentar uma argumentação plausível e um discurso convincente, suportado na visão epistemológica, ou seja, nos pressupostos da cientificidade. É interessante anotar que a história é uma área do saber que qualquer ser humano pode afirmar que é conhecedor. Mas há certas particularidades nesta disciplina, que a tornam peculiar e interessante de se estudar. Assim, este documento vai antes de mais demonstrar e fazer-lhe compreender que a cientificidade da história tem as suas particularidades. Neste sentido, você deverá saber as particularidades e os pontos comuns, que costuram a componente científica da História Portanto, está diante de um conjunto de dados que poderão ser bastante úteis para a sua Introdução aos Estudos da História Entretanto, este material, foi elaborado justamente para a aprendizagem e recorreu-se a várias fontes. Acima de tudo, deve ser consumido como um suporte de informação. No fim do módulo, estão as referências bibliográficas que poderão ser consultadas, na medida do possível para o aprofundamento dos assuntos. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 6 Objectivos da cadeira Objectivos Constituem objectivos desta cadeira os seguintes: Conhecer a natureza do conhecimento Histórico; Dominar e explicar a cientificidade da história; Explicar a objectividade na história e sua peculiaridade; Dominar e explicar as tipologias dos métodos e fontes da história Conhecer os desafios colocados à história enquanto ciência, tendo em conta a actualidade Conhecer as novas abordagens da História Conhecer a dimensão da interdisciplinaridade e outros aspectos afins. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para todos aqueles que Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser professores da disciplina de História, que estão a frequentar o curso de Licenciatura em Ensino de História, do Centro de Ensino a Distancia. Estendese a todos que queiram consolidar os seus conhecimentos sobre as Instituições Políticas Áfricanas. Como está estruturado este módulo Todos os módulos dos cursos produzidos pela Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados da seguinte maneira: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo. Conteúdo do curso / módulo O curso está estruturado em unidades. Cada unidade ncluirá uma introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou mais actividades para auto-avaliação. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 7 Outros recursos Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista de recursos adicionais para você explorer. Estes recursos podem incluir livros, artigos ou sites na internet. Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno final de cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes elementos encontram-se no final do modulo. Comentários e sugestões Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso /modulo. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Acerca dos ícones Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada um com uma descrição do seu significado e da forma como nós interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao longo deste curso / módulo. Habilidades de estudo Caro estudante, procure reservar no mínimo 2(duas) horas de estudo por dia e use ao máximo o tempo disponível nos finais de semana. Lembre-te que é necessário elaborar um plano de estudo individual, que inclui, a data, o dia, a hora, o que estudar, como estudar e com quem estudar (sozinho, com colegas, outros). Lembre-te que o teu sucesso depende da tua entrega, tu és o responsável pela tua própria aprendizagem e cabe a ti planificar, organizar, gerir, controlar e avaliar o teu próprio progresso. Evite plágio. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 8 Precisa de apoio? Caro estudante: Os tutores têm por obrigação monitorar a sua aprendizagem, dai o estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, usando para o efeito os mecanismos apresentados acima. Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interação. Em caso de problemas específicos, ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for da natureza geral, contacte a direcção do CED, pelo número 825018440. Os contactos so se podem efectuar nos dias úteis e nas horas normais de expediente. Tarefas (avaliação e auto- avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto- avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do período presencial. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante As trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docentes. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor Avaliação Tu serás avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com base no chamado regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos , durante o estudo individual, concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira. Os testes são realizados durante as sessões presenciais e concorrem para os 75% do cálculo da média de frequência da cadeira. Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões presenciais, eles representam 60% , o que adicionado aos 40% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 9 Nesta cadeira o estudante deverá realizar: realizar realizar 3 (três) trabalhos, 2 (dois) teste e 1 (um) exame. Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual. Consulte os. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 10 Unidade I História como forma de Conhecimento Introdução Nesta unidade será apresentada a História como forma de conhecimento, com base nos diversos autores que explicam o lugar da história no mundo dos conhecimentos, a sua relevância e particularidade. Objectivos Ao terminar esta unidade deverá ter alcançado os objectivos a seguir: Objectivo geral Conhecer a dimensão da história como forma de conhecimento; Objectivo específicos Caracterizar o conhecimento em história Explicar os fundamentos da história enquanto ciência. 1.1. O lugar da História como Forma de Conhecimento Segundo Martins, (sd), o termo "história", na língua portuguesa — como nas neolatinas, de modo geral — remete a três sentidos distintos, articulados com as abordagens mencionadas. O primeiro, e mais generalizado, refere-se ao conjunto das acções humanas no tempo. Esse conjunto é habitualmente chamado de história, na linguagem comum e na especializada. O segundo sentido diz respeito ao procedimento formal de constituição do conhecimento científico. Também aqui se usa o termo "história", embora se tenha registado mais recentemente o uso crescente das expressões "ciência histórica" e "história como ciência". Neste ponto há um esforço metódico de distinguir o carácter científico do conhecimento obtido por procedimentos metódicos de investigação da acepção de senso comum. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 11 O terceiro sentido do uso do termo "história" tem a ver com o acervo produzido pela ciência histórica sob a denominação de "historiografia" (conjunto de documentos, maioritariamente em forma escrita e inclui por exemplo as diversas variações do documento visual composto, como os filmes, notadamente os documentários). Esta reflexão lida com a história em duas das acepções: a) preliminarmente, a história como cultura — isto é, como pensamento e consciência da experiência do tempo elaborada e interiorizada pelo homem; b) a história como ciência, como especialidade cognitiva formalizada de maneira epistémica para construir e enunciar uma interpretação explicativa fundada da experiência humana do tempo enquanto acção. Para a primeira como para a segunda, toma-se como base empírica a produção historiográfica notadamente da segunda metade do séc. XX. Para a historiadora Vavy Pacheco Borges, a história é um termo com o qual vivemos diariamente desde nossa infância, que não podemos concebê-la como um passado distante e morto, mas de uma forma que possamos acreditar que o conhecimento histórico possa ajudar a explicar a realidade e transformar as acções humanas que estão presentes em nossas vidas hoje. Segundo a visão dessa historiadora, para melhor compreensão da ciência histórica, precisamos partir da história da História, ou seja, as primeiras concepções que envolvem o misticismo, a religião, que coloca o homem em segundo plano e passivo das acções dos deuses que estão em primeiro plano, uma história não científica, pois ainda não estavam estabelecidos os métodos de análise, etc. A História baseada em mitos era concebida como um passado tão distante, tão remoto e por ser delimitado um tempo cronológico e o espaço territorial onde ocorreu o processo histórico, não havia cientificidade, pois não sabiam quando se deu o fato. Eram fatos mitológicos e não históricos. Tomando em consideração a produção histórica em relação a um sistema de referências sociais, individuais e políticas, esta surge necessariamente como relativa. Segundo Lucien Febvre "Cada época fabrica mentalmente a sua própria representação do passado". É a partir dessas interpretações imaginarias que a historia progride como qualquer outro tipo de ciência. É precisoter em consideração que a história é um tipo de conhecimento que, como qualquer ciência do homem, as perspectivas de interpretação são múltiplas. Os discursos históricos são nalgumas vezes ideológicos, e como tal já em si fontes históricas, o que permite o enriquecimento da própria disciplina. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 12 A História é uma área do conhecimento humano preocupada com a compreensão do passado. Buscando em fontes que relatam o passado, procura dar sentido às acções do homem com a intenção de dar resposta a questões do presente. Dessa forma, esse campo de conhecimento oferece um instrumento útil e necessário para que possamos encontrar numa perspectiva mais profunda do mundo que nos rodeia. Além de oferecer mais conhecimento, a História tem a interessante capacidade de remontar o passado de formas completamente diferentes. O historiador vai até o passado com um conjunto limitado de perguntas e documentos que o permitem fazer “apenas” uma forma de compreender um determinado período de tempo. Por isso, não podemos encerrar a compreensão de qualquer facto na obra de um único estudioso. Sumário Esta unidade apresentou a dimensão da História enquanto forma de conhecimento. Nela foi demonstrado a relação intrínseca entre o ser o humano e o passado, e consequentemente e a história. Aliás este é o primeiro sentido que se vislumbra na História. Além disso, ficou demonstrado o segundo sentido que se versa em torno da sua cientificidade: É a componente formal. Convém realçar que a história apresenta alguma semelhança com as outras áreas do saber, onde se realça a multiplicidade das interpretações. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 13 Exercícios 1. Quais são as características do conhecimento histórico? 2. Explique os diversos sentidos ou concepções da história, patentes neste módulo Auto-avaliação Comente o posicionamento da Historiadora Vavy Pacheco Borges, usando exemplos concretos. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 14 Unidade II CIENTIFICIDADE DA HISTORIA Introdução Nesta Unidade serão apresentados os aspectos que compõem a ciência Histórica. Com bases nestes fundamentos, poderão ser compreendidas as peculiaridades da História enquanto Ciência. Ao terminar esta unidade deverá ter alcançado os objectivos a seguir: Objectivos Objectivo Geral: Conhecer as características da ciência histórica; Objectivos específicos Descrever os elementos constituintes da História enquanto Ciência; Explicar o impacto da dimensão tempo, espaço e tema na caracterização da História; 2.1. Elementos da cientificidade da história. Segundo Marc Bloch (1965) a Historia é uma ciência que estuda o Homem no espaço e no tempo. O debate que sempre houve, foi no sentido de retirar o cunho de ciência à história. De referir que este posicionamento deve-se ao facto de se querer ver na História o modelo de actuação das ditas ciências exactas. Aliás, e como bem o diz Boaventura Sousa Santos (1987), não existem ciências exactas, pois a teoria da relatividade de Einstein acabou com o determinismo que se pensava existir nas então ciências exactas, demonstrando a relatividade da verdade científica. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 15 Portanto, a Historia não é, efectivamente, uma ciência como as “ciências exactas” e da natureza (matemática, física, química, biológica, etc.). Todavia, é uma ciência social e humana. Defendida, usualmente como a ciência social - estuda sobretudo, as sociedades - mas também não deixa de ser uma ciência humana, num duplo sentido, isto é, não estuda quaisquer sociedades, mas sociedades humanas e nalguns casos estuda personalidades e indivíduos, ou seja, estuda o homem individualmente, através de biografias. Uma das formas de se perceber o objecto da História é distinguir, quais são os factos memoráveis. Porém nesse exercício, não convém escolher de forma parcial e tendenciosa os factos, mas sim com imparcialidade e com intenção de fazer ciência. Realmente, a tónica em história, desloca-se da objectividade, em sentido estrito, e do método experimental clássico - cuja fase essencial é a experimentação - para uma metodologia rigorosa e sujeita a regra de críticas e controlo. Sobre este assunto estudaremos mais adiante. Entretanto, é interessante a explicação de Jacques Le Gof, segundo qual, a História é ciência porque tem o objecto de estudo, tem métodos e pode ser ensinada. Portanto, a componente pedagógica apresentada por Le Gof é uma das determinantes para a cientificidade da História. Todavia, a discussão da cientificidade da história envolve a ciência histórica em nível da História e do historiador. Portanto, ao falar sobre cientificidade da História, não se pode deixar de fora o papel do historiador e seu objecto de pesquisa. Hoje, a ciência histórica procura explicar cada passo do homem, sua evolução em seus ramos Económicos, Demográficos, Político, Social e Cultural. Assim, podemos afirmar que a História não é ciência por tentar abranger todas as áreas do conhecimento? Como explicar que "a História da mulher, História da criança, História do Direito, do negro, história das Mentalidades, história ambiental, etc", são temas discutidos pela ciência histórica, sabendo que existem outras ciências envolvidas com esses temas especificamente? Na verdade, a história como ciência, procura entender e explicar a historicidade da condição humana. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 16 Como já foi discutido por muitos pesquisadores da área de História, o historiador, para reconstruir o conhecimento histórico, lança mão da sua principal ferramenta, o objecto de estudo da história, ou seja, o homem no tempo. As discussões sobre a ciência histórica nos mostram que o objecto da História é o homem no tempo, e que esse objecto é o facto humano acontecido. O facto histórico serve como compreensão de um processo vivido por uma sociedade, e o método da História é a interpretação desse facto através das análises das mais variadas fontes. (Exemplo: escritas, orais, arqueológicas, etc.). Por outro lado, face ao desafio de descrever e explicar as especificidades e as dissonâncias representadas pelas concepções desafiantes como uma resposta plausível surge também um problema epistemológico a ser enfrentado. Deve-se examinar, primeiramente, quais são os instrumentos teórico-metodológicos de que se utilizou para a determinação da cientificidade da História. Se chamamos de ciência a soma dos conhecimentos científicos disponíveis num dado momento, podemos também afirmar que tem um conteúdo próprio e método para estabelecimento dos factos. O método científico é que vai determinar as maneiras de obter tal conhecimento, e as características desse conhecimento é ser verdadeiro. Qual a fronteira que separa a História da ciência, se a História tem método próprio, busca a verdade, não a verdade absoluta e eterna, mas que pode ser discutida? A ciência é a parte do conhecimento que utiliza métodos racionais e que busca comprovação experimental, procurando ver à realidade como ela é. HAYDEW WRITE relata que a História é uma arte literária de menor valor, portanto não é uma ciência. Porém, LUCIEN FEBVRE e MARC BLOCH, afirmam que a História é uma ciência humana que trabalha as verdades possíveis de outro olhar, com métodos e objectivos próprios, usa métodos racionais que buscam a lógica para comprovar o quefala. O conceito que se tornou muito utilizado na academia de que História é uma ciência que estuda o homem e as sociedades humanas no tempo, hoje já pode estar a precisar de um complemento ou uma ampliação, haja vista que existem tantos caminhos que são utilizados pelos historiadores para a pesquisa HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 17 histórica, pois o homem está envolvido em vários contextos da acção e da experiência humana. A história só recebeu o estatuto de ciência quando os pesquisadores passaram a empregar a palavra (história) no sentido de investigação e a utilizar como fontes de pesquisas os registos documentais escritos. Porém, isso só aconteceu entre o final do século XVIII e início do XIX. O historiador Jorge Grespam escreveu que foi no final do século XVIII é que começou a ser discutido e desenvolvido os critérios e procedimentos de críticas e análise das fontes é que a história passou a ser ciência. Foi o método, portanto, que deu a história o carácter cientifico e ao historiador, a condição de cientista. Mas apesar de ter recebido o estatuto de ciência, o que se deu com a escola Positivista em fins do século XIX, como afirma as historiadoras Maria do Pilar de Araújo Vieira, a História recebeu duras criticas no século XX com afirma Jorge Grespam. Sumário Em Suma, é conveniente afirmar que a História é ciência por que contem em si há referências de um a ciência nomeadamente: objecto de Estudo, método e técnicas, pode ser ensinada. Porém esta ciência tem suas particularidades como já foi referido. Exercícios 1. Explique a cientificidade da História tendo em conta os autores existentes no módulo; 2. Identifique o autor ou os autores que mais o impressionaram, justificando a sua escolha. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 18 Auto-avaliação Imagine que os seus colegas de outros cursos dissessem que a história não é ciência. Qual seria o seu posicionamento. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 19 Unidade III AFIRMAÇÃO DA HISTÓRIA COMO CIÊNCIA Introdução A história teve um longo percurso até se afirmar como ciência. Esta unidade, sintetiza este facto e contextualiza a história como uma área de saber bastante importante. Objectivos Assim, constituem objectivos desta unidade: Objectivo geral Compreender genericamente os elementos que consubstanciam a afirmação da história como Ciência. Objectivos específicos Explicar a razão objectiva da ciência histórica; Conciliar os aspectos teóricos e aplicá-los no contexto do próprio estudante , isto é, dos aspectos relacionados com a história do seu quotidiano. 3.1. Processo da consolidação da História como ciência. Uma definição contemporânea de senso comum, afirmaria que a história é uma ciência que estuda o passado, analisando as transformações, para entender o presente. Assim, ao resgatar o passado, a história tentaria conferir sentido ao presente, ajudando a transformar a realidade a partir de sua própria compreensão, podendo até mesmo guiar ao futuro. Todavia, uma análise mais detalhada demonstra que o conceito de história comporta múltiplas definições, cada qual adequada ao seu conjunto teórico. Não é possível falar de uma história singular, já que, ao invés de uma teoria da história teríamos múltiplas teorias da história. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 20 A natureza e a evolução das outras ciências durante o século XVIII, não confere a história menor importância ou menor dignidade. O que deve ser percebido é que a história é naturalmente, diferente. Contudo, quando se busca a afirmação da história como ciência, nota-se que esta apresenta-se com alguma complexidade e dificuldade. Quais as principais fontes dessa complexidade/dificuldade? a) Analogamente a outras ciências humanas e sociais, nuns casos, ou diferentemente, noutros, a história incide sobre o passado, pelo que lhe está vedada a experimentação e o registo/inquérito directo. Por esse, motivo, o conhecimento histórico e mediato, corn Todas as consequências inerentes a tal facto. b) O fascínio do modelo das ciências da natureza, já referido, tem levado, por vezes, a que se apliquem a histórias certas características daquelas, onde se pode evidenciar a objectividade. Entretanto, segundo Piaget, citado por Mendes, a dificuldade da história abrange, inclusive, as restantes ciências humanas. Essa dificuldade é epistemológica e se encontra no centro das ciências do homem caracterizando-se pelo facto do ser humano ser simultaneamente sujeito e objecto Grosso modo, as primeiras linhas de estudo da História se desenvolveram nas cavernas, quando os primeiros grupos humanos se preocupavam em registar o desenrolar de sua própria vida quotidiana. Na Antiguidade, os primeiros historiadores se preocupavam em relatar as peripécias dos grandes personagens e o cenário épico das guerras travadas entre os povos. Muitas vezes, comprometidos com algum dos lados dessa história faziam um relato tendencioso e impreciso. Entretanto, tornou-se corrente admitir que a reflexão histórica tem suas raízes na Antiguidade clássica, mais especialmente em Heródoto e em Tucídides. Esses autores de língua grega marcaram o ponto de partida de François Châtelet, que em um texto clássico publicado em 1962 definiu a Grécia como o berço do pensamento HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 21 histórico ocidental. Châtelet, desde a perspectiva filosófica, utiliza em seu título um termo próprio: historienne, cunhado pela língua francesa para designar o sentido do pensamento histórico enquanto produzido por uma reflexão intencionalmente voltada para a organização crítica da memória como fundamento do sentido da sociedade, da política e da cultura respectiva. Esse termo é empregue distintamente do adjectivo habitual, histórico (historique), aplicável para Châtelet a qualquer pensamento racional que lide com a acção humana no tempo. Durante séculos, na tradição dominada pela cultura ocidental de origem greco-romana, a História oscilou sistematicamente entre estilos ou objectos muito diversos, como a banal existência de um indivíduo qualquer, a hagiografia política, a filosofia ou a teologia. Com o advento da crítica racional no Renascimento e, mais particularmente, com o surgimento e a consolidação das Luzes no século XVIII, a História passou por uma espécie de repaginação teórica e metódica que culminou em sua cientificação. Esse processo atravessa o século XIX e culmina na consolidação e no êxito social da historiografia nesse século e no século XX. O padrão de cientificidade que se aplica é, por certo, o modelo do racionalismo moderno, cartesiano ou empirista, acentuadamente marcado pelo sucesso – mesmo que visto cada vez mais como relativo – das ciências ditas experimentais. A História cujo renascimento se organiza e estrutura na passagem do Iluminismo para o Romantismo e se consolida ao longo do século XIX nos cenários do positivismo, do historicismo, das escolas metódicas é a História como ciência. História como ciência, cujos resultados historiográficos são expressos em narrativas que encerram argumentos demonstrativos articuladores da base empírica da pesquisa e da interpretação do historiador em seu contexto. A historiografia, assim, encerra em si as características de ser empiricamente pertinente, argumentativamente plausível e demonstrativamente convincente. Como se chega a esse patamar metódico, sociale cultural de confiabilidade? No século XIX, as concepções de História e de historiografia passaram por uma mudança notável e decisiva. Esse século tornou- se conhecido como “o século da História”. Sem dúvida foi ainda mais decisivo – embora essa perspectiva nem sempre tenha estado presente – o salto dado no segundo terço do século XX e seus prolongamentos até os anos 1970. Não obstante, a análise dos progressos da historiografia em nosso tempo, deve ser feita HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 22 mediante o contraste com o século XIX, sem o qual não se pode perceber o alcance das mudanças ocorridas no século XX. A importância marcante do século XIX para os fundamentos da disciplina da historiografia em seu estado actual deve-se a um fenómeno único, de desdobramentos complexos: o abandono das concepções relativas à investigação e à escrita da história que formaram a tradição europeia praticamente desde o Renascimento e talvez mesmo desde a Antiguidade clássica. As diversas escolas e correntes historiográficas do século XIX coincidem pelo menos em um ponto: deixam de considerar a história como uma crónica baseada nos testemunhos legados pelas gerações anteriores e entendem-na como uma investigação, pelo que o termo “história” recupera seu sentido originário em grego. A evolução decisiva para a historiografia deu-se com o que se pode chamar de fundamentação metódico-documental, basilar para a disciplina “académica” contemporânea, produzida pelos tratadistas do século XIX e da primeira década do século XX. Tem- se aqui a origem da grande corrente historiográfica que se chamou – de forma algo exagerada, mas não totalmente imprópria – de historiografia “positivista”, intimamente entrelaçada com a forte tradição do historicismo alemão. Foi no século XIX que apareceram os primeiros grandes tratados do que se poderia chamar de normativismo histórico, um tipo de reflexão novo sobre a História, chamado de Historik por Johann Droysen. Essa reflexão definiu os parâmetros metódicos estipulados como obrigatórios para que a História se enquadrasse no que se tinha, então, por padrão de “ciência”. Essa é a razão pela qual esses tratadistas tomaram como referência específica do estudo de História a ciência natural. Tal referência em momento algum foi pensada em termos miméticos (copiar a ciência natural) ou como modelo único (num movimento pré-dogmático). Normalizar os procedimentos, contudo, para obter algum grau de densidade confiável, era percebido como uma missão, que levou à produção de textos metodológicos famosos, sobretudo na França e na Alemanha, de Buchez e Lacombe, de Ranke, de Droysen e de Bernheim, chegando a Langlois-Seignobos e a Lamprecht. Essa mudança profunda e duradoura do horizonte dos estudos historiográficos, cuja influência se estendeu até os anos 1930, é habitualmente creditada às contribuições trazidas por uma corrente chamada, sem esforço maior de precisão, de positivismo. De outro HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 23 lado, o historicismo alemão é amiúde considerado a maior contribuição do século XIX em matéria de concepções da natureza do histórico e da identidade da historiografia. Ambas as etiquetas requerem cuidadosa modulação. Com efeito, o que se chama de “historiografia positivista” não deixa de estar interpretado por um equívoco persistente. Muitas vezes chama-se de positivista, sem mais nem menos, uma concepção da historiografia essencialmente narrativista, episódica (factual), descritiva, fruto de uma erudição bem à moda do século XIX. Na realidade, esse tipo de historiografia é o exemplo mais típico da “História tradicional”, mas não tem por que ser necessariamente confundido com a historiografia “positivista”. A historiografia positivista é a dos “factos” estabelecidos mediante os documentos, indutiva, narrativa, por certo, mas também sujeita a um “método”. A escola que se costumava chamar de “positivista” pode ser também denominada – com mais propriedade – de “escola metódica”, já que sua principal preocupação era a de dispor de um método. Essa escola, que fundamentava o progresso da historiografia no trabalho metódico das fontes, sempre foi avessa a qualquer “teoria” ou “filosofia”. Isso não diminui, todavia, sua dependência imediata para com a concepção “positivista” da ciência, que fica evidente não apenas em obras francamente problemáticas, como o manual de Seignobos, mas também clássicas, como a de François Simiand. Trata-se, antes de mais nada, de uma corrente pragmática e empirista. Por isso pode ser chamada de escola pragmático-documental ou metódico- documental. Sumário A história passou por várias fases até a sua consolidação como Ciência. Convém referir que um dos aspectos marcantes na afirmação da história como ciência foi o impacto das ciências naturais. Contudo a História é uma ciência com suas peculiaridades HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 24 Exercício 1. Até que ponto as ciências naturais condicionaram a afirmação da História como ciência? 2. Explique os momentos que foram determinantes para a afirmação da História enquanto ciência. Auto-avaliação Faça uma breve comentário da afirmação: A evolução decisiva para a historiografia deu-se com o que se pode chamar de fundamentação metódico-documental HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 25 HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 27 Unidade IV A DIVISÃO DA HISTÓRIA Introdução Nesta unidade, você terá a possibilidade de reflectir uma realidade que s verifica no nosso dia-a-dia e que está relacionada com a tipificação da história. Porquê é isso existe? A historia é uma ou há vários tipos de História? Objectivos Ao terminar esta unidade deverá ter alcançado os objectivos a seguir: Objectivo geral Conhecer os diversos recortes ou divisão da História; Objectivos específicos Explicar as razões dos recortes da história; Demonstrar a dimensão metodológica destes recortes Explicar para cada recorte os conceitos mais importantes para o conhecimento histórico. 4.1. As Diversas divisões da História A nossa ciência por razões de estudo pode se encontrar dividida de várias maneiras. Existe a divisão baseada na componente temporal, onde encontramos entre outros elementos as periodizações clássicas Pré-história, História; Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea; as histórias por séculos, reinados e outras. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 28 Mas deve ser sabido que a periodização clássica em Divisão do tempo histórico é bastante discutível. Isso deve-se quer pela necessidade de existir períodos de transição, quer por não representar períodos coincidentes para todos os países do mundo. Desta feita, a periodização clássica foi e continua sendo acusada de eurocêntrica. Entretanto, o tratamento cronológico (baseado no tempo) é o mais utilizado pela maioria dos historiadores pois, é a que corresponde à narrativa convencional e o que permite ligar as causas passadas com os efeitos no presente ou no futuro. No entanto, este tratamento é usado em torno de dois tipos de abordagem - sincrónica e diacrónica - pelo que o historiador deve sempre optar por uma ou por outra no estudo dos factos, ainda que muitas vezes se façam as duas. Mas qual é o conceito da abordagem sincrónica e o da abordagem diacrónica? A abordagem diacrónicaestuda a evolução temporal de um facto, por exemplo, a formação da classe operária na Inglaterra ao longo dos séculos XVIII e XIX., ou ainda a história de Educação em Moçambique. Enquanto isso, a sincrónica concentra-se nas diferenças que o facto histórico estudado tem ao mesmo tempo, mas em diferentes níveis, por exemplo: a Luta armada de Libertação em Moçambique e em Angola ou ainda compara a situação da classe trabalhadora na França e na Inglaterra, na conjuntura da revolução de 1848. Para além dessa divisão temporal até aqui por si lida existe a divisão de Fernand Braudel, expressa desde longa duração (história de longos períodos de tempo), da Curta duração (o evento pontual) e o da Média duração que se projecta no meio das duas 4.1.2. Divisão da História em função do espaço O espaço é um dos elementos usados para dividir a história. São exemplos a divisão a existência da História de Moçambique, História de África, História da Europa, etc. Neste sentido, estabelece-se uma ligação entre a História e a Geografia. A Geografia dispõe de conceitos que têm permitido edificar o prestigioso ramo da história regional. A História local é, sem dúvida, a de mais fácil justificação e de validade universal. Aliás, Moçambique durante o presente século, viveu experiências e esforços ligados ao currículo local, o que pode ser enquadrado na História. Ademais, A história local pode servir como fonte primária HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 29 para obras de maior ambição explicativa). Além disso, o estudo de topónimos1 tem ajudado bastante o estudo da história. 4.1.3. Divisão da História quanto ao tema É a abordagem temática da história e vem desde a antiguidade. Deste modo, existem: História Política, reduzida à história dos eventos até ao século XX. Agora estuda a história das instituições, história dos sistemas políticos, história do direito e História Militar; História Económica, às vezes geminada com a História Social, no entanto, também pode ser entendida como História do movimento operário ou uma história mais universal, a dos movimentos sociais e económicos; História da Igreja, tão antiga como ela mesma, ou a história das religiões, nascida pela necessidade de tornar o seu estudo comparativo; História da Arte, nascida ainda na Antiguidade Clássica com a valorização da sua produção artística e de seu passado; 4.1.4. Outras áreas Existem outras áreas mais recentes do que as já apresentadas, apesar de as englobar algum modo. São exemplos, a História das ideias, que pode incluir as crenças, as ideologias ou a História da ciência e da tecnologia e com elas subdividir-se até ao infinito: História das doutrinas económicas, História das doutrinas políticas, etc; 1 Topónimos quer dizer nomes de lugares HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 30 Entretanto, deve-se sempre ter em conta que a história é hoje mais plural do que nunca, dividida em uma multiplicidade de especialidades tão fragmentada que muitos dos seus ramos não se comunicam entre si, sem ter sujeito e objecto comuns. Contudo, mais adiante trataremos com mais pormenores a componente cientificidade da História. Sumário As diversas abordagens da Histórias aqui tipificadas devem ser entendidas que o são por motivos metodológicos. Estas divisões condicionam o estudo e análise de vários fenómenos históricos, tendo em conta o tempo, a temática bem como o espaço. Exercícios 1. Mencione os tipos de divisão da história patentes neste módulo. 2. Identifique os conceitos que podem ser identificados em cada divisão da história que são importantes para a percepção desta ciência. 3. Diferencie a abordagem Sincrónica da diacrónica, apresentando exemplos diferentes do Modulo Auto-avaliação Que razões justificam a divisão da história. Justifique a sua resposta dando exemplos concretos. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 31 Unidade V O TEMPO EM HISTÓRIA: Evolução da noção do Tempo em História Introdução Nesta unidade será analisada a dimensão temporal que sustenta a História. O tempo foi percebido de diversas formas. Neste sentido torna-se pertinente estudá-lo. Objectivos Ao terminar esta unidade deverá ter alcançado os objectivos a seguir: Conhecer a natureza da abordagem temporal em história Identificar a relação entre a abordagem história e a componente temporal 5.1. A HISTÓRIA E A CONCEPÇÃO DO TEMPO É preciso ter em consideração que o tempo em História é igual ao da Economia. Ferdinand Braudel, o criador da renovação da noção de tempo histórico, recusa o tempo linear, a cronologia da história tradicional. Segundo este autor, a história processa-se no tempo. Porém, o tempo social pode não coincidir com o tempo cronológico; a sua HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 32 duração sequência ou mudanças são verificadas a partir de outros fenómenos da mesma espécie, isto é, históricos; o tempo dura enquanto se mantiverem certas regenciais e significações que lhes dão sentido; o tempo histórico esta ligada as acções humana e a sua característica fundamental é não ocorrer simultaneamente no mesmo grupo em diferentes sociedades. Tendo em vista a multiplicidades dos tempos sociais e culturais, Braudel apresentou a historia um modelo triplo de duração histórica conotando com o tempo utilizado na previsão económica: 1. Um tempo de acontecimento de superfície habitualmente acontecimentos politico que é um tempo de relato, no qual não se aprofunda investigação e se mede apenas o tempo de acontecimento – tempo curto, micro historia do acontecimento, um pouco mais lento “ curta duração”, 2. tempo das conjunturas mais estudado no campo de economia surge como recitativo de variação e mudanças- Média duração, f 3. o tempo longo, a “longa Duração. A longa duração é o tempo de estrutura, nomeadamente da estrutura de mentalidades, o tempo que parece invariável em relação as outras histórias, que se escoam e realizam mais rapidamente e que em suma gravitam em torno dela. Na óptica de Braudel, o economista procura os factos que agem na longa duração e definem o quadro no interior do qual se sucedem as diferentes conjunturas, os períodos de alta e de baixa. A história, na sequência dos estudos económicos procura outros factores de indivíduo social, política e cultural, as repetições dão-lhe a medida do tempo; as mudanças surgem como factos históricos ainda únicos. - O novo tempo histórico permitiu a nova perspectiva da nova história estrutural nomeadamente a partir da publicação de Braudel. “ A longa duração”, em 1958. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 33 A história não é prisioneira do tempo cronológico. Às vezes, o historiador é obrigado a ir e voltar no tempo. Ele volta para compreender as origens de uma determinada situação estudada e segue adiante ao explicar os seus resultados. 5.2. A contagem do tempo histórico O modo de medir e dividir o tempo varia de acordo com a crença, a cultura e os costumes de cada povo. Os cristãos, por exemplo, datam a história da humanidade a partir do nascimento de Jesus Cristo. Esse tipo de calendário é utilizado por quase todos os povos do mundo. O ponto de partida de cada povo ao escrever ou contar a sua história é o acontecimento que é considerado o mais importante. O ano de 2011, no nosso calendário, por exemplo, representaa soma dos anos que se passaram desde o nascimento de Jesus e não todo o tempo que transcorreu desde que o ser humano apareceu na Terra, há cerca de quatro milhões de anos. Como podemos perceber, o nascimento de Jesus Cristo é o principal marco em nossa forma de registar o tempo. Todos os anos e séculos antes do nascimento de Jesus são escritos com as letras a.C. e, dessa maneira, então 127 a.C., por exemplo, é igual a 127 anos antes do nascimento de Cristo. Os anos e séculos que vieram após o nascimento de Jesus Cristo não são escritos com as letras d.C., bastando apenas escrever, por exemplo, no ano 127. O uso do calendário facilita a vida das pessoas. Muitas vezes, contar um determinado acontecimento exige o uso de medidas de tempo tais como século, ano, mês, dia e até mesmo a hora em que o facto ocorreu. Algumas medidas de tempo muito utilizadas são: Milénio: período de 1.000 anos; Século: período de 100 anos; Década: período de 10 anos; Quinquénio: período de 5 anos;´ Triénio: período de 3 anos; Biénio: período de 2 anos (por isso, falamos em bienal). HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 34 5.3. Convenções para contagem de tempo Para identificar um século a partir de uma data qualquer, podemos utilizar operações matemáticas simples. Observe. Se o ano terminar em dois zeros, o século corresponderá ao (s) primeiro (s) algarismo (s) à esquerda desses zeros. Veja os exemplos: Ano 800 Século VIII Ano 1700 Século XVII Ano 2000 Século XX Se o ano não terminar em dois zeros, desconsidere a unidade e a dezena, se houver, e adicione 1 ao restante do número, Veja: Ano 5 0+1= 1 Século I Ano 80 0+1= 1 Século I Ano 324 3+1=4 Século IV Ano 1830 18+1=19 Século XIX Ano 1998 19+1=20 Século XX Ano 2001 20+1=21 Século XXI HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 35 Sumário O tempo é um dos elementos preponderantes na ciência Histórica. Contudo, a História não é refém do tempo cronológico, pois os factos podem condicionar que o historiador tenha que pesquisar os períodos necessários para obter a informação. Exercícios 1. Faça uma demonstração de anos em Séculos(15 exemplos) 2. Explique por palavras suas a longa, curta e Media duração Auto-avaliação Faça um texto no qual explicas as razões que levam a história a não ser prisioneira do Tempo Cronológico. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 36 Unidade VI O METODO DA HISTÓRIA: heurística Introdução Já nos foi avançado que uma das componentes da cientificidade da História é o método. Qual é ou quais são os métodos da História? Este é o assunto desta unidade Ao terminar esta unidade deverá ter alcançado os objectivos a seguir: Objectivos Compreender a componente metodológica utilizada para a produção do conhecimento histórico; Distinguir a heurística da Hermenêutica, 6.1. A Metodologia e a cientificidade da História A palavra metodologia vem de método. Aqui, o Método vai ser o conjunto de procedimentos que nos permitem chegar ao conhecimento histórico. Portanto para se chegar ao conhecimento histórico, existem um conjunto de procedimentos. Assim, em primeiro plano devemos obter as fontes. A recolha de fontes pressupõe antes de tudo tenhamos já o assunto, a nossa inquietação, ou seja, o que e que pretendemos saber. Então, a observação das fontes implica duas fases nomeadamente a Heurística que é a procura e a selecção das fontes e a Hermenêutica também conhecida por crítica histórica. A escolha das fontes é o primeiro passo científico – o mais difícil e perigoso. Com as fontes, o historiador constrói uma realidade histórica que pode estar mais ou menos distantes dos traços HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 37 deixados para o momento que se estuda. A fonte não surge como um dado; é o historiador que constitui o dado, interpretando a fonte, dando-lhe um anexo no universo novo reconhecimento histórico. Na história tradicional, o documento era um dado que permitia descobrir um facto histórico, constituído pelo historiador; o facto histórico era o objecto histórico. A história nova alargou a noção do objecto: historia global que se pretende total, história de estrutura e não relativa de acção de certos homens definem objecto histórico como “o conhecimento do passado dos homens tal como ele é aprendido e representado pelo historiador.” O objecto histórico é uma construção, uma representação do sujeito que conhece representação coerente, integrada numa sucessão e no espaço. O objecto da historia existe, mas indeterminado, intocado, quanto ele é apreendido, é – ou como conhecimento, foi reformulado pelo homem que o investiga – a historia não ressuscitou o passado que – refere a Marc Bloch – nada consegue modificar porém, o seu conhecimento é coisa em progresso e nem ininterruptamente se transforma . O Objecto histórico alarga em função em evolução da técnica do conhecimento histórico e do discurso ideológico da época do historiador. Por que o historiador faz a história, define o objecto de investigação de acordo com a sua experiencia, a linguagem, o meio social e politico onde se situa. A crítica histórica se desdobra em duas fases. A primeira é a fase da crítica externa e a segunda fase é a da crítica interna. A crítica externa tem como objectivos garantir a autenticidade e a proveniência do documento, isto é, reconstituição data, forma do documento, o material, etc); -sua vez a crítica interna consiste na análise o testemunho, o conteúdo, a sua credibilidade, a sinceridade, exactidão. Este assunto será desenvolvido mais adiante. Contudo deve-se ter em conta que o modelo, provém da concepção do positivismo no século XIX. Assim, a crítica histórica era o centro do método HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 38 histórico. Aliás foi este facto que oferecia História algum espaço no mundo das ciências. Refira-se igualmente que a metodologia deste período incidia-se sobretudo aos documentos escritos. Actualmente, o método foi alargado a outros campos para além do documento escrito. Recorre-se também aos métodos de datação como carbono catorze e outros métodos de radioactividade. Acrescente-se também o recurso à estatística, a construção de gráfico, ou seja, a metodologia histórica recorre a interdisciplinaridade. Sumulando, as pré-respostas ou hipóteses relativas ao questionamento que formulamos, normalmente é feito no momento em que se inicia com o trabalho heurístico. Então o historiador recolhe e selecciona os documentos necessários, normalmente organizados a partir de uma bibliografia não excluindo outros tipos de fontes. A seguir vem a fase da crítica. Esta fase apresenta-se como muito exigente sobretudo na actualidade, em torno de um determinado acontecimento pode ter testemunhos divergentes. Deste modo, a crítica é mais do que a crítica de credibilidade a partir da sinceridade e da exactidão., mas sim uma análise ideológica. Portanto, há um ajustamento da crítica histórica as realidades actuais Uma outra componente metodológica bastante importante é o método comparativo. Segundo Marc Bloch, este método pressupõe o levantamento de semelhanças ediferenças em acontecimentos verificados em espaços distintos para estudá-lo. O método comparativo é utilizado pela história na sua componente generalizada, relativamente aos conhecimentos ou informação da História. Uma vez que se diz que um determinado facto é único, torna-se pertinente demonstrá-lo, o que só pode acontecer usando o método comparativo. Mas é preciso saber utilizar este método. Assim, deve-se evitar comparar sociedades muito distantes no tempo, para não se cair em anacronismo. Portanto, deve-se comparar sociedades contemporâneas e com número elevado de características análogas, como o afirma Marc Bloch. A melhor forma de resistir aos preconceitos e pré-compreensões existentes e persistentes em nós, é sempre retornar aos documentos da época, sempre realizar esse círculo hermenêutico de leitura. Lendo, relendo e confrontando nossas ideias. São os textos que HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 39 devem dar o tom, a natureza e o conteúdo do que se deseja dizer. A interpretação, nesse sentido hermenêutico, está quase fiel às palavras escritas na época que se escolheu para pesquisar e conhecer. Então, cabe uma pergunta: como sabemos exactamente o sentido preciso das palavras que lemos? Os hermeneutas radicais dirão que um resultado interpretativo definitivo é impossível: com nosso próprio desenvolvimento intelectual, sempre teremos em cada nova leitura uma nova interpretação, uma nova perspectiva, uma nova abordagem do texto lido. É possível. Sumário O A história enquanto ciência depende dos métodos para a consolidação da sua cientificidade. Sem métodos não se vislumbrará a possibilidade de construção do conhecimento histórico. A recolha de fontes e suas análises aliada aos diversos elementos técnicos estudados compõe a metodologia da História. Exercícios 1. Qual é o primeiro passo científico da construção do conhecimento histórico? 2. Refira-se a complexidade existente nesse passo. 3. Diferencie Heurística da Hermenêutica. Auto-avaliação Faça um comentário respondendo a seguinte questão: Na sua opinião, até que ponto a metodologia da história permite afirmar que a história é cieência? HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 40 Unidade VII A CRITICA EXTERNA NA HISTÓRIA Introdução A crítica externa como foi vista na unidade anterior constitui a dimensão metodológica. Trata-se de um procedimento bastante importante. A sua abordagem nesta unidade deve-se a necessidade de aprofundá-la. Constituem objectivos desta unidade: Constituem objectivos desta unidade: Objectivos Objectivo Geral Conhecer a dimensão da crítica externa em história Objectivo específicos Explicar as características de cada elemento metodológico da história, concretamente da crítica externa. Estabelecer relações entre a metodologia e as fontes históricas 7.1. As Particularidades da Crítica Externa Antes porém, é bom que se refira que a Critica externa é fundamentalmente usada para documentos escritos. Aliás, ao longo da história a preponderância que se deu aos documentos escritos, apesar de ter sido negativo nalguns aspectos, conferiu a existência do rigor na História. Na Critica externa também chamada por crítica de autenticidade, procuram-se respostas para as seguintes questões: HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 41 . Trata-se de um documento original ou de uma cópia? . E um documento fidedigno ou apresenta falsidades? No entanto é preciso prestar atenção para a complexidade que algumas destas questões envolvem. Por exemplo: um documento original pode conter falsidades ou, inclusivamente, ser falso. Ao invés, uma copia pode reproduzir perfeitamente um original e ter quase o mesmo valor que aquele, em particular se o original já tiver desaparecido. Entretanto, a crítica externa pode ainda subdividir-se em dois tipos: Critica de proveniência e critica de restituição. A) Critica de proveniência A crítica de proveniência ajudar a responder ao seguinte questionário: . Quem redigiu o documento? . Quando e onde? . Como? . Por que vias o documento nos chegou? Algumas vezes, o investigador, pelo menos aparentemente, tern a tarefa facilitada. Isso sucede quando, no documento, se menciona expressamente: . O autor; . O local e a data de elaboração. Facilitará o trabalho o facto de o documento se encontrar no lugar esperado. Estarão, nas circunstâncias mencionadas, os documentos de certas instituições, caso apresentem os elementos indicados e existam nos respectivos arquivos. Todavia, mesmo nesses casos, há que adoptar a dúvida metódica cartesiana, para averiguar se os dados se adequam a realidade. Como explica Colingwood citado por Mendes (OP. Cit.), o historiador é critico, mas não céptico pois um critico é uma pessoa apta e disposta a reconstruir, para si, os HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 42 pensamentos de outros para verificar se foram pensados correctamente, ao passo que um céptico e uma pessoa incapaz de fazer isso. Com efeito, mesmo quando se dispõe de elementos expressos no documento, deve-se questionar se: o documento foi totalmente elaborado pelo indivíduo cujo nome é indicado, ou houve dois autores, um material (executor) e outro moral (que o concebeu e mandou elaborar). Por vezes, há necessidade de se recorrer a outros elementos dos manuscritos como a: . Extensão; . Dedicatória; . Data; . Apresentação; . Informações provenientes de outras fontes; Sumário A crítica externa configura-se como um procedimento extremamente importante para a construção do conhecimento histórico. Deste modo há necessidade de se averiguar a componente externa da documentação, tendo como fim último o alcance da verdade. Exercícios 1. Quais são as características de uma critica externa? 2. Quais são as diferenças entre a crítica de proveniência e a crítica de autenticidade. 3. Detalhe os elementos de cada tipo de crítica. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 43 Auto-avaliação Comente os procedimentos de uma crítica Externa por meio de exemplo a sua escolha. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 44 Unidade VIII A CRITICA INTERNA NA HISTÓRIA Introdução Depois de estudadas as questões fundamentais da crítica externa no que respeita a proveniência e a restituição do documento, nesta unidade é tratada ao outro importante ramo da crítica, isto é, a critica interna. A crítica interna é também chamada de crítica de credibilidade Ao terminar esta unidade deverá ter alcançado os objectivos a seguir: Objectivos Objectivo Geral Conhecer a dimensão da crítica interna em história. Objectivo específicos Explicar as características de cada elemento metodológico da história, concretamente da crítica interna. Demonstrar o papel do historiador na aplicação da crítica interna. 8.1. As Particularidades da Crítica interna Depois de estudadas as questões fundamentais da crítica externa no que respeita a proveniência e a restituição do documento, nesta unidade é tratada ao outro importante ramo da crítica, isto é, a critica interna. A crítica interna é também chamada de crítica de credibilidade HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 45 Através da crítica interna - frequentemente identificadacorn a hermenêutica, faz-se uma triagem entre o verdadeiro e o que não se pode considerar como tal. Entretanto, a crítica interna pratica-se através de cinco operações: . Critica de interpretação; . Critica de competência; . Critica de veracidade; . Critica de rigor; . A verificação dos testemunhos. A) Critica de interpretação E necessário, em primeiro lugar, conhecer a língua da época em que o documento foi elaborado e na qual esta redigido. Porém, não basta conhecer a língua, é necessário ir alem do sentido literal do texto, para apreender também: . Hábitos de pensamento; . Atitudes intelectuais; . Formas de sentir, etc. B) Critica de competência Interessa examinar a qualidade do testemunho. Este deve preferencialmente possuir as seguintes características: :.Directo (sem intermediário); Completo (visar a totalidade dos factos); Em bruto (sem comentários subjectivos). A crítica de competência, embora nascida e desenvolvida em função dos documentos escritos, deve também exercer-se relativamente aos testemunhos orais, ultimamente reabilitados pela chamada história oral. Esta prende-se corn testemunhos recolhidos directamente de fonte oral ou sob registo oral. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 46 C) Critica de veracidade Há que averiguar, perante um documento, o que e verdadeiro. Langlois e Seignobos defendiam, que em história, como em toda a ciência, o ponto de partida deve ser deve ser a dúvida metódica, a qual, aplicada a um documento, se transforma em desconfiança metódica. De novo surgem novas e outras questões como estas como: . Não teria o autor do documento querido enganar o leitor (historiador ou outro) ? . Terá o autor do documento tido interesse em mentir? . Terá sido obrigado a mentir? . Há motivo para desconfiar da afirmação? D) Critica de rigor É necessário verificar o acordo, não só entre as testemunhas como também entre os factos. A crítica de rigor afirma Pierre Salmon, esforça-se por detectar os erros involuntários na mente. E) Verificação dos testemunhos Aqui, o documento deve ser minuciosamente analisado, a fim de se poder captar toda a sua riqueza informativa. E preciso ler o texto tantas vezes quantas se tenha perguntas a fazer- lhe; e preciso relê-lo dez, vinte, cem vezes. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 47 Sumário A crítica interna é um procedimento metodológico em História e se configura com a dimensão do conteúdo dos documentos que são posteriormente transformados em fontes. Entretanto, quer na crítica externa, como na Interna, há sempre um condicionalismo: a existência de documentos escritos Exercícios 1. Explique cada um dos tipos da crítica interna. 2. Quais são as diferenças entre a crítica de competência e da veracidade Auto-avaliação Comente os procedimentos de uma crítica interna por meio de exemplo a sua escolha. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 48 Unidade IX CIÊNCIAS AUXILIARES DA HISTÓRIA Introdução Nesta unidade, vai ser estudada um assunto muito importante e que determinou o surgimento das ciências auxiliares da história. Entretanto, essas ciências estão intimamente ligadas às fontes escritas. Ao terminar esta unidade deverá ter alcançado os objectivos a seguir: Objectivos Conhecer as ciências auxiliares da história. Identificar as suas características e importância de algumas ciências auxiliares da história. 9.1. História e as ciencias auxiliares As ciências auxiliares constituem áreas do saber que contribuem com o seu saber na consolidação da História como ciência. Dentre as ciências auxiliares destacam-se: A epigrafia é o estudo das inscrições, isto e, dos textos escritos sobre materiais duráveis, como a pedra e o metal. E incontestável a relevância da epigrafia para a historia greco-romana. Contudo, a importância desta ciência não se esgota corn aquela civilização. Assim, da história medieval a história moderna e contemporânea, o campo da epigrafia alarga-se, permitindo o estudo de uma HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 49 documentação abundante e rica de informações, da qual se podem salientar: . Estatuas; . Nomes de ruas; Monumentos evocativos de guerras; . Epitáfios. Diplomática Ainda que, por vezes, estudada juntamente corn a paleografia a diplomática é uma disciplina independente tendo, por conseguinte, um objecto específico que é o conhecimento racional das regras de forma que se aplicam aos actos escritos e aos documentos assimilados. Os actos que constituem o objecto da diplomática apresentam caracteres externos ou extrínsecos e caracteres internos ou intrínsecos. Os primeiros dizem respeito a matéria que serve de suporte aos actos (pergaminho ou papel, tinta, etc.). Os segundos, por seu turno, reportam-se aos factores referentes a língua e a redacção (discurso diplomático). Entretanto, não basta descrever os caracteres formais extrínsecos e as suas variações ao longo do tempo. E preciso explicar a presença de uns e o aparecimento de outros reintegrando-os no seu contexto histórico, jurídico, social, económico. A filologia (do latín philologĭa e este do grego φιλολογία, “amor ou interesse pelas palavras”) é a ciência que se ocupa do estudo dos textos escritos, através dos quais tenta reconstruir, o mais fielmente possível, os textos originais com o respaldo da cultura que neles subjaz. O filólogo serve-se, por tanto, do estudo da linguagem, a literatura e demais manifestações escritas, assim que constituem a expressão de uma comunidade cultural determinada. Alternativamente, a filologia pode ser um termo usado antes do século XX e equivale nos tempos de hoje a linguística. HO210 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS HISTÓRICOS Erro! Não existe nenhum texto com o estilo especificado no documento. 50 Arqueologia (do grego ἀρχαίος 'velho' ou 'antigo', e λόγος 'estudo') é uma disciplina que estuda as sociedades através de seus restos materiais, sejam estes intencionais ou não. Assim, devemos deixar de lado a tradicional visão de que como «uma ciência auxiliar da História, se ocupa da Pré-história, já que complementa com documentos materiais aqueles períodos não suficientemente alumiados pelas fontes escritas». A Arqueologia é uma ciência social autónoma, que estuda aos seres humanos através do estudo de seus restos materiais com o fim de inferir os comportamentos e situações que lhe deram origem. A maioria dos primeiros arqueólogos, que aplicaram a nova disciplina aos estudos dos antiquários, definiram a arqueologia como o «estudo sistémico de restos materiais da vida humana já desaparecida». Outros arqueólogos enfatizaram aspectos psicológico-conductistas e definiram a arqueologia como «a reconstrução da vida dos povos antigos». Em alguns países a arqueologia tem estado considerada sempre como uma disciplina pertencente à antropologia; enquanto esta se centra no estudo das culturas humanas, a arqueologia se dedicava ao estudo das manifestações materiais destas. Deste modo, enquanto as antigas gerações de arqueólogos estudavam um antigo instrumento de cerâmica como um elemento cronológico que ajudaria a lhe pôr uma data à cultura que era objecto de estudo, ou simplesmente como um objecto com um verdadeiro valor estético, os antropólogos veriam o mesmo objecto como um instrumento que servir-lhes-ia para compreender o pensamento, os valores e a cultura de quem o fabricou. A sigilografia (do latín, sigillum, selo) ou esfragística (do
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