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1 ÍNDICE 1. TEORIA GERAL DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS.......................................................2 2. AÇÕES POSSESSÓRIAS................................................................................................4 3. INVENTÁRIO E PARTILHA.........................................................................................13 4. EMBARGOS DE TERCEIRO.........................................................................................18 5. OPOSIÇÃO................................................................................................................25 6. PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA......................................32 7. DIVÓRCIO E SEPARAÇÃO CONSENSUAIS...................................................................37 8. INTERDIÇÃO.............................................................................................................51 9. AÇÃO MONITÓRIA...................................................................................................62 10. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO.............................................................................70 11. PROCEDIMENTO DA LEI DE LOCAÇÕES (8.245/91)....................................................72 2 TEORIA GERAL DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS QUIDAÇÃO DE SENTENÇA A doutrina hoje tem convicção de que os procedimentos especiais integram o processo de conhecimento. O processo de conhecimento engloba um procedimento padrão, denominado de procedimento comum, e procedimentos que são fogem a esse padrão, pois são diferentes do comum, denominados procedimentos especiais. O NCPC, inclusive, reuniu em um mesmo Livro – Livro I – o procedimento comum (Título I) e os procedimentos especiais (Título III), em contraponto aos CPCs anteriores que tinham um livro autônomo sobre procedimentos especiais. Procedimentos especiais são procedimentos do processo de conhecimento distintos do procedimento comum. O NCPC se preocupa em regular o procedimento comum de forma detalhada e, ao regular os procedimentos especiais, ele menciona apenas aquilo que esses procedimentos têm de diferente em relação ao procedimento comum. Portanto, não precisam ser regulados em todos os seus detalhes, pois se aplica subsidiariamente o procedimento comum. Os procedimentos especiais podem estar regulados no próprio CPC ou em legislação extravagante. A mera previsão de um procedimento que contenha alguma diferença, ainda que mínima, em relação ao procedimento comum já faz com que estejamos diante de um procedimento especial. Ex. Ação popular – a única diferença é o prazo para contestar de 20 dias prorrogáveis por mais 20. Por que os procedimentos especiais são criados? Duas razões podem levar à criação de um procedimento especial. 1ª. Para atender alguma peculiaridade do direito material Há conflitos de direito material que seriam submetidos ao Judiciário que não têm no procedimento comum o meio adequado para resolvê-las. As vias ordinárias não solucionariam a lide. Surge, então, a necessidade de criar um procedimento diferenciado que se apresente como meio adequado para dar solução àquele litígio específico. Ex1. Conflito sobre pagamento de uma dívida: “eu sou devedor e quero pagar, procuro o credor e este, por alguma razão, se recusa a receber o pagamento”. O CC/02, nessa hipótese, determina que o devedor deve consignar o pagamento em juízo (suponha-se que não é dinheiro, pois caberia também depósito extrajudicial). O procedimento comum resolveria o litígio? Não, pois no procedimento comum não há previsão de depósito. Portanto, criou-se um procedimento especial que trouxesse essa figura. Ex2. Conflito sobre demarcação de terras: “Há duas áreas de terras contíguas. A propõe ação demarcatória em face de B, dizendo na inicial que não há definição precisa dos limites dos imóveis e, por isso, quer a demarcação.”. A e B divergem quanto à linha demarcatória. Se a sentença julgar procedente a ação e esta transitar em julgado, poderá ainda haver problemas com a colocação da cerca. Não há como executar o vizinho que perdeu e obrigá-lo a construir uma cerca, pois não há fonte para essa obrigação. Logo, é necessário um procedimento especial, o qual prevê a demarcação real por um terceiro, auxiliar do juiz. Trata-se de ato de execução denominado “trabalho de campo”. Neste procedimento, há duas sentenças: uma determinando a demarcação (da qual cabe apelação com efeito suspensivo) e outra homologando a demarcação realizada (da qual cabe apelação sem efeito suspensivo). 2ª. Por razões políticas Quem cria o procedimento especial é a lei e o Poder Legislativo é constitucionalmente autorizado a fazer opções políticas. Por vezes, criam-se procedimentos especiais porque pareceu ao Legislativo que era politicamente conveniente criá-los, embora o litígio pudesse ser 3 resolvido pelo procedimento comum. Ex. procedimento dos Juizados Especiais; do mandado de segurança; da ação monitória. Nos casos em que o procedimento especial é criado em razão de alguma peculiaridade do direito material, a sua utilização é obrigatória. O procedimento especial será a única via processual adequada para resolver o litígio. Se adotar outra via, cabível extinção do processo sem resolução do mérito por falta de interesse. Nos casos em que o procedimento especial é criado por opção política do legislador, o procedimento comum também é adequado e, portanto, o demandante pode escolher, sendo o procedimento especial de utilização facultativa. Exceção: Juizados Especiais Federais – a própria lei obriga a utilização do procedimento especial e boa parte dos doutrinadores questiona a constitucionalidade desse dispositivo. São procedimentos especiais de jurisdição contenciosa: (a) ação de consignação em pagamento (arts. 539-549); (b) ação de exigir contas (arts. 550-553); (c) ações possessórias (arts. 554-568); (d) ação de divisão e de demarcação de terras particulares (arts. 569-598); (e) ação de dissolução parcial de sociedade (arts. 599-609); (f) inventário e partilha (arts. 610-673); (g) embargos de terceiro (arts. 674-681); (h) oposição (arts. 682-686); (i) habilitação (arts. 687-692); (j) ações de família (arts. 693-699); (k) ação monitória (arts. 700-702); (l) homologação do penhor legal (arts. 703-706); (m) regulação de avaria grossa (arts. 707-711); (n) restauração de autos (arts. 712-718). Na verdade, sendo una a jurisdição, como poder do Estado, uno também deve ser o direito de a ela se recorrer. O que variam são apenas as maneiras de exercitar esse mesmo direito, conforme a diversidade dos atos reclamados para adequar a forma à substância do direito subjetivo litigioso. O uso de expressões como “ação de consignação”, “ação de exigir contas” etc., denota apenas reminiscência do anacrônico e superado conceito civilístico de ação, segundo o qual a cada direito material corresponderia uma ação para protegê-lo na eventualidade de sua violação. Na verdade, porém, o que hoje se admite são procedimentos 4 variados para deduzir pretensões relativas a certos direitos materiais, pelo que o correto seria dizer “procedimento da consignação em pagamento”, “procedimento da exigência de contas” etc. em lugar de “ação de consignação em pagamento”, “ação de exigir contas” etc. Comparado o elenco do Código novo com o do Código de 1973, constata-se a exclusão do rol de procedimentos especiais das ações de depósito, de anulação e substituição de títulos ao portador, de nunciação de obra nova, de usucapião e de vendas a crédito com reserva de domínio. Todas passam, por isso, a se sujeitar ao procedimento comum, sem embargo de reclamarem pequenas adaptações no tocante ao pedido e às citações necessárias, para se adequarem a peculiaridades do direito material. (THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito ProcessualCivil – Volume II, Procedimentos Especiais) AÇÕES POSSESSÓRIAS São conhecidas como interditos possessórios. Eles têm a finalidade de proteger a posse (arts. 1196 a 1224 do CC). O possuidor não se confunde com o proprietário. Proprietário é aquele que possui o domínio da coisa e, portanto, é titular de todos os atributos da propriedade – usar, gozar e dispor da coisa –, podendo cedê-los. Difere do possuidor que tem direito de usar e gozar, mas não tem direito de dispor da coisa. Ex. Locador (proprietário) e locatário (possuidor). O possuidor pode se valer das ações possessórias, bem como o proprietário quando possuidor. O autor terá que provar a posse como requisito da inicial das ações possessórias (art. 927, I, do CPC/73 e 561, I, do NCPC). Questão: E o detentor (fâmulo da posse)? O detentor não tem tecnicamente a posse (arts. 1198 e 1208 do CC) e, portanto, não pode se valer de uma ação possessória (ex. caseiro, zelador). As ações possessórias se escoram, muitas vezes, no direito social à moradia (art. 6º da CF). O que o legislador quis proteger foi aquele que detém a melhor posse e não a propriedade. Isso implica duas conclusões: ▪ Nas ações possessórias, se veda a discussão sobre o domínio (art. 923 do CPC/73 e 557 do NCPC). O domínio será discutido em ação própria (ação petitória ou de reconhecimento de domínio). ▪ É possível, portanto, o ajuizamento de ação possessória contra o proprietário, pois o que vale é a posse. Ex. O locador quer despejar o locatário, mas o contrato de locação está em vigor. Logo, para obrigar o locatário a sair ele corta a luz. O locatário está tendo sua posse turbada e pode mover ação possessória em face do locador. Existe um meio extrajudicial de defesa da posse que, na verdade, é tido como uma autotutela permitida pela lei, qual seja o desforço imediato da posse (art. 1210, §1º, do CC). A lei determina que o desforço deve ser imediato, ou seja, é autorizado o uso da força para proteção da posse desde que seja feito logo (no calor dos acontecimentos) (Enunciado 495 do CJF). Se não for feito logo, deve recorrer às vias judiciais. O detentor, muito embora não seja possuidor, pode se valer do desforço imediato da posse (Enunciado 493 do CJF). Espécies de Ações Possessórias 5 Existem três espécies de ações possessórias: ▪ Esbulho (perda da posse) → ação de reintegração de posse; ▪ Turbação (embaraço no exercício pleno da posse) → ação de manutenção de posse, ex. vizinho que toda noite afasta a cerca 1 cm, que coloca material de obra perto da sua garagem, que corta árvores de sua propriedade (art. 926 do CPC/73 e 560 do NCPC). ▪ Ameaça da posse → interdito proibitório (art. 932 e 933 do CPC/73 e 567 e 568 do NCPC), ex. vizinho que diz que vai invadir sua casa no sábado que vem. Busca-se obter uma tutela jurisdicional para que aquela pessoa não cometa aquele ato, sob pena de multa. Resume-se a uma obrigação de não fazer. Características 1ª. Fungibilidade: art. 920 do CPC/73 e 554 do NCPC. Não se dá valor ao nomen iuris nem ao pedido mencionados pelo autor na inicial da ação possessória.Há uma zona cinzenta entre esbulho/turbação/ameaça, podendo tal situação se alterar da noite pro dia. O juiz não está adstrito ao pedido formulado pelo autor, sendo, portanto, uma exceção ao princípio da congruência. Ele não precisa abrir prazo para emenda à inicial. A lei autoriza que ele mesmo outorgue a proteção possessória que julgar viável. Trata-se da ideia de máximo aproveitamento dos atos processuais. Se houver uma alteração da espécie de agressão à posse no curso do processo, basta comunicar ao juiz, sendo desnecessário retificar a inicial ou ajuizar novo processo. 2ª. Cumulatividade: art. 921 do CPC/73 e 555 do NCPC. É possível a cumulação de pedidos sem perder as regras especiais do procedimento (ex. liminar sem periculum in mora na ação possessória de força nova). O art. 292, §2º, do CPC/73 e 327, §2º, do NCPC, autorizam a cumulação de pedidos, mas desde que siga o rito comum. Estes parágrafos, contudo, não se aplicam às ações possessórias. 3ª. Duplicidade: art. 922 do CPC/73 e 556 do NCPC. As ações possessórias são dúplices. Nas ações dúplices, o réu pode ganhar o bem jurídico mesmo sem formular pedido próprio para tanto, ou seja, sem reconvir ou sem fazer pedido contraposto, em decorrência do direito material posto em causa. Nas possessórias, não importa muito quem é autor e réu. Ex. A entra com ação de reintegração em face de B ao argumento de que B invadiu seu terreno. B se defende, dizendo que só retomou a posse que A lhe havia retirado. Caso o juiz entenda que assiste razão à B, ele pode lhe outorgar a proteção possessória, ainda que ele não tenha pedido. Só o pedido possessório é dúplice. ▪ É possível que o réu formule pedido contraposto (de condenação em perdas e danos, cominação de pena para caso de nova turbação/esbulho etc. – art. 555 do NCPC). ▪ É possível que o réu formule reconvenção para incluir pedidos que envolvam outros fatos, alheios ao procedimento da possessória (≠ do art. 555), tal qual o de rescisão contratual (STJ, REsp 119.775/SP). 4º. Prevalência das questões possessórias sobre as questões dominiais (art. 923 do CPC/73 e 573 do NCPC). É vedado discutir quem tem o melhor título de propriedade nas ações possessórias. Só se analisa quem tem a melhor posse. Logo: ▪ Enquanto se discute a posse, é vedado o ajuizamento de ações para discutir propriedade. Nelson Rosenvald diz: “No transcurso da ação possessória, da citação ao trânsito em julgado, incidirá uma espécie de condição suspensiva ao ajuizamento de qualquer ação fundada no domínio, ante a absoluta separação dos juízos em comento”. ▪ É vedado ao réu alegar em defesa a propriedade sobre o bem. 6 Usucapião. A usucapião é uma ação correlata à posse. Para usucapir, é necessária a posse mansa e pacífica por um prazo determinado (posse ad usucapionem). Na usucapião, obtém-se uma sentença com eficácia retroativa. A despeito disso, a usucapião envolve discussão de domínio e é tida como um pleito petitório. Depois de consumada a prescrição aquisitiva por A, B entra com ação possessória em face de A. Pode B alegar a usucapião como defesa? Sim, conforme entendimento da Súmula 237 do STF. Isso resultará na improcedência da possessória, mas essa sentença não vale para fins de alteração da titularidade do imóvel no registro público (razão pela qual não se exige a intervenção do MP – art. 994 do CPC/73). A ação de usucapião exige uma formalidade rígida que não é suprida na ação possessória (ex. juntar planta do imóvel, citar vizinhos, intervenção do MP etc.). O Estatuto da Cidade, contudo, prevê uma regra de que a usucapião urbana possa gerar título de propriedade quando alegado em sede de defesa (art. 13 da Lei 10.257/01). Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves entendem que, nessa hipótese, deve o juiz se preocupar com o preenchimento dos requisitos formais da ação de usucapião. Seria como permitir um pedido reconvencional de usucapião na ação possessória em nome da instrumentalidade do processo. procedimento competência Em se tratando de ação possessória imobiliária, o legislador trouxe uma regra específica no art. 47, §2º, do NCPC. Ação possessória envolve posse e a posse não está incluída no rol dos direitos reais do art. 1225 do CC, contudo, a despeito de se tratar de direito pessoal, a lei lhe deu tratamento de direito real quanto à fixação de competência, sendo competente o foro da situação do imóvel (art. 95 do CPC/73 c/c 47, §2º, do NCPC). Trata-se de competência absoluta. Em se tratando de ação possessória mobiliária, segue-se a regra do art. 46 do NCPC (antigo art. 94 do CPC/73) que prevê como competente o foro do domicílio do réu. duplicidade de procedimentos O legislador fez uma separação dos procedimentos a depender do tempo que o autor demorou a ajuizar a ação possessória. ▪ Se ele entrar com ação dentro de ano e diada data da turbação/esbulho, chama-se ação possessória de força nova, seguindo o rito especial do art. 558 do NCPC (art. 924, CPC/73). Comprova-se a data por qualquer meio de prova admitido em direito (ex. prova testemunhal). Obs. 1. Se for violência, o prazo conta-se da data da violência. Obs. 2. Havendo esbulho por clandestinidade, conta-se da data em que se tomou conhecimento do esbulho. ▪ Se ele entrar com ação depois de ano e dia, chama-se de ação possessória de força velha, a qual seguirá o rito comum, embora se mantenham as características das ações possessórias. Há ainda uma terceira via para as ações possessórias – os Juizados. É possível levar aos Juizados uma ação de reintegração/manutenção de posse se o bem for de valor até 40 salários mínimos (art. 3º, IV, da Lei 9.099/95). procedimento especial da ação de força nova petição inicial A petição inicial deve preencher os requisitos do art. 319. Contudo, se a petição inicial não trouxer todos os elementos necessários, tal qual a identificação completa do agressor da posse, mas for possível citá-lo, ela não será indeferida, nos termos do art. 319, §2º, do NCPC. 7 Em se tratando de ações possessórias em que figurem no pólo passivo um grande número de pessoas, como ocorre nos casos de invasão por sem terra, deve haver a citação pessoal dos ocupantes que se encontrarem no local e citação por edital dos demais, sendo intimado o MP e a DP (se houver pessoas hipossuficientes), conforme prevê o art. 554, §1º, do NCPC. liminar Na ação possessória de força nova, o art. 928 do CPC/73 e o art. 562 do NCPC trazem a possibilidade da concessão de uma liminar inaudita altera parte, ou seja, sem ouvir o réu, expedindo-se desde logo mandado de manutenção e reintegração. O deferimento dessa liminar não exige o periculum in mora. É tutela antecipada, porque obtém desde logo a satisfação da pretensão que só seria obtida ao final, mas não é uma tutela de urgência, pois o periculum in mora é dispensado. Exige-se apenas a prova dos requisitos do art. 561 do NCPC (art. 927 do CPC/73). Essa liminar não é possível em ação em face do Poder Público, por força da previsão do parágrafo único do art. 562 do NCPC. Se o juiz não estiver convencido somente pelos elementos contidos na petição inicial, ele deve designar audiência de justificação, na qual o autor tentará provar ao juiz os fundamentos para o deferimento da tutela provisória. Nas ações possessórias de força velha, que segue o rito comum, não há direito a essa liminar. Contudo, a jurisprudência permite que o autor pleiteie uma medida liminar comum, genérica, prevista no CPC, caso em que terá que provar o periculum in mora (STJ, REsp 1194649/RJ e Enunciado 238 do CJF). Alexandre Câmara diz que, muito provavelmente, não haverá periculum in mora, visto que não há urgência se o autor demorou mais de ano e dia para entrar com a ação. Contudo, em situações excepcionais, a liminar pode se justificar (ex. o autor estava levando na maciota, porque o vizinho só estava colocando material de construção; contudo, depois de ano e dia, ele posiciona um trator em frente a sua casa). citação Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor deve promover a citação do réu nos 5 dias subseqüentes. Contestação Se não houve a audiência de justificação, porque o juiz deferiu a liminar, o réu deve contestar a ação no prazo de 15 dias contados de sua citação. Se houve a audiência de justificação, o réu participa da audiência, mas sua contestação não será oferecida naquele momento. Depois de realizada a audiência, o juiz deverá deferir ou não a medida liminar. O prazo para contestar será contado da intimação dessa decisão. Em se tratando de litígio coletivo pela posse de um imóvel, ajuizados depois de ano e dia (força velha), o legislador optou por nomear a audiência prévia como audiência de mediação, em que o mediador irá tentar compatibilizar os interesses dos litigantes (art. 565 do NCPC). JURISPRUDÊNCIA Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp 1.134.446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623). 8 Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de passagem. Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está invadindo a via de acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de moradores locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma servidão de passagem. STJ. 3ª Turma. REsp 1582176- MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016 (Info 590). Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp 1134446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623). - Competência ação possessória imobiliária: Art. 47. (...)§ 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta” SÚMULA 487 STF: Será deferida a posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for ela disputada. OBSERVAÇÃO: POSSE DE BEM PÚBLICO: O STJ pacificou o entendimento de que em se tratando de bem público, não há que se falar em posse, mas mera detenção, de natureza precária, o que afasta, por conseguinte, o direito de retenção por benfeitorias, ainda que à luz de alegada boa-fé (AgRg no REsp 1470182/RN, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/11/2014, DJe 10/11/2014). Enunciado 495 do CJF: No desforço possessório, a expressão "contanto que o faça logo" deve ser entendida restritivamente, apenas como a reação imediata ao fato do esbulho ou da turbação, cabendo ao possuidor recorrer à via jurisdicional nas demais hipóteses - Ação de Reintegração de Posse – cabível em caso de esbulho (perda da posse). - Ação de Manutenção da Posse – cabível em caso de (per)turbação, embaraço da posse, inclusive no caso de descumprimento de contrato em que haja desdobramento da posse. Ex.: atraso na restituição de bem dado em comodato. - Interdito Proibitório - cabível em caso de ameaça da posse. OBSERVAÇÃO: Para Maria Helena Diniz, Washington de Barros Monteiros e Orlando Gomes, são também ações possessórias: - Ação de Imissão na Posse – ação de procedimento ordinário para obtenção da posse a quem dela não dispõe faticamente, isso com fundamento no direito de propriedade. - Ação de Dano Infecto – ação cominatória em virtude de obra vizinha que possa causar dano. - Ação de Nunciação de Obra Nova – ação relacionada ao direito de vizinhança, direito condominial e às posturas públicas. Tem por objetivo a paralisação da obra. - Embargos de Terceiro – CPC - art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. § 1º Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor. OBSERVAÇÃO: Christiano Chaves, afirma que essas ações diferem das 9 ações possessórias, uma vez que possuem por objetivo principal a proteção preventiva e reparatória da posse AÇÃO DE FORÇA NOVA X AÇÃO DE FORÇA VELHA: As ações possessórias que forem ajuizadas em menos de ano e dia da turbação ou esbulho (ações de força nova) submeter-se-ão ao procedimento especial previsto na legislação processual pertinente (artigo 558 do CPC). Assim, as ações possessórias que forem ajuizadasem mais de ano e dia, submeter-se-ão ao procedimento comum ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório Enunciado 238: Ainda que a ação possessória seja intentada além de "ano e dia" da turbação ou esbulho, e, em razão disso, tenha seu trâmite regido pelo procedimento ordinário (CPC, art. 924), nada impede que o juiz conceda a tutela possessória liminarmente, mediante antecipação de tutela, desde que presentes os requisitos autorizadores do art. 273, I ou II, bem como aqueles previstos no art. 461-A e parágrafos, todos do Código de Processo Civil. (Comentários: Os artigos se referem ao CPC/73, mas o entendimento ainda é válido) QUESTÕES OBJETIVAS: 1. (FGV – 2022 – TJAP – Juiz de Direito) André, domiciliado em Macapá, ajuizou ação de reintegração de posse de imóvel de sua propriedade, situado em Laranjal do Jari, em face de Paulo, domiciliado em Santana. Considerando que a demanda foi intentada perante juízo cível da Comarca de Macapá, o magistrado, tomando contato com a petição inicial, deve: A) declinar, de ofício, da competência em favor do juízo cível da Comarca de Laranjal do Jari; B) declinar, de ofício, da competência em favor do juízo cível da Comarca de Santana; C) determinar a citação de Paulo, já reconhecendo que a competência é do juízo cível da Comarca de Macapá; D) determinar a citação de Paulo e, caso este suscite a incompetência, ordenar a remessa dos autos ao juízo cível da Comarca de Santana; E) reconhecer a incompetência do juízo cível da Comarca de Macapá e extinguir o feito, sem resolução do mérito. Gabarito: Alternativa A Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. § 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. § 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. 10 2. (FCC – 2021 - DPE-AM - Defensor Público) Considere as assertivas I e II a respeito das ações possessórias: I. É lícita a cumulação de pedidos pelo autor com o objetivo de requerer a tutela possessória cumulada com pedido de condenação do réu em perdas e danos e indenização dos frutos. PORQUE II. Em regra, na pendência de ação possessória, é vedado tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, salvo se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. Sobre as asserções acima: A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. B) A asserção I é uma proposição verdadeira, a II é uma proposição falsa e não é uma justificativa correta da I. C) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. GABARITO: A Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: I - condenação em perdas e danos; II - indenização dos frutos. Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. 3. (FAUEL – 2018 – Município de São José dos Pinhais/PR - Advogado) Assinale a alternativa INCORRETA, a respeito das ações possessórias. A) No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. B) No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há menos de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias. https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/dpe-am https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fcc-2021-dpe-am-defensor-publico https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/fauel https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/prefeitura-de-sao-jose-dos-pinhais-pr https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fauel-2018-prefeitura-de-sao-jose-dos-pinhais-pr-advogado 11 C) O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito. D) Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente. E) É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de condenação em perdas e danos. A) Correta CPC, art. 554, § 1º: No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. B) Incorreta CPC, art. 565: No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º. C) Correta CPC, art. 567: O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito. D) Correta CPC, art. 559: Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente hipossuficiente. E) Correta CPC, art. 555: É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: I - condenação em perdas e danos; II - indenização dos frutos. Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para: I - evitar nova turbação ou esbulho; II - cumprir-se a tutela provisória ou final. 4. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-AP - Promotor de Justiça Substituto) Luciano propôs uma ação judicial em desfavor de Pedro, para a defesa da posse de um imóvel localizado na cidade de São Paulo. Em contestação, o requerido apresentou a preliminar de ilegitimidade ativa, alegando que o autor não é proprietário do bem imóvel objeto da lide, mas tão somente inquilino. Tendo como referência a situação hipotética precedente, as disposições do CPC e o https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/cespe-cebraspe https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/mpe-ap https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/cespe-cebraspe-2021-mpe-ap-promotor-de-justica-substituto 12 entendimento dos tribunais superiores, assinale a opção correta, acerca das condições da ação e das regras que regulamentama ação possessória. A) O CPC adota expressamente a teoria da asserção, segundo a qual a análise das condições da ação é feita pelo juiz com base nas alegações apresentadas na petição inicial. B) Na qualidade de inquilino, Luciano não tem legitimidade para promover a referida demanda. C) Nessa espécie de ação, a participação de cônjuge do autor ou do réu é sempre indispensável. D) Na pendência da ação possessória proposta por Luciano, nem ele, nem Pedro podem formular nova ação de reconhecimento de domínio, salvo em desfavor de terceira pessoa. E) Não é lícita ao autor a cumulação de pedido possessório com condenação em perdas e danos e indenização aos frutos, devido à natureza especial do procedimento. O art. 557 do CPC e o art. 1.210, §2º, do CC estabelecem a vedação da exceção de domínio. Há uma separação absoluta entre os juízos petitório, baseado na propriedade, e o juízo possessório, baseado na posse. Isso porque a posse é fenômeno fático-social digno de tutela, sendo totalmente autônomo e distinto da propriedade. Um dos efeitos da posse é justamente a sua proteção através da tutela estatal. Portanto, havendo uma ação possessória em curso, não é cabível o ajuizamento de ação petitória ou a discussão a respeito da propriedade. Ademais, a vedação à exceção de domínio não deve ser compreendida como limitação aos direitos constitucionais de propriedade ou de ação, seja porque a propriedade deve obedecer à sua função social, seja porque o não debate sobre o domínio nas ações possessórias representa apenas uma condição suspensiva no exercício do direito de ação fundada na propriedade. A ação de imissão na posse, apesar do nome, não se baseia na posse, mas sim na propriedade, sendo uma ação petitória. É a ação cabível para o proprietário obter a posse que nunca teve. Assim, havendo uma ação possessória em curso, caso seja ajuizada a ação de imissão na posse, esta deverá ser extinta sem resolução de mérito, ante a falta de pressuposto negativo de constituição e desenvolvimento válido do processo, qual seja, a ausência de ação possessória pendente sobre o bem como requisito para o manejo de ação petitória. STJ. 3ª Turma. REsp 1909196-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/06/2021 (Info 701). CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É vedado o ajuizamento de ação de imissão na posse, de juízo petitório, na pendência de ação possessória sobre o mesmo bem. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <>. Acesso em: 08/11/2021 5. FCC - 2021 - DPE-BA - Defensor (A) Público (A) Sobre a ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, A) a intervenção da Defensoria Pública como custos vulnerabilis representa os interesses dos ocupantes citados por edital. https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/dpe-ba https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fcc-2021-dpe-ba-defensor-a-publico-a 13 B) a citação pessoal dos ocupantes poderá ser realizada na pessoa do representante ou líder comunitário local. C) de acordo com o Código de Processo Civil, deve o oficial de justiça realizar a tentativa de citação pessoal dos ocupantes por duas vezes, de modo que os não encontrados no local serão citados por edital. D) quando o esbulho afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, antes da apreciação do pedido liminar, o juiz deverá designar audiência de mediação para tentativa de solução pacífica do conflito. E) nas hipóteses em que não for autor da demanda, a intervenção do Ministério Público é dispensável por envolver direitos disponíveis. Gabarito: D! Conforme dispõe o CPC sobre o tema: “Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. § 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. § 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados. § 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação prevista no § 1º e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros meios. (...) Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º. § 2º O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça. (...) § 4º Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito possessór INVENTÁRIO E PARTILHA Primeiramente, é preciso verificar em qual situação se amolda o caso para que se possa verificar se o procedimento de inventário e partilha será aplicado: 1º. Se houver testamento, tem que necessariamente observar o procedimento de inventário e partilha (NCPC, art. 610, caput). 2º. Se não houver testamento, mas algum herdeiro for incapaz, tem que obedecer o procedimento de inventário e partilha (NCPC, art. 610, caput). https://www.qconcursos.com/usuario/perfil/ea038a7f https://www.qconcursos.com/usuario/perfil/ea038a7f 14 3º. Se não houver testamento e todos os herdeiros forem capazes, temos que fazer uma distinção: ▪ Se houver litígio, adota-se o procedimento de inventário e partilha; ▪ Se não houver litígio, ou seja, todos os herdeiros estão de acordo quanto ao modo de partilhar a herança, há a possibilidade de o inventário e a partilha ocorrerem na via extrajudicial (NCPC, art. 610, §1º). É um contrato de inventário e partilha, feito por instrumento público em um Ofício de Notas, em que os herdeiros, necessariamente capazes, assistidos por advogado ou defensor público, partilham os bens (art. 610, §2º). Questão: A via extrajudicial é facultativa ou obrigatória? É uma discussão que havia no CPC/73 e permanece no NCPC. Alguns autores, como Fredie Didier, com base na redação literal do art. 610, §1º, do NCPC, defendem que há uma faculdade em optar pelo inventário extrajudicial. Já outros, como Cristiano Chaves de Farias, sustentam que, se há a possibilidade legal de se proceder ao inventário extrajudicial, logo não há necessidade de ir a juízo, razão pela qual falta interesse de agir ao inventário judicial, sendo obrigatória a utilização da via extrajudicial. O CNJ, em sua Resolução nº 35, diz que a via extrajudicial é facultativa. Contudo, até quem diz que ela é facultativa, não usa a Res. 35 como argumento, uma vez que o CNJ não tem competência para disciplinar tal questão (matéria objeto de reserva legal da União). 1ª fase: inventário legitimidade Segundo o art. 615 do NCPC, tem legitimidade para demandar o inventário e partilha aquele que de fato estiver na posse e na administração do espólio. Deverá instruir o requerimento com a certidão de óbito do autor da herança. Além dele, há outros legitimados concorrentes, constantes do art. 616 do NCPC: I - o cônjuge ou companheiro supérstite; II - o herdeiro; III - o legatário; IV - o testamenteiro; V - o cessionáriodo herdeiro ou do legatário; VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança; VII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes; VIII - a Fazenda Pública, quando tiver interesse; IX - o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite. Prazo O art. 611 do NCPC prevê um prazo de dois meses a contar da abertura da sucessão para que se instaure o procedimento especial de inventário e partilha. Esse prazo pode ser prorrogado pelo juiz de ofício ou a pedido da parte. A inobservância deste prazo não gera qualquer consequência processual. Somente gerará consequência em matéria tributária, posto que incidirá multa sobre o valor do imposto de transmissão causa mortis. No CPC/73, se o inventário não fosse requerido no prazo pelos legitimados, o juiz poderia dar início de ofício. No NCPC, a instauração de inventário de ofício pelo juiz não é mais possível. Prevê a lei ainda, no mesmo art. 611, que o inventário deve se encerrar em 12 meses. Contudo, não é o que ocorre na prática, sendo este um prazo impróprio. 15 inventariante Instaurado o processo, o juiz precisa nomear um inventariante, cuja função é auxiliar o juiz na administração do espólio. O art. 617 do NCPC dispõe quem será o inventariante, estabelecendo uma ordem que deve ser necessariamente seguida. O inventariante, depois de nomeado, prestará o compromisso de cumprir bem o seu encargo (art. 617, p.ú). Ele tem uma série de incumbências, elencadas nos arts. 618 e 619: ▪ Art. 618: são os atos do próprio ofício do inventariante, razão pela qual pode praticá-los normalmente, independentemente de comunicação aos demais interessados/autorização judicial. ▪ Art. 619: são atos que podem ser praticados pelo inventariante, desde que ouvidos os demais interessados e que tenha sido expedido alvará judicial para tal. Primeiras Declarações As primeiras declarações são as declarações de herdeiros e de bens, ou seja, o inventariante dirá para o juiz quem são os sucessores (herdeiros e legatários), a que título são sucessores e o quinhão de cada um, bem como quais são os bens objeto do inventário (NCPC, art. 620). Citação Segundo o art. 626, apresentadas as primeiras declarações, o juiz mandará citar o cônjuge, o companheiro e os sucessores que ainda não façam parte do processo (porque não participaram do requerimento). O juiz mandará ainda intimar Fazenda Pública, MP (havendo herdeiro incapaz ou ausente) e testamenteiro (se houver testamento). manifestação das partes Feitas as citações, as partes terão o prazo comum de 15 dias para se manifestar sobre as primeiras declarações (ex. faltou herdeiro, faltou bem, o bem foi descrito erroneamente) (NCPC, art. 627). Avaliação dos Bens Se não houver nenhuma impugnação ou já houver sido decidida, o juiz mandará avaliar os bens. Quem faz essa avaliação é o avaliador judicial. Se não houver avaliador judicial na comarca, o juiz nomeia um perito (NCPC, art. 630). Vindo o laudo de avaliação, as partes são ouvidas em 15 dias (NCPC, art. 635), podendo impugnar o referido laudo. últimas declarações Aceito o laudo ou resolvidas as impugnações, o inventariante apresentará as últimas declarações. Nelas, o inventariante ratifica ou retifica as primeiras declarações. Não há falar em sonegação por parte do inventariante antes das últimas declarações, conforme dispõe o art. 621 do NCPC, pois é nesse momento que ele poderá retificar as primeiras declarações, incluindo novo bem. Se, mesmo após esse momento, ele esconder algum bem, há sonegação. cálculo do tributo Apresentadas as últimas declarações, as partes são ouvidas no prazo de quinze dias e, em seguida, o juiz determina que se faça o cálculo do tributo. No processo de inventário e partilha, quem calcula o valor do ITCMD a ser pago é o contador judicial, chamado pelo NCPC de contabilista judicial. As partes são ouvidas sobre o cálculo no prazo de 5 dias (NCPC, art. 638), podendo impugná-lo. O juiz, então, julga o cálculo do imposto, ou seja, declara correto o cálculo do imposto. Essa 16 decisão tem natureza de decisão interlocutória e dá fim à 1ª fase do procedimento – inventário – para dar início à 2ª fase – partilha. 2ª fase: partilha I - Procedimento A 2ª fase começa com um despacho do juiz. Ele determinará as partes que formulem seus pedidos de quinhão no prazo de 15 dias (NCPC, art. 647). O juiz profere uma decisão de deliberação da partilha, resolvendo o pedido das partes. Ele, então, nesse mesmo ato, determina a remessa dos autos ao partidor, o auxiliar da justiça especializado em fazer partilha. O partidor deverá fazer um esboço da partilha, atendendo a decisão de deliberação da partilha e obedecendo à ordem legal (NCPC, art. 651). As partes têm 15 dias para se manifestar sobre esse esboço (NCPC, art. 652). Resolvidas eventuais impugnações, o juiz manda o partidor lançar a partilha nos autos (“passar a limpo” o esboço de partilha). A partilha é dividida em duas partes: 1º. Auto de orçamento: quem é o falecido, o inventariante, o cônjuge/companheiro, os herdeiros e legatários etc.; o ativo, o passivo e o líquido partível; o valor de cada quinhão (e não os bens que o compõe) (NCPC, art. 653, I). 2º. Folhas de pagamento: o partidor faz uma folha de pagamento para cada parte, que deve ser compatível com o valor do quinhão de cada herdeiro contido no auto de orçamento. Lançada a partilha nos autos, os interessados terão que comprovar o pagamento do ITCMD e juntar certidão negativa de dívida com a Fazenda Pública. Débitos de outros tributos que não o ITCMD não impedem o julgamento da partilha, desde que haja bens suficientes para garantir o pagamento desses outros tributos (NCPC, art. 654, p.ú). Comprovado o pagamento do tributo, o juiz profere sentença julgando a partilha (NCPC, art. 654). Quando a sentença transitar em julgado, vai ser preciso produzir um documento, denominado formal de partilha. É o documento que o sucessor vai usar para a prática de certos atos necessários à regularização desses bens (NCPC, art. 655). Partilha Amigável Se as partes conseguirem fazer um acordo, pode haver partilha amigável, conforme art. 657 e 659 do NCPC, a qual será homologada pelo juiz. Sobrepartilha Mesmo depois de encerrado o procedimento, pode haver uma sobrepartilha, ou seja, uma partilha depois da primeira partilha, nas hipóteses previstas no art. 669 do NCPC: bens sonegados, bens descobertos após a partilha, bens litigiosos ou de liquidação difícil ou morosa e bens situados em lugar distante. Cumulação de Inventários É quando em um mesmo processo se cumulam inventários para a partilha de heranças de pessoas diversas. É possível nas hipóteses do art. 672 do NCPC. Art. 672. É lícita a cumulação de inventários para a partilha de heranças de pessoas diversas quando houver: I - identidade de pessoas entre as quais devam ser repartidos os bens; II - heranças deixadas pelos dois cônjuges ou companheiros; 17 III - dependência de uma das partilhas em relação à outra. Parágrafo único. No caso previsto no inciso III, se a dependência for parcial, por haver outros bens, o juiz pode ordenar a tramitação separada, se melhor convier ao interesse das partes ou à celeridade processual. QUESTÕES OBJETIVAS: 1. (Banca Própria - 2021 - MPE-PR - Promotor de Justiça Substituto) Sobre o processo de inventário, nos termos do Código de Processo Civil, assinale a alternativa correta: A) É obrigatória a tramitação judicial do inventário somente para os casos em que há interessado incapaz. B) Após o decurso de dois anos, a decisão que nomeou inventariante preclui e este encargo não pode mais ser atribuído a outra pessoa. C) Havendo testamento do falecido, impõe-se a intervenção do Ministério Público nos autos de inventário. D) O prazo para aquele que se julgar preterido no inventário tem como momento processualúltimo para requerer sua admissão no processo a apresentação das primeiras declarações. E) Cabe ao inventariante administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem. GABARITO LETRA E. A - INCORRETA. Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial. B - INCORRETA. Não há referida previsão legal. A propósito, o art. 622 do CPC enumera as hipóteses de remoção do inventariante, de ofício ou a requerimento, e não elenca essa limitação temporal de 2 anos. C - INCORRETA. Art. 626. Feitas as primeiras declarações, o juiz mandará citar, para os termos do inventário e da partilha, o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e os legatários e intimar a Fazenda Pública, o Ministério Público, se houver herdeiro incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se houver testamento. Havendo testamento, não necessariamente haverá intervenção do Ministério Público. Este atuará apenas nas hipóteses de haver herdeiro incapaz ou ausente. D - INCORRETA. Art. 628. Aquele que se julgar preterido poderá demandar sua admissão no inventário, requerendo-a antes da partilha. E - CORRETA. Art. 618. Incumbe ao inventariante: https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/bancas/mpe-pr https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/mpe-pr-2021-mpe-pr-promotor-de-justica-substituto 18 II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que teria se seus fossem; 2. (FGV – 2021 - TJ-PR - Juiz Substituto) Acerca do procedimento de inventário, é correto afirmar que: A) podem as partes arguir qualquer matéria em sua manifestação sobre as primeiras declarações; B) o credor de dívida líquida e certa, ainda não vencida, não pode requerer habilitação no inventário; C) a partilha, depois de transitada em julgado a sentença, somente pode ser alterada por meio de sua rescisão; D) é lícita a cumulação de inventários para a partilha de heranças de pessoas diversas, quando houver identidade de pessoas entre as quais devam ser repartidos os bens; E) caso seja necessária a sobrepartilha, esta seguirá procedimento especial simplificado. GABARITO: D a) ERRADO: Art. 627. Concluídas as citações, abrir-se-á vista às partes, em cartório e pelo prazo comum de 15 (quinze) dias, para que se manifestem sobre as primeiras declarações, incumbindo às partes: I - arguir erros, omissões e sonegação de bens; II - reclamar contra a nomeação de inventariante III - contestar a qualidade de quem foi incluído no título de herdeiro. b) ERRADO: Art. 644. O credor de dívida líquida e certa, ainda não vencida, pode requerer habilitação no inventário. c) ERRADO: Art. 656. A partilha, mesmo depois de transitada em julgado a sentença, pode ser emendada nos mesmos autos do inventário, convindo todas as partes, quando tenha havido erro de fato na descrição dos bens, podendo o juiz, de ofício ou a requerimento da parte, a qualquer tempo, corrigir-lhe as inexatidões materiais. d) CERTO: Art. 672. É lícita a cumulação de inventários para a partilha de heranças de pessoas diversas quando houver: I - identidade de pessoas entre as quais devam ser repartidos os bens; e) ERRADO: Art. 670, Parágrafo único. A sobrepartilha correrá nos autos do inventário do autor da herança. EMBARGOS DE TERCEIRO Possui natureza de processo de conhecimento, que vai ter como premissa fundamental a ideia da constrição judicial sobre bem de terceiro ou de parte a ele equiparada. Objetivo: desfazer e ou evitar a constrição judicial. A finalidade dos embargos de terceiro é liberar o bem do terceiro quando atingido por ato de apreensão judicial oriundo de processo alheio. https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/tj-pr https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fgv-2021-tj-pr-juiz-substituto 19 O fundamento que a doutrina coloca para o ajuizamento dos embargos de terceiro é a responsabilidade patrimonial. Basicamente, o terceiro vai alegar que o suposto devedor não é ele, razão pela qual seu bem não pode responder patrimonialmente pela dívida de outrem (art. 591 CPC/73 e 789 NCPC). Pressupostos Qualidade de terceiro Tradicionalmente definido pela doutrina brasileira como aquele que não é parte. É o legitimado ativo para promover embargos de terceiro em processo no qual não é autor nem réu. Ele intervém no feito alheio na qualidade de embargante. Apreensão judicial (ou ameaça de). É uma constrição judicial que recai sobre o bem do terceiro. Enquanto o art. 1.046 do CPC/73 falava “apreensão judicial em casos como sequestro, penhora, arresto...”, trazendo um rol exemplificativo dos gravames que podem cair sobre o bem, o NCPC optou simplesmente pelo termo genérico constrição de bens. A jurisprudência já entendia que não era necessária uma efetiva constrição judicial, bastando que houvesse uma ameaça de constrição (STJ, REsp 1019314/RS), o que foi positivado pelo art. 674 do NCPC. Há previsão atualmente dos embargos de terceiro preventivos, que dá aplicação ao art. 5º, XXXV, da CF (“lesão ou ameaça de lesão a direito” – tutela reparatória + tutela inibitória). Ex. A simples indicação do bem a penhora legitima embargos de terceiro preventivos. Existência de um processo pendente É usual que os embargos de terceiro sejam ajuizados em havendo prévio processo de execução, pois normalmente é na execução que se realizam atos de constrição, como a penhora. Vale frisar, contudo, que não se impede embargos de terceiro que tenham como processo principal um processo de conhecimento ou um processo cautelar (ex. ação cautelar de arresto em que há averbação do arresto em um bem de terceiro). Legitimidade I – Ativa O embargante é o terceiro, definido nos arts. 674, §§1º e 2º, do NCPC. §1º - Proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor – o NCPC manteve a proteção do possuidor, ainda que não tenha o nome registrado no cartório competente; §2º, I - Cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843 – incluiu-se o companheiro por força do art. 226, §3º, da CF. Faz às vezes do art. 1.046, §3º, do CPC/73. Nesse mesmo sentido, a Súmula 134 do STJ. Penhorado bem imóvel de pessoa casada, o cônjuge deve ser intimado, cf. art. 655, §2º, do CPC/73 e 842 do NCPC, salvo em caso de separação absoluta de bens. O cônjuge aqui não é executado, mas terceiro, que pode se valer dos embargos de terceiro para defender sua meação. A jurisprudência atual permite que o cônjuge também entre com defesa comum à execução, qual seja impugnação ao cumprimento de sentença (se o título for judicial) ou embargos à execução (se o título for extrajudicial), se o objetivo do cônjuge nesta defesa é discutir a própria causa debendi da execução, defendendo o patrimônio como um todo na qualidade de litisconsorte passivo (STJ, REsp 740331/RS). §2º, II – O adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à execução – esse inciso foi incluído pelo NCPC. O terceiro que é atingido por uma decisão, por exemplo, que reconhece uma fraude à execução e torna ineficaz a alienação que lhe foi feita pelo devedor da execução (sem que tivesse ciência desta), pode se valer dos embargos de terceiro. Ele deve ser intimado para fazê-lo em 15 dias (arts. 790, V e 792, §4º, do NCPC). 20 §2º, III – Quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte – instaurado o incidente, o sócio será intimado para proceder ao que for cabível, sendo dado a ele o direito de prévio contraditório (NCPC, art. 135). O sócio de determinada pessoa jurídica, que não tenha feito parte do incidente processual que levou à desconsideração da personalidade jurídica (que não foi intimado na forma do art. 135), pode, para proteger os seus bens pessoais, se valer dos embargos deterceiro. Atualmente, o incidente processual de desconsideração de personalidade jurídica é considerado uma intervenção de terceiro. §2º, IV – O credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos – tem previsão no art. 1.047, II, do CPC/73. O fato de determinado bem ter sido dado em garantia, tal qual em hipoteca, não impede sua penhora posterior. Suponha-se que tenha sido feito a penhora de bem hipotecado. Tem que ter intimação prévia do credor hipotecário (arts. 615, II, 619 e 698, CPC/73 e arts. 799, II, 804, 889, V, NCPC). Uma vez intimado da penhora, poderá exercer sua preferência. Se não exercê-la, há a extinção da garantia, por força do art. 1499, VI, do CC. Contudo, se o credor com garantia real não foi oportunamente intimado para exercer sua preferência, ele poderá se valer dos embargos de terceiro. O art. 675, p.ú, do NCPC demonstra a preocupação com a comunicação de qualquer terceiro interessado, em atenção ao princípio do contraditório. Art. 675, Parágrafo único. Caso identifique a existência de terceiro titular de interesse em embargar o ato, o juiz mandará intimá-lo pessoalmente. passiva Quem pode ser embargado? Não havia previsão no CPC/73. O art. 677, §4º, do NCPC, contudo, diz que se considera embargado aquele a quem o ato de constrição aproveita (princípio do interesse), assim como o seu adversário no processo principal quando for sua a indicação do bem para a constrição judicial. A doutrina já vinha abordando que este dispositivo firmou a situação de um litisconsórcio passivo necessário nos embargos de terceiro. Quem indica bens à penhora em regra é o credor, mas nada impede que o devedor indique bens (NCPC, art. 829, §2º). Se o exequente indica bens à penhora e, por engano, indica bem de terceiro, a princípio, ele não ia constar do pólo passivo, pois a constrição aproveitou ao executado, pois sua dívida está sendo paga por bem que não é seu. Acontece que também há um proveito ao credor, na medida em que a dívida será satisfeita. Portanto, ambos constarão do pólo passivo, o que valoriza o contraditório. Questão: Quem arca com a sucumbência nos embargos de terceiro? A linha de raciocínio é quem deu causa à constrição indevida (princípio da causalidade) (Súmula 303 do STJ). Portanto, ainda que haja litisconsórcio passivo necessário, somente será atingido o réu que tenha dado causa à constrição. Ex. Se o executado indicou bem que não era seu, inclusive prejudicando o exequente, somente ele arcará com os honorários. Se o oficial de justiça faz penhora portas adentro, não adota as cautelas devidas e acaba penhorando bem de terceiro, não tendo o embargado/credor encampado o ato praticado pelo OJ, não responderá pela sucumbência (STJ, REsp 828.519/MG). Não haveria, portanto, condenação em sucumbência. Se há a venda de um bem de A para B, sem que B tenha registrado o título translativo no cartório, pode ser que um credor de A, verificando que este bem ainda se encontra no patrimônio de A, indique este bem à penhora. Uma vez operada a constrição, B se vale de embargos de terceiro. O bem será liberado, mas B será condenado nos encargos 21 sucumbenciais, uma vez que sua inércia em registrar o título foi que deu causa à constrição indevida (Súmula 84 do STJ). PROCEDIMENTO 1º. Distribuição por dependência A lei fala que os embargos de terceiro são distribuídos por dependência ao processo principal (arts. 1.049 do CPC/73 e 676 do NCPC) e autuados em apartado. É correto falar que os embargos de terceiro constituem uma ação acessória/incidental, uma vez que um de seus pressupostos é existir um processo principal pendente. Isso mostra que a natureza jurídica dos embargos de terceiro é de ação (guarda certa autonomia, pois é autuada em apartado). 2º. Citação dos embargados Os embargados serão citados mediante intimação do seu advogado constituído nos autos para oferecer defesa (art. 1.050, §3º, do CPC/73 e 677, §3º, do NCPC). A citação só será pessoal se não houver procurador constituído. 3º. Contestação dos embargos Questão: Aplica prazo em dobro para litisconsortes com advogados distintos (embargados)? Não se aplica o art. 191 do CPC/73 nem o art. 229 do NCPC, porque a lei estipula um prazo específico para a defesa em seu art. 679 do NCPC. O art. 679 altera o art. 1.073 do CPC/73 para aumentar o prazo de 10 para 15 dias úteis. Em se tratando de embargos promovidos pelo credor com garantia real na forma do art. 674, §2º, IV, do NCPC, o embargado somente poderá alegar as matérias contidas no art. 680 do NCPC: ▪ Que o devedor comum é insolvente; ▪ Que o título é nulo ou não obriga a terceiro; ▪ Que outra é a coisa dada em garantia. 4º. Instrução, se necessária 5º. Sentença (NCPC, art. 681) ▪ Se os embargos de terceiro forem acolhidos, ocorrerá a desconstituição do ato de constrição. A sentença tem aqui caráter desconstitutivo. ▪ Se os embargos de terceiro forem rejeitados, manter-se-á a constrição judicial sobre o bem. Portanto, a sentença será meramente declaratória da validade do ato constritivo. Embargos de terceiro x Oposição Na oposição, também há um terceiro que manifesta pretensão em juízo por meio de petição inicial contra os litigantes. Contudo, há algumas diferenças. 1º. O terceiro embargante não se opõe ao objeto principal do processo, mas pretende apenas a liberação do bem apreendido judicialmente. Já na oposição, o autor se opõe ao objeto principal do processo. 2º. Nos embargos de terceiro, não há relação de prejudicialidade. O fato de os embargos de terceiro serem acolhidos não faz com que a ação principal perca o objeto (o processo prossegue até que o credor ache outros bens do próprio devedor). Na oposição, há relação de prejudicialidade. Acolhida a oposição, a ação originária é extinta (se o bem é daquele que moveu a oposição, não se discute mais a titularidade daqueles que compõem a ação principal). 22 3º. A oposição é restrita ao processo de conhecimento, o que não ocorre nos embargos de terceiro (que, inclusive, são mais comuns já na fase de execução, podendo figurar ainda no processo cautelar). embargos de terceiro x ações possessórias 1ª. Nos embargos de terceiro, a violação da posse decorre de ato judicial (“esbulho judicial”). Nas ações possessórias, o ato de agressão à posse pode decorrer de um particular, sem excluir a própria Administração Pública (NCPC, art. 562, p.ú. – possibilidade de ajuizar ação possessória contra o Poder Público). 2ª. Os proprietários, ainda que desprovidos da posse, também podem se valer dos embargos de terceiro. Nas ações possessórias, só o possuidor ou o proprietário que seja possuidor podem se valer das referidas ações. 3ª. Os embargos de terceiro protegem a posse de maneira reflexa, já que seu pleito é direcionado de forma direta a desconstituir a constrição judicial indevida. Já nas ações possessórias, a posse é objeto direto da proteção. Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição judicial, os honorários advocatícios serão arbitrados com base no princípio da causalidade, responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não atualizou os dados cadastrais. Os encargos de sucumbência serão suportados pela parte embargada, porém, na hipótese em que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem, apresentar ou insistir na impugnação ou recurso para manter a penhora sobre o bem cujo domínio foi transferido para terceiro. Ex.: Pedro adquiriu uma casa por meio de contrato de promessa de compra e venda. Ocorre que não foi até o Registro de Imóveis para providenciar a transcrição do título. O antigo proprietário do imóvel estava sendo executado e o credor, após consulta no cartório, indicou a referida casa para ser penhorada, o que foi aceito pelo juiz. Pedro foi informado da penhora e apresentouembargos de terceiro na execução provando que o referido imóvel foi por ele adquirido. O juiz acolheu os embargos e determinou o levantamento da penhora. A parte embargada não se opôs a isso. Na sentença dos embargos, o juiz deverá condenar Pedro a pagar honorários advocatícios em favor da parte embargada. STJ. 1ª Seção. REsp 1452840- SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info 591) São admissíveis embargos de terceiro em ação cautelar. O pressuposto para o cabimento dos embargos de terceiro é a existência de uma constrição judicial que ofenda a posse ou a propriedade de um bem de pessoa que não seja parte no processo, nos termos do art. 1.046 do CPC 1973 (art. 674 do CPC 2015). STJ. 4ª Turma. REsp 837546-MT, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 1º/10/2015 (Info 571). É possível a oposição de embargos de terceiro preventivos, isto é, antes da efetiva constrição judicial sobre o bem. STJ. 3ª Turma. REsp 1726186/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/05/2018. QUESTÕES OBJETIVAS: 1. (CESPE/CEBRASPE - 2022 - DPE-PI - Defensor Público) Determinado indivíduo, hipossuficiente sob o ponto de vista econômico, compareceu à defensoria pública e https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/dpe-pi https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/cespe-cebraspe-2022-dpe-pi-defensor-publico 23 demonstrou, por prova documental, em procedimento judicial de cumprimento de sentença movido em face de microempresa, ter sofrido constrição judicial de bem próprio. Demonstrou, ainda, que a constrição decorrera de medida de desconsideração de personalidade jurídica, de cujo incidente não participou. Nessa hipótese, de acordo com regra expressamente prevista no CPC, a medida processual a ser tomada para o desfazimento do ato de constrição judicial será o oferecimento de A) impugnação ao cumprimento de sentença. B) tutela da evidência na forma antecedente. C) reintegração de posse. D) embargos de terceiro. E) oposição. GABARITO: D Art. 674. Quem, NÃO sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. [...] § 2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos: [...] III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente NÃO fez parte; 2. CESPE / CEBRASPE - 2021 - PGE-MS - Procurador do Estado) Em 2020, Geraldo adquiriu um veículo de Samuel pelo valor de R$ 50.000. Na oportunidade o adquirente pagou o valor pactuado e assumiu a posse do veículo, mas não procedeu a sua transferência junto ao departamento de trânsito. No início do ano de 2021, a procuradoria do estado de Mato Grosso ingressou com uma ação indenizatória contra Samuel, com pedido de tutela antecipada de arresto de bens de Samuel, entre outros, do aludido veículo. O juízo considerou preenchidos os pressupostos legais e concedeu a liminar pretendida, através da qual determinou o arresto do veículo e o seu recolhimento ao depósito público. Em decorrência desse fato, Geraldo ajuizou ação de embargos de terceiro com o objetivo de livrar o veículo da constrição judicial. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta. A) O instrumento jurídico utilizado está adequado, haja vista Geraldo ser possuidor de um bem que sofreu constrição judicial indevidamente. B) A medida proposta deve ser rejeitada liminarmente, já que a constrição judicial se deu em decorrência da liminar concedida em processo de conhecimento, fato esse que inviabiliza o processamento da ação de embargos de terceiro. C) A medida proposta está inadequada, uma vez que Geraldo é mero possuidor do veículo e, nessa condição, deveria propor ação de reintegração de posse. https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/pge-ms https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/cespe-cebraspe-2021-pge-ms-procurador-do-estado 24 D) A medida proposta deve ser rejeitada, pois o instrumento jurídico apropriado seria unicamente a interposição de recurso de agravo de instrumento. E) Geraldo não possui legitimidade para propor qualquer ação judicial para liberar o veículo, visto que o referido bem encontra-se registrado em nome de terceiro e, por esse motivo, a ação proposta por Geraldo deve ser extinta sem resolução de mérito. GABARITO: A Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos de terceiro. § 1º Os embargos podem ser de terceiro proprietário, inclusive fiduciário, ou possuidor. Art. 675. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença e, no cumprimento de sentença ou no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta. Súmula 84-STJ: é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro. Esse entendimento se aplica mesmo que o imóvel, adquirido na planta, ainda esteja em fase de construção. Assim, a Súmula 84 do STJ pode ser aplicada mesmo quando ainda não houve a entrega das chaves ao promitente comprador. É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda, ainda que desprovido de registro, de imóvel adquirido na planta que se encontra em fase de construção. STJ. 3ª Turma. REsp 1.861.025/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672). 3. (UFMT - 2017 - Prefeitura de Cáceres - MT – Advogado) O Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) restringe a matéria de defesa do embargado quando os embargos de terceiro forem opostos por A) cônjuge ou companheiro para defesa de sua meação. B) adquirente de bens atingidos por decretação de fraude à execução. C) quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica. D) credor com garantia real. GABARITO: D CPC. Art. 380. Incumbe ao terceiro, em relação a qualquer causa: I - informar ao juiz os fatos e as circunstâncias de que tenha conhecimento; II - exibir coisa ou documento que esteja em seu poder. Parágrafo único. Poderá o juiz, em caso de descumprimento, determinar, além da imposição de multa, outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias. https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/institutos/prefeitura-de-caceres-mt 25 OPOSIÇÃO A oposição para o CPC/73 era uma intervenção de terceiros, mas agora é um procedimento especial do processo de conhecimento. A oposição tem natureza jurídica de ação (arts. 57 do CPC/73 e 683 do NCPC) e envolve a figura do opoente e dos opostos. O terceiro – opoente – entra com uma ação contra autor e réu da ação originária – opostos – que formaram um litisconsórcio necessário passivo por força de lei no pólo passivo da oposição. Trata-se de ação incidental, uma vez que, para a sua propositura, é necessário que haja um processo pendente, junto ao qual será distribuída por dependência (arts. 253, p.ú, do CPC/73 e 286, p.ú, do NCPC). O sentido da oposição encontra-se no art. 56 do CPC/73 e 682 do NCPC: Art. 682. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos. O opoente é do contra, ou seja, ele é contra o autor e o réu em relação à titularidade de determinado direito ou coisa. O opoente intervémvoluntariamente para dizer que não é do autor nem do réu, mas dele. Questão: Há um momento limite para propor a oposição? A ideia da oposição é abreviar o prazo da litigância. Se não existisse a oposição, possivelmente as causas seriam reunidas para julgamento conjunto em razão da conexão. O marco final para a oposição é até ser proferida a sentença. A oposição não é possível depois de transitada em julgado (pois nesse caso a ação deve ser movida somente em face daquele que foi o vencedor) nem em grau recursal (pois implicaria supressão de instância). ▪ Se a oposição foi apresentada antes da AIJ, ela será apensada ao processo originário e com ele julgada conjuntamente na mesma sentença (arts. 59, CPC/73 e 685, caput, NCPC). Quando o julgamento é simultâneo, o juiz conhece da oposição primeiro (NCPC, art. 686). Isto porque, a depender do resultado da oposição, a ação originária perderá seu objeto. ▪ Se a oposição foi apresentada após a AIJ, preveem os arts. 60 do CPC/73 e 685, p.ú, do NCPC, que não há necessidade de apensamentos dos autos e de julgamento conjunto, muito embora a oposição seja distribuída para o mesmo juízo da ação originária. Se o juiz perceber que é possível o julgamento conjunto, ele pode suspender o curso da ação originária. Se entender que não, ele julga de forma separada. Diferente dos embargos de terceiro, a oposição é uma ação autônoma. É uma ação incidental, pois deve existir um processo pendente, mas não é acessória. Há duas ações principais – uma originária e uma oposicional, superveniente ou secundária (vide art. 59 do CPC/73 ≠ art. 685 do NCPC). JURISPRUDÊNCIA Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp 1134446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623). 26 Comentários Imagine a seguinte situação hipotética: João ajuizou ação de reintegração de posse alegando que Pedro invadiu o seu sítio. Foi, então, que o INCRA (autarquia federal) apresentou oposição alegando que nenhum dos dois tinha direito. Isso porque o terreno em discussão pertenceria a ele (INCRA), de forma que os particulares em questão não teriam a posse sobre o bem. O juiz não admitiu a intervenção do INCRA no processo alegando que, em ação possessória não se admite oposição, mesmo que se trate de bempúblico, porque nesse tipo de demanda discute-se a posse do imóvel, de forma que o INCRA não poderia intervir discutindo o domínio (propriedade). O magistrado invocou, como fundamento legal, o art. 557 do CPC/2015: Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. O argumento utilizado pelo magistrado é aceito pela jurisprudência atual do STJ? NÃO. Em ação possessória entre particulares é cabível o oferecimento de oposição pelo ente público, alegando-se incidentalmente o domínio de bem imóvel como meio de demonstração da posse. STJ. Corte Especial. EREsp 1.134.446-MT, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2018 (Info 623). Acesso à justiça O STJ afirmou que, neste caso, não se deve aplicar o art. 557 do CPC/2015, sob pena de o Poder Público ficar sem ter como defender sua propriedade, o que violaria a garantia constitucional de acesso à justiça (art. 5º, XXXV, da CF/88). Não se poderia conceber que o Poder Público, sendo titular do bem público, possa ser impedido de postular em juízo a observância do seu direito simplesmente pelo fato de que particulares seanteciparam e estão discutindo entre eles a posse. Oposição discute também posse e, apenas incidentalmente, o domínio do bem público Quando se trata de bens públicos, não se pode exigir do Poder Público que demonstre o poder físico sobre o imóvel, para que se caracterize a posse sobre o bem. Esse procedimento é incompatível com a amplitude das terras públicas, notadamente quando se refere a bens de uso comum e dominicais. A posse do Estado sobre seus bens deve ser considerada permanente, independendo de atos materiais de ocupação, sob pena de tornar inviável conferir aos bens do Estado a proteção possessória. Disso decorre que a ocupação dos bens públicos por particulares não significa apenas um ato contrário à propriedade do Estado, mas também um verdadeiro ato de esbulho contra a posse da Administração Pública sobre esses bens. Desse modo, se dois particulares estão discutindo a posse de um bem público e há a oposição do Poder Público, este também estará discutindo a posse do Estado sobre a área. Não significa que o proprietário irá vencer Não se está a afirmar que o proprietário haverá de se sagrar sempre vencedor da demanda possessória. Tanto assim que o parágrafo único do art. 557 do CPC/2015 veio a disporque “Não 27 obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade ou deoutro direito sobre a coisa”. Com efeito, a tutela possessória há de ser concedida àquele quetenha melhor posse, que poderá ser não o proprietário, mas o arrendatário, o cessionário, o locatário, o depositário etc. CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/927e838a450e2fe6225e dfc3d12e2463>. Acesso em: 13/03/2022 Oposição julgada depois da demanda principal não gera nulidade Não configura nulidade apreciar, em sentenças distintas, a ação principal antes da oposição, quando ambas forem julgadas na mesma data, com base nos mesmos elementos de prova e nos mesmos fundamentos. Novo CPC: importante lembrar que o CPC/2015 não previu mais a figura da oposição como intervenção de terceiros. Trata-se agora de procedimento especial. STJ. 3ª Turma. REsp 1221369-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/8/2013 (Info 531). Comentários Oposição A oposição ocorre quando um terceiro ingressa em um processo afirmando que a ele pertence o direito ou o bem que está sendo disputado pelo autor e pelo réu. Exemplo: João ajuizou ação reivindicatória contra Pedro afirmando que é o proprietário de determinado imóvel. Carlos, por sua vez, tendo notícia da existência dessa demanda, apresenta oposição alegando que, na verdade, ele é quem é dono do bem. Previsão A oposição estava prevista no art. 56 do CPC/1973: Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos. Agora, encontra-se disciplinada no art. 682 do CPC/2015: Art. 682. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos. Oposição interventiva Se a oposição for ajuizada até a data de realização da audiência de instrução, será chamada de “oposição interventiva” e terá natureza de incidente do processo. Neste caso, a oposição será distribuída por dependência e autuada em apenso ao processo já existente. A partir daí, a oposição e a ação originária tramitarão conjuntamente e serão decididas em uma mesma sentença. https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/927e838a450e2fe6225edfc3d12e2463 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/927e838a450e2fe6225edfc3d12e2463 28 Julgamento da oposição deve ocorrer antes da demanda principal Diz-se que a oposição é prejudicial à ação principal. O que significa isso? Ora, se o pedido do opoente for procedente, a demanda entre autor e réu fica prejudicada, perde interesse, considerando que não adianta discutir a situação do autor e do réu, já que o titular do direito é um terceiro. Em nosso exemplo, se o
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