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RESUMO - MALÁRIA

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S13P1 - Malária
· Introdução
- Malária é uma doença infecciosa febril aguda transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles (ou mosquito prego) infectada pelo microrganismo Plasmodium.
- A infecção do mosquito vetor ocorre no momento do repasto sanguíneo pela ingestão de gametócitos no sangue de um indivíduo infectado. 
- Há outros meios de transmissão da doença, como transfusão de sangue e hemoderivados de indivíduos infectados assintomáticos ou com baixa parasitemia; mais raramente, uso compartilhado de materiais perfurantes contaminados, acidentes de trabalho e de maneira congênita.
- Cinco espécies podem infectar humanos: Plasmodium falciparum, P. vivax, P. malariae, P. ovale e P. knowlesi, sendo as duas primeiras com maior mortalidade, cerca de 95%.
· Formas evolutivas do agente etiológico
- Protistas do gênero Plasmodium possuem diferentes formas evolutivas, encontradas no ciclo biológico do protozoário:
1.Esporozoítos: formas infectantes para o homem, inoculadas pela fêmea do mosquito Anopheles, responsável pela invasão dos hepatócitos. Ao entrar nos hepatócitos, eles se tornam criptozoítos e iniciam o processo de multiplicação por esquizogonia, produzindo os esquizontes hepáticos, os quais originarão a milhares de merozoítos hepáticos, que rompem o hepatócito e alcançam a circulação, onde invadirão os eritrócitos.
2.Merozoítos hepáticos: são formas evolutivas menores do que os esporozoítos, de padrão ovoide e que penetram nos eritrócitos. No interior dessas células, tais formas evolutivas se diferenciam e se transformam em trofozoítos e, posteriormente, em esquizontes sanguíneos. Os esquizontes de Plasmodium agrupam-se, formando estruturas chamadas rosáceas.
3.Merozoítos sanguíneos: vêm da desagregação da rosácea; são formas evolutivas menores do que os merozoítos hepáticos, compartilhando com estes últimos a capacidade de invadir os eritrócitos. 
4.Gametócitos: os merozoítos sanguíneos passam por diferenciação, tornando-se trofozoítos imaturos, os quais dão origem aos gametócitos. Os femininos são denominados macrogametócitos, e os masculinos, microgametócitos.
5.Oocinetos e oocistos: após repasto sanguíneo em um hospedeiro infectado, dentro do estômago do mosquito do gênero Anopheles ocorre a união entre microgametócitos e macrogametócitos, originando o zigoto, que é móvel, longo e denominado oocineto (ovo móvel). Este aloja-se na parede intestinal do mosquito, desenvolvendo-se em oocisto, que cresce e matura, produzindo os esporozoítos, que migram para as glândulas salivares do vetor, recomeçando o ciclo.
· Ciclo biológico do agente etiológico
- No mosquito, apresenta um ciclo de divisão sexuada, ou esporogônica, e, no hospedeiro humano, dois ciclos de divisão assexuada, ou esquizogônica, um nas células hepáticas e outro nos eritrócitos.
- A fêmea do Anopheles, ao picar humanos para sugar o sangue necessário para a maturação de seus ovos, introduz na circulação algumas dezenas ou centenas de esporozoítos que, em um período de 30 a 60 minutos, alcançam o fígado e penetram nos hepatócitos, onde se multiplicam (divisão assexuada - esquizogônica).
- Após seis a 16 dias, dependendo da espécie de plasmódio, os hepatócitos infectados se rompem e cada um libera milhares de merozoítos na circulação.
- Nas infecções pelo P. vivax e pelo P. ovale, os esporozoítos, após penetrarem nos hepatócitos, podem originar formas capazes de permanecer quiescentes (“adormecidas”) por tempo prolongado no órgão – os hipnozoítos – responsáveis pelas recaídas tardias da doença.
- Os merozoítos liberados no fígado penetram nos eritrócitos por meio de receptores de membrana, transformam-se em trofozoítos e sofrem divisão esquizogônica (assexuada), dando origem aos esquizontes e estes aos merozoítos.
- Ao fim da esquizogonia, os merozoítos são liberados na corrente sanguínea, coincidindo temporalmente com os picos febris periódicos característicos da malária.
- A infecção do fígado e o desenvolvimento de merozoítos são chamados de estágio exoeritrocítico, e esse estágio é assintomático.
- No interior dos eritrócitos, estágio eritrocítico, os parasitas crescem em vacúolos digestivos envoltos por membrana, hidrolisando a hemoglobina através de enzimas secretadas, esse estágio é sintomático.
- Após 48 a 72 horas, a esquizogonia se completa, os eritrócitos se rompem e são lançados na circulação milhões de merozoítos que irão penetrar em novos eritrócitos, reiniciar o ciclo e expandir a população parasitária.
- Depois de alguns ciclos esquizogônicos eritrocitários, aparecem na circulação gametócitos femininos e masculinos que, ao serem ingeridos pelo mosquito durante o repasto sanguíneo, transformam-se em gametas, que se fertilizam e dão origem aos oocinetos, estes aos oocistos, dos quais se originam os esporozoítos que migram para as glândulas salivares do mosquito e, a partir daí, são inoculados no hospedeiro vertebrado no momento da nova picada.
- O ciclo do plasmódio no mosquito, da ingestão dos gametócitos à formação dos esporozoítos, dura de 10 a 14 dias, dependendo da espécie do plasmódio e do mosquito.
· Fisiopatologia da malária
- A malária por P. falciparum é a mais grave devido a dois fenômenos importantes: a citoaderência e a produção de rosetas.
- O primeiro fenômeno ocorre porque, à medida que o parasito amadurece no interior dos eritrócitos, envia proteínas para a superfície deles, as quais são incorporados à membrana celular.
- Consequentemente, o eritrócito passa a apresentar “botões” protuberantes, ou knobs, com propensão particular a aderirem a moléculas do endotélio (citoaderência).
- Assim, esses botões começam a obstruir a circulação, principalmente a microcirculação nos capilares sanguíneos do cérebro, dos rins, pulmões e da placenta.
- Nesse processo de adesão celular, os knobs se conectam aos diferentes receptores endoteliais do hospedeiro, que podem ser molécula de adesão intercelular 1 (ICAM-1), molécula de adesão leucocitária ao endotélio 1 (ELAM-1) e molécula de adesão vascular 1 (VCAM-1).
- Além disso, os glóbulos vermelhos infectados passam a aderir aos glóbulos vermelhos normais, formando aglomerados celulares, ou “rosetas”.
- Esses dois fatores em conjunto podem causar a grave interrupção do fluxo sanguíneo, levando a hipoxia e efeitos metabólicos deletérios, como a acidose láctica e a hipoglicemia, ou a disfunções orgânicas graves, se o local afetado for o cérebro, o fígado ou os rins.
· Comprometimento dos órgãos e sistemas
· Fígado:
- A participação hepática na malária está relacionada ao próprio ciclo do protista, tendo em vista a invasão dos hepatócitos pelos esporozoítos, inoculados pelos vetores nos primeiros momentos do processo infeccioso.
- Com a elevada parasitemia, com aumento de células infectadas nos sinusoides hepáticos, associada a hipertrofia e hiperplasia das células de Kupffer (macrófagos estrelados do fígado que captam os esporozoítos) pode provocar retardo da circulação, hipoxia, degeneração celular e congestão do órgão.
- Se manifesta por alterações de marcadores bioquímicos e hepatomegalia moderada e dolorosa.
- Na fase aguda pode haver hiperbilirrubinemia secundária à hemólise intravascular dos eritrócitos parasitados, à disfunção hepática e, ocasionalmente, também à hemólise decorrente de coagulação intravascular disseminada.
- Pode haver ainda anormalidades na coagulação sanguínea, possivelmente pela produção insuficiente de fatores de coagulação pelos hepatócitos, hipoalbuminemia e depuração deficiente de muitas substâncias, como alanina, lactato e substâncias antimaláricas pelo fígado.
- Macroscopicamente, o fígado pode ter volume aumentado e apresentar coloração castanho-escuro, quase negra, devido à retenção de hemozoína nas células sinusoidais.
- O aumento dos níveis séricos de bilirrubinas totais mostra relação direta com a hiperplasia das células de Kupffer carregadas de hemozoína, inflamação nos espaços portais e congestão sinusoidal.
- Nos casos de malária com parasitemia baixa ou moderada, as lesões dos hepatócitos são discretas e menos frequentes.A malária não causa hepatopatia fibrosante (fibrose ou cirrose).
· Baço:
- O baço desempenha muitas funções importantes durante a infecção malárica. 
- Antes de tudo, é o principal órgão de retirada da circulação de eritrócitos alterados durante o curso da doença, tanto os infectados quanto os não infectados pelo plasmódio, além de parasitos livres.
- Funciona ainda como local privilegiado de indução da resposta imunitária por macrófagos e células dendríticas e de ativação de linfócitos B e T.
- Indivíduos esplenectomizados que adquirem malária apresentam tendência a desenvolver parasitemia mais elevada devido à deficiente retirada da circulação dos eritrócitos parasitados.
- A malária cursa, normalmente, com esplenomegalia (principalmente na fase aguda), e os resultados demonstram, fortemente, a relação da resposta inflamatória ocorrida nesse órgão e o controle da carga parasitária (ou seja, atua substantivamente no controle da parasitemia).
- O baço pode apresentar-se hiperplásico e hipertrófico, sendo descritos, ainda, casos de aderência à parede abdominal e ao diafragma.
- A cápsula é tensa, o parênquima abundante, difluente, vermelho-escuro até quase negro, conforme a intensidade da congestão e a quantidade de hemozoína (pigmento malárico) retida.
· Pulmões:
- Os pulmões também podem ser acometidos na malária, com espectro clínico variável, sobrevindo desde hipoxia e hipocapenia de padrão restritivo, até bronquite, infiltrado intersticial e alveolar e derrame pleural. Nos casos mais graves há evolução para edema pulmonar, alteração que pode se expressar clinicamente como síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA).
- A infecção aguda tanto pelo P. falciparum quanto pelo P. vivax, podem surgir manifestações respiratórias, desde tosse, estertores e broncoespasmo, até quadro grave e, não raro, fatal, de edema pulmonar.
- Nesses casos, ocorre acentuado aumento do peso dos pulmões, que se apresentam congestos, edemaciados e, por vezes, com hemorragia.
- Microscopicamente, predomina o edema alveolar e intersticial, observando-se também congestão, espessamento dos septos alveolares, com eritrócitos parasitados e macrófagos contendo hemozoína, áreas focais de hemorragia intra-alveolar e membranas hialinas.
- O endotélio das arteríolas e capilares apresenta-se edemaciado, o que causa redução da luz capilar.
- Macrófagos contendo pigmento malárico acumulam-se nos vasos e no interstício.
- Eritrócitos parasitados podem ser encontrados aderidos ao endotélio capilar.
- Frequentemente, macrófagos e neutrófilos ativados são encontrados nos vasos e, provavelmente, desempenham papel na patogênese do acometimento pulmonar por meio da produção de citocinas.
· Rins
- O comprometimento renal na malária pode afetar túbulos e glomérulos, com amplo espectro de manifestações: 
A. Necrose tubular aguda com insuficiência renal, lesão grave por causa das alterações hemodinâmicas associadas ao alto parasitismo dos eritrócitos, mais frequente na infecção pelo P. falciparum, mas que pode estar presente também em infecções por P. vivax; 
B. Glomerulopatia mediada por imunocomplexos, lentamente progressiva e associada à infecção crônica pelo P. malariae e, mais raramente, pelo P. vivax; 
C. Outras alterações, também associadas ao P. falciparum, como nefrite intersticial aguda e glomerulonefrite proliferativa aguda.
- As alterações tubulares são mais importantes do que as glomerulares e podem levar à insuficiência renal aguda; nesses casos, as lesões podem ser discretas ou chegarem até a necrose tubular, comprometendo a maioria dos túbulos distais e alguns proximais.
- As alterações intersticiais incluem edema e infiltrado mononuclear.
· Cérebro
- A malária cerebral, uma das manifestações graves da infecção por P. falciparum, ocorre devido a dois principais eventos, que são a diminuição e a obstrução do fluxo sanguíneo sistêmico e as lesões teciduais/de parênquima cerebral decorrentes do desequilíbrio do funcionamento do sistema imunológico.
- Além disso, há desregulação da cascata de coagulação, com alteração da contagem de plaquetas e presença de partículas pró-coagulantes, o que pode levar ao surgimento de trombos e focos hemorrágicos.
- Algumas citocinas e quimiocinas têm sido associadas à gravidade da doença, e um grande aumento de mediadores inflamatórios contribui para o sequestro de leucócitos para a microcirculação cerebral, ampliando a reação inflamatória local.
- Esse processo provoca uma perda progressiva da uniformidade da barreira hematoencefálica, que fica cada vez mais pérvia e suscetível à neuroinflamação, com possibilidade de desfecho fatal.
- Recentes estudos revelaram um aumento significativo do risco de déficit cognitivo (na fala, linguagem e memória), de problemas comportamentais e de atenção, além de dificuldades de aprendizagem e raciocínio abstrato em pacientes pós-malária cerebral. Porém, esses resultados ainda não são conclusivos.
- Macroscopicamente, há aumento do volume e peso do encéfalo, congestão dos vasos das meninges, alargamento e achatamento dos giros e estreitamento dos sulcos.
- O tecido nervoso mostra edema, congestão e coloração cinza-azulada devido ao pigmento malárico, sendo evidentes hemorragias petequeais difusas, especialmente na substância branca, que ocorrem em cerca de 80% dos pacientes com comprometimento do sistema nervoso.
· Placenta
- Cerca de 30% das placentas de gestantes de áreas de alta transmissão de malária mostram alterações histológicas atribuíveis à infecção, frequência que aumenta para 50% nos casos em que a doença se manifesta no momento do parto.
- Macroscopicamente não mostra características específicas, podendo apresentar menor peso.
- Na maioria dos casos, tem consistência esponjosa e coloração parda, sendo às vezes friável e pálida.
- Microscopicamente, as alterações principais encontram-se nos espaços intervilositários, que se apresentam infiltrados por eritrócitos parasitados, neutrófilos e macrófagos.
- Frequentemente, ocorrem necrose fibrinoide e espessamento da membrana basal, que podem resultar da deposição local de imunocomplexos.
- Hipóxia no espaço interviloso, com prejuízo na nutrição fetal, é sugerida pelo aumento significativo de nós sinciciais nas placentas infectadas.
- Acredita-se que a maior frequência de malária em gestantes seja devida ao fato de a placenta funcionar como um local privilegiado de sequestro e desenvolvimento do plasmódio, podendo reter o parasito por muitos meses, provavelmente resguardando-o do efeito dos mecanismos de defesa do hospedeiro e da ação de medicamentos antimaláricos.
· Manifestações clínicas
· Malária por P. vivax, P. malariae e P. ovale:
- O período de incubação (entre a picada do mosquito e o aparecimento das primeiras manifestações) varia conforme a espécie do plasmódio: 
- 14 dias para o P. vivax ; 30 dias para o P. malariae ; 12 dias para o P. falciparum. 
- Malária não complicada: os sinais e sintomas característicos da malária envolvem tríade de: 
1. Febre; 
2. Calafrios; 
3. Sudorese. 
- No período sintomático inicial, o paciente informa: (1) Mal-estar; (2) Náuseas; (3) Tonturas; (4) Dores musculares; (5) Posteriormente, inicia o ataque paroxístico, com calafrios que podem durar até 1 hora, seguido por período de febre alta (por volta de 40°C); (6) Duas a 6 horas após a febre, ocorrem sudorese intensa e fraqueza extrema. Em sequência, há um momento com ausência de queixas; (7) Outras formas clínicas que são eventualmente observadas no adoecimento por malária são a colérica e a álgida. Na primeira, há diarreia com forte desidratação; e a segunda, cujo principal mecanismo fisiopatológico é a mediação do fator de necrose tumoral (TNF), apresenta-se com cianose periférica e pele fria.
- Observação: A infecção por P. vivax ou P. ovale geralmente apresenta-se com contagem aumentada de reticulócitos, pois a hemólise estimula a eritropoiese e, considerando a invasão, principalmente dos eritrócitos jovens, por essas espécies, a parasitemia pode ser elevada, na faixa de 1 a 2%. 
- Observação: Na infecçãopor P. malariae, espécie que invade eritrócitos velhos, a parasitemia é baixa e a sintomatologia é branda; entretanto, pode provocar quadro de glomerulopatia relacionado aos imunocomplexos, em um período variável de 3 a 6 meses após a doença. 
- Observação: Depois dessa sintomatologia inicial, que pode durar alguns dias, a febre surge intermitentemente, conforme o tempo do ciclo eritrocítico de cada espécie de Plasmodium, visto que ela se correlaciona à ruptura dos eritrócitos e à liberação de merozoítos na corrente sanguínea. Assim, ela aparece a cada 72 horas, no caso do P. malariae, perfazendo a malária quartã; e a cada 48 horas para o P. vivax e o P. falciparum, correspondendo, respectivamente, à malária terçã benigna e à malária terçã maligna. 
- Observação: Entretanto, nem sempre há regularidade nesses picos febris, pois são necessários alguns ciclos para se chegar ao padrão relatado. Além disso, o paciente pode ter sido inoculado com esporozoítos em momentos distintos e, portanto, possuir parasitos em diferentes estágios evolutivos dentro do seu organismo. 
- Malária complicada:
· Malária falcípara:
- A malária causada por P. falciparum é grave e deve ser considerada uma emergência médica, sendo imprescindível a internação em unidade de danos advindos de complicações da infecção malárica grave. 
- Os pacientes podem evoluir com achados clínicos compatíveis com sepse, com envolvimento de diferentes órgãos e sistemas. 
- Observação: nos indivíduos infectados por P. falciparum, a produção aumentada de anticorpos não interfere na reprodução de parasitos; além disso, como o protozoário invade tanto eritrócitos jovens quanto velhos, uma alteração laboratorial presente é a hiperparasitemia, podendo ter mais de 5% dos eritrócitos parasitados. 
- As principais alterações clínicas estão descritas a seguir: 
1.Malária cerebral: Tem apresentação clínica com cefaleia, bruxismo, rebaixamento do nível de consciência, delírio, sonolência, torpor, convulsões e coma. Há duas teorias que buscam elucidar a imunopatologia da malária cerebral: a da inflamação e a mecânica. Esta discorre sobre o sequestro de eritrócitos e a obstrução do fluxo sanguíneo cerebral com consequente hipoxia, enquanto aquela baseia o acometimento do SNC na significativa resposta imune com liberação de citocinas. 
2.Anemia grave: Costumeiramente presente no quadro inicial, progride com o aumento do sequestro eritrocitário e do parasitismo.
3.Disfunção hepática: Na fase aguda, a principal lesão anatomopatológica é a hepatomegalia, que também é percebida na clínica do paciente, junto com icterícia e aumento discreto de aminotransferases. Podem ocorrer também modificações no funcionamento do órgão, tais como: diminuição na síntese de fatores de coagulação e mudança no processo da gliconeogênese, que pode levar a episódios de hipoglicemia e acidose láctica. Na fase crônica, o comprometimento anatomopatológico é caracterizado por congestão hepática, colestase e dilatação sinusoidal.
4.Insuficiência renal: Os danos renais decorrentes de infecção por P. falciparum podem ser leves ou graves, podendo ocasionar necrose tubular e insuficiência renal aguda (IRA). A IRA desenvolve-se a partir dos seguintes eventos: a citoaderência e os fenômenos embólicos provocam redução sistêmica do fluxo sanguíneo, causando hipoxia tecidual e isquemia renal. Além disso, a liberação de citocinas inflamatórias leva à vasoconstrição, agravando a isquemia renal, e à liberação de catecolaminas, que são tóxicas, culminando em lesões no parênquima renal.
5.Disfunção pulmonar: Cursa com alta letalidade, cerca de 70%. Inicia-se com alteração na frequência respiratória, podendo evoluir para síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), na qual há dano endotelial disseminado. 
6.Choque: Pode ocorrer devido à redução na pressão arterial sistólica no ortostatismo combinada a acidose metabólica, sepse e/ou hemorragia. Pode ser classificado como choque hiperdinâmico, pois não há alteração na função cardíaca, e sim associação à queda na resistência vascular periférica. 
7.Coagulação intravascular disseminada: Ocorre devido à intensificação da cascata de coagulação e do sistema fibrinolítico. 
8.Hipoglicemia: Geralmente associa-se a hiperinsulinemia, pois fatores intrínsecos a P. falciparum intensificam a atividade das células betapancreáticas. A hipoglicemia é a principal disfunção metabólica dos pacientes com malária, ocorrendo, principalmente, em crianças e mulheres grávidas, eventualmente com curso fatal.
9. Sinais clínicos: Podem abranger ansiedade, sudorese, taquicardia, dispneia e diminuição do estado geral de consciência até o coma. 
10.Acidose metabólica: Ocorre devido a um conjunto de fatores que podem se dar concomitantemente: processo febril com consequente aumento de citocinas inflamatórias; redução e/ou congestão do fluxo sanguíneo hepático, ocasionando menor depuração do lactato; maior ação muscular em quadros convulsivos; hipoxia tecidual devido à anemia; e redução da cadeia de oxidação da glicose em eritrócitos parasitados. Em geral, a acidose está associada à resposta fisiológica de sua compensação utilizando padrão respiratório de Kussmaul (inspiração profunda, rápida e ruidosa, seguida de pausa e posterior expiração repentina), que promove alcalose respiratória. Na malária grave por P. falciparum, a acidose metabólica e a lesão renal aguda (LRA) são fatores predisponentes para um desfecho fatal, independentemente da faixa etária. 
- A gravidade da malária está relacionada a algumas “condições de risco”, como: (1) primo-infecção ou viajante em retorno de área endêmica (independentemente de idade ou estado imunológico); (2) idade avançada; (3) gestação;
· Diagnóstico: 
- Ao avaliar um paciente com processo febril, cabe ao médico suspeitar da possibilidade de malária e, desse modo, realizar investigação direcionada à doença, questionando sobre a história epidemiológica do enfermo, viagens a áreas endêmicas ou riscos de infecção por realização de recente transfusão sanguínea ou de hemoderivados, ou ocorrência de acidentes com objetos perfurocortantes.
1.Hematoscopia: a confirmação da suspeita diagnóstica de malária baseia-se na técnica padrão: o exame da gota espessa (alta sensibilidade), no qual é puncionado o dedo do paciente para se obter uma gota de sangue, que é colocada em uma lâmina para análise microscópica. Trata-se de um método de exame rápido e simples, que possibilita a identificação de parasitos no sangue; porém, exige certa habilidade na leitura da lâmina, principalmente nos casos de baixa parasitemia e de infecções mistas. Para se obter maior segurança no resultado, aconselha-se o uso da distensão sanguínea (alta especificidade), que possibilita não apenas a detecção dos protozoários, mas também, a identificação da espécie do Plasmodium, por meio da observação da morfologia do parasito e das alterações nos eritrócitos.
2.Testes rápidos imunocromatográficos: detectam antígenos parasitários e são úteis na ausência de microscopistas treinados. Entretanto são de custo mais elevado e não dispensam a realização da hematoscopia, considerando a necessidade de identificação específica para conduta terapêutica adequada. Além disso, os testes imunocromatográficos podem manter resultados positivos, algum tempo após uso da medicação antimalárica, não sendo úteis como critério de cura. A realização dos controles, empregando as lâminas de verificação de cura (após o início do tratamento) constitui-se a conduta adequada para avaliação dos enfermos com malária. O teste ParaSight, por exemplo, é usado para a identificação do P. falciparum, com base na detecção da HRP-II no sangue total, por meio da ligação com anticorpo monoclonal imobilizado na tira. A leitura é visual e de fácil interpretação, e o teste mostrou especificidade de 99% e sensibilidade 94%, em estudo realizado com 358 pacientes com malária. No Brasil, deve-se priorizar o uso dos testes rápidos em situações e localidades nas quais o acesso ao diagnóstico microscópico seja de difícil execução devidoa distância geográfica ou incapacidade local do serviço de saúde.
3.Técnicas moleculares: atualmente, devido aos limites analíticos dos exames anteriormente citados, são utilizadas técnicas alternativas, cujo princípio é a identificação do parasito com uso dos métodos moleculares de reação em cadeia da polimerase (PCR), que são bastante sensíveis e específicos até em casos de baixa parasitemia. Os pontos negativos, porém, são o alto custo e a necessidade de mão de obra especializada. O PCR permite a detecção de infecções mistas e a identificação, sensível e específica, de outras espécies relacionadas à doença, como o P. malariae, na região amazônica. A PCR em tempo real associada à técnica de PCR convencional permite, em um único procedimento, amplificar, detectar e quantificar o material genético, otimizando os resultados.
4.Exames inespecíficos: exames complementares podem ser usados para avaliação do enfermo com diagnóstico de malária, embora sejam inespecíficos. No hemograma costuma ser identificado um quadro de anemia, achado comum nos pacientes infectados com parasitos do gênero Plasmodium. O leucograma apresenta-se variado, e as alterações oscilam de acordo com a evolução da doença, assim como as alterações fisiopatológicas variam de acordo com o órgão acometido. Bilirrubina indireta tem aumento da bilirrubina, principalmente a indireta, além de hipoalbuminemia nos casos graves. Urinálise tem alteração da função renal e presença de hemoglobinúria. Radiografia do tórax identifica infiltrado alveolar na malária pulmonar.
· Tratamento: 
- Utilizam-se no tratamento da malária medicamentos que atuam em diferentes fases do ciclo do parasito, classificados como esquizonticidas sanguíneos, hipnozoiticidas ou gametocitocidas. 
- O Ministério da Saúde do Brasil fornece atualmente, para uso rotineiro, os seguintes medicamentos: cloroquina, primaquina, quinina, doxiciclina, clindamicina, arteméter e artesunato, bem como combinações à base de derivados de artemisinina (ACT), sendo eles arteméter-lumefantrina e artesunato-mefloquina.

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