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Luana Rocha Vale [ Cardiologia ] Medicina - UNIFACS • Hipertensão Arterial Sistêmica • Definição: A hipertensão arterial (HA) é uma doença crônica não transmissível (DCNT) definida por níveis pressóricos, em que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/ou medicamentoso) superam os riscos. → Trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/epigenéticos, ambientais e sociais caracterizada por elevação persistente da pressão arterial (PA), ou seja: • PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou • PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. (Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020) → Qualquer interferência no coração ou no vaso, interfere diretamente na PA. → É uma condição silenciosa e progressiva. 75% das pessoas podem ser hipertensas e não sabem. → Vai se cronificando a medida do tempo e pode acabar lesionando órgãos alvos. → Pode evoluir para outras patologias, como a Insuficiência Cardíaca. → Pode ser considerado um problema inflamatório, assim como a diabetes mellitus e a obesidade. (A tríade das síndromes metabólicas.) Obs.: Mulheres gestantes podem ter aumento da pressão por elevação do simpático (noradrenalina) - a chamada hipertensão de débito. (Pode ter tanto hipertensão de débito, quanto de vaso (hipertensão mista)) Etiologia: • Primária (85% dos casos) • Secundária (3 a 5% dos casos) 1) HIPERALDOSTERONISMO PRIMÁRIO (HAP) produção autônoma de aldosterona pelo córtex adrenal (decorrente de hiperplasia, adenoma e carcinoma) → O aumento da aldosterona leva à expoliação do potássio (K) em troca da maior reabsorção do sódio (Na). 2) FEOCROMOCITOMA E PARAGANGLIOMAS São tumores de células argentafins que se localizam na medula adrenal (feocromocitomas) ou em regiões extra-adrenais (paragangliomas), que produzem catecolaminas e se associam a quadro clínico de HAS. Luana Rocha Vale [ Cardiologia ] Medicina - UNIFACS → A ação das catecolaminas (adrenalina, noradrenalina) é constringir a vasculatura e estimular a Renina, ativando, consequentemente, o SRAA. 3. HIPERTIREOIDISMO Caracteriza-se por hipermetabolismo e concentrações elevadas de hormônios tireoidianos livres. 4. HIPOTIREOIDISMO Caracteriza-se pela queda na produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina) 5. SÍNDROME DE CUSHING Essa síndrome é devida ao excesso de cortisol, que aumenta a retenção de sódio e água promovendo expansão de volume, sendo esse um dos fatores relacionados ao aparecimento de HAS em cerca de 80% das pessoas. 6. ACROMEGALIA Decorre do excesso de hormônio de crescimento (GH) produzido por um adenoma da glândula pituitária ou por liberação do GH em excesso devido a um tumor hipotalâmico. 7. SÍNDROME DA APNEIA E HIPOPNEIA OBSTRUTIVA DO SONO (SAHOS) Pacientes com SAHOS: 1. atividade simpática aumentada. 2. diminuição na sensibilidade dos barorreceptores. 3. hiperresponsividade vascular e alteração no metabolismo do sal e água, que podem Luana Rocha Vale [ Cardiologia ] Medicina - UNIFACS contribuir para a elevação da pressão arterial. 4. apneia: hipoxemia e acidose que estimulam os quimiorreceptores carotídeos causando vasoconstrição e consequente aumento da RVP. 8. COARCTAÇÃO DA AORTA Estreitamento do grande vaso sanguíneo (aorta) que leva o sangue do coração para o corpo, diminuindo a RVP e consequentemente, aumentando a PA.. 9. HIPERTENSÃO RENOVASCULAR Caracteriza-se por elevação da pressão arterial decorrente de oclusão parcial ou completa de uma ou mais artérias renais ou de seus ramos. A hipertensão arterial é inicialmente muito grave, associada a piora da função renal, ou altamente refratária a tratamento medicamentoso. Conceitos importantes: PA = DC x RVP ⇒ DC = FC x VS (São grandezas proporcionais) PA⇒ Pressão Arterial: é a pressão que o sangue exerce sobre as paredes das artérias, calculada pela performance do coração X a resistência das paredes dos vasos. → O ponto mais alto da pressão nas artérias é chamado de pressão sistólica. DC⇒ Débito cardíaco: é a medida da performance do coração (a quantidade de sangue ejetada a cada minuto), calculada pela frequência cardíaca X o volume sistólico. → Esta medida do DC é essencial para saber sobre o desempenho cardíaco do paciente. RVP⇒ Resistência vascular periférica: é a resistência das paredes dos vasos periféricos ao fluxo sanguíneo. FC⇒ Frequência cardíaca: é a velocidade do ciclo cardíaco medida pelo número de contrações do coração por minuto. VS⇒ Volume sistólico: é a medida (calculada em litros por minuto) da quantidade de sangue ejetado pelo ventrículo esquerdo a cada batimento/sístole. • Pré carga: tensão que o sangue exerce na parede do ventrículo para encher o coração→ durante a diástole. • Pós carga: pressão que o ventrículo exerce para ejetar o sangue (abertura da válvula semilunar)→ durante a sístole. Luana Rocha Vale [ Cardiologia ] Medicina - UNIFACS | Fisiopatologia: | Mecanismos regulatórios da PA: • Resposta mecânica: É feita pelos barorreceptores, que são sensores de pressão, localizados nas paredes do seio carotídeo e do arco aórtico. (Estão nas paredes cardíacas e também nas células justaglomerulares) → Eles transmitem informações sobre a pressão arterial aos centros vasomotores cardiovasculares no tronco encefálico. Podem ser de 2 tipos: - de alta pressão (ativados quando a pressão aumenta) - de baixa pressão (ativados quando a pressão abaixa) • Resposta química: É feita pelos hormônios liberados pelo coração e pelo Sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA). Hormônios liberados pelo coração: • peptídeo natriurético atrial (PNA) - é um hormônio secretado por células musculares cardíacas atriais, principalmente pelo átrio direito. → Seu papel é normalizar a volemia sanguínea e a pressão arterial, através da vasodilatação e da natriurese, quando a musculatura cardíaca for excessivamente distendida. • peptídeo natriurético cerebral (PNC) - é um hormônio secretado por células musculares cardíacas, principalmente pelo ventrículo esquerdo. Também está presente no cérebro humano. [Aparece bastante na IC] → Sua função é promover a natriurese (excreção de sódio pela urina) e, assim, adequar a volemia. Obs.: O nome “cerebral” se deve ao fato de ter sido inicialmente identificado no sistema nervoso central, mesmo sendo secretado principalmente no miocárdio. Sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA): → No bulbo (SNC), têm neurônios - da via simpática - que liberam o neurotransmissor noradrenalina. • Noradrenalina no Coração: → A noradrenalina vai se ligar em receptores cardíacos do tipo Beta-1, localizados no assoalho superior do átrio direito, que vão aumentar a FC e o DC. • Noradrenalina nos Vasos: → Ela também vai se ligar em receptores de vasos do tipo Alfa-1, que vão provocar uma vasoconstrição leve. → E em receptores do tipo Beta-2, que vão provocar vasodilatação. Luana Rocha Vale [ Cardiologia ] Medicina - UNIFACS • Noradrenalina nos Rins: → No Rim, ela vai se ligar em receptores Beta-1 e Beta-2 existentes nas células justaglomerulares, do glomérulo renal, que também possuem barorreceptores, e vão liberar a enzima Renina, que vai promover uma vasoconstrição potente e forte! → A Renina vai cair na corrente sanguínea e vai converter o Angiotensinogênio (que é produzido no fígado) em Angiotensina 1. Obs.: A renina retira do Angiotensinogênio um fragmento de dez aminoácidos chamado Angiotensina I, que tem leves propriedades vasoconstritoras. → A Renina então vai ativar a enzima Angiotensina 1, que vai para o sangue e depois para o pulmão, onde vai encontrar a Enzima Conversora de Angiotensina 1 (ECA), - produzida pelo endotélio pulmonar - que vai transformá-la em Angiotensina 2 e causar respostas celulares. Renina⇒ Angiotensina 1⇒ Sangue⇒ Pulmão⇒ ECA⇒ Angiotensina 2 → A Angiotensina vai se ligar em 2 receptores: • AT1 - receptor de Angiotensina 2 do tipo 1 • AT2 - receptor de Angiotensina 2 do tipo2 LEMBRE-SE: tudo que o AT1 faz, o AT2 desfaz. → A Angiotensina 2 vai se ligar no receptor AT1 do coração, que vai causar a vasoconstrição, levando a hipertrofia cardíaca e a inflamação, enquanto AT2 vai causar vasodilatação, que reduz a inflamação. *As células estreladas do pâncreas também têm receptores AT1. Obs.: A inflamação pode ser aumentada pela Angiotensina 2, mas o processo inflamatório também pode aumentá-la. → Em resposta a vasoconstrição, a glândula adrenal/suprarrenal libera a Aldosterona - um hormônio mineralocorticóide responsável pelo balanço hidroeletrolítico - que vai agir no túbulo contorcido distal e vai levar a um aumento da reabsorção de sódio (estimulando o transporte de sódio através da membrana celular, e aumentando sua concentração) e isso ajuda na reabsorção da água também. → Já no sistema nervoso central, a Renina vai estimular a hipófise posterior a secretar a Vasopressina (ADH) - hormônio antidiurético, que faz com que os rins conservem a água no corpo - que vai agir no ducto coletor, através da proteína aquaporina 2, que permite a passagem de moléculas de água pela membrana (reabsorção de água), sem permitir a entrada de solutos. Luana Rocha Vale [ Cardiologia ] Medicina - UNIFACS → O sódio então será liberado para o sangue e o potássio também será liberado, pelo mecanismo da bomba de sódio e potássio. → Quando o potássio é aumentado, a glândula adrenal recebe sinais para liberar a Aldosterona também. (Obs.: Hipercalemia - potássio alto no sangue - pode levar ao aumento da Aldosterona). → Então a Aldosterona vai entrar nos fibroblastos e contribuir com a hiperplasia cardíaca. (Tanto a Angiotensina como a Aldosterona são responsáveis pelo remodelamento cardiovascular.) É por essa razão que a Espironolactona (diurético poupador de potássio que impede que o organismo absorva muito sal e previne que os níveis de potássio fiquem muito baixos) é a primeira droga de escolha dentro dos fármacos de 2ª linha para hipertensão. Todos os fármacos que diminuem a Aldosterona e a Angiotensina 2 são cardioprotetores e aumentam a sobrevida do paciente, pois evitam o remodelamento/hipertrofia do coração. → A ECA, além de aumentar Angiotensina 2 (que causa vasoconstrição) é capaz de inativar a Bradicinina - um mediador que vai interferir na perfusão renal e causa vasodilatação. Nesse caso, os fármacos mais utilizados serão os IECAs (Inibidores da ECA). Porém, deve-se lembrar que a Aspirina corta o efeito dos IECAS. → O coração vai liberar PNA, o que vai aumentar a excreção renal de sódio e água Os diuréticos Tiazídicos, como a Hidroclorotiazida, vão imitar a função do PNA. Os corticóides vão agir no mesmo receptor da Aldosterona, aumentando a reabsorção de sódio e água, e é por isso que o indivíduo fica inchado (retenção de sódio e água). → A enzima Neprilisina é responsável por fazer a degradação do PNA e isso reduz a diurese e aumenta a pressão arterial. Luana Rocha Vale [ Cardiologia ] Medicina - UNIFACS Diagnóstico: → A PA varia ao longo do dia, mesmo em indivíduos normotensos, o que não pode variar muito é a média das pressões ao longo do dia. → O Diagnóstico de HAS se dá quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg → Para avaliar isso, é realizado o MAPA: é a sigla usada para Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial em 24 horas. → É instalado um aparelho de pressão arterial automático no braço do paciente que é conectado a um registrador que fica na cintura fazendo medições regulares a cada 15 minutos, durante 24 horas para fazer o mapeamento da pressão no paciente. Tratamento: 1) Diuréticos Tiazídicos (Hidroclorotiazida, Clortalidona, Indapamida…) → Possibilidade terapêutica que vai aumentar a diurese, eliminando sódio e água. 2) Inibidores da ECA (IECA) (Captopril, Lisinopril, Enalapril…) → Ao bloquear a ECA, não forma Angiotensina 2 e evita a formação da Bradicinina. Porém, desencadeia a tosse. Deve-se ter cuidado com asmáticos. E lembrar de não associar a Aspirina, que corta o efeito dos IECAs. → São protetores cardíacos, evitam a insuficiência cardíaca. 3) Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina (BRA) (candesartana, eprosartana, irbesartana, losartana, olmesartana, telmisartana e valsartana) → Forçam a Angiotensina 2 a se ligar no receptor AT2, que vai causar vasodilatação e diminuição da pressão. 4) Bloqueadores dos Canais de Cálcio (BCC) (Nifedipina, Anlodipino (Amlodipina), Nicardipina, Felodipina,) → Atuam como vasodilatadores, reduzem a frequência cardíaca e desaceleram a condução aurículo-ventricular (AV) → Os BCC di-hidropiridínicos são os mais indicados para o tratamento da hipertensão arterial por apresentarem um grande efeito vasodilatador. → Os IECAs ou BRA são as primeiras opções de tratamento. Obs.: O Medicamento Entresto é a combinação de 1 BRA (Valsartana) + Sarcubitril→ essa associação teve um desfecho melhor que o IECA (Enalapril). → A lógica da prescrição é combinar fármacos que pegam vias distintas. → Não se pode combinar BRA com IECA. → Quando se junta 4 fármacos para regular a pressão, é porque o paciente já tem uma hipertensão resistente.
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