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APG 28: Osteomielite OBJETIVOS: 1. Compreender a etiologia, fatores de risco, fisiopatologia e manifestações clínicas da osteomielite 2. Entender a formação do biofilme na osteomielite crônica 3. Analisar o diagnóstico da osteomielite ETIOLOGIA: A osteomielite é uma infecção aguda ou crônica do osso, em que tanto o osso quanto a cavidade medular estão envolvidos. As causas da infecção podem ser: • Penetração direta ou contaminação de uma fratura/ferida exposta (origem exógena) • Disseminação pela corrente sanguínea (disseminação hematogênica) • Extensão de um local contíguo (infecção que passa de um local ao outro pela proximidade) • Infecções de pele em pessoas com insuficiência vascular (Ex: TVP) Todos os tipos de vírus, parasitas, fungos e bactérias podem causar osteomielite, porém, as causas mais comuns são infecções por bactérias piogênicas e micobactérias. Os agentes específicos isolados na osteomielite bacteriana muitas vezes estão associados a idade ou condição incitante (ex: trauma, cirurgia). O staphylococcus aureus é a causa mais comum, mas outras bactérias como E. Coli, Neisseria Gonorrhoeae, Haemophilus Influenzae e espécies de salmonella também são encontradas. FATORES DE RISCO: • Traumas ou feridas perto do osso • Cirurgia ortopédica • Alterações na circulação, como em pacientes com anemia falciforme. • Uso de cateteres, comum em pacientes que fazem diálise, por exemplo. • Deficiência no sistema imunológico causada por doenças como câncer ou condições como a desnutrição. • Doentes que permanecem na cama por muito tempo, na mesma posição, ou pessoas com necessidades especiais sem mobilidade podem desenvolver feridas (escaras). • Uso de drogas injetáveis CLASSIFICAÇÃO E FISIOPATOLOGIA: 1) Osteomielite Hematogênica: Etiologia: Via hematogênica (se origina de microorganismos que alcançam o osso por através da corrente sanguínea) Ocorre predominantemente em crianças, mas em adultos é observada em casos de infecções crônicas de pele, sistema urinário, uso de substâncias intravenosas (principalmente Streptococcus e pseudomonas) e imunodeprimidos Fisiopatologia: Em crianças, a infecção afeta principalmente os ossos longos do esqueleto apendicular, iniciando-se próximo a placa de crescimento, na região metafisária, onde a terminação dos vasos sanguíneos responsáveis pela nutrição e o fluxo sanguíneo favorecem a fixação das bactérias que foram disseminadas por via hematogênica. Com o avanço da infecção, tem-se acúmulo de exsudato purulenta no tecido ósseo rigidamente fechado. Por causa da estrutura rígida do osso, existe pouco espaço para o edema, e o exsudato purulento encontra passagem sob o periósteo, seccionando as artérias perfurantes que irrigam o córtex, levando assim a necrose do osso cortical. A drenagem purulenta pode penetrar no periósteo e a pele, de modo que forma uma cavidade de drenagem. Em crianças de até 1 ano, os abcessos no periósteo são mais comuns, pois o periósteo não está firmemente ligado ao córtex. A partir de 1 ano até a puberdade, são amis comuns abcessos subperiosteais. Enquanto o processo perdurar, a formação de osso periosteal novo e a formação de osso reativo na medula tendem a conter a infecção. Em adultos, a microcirculação dos ossos longos já não favorece a disseminação, e a infecção via hematogênica costuma comprometer raramente o esqueleto apendicular. Ao invés disso, as partes mais acometidas são: articulações vertebrais, esterno claviculares, sacrilíacas e sínfise púbica 2) Osteomielite por penetração direta e por disseminação contígua: Etiologia: Pode ser causada por ferimento penetrante, fratura exposta ou cirurgia A irrigação ou desbridamento inadequados, a introdução de material entranho dentro da ferida e lesão tecidual vasta aumentam a suscetibilidade do osso a infecção São mais comuns em cirurgias ortopédicas em que se tem a inserção de pinos, fios, ou substituição de articulação. Fisiopatologia: se difere das demais osteomielites pois qualquer osso traumatizado pode estar envolvido. Embora o osso seja saudável e altamente resistente a infecção, a lesão pela inflamação local e trauma pode desvitalizar o osso e seu tecido circundante, levando a um aumento da proliferação de microorganismos que foram introduzidos durante o trauma. 3) Osteomielite Crônica: Etiologia: ocorre normalmente em adultos, decorrente de uma ferida aberta para o tecido ósseo ou circundante A osteomielite crônica pode persistir por anos, e uma de suas características é o osso morto infectado, um sequestro, que se separou do osso vivo. Uma bainha de osso novo, chamado involucro, se forma ao redor do osso morto. A aguda dura até 10 dias enquanto a crônica quando perdura por mais de um mês Fisiopatologia: inclui todos os processos inflamatórios do osso, com exceção daqueles que ocorrem em doenças reumáticas causadas por microorganismos. É uma condição em que a infecção óssea persiste por mais de 6 semanas e pode ser difícil de tratar devido à sua natureza recorrente e à formação de biofilme que protege os agentes infecciosos. Na osteomielite crônica, os agentes infecciosos podem ser encontrados em cavidades destrutivas dentro do osso, chamadas de sequestros ósseos. Essas áreas de necrose óssea são isoladas do fluxo sanguíneo, tornando-se difíceis de alcançar pelos antibióticos e pelo sistema imunológico. A formação de biofilme é um mecanismo de defesa usado por alguns tipos de bactérias para se protegerem de fatores externos, incluindo o sistema imunológico e antibióticos. O biofilme é uma matriz extracelular complexa que protege as bactérias da ação dos antibióticos e aumenta a resistência aos mecanismos de defesa do hospedeiro. Além disso, a osteomielite crônica pode levar a alterações na vascularização do osso e a uma resposta inflamatória crônica, que pode levar à destruição óssea, dor crônica e incapacidade funcional. RESUMO FISIOPATOLOGIA: Entrada do microrganismo no osso ➜ multiplicação ➜ desencadeamento de resposta inflamatória local ➜ produção de citocinas, quimiocinas e outros mediadores inflamatórios ➜ destruição do osso, formação de abcessos e necrose tecidual ➜ danos aos vasos sanguíneos e comprometimento do sistema imunológico ➜ evolução para forma crônica ➜ formação de biofilme (protege as bactérias dos efeitos dos antibióticos e sistema imunológico) ➜ dificuldade no tratamento ➜ amputação, sepse A osteomielite é uma infecção óssea que pode ser causada por diferentes agentes infecciosos, como bactérias, fungos ou vírus. A fisiopatologia da osteomielite começa com a entrada dos agentes infecciosos no osso, seja por disseminação hematogênica ou por contiguidade de tecidos infectados. Uma vez dentro do osso, os agentes infecciosos são capazes de se multiplicar e desencadear uma resposta inflamatória local, com produção de citocinas, quimiocinas e outros mediadores inflamatórios. Essa resposta inflamatória pode levar à destruição do osso, formação de abscessos e necrose tecidual. A infecção também pode causar danos aos vasos sanguíneos do osso, levando a uma diminuição do fluxo sanguíneo e comprometimento da capacidade de resposta imunológica do organismo. A osteomielite pode evoluir para uma forma crônica, com a formação de um biofilme bacteriano que protege as bactérias dos efeitos dos antibióticos e do sistema imunológico do hospedeiro. Isso torna a osteomielite crônica difícil de tratar e pode levar a complicações como fraturas patológicas, amputações e até mesmo sepse. Em resumo, a fisiopatologia da osteomielite envolve a entrada de agentes infecciosos no osso, a multiplicação bacteriana, a resposta inflamatória local, a destruição do osso, a formação de abscessos e necrose tecidual, a diminuição do fluxo sanguíneo e a formação de um biofilme bacteriano crônico MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • Dor local (geralmente primeira manifestação): não cede com uso de analgésicoscomuns. Na fase crônica pode perdurar por semanas ou meses. • Dor a palpação da metáfise: pode irradias ao longo da diáfise e atingir a circulação adjacente • Hiperemia na área correspondente • Edema: principalmente na região metafisária • Febre: quase sempre >39º, constante e não cede a antitérmicos usuais • Manifestações gerais: calafrios, astenia, perda de peso FORMAÇÃO DO BIOFILME: OSTEOMIELITE CRÔNICA: O biofilme ósseo é uma comunidade de micro-organismos que se desenvolve na superfície de ossos infectados, principalmente na osteomielite crônica. Esses micro-organismos, como bactérias, fungos e outros agentes infecciosos, se aglomeram em uma matriz extracelular complexa, formando uma camada viscosa e aderente que os protege da ação do sistema imunológico e de tratamentos antimicrobianos, como antibióticos. A formação de biofilme é um mecanismo de defesa usado por alguns tipos de bactérias para se protegerem de fatores externos, incluindo o sistema imunológico e antibióticos. O biofilme é uma matriz extracelular complexa que protege as bactérias da ação dos antibióticos e aumenta a resistência aos mecanismos de defesa do hospedeiro. O biofilme ósseo é uma comunidade de micro-organismos que se desenvolve na superfície de ossos infectados, principalmente na osteomielite crônica. Esses micro-organismos, como bactérias, fungos e outros agentes infecciosos, se aglomeram em uma matriz extracelular complexa, formando uma camada viscosa e aderente que os protege da ação do sistema imunológico e de tratamentos antimicrobianos, como antibióticos. A formação do biofilme ósseo pode ocorrer em resposta a um ambiente hostil, como o que é encontrado em infecções crônicas. A matriz extracelular protege os micro-organismos do ataque do sistema imunológico, impede a difusão de nutrientes e agentes antimicrobianos, e cria um ambiente propício para a sua sobrevivência e crescimento. A presença do biofilme ósseo dificulta o tratamento da osteomielite crônica, pois a resistência dos micro-organismos a antibióticos aumenta significativamente, tornando o tratamento com antibióticos prolongado e ineficaz. Além disso, a presença do biofilme ósseo pode dificultar a identificação dos micro-organismos responsáveis pela infecção e a escolha do tratamento antimicrobiano mais adequado. Passos envolvidos na formação do biofilme ósseo: 1. Colonização inicial: Após a entrada de microrganismos no osso, ocorre a colonização inicial. Isso pode ocorrer através de disseminação hematogênica a partir de outras infecções, contiguidade de tecidos moles infectados ou implantes cirúrgicos. As bactérias aderem à superfície óssea e começam a se multiplicar. 2. Produção de matriz extracelular: As bactérias colonizadoras produzem uma matriz extracelular aderente, que consiste em polissacarídeos, proteínas e DNA, entre outras substâncias. Essa matriz fornece uma estrutura tridimensional que suporta a comunidade microbiana e a protege dos ataques do sistema imunológico e de antibióticos. 3. Formação de colônias microbianas: As bactérias aderem à matriz extracelular e formam colônias, estabelecendo uma comunicação entre si por meio de sinais químicos. Isso permite a coordenação de suas atividades e a formação de uma comunidade coesa. 4. Crescimento e maturação do biofilme: O biofilme ósseo continua a crescer e se desenvolver, aumentando em tamanho e complexidade. À medida que o biofilme amadurece, ele se torna mais resistente aos mecanismos de defesa do hospedeiro e à ação de antibióticos. 5. Impacto na resposta imunológica: O biofilme interfere com a resposta imunológica do hospedeiro. A matriz extracelular pode dificultar o acesso de células imunes e anticorpos ao interior do biofilme. Além disso, o biofilme pode modular a resposta imune, levando a uma resposta inflamatória crônica e persistente. 6. Complicações e danos ao tecido ósseo: O biofilme ósseo pode causar danos ao tecido ósseo, resultando em áreas de necrose, formação de sequestros (áreas de osso morto isoladas do suprimento sanguíneo) e destruição progressiva do osso. Essas complicações podem levar a sintomas persistentes, recorrência da infecção e dificuldade no tratamento. DIAGNÓSTICO DA OSTEOMIELITE: Clínico: histórico de fator de risco, sintomatologia Exames complementares: hemograma, punção óssea (determina cultura positiva em 70-80% dos casos) e exames de imagem Exames de imagem: RX (se altera somente após 7-10 dias), TC (não muito indicada, apenas para localizar sequestro ósseo na fase crônica da doença), cintilografia (evidencia área de hiperemia onde o contraste tem captação maior, não é um exame específico). Marcadores ósseos específicos: gadolínio, calcitonina OBS: a cultura microbiológica ou anatomopatológico de tecidos ou fluidos infectados é o teste mais importante para confirmar diagnostico e identificar o patógeno causador da infecção. Referências: • Porth CM, Matfin G. Fisiopatologia. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2010 • Porto, Celmo, C. e Arnaldo Lemos Porto. Clínica Médica na Prática Diária. Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2022.
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