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Matéria: Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação Assunto: Temas 1 ao 10 Curso de Pedagogia Licenciatura – 1º Período Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 2 de 68 A racionalidade é a capacidade humana que permite lidar com ideias, de modo a estabelecer relações entre elas e, assim, poder construir pensamentos. Dessa forma, entender o homem como animal racional significa saber de sua capacidade de pensar: ele é o único animal (até que se consiga demonstrar algo diverso) que estabelece uma relação com seu meio (e tudo o que nele está) transcendendo a dimensão físico/espacial/temporal. Por exemplo, ao olhar para uma paisagem, o homem tem condições de relacionar tudo o que vê com aquilo que já vivenciou antes e com o que pretende vivenciar enquanto outro animal apenas se daria conta de seu espaço circundante naquele único momento. “E o pensamento parece uma coisa à toa. Mas como é que a gente voa quando começa a pensar” Você conhece estes versos? Possivelmente sim, eles fazem parte da canção Felicidade, de autoria de Lupicínio Rodrigues. Esta canção traz algo importante para falarmos sobre o pensar: esta é uma ação que parece simples, comum e banal, no entanto, ela faz com que o homem se lance para algo além de si mesmo. “Pensar, todo mundo pensa”, é o que comumente se diz. Perceba, porém, que é comum se falar da atividade de pensar como “pensar em algo”, ou seja, o pensamento é sempre voltado para um objeto diverso de si. Mas seria possível algo diferente? Sim, e justamente aí reside a especificidade da filosofia. Pensar o pensamento (parece um pleonasmo) é atividade claramente filosófica, na tentativa de elucidar o que propriamente significa pensar. Para isso, é necessário que se adote postura firme e regrada. Dizendo de outro modo, significa que é preciso empenho para que o pensamento elucide algum problema e conheça o que são as coisas e os objetos. Porém, se o pensamento quer elucidar o que seja o próprio pensamento, é preciso maior atenção - justamente para que não se caia em um círculo vicioso, vazio e falacioso. A filosofia é a área do conhecimento que busca elucidar o mundo, começando pela problematização da própria capacidade de pensar. A experiência do homem no mundo traz problemas que precisam ser resolvidos. Aos poucos, com o passar do tempo, este homem percebeu que sua capacidade de pensar poderia ser aprimorada, não se restringindo ao que já sabia. Como diria a canção citada, o homem descobre que pode “voar cada vez mais alto” Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 3 de 68 com o pensamento. Filosofar é, assim, entender o pensamento e colocá-lo em uma regra que seja comum e possa ser seguida por todos os homens; filosofar é adequar o pensamento ao logos, que é, justamente, a razão, capacidade comum a todo homem. Dizendo de outro modo, logos é a linguagem na qual a realidade pode ser traduzida de modo a fazer com que todos os homens possam compreendê-la. Por isso, pode-se dizer que toda filosofia é pensamento, mas nem todo pensamento é filosofia. Filosofar é a busca pela compreensão da realidade (e tudo o que a compõe) por meio do pensar guiado pela razão. Desde séculos antes da era cristã (por volta do séc. VII), os homens têm se preocupado com esta reflexão mais apurada sobre a realidade. Neste momento, se percebeu a impossibilidade de simplesmente aceitar as imposições naturais e sociais. Era preciso pensar mais sobre a natureza em geral e, de modo especial, sobre a natureza humana e as relações que se estabeleciam. Para que exista um parâmetro de datação histórica, neste contexto é que se considera o nascimento da filosofia, o que ocorreu na Grécia. Esse novo tipo de reflexão foi chamado de filosofia por Pitágoras, matemático e um dos primeiros pensadores, que não ousou atribuir a si mesmo a denominação de “sábio” (sophos), mas de “amigo da sabedoria” (philo+sophos). Desse modo, os gregos dessacralizaram a natureza ao inventar conceitos e ao estimular o debate argumentativo. (ARANHA, 2006, p.22) Desde então, os homens (chamados “filósofos”) vão desenvolvendo suas ideias a partir de suas vivências históricas. Você, possivelmente, já ouviu falar de muitos deles, uma vez que suas ideias fundamentaram e fundamentam construções teóricas das ciências e concepções de mundo. É importante destacar, neste sentido, que os pensamentos nunca brotam do nada e aparecem aos pensadores: é o contexto que permite que as ideias se originem e os pensamentos sejam construídos. Assim, toda filosofia tem ligação com seu tempo. Ao se olhar para a história da humanidade, tem-se na linha do tempo uma sucessão de períodos que, ao se firmarem em suas características sociais e culturais, abriram caminho para que os pensadores desenvolvessem suas ideias. Assim, não parece difícil perceber que cada ideia é fruto de seu tempo, o que pode ser explicado por dois motivos (além da genialidade de seu autor): 1. A realidade social. Por exemplo, as ideias de Aristóteles não seriam construídas do modo como foram, se aquele pensador não tivesse vivido em uma sociedade dividida em classes e com grande parcela da população sendo escrava. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 4 de 68 Do mesmo modo, Marx não desenvolveria seus pensamentos como o fez, caso não vivenciasse uma realidade de extrema exploração dos trabalhadores pelo sistema capitalista. 2. O próprio desenvolvimento do conhecimento filosófico. Por exemplo, Aristóteles teria dado origem a ideias diferentes das quais desenvolveu, caso não fosse Platão seu antecessor, assim como as ideias de Marx talvez fossem diferentes, caso não fossem precedidas pelas de Hegel. Pelo que foi exposto, você percebe a importância de que um pensamento seja sempre contextualizado? Um problema muito comum entre os estudantes é tentar entender um pensamento unicamente em si mesmo: ele pode acabar parecendo sem sentido e apenas divagação. É evidente que, dependendo da época, alguns enfoques tiveram prioridade, de modo que, se de um lado pode ter havido restrição, não do interesse pela totalidade, mas devido à preferência de alguns tipos de reflexão, por outro lado surgiram novos campos de investigação filosófica. (ARANHA, 2006, p.23) Se você imaginar que no início da filosofia não havia conhecimento racional dividido em áreas nem conteúdos específicos de ciências diferentes, perceberá que o conhecimento era único. Assim, um pensador era, ao mesmo tempo, filósofo, matemático, químico, físico, poeta, etc. Mas, com o passar do tempo, esta situação foi alterada, pois cada contexto apresenta problemas específicos ao ser humano, exigindo dele que o pensamento sempre se renove e abarque as condições de existência que surgem. Deste modo, a filosofia foi desenvolvendo suas reflexões cada vez mais específicas sobre os mais diversos elementos da realidade e os pensadores tornaram-se cada vez mais especialistas em determinados problemas. Aristóteles distingue e classifica todos os saberes científicos (cuja totalidade é a Filosofia) tendo como critério a distinção entre ação e contemplação, isto é, diferencia as ciências conforme seus objetos e finalidades, sejam atividades produtivas, éticas e políticas, sejam puramente intelectuais, interessadas exclusivamente no conhecimento e sem preocupação com qualquer prática. (CHAUI, 2005, p.44) A especialização do conhecimento chegou ao ponto crítico no qual o conhecimento desenvolvido já não mais era totalmentefilosofia, e, aos poucos, as diversas ciências foram ganhando campo e corpo próprio dentro da filosofia, até o momento no qual constituíram um campo epistemológico totalmente independente. Um destes diversos campos que, ao longo da história, tornaram-se independentes foi a sociologia, que tomou como objeto de estudo a sociedade e o homem como ser social. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 5 de 68 O ser humano está inserido em uma realidade coletiva: seu mundo não é individual, ele está determinado por um contexto no qual há diversos seres humanos. A sociologia surge tratando de questões relacionadas diretamente ao fazer coletivo do homem na construção da realidade, analisando as situações históricas e o modo como o homem organiza sua vida em grupo. Antes de se constituir como ciência independente, a tentativa de trazer o logos para pensar a sociedade estava na área chamada filosofia social. De modo mais significativo, a filosofia positivista de Auguste Comte (1798-1857) foi a que abriu as portas para a sociologia. Este autor se utilizou do método das ciências experimentais (por conta do sucesso que conquistavam), aplicando-o para o entendimento da sociedade, procurando explicar a vida social com os mesmos instrumentos teóricos usados para explicar a vida natural. A maioria dos primeiros pensadores sociais positivistas permanece, pois, presa por uma reflexão de natureza filosófica sobre a história e a ação humanas. Procedimentos de natureza científica, análises sociológicas baseadas em fatos observados com maior sistematização teórica e metodologia de pesquisa só seriam introduzidos por Émile Durkheim e seu grupo [...]. (COSTA, 2005, p.74) É importante que você perceba que nenhuma ciência nasce pronta, da mesma forma que nenhuma se plenifica. O processo de desenvolvimento de qualquer ramo científico é lento e apenas pode ser mais bem percebido quando visto de longe pelo observador, que pode, então, perceber a des/continuidade entre as ideias que se sucedem. Para as ciências do homem, especialmente, tal processo é bem mais complexo do que se pode imaginar. O esforço da sociologia é pensar a sociedade, desde seu conceito mais amplo até os detalhes, de modo racional, obedecendo ao logos. Podem ser citados diversos pensadores que, ao longo do tempo, construíram o pensar sociológico, porém, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx são os autores que não podem deixar de ser citados, pois foram os que abriram caminhos de reflexão verdadeiramente científicos. Os pensadores da sociologia, desde sempre, têm como preocupação conhecer o âmbito político e social de modo profundo, entendendo de que modo cada fio que compõe o tecido social afeta este tecido como um todo. Sabendo quais forças agem - e de que modo o fazem -, o sociólogo tem condições de questionar os pontos mais significativos, para que eles possam ser revistos. Não se constroem mais cidades; não se desenvolvem campanhas políticas; e não se declaram guerras sem levar em consideração as pessoas envolvidas, suas crenças, interesses, ideias e tradições, tudo aquilo que guia sua ação e motiva sua Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 6 de 68 conduta. A sociedade tem características que precisam ser conhecidas para que aqueles que nela atuam atinjam seus objetivos. Isso significa que nenhum setor da vida social prescinde dos conhecimentos sociológicos, pois a ação consciente e programada exige pesquisa, planejamento e método. É por isso que a sociologia faz parte dos programas básicos dos cursos universitários que preparam os mais diversos profissionais - de dentistas a artistas, de engenheiros a jornalistas - e por isso também o sociólogo integra equipes nos mais diversos setores da vida social. (COSTA, 2005, p.21) O mundo humano se torna cada vez mais complexo, exigindo sempre maior compreensão do lugar do homem e seus objetivos, ao contrário do mundo natural. Com o passar do tempo, as relações sociais se complexificam, no sentido de que novos elementos vão sendo agregados a cada experiência da coletividade. Tais elementos não apenas oferecem novos modos de entendimento, como também os exigem. Nesse sentido, a sociologia permite situar o homem em seu contexto de relações estabelecidas, entendendo-se o modo como foi possível chegar até ele. Seria muito simples entender a realidade social, caso ela obedecesse a padrões naturais que se repetissem dentro de certos ciclos, porém, nem todo fenômeno social tem repetição e tal realidade se mostra como um tecido no qual os fios se relacionam nem sempre diretamente. Enxergar com profundidade significa tentar perceber que nem sempre são visíveis os mecanismos que movimentam a sociedade e, a partir de tal constatação, deve-se trabalhar insistentemente para se desvendar as inter-relações ocultadas, muitas vezes, por desejos de classe. Nas palavras de Durkheim (1978, p.37): Todo o passado da humanidade contribuiu para estabelecer esse conjunto de princípios que dirigem a educação de hoje; toda nossa história aí deixou traços, como também os deixou a história dos povos que nos precederam. A educação é um fenômeno social, nunca finalizado. “Olhar a educação do ponto de vista da sociologia é compreender que se a pedagogia é o fundamento das práticas educacionais, as crenças, os valores e as normas sociais são os fundamentos da pedagogia.” (RODRIGUES, 2002, p.10) Assim, pode-se entender que nenhuma organização social é neutra, uma vez que tem suas raízes sempre fincadas em determinados objetivos. A preocupação que deve estar presente em um projeto de formação de educadores é a de saber até que ponto a pedagogia enxerga claramente esta relação com objetivos nem sempre claros, mas que delineiam suas ações. A Sociologia é a ciência que busca entender a sociedade a partir de certos conceitos e métodos que permitam aparecer o fenômeno social. Construindo-se uma analogia, se a educação fosse uma casa construída, a sociologia tentaria explicar a Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 7 de 68 casa a partir do material utilizado, desde as bases, tijolos e ferragem, dizendo por que a casa se sustenta em pé ou tende a ruir. Ou seja, os elementos sociais envolvidos na construção da educação como projeto dão a estrutura do que é a realidade da educação. Mas a casa não é apenas material e estrutura: ela obedece também a uma forma específica. A filosofia, completando a imagem trazida pela analogia, permite a reflexão sobre a forma dada à casa. Desde os fundamentos, é preciso entender de que modo a construção obedece a um projeto determinado e se tal projeto está relacionado diretamente à finalidade que se estabelece para a casa, além, é claro, de saber quem vai morar nela. Cabe à filosofia, entre outras coisas, examinar a concepção de humanidade que orienta a ação pedagógica, para que não se eduque a partir da noção abstrata e atemporal de “criança em si”, de “ser humano em si” [...]. O filósofo deve avaliar os currículos, as técnicas e os métodos para julgar se são adequados ou não aos fins propostos sem cair no tecnicismo, risco inevitável sempre que os meios são supervalorizados e se desconhecem as bases teóricas do agir. (ARANHA, 2006, p.25) A casa como um todo, de modo geral, é vista por qualquer pessoa. Significa dizer que a educação em sua situação visível mais geral - seja boa ou ruim - pode ser entendida pelo homem comum, sem grandes esforços de pensamento. Porém, entender de que modo elachegou a ser o que é não é tão simples. Juntas, filosofia e sociologia dão condições para que o homem perceba mais do que o que aparece primeiro, na superfície. Enfim, a educação não pode caminhar sozinha, sem se apoiar nos construtos teóricos, especialmente, da filosofia e da sociologia. Tais disciplinas não são simples adereços, elas fundamentam de forma sólida a ação pedagógica. Elas não dão respostas prontas e claras para as situações que se apresentam, mas permitem à educação (a todos os atores envolvidos no fazer educativo) uma reflexão mais eficaz. A educação não é neutra: ela constrói o homem que é permitido pelo contexto histórico e social. A sociologia auxilia exatamente na identificação dos elementos que compõem tal contexto. O homem que a educação deve realizar, em cada um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja; e ela o quer conforme o reclame a sua economia interna, o seu equilíbrio. (DURKHEIM, 1978, p.81) Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 8 de 68 Campo epistemológico: campo delimitado de conceitos e métodos relacionados a uma determinada área do conhecimento. Fenômeno social: abrange extenso conjunto de fatos, ações, ocorrências e situações que, de algum modo, constroem a vivência social ou por ela são construídos. Filosofia: de difícil definição, o termo é costumeiramente entendido como “amor pela sabedoria”. É um modo de pensar baseado na razão, iniciado pelos gregos, que fundamentou o pensar racional do Ocidente. Filosofia social: área da filosofia que trata das questões relacionadas ao problema do âmbito social, à luz do significado da vivência social em relação àquilo que é a essência humana. Logos: conceito grego para aquilo que obedece a racionalidade. Um discurso que se faz pelo logos é a tradução de algo para a linguagem racional; significa trazer para a razão. Educar nunca é ato isolado. É, na verdade, algo que deve obedecer a um projeto social. Desse modo, não há professor que possa agir sempre sozinho, realizando seu caminho no magistério da maneira como bem entender: é preciso saber o que se pretende com a educação e de que modo tal intenção pode ser realizada nos diversos contextos que se apresentam em um mesmo grupo social. Importância singular há em entender que não basta ter uma vontade boa para bem realizar o ato. Ou seja, a um educador não basta ter boa intenção e querer bem-fazer seu trabalho: é preciso bem mais para que o sucesso seja alcançado. Ainda assim, é preciso ter clara a ideia do que seja o sucesso no fazer do ato educativo. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 9 de 68 A realidade é sempre única, não havendo qualquer contradição em tudo o que ocorre. Isso significa dizer que uma árvore é sempre e simplesmente uma árvore; se alguém diz que ela é boa ou bonita, já é questão de interpretação (boa para quem ou exatamente para quê?). É claro, então, que os conflitos surgem por conta das diversas interpretações que são construídas sobre os fatos da realidade. As ideias, sim, podem ser contraditórias, e a análise delas em sua aplicação sobre a realidade é que pode permitir o sucesso nas ações. Pare e pense na concepção de mundo que você trouxe do aprendizado desde a infância. Possivelmente, o modo como você sempre interpretou a realidade veio povoado de ideias simples e comuns, do cotidiano e da vivência trazida pela inserção social proporcionada pela família. Para poder educar genuinamente, é preciso mais, pois é necessário entender de que modo as ideias se relacionam entre si (aprender a pensar melhor) e enxergar os elementos da sociedade que, na maioria das vezes, não são tão claros para o observador comum. Quem educa não pode ser um observador comum - daí a importância das formações filosófica e sociológica. Chamamos de cotidiano este espaço primeiramente experimentado com naturalidade. Este espaço cuja naturalidade possa ser desenhada na forma de mundo da vida. Naturalidade que precisa ser questionada, do contrário converte-se em engano e mito. As teorias críticas, sociológicas, antropológicas, históricas objetivaram até agora o cotidiano. (TIBURI, 2014, p. 21). Nenhuma interpretação do cotidiano é natural, mas fruto de um conjunto de pré-concepções da realidade - é antes vivência do que conceito e entendimento racional. Na maioria das vezes o cotidiano expressa um sentimento diante do real. Nesse sentido, o educador deve estar preparado para uma avaliação crítica diante dos mais diversos sentimentos que a ele se apresentarão na atividade do magistério na educação formal. Você já parou e prestou atenção no que é a educação formal? As sociedades em geral, pensando-se na realidade do século XXI, têm a educação formal como pré- requisito para bem participar da vida social. Isso não significa que não existem experiências de educação não formal que alcancem sucesso. Mas a reflexão deve ser sobre o sistema educacional instituído: a organização de um sistema que segue determinadas diretrizes do que deve ser a educação, que se realiza em instituições que são as escolas, que dependem de diretores, coordenadores pedagógicos, professores e, é claro, de alunos. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 10 de 68 Nessa sociedade, por vivenciar-se o entendimento de que “é normal que todos sempre vão à escola”, o sistema educacional parece mesmo ser algo natural, obedecendo a um curso da existência do ser humano, sem o qual não seria possível fazer história. E, muitas vezes, tendo tal ideia como diretriz, não se questiona o ato educativo instituído. Quando muito, você pode ter questionado uma ou outra situação específica que tenha sido mostrada pela mídia. Entretanto, é preciso mais - especialmente quando se pensa a formação daqueles que vão atuar como educadores. Por meio da educação, é possível enxergar o que uma sociedade cria como valor, pois, de certo modo, educar significa cuidar para que as pessoas entendam o mundo de uma maneira específica. Cada sociedade - cada cultura – enxerga o mundo de ângulos diversos. Assim, a educação é aquilo que mais próximo está da construção da identidade de um povo. Por isso, é importante saber que: 1) educação é situação encarnada na realidade histórica e, assim, 2) conhecer a educação significa entender a cultura. Por exemplo, poder-se-ia querer pensar a educação apenas enquanto didática ou técnica de ensinar etc.; mas, ainda assim, seria preciso ter em mente que há “didáticas que funcionam” somente para certas realidades. Aprender sobre os fundamentos filosóficos da educação é trazer à luz os elementos que, embora construam o educar, não constituem o próprio fazer. Isso significa que é preciso pensar a relação entre teoria e prática para que o fazer educacional não seja algo que se faz sem direção, deixado à sorte, mas algo que se realiza a partir de um projeto que, por sua vez, carrega um sentido de mundo. Pense exemplos de práticas educativas que diferem umas das outras, mas que, no fundo, obedecem ao mesmo objetivo último de formação humana. No mesmo sentido, falar dos fundamentos sociológicos da educação significa tentar entender de que modo a realidade social influencia a educação e, ao mesmo tempo, por esta é influenciada. A educação tem variado infinitamente com o tempo e o meio. Nas cidades gregas e latinas, a educação conduzia o indivíduo a subordinar-se cegamente à coletividade, a tornar-se uma coisa da sociedade.Hoje, esforça-se em fazer dele personalidade autônoma. (DURKHEIM, 1978, p. 35). Que elementos são importantes para que a realidade possa ser enxergada mais claramente e, assim, para que um projeto educacional mais efetivo seja aplicado? O esforço reside na maior capacidade desenvolvida para relacionar teoria e prática: a teoria sem prática corre o risco de ser infrutífera, e a prática sem a teoria Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 11 de 68 facilmente se reduz a um fazer desmedido que não tem parâmetros do que seja o bem agir - significa fazer, acreditando que, naturalmente, as coisas concorrerão para o alcance dos objetivos. Como já diz o senso comum: “para quem não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve...”. O Dicionário Básico de Filosofia (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996, p. 218/260) diz que teoria é: “2. Modelo explicativo de um fenômeno ou conjunto de fenômenos que pretende estabelecer a verdade sobre esses fenômenos, determinar sua natureza [...]”. Prática, por sua vez, é aquilo: “1. Que diz respeito à ação. Ação que o homem exerce sobre as coisas, aplicação de um conhecimento em uma ação concreta, efetiva [...]”. O que é possível compreender de tais ideias? O que se pode dizer da relação teoria versus prática? Perceba que a prática é entendida como conhecimento aplicado a determinada ação - e não simplesmente a própria ação. Desse modo, é importante notar que uma boa prática carece sempre de um conhecimento que deve ser aplicado. Por sua vez, para que se possa bem aplicar um conhecimento, faz-se necessário saber a teoria. E você, conhece teorias da educação? Na verdade, são diversas as maneiras de se entender a prática educativa, pois, ao longo do tempo, muitos pensadores se debruçaram sobre os problemas que tocam a formação social das pessoas. E por que falar sobre “formação social”? Simplesmente porque não existe educação desligada de um grupo social. Educar é uma prática social intencionada, isto é, antecedida por um projeto teórico consciente que visa a mudanças de comportamentos, não só no educando, mas também no educador e na sociedade. Daí podermos considerar a ciência pedagógica inserida em um processo histórico-social sempre renovado e que nunca termina. (ARANHA, 2006, p. 34). Considerando-se que a sociedade nunca é algo pronto e terminado mas um fazer social perene, a educação é uma prática que sempre vai sendo moldada pelos aspectos sociais de um tempo. É uma prática intencionada, no sentido de sempre estar ligada a determinada concepção do que seja a sociedade e, nela, de quem é o homem que se deseja formar. Nesse sentido, o conhecimento das ciências da Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 12 de 68 educação e, de modo especial, da pedagogia, é constante construção; é caminho que se faz caminhando, revendo, revisando e reavaliando. A formação dos educadores deve passar pelo conhecimento de diferentes áreas para que se possa entendera educação dentro de um todo; ou seja, o ato educativo não é um processo isolado, mas totalmente ligado à realidade e a diversos outros pensamentos. “Ao pedagogo cabe equilibrar as diversas contribuições teóricas que enriquecem sua teoria e lhe dão rigor e objetividade (ARANHA, 2006, p. 37). Possivelmente você já pensou na atuação do educador como a pessoa que tem como centro de seu fazer a missão de auxiliar na formação de pessoas, no sentido de contribuir para que elas possam se realizar como seres humanos, com dignidade. Mas e a sua formação como educador? Como você a entende? Formar um educador não é algo simples e fácil. Não é algo como somente aprender a lidar com crianças, pois estamos falando em educador no sentido do indivíduo que vai atuar em diversas instituições, em múltiplas instâncias do educar e com diferentes tipos de pessoas. Nesse sentido é que se deve pensar na importância das diversas ciências ligadas à educação. A reflexão que aqui se objetiva é sobre o formar o educador. Qual a importância e em qual sentido se fala em formar? De modo algum tal ideia pode ser relacionada ao sentido de colocar em uma única forma; ou seja, se disséssemos que existe um único modo de ser professor - e que este deveria ser seguido -, estaríamos justamente caminhando para aquilo que a reflexão filosófica não é, a saber, o estabelecimento de uma verdade final. A formação deve ser entendida como processo perene, a partir do qual a pessoa entende a necessidade de agregar elementos e conhecimentos àquilo que ela é - o que, por sua vez, toca diretamente sua prática. E, de modo mais específico, a formação filosófica do educador é a abertura de um modo de refletir sobre os problemas que deve ser sempre revisitado. Isso quer dizer que o educador deve se preocupar constantemente com seu modo de pensar, para que possa melhorar enquanto pessoa e profissional. Para tanto, é preciso que o educador revisite seu conhecimento, enquanto sujeito que busca conhecer ou enquanto objeto que tem para ser conhecido. E, ao pensar, o que fazemos com as ideias? Quando pensamos, pomos em movimento o que nos vem da percepção, da imaginação, da memória; apreendemos o sentido das palavras; encadeamos e articulamos significações, algumas vindas de nossa experiência sensível, outras de Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 13 de 68 nosso raciocínio, outras formadas pelas relações entre imagens, palavras, lembranças e ideias anteriores. O pensamento apreende, compara, separa, analisa, reúne, ordena, sintetiza, conclui, reflete, decifra, interpreta, interroga. (CHAUI, 2005, p. 159). É pela experiência do pensamento que o educador vai sendo construído; sua formação deve contemplar o conhecimento crítico do que seja a educação e de como ela está organizada. Tal objetivo se justifica no sentido de que sejam formados profissionais mais conscientes de sua atividade, entendendo os jogos sociais (políticos, financeiros etc.) que tocam diretamente seu fazer. É tomar os elementos da percepção, da memória e da imaginação, como diz Chaui, tentando enxergar a realidade de modo diverso do habitual. A formação especificamente filosófica do educador tem, por sua vez, o objetivo de permitir ao indivíduo uma visão mais completa - totalizante - do fenômeno educativo. Na maioria das vezes, os problemas não podem ser reduzidos a fatos em si mesmos; eles, na verdade, devem ser entendidos de um modo que abarque o todo da educação, pois os diversos âmbitos da área educacional estão intrinsecamente ligados, relacionando-se constantemente. Por exemplo, isso possibilita enxergar situações que, embora diferentes, são consequências diretas de uma mesma postura político pedagógica; do mesmo modo, é possível entender que diferentes posturas podem trazer a mesma consequência para o fazer educativo. A atividade reflexiva do educador deve ocorrer no sentido de que sua ação seja o reflexo direto do pensamento. No entanto, não simplesmente o pensamento que estabelece uma verdade e quer executá-la, realizá-la; é a indicada relação de dobra e desdobra - é u m fazer constante que, já no fazer, se pensa o próprio fazer. Isso porque a educação não é algo pronto e terminado, e sim um caminho que se constrói no caminhar, e a reflexão sobre o caminho acontece exatamente enquanto se caminha. A filosofia da educação auxilia a enxergar que a atividade do educador não se resume à sala de aula, com seus alunos. O estar junto com os alunos é consequência de diversas atuaçõesde outros personagens sociais, mas é também causa de outras situações políticas e sociais. É preciso entender o importante papel do professor na sociedade e verificar de que modo ele vem sendo desprestigiado ao longo do tempo. Qual o sentido de tal situação e o que a motiva são indagações que merecem reflexão. A atuação do educador deve, portanto, dar conta de questionamentos mais amplos. A sociologia, na formação do educador, traz ângulos de visão diferenciados, que podem levara reflexões mais significativas e, por sua vez, a uma atuação pedagógica mais efetiva, sabendo analisar de modo mais apropriado cada situação. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 14 de 68 Se é verdade que jamais olharemos um problema social com o distanciamento com que examinamos a composição de um mineral, também é verdade que a sociologia dispõe já de inúmeras técnicas de pesquisa cuja escolha pode garantir o sucesso da investigação e de medidas que venham a ser propostas a partir dela. (COSTA, 2005, p. 325). Significa entender que não é simples a tarefa de entendimento objetivo da realidade - dizer que se consegue tal façanha é algo questionável, pois quem poderia atestar que determinada interpretação é a mais correta entre todas as outras concorrentes? Não é possível fugir do problema social - ele toca o homem de todas as maneiras que se possa imaginar. Assim, o educador precisa ser formado com a maior amplidão de conhecimentos sociológicos possível. O professor é um profissional e, como tal, além da boa formação, deve ter garantidas condições mínimas para um trabalho decente: materiais adequados, reuniões pedagógicas, atualização permanente, plano de carreira, além de salários mais dignos. Essas modificações não dependem dos indivíduos isolados, mas só serão possíveis se os professores tomarem consciência política da sua situação e estiverem dispostos a se mobilizar como corpo coletivo, sempre que necessário, como grupo ativo em sua própria escola e/ou engajados em associações representativas de classe que defendam seus interesses. (ARANHA, 2006, p.45) Se o professor não tivera consciência mínima necessária para estar politicamente inserido em sua profissão, dificilmente dará conta de bem atuar. Isso não significa que ele deverá, necessariamente, assumir uma postura de luta diante da sociedade, mas implica que não pode ser passivo diante dos diversos fatores que afetam seu fazer. É importante entender que um sistema educacional regido pelo descaso do poder público pode muito bem ser projeto político para sustentar a exploração do homem pelo homem. A ação do professor é instrumento político e, nesse sentido, pode ser pensada como instrumento de libertação ou de aprisionamento daquelas pessoas que são dirigidas pelas ações dele. Instrumento de libertação quando possibilita um novo pensamento, preocupado com a verdade, questionando a realidade; instrumento de aprisionamento quando apenas corrobora a situação vigente, aceitando passivamente o que é politicamente determinado. Não existe uma prática educativa que não seja, de algum modo, política. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 15 de 68 Portanto, a formação do educador não se restringe a conhecer diferentes ideias e correntes filosóficas ou sociológicas; ela tem a preocupação de fazer com que aquele que atua na educação conheça não apenas o explícito, mas o que está oculto e, às vezes, tem mais poder que aquele. Significa adquirir maior criticidade diante da realidade. Aprendendo a pensar melhor, o professor ensina a pensar melhor. E a prática da reflexão sobre os problemas não pode estar restrita a momentos politicamente delimitados para isso, pois somente uma reflexão que se torna rotina pode levar à conquista de uma nova atuação. Significa dizer que, quando existe o real objetivo de fazer com que a ação do educador transforme seus alunos em pessoas pensantes e críticas, é necessário que as atividades que propiciam o pensar sejam uma constante; a reflexão crítica apenas pode ser levada para fora da escola quando os alunos estenderem para seu dia a dia aquilo que realizam em ambiente escolar. Aprender e ensinar a pensar não implica adotar um objeto diferente daquele que se apresenta cotidianamente ao ser humano, implica, na verdade, como quis Sócrates, passar a perceber de outro modo aquele mundo que desde sempre aparece: Sócrates queria elevar a um conhecimento sólido e profundo não as coisas estranhas e inusitadas, mas aquilo que desde sempre o homem sabe: as coisas próximas, os utensílios de uso, a convivência humana, a cidade, o Estado, a nossa cotidianidade. Só perguntava acerca dessas realidades já conhecidas. Pisar sempre o mesmo lugar para pensar sempre o mesmo. Isso lhe parecia o mais difícil. (BUZZI, 1983, p. 43). E também assim deve ser a busca do educador: refletir buscando decifrar o real mais próximo. E o seu mais próximo é exatamente tudo aquilo que constitui seu mundo da educação. Teoria versus prática: discussão filosófica que se volta para pensar os problemas envolvidos na relação entre teoria e prática nos diversos âmbitos do conhecimento. No geral, entende-se a necessidade de que haja equilíbrio entre ambas. Ciências ligadas à educação: de modo especial a sociologia e a psicologia; porém, ao entender a amplidão do ato educativo, diversos outros conhecimentos entram na conceituação. Por exemplo, a economia, que é de grande auxílio no entendimento Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 16 de 68 das relações econômicas presentes na sociedade, as quais afetam diretamente o ato educativo; ou as neurociências, que auxiliam no entendimento sobre as funções cerebrais. Criticidade: a atitude crítica, diferentemente do que se entende no cotidiano, é a não aceitação primária do que quer que seja: é não aceitar uma ideia ou um fato de modo simples e imediato, sem questioná-los. A criticidade é atitude que leva o homem a questionar; apenas depois da reflexão é que se torna possível tomar parte em algo ou optar por ele. Século XVIII e XIX - O contexto do surgimento da Sociologia Positivista Para compreender a perspectiva sociológica positivista, considerada uma das primeiras teorias reconhecidas cientificamente a explicar o homem como um ser social, é necessário ter em mente o contexto histórico, político e social na Europa a partir do século XVIII, o qual foi marcado pelos acontecimentos decorrentes do iluminismo e de duas importantes revoluções: A Revolução Francesa e a Revolução Industrial. O iluminismo pode ser entendido como um Movimento Intelectual e Filosófico que se desenvolveu ao longo do Século XVII, com o intuito de libertar os homens do tradicionalismo da Idade Média: valorizava a razão e a crença no progresso e na liberdade do pensamento (ZENI, 2010). Suas ideias e ideais formaram a base teórica necessária para a Revolução Francesa (1789), a qual pode ser considerada como um marco do início da Idade Contemporânea, pois além de originar a ideia de cidadania, acelerou o processo de industrialização (Revolução Industrial). Entre as principais transformações decorrentes da industrialização, pode-se citar como exemplos (DIAS, 2013; HOBSBAWN, 2009; ARANHA, 2006): O desenvolvimento do sistema fabril em grande escala e a divisão do trabalho. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicosda Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 17 de 68 Introdução de novas técnicas e aplicação de conhecimentos científicos que ampliaram a produtividade na agricultura. O surgimento do navio a vapor e a construção de rodovias e ferrovias. O carvão foi substituído por novas fontes de energia, como o petróleo e a eletricidade. Migração dos trabalhadores do campo para a cidade: a vida social passou a se concentrar nas cidades, que surgiram sem um planejamento adequado. Jornada de trabalho d e 14 a 1 6 horas, com mão de obra infantil e feminina. Revoltas do operariado, insatisfeitos com as suas condições de trabalho. Assim, foi a partir deste cenário social nunca antes vislumbrado - preocupante para os pensadores da época de modo geral - que Augusto Comte (1798 - 1857) começou a desenvolver a sua doutrina positivista. O autor também não via com bons olhos as mudanças que estavam ocorrendo, considerando que a sociedade se encontrava num estado de caos social e, portanto, a sua teoria ressaltava a importância da manutenção da ordem social, que se encontrava abalada (DIAS, 2013). A saída para tal situação estaria na Filosofia Positivista, a qual estaria encarregada de fornecer um conjunto de crenças comuns a todos os homens, o que resultaria em estabelecer a ordem social, a coesão e o equilíbrio. O progresso do conhecimento humano se realizaria por meio de três estados: o estado teológico, no qual o homem explica as coisas e os acontecimentos através de seres ou forças sobrenaturais; o estado metafísico, quando há o recurso a entidades abstratas e ideias que expliquem os fatos; e o estado positivo, quando o homem explica as relações entre as coisas e os acontecimentos pela formulação de leis, renunciando conhecer as causas e a natureza íntima das coisas. (MOTTA; BROLEZZI, 2008, p. 4.463) Constituindo-se como um ramo da Filosofia Positivista, a Sociologia - termo criado pelo próprio Comte - foi definida pelo mesmo como “uma física social, aplicando a ela os modelos da biologia para explicar a sociedade como um organismo coletivo” (ARANHA, 2006, p. 213). Seria uma ciência da sociedade que explicaria as Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 18 de 68 leis do mundo social, da mesma forma que as ciências naturais explicavam o funcionamento do mundo físico (GIDDENS, 2005). Para Comte, a sociedade era submetida a leis invariáveis, como a natureza também o era. Tendo em mente essa breve contextualização do surgimento da Sociologia e a imprescindível colaboração de Augusto Comte para a sua constituição enquanto ciência, veremos a seguir como podemos relacionar a Sociologia Positivista com a Educação, e qual foi a sua importância e contribuição para o desenvolvimento desta última, tanto no mundo, como no Brasil. O Positivismo e a Educação De acordo com Aranha (2006), a industrialização e o desenvolvimento das ciências trouxeram preocupações pontuais para a escola tradicional do século XIX: Por um lado, acentuou-se o dualismo escolar, que destina escolas de diferente qualidade para a elite e para o segmento popular operário; por outro, a necessidade de não restringir a formação dos jovens apenas às humanidades, mas estimular o estudo das ciências (ARANHA, 2006, p. 213). Frente a esse panorama, vejamos a seguir quais foram as análises e soluções dos positivistas para a educação, os quais atuaram de forma marcante no ideário das escolas estatais, sobretudo na luta a favor do ensino laico das ciências e contrária à escola tradicional humanista religiosa (ARANHA, 2006). Segundo Neto (1999), mesmo com a educação não sendo o enfoque principal do positivismo, a ideia de uma educação universal perpassou o pensamento de Comte de tal forma que o autor planejava escrever um Tratado sobre a Educação Universal, o que acabou não se consolidando em decorrência de sua morte (SILVA, 2006). Com esse tratado, Comte planejava apresentar os conhecimentos em formato enciclopédico, indo ao encontro da teoria que foi apresentada a você anteriormente sobre o pensamento positivista: Para o autor citado, o positivismo era caracterizado como uma filosofia burguesa liberal, que possuía ao mesmo tempo cunho conservador e progressista. O positivismo teria, então, o objetivo de garantir que ocorresse a evolução da humanidade no sentido do progresso, reafirmando uma ordem preestabelecida (SILVA, 2006). Além disso, segundo o autor, todo ser humano iria passar por seus estágios. Para o autor, o principal papel da ciência seria o de assegurara consolidação da ordem para garantir o progresso da sociedade industrial. Assim, a ciência adquire Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 19 de 68 a forma de um saber acabado e o estado positivo considerado como última fase da evolução do conhecimento. (MOTTA; BROLEZZI, 2008, p. 4.664) De acordo com Augusto Comte, todos os indivíduos passam ao longo de suas vidas pelas mesmas etapas. Dessa forma, o pensamento fetichista da criança cederia lugar para a concepção metafísica da adolescência que, por fim, daria lugar ao estado positivo, fruto da maturidade (ARANHA, 2006). Para este autor, o método geral da educação positivista é dividido em duas fases: 1. Antes de atingir a puberdade: preocupação com o concreto e com a prática da observação e de exercícios que irão facilitar a adaptação do corpo à ação habitual. 2. A partir da puberdade: preocupação com a sistematização e com lições formais sobre ciências, seguindo uma classificação hierarquizada. A escola ideal positivista seria presa na ideia da técnica e só poderia ser garantida pela presença de um especialista. No caso, o educador seria o agente social que iria comandar a prática. A educação, entendida por Augusto Comte, seria aquela em que ocorre a integração entre o “homem” e o “humano”, e, entre ambos, existiria a figura do educador (NETO, 1999). Nesse caso, o ensino em decorrência dessa interpretação racionalista preocupa-se em manter a reprodução da sociedade e coloca o aluno na posição de mero receptor de informações (MOTTA; BROLEZZI, 2008). Vejamos, a seguir, os pontos principais relacionados à teoria pedagógica do positivismo (NETO, 1999): 1. Na educação deve existir uma relação hierárquica entre o educador e o educando, tendo o professor a função de fonte do conhecimento. 2. A educação deve ser universal, ou seja, deve ser oferecida para todos, independente de gênero ou nível socioeconômico. 3. A educação familiar - espontânea - é especialmente voltada para ensinar aos indivíduos a moral, dominando os impulsos egoístas. Essa educação é repassada principalmente pela mãe, que para o positivismo representa o poder espiritual na família. 4. Depois da formação moral inicial, ocorre a educação sistemática, que será ministrada por filósofos educadores que irão preparar os indivíduos para a maturidade. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 20 de 68 5. A educação pública deve complementar a educação espontânea, por meio da teoria e da prática. 6. É necessária a valorização da estética e da arte. 7. Deve ser valorizado o estudo de Línguas e da Literatura. 8. Os professores devem dominar todas as ciências, ou seja, devem ser polivalentes. 9. Os professores devem fazer prevalecer o ensino oral e estimular uma submissão ativa e voluntária por parte do estudante, e não uma discussão estéril e dispersiva. Para Comte, o Estado não poderia deixar de se interessar pela educação, dadaa sua função reguladora. Segundo Lucena (2010), tudo o que é relacionado à educação deveria ser submetido à influência estatal, ou seja, mesmo instituições privadas deveriam estar sob a sua fiscalização. Não significa que o Estado deva ser o único a controlar a educação, mas, sim, que deve ser responsável por ela: dessa forma, para o positivismo, a educação deveria ser pública e laica, ou seja, sem influência da igreja. De acordo com Aranha (2006), além de Comte, outros autores positivistas também devem ter suas contribuições ressaltadas. Entre eles, temos Herbert Spencer (1820 - 1903), o qual também possuía um cunho do evolucionismo de Charles Darwin. Para Spencer, a educação é como tudo no mundo: sofre um processo evolutivo em que o ser vai revelando suas potencialidades. Essa convicção baseia-se na ideia de progresso, cara ao ideário positivista, que parte do pressuposto segundo o qual as coisas têm em germe aquilo que elas serão, bastando existir condições para serem desencadeadas. Imbuído da concepção cientificista, Spencer escreveu a obra Educação, que conquistou muita popularidade. Considera o ensino das ciências o centro de toda educação, não só em termos de transmissão dos conhecimentos, como da formação mesma do espírito científico. Assim, a física, a química e a biologia seriam as mais importantes: interesse pelas questões utilitárias, em franca oposição ao ensino humanista tradicional. (ARANHA, 2006) Outro autor importante, advindo da corrente positivista, foi Émile Durkheim (1858 - 1917), o qual estudou os chamados fatos sociais: ao invés de Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 21 de 68 analisar apenas os indivíduos, a Sociologia deveria analisar aspectos da vida social que determinam a ação destes indivíduos (DURKHEIM, 2002). Um Fato Social deve possuir as seguintes características: coercitividade, exterioridade e generalidade. A educação, por sua vez, pode se encaixar nessas três características (ATISANO, 2006): 1. Coercitividade: A educação exerce uma coerção sobre o indivíduo, visto que ele é obrigado a incorporar os conteúdos, costumes e hábitos desenvolvidos na escola, para que seja aceito socialmente. 2. Exterioridade: A educação que um indivíduo irá receber na escola é pensada e decidida antes mesmo de seu nascimento. Não cabe a ele decidir se será educado pelos padrões da sociedade, ou seja, é um fato exterior a ele. 3. Generalidade: A educação possui um aspecto geral, visto que é um mecanismo adotado pela maior parte da sociedade. Assim como Comte, Durkheim também estava preocupado com a coesão social, com algo que mantivesse a sociedade unida e impedisse o caos social. Foi assim que ele chegou ao conceito de Solidariedade Social e Moral, a qual seria mantida se as pessoas se integrassem com sucesso em grupos sociais e fossem regidas por um conjunto de valores e costumes partilhados por esses grupos (DURKHEIM, 2002). Ambos os autores também compartilham da mesma opinião em relação à forma como a criança deve receber o conteúdo: a criança deve estar pronta para assimilar os conhecimentos e o professor deve estar preparado para ensinar. A criança deve obediência ao educador. Por fim, os autores também acreditam que a escola é uma chave primordial para o estabelecimento do equilíbrio social. No Brasil, o positivismo influenciou as medidas governamentais do início da República, sobretudo pelo cientificismo que marcou muitas vezes a escolha dos currículos escolares, devido à preocupação com a transmissão de um conteúdo enciclopédico, na tentativa de dar conta da imensa contribuição das ciências, sobretudo das ciências da natureza. Também sempre esteve subentendido nas práticas empiristas da educação e, de forma explícita, na década de 1970, por ocasião da tentativa de implantação da escola tecnicista. (ARANHA, 2006, p. 214) Por fim, temos ainda mais uma contribuição do positivismo: no século XX, a contribuição do positivismo ainda era vista na psicologia comportamentalista de Watson e Skinner, os quais serviram de pilar para muitas teorias pedagógicas (ARANHA, 2006). Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 22 de 68 Evolucionismo: Teoria desenvolvida inicialmente por Charles Darwin, que enfatiza que a sobrevivência das espécies está ligada à seleção natural. Fato Social: “Toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais” (DURKHEIM, 2002, p. 40). Positivistas: Perspectiva que defende que o estudo do mundo social deve ser conduzido de acordo com os princípios das ciências da natureza (GIDDENS, 2005). Revolução Francesa: Ocorreu na França em 1789, e foi inspirada pelos iluministas, que enalteceram os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Sociologia: “Sociologia, em sua definição mais básica, pode ser entendida como o estudo científico do comportamento humano que é construído pela sociedade ou o estudo das interações humanas” (DIAS, 2013, p. 17). Ser o que se é parece algo natural. O homem é um animal que pensa - o “animal racional”, segundo Aristóteles. Ter a capacidade de pensar faz com que este homem reflita sobre toda a realidade, o que implica pensar não apenas no que está ao seu redor, mas inclusive refletir acerca de si próprio. O homem pensa sobre si e sobre o que o constitui, que pode ser entendido como sua essência. Mas esta tarefa se mostra de grande dificuldade, pois o ser humano é, talvez, um dos animais que nascem mais despreparados para a vida. Considerando-se que o ser humano possui sempre uma possibilidade de ser algo além do que já é, a concepção que ele tem de si é transformada constantemente. A questão que se coloca é sobre como pode ser possível falar seguramente de algo que não é pronto e terminado em seu ser. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 23 de 68 Sobre tal problema, debruçam-se diversos ramos da ciência. Possivelmente, você já ouviu algo acerca das pesquisas da antropologia ou da sociologia, ou então já ficou sabendo do avanço nas pesquisas neurocientíficas - todas tentando desvendar o que é o ser humano enquanto indivíduo ou grupo de indivíduos que convivem e produzem aquilo que chamamos de cultura. Mas, mesmo com tantas descobertas, o ser humano ainda é uma incógnita, um “algo a desvendar” que a cada vez se mostra mais complexo em si mesmo e em suas interações com o mundo externo. A filosofia desenvolve reflexão sobre o homem desde muito tempo, antes do surgimento da própria ciência como modo de entender o mundo; isto porque o conhecimento que entendemos por “racional” desenvolveu-se aos poucos. Aquilo que é o objeto das ciências na atualidade, em geral, foi objeto de reflexão dos filósofos na antiguidade. Como exemplos, é possível pensar na biologia com o conceito de “vida”, na química e na especulação sobre os elementos que formam o mundo, na psicologia e no questionamento sobre a alma humana (enquanto sede de emoções), na matemática e nas relações numéricas (entes de razão) que podem ser identificadas na realidade etc. A vida, os elementos da natureza, a alma humana e as relações numéricas foram objetos da filosofia. Por sua vez, o ser humano foi - e ainda é - objeto da reflexão filosófica. Na filosofia clássica grega o homem foi estudado a partir de uma perspectiva cosmocêntrica; nafilosofia cristã, de uma perspectiva teocêntrica; na filosofia moderna e contemporânea, de uma perspectiva antropocêntrica. (MONDIN, 1980, p. 10) Não sendo ciência, a filosofia fala do homem buscando entendê-lo por inteiro, conceituando-o. É importante ressaltar tal característica, pois ela pode ser entendida como uma diferença entre a filosofia e as ciências, já que cada ciência busca responder a questões relacionadas a um único âmbito da realidade. Conceituar dá segurança ao desejo que o homem tem de conhecer, fazendo com que as coisas possam ser presas em determinado entendimento. Conceituar é a tentativa de “guardar” as coisas em certas ideias que possam representá-las verdadeiramente no que são. Deste modo, a filosofia tenta conceituar o homem, para que ele possa ser entendido. O ramo do conhecimento filosófico que se dedica a refletir sobre o homem é a Antropologia Filosófica. Ao longo do tempo, este ramo do filosofar foi ganhando corpo à medida que os pensadores foram desenvolvendo suas ideias. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 24 de 68 Mas é importante entender, como afirma a Profa. Viviane Mosé (2012, p. 30), que: A vontade de saber termina por revelar uma vontade de substituição da vida pelos códigos: o que os homens buscam não é conhecer, mas traduzir o desconhecido em conhecido; e se veem cada vez mais reduzidos à linguagem, aos conceitos, às imagens. Ou seja, ainda que se tente entender o ser humano a partir de um conceito, além de ser clara a impossibilidade de fazê-lo de modo completo (já que o ser humano não é pronto, não é terminado), é preciso saber que a realidade é sempre mais, apresentando-se em constantes e diferentes modos de aparecer. E por onde é possível começar o estudo sobre o homem? Você já tentou se entender como ser humano simplesmente? É verdadeiramente um exercício difícil de fazer, pois, para construir uma reflexão assim, é preciso deixar de lado aquilo que nos faz indivíduos; é difícil por exigir que enxerguemos além do individual vivido e aprendido. Há dois estados de espírito que são inimigos de uma autêntica investigação filosófica do homem. a) O estado de espírito de quem não quer admitir que o homem seja substancialmente diferente dos animais e que, por isso, recusa-se a reconhecer que o homem constitua um problema metafísico autêntico. b) O estado de espírito de quem aceita facilmente demais a exigência de um elemento metafísico no homem, como se a sua existência fosse imediatamente evidente. São os estados de espírito do materialista e do espiritualista. (MONDIN, 1980, p. 18-19) Para que seja alcançada a objetividade na reflexão, nenhum deles - materialista ou espiritualista - pode se fazer presente; são posturas que acabam por desviar a reflexão. Entendendo a diversidade de âmbitos a partir dos quais o homem pode ser entendido, é importante que um educador em formação saiba das dificuldades existentes em pensar exatamente o que é o homem. Nada pode ser assumido em primeira instância já como certo ou verdadeiro; o diálogo entre os discursos filosófico e científico deve ser constante, abrindo novas possibilidades de entendimento do fenômeno humano. E, diante das diversas conceituações que se pretendem definitivas, “cumpre ao filósofo lembrar e levar em consideração a ocorrência das sempre imprevisíveis Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 25 de 68 concretizações que o homem sempre pode fazer existir, na sua vitória contínua contra o nada, na sua marcha ininterrupta pelas vias do tempo” (LATERZA; RIOS, 1971. p. 73). Deste modo, ao problematizar o ser humano, seus modos de existir exigem que a educação seja repensada constantemente, pois todo projeto educacional sempre é executado a partir de determinada ideia que se faça do homem, a partir de um modelo que se pretenda realizar. A educação em seu fazer, no contato direto professor/aluno, torna-se sempre mais humana quanto mais souber dos elementos que constituem o existir humano. Você pode observar que o cotidiano da vida humana mostra elementos novos a cada instante, a partir dos quais toda teoria já estabelecida pode ser revista. Uma teoria é uma conceituação dos fenômenos; é a tentativa de abarcar todas as possíveis ocorrências futuras em um único dizer. Isto mostra que a realidade é sempre mais do que as teorizações. As teorias são importantes, mas não suficientes; daí a importância de bem pensar acerca das diversas concepções elaboradas sobre o ser humano. Como exemplos, podem ser apresentadas as teorias a seguir: Essencialista: como indicado pelo nome, o conceito de “essência” é o centro ordenador. Busca-se, aqui, o entendimento de algo que possa ser tido como essência do ser humano. Neste sentido, as ações do ato educativo devem objetivar a construção do homem ideal. Teorias de base essencialista trazem “como característica o enfoque metafísico próprio da filosofia antiga, que acentuava a atitude teórica da análise dos conceitos universais (...) [buscando] desenvolver as potencialidades da natureza humana”. (ARANHA, 2006, p. 151) Naturalista: baseadas no conceito de “natureza”, as teorias naturalistas trazem elementos desenvolvidos a partir da Revolução Científica (séc. XVII). Naquele contexto, o conceito de “método” tinha grande peso, sendo a indicação do caminho a ser seguido para o alcance do conhecimento verdadeiro. Do mesmo modo que as ciências da natureza batalhavam pelo estabelecimento do método rigoroso, que permitisse o conhecimento das regularidades no mundo natural, as teorias antropológicas buscavam trazer à luz as regularidades relacionadas àquilo que é o ser humano. A tendência naturalista pode ser caracterizada pela “tentativa de adequar as ciências humanas ao método das ciências da natureza, que se baseia na experimentação, no controle e na generalização”. (ARANHA, 2006, p. 153) Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 26 de 68 Histórico-social: baseada nas filosofias de diversos pensadores contemporâneos, a ideia de “existência histórica” é chave para sua compreensão. O entendimento é o d e que o ser humano apenas pode ser compreendido dentro de um contexto, que não é único; significa saber que o homem é sempre influenciado pela realidade que o cerca, com suas características históricas. Tal realidade é mutável e se desenvolve no tempo, alterando as condições de desenvolvimento do homem. Vale destacar a: “ênfase do processo (nada é estático), na contradição (não há linearidade no desenvolvimento, que resulta do embate e do conflito) e no caráter social do engendramento humano (permeado pelas relações humanas e que por isso se expressa de modos diferentes ao longo da história).” (ARANHA, 2006, p. 154) O ser humano ainda pode ser pensado a partir de diferentes elementos que constituem seu modo de existir. Como referência, aqui é tomada a obra “O Homem, quem é ele?”, de Battista Mondin (1980), para desenvolver aquilo que o autor chamou de fenomenologia do homem. O homem é corpo (homo somaticus) e apenas consegue entender a si mesmo como corpo. Esta dimensão física faz com que ele interaja com o mundo que o cerca, dando condições de intervir na realidade. Mas, antes de sair de si em direção ao mundo, é o próprio mundo que vem ao homem pelo corpo, quando, pelos sentidos, é possível perceber a realidade. Este mesmo corpo também indica o estado de espírito, pelo modo como ele pode ser percebido (postura, condições de saúde etc.).É ainda por meio de seu corpo, enquanto limitação, que o ser humano transcende e pode pensar algo além; uma função ascética pode ser entendida quando o controle do corpo reforça a humanidade do homem. O homem é um ser vivente (homo vivens):“e\e é humano enquanto é vivo. Enquanto, porém, o fenômeno da vida é um dado certo e óbvio, o seu significado, a sua verdadeira natureza e a sua origem são coisas muito complexas, obscuras e misteriosas” (MONDIN, 1980, p. 43). O ser humano não apenas vive, mas tem consciência de tal fato, e a interpretação que dá ao seu viver é o que lhe permite ter determinadas experiências. Viver é um mistério, pois a vida não pode ser reduzida a mera função mecânica de elementos que se combinam de certa forma. Por meio da vida, é possível transcender para além do corpóreo até o espiritual. O homem conhece (homo sapiens) de diferentes modos, seja por meio dos sentidos, da intuição ou da razão. O conhecimento é a relação que se estabelece entre o homem - como sujeito - e tudo o que ele pode pensar – como objeto. O conhecimento é a apreensão mental que permite ao homem certa segurança em seu existir. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 27 de 68 O homem é um ser de vontade (homo volens). Ainda que motivado por diversos elementos e ocorrências, o homem sempre age a partir de uma decisão; não há determinismo que o faça seguir ações pré-traçadas. O homem escolhe e sabe que pode assim fazer, pois é dotado de liberdade. Mesmo sem problematizar aqui o que seja tal liberdade, o homem sabe que pode fazer o que desejar; as consequências de sua decisão e de sua ação é que podem trazer-lhe problemas. A angústia relacionada à vontade vem da tamanha liberdade do homem, pois não necessariamente ele vai desejar o que é permitido no âmbito do social. O homem é um ser de linguagem (homo loquens), e ele fala justamente por estar no âmbito da linguagem - ele não cria a linguagem, simplesmente está nela. Pela linguagem, o homem nomeia seu mundo e comunica a percepção que tem dele. Linguagem não é língua, seja falada ou escrita, mas é a possibilidade de interagir com o mundo circundante; é a possibilidade de nomear e de instituir o mundo. O homem é um ser social e político (homo socialis), e tal característica aponta para a possibilidade que o ser humano tem de conviver com seus semelhantes e desenvolver uma vida que seja pautada pelas necessidades do grupo, e não apenas do indivíduo. Por conta de tal situação, regras são pensadas e leis elaboradas para que seja possível a realização coletiva. O homem recebe a vida da sociedade e nela se insere, de tal modo que a vida do indivíduo não pode ser entendida fora do âmbito do social. O homem é um ser cultural (homo culturalis). Isto significa que ele produz cultura, ou seja, que ele recebe o mundo no que chamamos de natureza e o modifica; o mundo do homem é o mundo moldado àquilo que propriamente é o ser humano. A cultura, como produto do homem, é necessariamente ostensiva do seu ser. E isso é verdade não só no sentido mais óbvio e imediato que da cultura de um dado indivíduo ou de uma determinada sociedade é possível chegar ao seu ser mais profundo e tirar conclusões legítimas com relação a ele. (MONDIN, 1980, p. 189) O homem trabalha e produz (homo faber). O mundo não permanece do modo como se apresenta ao homem, pois este o transforma: o ser humano modifica o existente, mas mais que isto, ele dá existência àquilo que ele entende como necessário. Coisas, objetos e instrumentos são fabricados a partir das técnicas que, ao longo do tempo, foram desenvolvidas. O “triunfo da técnica tornou o homem o soberano da natureza, capaz de dominar as forças impetuosas e desfrutá-las para as próprias exigências” (MONDIN, 1980, p. 199). Com seu fazer, o ser humano conquistou a possibilidade de não simplesmente aceitar aquilo que o mundo lhe oferece, mas dar origem àquilo que é de seu desejo. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 28 de 68 Por outro lado, o homem também joga e se diverte (homo ludens). Apenas o ser humano joga e o objetivo do jogo “é o divertimento e nada mais do que o divertimento, e isso é suficiente para caracterizá-lo adequadamente, sem confundi- lo com o estudo, com o trabalho e com iniciativas de ordem estética” (MONDIN, 1980, p. 211). Por fim, mas não necessariamente o último elemento daquilo que é próprio do animal racional, o homem é um ser de religiosidade (homo religiosus). “Uma boa definição [de religião] (...) poderia ser a seguinte: ‘A religião é o conjunto de conhecimentos, de ações e de estruturas com que o homem exprime reconhecimento, dependência, veneração com relação ao Sagrado’” (MONDIN, 1980, p. 242). O ser humano não apenas tem crenças, mas também constrói um modo de organizar aquilo que é ideia comum relacionada à mesma crença. Você notou como o ser humano é muito mais complexo do que se costuma compreender? Ao falar sobre educação, você deve entender algo muito além do que simples regras de organização da educação instituída; é preciso pensar que, acima de tudo, o educar é cuidar para que aquilo que é o homem por inteiro possa se desenvolver. Todas as concepções aqui apresentadas marcaram de modo singular a construção das diversas teorias contemporâneas da educação. Se a formação do educador não passar pelo conhecimento antropológico-e, aqui, falamos da antropologia filosófica -, corre-se o risco de que a educação seja entendida como algo certeiro e último em seus objetivos, algo mecânico como uma técnica que simplesmente deve ser aprendida para ser executada. Ao aprender antropologia, o próprio educador identifica e revê suas concepções antropológicas. Ascética: ascese significa ação humana que busca alcançar as virtudes consideradas como superiores. Cultura: aquilo que é relacionado ao espírito humano; o conjunto de criações que marca o que é o âmbito do humano. Também pode ser entendida como fatores de requinte e de sensibilidade humana aos quais se chega (“ele é um ‘homem de Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 29 de 68 cultura’.”); e, ainda, pode ser pensada em oposição ao conceito de natureza (Cf. JAPIASSÚ, 1996, p. 61). Determinismo: a ideia de que existe, a partir de uma “essência humana”, um caminho pré-determinado para o homem. Nesse sentido, o homem não seria livre para fazer o que simplesmente quisesse, mas obedeceria sempre a fatores determinantes dos quais não poderia escapar. Essência: aquilo que faz com que algo seja o que é (“o homem é homem por ter a essência de homem”). Pode ser pensada como aquilo que, se for retirado de algo, este algo deixa de ser o que é; muitas vezes é pensada em oposição a “existência”. Fenômeno: aquilo que de algum modo aparece, que se mostra, à consciência. Interpretado de diversos modos ao longo da história do pensamento, pode ser entendido como o real (“aquilo que aparece é a realidade”) ou como imagem (“aquilo que aparece é imagem daquilo que realmente é”). Fenomenologia: de modo geral, é a reflexão sobre aquilo que foi entendido por “fenômeno” de acordo com cada época. Por exemplo, a fenomenologia em Kant trata do fenômeno como aquilo que aparece das coisas (que podem não ser as coisas mesmas); de outro lado, a fenomenologia em Husserl deve ser entendida como a ciência das essências. Teoria: conjunto de argumentos demonstrados racionalmente, com a finalidade de fundamentar determinada concepção; por exemplo, a teoria da relatividadeé um conjunto de demonstrações que têm o objetivo de corroborar uma ideia sobre a realidade. Transcender: ir além do que é entendido como limite, o que ultrapassa. Em alguns casos, a transcendência é entendida como algo superior à realidade humana. A pedagogia no Século XVIII - O Iluminismo e a Educação O iluminismo foi um Movimento Intelectual que ocorreu durante o século XVIII, na Inglaterra, França, Itália e Alemanha, e pretendia criar uma nova Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 30 de 68 sociedade, focada na Razão e na Ciência, criticando o dogmatismo e as doutrinas religiosas tradicionais. De acordo com Marrach (2009, p. 38), “é um pensamento que trabalha com paradoxos e dicotomias: razão e fé, luzes e sombra, ilustração e ignorância, direitos e privilégios, contrato social e absolutismo etc.”. O iluminismo trouxe consigo a consagração dos direitos civis e a ideia de renovar uma sociedade que até então colocava a fé enquanto o elemento central na vida humana. Com o foco na ciência e na razão, o iluminismo passa a oferecer aos indivíduos a possibilidade de desenvolvimento econômico e social a fim de que ocorra uma sociedade mais igualitária e elevada no âmbito cultural (BASSALOBRE, 2010). De acordo com Aranha (2006), essa exaltação em relação à razão advém do Renascimento, no processo da secularização da consciência que antes era impregnada pela religiosidade medieval. Esse movimento foi permeado pelo debate existente entre empirismo e racionalismo: No racionalismo, o Iluminismo, encontrou seu método crítico e uma atitude demolidora da tradição, para alcançar a luz, a clareza e a distinção da razão. Já o empirismo, proporcionou procedimentos simples para a construção da realidade mediante o mecanicismo e o associacionismo (ZENI, 2010, p.4). De forma geral essa frase expressa perfeitamente o ideal iluminista: “Conquistar as almas, livrá-las das superstições e do mito, dar-lhes as luzes da razão e da ciência, erradicar o obscurantismo, conscientizar são os objetivos do Iluminismo e da Pedagogia” (MARRACH, 2009, p.39). No que concerne à educação, Zeni (2010) observa que neste período ocorreu uma ampla potencialização do problema educativo, o qual foi posto cada vez mais no centro da vida social. A escola aqui desponta como um espaço no qual os indivíduos irão se constituir enquanto cidadãos, e a proposta do conhecimento/educação para todos os extratos sociais era a forma ideal para melhorar a sociedade e torná-la mais justa, compreensiva e digna (BASSALOBRE, 2010). Aqui, torna-se claro a posição defendida por Marrach (2009), ao afirmar que nota-se que a pedagogia iluminista sai do campo do filosófico para entrar no campo Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 31 de 68 político, rompendo com a ideia de educação elitizada e enciclopédica, deixando de ser privilégio de alguns, para se tornar direito de todos. Um dos esforços principais do iluminismo foi tornar a escola leiga e função do Estado, recomendando-se ainda que utilizassem as línguas vernáculas ao invés do latim, assim como, a predominância de uma pedagogia mais prática, focando as ciências, técnicas e oficios em detrimento do estudo estritamente das ciências humanas (ARANHA, 2006). São os iluministas, de fato, que delineiam uma renovação dos fins da educação, bem como dos métodos e depois das instituições, em primeiro lugar da escola, que deve reorganizar-se sobre bases estatais e segundo finalidades civis, devendo promover programas de estudo radicalmente novos, funcionais para a formação do homem moderno (mais livre, mais ativo, mais responsável na sociedade) e nutridos de “espírito burguês” (utilitário e científico) (CAMBI, 1999, p.336apudZENI, 2010, p.3). De acordo com Zeni (2010) foi na França que o Iluminismo produziu as teorias pedagógicas mais inovadoras e mais orgânicas, exprimindo também as soluções mais radicais. Entre os principais nomes que, embora não educadores, consideravam o ensino como veículo importante da razão no combate ao obscurantismo religioso, pode-se citar: Diderot, DAIembert, Voltaire, Helvetius e Rousseau, o qual será apresentado com mais detalhes a seguir. A pedagogia de Rousseau Entre as principais obras de Jean-Jacques Rousseau destacam-se “Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens”, “Do Contrato Social” e “Emílio ou da Educação”. De acordo com Aranha (2006), Rousseau ocupou um papel de destaque na filosofia política, visto que suas obras antecipam o ideário da Revolução Francesa, assim como no campo educacional, visto que seu pensamento irá constituir um marco na pedagogia contemporânea. Basicamente, sua teoria política parte do pressuposto de que o indivíduo em estado de natureza é bom, mas com o tempo, a sociedade o corrompe e elimina sua liberdade. Dessa forma ele prevê a existência de um pacto social, que institua um governo que não resulte na submissão do povo a ele, defendendo assim, a democracia direta: os governantes apenas executam a vontade do povo. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 32 de 68 O cidadão para Rousseau é um ser ativo, autônomo e soberano e seria pela educação que se alcançaria a soberania popular (ARANHA, 2006). Costuma-se dizer que Rousseau provocou uma revolução copernica na pedagogia: assim como Copérnico inverteu o modelo astronômico, retirando a Terra do centro, Rousseau centralizou os interesses pedagógicos no aluno e não mais no professor. Mais que isso, ressaltou a especificidade da criança, que não devia ser mais encarada como um adulto em miniatura (ARANHA, 2006, p. 208). Dessa forma, pode-se compreender a importância que Rousseau possui para a educação: retirando o foco da formação do indivíduo para Deus, para colocá-lo na formação do indivíduo para si mesmo. E mediante isso, a educação agora passa a ser centrada nos interesses do aluno e não mais no do professor. Em sua obra sobre a Educação, “Emílio” o autor ressalta a importância de se buscar a sua verdadeira natureza, ou seja, a sua vocação. Ele considera importante dois tipos de educação (ARANHA, 2006). Educação Natural Na pedagogia naturalista de Rousseau deve-se buscar a espontaneidade original, livre da escravidão aos hábitos exteriores, garantindo que o indivíduo seja autônomo, dono de si mesmo. A educação natural procura-se afastar do intelectualismo forçado, visto que as pessoas também possuem sentidos, emoções, instintos e sentimentos, os quais são até mesmo anteriores ao pensar. Educação Negativa Por ser desconfiado da sociedade existente, Rousseau acreditava ser importante o preceptor afastar a criança do mundo corrompido, abstendo-se de abordar questões como a virtude e a verdade, a fim de não criar preconceitos e hábitos que impeçam o florescimento espontâneo da natureza da criança. De modo geral, para Rousseau o professor não deve impor o saber a criança, mas em contrapartida, não pode deixá-la por si só: é necessário haver um equilíbrio. Aprendendo a controlar-se no mundo físico e nas relações com as pessoas, aos 15 anos começa para o jovem a educação moral propriamente dita. De posse da verdadeira razão, só então ele poderá observar as pessoas e suas paixões e também iniciar a instrução religiosa, porque falar precocemente de Deus com a criança é apenas lhe ensinar idolatria (ARANHA, 2006, p. 2009). Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – FundamentosFilosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 33 de 68 A pedagogia de Rousseau sofreu algumas críticas, ora por ser elitista, ora por defender demais a educação focada no indivíduo, separando-o da sociedade em que está inserido. No entanto, cabe lembrar que sua teoria é feita em cima de abstração metodológica sobre uma situação ideal, com o intuito de formular sua teoria pedagógica. As críticas também não eliminam o fato de que para Aranha (2006) este filósofo é considerado um opositor da educação de seu tempo, autoritária e com o intuito de adestrar as crianças, e que abriu caminho para as pedagogias do final do século XIX, recuperando as forças originais da criança. A pedagogia em Kant Immanuel Kant foi o principal filosófico iluminista. Este alemão foi responsável por revolucionara maneira de pensar de sua época, ao afirmar ser impossível a existência de uma razão pura independente da experiência, assim como, o fato da própria experiência não se concretizar sem as formas a priori da razão (ARANHA, 2006). Também é responsável por delinear modelos pedagógicos inovadores e de grande empenho filosófico. Assim como para Rousseau, para Kant o sujeito também é colocado no centro da renovação pedagógica (ZENI, 2010). Para Kant é através da consciência moral que o ser humano rege sua vida prática, conforme alguns princípios racionais. Ao mesmo tempo, a lei moral resultará da luta interior entre apreços individuais e o ideal do dever. Kant define a autonomia em oposição a heteronomia, ou seja, quando agimos pensando ou motivados por fatores ou consequências externas e imediatas de nossos atos e seguimos certas determinações por mera inclinação ou interesse estamos sendo, para Kant, heterônomos. Por outro lado, quando decidimos seguir certas regras ou normas por vontade própria independente de fatores externos e imediatos estamos sendo autônomos. Autonomia, por sua vez exige uma reflexão crítica, e uma determinação que parta diretamente do próprio indivíduo. Com isso, pode-se entender a autonomia como a capacidade de cada um de guiar-se por sua própria razão de forma crítica e reflexiva, independente de ter seu entendimento motivado por uma coerção externa (ZENI, 2010, p.15). Esse caráter moral é formado pela educação, e assim, esse filósofo dá início a uma pedagogia rigorista, destinada a formar um homem universal e racional, marcado pelo “caráter” e pelo domínio que nele exerce a racionalidade universal (ZENI, 2010). Para Kant o indivíduo deve se libertar da tradição e da autoridade. No início, a criança é enviada para escola não para aprender conteúdo, mas sim para que observe o que lhes é ordenado, a fim de que ela aprenda a agir com Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 34 de 68 planos e pela submissão as regras. Aliando liberdade e educação, Kant redefiniu a relação pedagógica, onde o aluno deve aprender a pensar por si mesmo (ARANHA, 2006): “Pensar por si mesmo significa procurar em si próprio (isto é, na sua própria razão) a suprema pedra de toque da verdade; e a máxima de pensar sempre por si mesmo é a Ilustração” (ZENI, 2010, p.11). Assim como Rousseau, Kant também se preocupa com os riscos da idolatria religiosa inculcada nas crianças desde cedo, salientando assim, a importância de uma educação laica. Aranha (2006) afirma que seus princípios da educação serão reexaminados no século XX por diversos pensadores da área da educação. A pedagogia de Pestalozzi Por fim, o último pensador a ser estudado neste tema, Johann Heinrich Pestalozzi, é um suíço-alemão que embora não seja um filósofo iluminista, trabalhou com a educação no século XVIII e foi um grande estudioso de Rousseau. De acordo com Zanatta (2012), Pestalozzi elaborou sua proposta pedagógica utilizando de Rousseau a ideia da concepção da educação como um processo que deve seguir a natureza, assim como, princípios como a liberdade, a bondade inata do ser e a personalidade individual de cada criança. Para essa autora, as ideias de Pestalozzi demarcam a vertente da pedagogia tradicional, a chamada Pedagogia Intuitiva, que possui como característica dados sensíveis a percepção e a observação dos alunos: afinal, toda a vida mental se estrutura a partir dos dados dos sentidos, do concreto. Para Pestalozzi a finalidade da educação seria a cultivo da mente, do sentimento e do caráter, e o ensino promoveria a percepção das coisas e dos objetos naturais, por meio do contato direto e da intuição. O centro dessa pedagogia é o professor (ZANATTA, 2012). Em relação à religião, o autor é a favor de uma experiência religiosa íntima e não confessional e, portanto, aquela experiência que não se submete a dogmas e a seitas. O objetivo principal de Pestalozzi era descobrir leis que propiciassem o desenvolvimento integral da criança, e dessa forma, o pedagogo previa uma educação que envolvesse a ligação das dimensões intelectuais, profissionais e morais. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 35 de 68 Assim como para Rousseau, a criança tem potencialidades inatas que serão desenvolvidas até a maturidade: “semelhante a um jardineiro o professor não pode forçar o aluno, mas ministrar a instrução de acordo com o grau do poder crescente da criança” (ARANHA, 2006, p.212). Segundo Pestalozzi (1946), um dos princípios básicos do ensino consistia no desenvolvimento das capacidades em sintonia com a aquisição do conhecimento, o que pressupunha a aprendizagem como um processo espontâneo resultante de uma atividade livre, um produto vivo e original. Para tanto, o professor deveria buscar seu material no próprio meio que envolve o aluno, ou seja, em uma situação real (ZANATTA, 2012, p. 107) A principal crítica que se faz à Pedagogia de Pestalozzi é em relação à posição passiva dos alunos, que apenas assimila os conhecimentos transmitidos, ou seja, o aluno não age sobre o conhecimento, não o integra plenamente, visto que não o manipulou com as mãos e com o cérebro (ZANATTA, 2012). No entanto, seu trabalho foi considerado inovador, reconhecedor da função social do ensino e exerceu profundas influências na Europa e Estados Unidos. Copérnico: Nicolau Copérnico (1473-1543) foi o astrônomo que desenvolveu a teoria Heliocêntrica do sistema solar, ou seja, afirmou que o centro do sistema solar era o Sol e não a Terra, conforme pensamento da época. Jean-Jacques Rousseau: filósofo natural da Suíça, que viveu em Paris no século XVIII, e possuía uma visão menos racionalista do que os pensadores da época, estando mais voltado para a natureza e os sentimentos (ARANHA, 2006). Renascimento: período que ocorreu aproximadamente entre o final do século XIV e início do século XVII, e caracterizou-se principalmente pela transição do feudalismo para o capitalismo. Revolução Francesa: ocorreu na França em 1789 e foi inspirada pelos iluministas que enalteceram os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 36 de 68 Século XVIII: conhecido como século das Luzes, iluminismo ou Ilustração. Luzes aqui possui o significado do poder da razão humana para interpretar e reorganizar o mundo (ARANHA, 2006). Quando se estuda a História da Filosofia, nos vários períodos podem ser indicados elementos que marcam o pensamento de uma época; a partir de tais elementos, cria-se um conceito. Por exemplo, pensar a filosofia da Idade Média como aquela que se desenvolveu especialmenteno que respondia aos interesses religiosos ou então a filosofia da Idade Moderna, que trazia o ideal de racionalidade extrema etc. Porém, não é fácil fazer o mesmo com relação à filosofia contemporânea, pois se trata de um período no qual as diversas linhas de pensamento oferecem seus elementos para o entendimento das questões. (...) o homem racional [Idade Moderna], afastado de uma porção significativa e constitutiva do seu si mesmo, se reduz a um modelo excessivamente autocentrado, afastado dos afetos, dos instintos, do corpo, e aprisionado, cada vez mais, na linguagem e na moral. (MOSÉ, 2012, p. 130-131) Deste modo, para se pensar o início da filosofia contemporânea, são os movimentos de retomada dos conceitos deixados de lado pela filosofia moderna, a saber, vida, sentimento, Deus etc. A realidade como um todo passou a ser reavaliada, de modo a ser entendida não mais na rigidez da razão, mas dando vazão ao sentimento pela vida. Um primeiro nome significativo é o de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770- 1831); de certo modo, este autor inaugura o pensamento da filosofia contemporânea. Este filósofo construiu um grande sistema filosófico; você sabe o que seria isto? Hegel desenvolveu uma reflexão que buscava abarcar toda a realidade; neste sentido, seu construto teórico é um grande conjunto de ideias organizadas sistemicamente. Assim, no sistema hegeliano podem ser encontradas Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 37 de 68 temáticas desde as físicas até as biológicas, passando pela lógica, pelo direito, pela metafísica, pela história e pela arte, dentre outras. Hegel reflete sobre o sentido da História; para ele, os fatos históricos se dão não de forma aleatória, mas seguindo um curso determinado pelo próprio acontecer histórico. Ou seja, um determinado momento histórico apenas ocorre por conta das condições dadas pelo momento anterior. Tente olhar para a história inteira da humanidade; você consegue enxergar um fio condutor de sentido? Este é o intento de Hegel em sua obra. Cada momento histórico é a manifestação do Espírito - que pode ser entendido como o “espírito de uma época”. A realidade concreta é possibilitada pela consciência do ser humano em um tempo específico. O entendimento do tempo como um passar de momentos históricos sempre guiado por um fio condutor mostra, segundo o autor, que os momentos vão se sucedendo trazendo algo do antecessor e abrindo as portas para o momento seguinte. A este movimento da realidade, Hegel chamou de dialética: momentos que vão se dando em contraposição àquilo que foi o anterior. Perceba de que modo a figura de Deus aparece: o sentido da História deve ser entendido como a realização do Espírito Absoluto; este, por sua vez, se manifesta pelo espírito de uma época. No fundo, o pensador quer mostrar que a realidade histórica concreta, material, é dirigida pela consciência - o homem constrói seu contexto material dirigido pelo Espírito. a ‘formação-educação’ (Bildung) é o resultado do processo de desenvolvimento do espírito: o espírito absoluto (Deus), ao longo do processo histórico, compreendeu a si mesmo e a natureza, tornando-se livre, ou seja, autoconsciente. Do mesmo modo, o homem, que é espírito e matéria, torna-se espírito completo - livre – por meio [mediação] do processo educativo (Erziehung) (...) (MAZZOTTI, 2014, p. 1) Assim, a educação é a tentativa de fazer com que o ser humano alcance sua realização naquilo que é possibilitado pelo seu tempo, pelo Espírito de uma época. É observável aqui certo determinismo, pois não há liberdade plena, já que a realidade deve ser pensada apenas como materialização daquilo que é o Espírito Absoluto em suas manifestações. Isso indica que a realidade material da sociedade - e, assim, da educação - é apenas fruto de um ideal já dado. Advindo do movimento chamado esquerda hegeliana, aparece Karl Marx (1818-1883), que conserva elementos do pensamento de Hegel, porém questiona diversos outros, apresentando nova reflexão sobre a realidade. Marx discorda do Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 38 de 68 idealismo de Hegel, enquanto preserva a noção de linearidade e finalidade da história. Contrariamente à filosofia alemã [pensamento hegeliano], que desce do céu para a terra, aqui parte-se da terra para atingir o céu. Isto significa que não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo que são nas palavras, no pensamento na imaginação e na representação de outrem para chegar aos homens em carne e osso; parte-se dos homens, da sua atividade real. É a partir do seu processo de vida real que se representa o desenvolvimento dos reflexos e das repercussões ideológicas deste processo vital. (MARX, 2014, p. 21) O pensador propõe uma reflexão que não seja imposta por uma suposta ideia superior à realidade (Espírito Absoluto), pois, para ele, as ideias são construídas pela a realidade na qual os homens vivem. Não é pensada uma ideia de homem que deva ser realizada pela educação, por exemplo; a questão a ser feita é sobre o porquê determinada ideia de homem foi construída. Toda ideia vem daquilo que o homem vive em sua realidade material. Quando se fala de “homem” é preciso pensar no homem real e concreto que luta para garantir sua sobrevivência material. Neste ponto, o pensamento de Marx auxilia o educador a pensar a educação como não simples reprodutora de um poder vigente. Você enxerga isso? Quando é adotada uma visão com base no pensamento hegeliano, a educação pode ser entendida como realização de um processo histórico que deve ocorrer necessariamente de determinado modo, por ser consequência de um momento anterior. Educação seria a tentativa de construção de um ideal de homem, independendo da realidade material. O que Marx propõe é o contrário, que o homem real seja pensado. Este homem realiza sua existência a partir das condições materiais que o contexto oferece, no qual há luta de classes, luta entre os que têm poder e os desprovidos dele. Educar é fazer este homem entender que não deve simplesmente aceitar as condições materiais do contexto no qual nasceu, mas deve ter maior consciência da realidade para que, assim, possa lutar por melhores condições de vida. Nesta retomada da “vida vivida” da contemporaneidade, deve ser visto o pensamento de Friedrich Nietzsche (1844 1900), que entendia a necessidade de “valorizar as forças inconscientes, vitais, instintivas, subjugadas pela razão durante séculos” (ARANHA, 2006, p. 216). A ideia central relacionada à educação é a de que a sociedade, com o modelo racionalista, não educa o homem para viver verdadeiramente, pois a censura da razão cerceia a vida em sua plenitude. Em seu contexto, a educação poderia ser entendida como simples erudição sem conteúdo de vida. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 39 de 68 A crítica de Nietzsche à escola tradicional de seu tempo se referia aos fundamentos do educar, àquilo que se entendia como vida humana. Viver, para o autor, é sentir a vida em seus sabores e dissabores; significa sustentar a si próprio em meio ao turbilhão de situações não previsíveis que se dão de modo não determinado. Não necessariamente há causas que devam ser buscadas. A linearidade do pensamento causai nos fez perder a noção da complexidade das coisas; raciocinamos de forma restrita, rasteira, a partir de uma linha, um fio que deve ser eternamente seguido; ao assumirmos uma linha interpretativa, esquecemos o mundocom suas múltiplas e complexas conexões, e tudo se torna raso, rasteiro, o que leva a um discurso restrito. Pensamos sempre dominados pela busca por causalidade, por uma vontade de encontrar um culpado, um responsável pelas perdas e dores que vivemos. Mas o fato é que perdemos, independentemente das causas, porque a vida é uma sequência de vida e morte, de ganhos e perdas. (MOSÉ, 2012, p.162) É neste sentido que Nietzsche critica uma educação que engessa a vida humana. Você entendeu que falar da filosofia da educação não significa falar exclusivamente de filósofos, mas - e, de modo especial - falar de todos os pensadores que ofereceram elementos novos, a partir dos quais pudesse ser repensado o ato educativo? Pensando especificamente em pedagogos do período em questão, dois importantes nomes a serem trazidos são os de Johann Friedrich Herbart (1776- 1814) e Friedrich Frõbel (1782-1852). Herbart assume (...) uma posição intelectualista que privilegia o conhecimento, enquanto o sentir e o querer são vistos como funções secundárias e derivadas do processo ideativo. Sob esse aspecto, o pensamento de Herbart se coloca em oposição à onda romântica do seu século. (ARANHA, 2006, p.215) De modo geral, Herbart entende que a criança precisa de uma autoridade que possa dirigir suas ações, de modo a fazer com que se compreenda e se realize aquilo que é a vida em sociedade. Primeiramente com os pais e, depois, com os professores, a criança deve aprender o significado do que seja o bem agir. A instrução é que oferece a possibilidade de um pensamento melhorado e, assim, de uma “vontade esclarecida”; para o autor, o objetivo da educação é a ética, a boa ação do indivíduo, e o meio para se alcançá-lo é a psicologia, na construção de valores e sentidos diante da realidade humana e social. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 40 de 68 Com Herbart, a pedagogia começa a ganhar contornos de ciência, buscando estabelecer o que deveria ser o método da pedagogia. Tomando por base três procedimentos, o governo (controle da agitação da criança), a instrução (elementos que possam desenvolver certos interesses) e a disciplina (para manter a criança no caminho da moral), o autor estabelece o que deveria ser o método de instrução: Preparação: o educador faz o aluno trazer à consciência aquilo que ele já sabe. Apresentação: um novo conteúdo é apresentado, a partir do concreto. Assimilação: o aluno compara o conhecimento antigo com o novo. Generalização: o aluno abstrai da experiência concreta, passando a entender conceitos mais gerais. Aplicação: por meio de atividades e exercícios, o aluno deixa claro saber se utilizar do novo conhecimento. Assim, a pedagogia de Herbart apresenta-se com o objetivo de instruir o homem para sua vivência moral. Observe a clara necessidade que, em sua teoria, a pedagogia tem da experiência concreta, não ficando apenas nas elaborações teóricas; tal ideia justifica a existência dos colégios de aplicação, para se colocar as teorias pedagógicas em prática. Ainda no início do pensamento contemporâneo, as ideias de Frõbel marcaram a história da pedagogia; para ele, o processo educativo deve iniciar-se desde a primeira infância. É dentro dessa perspectiva que idealizou os Jardins da Infância, pois eles visam cultivar, desde essa idade, as aptidões da criança para que se torne um homem completo, para que desenvolva plenamente as disposições humanas criadoras nela inerentes. O educando deve receber cuidados e alimentação adequados para esse desenvolvimento se realizar num processo contínuo e propício. Cabe ao educador estimular esse processo. (GILES, 1983, p. 85) Esta ideia do “jardim da infância” mostra claramente de que modo deve ser entendida a formação da criança: ela naturalmente se desenvolve, como uma planta; para que seja um desenvolvimento completo, é preciso que sejam dadas as condições necessárias. A atuação do educador deve ser diretamente neste ponto: possibilitar as Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 41 de 68 condições para o desenvolvimento natural da criança, considerando sempre suas necessidades e tendências concretas. Para o pensador, o homem é criação de Deus e, assim, tem uma essência. Ao longo da vida, este homem deve encontrar e realizar tal essência - isto significa cultivar aquilo que é seu mais íntimo ser. No ato educativo, o professor é quem deve fazer com que o ser humano, desde sua infância, se desenvolva; a criança é como uma semente. Quando bem cultivada, a semente pode se realizar e assumir seu papel no jardim; no caso da criança, quando bem educada, ela pode assumir seu papel na sociedade e na criação como um todo. A tríade Deus, Natureza e Humanidade é inseparável em uma unidade vital - nesta unidade a educação deve ser pautada. Agir pensando e pensar agindo era, para Froebel, o melhor método para evitar que o ensino por demais abstrato prejudicasse o desenvolvimento dos talentos dos alunos. Esse método preconizado por Froebel levaria os alunos à compreensão da tríade que guia todas as suas vidas abrindo, portanto, as portas para se atingir a perfeição como ser humano. (ARCE, 2004, p.12) Sistema: pode ser entendido como um conjunto de idéias, pensamentos e teses que são articulados de modo a encontrar uma unidade teórica. “Sistema é um termo mais amplo que teoria: o sistema de um autor é o conjunto de suas teorias, na medida em que elas se ligam entre si e remetem uma à outra.” (JAPIASSÚ & MARCONDES, 1996, p. 250) Dialética: conceito desenvolvido desde os primeiros pensadores da filosofia; refere- se à ideia de sucessão de momentos ou ideias, trazendo a noção de movimento no passar de uma ideia a outra. Pode ser entendida como a contraposição existente nos elementos, fazendo que estes deem origem ao momento seguinte. Por exemplo, em Hegel, pode ser vista a dialética ideal, enquanto em Marx, pode ser vista a dialética material para se entender a história. Esquerda hegeliana: grupo de estudantes e professores que, após a morte de Hegel, questionaram muitos dos elementos de sua filosofia; opunham-se à direita hegeliana, movimento que objetivara simplesmente prosseguir no Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 42 de 68 desenvolvimento das ideias de Hegel. Exemplos de autores da esquerda foram Feuerbach e Marx. Idealismo: “Na tradição filosófica, o idealismo se opõe fundamentalmente ao materialismo, na medida em que, para ele, o universo se reduz, seja a dois princípios heterogêneos, a matéria e o pensamento, seja a um único princípio, o pensamento. Neste caso, os objetos materiais são apenas representações de nosso espírito (JAPIASSÚ & MARCONDES, 1996, p. 135) O auge do idealismo alemão se deu com Hegel, da Idade Contemporânea. Erudição: saber teórico aprofundado em determinada área do conhecimento e que não tem a necessidade da experiência; refere-se ao amplo conhecimento cultural e difere da sabedoria por não apresentar elementos relacionados à experiência de vida. Quanto mais próximos no tempo sujeito e objeto estiverem do conhecimento, mais difícil é delimitar conceitos relacionados a uma época. Isto significa que quanto mais se avança no tempo, chegando à contemporaneidade ocidental, mais complicado é para o estudante fechar um conceito do que é o período estudado, pois há pouco distanciamento entre realidade do estudante e a realidade dos pensamentos estudados. A época contemporânea tem como característicauma proliferação de imagens- ideais que vão desde o modelo revolucionário, o modelo existencialista, até o modelo analítico (...) Diante de tantos conceitos, pode-se perguntar se o processo educativo contemporâneo fundamenta-se em alguma imagem ideal específica do homem, ou se a sua característica consiste em não preconizar ou privilegiar nenhuma delas. (GILES, 1983, p. 87) Você enxerga a complexidade que se dá em tal situação de múltiplos paradigmas e imagens? Mas, do mesmo modo, é preciso entender a importância de tal fato, pois significa não haver uma ideia que seja única e inquestionável. Não é problema haver diversas ideias; pelo contrário, é grande problema não ter parâmetros para se escolher determinada ideia e buscar sua realização. Dentre as Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 43 de 68 opções ideais, considerando-se o ponto ao qual chegou à problematização sobre o educar, o homem contemporâneo tem condições de escolher e traçar um caminho de ação. O pensamento contemporâneo, questionando as ideias de séculos anteriores, apresenta uma cisão entre o que foi entendido como “escola tradicional” e a proposta do que seria a “escola nova”. Sob essa denominação [escola tradicional] articulam-se as mais diversas tendências no decorrer de pelo menos quatro ou cinco séculos, desde o século XVI até o século XX, período em que a escola tradicional sofreu inúmeras críticas e transformações. Por conta da sua avaliação negativa, sobretudo pelas pedagogias inovadoras do século XX, é vista com desprezo na sua totalidade e muitas vezes de maneira caricaturada. (ARANHA, 2006, p. 224) A escola tradicional pode ser pensada a partir de alguns elementos basilares, ainda que se trate de vasto período de tempo. Na relação de ensino, é o professor que ganha importância como sujeito a quem cabe a plena realização do ato educativo; o professor detém o saber e, assim, a autoridade. O modelo de aula é o expositivo, sendo apresentado conteúdo que deve ser assimilado (gravado) a partir de exercícios de repetição; não há especificidade de cada aluno a ser considerada, pois todos são iguais. O conteúdo ministrado objetiva preencher um vazio com o conhecimento alcançado ao longo do tempo. A avaliação na escola tradicional é entendida como verificação da quantidade de conteúdo apreendida pelo aluno. Tal sistema se realiza sob vigilância e disciplina. A nova concepção de realidade histórica e social, com a contribuição trazida pelo desenvolvimento das diversas ciências (das humanidades até as exatas, passando pela área biológica), levou os pensadores contemporâneos ao estabelecimento de novo entendimento sobre a educação. A realidade passou a ser vista em sua dinamicidade, não permitindo modelos imutáveis a partir dos quais devesse ser realizada a vida humana; deste modo, o próprio ser humano passou a ser entendido não mais sob uma pretensa identificação de sua essência, mas a partir das diferenças e da inconstância da realidade humana individual. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 44 de 68 Deste modo, no ano de 1932 foi lançado um documento, assinado por um segmento da elite intelectual, intitulado Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Com tal documento - e se opondo à escola tradicional -, surgiu o movimento da Escola Nova, também chamada de pedagogia progressivista. Como renovação das bases de entendimento do que seja a educação, este movimento ganhou força na Europa e na América, e suas bases fundamentais podem ser encontradas nas ideias de Rousseau, Pestalozzi e Frõbel. O entendimento do aluno como centro do educar traz a criança como ser humano que deve ser considerado em sua integralidade, como criança. As especificidades da infância são importantes e apenas a partir delas a educação pode ser realizada plenamente. Em contraposição à escola tradicional, algumas características da Escola Nova devem ser pensadas. Na relação de ensino, o processo é centrado no aluno, sendo o professor o responsável por despertar o interesse e estimular o aluno para o aprendizado. Aprender a aprender é mais importante que simplesmente guardar um conteúdo transmitido pelo mestre. O conhecimento não é passado do professor para o aluno, mas é descoberta que o aluno faz por meio da experiência. O educando é considerado em suas particularidades e as atividades devem ser dirigidas pelas necessidades do indivíduo dentro do grupo. A avaliação passa a ser entendida como processo que deve ser apresentado pelo educador e compreendido pelo educando, ou seja, o aluno deve participar da avaliação de deu aprendizado, sempre buscando dar ao aluno as condições para conquistar a autonomia, não apenas intelectual, mas na prática cotidiana. Neste sentido, falar em prática é algo de singular importância para os pensadores escolanovistas. O conceito de “prática” vem do pragmatismo. O pragmatismo recusa os “sistemas fechados, com pretensões ao absoluto”, voltando-se para o concreto, para os fatos, para a ação. As teorias deixam de ser respostas definitivas aos problemas humanos, para se tornarem simples instrumentos, ou seja, a verdade não é rigidamente estabelecida de uma só vez e para sempre, mas muda, está sempre “se fazendo”. (ARANHA, 2006, p. 227) Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 45 de 68 Todo aprendizado apenas se torna importante quando é apresentado a prática para o qual se volta determinado conteúdo. “Dizer que ‘uma ideia tem seu valor pelos efeitos que ela produz’ é uma das máximas do pragmatismo, desde a origem.” (LIMA, 2011, p. 231) O pragmatismo na Escola Nova é, então, o entendimento de que todo conhecimento se torna significativo apenas quando, no fundo, estiver voltado para a ação, e esta ação, no educar, deve ser considerada a partir das individualidades. De modo singular, na América o pensador mais significativo da Escola Nova foi John Dewey (1859-1952), para quem é preciso pensar não simplesmente em proporcionar experiências ao educando, mas na qualidade de tais experiências. (...) assim como a aprendizagem, em contexto natural, requer interesse, esforço e direção, do mesmo modo, em contexto escolar, a integração estudante-currículo, marca da aprendizagem autêntica, pressupõe a participação ativa do sujeito. Na sala de aula, como na vida, o aprendente não pode ser considerado passivo e desinteressado, mas ativo e empenhado, pelo que a aprendizagem deve partir de problemas genuínos, que atraiam o interesse dos estudantes e despertem a sua motivação e memória (BRANCO, 2010, p. 605) A aprendizagem depende, então, do modo como a experiência é realizada, vivenciada, pelo educando. O aluno deve participar ativamente do processo educativo, significando as experiências; o conhecimento ganha sentido instrumental, servindo como elemento de resolução dos problemas surgidos da experiência. Deste modo, o currículo deve ser pensado a partir das necessidades vivenciais do aluno. Para John Dewey, o sentido da vida é sua própria continuidade, e essa continuidade só pode ser conseguida pela renovação constante. A sociedade se perpetua por um processo de transmissão, onde os mais jovens recebem dos mais velhos os hábitos de pensar, sentir e agir e, também, pela renovação da experiência, que tem por fim recriar toda a herança recebida. No mais amplo sentido, educação é o meio de continuidade e renovação da vida social e é o próprio processo da vida em comum, porque amplia e enriquecea experiência. (COTRIM, 1979, p. 285) É, então, a educação responsável por oferecer ao educando as experiências que trarão conhecimento necessário para sua vivência prática na sociedade, enquanto ser social. A escola tem de ser pensada como uma sociedade em miniatura, apresentando situações que exijam do aluno um conhecimento que possibilitará a resolução de problemas na sociedade real. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 46 de 68 O aluno não apenas recebe determinada experiência, mas tem papel ativo pelas relações estabelecidas entre o sujeito e o meio (natural ou social). A educação permite à sociedade subsistir, no que ela conserva. Deste modo, a construção de uma sociedade democrática depende da realização de uma educação que seja unitária e democrática. Essa escola democrática tem a função de formar pessoas não como sabedoras das decisões que deverão tomar na vida, mas pessoas que estejam prontas para a ação, no sentido de que saibam buscar as respostas e, assim, possibilidades de caminho. E a democracia da qual fala o pensador não é simplesmente uma forma de governo, mas sim a possibilidade de criar uma experiência coletiva de participação social; é a experiência conjunta de vida, e uma experiência que é comunicada, é partilhada. Dewey não foi o único teórico da pedagogia progressivista, podendo ser citados outros, como, por exemplo, Edouard Claparède, Maria Montessori e Célestin Freinet. De modo singular, é preciso verificar de que modo tal pedagogia se fez presente no pensamento dos educadores no Brasil. Sob a influência do pensamento de Dewey, Anísio Teixeira (1900-1971) é referência para ser pensada a escola progressiva no Brasil. O autor entende a clara necessidade de que a educação seja pautada pelo conhecimento proporcionado pela ciência e pelo ensino dos valores da sociedade, mas ele critica o modo como isto é feito. É necessário fazer com que o aluno desenvolva uma postura diante do conhecimento, na busca por avançar sempre mais na conquista de autonomia. Teixeira foi defensor da escola pública, universal, laica, gratuita e unitária e, neste sentido, deve ser revista a base de entendimento do que seja a educação: um direito e não um privilégio. Tal ideia, na realidade brasileira se torna impactante, por ser uma sociedade que possibilita diferentes níveis de instrução para as diferentes classes sociais. Em Anísio Teixeira, a experiência é “um modo de existência” em que situação e indivíduo se transformam. A atividade educativa, portanto, promove a reorganização da experiência e investe na formação de processos conscientes, que não podem ocorrer sem controle, sem intervenção. No Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 47 de 68 entender desta filosofia, ao contrário dos que fazem dela uma leitura espontaneísta, o investimento da educação progressiva não é na falta de direção e sim no redirecionamento da forma de intervenção e no modo como a autoridade é utilizada. (LIMA, 2011, p. 231-232) No oferecimento de experiência significativa, que dirija o educando para a conquista de autonomia diante dos problemas que se farão presentes em sua vida, é que a educação deve se realizar. A falta de tal experiência faz com que as crianças cresçam e se tornem adultos despreparados e cheios de temor diante da vida social que se lhes apresenta. O objetivo da educação pública e gratuita visa diminuir as diferenças sociais, para que todos os educandos tenham as mesmas chances de desenvolvimento intelectual e cognitivo. A experiência muda o indivíduo em seu entendimento da realidade, mas não apenas ele se transforma: a própria situação é transformada. As experiências podem ser aleatórias, mas a escola deve ordená-las de modo a fazer com que o educando as signifique conscientemente. Você percebe que deve haver, então, uma interação entre indivíduo e situação? A criança deve ser educada para isso: entender de que modo sua ação influencia o meio no qual vive e, assim, a escola não pode objetivar apenas cuidar de oferecer conteúdos. É preciso destacar que a contribuição fundamental de Anísio Teixeira para a filosofia da educação está na defesa da dinâmica da democracia como motor educacional que, mesmo compondo discurso com certo nível de idealização, contém uma dinâmica prática, uma preocupação em operacionalizar e gerar as condições estruturais que viabilizem a ação educacional com tais fins, que acentuam o seu compromisso não só com o mundo das ideias, mas como homem de ação e fiel, portanto, ao pragmatismo que o inspira. (LIMA, 2011, p. 236) A sociedade justa e democrática deve ser construída pela renovação dos segmentos sociais; a educação unitária pode contribuir para tal renovação. O pensador entende que sua proposta não oferece as respostas prontas ou os caminhos totalmente delineados; o que ele busca é organizar o cenário educacional para que a democracia possa ser construída na interação entre o que o meio social oferece e a disposição dos sujeitos em agir. Apenas a educação tem condições de instruir o homem para que alcance autonomia e possa bem agir. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 48 de 68 Paradigma: é um modelo objetivado na realização de algo; modelo que serve como base de uma teoria, por exemplo. Pragmatismo: teoria filosófica que “valoriza a prática mais do que a teoria e considera que devemos dar mais importância às consequências e efeitos da ação do que a seus princípios e pressupostos.” (JAPIASSÚ & MARCONDES, 1996, p.218) Ao longo deste tema, diversas teorias são apresentadas e é importante perceber que as diferenças entre elas se devem, de modo claro, aos elementos sobre os quais elas estão assentadas. Isto quer dizer que a base de uma teoria já dá um direcionamento para seu desenvolvimento; as ideias iniciais dão o parâmetro do que será permitido ou requerido pela teoria. Mas, no fundo, tais ideias apenas podem ser originadas a partir de uma concepção do que seja a própria verdade. O que é a verdade no âmbito educacional? Você já se perguntou sobre o problema da verdade? Tal problema significa entender que o conceito de verdade não é algo claro, mas está na dependência de diversos fatores, sejam teóricos ou práticos. O entendimento do que seja a verdade depende de uma interpretação da realidade, não sendo possível assumir a verdade como algo pronto, determinado e alcançado pelo homem. Veja que não significa dizer que a verdade seja inalcançável, apenas constata-se que ela não foi alcançada. Assim, não existindo algo que tenha se mostrado como verdade última, ao longo do tempo, o homem assumiu diversos paradigmas a partir dos quais fosse possível desenvolver o pensamento sobre a realidade. Imagine o que, pela falta de uma verdade última, poderia ser construído pelo ser humano; pouco ou quase nada. Uma ideia de verdade, um paradigma para o entendimento do mundo, dá certa segurança ao existir humano em meio às incertezas e constantes transformações. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 49 de 68 Antes de propriamente falar do que seja a verdade, é preciso saber que existem diferentes posturas diante dela (você, com certeza, pode observar tais posturas no cotidiano). O dogmatismo é uma de tais posturas, pois entende a verdade como algo certo e cognoscível,ou seja, plenamente possível de ser compreendida e nada fora do seu conceito pode ser aceito (apenas a verdade do dogmático é a que vale) - há dogmáticos de fundamentação religiosa, outros de fundamentação científica e assim por diante. De modo quase contrário, outra postura é o ceticismo, que entende não ser possível assumir um determinado conceito de verdade, pois seriam necessários elementos que já se soubesse serem verdadeiros para corroborar a verdade de um conceito; cético é aquele que sempre encontra elementos de dúvida. Há ainda o relativismo, entendendo que a verdade não é alcançável de modo pleno pelo ser humano enquanto indivíduo. Desse modo, poderia ocorrer que diferentes pessoas conhecem diferentes aspectos do que se considera verdadeiro - aqui, a verdade é relativa. Para a atitude crítica ou filosófica, a verdade nasce da decisão e da deliberação de encontrá-la, da consciência da ignorância, do espanto, da admiração e do desejo de saber. Nessa busca, a Filosofia é herdeira de três grandes concepções da verdade: a do ver-perceber, a do falar-dizer e a do crer-confiar (CHAUÍ, 2005, p. 95). A filosofia se preocupa com a verdade em si mesma, problematizando o que ela seja e se ela poderia ser conhecida. De modo sintético, a professora Marilena Chauí (2005, p. 88-103) propõe quatro concepções (acrescentando uma às três citadas), a saber: Verdade como evidência: a verdade está nas coisas e deve ser reconhecida pela consciência, quando esta se depara com o que não permite a dúvida. Verdade pela coesão interna e coerência lógica: algo apenas corresponde à realidade externa por ser verdadeiro. Desse modo, quando o raciocínio é bem construído, podendo explicar o real de modo claro, ele é verdadeiro. Verdade como convenção: o consenso entre pares é o que pode indicar o verdadeiro - por exemplo, quando os membros de uma comunidade científica (ou até religiosa) alcançam uma ideia firmada na confiança comum. Verdade pela prática: desenvolvida com o nome de pragmatismo, tal teoria olha para o autenticamente verdadeiro como o que pode se Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 50 de 68 realizar em uma prática. Nesse sentido, verdade que não desemboca em uma ação não pode ser verdade. O papel da educação com relação à temática da verdade nunca poderá ser a de simplesmente oferecer ao aluno o que seria um entendimento último da realidade. Acima de tudo, é preciso que se aprenda a pensar sobre a realidade, daí sim, conhecendo o modo como diversos pensadores já o fizeram e entendendo o que eles alcançaram como contribuição ao entendimento do mundo. Nesse caminhar, diversas filosofias contribuem para se verificar o modo como o conhecimento da verdade foi pensado ao longo do tempo e de que maneira o tema do conhecimento da verdade fundamenta as diversas teorias da educação. Por exemplo, para Platão, a verdade não se encontra no mundo físico, mas sim no mundo das ideias. O pensador entende que a realidade física não alcança a perfeição daquilo que as coisas são, tratando-se de realidade passageira e que, por isso, é falsa. O real em plenitude estaria no Mundo das Ideias. Assim, o ideal é o modelo perfeito e verdade das coisas que conhecemos no mundo físico. Em tal pensar, pode ser considerada a ideia de que o ensino que objetiva a verdade deve buscar o conhecimento das ideias verdadeiras. Parece existir um atalho que nos leva, por meio do raciocínio, a esta consideração: enquanto tivermos corpo e nossa alma estiver unida a este elemento maléfico, jamais alcançaremos aquilo que ardentemente desejamos, ou seja, a verdade (PLATÃO apud NICOLA, 2005, p.72). De modo diverso, Aristóteles (384-322 a.C.), que foi aluno de Platão, entendia que a verdade do mundo estaria no próprio mundo, e não apartado dele. No pensamento aristotélico, o homem pode conhecer a verdade do mundo a partir da experiência que se faz desse mesmo mundo, buscando compreender de que modo se dá a organização dos seres que o povoam. Aqui, um educar legítimo é aquele que proporciona ao educando a experiência que, por sua vez, leva ao conhecimento da realidade. Mas não apenas a experiência deve ser buscada - ao mesmo tempo, é preciso conhecer as regras do pensamento para que os dados advindos da experiência possam ser bem organizados. É a lógica, então, que permite a correta organização dos entendimentos particulares. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 51 de 68 Na Idade Média (século IV a XV), o pensamento religioso dirigia a conquista do conhecimento de modo geral. Mas, ainda assim, a base do pensar vinha da filosofia: dois importantes pensadores do período retomam as ideias de Platão e de Aristóteles. Santo Agostinho (354-430) retoma as ideias platônicas e constrói seu pensamento cristão a partir delas - para ele, o homem deveria ser educado tendo-se em mente aquilo que Deus projetou; ou seja, o homem deveria ser formado para corresponder àquilo que era a ideia de homem. Diferentemente, Tomás de Aquino (1224-1273) tomou por base as ideias aristotélicas para desenvolver seu pensamento; educar significa preparar o aluno para a plenificação de sua vida cristã (as experiências devem servir para um aprendizado de significado e que remeta o educando a uma vivência cristã genuína). Embora a verdade da fé cristã ultrapasse a capacidade da razão, os princípios naturais da razão não podem estar em oposição a essa verdade. De fato, os princípios naturalmente presentes na razão mostram-se tão verdadeiros, a ponto de ser impossível pensar que sejam falsos. Além disso, as ideias que o professor suscita na alma do discípulo contêm a doutrina do mestre, a menos que este recorra à dissimulação; o que seria delituoso atribuir a Deus (DE AQUINO apud NICOLA, 2005, p. 144). Na Idade Moderna (século XVI a XVIII), de modo singular, devem ser apresentadas três filosofias principais, que tratam do conhecimento verdadeiro, a saber: • Racionalismo - tendo como representante René Descartes (1596-1650), tal filosofia pensa o conhecimento da realidade a partir daquela verdade que é a base de todo conhecimento possível: a certeza do “eu” como ser pensante (“Penso, logo existo ”). Por isso, dado que a verdade Eu penso, logo existo é tão irremovível e certa que não a poderiam abalar nem mesmo as mais extravagantes suposições dos céticos, julguei poder aceitá-la sem hesitar como o princípio primeiro da minha filosofia... (DESCARTES apud NICOLA, 2005, p. 228). • Empirismo - pode ser trazido, como exemplo de pensador, John Locke (1632-1704), para quem o homem apenas pode chegar ao conhecimento verdadeiro a partir da experiência dos sentidos, pois nenhuma ideia vai para a mente sem passar pelos sentidos. • Criticismo - com Immanuel Kant (1724-1804), o impasse entre o racionalismo e o empirismo ganha novo rumo, pois ele busca fazer a crítica tanto da Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 52 de 68 razão quanto da experiência, percebendo de que modo as duas juntas possibilitam o conhecimento verdadeiro. É importante perceber não unicamente o conteúdo apresentado pelas linhas filosóficas e seus autores, mas entender que tais ideias se fazem presentes na produção do conhecimento dos diversos ramos da ciência (mas também está na vivência do homem no cotidiano). No âmbito educacional, todas as filosofias encontram eco e, neste sentido, sempre será possível encontrar teorias que se fundamentam mais na teoria que na experiênciae vice-versa. Falar da verdade pode, às vezes, parecer algo simples e banal, mas quando se detém em tal problema, pode-se ver a complexidade que se abre ao estudante. Do vasto período que é a Idade Contemporânea, para tratar da questão da verdade é importante falar do pós-modernismo. Antes de tudo é importante indicar que o pós-modernismo como um movimento único e delimitado em um conjunto de ideias e pensadores não existe. Convencionou-se tratar de uma ideia geral da contemporaneidade sob o título de “pósmodemo”. Este nome se refere ao tempo (toda produção teórica) que estabelece um modelo que vem depois do projeto da modernidade, que foi marcado pelos conceitos de transformação, renovação e progresso. É necessário ter claro, então, que: O “pós-moderno” não é uma posição teórica específica, mas uma tendência intelectual que compreende várias e bem diferentes teorias filosóficas. O pós- estruturalismo (ou desconstrucionismo) é frequentemente tomado como sinônimo de pós-moderno, embora outras perspectivas -fenomenologia, certas tensões da teoria crítica, hermenêutica, alguns feminismos, um tipo de neoaristotelismo, neopragmatismo e a chamada filosofia “pós analítica” - sejam rotuladas “pós- modernas” tanto quanto ela. Filósofos e teóricos tão diversos (...) são todos variavelmente agrupados dentro desse território, junto com muitos outros, e é sem sentido (e contra produtivo) imaginar que há um conjunto de teses comuns que podem ser extraídas daí, as quais amarram suas visões disparatadas, ou uma forma comum de argumentação que todas elas compartilham (BURBULES, 2002, p. 121- 122). Desse modo, perceba que o nome “pós-modernismo” e os adjetivos que dele advém devem ser utilizados com muito cuidado para que não haja confusão e que as teorias não sejam consideradas como equivalentes, ou sobre uma mesma base. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 53 de 68 De que modo o pós-modernismo pode, pelo menos, ser pensado com relação ao problema da verdade e seus paradigmas? Jean-François Lyotard (1924-1998) talvez tenha sido o que melhor aponta para o sentido de tal concepção, ao afirmar que “simplificando ao máximo, defino pós- moderno como incredulidade diante de metanarrativas” (LYOTARD apud BURBULES, 2002, p. 123). A metanarrativa pode ser entendida como a tentativa de se estabelecer um discurso que seja geral e abrangente ao extremo sobre a realidade e, assim, sobre o que se entende por verdade. Lyotard afirma justamente que o pós-moderno não é a negação das metanarrativas, mas a impossibilidade de se crer nelas; é a tentativa de explicação última da realidade. Nesse sentido, significa reproblematizar os diversos temas que já eram tidos, de certo modo, como pacíficos pela modernidade (por exemplo, o indivíduo, a ética, a justiça e a racionalidade). A consequência é límpida: nunca há verdade última que seja absolutamente certa, que possua a objetividade de um fato, porque há apenas, no sentido que Nietzsche dá a esta expressão, ‘perspectivas’ sobre o mundo, doravante, infinito (FERRY apudARANHA, 2006, p. 282). E, se não há verdade última, sobre quais bases a educação deve ser construída e realizada? Se você chegou a esta ideia, deve saber que não é a única pessoa - educador em formação - que o faz. Os questionamentos do pós-modernismo não significam a necessidade de que a educação (ou qualquer outro âmbito que se relaciona com o teórico) pare, indica, pelo contrário, justamente que o professor não pode depender de verdades últimas para realizar o ato educativo. Sua responsabilidade, enquanto educador é de questionar a pura e simples aceitação de verdades postas e sobrepostas ao longo do tempo. Nenhuma teoria é conhecimento último da realidade e, assim, o educar não pode ser visto como ato de limitados caminhos. A ideia central trazida pelos pós- modernos é a da suspeita diante de tudo que se pretende único e ponto final na questão da verdade. Eu penso que há um tipo de direção, propósito e inspiração aqui, enquanto diferente dos tipos que poderíamos desejar. Mas há um corretivo, também: um corretivo contra a arrogância, contra a complacência e contra o fechamento de certas questões como resolvidas-e que é, afinal, o que qualquer abordagem honesta da educação requer (BURBULES, 2002, p. 137). Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 54 de 68 Realidade: termo tomado com significado amplo, significando tudo aquilo que existe, dotado de concretude ou não. Não é ideia simples, pois se pode perceber que o que existe pode depender de pessoa para pessoa, segundo a interpretação que cada uma faz do mundo que o cerca. Mundo das ideias: Platão busca entender o que é a realidade, sua origem e o modo como está organizada. Com esse intuito, ele propõe uma construção teórica que dá cabo de explicar o que existe: o Mundo das Ideias. Para o pensador, a realidade física é apenas uma imagem, reflexo imperfeito, do que as coisas realmente são em sua essência, pois a verdade de tudo está na Ideia, que não é simples pensamento, mas é dotada de plena realidade - por exemplo: o homem só é homem porque traz em si o que é a Ideia de Homem; e assim por diante com a justiça, o amor, verdade etc. A Ideia superior a todas as outras é a Ideia de Bem. A realidade do Mundo das Ideias seria alcançada apenas pelo pensamento/consciência, segundo ele, pela alma. Lógica: área da filosofia que busca conhecer e esquematizar as ideias do raciocínio correto; trata com os argumentos que, por sua vez, são formados por proposições (asserções sobre a realidade). Aristóteles foi o primeiro grande sistematizador da lógica. Penso, logo existo: do latim “Cogito, ergo sum”, a frase de Descartes expressa a primeira certeza à qual pode o homem chegar: o ser humano é pensamento. Para o pensador, nenhuma outra verdade é mais clara e evidente que esta e, a partir desta verdade, é que se torna possível alcançar qualquer outra. Você já tentou imaginar o ser humano fora de seu contexto? O que ele seria? Possivelmente seria o ser humano em ideia; ou seja, caso o ser humano não seja entendido como um ser determinado dentro do tempo e do espaço, o que pode ser Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 55 de 68 atribuído a um indivíduo poderá também ser a todos os indivíduos da mesma espécie. Você acabaria pensando em uma essência, a partir daquilo que deve ser todo ser humano. Falar em pedagogias histórico-sociais significa tratar de teorias que, de um modo geral, entendem que apenas é possível falar do ser humano dentro de um contexto determinado e, assim, ligado à situação cultural de uma sociedade específica. A ideia fundamental destas teorias é a de que o meio faz o homem na mesma proporção que o homem faz o meio. Algumas das teorias são apresentadas na sequência (Cf. ARANHA, 2006, p. 263-284). Com o pensamento baseado no ideário advindo da filosofia marxista, foram desenvolvidas as teorias socialistas. Inicialmente na Rússia, a partir da Revolução Russa de 1917, a ideia de “homem novo” a ser construído revela a oposição do modelo de ser humano a ser buscado: que respondesse aos interesses da sociedade pós-revolução, contrapondo- se aos interesses capitalistas. Neste sentido, a obediência que deve haver da educação à política é clara: o ato educativo deve servir àquilo que for determinado pelo poder vigente. Moisei Pistrak (1888-1940) e Anton Makarenko (1888-1939) foram pedagogos importantes, cujos pensamentos direcionavama educação para a realização do ser humano dentro da concepção estabelecida nos ideais revolucionários. Objetivando não separar o trabalho intelectual do trabalho manual, a educação não poderia se resumir à atividade intelectual, devendo abrir caminho para a colocação do homem na vida social por meio do trabalho. O valor do coletivo deveria se sobrepor ao do indivíduo, quebrando os direcionamentos dados pelo capitalismo. Uma observação importante é com relação aos maiores desafios do contexto: um sistema educacional que instruísse uma população majoritariamente analfabeta. Ainda com base socialista, porém fora da União Soviética, Antonio Gramsci (1891-1937) desenvolveu suas ideias em meio ao regime fascista da Itália. Para este filósofo, do mesmo modo que os interesses capitalistas têm seus defensores intelectuais, o socialismo também deveria tê-los. Neste sentido, ele propõe uma Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 56 de 68 educação que permita aos segmentos populares a criação de uma contra ideologia, para que possam questionar os instrumentos teóricos utilizados como dominação. Gramsci defendia a escola unitária, que oferece a mesma educação para todas as crianças, integrando trabalho manual e intelectual, mas, diferentemente dos teóricos soviéticos, critica a ênfase posta no trabalho, porque a escola não é uma fábrica, mas o local da formação do intelectual orgânico. O principal objetivo é que o aluno assimile criticamente a herança da cultura histórica e científica da humanidade. (ARANHA, 2006, p. 265) A escola unitária é condição para que seja desenvolvida uma contra hegemonia, que deve se opor à hegemonia burguesa vigente. Pela citada crítica histórica, os educandos devem aprender a analisar os fatos e perceber que existem contradições que favorecem apenas pequena parcela da sociedade. A função da escola é proporcionar conhecimento cultural geral aos educandos de todas as classes. Outra teoria classificada como histórico-social foi a criada por Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934). Autor que deu grande desenvolvimento à psicologia da aprendizagem, Vygotsky entende que a capacidade cognitiva do ser humano se dá a partir de condições sociais: o contexto histórico, nas relações que o indivíduo estabelece como o meio natural e social, influencia de modo singular sua capacidade de cognição. Significa entender que o desenvolvimento cognitivo do indivíduo não é algo que se dá naturalmente, mas tem raiz social e cultural. As mudanças históricas e sociais exigem do ser humano uma adaptação, que ele seja maleável diante das novas necessidades. Tal adaptação se dá, de modo especial, pelo mecanismo que o autor chamou de “mediação simbólica”, por meio do qual o indivíduo estabelece relação com o mundo; ou seja, esta relação entre indivíduo e mundo não se dá de modo direto, mas mediada. Do mesmo modo como o homem se utiliza de instrumentos físicos, os signos funcionam como instrumental “dirigido para o controle do próprio indivíduo, não modificando em nada o objeto da operação psicológica.” (ARANHA, 2006, p. 267) Os signos trazem consigo significados que foram internalizados, permitindo ao indivíduo desenvolver seu pensamento e linguagem à medida que o significado passa a ser generalizado, não fazendo referência unicamente a um objeto do real, mas a vários outros (por exemplo, a palavra “cachorro” que se refere à ideia de cachorro em geral, e não a uma espécie específica). Todo esse processo de significação e generalização é alterado frequentemente por conta das mudanças sociais que ocorrem. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 57 de 68 Você percebe que ao se falar da influência das mudanças históricas e sociais, fala-se diretamente da importância do grupo naquilo que é o indivíduo? A criança, aos poucos, passa a internalizar a experiência simbólica - é o desenvolvimento de suas funções mentais; a partir das experiências de interação entre a criança e o meio, ela alcança um nível de desenvolvimento que o autor identifica como desenvolvimento real. Porém - e aqui reside a importância da escola -, com o estímulo e auxílio que a criança recebe do outro, do grupo, ela alcança níveis mais elevados de desenvolvimento das funções mentais. A escola trabalha justamente com o espaço da diferença entre o que a criança pode aprender por si, na experiência que realiza, e o que ela pode aprender quando estimulada; a essa diferença o autor chamou de zona de desenvolvimento proximal. E então, as ideias ficaram claras para você? Você entendeu a importância da escola em sua função? É imprescindível que você vá sempre anotando e esquematizando as ideias para poder enxergar melhor o modo como elas estão relacionadas. Mas ainda não foram esgotadas as teorias pedagógicas de cunho histórico- social; será apresentada agora a chamada pedagogia progressista. De modo geral, esta teoria é marcada pelo entendimento da educação em seu caráter político; ou seja, entender que a educação não é simplesmente um adereço ou uma instituição afastada daquilo que é a construção política da sociedade. A educação é consequência de decisões políticas e que, assim, obedecem a determinados interesses; do mesmo modo, a educação é instrumento político, no sentido de encaminhar aquilo que é o desejo de um corpo político. Como exemplo de tal linha de pensamento, pode ser tomado aquele que por muitos pesquisadores é considerado o maior educador brasileiro: Paulo Freire (1921-1997). Também conhecida como pedagogia do oprimido, a pedagogia libertadora de Freire é aquela que vê a necessidade de que a educação seja pensada como instrumento de conscientização, que objetiva conscientizar o homem oprimido pelos direcionamentos políticos e sociais. Mas conscientizar de quê? É necessário fazer com que este homem saiba exatamente em que consiste tal opressão. A consciência da opressão é caminho para uma ação libertadora. Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “conivência” com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 58 de 68 nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental, é que esta não se cinja a mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para que seja práxis. (FREIRE, 1987, p. 29) O autor fala de duas pedagogias: a do opressor (dominante) e a do oprimido (dominado) - a educação deve tornar clara as duas e fornecer instrumentos de transformação social. A necessidade é fazer com que a classe dominante tenha consciência da dominação que exerce, pois nem sempre ela enxerga tal situação. Do mesmo modo - e mais importante - é possibilitar aos oprimidos o entendimento do que constitui tal dominação, pois, na maioria das vezes, “os oprimidos costumam introjetar sua pretensa ‘inferioridade', não reconhecendo a opressão”. (ARANHA, 2006, p. 274) O ensino instituído deve objetivar, então, ser instrumento para libertar os oprimidos. De modo significativo, a pedagogia freireana se volta para a educação de adultos, construindo os momentos de educação a partir da vivência dos indivíduos. Os problemas e o modo como estes são tratados (incluindo a escolha dos temas e termos) devem vir do que afeta o grupo diretamente, daquilo que já é conhecido pelo grupo. Em sua teoria, é visível o esforço para reelaborar váriasquestões já abordadas pela tradição filosófica ocidental, colocando-as sob uma nova ótica e recriando, assim, os modos de conceber e fundamentar a racionalidade humana em seu processo histórico de produção de sentido, para a existência das pessoas diante da humanização do mundo (PELOSO & PAULA, 2011, p. 254). Assim, Freire apresenta uma nova concepção do educar, totalmente fundamentada na realidade brasileira. É outro o modo de conceber o desenvolvimento social de um grupo, percebendo que a transformação social é possível quando se tem uma educação transformadora. A maior transformação objetivada é a libertação do ser humano; libertação de correntes sociais, criadas para sustentar determinada situação social. Freire busca fazer com que o homem, mesmo com toda vivência que traz consigo, de uma não conquista dos bens sociais e, assim, da exclusão da vida em sociedade, resgate a si próprio. Não é, então, uma educação pensada no sentido de que um mestre leve o homem para a conquista de algo, pois é o próprio indivíduo que, tomando consciência da realidade, tem condições de assumir outra situação no âmbito coletivo. O professor (tutor ou instrutor) é aquele que auxilia na condução dos encontros de forma dialogai - não há imposição. No mesmo sentido, nenhuma discussão vem pronta do professor que, simplesmente, aplicaria uma dinâmica: tudo é decidido coletivamente e a discussão é dirigida pelo professor apenas no sentido de organizar a aula. Veja que o que aqui Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 59 de 68 se entende por “aula” é diferente do entendimento usual. É na discussão das questões trazidas pelos alunos que o professor interfere dando elementos diversos que auxiliam na reflexão. É preciso aprender a pensar a realidade. A teoria de Paulo Freire tem cunho político, pois possibilita o questionamento da organização coletiva da sociedade, intentando a transformação da mesma. O contexto histórico traz os elementos sobre os quais será realizado o ato educativo e, assim, na discussão, é a troca de experiências sobre a vivência social - individual e coletiva - que constitui o conteúdo a ser trabalhado. E que resultado é objetivado? A pessoa iletrada chega humilde e culpada, mas aos poucos descobre com orgulho que também é um “fazedor de cultura” e, mais ainda, que a condição de inferioridade não se deve à sua incompetência, mas à sua humanidade roubada. (ARANHA, 2006, p. 275) É importante que você, enquanto educador em formação, perceba a forte ligação entre a realidade sociocultural e o entendimento que as teorias aqui apresentadas têm sobre o educar. Ainda outra tendência pedagógica de cunho histórico-social, também embasada na realidade brasileira, é a pedagogia histórico- crítica, que já foi conhecida como pedagogia crítico-social dos conteúdos. A reflexão sobre a organização do sistema educacional é central nesta teoria. Na verdade, a constatação é a da falta de organização da educação instituída no Brasil, por conta da qual não se consegue realizar de modo pleno os planos propostos; o que se constata é a falta de uma ação efetiva do Estado. As reformas educacionais constantes fragmentam e deformam ainda mais nossas precárias leis, nas quais também não existe articulação entre graus e cursos. Uma danosa descontinuidade de programas prejudica o trabalho educativo, que exige, ao contrário, tempo para que as habilidades e os conceitos sejam assimilados pelos alunos. (ARANHA, 2006, p. 275) A pedagogia crítico-social dos conteúdos objetiva fornecer elementos que possibilitem a transformação social, a partir da compreensão da realidade. A ideia é a de que a realidade pode ser transformada por meio da mudança de consciência - é processo lento, mas que altera a situação social em um movimento que vai do individual para o coletivo, não sendo simples imposição política. Não significa que seja uma teoria puramente ideal, pois é na realidade material que se funda a reflexão; realidade material e realidade espiritual de um povo se constroem mutuamente. Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 60 de 68 Para a construção da democracia, é necessário que seja eliminada a seletividade social; ou seja, que haja igualdade de instrução e oportunidades a todos os indivíduos. Em tal tarefa, o papel da escola é fornecer elementos que permitam a transformação das condições existentes, preparando o aluno para o mundo adulto e suas contradições. O saber aí gerado não é um saber burocrático, batizado pelos exames, mas testado diariamente pelas suas próprias condições de vida. Educar-se, para ele é assumir a consciência dessas suas condições, aliando o trabalho, a sobrevivência e a resistência. (GADOTTI, 1997, p. 156) O professor, como mediador, contribui do mesmo modo que o aluno, para uma troca de conhecimentos que possibilita a análise crítica da sociedade; é o saber que deve levar ao engajamento. Neste sentido, a questão sobre o conteúdo a ser ensinado é primordial, pois ele tem de ser ligado à realidade concreta, não promovendo diferenças sociais quaisquer. Filosofia marxista: Marx (1818-1883) desenvolveu um pensamento que influenciou diversas áreas do conhecimento, como a filosofia, a sociologia, a economia e a política, entre outras. Das ideias de Marx, originaram-se diversas linhas de pensamentos, com diferentes autores. De certo modo, tais linhas de pensamento são chamadas de “filosofia marxista”; a tendência dos estudiosos da atualidade é nomear o pensamento do próprio Marx como “pensamento marxiano”. Fascismo: movimento nacionalista autoritário; sua mais clara manifestação se deu na Itália, tendo se originado no início do século XX. Caracteriza-se por regime político ultrarradical, opondo-se ao liberalismo democrático, ao socialismo e ao comunismo. Hegemonia: designa a supremacia de país sobre país, classe sobre classe ou pessoa sobre pessoa. O hegemônico tem o poder para dominar as decisões, seja de modo militar, político ou ideológico. Educação instituída: a educação se dá, de modo geral, em todos os âmbitos da vida humana - ocorre de forma livre e natural. Quando se fala em “educação Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 61 de 68 instituída”, faz-se referência, de modo especial, à escola, lugar designado para realizar a educação a partir de direcionamentos sociopolíticos. Seletividade social: situação na qual são selecionadas (de modo camuflado) as pessoas que usufruirão de benefícios sociais. A escola está inserida na sociedade de tal modo que não é possível pensar uma delas sem relacioná-la à outra. A escola constrói a sociedade que a constrói, de modo cíclico. Assim, qualquer projeto teórico para se entender a educação e qualquer projeto político para se realizar a educação, apenas podem ser pensados dentro das características da sociedade vigente: com o passar do tempo, as relações sociais são complexificadas e elementos novos devem ser agregados ao entendimento da educação. Os desafios contemporâneos nos impõem questões cada vez mais complexas. Precisamos admitir que os meios não são mais os mesmos, vivemos em rede, a palavra mais pronunciada é, provavelmente, conexão. Mas professores e alunos continuam apertando botões na linha de montagem de uma fábrica em extinção. (MOSÉ, 2012, p. 176) Se a realidade mudou, é então preciso que se tenha consciência de tal mudança. É necessário que se aprenda a lidar com a nova situação e com tudo o que ela traz. O reconhecimentodas alterações históricas e sociais é abrir caminho para pensar novos modos de fazer educação; um novo educar deve responder, assim, a situações desafiadoras. O avanço científico e tecnológico, atrelado aos desejos e projetos da sociedade capitalista, impõe certas necessidades aos indivíduos; e o ser humano fica perdido entre o que deseja ser e o que ele consegue ser, diante do que dele se exige. Qual situação histórica é vivenciada no início do século XXI? A sociedade vive a realidade de um mundo surgido após duas guerras mundiais; vive as consequências de séculos nos quais se deu a construção do capitalismo; vive a necessidade de se firmar diante de uma realidade hegemônica internacional, guiada pelas leis do mercado; vive-se a sociedade da informação (informação que é Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 62 de 68 mercadoria). No âmbito teórico, vê-se a tentativa de entendimento do próprio tempo histórico em suas diversas manifestações sociais e culturais. Os teóricos que hoje se debruçam sobre a questão da pós-modernidade, porém, não chegam a um consenso em torno desse conceito, porque para alguns o paradigma da modernidade já se esgotou, enquanto para outros os ideais do Iluminismo ainda não se cumpriram, cabendo a nós resgatá-los. (ARANHA, 2006, p. 294) E em meio a tantas discussões, a educação tenta se fazer, ainda sobre a inconstância dos projetos políticos. A escola, enquanto instituição de uma sociedade, deve obedecer aos direcionamentos dados pelas decisões do âmbito político; isto faz com que os processos fiquem, muitas vezes, emperrados e os projetos sejam abandonados. Perceba assim a grande dificuldade em estabelecer uma teoria que seja mais adequada ou realizável em determinada sociedade. Os projetos são abandonados antes mesmo de sua execução. Os projetos teóricos são realizáveis? As imagens-ideais de ser humano são trivialidades teóricas? Há grande discussão sobre tais questionamentos e é clara a necessidade de que não seja imposto um único entendimento. Mas, muitas vezes, com a discussão interminável, as temáticas deixam de ser relacionadas à própria educação e passam a ser puros jogos políticos. A educação instituída é questionada e, com ela, a ideia de que a escolarização da sociedade seja o caminho que deve ser seguido passa a ser revista. A sociedade capitalista está em constante crise e a educação fica situada em uma tensão entre a construção de uma sociedade democrática e igualitária e a obediência à sociedade capitalista. A professora Marilena Chaui (2005, p. 406) afirma que é verdade que a sociedade democrática é aquela que não esconde suas divisões, mas procura trabalhá-las pelas instituições e pelas leis. Todavia, no capitalismo, são imensos os obstáculos à democracia, pois o conflito dos interesses é posto pela exploração de uma classe social por outra, mesmo que a ideologia afirme que todos são livres e iguais. A partir dos interesses do capital, a educação não tem condições de, em seus projetos, alcançar o homem em sua integralidade, pois acabará sempre oferecendo uma educação que reproduza uma sociedade ambígua e dualista, em classes. Neste contexto, educar com o discurso de que é possível oferecer à classe dominada as condições necessárias para que ela ascenda não passa de ilusão (ilusão de um sistema que tenta iludir). Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 63 de 68 Deste modo, mesmo que os projetos educacionais afirmem a igualdade entre as pessoas na realização de um mesmo direito, aí pode ser identificada a ideologia que faz com que os indivíduos acreditem em algo que não é real e obedeçam aos interesses do capital. Como diz Bauman (2011, p. 153-154), “é fazer os indivíduos desejarem fazer o que o sistema precisa que eles façam para que ele possa se reproduzir”. E assim, a escola devora forças humanas, financeiras e mesmo a boa vontade de reformistas para, além de não produzir os efeitos esperados, desestimular outras instâncias de assumir a tarefa educativa. O trabalho, o lazer e mesmo a vida familiar tornam-se dependentes da escola em vez de serem meios de educação (GILES, 1983, p. 98). Do modo como está organizada, a escola fica engessada e acaba consumindo toda energia de mudança: em um círculo vicioso, a situação exige uma resposta da escola que, por sua vez, obriga o professor a responder a diversos índices de mensuração objetiva e que, mesmo não acreditando ser o melhor para a situação, exige do aluno uma resposta que não se relaciona a seus anseios. Foi atribuída à educação a tarefa de transformar a sociedade, porém não foram dadas as mínimas condições de fazê-lo. Por isso é que “cada vez mais, os pedagogos se convencem de que não bastam reformas, mas sim uma inovação radical, já que o modelo da escola tradicional não serve mais para os tempos atuais” (ARANHA, 2006, p. 295). Mas o que seria uma transformação radical? Significa começar a mudar pela base, pelo que rege o sistema educacional. Com certeza, um poder decisório único e centralizado não consegue abarcar as necessidades específicas de uma grande região. A decisão sobre o que é específico de uma realidade, deve ficar sob a responsabilidade de conselhos que conheçam a realidade; daí a importância da autonomia de estados e municípios, por exemplo. No caso do Brasil, diversas ações foram tomadas no sentido de descentralização do poder, mas ainda é pouco para que seja oferecida uma educação de qualidade ao país como um todo. Não apenas algumas regiões são menos favorecidas pela má distribuição de investimentos na educação; nos próprios estados, regiões e municípios, há, em um nível anterior, uma divisão já estabelecida e assumida como se fosse natural, que é a diferença entre o ensino público e o privado. Mesmo as teorias consideradas de grande avanço na área educacional, ainda assim tratam da educação a partir de uma realidade dividida em classes. As decisões políticas caminham lentamente na busca por maior qualidade no ensino oferecido Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 64 de 68 pela escola pública. E, considerando-se estar no ensino público a maior parcela da população, o sistema educacional apenas corrobora a cisão social. São problemas nos diversos âmbitos: • os prédios escolares sem a manutenção necessária, • a não reposição de material didático-pedagógico, • a desvalorização do professor em sua formação deficitária e na remuneração. É preciso, dessa forma, que o âmbito da teoria se aproxime sempre mais da realidade; e não simplesmente de uma macro realidade sociopolítica, mas da realidade do modo como é vivenciada pelo próprio aluno. A educação ganha sentido apenas quando é motor de vida, mas o que se enxerga, na maioria das vezes são jovens, cheios de vida, no auge de suas potencialidades, isolados em salas fechadas, em um espaço onde sua iniciativa é desvalorizada (depois atribuem ao desinteresse dos alunos, à juventude desinformada, um fracasso que é da escola). A vida é um verbo que deve ser conjugado no presente (MOSÉ, 2012, p. 174). Por conta do contexto, os alunos não enxergam claramente a importância da escola e acabam deixando sua formação de lado, não percebendo a ligação da escola com a vida. Assim, os problemas do sistema como um todo fazem com que os alunos não tenham perspectivas de futuro com relação à educação instituída. E a escola apresenta situação complexa, pois acaba reproduzindo a situação contra a qual deveria lutar,a saber, a contradição social; a escola acaba sendo um lugar de ilusão, mas uma ilusão que não consegue mais convencer. A escola perde o sentido e não realiza a educação. Na realidade, a educação é a atividade humana que menos necessita de manipulação por parte de outros. A maior parte da educação resulta de uma participação livre num contexto significativo, processo que envolve motivação e integração do educando, e não a transferência da responsabilidade pessoal para uma instituição que só pode garantir a regressão pessoal e social. (GILES, 1983, p. 102) Desde que o homem chegou à consciência - de si e do mundo ao seu redor - existe o educar, com a finalidade de prover os mais novos de conhecimentos que tivessem ligação com a prática da vida cotidiana. Os ensinamentos ganham sentido quando servem para o bem-viver individual e coletivo. Mas, ao longo do tempo, com a institucionalização da educação, em um espaço específico (a escola), tal ato passou a ser algo que unicamente deve obedecer a programas determinados, e os interesses Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 65 de 68 políticos que passaram a reger a educação deixaram de ser interesses de vida, mas interesses pessoais de governantes que desejam conquistar espaço (benefícios individuais) na sociedade capitalista neoliberal. Em meio a jogos de interesses, a educação tenta se firmar de modo autônomo, que significa poder estabelecer seus parâmetros, e não simplesmente realizar aquilo que pode ser o desejo do mercado. Como afirmado, o principal produto deste mercado é a informação, e a educação, “ao proporcionar acesso aos meios de informação e de produção, torna-se um elemento-chave que dota de oportunidades ou agrava situações de exclusão” (FLECHA & TORTAJADA, 2000, p.24). Ou seja, lidando diretamente com a informação, a educação pode servir aos poderes vigentes como instrumento de dominação sobre as grandes massas - isto ocorre quando os projetos educacionais não conseguem ser desenvolvidos plenamente por conta de entraves burocráticos. De modo especial a escola pública, afetada diretamente pelas decisões políticas e sem condições de fazer com suas necessidades sejam satisfeitas; a qualidade alcançada fica muito aquém do necessário. Neste sentido, o artigo cujo título é Educação ruim é projeto (MASSAD & SOARES, 2011) bem indica a clara influência do capital que decide sobre os rumos da educação. O raciocínio a ser construído não é complexo: uma educação que não se plenifica em qualidade faz com que grande parte da população seja obrigada a apenas aceitar as imposições - possibilita-se um contexto de ignorância generalizada. A ignorância leva à paralisia da vontade. Não sabendo o que há de disponível, não se tem meio algum de avaliar os riscos. Para as autoridades, impacientes com os constrangimentos impostos aos detentores de poder por uma democracia flutuante e elástica, a impotência do eleitorado, decorrente da ignorância e da difundida descrença na eficácia da dissensão, e a falta de vontade de envolvimento político são fontes muito necessárias e bem-vindas de capital político: a dominação baseada na ignorância e na incerteza cultivadas é mais confiável e se torna mais barata que um domínio fundamentado num profundo debate dos fatos e num prolongado esforço para se chegar a um acordo a respeito da verdade dos fatos e dos modos menos arriscados de proceder. A ignorância política é perpétua a si mesma e a corda trançada da ignorância e da inanição vem a calhar sempre que a voz da democracia tiver de ser abafada, ou suas mãos forem amarradas. (BAUMAN, 2011, p. 196-197) Se o que há para saber é desconhecido, de que maneira seria possível lutar por melhor nível de educação? Daí a difícil tarefa do educador: tentar mostrar o que nem sempre é desejo do próprio sistema político e financeiro. A falta de conhecimento contribui para que a educação fique estagnada no status quo e a situação vigente seja Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 66 de 68 perpetuada, não permitindo a mudança; e acaba criado um círculo vicioso: um povo sem instrução que não sabe exigir de seus governantes nem votar melhor nas eleições - estes mesmos governantes vão cuidar para este povo continue sem instrução e não crie problemas para o governo. Um educador tem de conhecer seus alunos e as realidades macro e micro da educação. Os professores lutam para conquistar seu espaço de opinar e decidir sobre os rumos da educação; os professores querem e precisam ser ouvidos, pois “é bastante habitual em educação que imponham suas propostas quem nem sequer conhece as práticas educativas que estão obtendo melhores resultados (...)” (FLECHA & TORTAJADA, 2000, p. 29). A escola certifica, é a aprovação social, mas não significa que realmente realize o ato educativo; os alunos estão na escola, mas não significa que estejam aprendendo. Os desafios que se apresentam são de diversos âmbitos e a Filosofia da Educação está aí não para dar respostas, mas para auxiliar o educador no sentido de enxergar a realidade e seus problemas de modo mais profundo, não obedecendo àquilo que é exigido pelo sistema. Sociedade democrática: a ideia de democracia marca o auge da sociedade clássica grega; “demos” é o povo, indicando que, na sociedade democrática, o governo não é privilégio de algumas pessoas, mas possibilidade para todos os cidadãos. O que se verifica nos diversos países é uma democracia representativa, na qual todos os cidadãos participam do governo elegendo seus representantes. Neoliberal: refere-se ao neoliberalismo, que é a política econômica liberal capitalista; resumidamente, é a defesa da ideia de que o Estado não deve interferir na economia, havendo total liberdade de comércio. Status quo: expressão latina que designa a situação vigente, sem mudanças. Macro/micro: entender a educação em seu micro ambiente significa pensar a realização do ato educativo no ambiente escolar e, quando muito, nas coordenações/diretorias regionais; no macro ambiente significa entender a Gostou? Então CLICA NO CURTIR e me ajude a continuar produzindo novos materiais Anhanguera – Pedagogia – Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação – Temas 1 ao 10........................ Página 67 de 68 educação a partir da organização das políticas educacionais, tomando por objeto o todo da realização do ato educativo, seja em nacional ou internacionalmente. Se interessou pelo tema? Então veja estes meus outros materiais: Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação - 24 Exercícios dos Temas 1 ao 5 Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação - 25 Exercícios dos Temas 6 ao 10 CRESPO, Luís Fernando. Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação: A Filosofia e a Sociologia: Contribuições para a Educação. Caderno de Atividades. Anhanguera Publicações: Valinhos, 2014. CRESPO, Luís Fernando. Fundamentos Filosóficos e Sociológicos da Educação: A Formação Filosófica e Sociológica do Educador. Caderno de Atividades. Anhanguera Publicações: Valinhos, 2014. Gostou? 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