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PÁGINA 1 AUTORES ANDREIA MEDEIROS RODRIGUES CARDOSO CAMILA SANTOS DE MATTOS BRITO EQUIPE DE PROFESSORES ANDREIA MEDEIROS RODRIGUES CARDOSO CAMILA SANTOS DE MATTOS BRITO LEONARDO HENRIQUE DE ARAÚJO CAVALCANTE ROSA VIRGINIA DUTRA DE OLIVEIRA ALUNA BÁRBARA FARIAS LOPES DE ANDRADE PRODUÇÃO EDITORIAL NÚCLEO DE PUBLICAÇÕES INSTITUCIONAIS (NPI) COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO FILIPE CARVALHO DE ALMEIDA DIAGRAMAÇÃO RAIFF PIMENTEL FÉLIX ALMEIDA COMO MELHOR UTILIZAR ESTE LIVRO: Este e-book foi desenvolvido com intenção de facilitar o acesso à informação. Baixe o arquivo e visualize-o na tela do seu computador ou celular sempre que necessitar. Utilize as setas, as teclas Page Up e Page Down do teclado ou o Scroll do mouse para navegar pelo livro. Não desperdice papel, imprima somente se necessário. Pacientes com necessidades especiais | Coleção: Manuais Aplicativos em Clínica Odontológica | Organizado por: Andreia Medeiros Rodrigues Cardoso, Camila Santos de Mattos Brito | Unipê: João Pessoa, 2020 | 118 páginas | ISBN 000-00-00000-00-0 PREFACIO O atendimento odontológico a pacientes com necessidades especiais contempla todas as pessoas que apresentem qualquer tipo de alteração ou condição de saúde, seja ela transitória ou permanente, onde se faça necessária uma abordagem específica e olhar clínico diferenciado. Inicia desde a orientação, prevenção e promoção de saúde, até a realização de tratamento com intervenção em ambiente clínico, ambulatorial ou hospitalar. A excelência profissional é resultado de competências e habilidades técnico-científicas aliadas a atitudes humanas e compassivas. O atendimento de qualidade exige do profissional e do estudante acolhimento e empatia, não apenas com os pacientes mas também com os cuidadores e o contexto familiar onde estão inseridos, sempre respeitando as diferenças. Também traz consigo o desafio do trabalho multidisciplinar, diante da necessidade de estabelecimento de comunicação e decisões de plano de tratamento em consonância com os demais profissionais de saúde que acompanham este indivíduo. Esta obra integra a coleção de Manuais Aplicativos em Clínica Odontológica, em seu VII volume intitulado de Pacientes com Necessidades Especiais, e tem como objetivo auxiliar no consenso clínico e padronização das atividades desenvolvidas durante o atendimento destes pacientes na Clínica Escola, trazendo temas desde nomenclatura e classificação, até manejo comportamental e abordagem clínica específica às condições de maior prevalência. É uma ferramenta de acesso online e gratuito, construída baseada em evidências por docentes e estudantes, que pode ser consultada a todo momento para auxiliar e nortear todas as etapas do atendimento, desde o planejamento à execução. Prof. Camila Santos de Mattos Brito Coordenadora Adjunta do Curso de Graduação em Odontologia do UNIPÊ Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais 4 - PACIENTES COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 1 - INTRODUÇÃO A PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS 5 - PACIENTES COM DEFICIÊNCIA FÍSICA E PARALISIA CEREBRAL 2 - MANEJO COMPORTAMENTAL DOS PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS 6 - PACIENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 9 - PACIENTES COM ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES 3 - PACIENTES COM DEFICIÊNCIA SENSORIAL 7 PACIENTES COM SÍNDROME DE DOWN 10 - PACIENTES COM DIABETES MELITO 8 - PACIENTES COM MICROCEFALIA 11 - PACIENTES COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 12 - PACIENTES COM DOENÇA HEPÁTICA 13 - PACIENTES GESTANTES 14 - ODONTOGERIATRIA 38 06 43 14 58 76 30 64 86 70 93 100 104 110 PÁGINA 6 INTRODUÇÃO A PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS \BÁRBARA FARIAS LOPES DE ANDRADE | ANDREIA MEDEIROS RODRIGUES CARDOSO CAPÍTULO 1 A população brasileira apresenta elevada frequência de Pacientes com Necessidades Especiais (PNE). De acordo com o Censo demográfico de 2010, 23,9% da população brasileira apresenta alguma deficiência. Além disso, os avanços da ciência e da tecnologia na saúde têm melhorado a atenção à saúde de pacientes com comprometimento sistêmico, aumentando a sobrevida e socialização dessas pessoas na comunidade. A especialidade de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais foi reconhecida em 2002 pelo Conselho Federal de Odontologia e apresenta um baixo número de especialistas, comparada às demais especialidades. No entanto, a inclusão dos PNE no atendimento clínico odontológico é um direito garantido pela Constituição Federal, e vem ocorrendo de forma crescente, na Odontologia. Diante do contexto, sente-se a necessidade de desenvolver o estudo teórico e prático do atendimento odontológico de PNE na formação generalista do profissional em Odontologia, em busca de contribuir para o cuidado bucal e qualidade de vida desta população. Nesse capítulo, iremos introduzir o estudo da Odontologia para PNE com: • Terminologia; • Conceitos; • Classificação; • Epidemiologia; • Acessibilidade; • Políticas públicas para pessoas com deficiência. PÁGINA 7 PÁGINA 7 1 TERMINOLOGIA 1.1 Termos antigos e em desuso para se referir a Pessoa com Deficiência Quadro 1. Termos em desuso para se referir a Pessoa com Deficiência Termos em desuso ou antigos PORQUE? Desvantagem natural A deficiência não é apenas fruto do acaso da natureza; Anormal As pessoas têm condições diferentes, porém não existe pessoa normal ou anormal; Deficiente A pessoa tem um bloqueio particular, mas não é por completo uma pessoa deficiente; Pacientes excepcionais Não é preciso destacar a excepcionalidade Pessoa portadora de deficiência A deficiência não é uma situação que o indivíduo pode ter ou deixar de ter; ele tem certa deficiência; Pessoa com necessidades especiais Termo muito abrangente, não especificando a condição de uma deficiência. 1.2 Termos adequados para se referir à Pessoa com Deficiência Pessoa com deficiência (termo recomendado pelo Ministério da Saúde e Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiências); Paciente com Necessidade Especial (termo utilizado na Odontologia para pessoa com deficiência, comprometimento sistêmico ou condição especial temporária ou permanente); PÁGINA 8 2 CONCEITOS De acordo com a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiências, as pessoas com deficiência são aquelas que possuem impedimento de natureza física, intelectual ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas (Decreto 6.949/2009). Na Odontologia, consideramos Pacientes com Necessidades Especiais todo aquele que apresente limitações, temporária ou permanente, de natureza física, intelectual, sensorial, emocional, de crescimento ou médica que o impeça de ser submetido a uma situação odontológica convencional. Por isso, o termo é mais amplo. 3 CLASSIFICAÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS NO BRASIL De acordo com a Política Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência, as pessoas com deficiência são classificadas em: • Deficiência física; • Deficiência auditiva; • Deficiência visual; • Deficiência intelectual; • Deficiência múltipla. FIQUE ATENTO! • A deficiência múltipla acontece quando se tem a associação de duas ou mais deficiências. • A pessoa com autismo apresenta um distúrbio do desenvolvimento neurológico, também denominado Transtorno do Espectro Autista (TEA) e é considerada pessoa com deficiência para todos os efeitos legais. PÁGINA 9 Como visto, na odontologia, outros pacientes além das pessoas com deficiência são considerados PNE, logo segue a classificação e alguns exemplos de PNE na Odontologia, para fins didáticos, adaptado por CAMPOS et al (2009): • Deficiência física: paralisia cerebral, di, hemi e tetraparesia ou tetraplegia, amputações, distrofia muscular e Acidente Vascular Encefálico (AVE); • Deficiências sensoriais: deficiência auditiva e visual; • Deficiência intelectual: condição de dificuldade cognitiva exclusiva ou associada a outras condiçõescomo epilepsia, paralisia cerebral e síndromes; • Distúrbios comportamentais: autismo, bulimia e anorexia; • Condições e doenças sistêmicas — gravidez, pacientes irradiados em região de cabeça e pescoço, pacientes transplantados, pacientes imunossuprimidos, diabetes melito, cardiopatias, doenças hematológicas, transtornos convulsivos, insuficiência renal crônica e doenças autoimunes; • Transtornos psiquiátricos: depressão, esquizofrenia, fobias, transtorno obsessivo-compulsivo e ansiedade; • Doenças infectocontagiosas: pacientes soropositivos para o Vírus da Imunodeficiência Humana, hepatites virais e tuberculose; • Síndromes: Síndrome de Down, Síndrome de Microcefalia por Zika vírus, entre outras; 4 EPIDEMIOLOGIA Os pacientes considerados na Odontologia como PNE representam um grupo muito amplo de pacientes e não existem bancos de dados ou dados de notificação compulsória que permitam quantificar todos estes indivíduos. No entanto, no último Censo demográfico de 2010, foram quantificados os brasileiros com alguma deficiência. No quadro 2, temos os quantitativos de pessoa com deficiência por tipo, na Paraíba e no Brasil. Em 2010, foi observado um grande número de pessoas com deficiência na Paraíba e no Brasil, inclusive os valores percentuais da Paraíba foram superiores aos dados do Brasil. PÁGINA 10 A deficiência mais frequente foi a deficiência visual, porém algumas críticas foram relatadas sobre metodologia de coleta de dados, pois era questionado se a pessoa tinha algumas dificuldades, grande dificuldade e não consegue enxergar de modo algum, sendo assim, boa parte das pessoas responderam que têm alguma dificuldade de enxergar (17,84%). Quadro 2 – Distribuição das pessoas com deficiência na Paraíba e Brasil. Tipo de deficiência BRASIL PARAÍBA Deficiência visual 18,8% 21,85% Deficiência auditiva 5,1% 6,1% Deficiência motora 6,9% 8,52% Deficiência intelectual 1,4% 1,65% Pelo menos umas das deficiências 23,9% 27,76% Fonte: IBGE, 2012. 5 ACESSIBILIDADE A acessibilidade seria proporcionar as pessoas com deficiência condições para alcançarem e utilizarem, com segurança e autonomia, os espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, as edificações, os transportes e os sistemas e meios de comunicação. Para isso, a lei prevê a eliminação de barreiras e obstáculos que limitem ou impeçam o acesso, a liberdade de movimento e a circulação com segurança dessas pessoas. Os estabelecimentos dos serviços de saúde necessitam cumprir as normas de acessibilidade para pessoas com deficiência. Seguem abaixo as legislações federais que contém informações sobre acessibilidade: • LEI Nº 10.098 – DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000 - Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida; • DECRETO Nº 5.296 – DE 02 DE DEZEMBRO DE 2004 - Regulamenta as Leis de nº 10.048, de 08/ 11/ 00, que dá prioridade de atendimento, e nº 10.098, que estabelece normas gerais para a promoção de acessibilidade; PÁGINA 11 • LEI Nº 7.714 DE 28 DE DEZEMBRO DE 2004 - Estabelece normas e critérios para a acessibilidade de pessoas com necessidades especiais. 6 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Vários eventos e documentos internacionais e nacionais apresentam diretrizes e orientam políticas públicas para pessoas com deficiência. Por exemplo, a Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, promovida pela Organização das Nações Unidas, em 2008, que teve o objetivo de proteger e assegurar os direitos humanos e liberdades fundamentais para todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente. No Brasil, a Constituição Federal de 1988, no seu Artigo 23, Inciso II, estabeleceu a responsabilidade de cuidar da saúde, da assistência pública, da proteção e garantia das pessoas com deficiência. Algumas normas regulamentadoras foram editadas, destaca-se a Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência (PNSPD), instituída pela Portaria n. 1.060, de 5 de junho de 2002, voltada para a inclusão das pessoas com deficiência em toda a rede de serviços do SUS. A PNSPD apresenta várias informações desde a prevenção de agravos à proteção da saúde até a reabilitação da capacidade funcional e do desempenho humano da pessoa com deficiência. Em 2011, o Governo Federal, por meio do Decreto n. 7.612, de 17 de novembro de 2011, lança o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite. O plano apresentou ações em várias áreas (educação, saúde, lazer, transporte, esporte, entre outras). Na Odontologia, o Plano Viver sem Limites apresenta algumas ações para as pessoas com deficiência, dentre elas: • Aumento de 20% no financiamento do SUS para os CEO que oferecerem atendimento às pessoas com deficiência; • Adequação física e aquisição de equipamentos para 27 centros cirúrgicos em hospitais gerais para atendimentos de PNE em ambiente hospitalar; • Capacitação de 6.600 profissionais da Odontologia para atendimento à pessoa com deficiência. http://joaopessoa.pb.gov.br/portal/wp-content/uploads/2011/08/lei_7714_04.pdf PÁGINA 12 A PNSPD e o plano Viver sem Limites continuam orientando as ações, até o presente momento em 2019, e novas discussões e estudos estão sendo realizados para avaliar a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPCD). A RCPCD instituída no âmbito do SUS pela Portaria GM/MS Nº 793 de 24 de abril de 2012, é constituída por três componentes: I - Atenção Básica; II- Atenção Especializada em Reabilitação Auditiva, Física, Intelectual, Visual, Ostomia e em Múltiplas Deficiências; e III- Atenção Hospitalar e de Urgência e Emergência. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS O número de PNE que necessitam de cuidados odontológicos está crescente na sociedade e a formação em Odontologia necessita discutir o estudo teórico e prático do atendimento desses pacientes, bem como sensibilizar os alunos e profissionais em Odontologia para a inclusão dos PNE na Odontologia. Apesar dos avanços nas terminologias, legislações e políticas, algumas dificuldades de inclusão são vivenciadas pelos PNE nas diferentes áreas. Esse manual tem como objetivo apresentar informações sobre o atendimento odontológico de PNE, com o intuito de empoderar os alunos e profissionais de Odontologia e contribuir para aumento do acesso aos serviços odontológicos. REFERÊNCIAS BRASIL. Presidência da República. Decreto Nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004 – Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm – Acesso em 15 jul 2019. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm PÁGINA 13 BRASIL. Presidência da República. Decreto N° 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo facultativo, assinado em Nova York, em 30 de março de 2007. Organização das Nações Unidas – ONU. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2009/Decreto/D6949.htm – Acesso em 15 jul 2019. BRASIL. Decreto nº 7.612, de 17 de novembro de 2011. Institui o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limite. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/ Decreto/D7612.htm. Acesso em 01 ago 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS SAS nº 793, de 24 de abril de 2012. Institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do SUS. Disponível em http://www.saude.gov.br/. Acesso em 01 ago 2019. CALDAS Jr., A.F.; MACHIAVELLI, J.L. Atenção e cuidado da Saúde bucal da pessoa com deficiência: introduçãoao estudo. Ed. Universitária da UFPE. 2013. CAMPOS, C.C, et al. Manual prático para o atendimento odontológico de pacientes com necessidades especiais. Universidade Federal de Goiás, Goiânia: 2ª edição, 2009. 111p. CFO (Conselho Federal de Odontologia). Cursos de Especialização. c2009-2011. Disponível em: <http://cfo.org.br/ servicos-e-consultas/ cursos-de-especialização>. Acesso em: julho de 2019. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2010. Características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. VARELLIS, M. L. Z . O paciente com necessidades especiais na Odontologia – Manual prático. 3° ed. São Paulo: Santos, 2017. 498p. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm PÁGINA 14 MANEJO COMPORTAMENTAL DE PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS ROSA VIRGINIA DUTRA DE OLIVEIRA A utilização de técnicas de manejo do comportamento durante o atendimento odontológico de pessoas com deficiência, contribui não só para a comunicação com o paciente, mas também para o controle da ansiedade, do medo e até da dor. Tais técnicas podem ser classificadas em farmacológicas e não-farmacológicas (figura 1). Dentre as técnicas farmacológicas tem-se a sedação oral, sedação com óxido nitroso e anestesia geral. As técnicas não-farmacológicas são divididas em psicológicas e de estabilização e serão abordadas com maior atenção a seguir, por serem utilizadas com maior frequência na clínica de Pacientes com Necessidades Especiais. Figura 1. Técnicas de manejo do comportamento utilizadas para pacientes especiais. Técnicas de manejo comportamental Técnicas farmacológicas Técnicas não-farmacológicas • Sedação oral Psicológicas Estabilização • Sedação com óxido nitroso • Falar-Mostrar-Fazer • Passiva • Anestesia geral • Modelagem • Ativa • Distração • Reforço positivo • Controle de voz Fonte: Própria, 2018. CAPÍTULO 2 PÁGINA 15 Antes de aplicar qualquer uma dessas técnicas, é importante salientar que os responsáveis precisam ser esclarecidos, estar de acordo com a utilização e principalmente, dar consentimento por escrito. Tal procedimento é necessário para o profissional ter respaldo do ponto de vista ético e legal. Além das técnicas, algumas medidas quanto à abordagem do paciente são universais, independente da deficiência: atenção às formas de expressão, gestos e reações, programação de consultas mais curtas, adoção de condutas lúdicas e início do atendimento pelos procedimentos com menor grau de dificuldade, progredindo gradualmente para os mais complexos. A participação ativa dos responsáveis também é de suma importância durante o atendimento. Abordagens mais específicas devem ser condizentes com a deficiência e estado de saúde. Pacientes com problemas visuais devem ser apresentados tanto ao ambiente odontológico quanto aos instrumentais e materiais. Para aqueles com deficiência auditiva que fazem uso de aparelho amplificador de som, recomenda-se que o volume deste seja diminuído ou o aparelho seja desligado quando do uso da turbina de alta rotação. Pacientes com paralisia cerebral podem necessitar de cadeiras especiais ou macris (para crianças), entretanto um dispositivo de posicionamento disposto na região posterior do occipital e nos joelhos (rolos de espuma), para suporte dos membros inferiores é de suma importância para manter o paciente inclinado e assim, reduzir a dificuldade de deglutição. Pacientes com deficiência intelectual leve ou moderada podem conseguir ser cooperativos e responder bem a técnicas não-farmacológicas de cunho psicológico, já aqueles com deficiência intelectual severa, podem necessitar de estabilização física ou até mesmo de técnicas farmacológicas. Caberá ao profissional analisar e julgar qual o modo mais adequado para conduzir estes pacientes. Para pacientes com autismo, que apresentam padrão estereotipado e repetitivo de comportamento, recomenda- se estudar individualmente a rotina do paciente para entender melhor o processo e buscar a abordagem mais adequada. Os mesmos autores ressaltam ainda que a utilização da estabilização de maneira isolada não está indicada pois poderá traumatizar o paciente, dificultando futuros atendimentos. PÁGINA 16 1 TÉCNICAS NÃO-FARMACOLÓGICAS PSICOLÓGICAS 1.1 Falar-mostrar-fazer Esta técnica consiste em explicar antecipadamente um procedimento, demonstrar como um equipamento será utilizado, apresentar o equipamento ou instrumento ao paciente e só então executar o procedimento. Tem por objetivo familiarizar o paciente com o consultório odontológico, deixando o paciente calmo e adaptado a reagir de maneira positiva aos procedimentos. É importante que se utilize explicações individualizadas (de acordo com a deficiência) e linguagem apropriada ao nível de compreensão do paciente. Durante a demonstração do procedimento para o paciente pode-se utilizar dos sentidos (tato, olfato e visão) para explicar que a situação pode parecer ameaçadora, mas é algo simples de ser realizado, o que deixará o paciente mais tranquilo e seguro. No caso de pessoas com deficiência visual, além das informações acerca dos procedimentos que estão sendo realizados, deve-se fazer com que eles possam situar-se no consultório, sentindo o ambiente; deixá-los tocar em todos os elementos do consultório. Já para pessoas com deficiência de áudio-comunicação, além de sempre explicar o que vai ser feito ao paciente; caso use aparelho amplificador de som, este deve ser diminuindo ou desligado no caso de ser usado o aparelho de alta rotação; elevar a voz quando falar com eles e exprimir expressões faciais; falar de frente e diretamente, observando sua expressão facial. Indicada para todos os tipos de pacientes, é uma técnica simples e de grande índice de sucesso, pois quando o paciente entende como o procedimento será realizado, sente-se seguro e consegue colaborar adequadamente. PÁGINA 17 Figura 2. Falar: apresentação de instruões de higiene oral com auxílio de material educativo. Figura 4. Fazer: procedimento sendo realizado com tranquilidade. Figura 3. Mostrar: paciente aprendendo a usar o fio-dental. Fontes: Própria, 2019. PÁGINA 18 1.2 Modelagem Consiste em visualizar previamente em um “modelo” o procedimento que será realizado no paciente. Esse modelo pode ser outro paciente, os responsáveis ou até um manequim ou boneco. Objetiva reduzir a ansiedade do paciente que está tendo o primeiro contato com o dentista ou teve alguma experiência prévia desagradável. Figura 5. Paciente observando o atendimento de outro já condicionado. Fonte: Própria, 2019. É uma alternativa importante no condicionamento do comportamento de indivíduos com deficiência auditiva, uma vez que a técnica Falar-Mostrar-Fazer pode gerar dificuldade na comunicação do profissional com o paciente. Para esses pacientes, sugere-se também que o profissional troque as máscaras tradicionais por viseiras transparentes, para facilitar a visualização durante a comunicação. PÁGINA 19 1.3 Distração Consiste em desviar a atenção do paciente para outra atividade enquanto o profissional realiza o procedimento. Tal atividade pode ser: conversar com o paciente, cantar músicas, contar estórias, projetar vídeos numa televisão ou aparelho celular, de modo a mantê-lo entretido e relaxado. Uma das vantagens dessa técnica é aumentar o limiar de espera (tempo de cadeira) do paciente. Figura 6. Paciente assistindo desenho durante o procedimento. Fonte: Própria, 2019. PÁGINA 20 1.4 Reforço positivo Consiste em reforçar comportamentos positivos do paciente por meio de lembrancinhas, elogios, gestos positivos ou expressão facial que denotem satisfação do profissional com o comportamento do paciente. Visa obter ou dar continuidade a um comportamento adequado, ajudando a firmar uma boa relação com opaciente. Figura 7. Elogios e gestos positivos após bom comportamento durante o atendimento. Fonte: Própria, 2019. PÁGINA 21 Figura 8. Incentivo a coragem do paciente, que após bom comportamento durante tratamento endodôntico, recebeu brinde. Fonte: Própria, 2019. 1.5 Controle de voz Trata-se de uma técnica na qual o volume, tom e/ou ritmo da voz são adaptados conforme a necessidade, de modo a influenciarem ou direcionarem o comportamento do paciente. Objetiva conseguir a atenção e colaboração do paciente e evitar o comportamento negativo ou recusa. Pode ser usada em quase todos os pacientes, exceto os que possuem problemas auditivos. PÁGINA 22 Figura 9. Controle de voz. Fonte: Própria, 2019. 2 TÉCNICAS NÃO-FARMACOLÓGICAS DE ESTABILIZAÇÃO Entende-se por estabilização qualquer método utilizado com o objetivo de limitar os movimentos do paciente, possibilitando condições favoráveis para a execução do atendimento com eficiência e tranquilidade, tanto para o profissional, quanto para o paciente, além de proteger o profissional e a equipe de qualquer trauma ou injúria. Ela pode ser feita com auxílio de acessórios para imobilizar o paciente (estabilização passiva) ou pelo responsável e/ou auxiliares (estabilização ativa). PÁGINA 23 2.1 Estabilização passiva com auxílio de abridores de boca Os abridores de boca permitem que o paciente permaneça com a boca aberta para realização do procedimento. Tem-se disponível no mercado diferentes tipos de abridor de boca, entretanto os mais utilizados são o de silicone e o abridor de Molt. Caso o profissional não possua nenhum dos dois, pode-se confeccionar um com espátulas de madeira e gaze. O abridor deve ser posicionado entre as arcadas superior e inferior, do lado oposto ao da realização do procedimento. Lembrando que, no caso do abridor de boca de silicone, é recomendado segurá-lo durante o uso e para maior segurança, amarrá-lo com uma gaze ou fio dental, para evitar deglutição do mesmo. Figura 10: Tipos de abridor de boca (silicone, de Molt e confeccionado com espátulas de madeira + gaze). Fonte: TEJO e OLIVEIRA, 2018. PÁGINA 24 Figura 11: Abridor de boca de silicone + gaze. Fonte: TEJO e OLIVEIRA, 2018. Figura 12: Posicionamento do abridor de boca de silicone no lado oposto ao de interesse. Fonte: TEJO e OLIVEIRA, 2018. 2.2 Estabilização passiva com auxílio de acessórios Para limitar os movimentos do corpo do paciente, de modo a prevenir uma injúria ao próprio paciente, ao profissional e a equipe, a clínica de Pacientes com Necessidades Especiais dispõe de um dispositivo denominado “Zinkpinho”. Tal dispositivo (Figura 13) possibilita imobilizar os membros superiores e inferiores, além de limitar os movimentos do pescoço. É particularmente indicado para pacientes que realizam movimentos involuntários. PÁGINA 25 Figura 13. Simulação do uso da estabilização passiva com “Zinkpinho” Fonte: Própria, 2019. 2.3 Estabilização ativa A imobilização deve ser o último recurso a ser utilizado e consiste em limitar os movimentos do paciente a fim de obter segurança e estabilidade para a realização do procedimento. Na nossa clínica escola recomendamos que a estabilização seja feita com o auxílio do responsável pelo paciente, o qual deve ser devidamente esclarecido a respeito da necessidade da utilização da técnica. Ainda assim, a mesma só deverá ser aplicada após concordância verbal e assinatura do termo de consentimento. PÁGINA 26 Figura 13. Responsável imobilizando o paciente por meio de estabilização dos braços e pernas. Fonte: TEJO e OLIVEIRA, 2018. Figura 15. Estabilização dos braços realizada pelo responsável e das pernas pelo auxiliar. Fonte: TEJO e OLIVEIRA, 2018. Figura 14. Estabilização das mãos realizada pelo auxiliar, na presença do responsável, que estava ao lado do paciente, conversando e acalmando-o. Fonte: TEJO e OLIVEIRA, 2018. PÁGINA 27 REFERÊNCIAS AMARAL, L. D.; PORTILLO, J. A. C.; MENDES, S. C. T. Estratégias de acolhimento e condicionamento do paciente autista na Saúde Bucal Coletiva. Tempus - Actas de Saúde Coletiva - Saúde Bucal. v. 5, n. 3, p. 105-114, 2011. ANDRADE, A. P. P.; ELEUTÉIO, A. S. L. Pacientes portadores de necessidades especiais: abordagem odontológica e anestesia geral. Rev. bras. odontol., Rio de Janeiro, v. 72, n. 1/2, p. 66-9, 2015. BARBOSA, C. S.; TOLEDO, O. A. Uso de técnicas aversivas de controle de comportamento em odontopediatria. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê. v. 6; n. 29; p. 76-82. 2003. CALDAS JÚNIOR, A.F; MARCHIAVELLI, J.L. Atenção e cuidado da saúde bucal da pessoa com deficiência. 1.ed. Recife: Universitária da UFPE, 2013. CASTRO, A. et al. Behavior guidance techniques in Pediatric Dentistry: attitudes of parents of children with disabilities and without disabilities. Official publication of the American Association of Hospital Dentists, the Academy of Dentistry for the Handicapped, and the American Society for Geriatric Dentistry., v.5, n.33, 2013. COSTA JUNIOR, Á. L. Psicologia aplicada à odontopediatria: uma introdução. Estud Pesqui Psicol., v. 2, n. 2, 2002. FERREIRA, J.; ARAGÃO, A.; COLARES, V. Técnicas de controle do comportamento do paciente infantil : revisão de literatura. Pesqui Bras Odontopediatria Clín Integr. v. 2; n. 9; p. 248. 2009. FÚCCIO, F. et al. Aceitação dos pais em relação às técnicas de manejo do comportamento utilizadas em odontopediatria. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê., v. 6, n. 30, p. 147-148-149, 2003. HADDAD A. S.; GUARÉ, R.O., ORTEGA, A. O. L. Pacientes com necessidades especiais. In: GUEDES-PINTO, A.C.; MELLO-MOURA, A.C.V. Odontopediatria. 9ª ed. Rio de Janeiro: Santos, 2017. PÁGINA 28 MACHADO, M. S; NEGANO, H. C.M; SILVA, J. Y. B; BOSCO, V.L. Participação dos pais na tomada de decisões no Atendimento odontológico de seus filhos. Rev Odontol Univ. Cid. São Paulo., v. 21; n.1; p. 38-47, 2009. OLIVEIRA, A.C.B.; PAIVA, S.M.; PORDEUS, I.A. Fatores relacionados ao uso de diferentes métodos de contenção em pacientes portadores de necessidades especiais. Cienc Odontol Bras v. 7, n. 3, p. 52-9, 2004. OLIVEIRA, A.L.B.M.; GIRO, E.M.A. Importância da abordagem precoce no tratamento odontológico de pacientes com necessidades especiais. Odonto; v.19, n.38, p. 45-51, 2011. POSSOBON, R. F. et al. O comportamento de crianças em tratamento odontológico: intervenção psicofarmacológica. Psicologia em Estudo., v. 9, n. 1, p. 29-35, 2004. RIBEIRO G, BRAGA MBO, SIMÕES RA. Paciente com desvios neurológicos: métodos alternativos de prevenção e atendimento. Rev Fac odontol Anápolis; v.6, p. 1-6, 2004. ROBERTS, J. et al. 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PÁGINA 30 CAPÍTULO 3 PACIENTES COM DEFICIÊNCIA SENSORIAL ANDREIA MEDEIROS RODRIGUES CARDOSO | CAMILA SANTOS DE MATTOS BRITO As Pessoas com Deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade. Nesse capítulo, iremos abordar os pacientes com deficiência sensorial, especificamente, com deficiência visual e auditiva. É importante ressaltar que existe a necessidade de individualizar o paciente, reconhecendo-o na sua TOTALIDADE indivisível. Logo todos os pacientes necessitam ser observados para realização de um plano de tratamento individualizado. 1 ACOLHIMENTO E VÍNCULO Devemos ter a preocupação de conhecer e construir um vínculo com o paciente e seus familiares. Assim, sugere-se: • Olhar e tratar com respeito, ética e amor os pacientes e familiares; • Ser calmo e dar apoio moral; • Estar aberto para novas situações; • Ter vontade de cuidar e querer o bem do paciente; • Realizar atitudes que diminuem a ansiedade (ações que diminuem dor, explicar os procedimentos e dar autonomia); PÁGINA 31 2 PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL • A Deficiência Visual (DV) é uma situação irreversível de diminuição da resposta visual, mesmo após tratamento ou uso de óculos; • O paciente pode apresentar DV total ou baixa visão, congênita ou adquirida; • Os pacientes com DV apresentam maior desenvolvimento de sentidos táteis, olfativos, auditivos, gustativos e de propriocepções. 2.1 Atendimento odontológico da pessoa com deficiência visual • Os alunos/profissionais necessitam de sensibilidade/empatia para oferecer conforto e segurança ao paciente; • Sugere-se estabelecer uma conversa com o paciente já na sala de espera, antes de tocá-lo; • Durante a condução do paciente, não segurar o braço dele. Pode-se oferecer a mão ou ombro, se necessário. • No primeiro contato, toda a equipe que entrará em contato com o paciente precisa se apresentar, bem como, deve-se descrever e mostrar o ambiente (Figura 1); • Nunca use brincadeiras, como: “adivinha quem é?” • O tato deve ser explorado: mostre sobre o local de descanso de braço e das pernas, encosto da cadeira odontológica e movimentos que a mesma realiza, antes de efetivá-los; PÁGINA 32 Figura 1. Encenação de acolhimento de pessoa com DV. Fonte: Própria, 2018 • Na anamnese, além dos questionamentos da ficha, investigue a gravidade, tempo da DV e como é realizada a higiene bucal; • Se o paciente conseguir responder aos questionamentos, faça diretamente para ele. Caso contrário, realize os questionamentos para o acompanhante, sem esquecer de dar atenção e incluir o paciente na conversa/ atendimento; • Após a anamnese, deixe o paciente tocar os materiais e apresente os possíveis ruídos que podem acontecer (Figura 2); PÁGINA 33 Figura 2. Encenação de apresentação de materiais para pessoa com DV. Fonte: Própria, 2018 • Em seguida, inicie avaliação da higiene bucal do paciente, observando a presença de biofilme visível, condição dentária e presença de sangramento gengival, registrando as informações conforme ficha clínica que pode ser a de odontopediatria ou a clínica integrada, a depender da idade do paciente; • Após a identificação da condição de higiene bucal do paciente, realize as orientações, para isso, pode-se utilizar: 1. escova dental e macromodelos, com as mãos do paciente sobre as mãos do profissional (Figura 3); 2. material de papelaria ou álbum seriado em alto relevo ou com texturas (Figura 4); 3. áudio com orientações complementares; 4. textos/manuais em braile com orientações complementares; VOCÊ SABIA? A FUNAD e o Instituto dos Cegos, localizados em João Pessoa, realizam a tradução e impressão em braile de materiais de texto, de forma gratuita. Leve seu material educativo e aumente a acessibilidade dos seus pacientes. PÁGINA 34 Figura 3. Utilização de macromodelos e escova dental para orientação do paciente. Figura 4. Utilização de materiais educativos em saúde bucal com relevo. Fonte: CALDAS Jr, MACHIAVELLI, 2013 Fonte: CALDAS Jr, MACHIAVELLI, 2013 • Realizar a supervisão da escovação, seja ela executada pelo paciente ou cuidador; • Além das intervenções de exame clínico e de orientação de higiene bucal, temos as intervenções de tratamentos odontológicos mais invasivos. Todas as intervenções podem ser realizadas, diante da necessidade e plano de tratamento pactuado com o professor; • Durante as intervenções, a equipe necessita manter a sensibilidade e empatia, assim: 1. Comunique os odores e gostos desagradáveis dos produtos, antes de utilizar; 2. Sempre relate os procedimentos ou movimentos antes de executar; 3. Deixe o paciente tocar os materiais que forem possíveis; • É importante monitorar a condição bucal do paciente, por isso realize a avaliação da condição bucal e de higiene, ao longo e término do plano de tratamento, e se necessário retome as orientações de higiene bucal; PÁGINA 35 3 PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA • A pessoa com Deficiência Auditiva (DA) apresenta perda de audição em um ou em ambos os ouvidos. O termo surdez refere-se à perda total da capacidade de ouvir a partir de um ou de ambos os ouvidos. • Essa deficiência não se restringe às funções otológicas, podendo afetar o desenvolvimento da linguagem oral, personalidade e de suas relações sociais; • Paciente apresentam maior desenvolvimento de sentidos como estímulos táteis, visuais e olfativos. 3.1 Atendimento odontológico da pessoa com deficiência auditiva • Conversar com os pais, antes do atendimento, para conhecer a forma de comunicação utilizada pelo paciente; • Avisar à equipe da condição do paciente; • A principal dificuldade sentida pelo paciente e profissional é conseguir se comunicar. Assim, para a comunicação, podemos utilizar: • LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais); • Comunicação não-verbal - gesticular, escrita e desenhos (Figura 5); • Leitura labial; • Aplicativos gratuitos no Play Store e App Store que realizam tradução em LIBRAS de mensagem de texto (VLIBRAS e Hand Talk; Figura 6); • Comunicação verbal com o acompanhante; • Intérprete de sinais; PÁGINA 36 Figura 5. Utilização da comunicação não-verbal durante o atendimento odontológico Fonte: Própria, 2018. Figura 6. Imagem ilustrativa dos aplicativos VLibras (direita) e Hand Talk (esquerda). Fonte: App Store, 2019 • A comunicação verbal com o acompanhante é uma das mais utilizada, porém pode não representar a percepção do paciente. Por isso, procure se comunicar com o paciente; • Durante a fala, retire as máscaras convencionais, pois o paciente pode fazer leitura labial, principalmente os pacientes oralizados; • Fale olhando de frente para o paciente com DA, pois quando você vira o olhar, ele pode compreender que a conversa acabou. • Não fale alto; • Quando for utilizar as turbinas de baixa e alta rotação, solicitar a remoção dos aparelhos auditivos ao paciente; PÁGINA 37 • Ter empatia e sempre comunicar os odores, sabores, textura, temperatura diferentes dos materiais e procedimentos antes de realizar; • Utilize imagens ou macromodelos para exemplificar a escovação dos dentes e a utilização do fio dental. O acompanhante também pode ajudar na supervisão ou execução em casa, dependendo da situação; • Evitar variações de iluminação e movimentos bruscos. REFERÊNCIAS CALDAS Jr., A. F.; MACHIAVELLI, J. L. Atenção e cuidado da Saúde bucal da pessoa com deficiência: protocolos, diretrizes e condutas para cirurgiões-dentistas. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2013. 231 p. CAMPOS, C.C. et al. Manual prático para o atendimentoodontológico de pacientes com necessidades especiais. 2ª edição. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2009. 111p. PÁGINA 38 CAPÍTULO 4 PACIENTE COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ANDREIA MEDEIROS RODRIGUES CARDOSO | CAMILA SANTOS DE MATTOS BRITO A Deficiência Intelectual (DI) é uma condição irreversível, caracterizada pela dificuldade de desenvolver a comunicação e uma vida doméstica autônoma, observada antes dos 18 anos de vida. Além disso, o paciente pode apresentar dificuldades nos relacionamentos interpessoais, cuidados pessoais e na aprendizagem. 1 CARACTERÍSTICAS INICIAIS • O paciente pode apresentar exclusivamente a Deficiência Intelectual (DI) ou ela pode estar associada a outras condições, como paralisia cerebral, síndrome de Down, Microcefalia, epilepsia, entre outras. • A frequência de cárie dentária e de doença periodontal geralmente é elevada, nesse grupo de indivíduos; • Fatores que podem estar relacionados com condição bucal: • Dificuldade para realizar a higiene bucal; • Dieta cariogênica; • Respiração bucal; • Alterações na oclusão; • Efeitos medicamentosos; • Condição socioeconômica e cultural. PÁGINA 39 2 ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL • Durante o atendimento, uma das dificuldades será o paciente compreender o ato em si e colaborar; • Para conseguir êxito no tratamento do paciente será necessário conhecer e construir o vínculo com o paciente e, em seguida, utilizar a técnica de manejo mais indicada para o paciente; • A anamnese necessita ser minuciosa para conhecer o paciente, inclusive, é importante registrar os medicamentos utilizados e contato do médico que o acompanha; • Os questionamentos da anamnese podem ser feitos ao paciente e/ou acompanhante, caso o paciente não consiga responder com coerência, pode-se fazer com o acompanhante, sem esquecer de dar atenção ao paciente; • Para estabelecer laços de confiança e vínculo, pode-se utilizar as estratégias já relatadas, bem como atividades lúdicas, conforme preferências do paciente; • As instruções sobre a dieta e higiene bucal serão necessárias e adequadas ao cuidado bucal já realizado no paciente, por isso esses cuidados precisam ser questionados, para que as orientações sejam individualizadas; • A avaliação da higiene bucal também pode ser realizada por meio da observação da presença de biofilme visível, condição dentária e presença de sangramento gengival; • É importante supervisionar a higiene bucal, seja ela realizada pelo paciente e/ou pelo cuidador, antes de repassar as orientações, para realizar as orientações de forma mais individualizada (Figura 1 e 2). PÁGINA 40 Figura 1. Supervisão da higiene oral realizada por criança com Deficiência Múltipla, inclusive DI Fonte: Própria, 2017 Figura 2. Supervisão e orientação de higiene bucal em paciente com DI no escovódromo. Fonte: Própria, 2018. PÁGINA 41 • Se necessário, pode-se utilizar fluoretos (géis e/ou verniz) e prescrever enxaguatórios bucais sem álcool para ajudar no controle da atividade de cárie e do biofilme; • O manejo comportamental será necessário para o atendimento. Inicialmente, é indicado o uso das técnicas lúdicas e não farmacológicas, porém se necessário, pode-se fazer uso de estabilização protetora física passiva ou ativa, sedação consciente (oral ou inalatória) e anestesia geral (Figura 3, 4 e 5). • As técnicas necessitam seguir uma ordem de complexidade e a tomada de decisão vai levar em conta a segurança e bem estar do paciente, respeitando a autonomia do paciente/familiar; • Durante as intervenções, caso o paciente não compreenda ou tenha dificuldades de manter a boca aberta pode-se utilizar abridores de boca industrializados ou confeccionado na clínica – boneca (Figura 6); • Todas as intervenções podem ser realizadas no paciente, conforme plano de tratamento pactuado com professor e paciente/acompanhante. A autonomia do paciente/familiar precisa ser respeitada; Figura 3. Paciente com DI, condicionada por técnicas de manejo comportamental, sorrindo na cadeira odontológica. Fonte: Própria, 2017 Figura 4. Procedimento restaurador realizado em criança com Deficiência Múltipla, incluindo DI, condicionada após utilização de técnicas de manejo comportamental. Fonte: Própria, 2017 PÁGINA 42 Figura 5. Procedimento cirúrgico realizado em adolescente com DI condicionada pela técnica de distração com vídeos. Fonte: Própria, 2018 Figura 6. Procedimento restaurador em paciente com DI, associada a Microcefalia por Zika Vírus, com estabilização ativa realizada pelo cuidador e equipe com o uso de abridor de boca. Fonte: Própria, 2019 REFERÊNCIAS CALDAS Jr., A. F.; MACHIAVELLI, J. L. Atenção e cuidado da Saúde bucal da pessoa com deficiência: protocolos, diretrizes e condutas para cirurgiões-dentistas. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2013. 231 p. CAMPOS, C.C. et al. Manual prático para o atendimento odontológico de pacientes com necessidades especiais. 2ª edição. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2009. 111p. PÁGINA 43 CAPÍTULO 5 PACIENTES COM DEFICIÊNCIA FÍSICA E PARALISIA CEREBRAL ANDREIA MEDEIROS RODRIGUES CARDOSO | CAMILA SANTOS DE MATTOS BRITO A Deficiência Física (DF) refere-se a uma situação de alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física. 1 TIPOS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA • Amputações: perda total ou parcial de um ou mais membros; • Monoplegia: corresponde à perda total das funções motoras em apenas um membro; • Hemiplegia: consiste na paralisia total das funções de um dos lados do corpo; • Paraplegia: compreende as situações em que ocorre perda total das funções motoras dos membros inferiores; • Tetraplegia: refere-se à perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores (Figura 1); PÁGINA 44 Figura 1. Ilustração com as partes dos corpos atingidas (na cor lilás) pela perda total da função motora em pessoas com DF Fonte: Cartilha de Direitos das pessoas com deficiência, 2015. Além dessas, podemos citar como tipos de DF, as seguintes condições: • Monoparesia: perda parcial das funções motoras de um só membro; • Hemiparesia: perda parcial das funções motoras de um lado do corpo; • Paraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores (Figura 2); • Tetraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores; • Ostomia: intervenção cirúrgica, que cria um ostoma (abertura) na parede abdominal para adaptação de bolsa de fezes e/ou urina. Tem como objetivo construir um caminho alternativo e novo na eliminação de fezes e urina; • Paralisia cerebral: lesão do sistema nervoso central que tem como consequência alterações psicomotoras, podendo ou não causar deficiência intelectual (Figura 3); • Nanismo – consiste em uma deficiência acentuada no crescimento. • PÁGINA 45 Figura 2. Criança com paraparesia. Figura 3. Criança com Paralisia Cerebral Fonte: inclusaosocial-arenilda.blogspot.com, 2019. Fonte: blogfisioterapia.com.br/fisioterapia-paralisia-cerebral, 2019 2 CARACTERÍSTICAS DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA • Movimentação descoordenada do corpo ou de parte dele; • Marcha pode apresentar-se descoordenada e a pessoa pode andar pisando na ponta dos pés ou mancando. Podem acontecer quedas e desequilíbrios; • Deformidades corporais, como pés tortos ou pernas em tesoura bem como dor muscular, óssea ou articular; • Dificuldades na execução de atividades que demandem a coordenação motora fina; • Paciente pode necessitar de muletas, andadores ou cadeira de rodas para se locomover. http://inclusaosocial-arenilda.blogspot.com/ https://blogfisioterapia.com.br/fisioterapia-paralisia-cerebral/ PÁGINA 46 3 TECNOLOGIAS ASSISTIVAS PARA PACIENTES COM DEFICIÊNCIA FÍSICA • Espessamento do cabo da escova de dente; • Abridor de boca manufaturado com afastador de língua; 3.1 Espessamento do cabo de escova de dente (Figura 4) • Objetivo: aumentar a espessura do cabo para pacientesque realizam a escovação e têm dificuldade de coordenação motora fina; • Materiais: 01 Escova de dente simples com cabo reto, 06 palitos de picolé ou espátula de madeira e fita crepe; • Passo a passo: • Forme duas pilhas de palhetas, com espessura suficiente para que, juntamente com o cabo da escova, possam fornecer uma boa empunhadura. Cuidado para não deixar farpas ou rebarbas cortantes de madeira, ao ajustar o tamanho dos palitos; • Com uma técnica de sanduíche, as palhetas são adicionadas em ambos os lados do cabo da escova. Para facilitar, pequenas gotas de cola rápida podem ser adicionadas entre as camadas de palhetas e a escova; • Após o posicionamento, uma imobilização com fita crepe é feita, unindo-se as palhetas e o cabo da escova. Figura 4. Escova com cabo espessado Fonte: CALDAS Jr, MACHIAVELLI, 2013 PÁGINA 47 3.2 Abridor de boca manufaturado com afastador de língua - boneca (Figura 5) • Objetivo: manter a abertura bucal durante o atendimento clínico e/ou escovação bucal, com mais conforto e segurança para o paciente com DF; • Materiais: 04 Palitos de picolé ou espátula de madeira, 05 gazes e fita crepe; • Passo a passo: • Empilhe as palhetas, formando um feixe perfeitamente alinhado e após o posicionamento, uma imobilização com fita crepe é feita; • Em uma das extremidades enrole, de forma firme e apertada, algumas gazes; • Se julgar necessário, envolva as gazes e palhetas com várias camadas de fita adesiva. Figura 5. Abridor de boca manufaturado com afastador de língua Fonte: Própria, 2019. PÁGINA 48 4 POSICIONAMENTO DE PACIENTES QUE UTILIZAM CADEIRA DE RODAS • A transferência do paciente da cadeira de rodas para a cadeira odontológica pode ser difícil. O paciente pode se sentir inseguro/tenso, ou o dentista não consegue fazê-la sozinho e/ou não conta com ajuda para poder transferi-lo. • Assim, pode-se fazer o atendimento na própria cadeira de rodas, aproveitando o próprio apoio de cabeça que algumas cadeiras de rodas apresentam (Figura 6) ou posicionando o paciente de costas para a cadeira odontológica, de forma que ele encoste sua cabeça na parte acolchoada do encosto. Feito isso, o equipo é trazido até uma direção satisfatória de alcance para realização do tratamento; • Em outros casos, os pacientes que usam cadeira de rodas conseguem se transferir sozinhos para a cadeira odontológica; • Porém, outros podem necessitar de ajuda para transferência, usando o método de duas pessoas. Figura 6. Atendimento odontológico em paciente com DF na cadeira de rodas Fonte: Própria, 2019. PÁGINA 49 4.1 Transferência do paciente da cadeira de rodas para a cadeira odontológica • Determinar as necessidades do paciente (método preferido, capacidade de ajudar, se existe dispositivo de coleta urina, assento especial ou dor e comunique tudo antes); • Preparo da cadeira odontológica (Figura 7): • Remova o braço móvel da cadeira ou mova-o para fora da área de transferência; • Posicione as mangueiras, controles, refletor e mesa do equipo para fora do trajeto; • Posicione a cadeira odontológica na mesma altura da cadeira de rodas ou deixe-a mais baixa, o que minimiza a quantidade de força para elevação do paciente; • Preparo da cadeira de rodas (Figura 7): • Remova o suporte para os pés e posicione a cadeira de rodas próxima e paralela à cadeira odontológica;; • Trave as rodas no lugar e gire os rodízios dianteiros para trás; • Remova o braço da cadeira de rodas que estiver ao lado da cadeira odontológica; Figura 7. Preparo da cadeira odontológica e da cadeira de rodas. Fonte: CALDAS Jr, MACHIAVELLI, 2013 PÁGINA 50 • Execute a transferência pelo método de duas pessoas - pode ser o dentista e o auxiliar: • Apoie o paciente ao desatar o cinto de segurança; • O primeiro profissional deve se posicionar atrás do paciente, ajudar o paciente a cruzar os braços sobre o peito, colocar seus braços sob os úmeros do paciente e segurar seus pulsos; • O segundo profissional colocará as mãos sob a parte mais inferior das coxas do paciente. Iniciará a elevação do paciente em contagem combinada (1-2-3-levantar); • Ambos os profissionais: para suspender o paciente, colocar a força nos músculos das pernas e dos braços, evitando sobrecarregar as costas. • Levantar, delicada e simultaneamente, o tronco e as pernas do paciente (Figura 8). Figura 8. Demonstração da transferência pelo método de duas pessoas Fonte: CALDAS Jr, MACHIAVELLI, 2013 • Posicione o paciente com segurança na cadeira odontológica: • Centralize o paciente na cadeira odontológica; • Reposicione o assento a fim de obter maior conforto; • Se algum dispositivo de coleta de urina é usado, endireite a mangueira e coloque o saco coletor abaixo do nível da bexiga. PÁGINA 51 • Transferência da cadeira odontológica para a cadeira de rodas (altura, braço e área de transferência): • Posicione a cadeira de rodas perto e paralela à cadeira odontológica; • Trave as rodas no lugar, gire os rodízios dianteiros para trás e remova o braço da cadeira de rodas; • Eleve a cadeira odontológica até que ela esteja levemente mais alta do que a cadeira de rodas e remova o braço; • Transfira o paciente pelo método de transferência de duas pessoas; • Reposicione o paciente na cadeira de rodas, colocando o cinto de segurança; • Recoloque o braço e os suportes para pés. 5 PARALISIA CEREBRAL • A Paralisia Cerebral (PC) é uma DF, definida como encefalopatia crônica, não progressiva, ocasionada por uma lesão cerebral, antes do seu amadurecimento; • Podemos afirmar que se trata de um distúrbio do movimento e do tônus muscular; • A tonicidade muscular seria o estado particular de tensão permanente e involuntária dos tecidos vivos, nos pacientes com PC essa tonicidade estará alterada (hipertonia ou hipotonia), interferindo nos movimentos e postura do paciente; • A motricidade involuntária (realização de reflexos) e voluntária estará alterada, favorecendo o descontrole da coordenação e presença de movimentos involuntários; • Um aspecto clínico muito importante é a disfunção respiratória, e, quando o paciente estiver na cadeira odontológica, a atenção tem que ser redobrada. FIQUE ATENTO! A pessoa com PC não pode ser confundida com aquela que tem uma deficiência intelectual. A PC causa alterações do movimento, da postura, do equilíbrio e da coordenação, com presença variável de movimentos involuntários. PÁGINA 52 5.1 Tipo de Disfunções musculares da Paralisia Cerebral • Espasticidade: provocada por lesão no córtex cerebral, promovendo hipertonia, aumento da contração muscular e resistência para movimentação passiva da articulação. As contrações musculares podem ser bruscas e repentinas. O paciente pode apresentar: para, hemi ou tetraparesia; • Atetose – provocada por lesão nos núcleos da base. Observa-se movimentos involuntários distais e rotatórios e tônus flutuante, com posições retorcidas nas mãos e nos pés, podendo, em alguns casos, afetar também os músculos da face, pescoço e nuca; • Ataxia –causada por uma perda da função do cerebelo, provocando perda de coordenação dos movimentos musculares voluntários. O paciente possui um tônus hipotônico e pode apresentar perda de orientação espacial (Figura 9). Figura 9. Pacientes com PC de diferentes disfunções musculares. (A) Espástico, (B) Atetose e (C) Atáxico) (A) (B) (C) Fonte: CALDAS Jr, MACHIAVELLI, 2013 PÁGINA 53 Figura 10. Área do cérebro afetada e tipo/localização da disfunção muscular equivalente em pacientes com PC. Quanto mais escura a sombra, mais grave o envolvimento do paciente. Fonte: VARELLIS et al, 2017 5.2 Características sistêmicas e bucais • Além dos distúrbios da tonicidade muscular e motricidade, os pacientes com PC podem apresentar alterações: • Sensoriais (visual e auditiva); • Cognitivas; • Na comunicação; • Comportamentais e psicológicas (principalmente ansiedade) • Epilépticas • Os pacientes com PC vão necessitar geralmente de cuidadores para realizar as atividades de vida diária,inclusive higiene bucal, devido a DF; • A alimentação pode ser pastosa (líquida), semissólida (amassada) ou sólida; PÁGINA 54 • A frequência de cárie dentária, alterações periodontais e de má oclusão em pacientes com PC é alta, de acordo com a literatura. 5.3 Condutas no atendimento odontológico do paciente com PC: • A anamnese necessita ser minuciosa, inclusive, é importante registrar os hábitos alimentares e de higiene bucal, medicamentos utilizados e contato do médico; • Os questionamentos podem ser feitos ao paciente e/ou acompanhante, caso o paciente não consiga responder com coerência, pode-se fazer ao acompanhante, sem esquecer de dar atenção ao paciente; • Os cuidados gerais e bucais, geralmente, são realizados pelo cuidador, por isso, é importante ter empatia pelos dois, pois os mesmos necessitam de apoio e incentivo para melhorar as condições de vida; • A construção de vínculo é necessária para colaboração do paciente e favorece a experiência do mesmo, mesmo que não emita palavras, na maioria dos casos o paciente compreende a situação e lembrará das vivências em visitas posteriores (Figura 11); Figura 11. Conversa para construção de vínculo com paciente com PC. Fonte: Própria, 2018. PÁGINA 55 • A avaliação da higiene bucal também pode ser realizada por meio da observação da presença de biofilme visível, de sangramento gengival e da condição dentária; • É importante supervisionar a higiene bucal, seja ela realizada pelo paciente ou cuidador, antes das orientações, para realizá-las de forma mais individualizada. Se necessário, instrua o paciente/cuidador a utilizar as tecnologias assistivas; • Comunique tudo ao paciente antes de executar e apresente o que for utilizar ao mesmo; • As consultas necessitam ser rápidas e de abordagem individual; • No exame clínico, observe tipo de tônus muscular, motricidade voluntária e involuntária, localização da PC, tipo de respiração, deglutição, presença de refluxo gastroesofágico, presença de secreção e comportamento do paciente; • O tipo de manejo comportamental será escolhido de acordo com a idade, compreensão, disfunção muscular e presença de movimentos involuntários que o paciente apresente, começando por escolhas lúdicas; • No posicionamento, deve-se respeitar o padrão de posicionamento do paciente (por exemplo, flexão dos joelhos, caso apresente), manter a cabeça em linha média, evitar a hiperextensão do pescoço e monitorar a respiração e deglutição (Figura 12); • O atendimento na cadeira de rodas (Figura 6), contribui para o controle da posição e da disfunção muscular; • Os cuidadores conhecem bastante o paciente, por isso, peça ajuda a eles no posicionamento e na estabilização ativa, se necessária. • Alguns materiais podem ser utilizados para ajudar no posicionamento ou estabilização de movimentos involuntários, se houver: • Calças de posicionamento, confeccionadas com calca de tecido, retalhos e espuma (Figura 13); • Special Shape (Figura 14); • Almofadas para pescoço e membros; • Faixas e lençóis; • Estabilizador Zinkpinho, PÁGINA 56 • É importante utilizar abridores de boca sintéticos ou manufaturados, para auxiliar na abertura da boca (Figura 5); • Evitar movimentos bruscos e estímulos sonoros sem aviso; • Usar isolamento absoluto/ relativo e sugadores para ajudar no controle da saliva; Figura 12. Paciente com PC atendida no colo da mãe e com a boneca (abridor de boca) Fonte: Própria, 2018. Figura 13. Calça de posicionamento sobre a cadei- ra odontológica. Fonte: FERNANDES et al., 2007. Figura 14. Atendimento de paciente com PC com o Special Shape Fonte: http://www.dentalshape.com.br, 2019. PÁGINA 57 REFERÊNCIAS CALDAS Jr., A. F.; MACHIAVELLI, J. L. Atenção e cuidado da Saúde bucal da pessoa com deficiência: protocolos, diretrizes e condutas para cirurgiões-dentistas. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2013. 231 p. CAMPOS, C.C. et al. Manual prático para o atendimento odontológico de pacientes com necessidades especiais. 2ª edição. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2009. 111p. CARDOSO, A. M. R. et al. Programa de Saúde Bucal Domiciliar para Crianças e Adolescentes com Paralisia Cerebral. Pesq Bras Odontoped Clin Integr., João Pessoa, v. 12, n. 1, p. 127-33, 2012. CARDOSO, A. M. R. et al. Dental Caries and Periodontal Disease in Brazilian Children and Adolescents with Cerebral Palsy. Int J Environ Res Public Health, Basel, v. 12, n. 1, p. 335–53, 2015. FERNANDES, P. M. et al. Paralisia Cerebral: manejo no consultório odontológico. Revista UNINGÁ, Maringá, n. 14, p. 99-110, 2007 VARELLIS, M. L. Z . O paciente com necessidades especiais na Odontologia – Manual prático. 3° ed. São Paulo: Santos, 2017. 498p. PÁGINA 58 CAPÍTULO 6 PACIENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA LEONARDO HENRIQUE DE ARAÚJO CAVALCANTE O termo “autismo” vem do grego “autos” e denota um padrão de comportamento caracterizado pelo ato voltar-se para si mesmo. O autismo e todos os distúrbios, incluindo o transtorno autista, transtorno desintegrativo da infância, transtorno generalizado do desenvolvimento não especificado e Síndrome de Asperger, por exemplo, fundiram-se em um único diagnóstico chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA). O TEA é uma desordem heterogênea de neurodesenvolvimento, que pode ocorrer na infância ou na primeira infância. De acordo com a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o TEA é caracterizado por déficits persistentes na comunicação e interação social, bem como padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. A etiologia permanece, ainda, desconhecida e algumas hipóteses têm sido formuladas e propostas como alterações neuropsicológicas, estruturais ou funcionais, além de fatores ambientais e genéticos, como infecções virais, desequilíbrios metabólicos e exposição a produtos químicos e complicações neonatais ou perinatais. O TEA pode estar associado com deficiência intelectual, dificuldades de coordenação motora e de atenção e problemas de saúde física, tais como sono e distúrbios gastrointestinais, síndrome de déficit de atenção, hiperatividade e dislexia ou dispraxia. Estes sinais e sintomas estão presentes no período inicial de desenvolvimento e causam prejuízo clinicamente significativo em áreas sociais, ocupacionais ou outras áreas importantes da vida do paciente como, por exemplo, algumas funções biológicas. PÁGINA 59 O padrão de comportamento e as atitudes do paciente com TEA variam bastante, tanto quanto a cooperação durante o atendimento odontológico chegando até a impossibilidade de realizar exame clínico. Presença de alterações nos padrões de comportamento como dificuldades na comunicação verbal e não verbal, medo e ansiedade, resistência obsessiva a simples e mínimas mudanças de rotina são regularmente apresentadas em pacientes com TEA. O ambiente não familiar de um consultório odontológico com a presença do foco de luz operatória, variados ruídos dos instrumentos e o sabor de alguns dos materiais dentários podem ser percebidos como agressivos e podem desencadear a ansiedade dos pacientes e um comportamento mais agressivo e não cooperativo. Em virtude disso, alguns procedimentos terapêuticos e de diagnósticos frequentemente requerem premedicação sedativa ou anestesia geral. Além disso, medicamentos como anticonvulsivantes ou drogas psicoativas e múltiplos problemas médicos frequentemente associados complicam fortemente o manejo desses pacientes. Figura 1 e 2. Condicionamento e atendimento ao paciente com TEA. Fonte: própria, 2019. PÁGINA 60 Figura 3 e 4: Condicionamento e atendimento ao paciente com TEA. Fonte: própria, 2019 CONDUTA ODONTOLÓGICA • O primeiro ato do cuidado deve ser o acolhimento desse paciente. Deve-se criar espaço para o encontro com o(s) responsável(s). Nesse encontro, é importante que sejam conhecidas as características específicas da personalidade do paciente como interação social, comportamento, humor,linguagem, habilidades e se o mesmo participa de ações de terapia de suporte e acompanhamento; • Realizar um detalhado e cuidadoso questionário de saúde, que deve ser assinado pelo acompanhante responsável pelo paciente; • Individualizar a abordagem ao paciente e buscar desenvolver um vínculo com o mesmo. O desenvolvimento desse vínculo quase sempre não é imediato e pode levar algum tempo para surgir. Em alguns casos, infelizmente, não é possível desenvolver esse vínculo; 4 PÁGINA 61 Figura 3 e 4: Condicionamento e atendimento ao paciente com TEA. Fonte: própria, 2019 CONDUTA ODONTOLÓGICA • O primeiro ato do cuidado deve ser o acolhimento desse paciente. Deve-se criar espaço para o encontro com o(s) responsável(s). Nesse encontro, é importante que sejam conhecidas as características específicas da personalidade do paciente como interação social, comportamento, humor, linguagem, habilidades e se o mesmo participa de ações de terapia de suporte e acompanhamento; • Realizar um detalhado e cuidadoso questionário de saúde, que deve ser assinado pelo acompanhante responsável pelo paciente; • Individualizar a abordagem ao paciente e buscar desenvolver um vínculo com o mesmo. O desenvolvimento desse vínculo quase sempre não é imediato e pode levar algum tempo para surgir. Em alguns casos, infelizmente, não é possível desenvolver esse vínculo; 4 • Planejar algumas visitas prévias ao consultório antes de iniciar o tratamento para ambientar e familiarizar o paciente; • Criar uma rotina de atendimento buscando manter sempre o mesmo dia, horário e equipe profissional e, se possível, a mesma disposição de móveis, decoração, vestimentas e alguns aparatos clínicos; • O atendimento a esses pacientes requer muita dedicação às sessões de condicionamento. Utilizar técnicas de ludoterapia, smartfones, jogos eletrônicos, táticas e técnicas que possam reproduzir ou assemelhar-se a algum tipo de rotina são excelentes estratégias de manejo (Figura 1 a 4); • Registrar no prontuário se existiu consultas e tratamentos prévios, se houve necessidade de adoção de métodos de condicionamento ou técnicas de estabilização protetora; • Registrar no prontuário se existiu experiências prévias de sedação e a presença ou não de intercorrências durante esses procedimentos.; • Desenvolver um plano de tratamento prevendo consultas curtas e sistematizadas, buscando equilíbrio entre os riscos e benefícios aos quais o paciente será exposto; • Utilizar controle de voz e comandos claros, curtos e simples e técnicas de manejo como “dizer, mostrar, fazer”, além de reforço positivo como elogios imediatos e, também, ao final dos procedimentos e consultas; • Caso seja necessário o uso de técnicas de estabilização protetora, os responsáveis devem estar cientes. É importante que essa ação seja registrada no prontuário e, posteriormente, assinada pelo responsável autorizando o procedimento; • É importante evitar técnicas aversivas como estabilização física que utilize, por exemplo, a técnica «mão sobre a boca», reforço negativo, palavras ou termos que provoquem ou que estejam associadas a medo ou ansiedade (como «dor», «não vai doer», “injeção”, «furadinha», por exemplo); • Caso seja informado pelos responsáveis que o paciente apresente alguma hipersensibilidade, buscar saber qual e tentar, ao máximo, reduzir ou evitar tudo o que aumente essa estimulação sensorial como sons e ruídos, luz forte, sabores e odores; PÁGINA 62 • Durante as consultas e procedimentos clínicos procurar ignorar comportamentos inadequados como birra, gritos e, em alguns casos, a automutilação. Porém, diante de um comportamento automutilador agressivo e persistente, deve-se interromper o procedimento e solicitar ajuda médica especializada; • Devem ser priorizadas ações preventivas com procedimentos de educação e orientação de higiene oral tanto direcionadas ao paciente como aos responsáveis; • Aqueles procedimentos que demandam maior tempo de execução e de cadeira odontológica devem ser realizados, preferencialmente, depois que o paciente estiver devidamente condicionado e acostumado à rotina odontológica; • É importante que se interaja com o médico especialista e se discuta sobre os possíveis medicamentos utilizados pelo paciente, principalmente quando for necessária a sedação; • É de suma importância que o cirurgião-dentista tenha consciência que as maiores dificuldades em se trabalhar com pacientes portadores do TEA no ambiente odontológico serão a falta de cooperação e a incapacidade de estabelecer uma interação adequada com o profissional. REFERÊNCIAS American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-5). Disponível em: https://doi.org/ 10.1176/appi.books.9780890425596. Acessado em 27 de julho de 2019. CAMPOS, C.C. et al. Manual Prático para o Atendimento Odontológico de Pacientes com Necessidades Especiais. Universidade Federal de Goiás Faculdade de Odontologia, 2009. CALDAS JR, A. F.; MACHIAVELLI, J. L. Atenção e Cuidado da Saúde Bucal da Pessoa com Deficiência: protocolos, diretrizes e condutas para cirurgiões-dentistas. Recife. Ed. Universitária, 2013. HADDAD, A.S. Odontologia para pacientes com necessidades especiais. São Paulo: Editora Santos, p.228-39, 2007. PÁGINA 63 MANGIONE, F. et al. Autistic patients: a retrospective study on their dental needs and the behavioural approach. Clin Oral Investig. v.22, jul, 2019. LIMERES-POSSE, J. et al. Behavioural aspects of patients with autism spectrum disorders (ASD) that affect their dental management. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. v.19, n.5, p.476-72, set, 2014. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Mangione%20F%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=31332568 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31332568 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31332568 PÁGINA 64 CAPÍTULO 7 PACIENTES COM SÍNDROME DE DOWN LEONARDO HENRIQUE DE ARAÚJO CAVALCANTE A síndrome de Down (SD) é uma malformação congênita que leva o nome de John Langdon Down, um médico britânico que a descreveu pela primeira vez em 1866. SD ou Trissomia 21 é um acidente genético que ocorre no momento da concepção em 95% dos casos, é fortemente associada ao avanço da idade materna e pode ocorrer em todas as raças humanas. Uma separação atípica dos cromossomos durante a divisão celular resulta em três cromossomos no par 21. Pacientes com SD possuem características específicas na região da cabeça e pescoço. Entre as características orofaciais relatadas as mais comuns são agenesia e hipoplasia de dentes, dentes supranumerários, padrões atípicos de erupção e erupção ectópica, bruxismo, macroglossia (que pode ser relativa devido ao subdesenvolvimento dos ossos gnáticos), palato alto e estreito, prognatismo mandibular, mordida aberta, fissuras linguais e queilite angular. A morfologia dentária também é afetada e esses pacientes podem apresentar incisivos em forma de pá, dentes conóides, dentes com cristas marginais ausentes ou reduzidas e molares com as superfícies oclusais enrugadas. A prevalência da doença periodontal em pacientes com SD é relatada como significativamente maior quando comparada à população normal. O comprometimento do sistema imunológico com uma diminuição no número de células T aumenta o risco desses indivíduos em desenvolverem infecções, incluindo doença periodontal. A cárie é uma doença, de modo geral, pouco prevalente, mas os dados que corroboram essa afirmação são controversos devidos às várias alterações dentárias congênitas. PÁGINA 65 Crianças com SD possuem risco aumentado de sofrerem vários problemas médicos. Entre as alterações congênitas mais frequentes encontram-se cardiopatias, deficiência visual, problemas respiratórios, problemas auditivos, deficiências neurológicas, imunológicas e problemas do trato gastrintestinal além, claro, de apresentarem em graus variados, dificuldades motoras e cognitivas. Atualmente, é perceptível que indivíduos com SD estão mais bem integrados nas escolas, no trabalhoe na comunidade. O advento de melhores práticas de cuidados de saúde tem levado a uma melhor expectativa de vida que resulta em maiores necessidades de atendimento odontológico e, portanto, os profissionais devem estar cientes das características peculiares de paciente com SD, que podem afetar a prestação de cuidados de saúde bucal. Em vista dessas observações, o papel dos cirurgiões-dentistas é crucial na observação, exame, tratamento e acompanhamento de pacientes com SD. É importante que o cirurgião-dentista forneça informações adequadas sobre problemas bucais, desenvolvimento e cuidados com a saúde bucal desses pacientes. Figura 1. Acolhimento de paciente com Síndrome de Down. Fonte: Própria, 2019. PÁGINA 66 CONDUTA ODONTOLÓGICA • O primeiro ato do cuidado deve ser o acolhimento desse paciente (Figura 1). Deve-se criar espaço para o encontro com o(s) responsável(s). Nesse encontro, é importante que sejam conhecidas as características específicas da personalidade do paciente como interação social, comportamento, humor, linguagem, habilidades e se o mesmo participa de ações de terapia de suporte e acompanhamento. • Realizar um detalhado e cuidadoso questionário de saúde, que deve ser assinado pelo acompanhante responsável pelo paciente. • Registrar no prontuário o histórico médico do paciente caso ele apresente alguma alteração sistêmica congênita, se foi ou é tratada e de que forma. Caso seja relatado que o paciente não fez ou faz nenhum tipo de acompanhamento ou consulta médica, é importante encaminhar esse paciente ao médico (em especial ao cardiologista). • Recomendar aos pais que consultem regularmente um médico para monitorar e prevenir agravos e problemas de saúde. • Registrar no prontuário se o paciente faz uso de alguma medicação que possa interferir, de alguma forma, no tratamento odontológico. • Registrar no prontuário se existiu consultas e tratamentos prévios, hospitalizações e internações, se houve necessidade de adoção de métodos de condicionamento ou técnicas de estabilização protetora e como foi a reação do paciente (especialmente se o paciente for criança). • Individualizar a abordagem ao paciente e buscar desenvolver um vínculo com o mesmo. • Em alguns casos, a SD pode estar associada ao transtorno do espectro autista e o desenvolvimento desse vínculo pode não ser imediato e levar algum tempo para surgir. Em alguns casos, infelizmente, não é possível desenvolver esse vínculo. • É importante que se planejem algumas visitas prévias ao consultório antes de iniciar o tratamento, para ambientar e familiarizar o paciente. Especialmente em casos de crianças com autismo associado. PÁGINA 67 • Desenvolver um plano de tratamento prevendo consultas curtas, buscando equilíbrio entre os riscos e benefícios os quais o paciente será exposto. • Utilizar técnicas de manejo clínico do paciente semelhantes àquelas utilizadas na Odontopediatria como controle de voz e comandos claros, curtos e simples e técnicas como “dizer, mostrar, fazer”, modelagem do comportamento, dessensibilização, ludoterapia, musicoterapia, além de reforço positivo como elogios imediatos e ao final dos procedimentos e consultas (Figura 2). • Caso seja necessário o uso de técnicas de estabilização protetora, os responsáveis devem estar cientes. É importante que essa ação seja registrada no prontuário e, posteriormente, assinada pelo responsável autorizando o procedimento. • É importante evitar técnicas aversivas como estabilização física que utilize, por exemplo, a técnica «mão sobre a boca», reforço negativo, palavras ou termos que provoquem ou que estejam associadas a medo ou ansiedade (como «dor», «não vai doer», “injeção”, «furadinha», por exemplo). • Estar ciente que diferenças anatômicas no terço médio da face, em combinação com diferenças de desenvolvimento, como a hipotonia dos músculos orofaciais, podem causar problemas funcionais, incluindo problemas de amamentação, deglutição, mastigação e fala. Por isso, o atendimento multiprofissional é importante. • Devido à hipotonia da musculatura orofacial crianças com SD tendem a projetar anteriormente a língua e para obter uma oclusão mais estável, eles também projetam a mandíbula. Essa combinação pode levar à respiração bucal. Tal condição pode favorecer o surgimento da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) e infecções das vias aéreas. Os pais devem ser conscientizados quanto a essa condição e o médico deverá ser consultado. • Como consequência da respiração bucal, o acúmulo de biofilme pode ser intensificado e o mecanismo de limpeza natural da saliva é comprometido, o que favorece o surgimento e o agravo da doença periodontal. Assim, é importante que o espaço entre as consultas de retorno e manutenção seja curto (dois ou três meses para casos mais simples e retorno mensal em casos mais comprometidos). PÁGINA 68 • É preciso orientar os pais quanto à possibilidade de erupção dentária tardia e, até mesmo, agenesia dentária. Para tanto, métodos radiográficos como radiografia panorâmica ajudam nessa investigação e aconselhamento. • É importante que as orientações de higiene oral sejam intensificadas e métodos preventivos sejam abordados constantemente, uma vez que o mecanismo de limpeza pela saliva é alterado e a presença de resíduos alimentares interdentários podem diminuir o pH oral favorecendo a desmineralização e o surgimento de cáries. • Evitar a hiperextensão do pescoço para diminuir riscos de luxação, devido à instabilidade atlanto-axial. Deve-se realizar ajuste adequado do paciente na cadeira associado à manipulação cuidadosa da cabeça do paciente. • Baseando-se no tipo de alteração sistêmica que o paciente apresentar (cardiopatias em especial) é importante verificar a necessidade e a importância de profilaxia antibiótica. • A depender do nível e capacidade de cooperação do paciente, a sedação pode ser considerada. Figura 2. Paciente exibindo prêmio recebido como reforço positivo ao final da conclusão do tratamento. Fonte: Própria, 2019. A PÁGINA 69 • É preciso orientar os pais quanto à possibilidade de erupção dentária tardia e, até mesmo, agenesia dentária. Para tanto, métodos radiográficos como radiografia panorâmica ajudam nessa investigação e aconselhamento. • É importante que as orientações de higiene oral sejam intensificadas e métodos preventivos sejam abordados constantemente, uma vez que o mecanismo de limpeza pela saliva é alterado e a presença de resíduos alimentares interdentários podem diminuir o pH oral favorecendo a desmineralização e o surgimento de cáries. • Evitar a hiperextensão do pescoço para diminuir riscos de luxação, devido à instabilidade atlanto-axial. Deve-se realizar ajuste adequado do paciente na cadeira associado à manipulação cuidadosa da cabeça do paciente. • Baseando-se no tipo de alteração sistêmica que o paciente apresentar (cardiopatias em especial) é importante verificar a necessidade e a importância de profilaxia antibiótica. • A depender do nível e capacidade de cooperação do paciente, a sedação pode ser considerada. Figura 2. Paciente exibindo prêmio recebido como reforço positivo ao final da conclusão do tratamento. Fonte: Própria, 2019. A REFERÊNCIAS: AREIAS, C. et al. Oral helth in Down Syndrome in: Health problems in Down Syndrome. InTech. 2015. Disponível em: https://www.intechopen.com/books/health-prob-lems-in-down-syndrome/oral-health-in-down-syndrome. CALDAS Jr., A.F.; MACHIAVELLI, J.L. Atenção e cuidado da Saúde bucal da pessoa com deficiência: protocolos, diretrizes e condutas para cirurgiões-dentistas. Ed. Universitária da UFPE. 2013. CAMPOS, C.C, et al. Manual prático para o atendimento odontológico de pacientes com necessidades especiais. Universidade Federal de Goiás, Goiânia: 2ª edição, 2009. 111p. DESCAMPS, I. et al. Dental care in children with Down syndrome: A questionnaire for Belgian dentists. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. v.24, n.3, p385-91, mai, 2019. HADDAD, A.S. Odontologia para
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