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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 Trauma raquimedular (trm) A medula espinhal é considerada como SNC (primeiro neurônio), mas as raízes nervosas são consideradas como sistema nervoso periférico (segundo neurônio). Isso implica que lesões da medula espinhal terão apresentação com liberação piramidal, enquanto lesões das raízes não terão. TRAUMA RAQUIMEDULAR É um trauma que envolve a coluna vertebral e a medula espinhal. É um trauma predominantemente de adultos jovens. Mais frequentemente acomete a coluna cervical; O TRM associa-se basicamente com acidentes automobilísticos ou queda de altura. TCE associam-se ao TRM em até 74% dos casos. Pela energia do trauma pode ocorrer uma fratura do corpo vertebral, que colapsa e comprime o canal medular, ou pode ocorrer uma luxação vertebral, igualmente diminuindo o diâmetro do canal vertebral. Em ambos os casos, a transmissão de impulsos pela medula espinhal é interrompida, parcial ou totalmente. Isso gera o que chamamos de nível neurológico: um nível abaixo do qual não há mais funcionamento neurológico normal. Com isso, há liberação piramidal e perda de função simpática, o que leva a descontrole autonômico, particularmente importante para o choque neurológico. SCIWORA: é uma lesão que ocorre em crianças na qual ocorre lesão medular sem alteração radiográfica óssea. O mecanismo de trauma principal é flexão-distração - que ocorre na coluna cervical. EXAME FÍSICO Nível neurológico: ultimo nível de função sensitiva e motora normais! Obs: somente a lesão medular pode gerar um nível neurológico, nenhuma outra lesão do SNC é capaz de gerar uma lesão dessa forma. Em uma lesão medular completa, abaixo desse nível, haverá abolição total da função neurológica, abolição de reflexos, paralisia flácida, anestesia e sinais de liberação piramidal (ex: sinal de babinsk). LESÕES CERVICAIS (C1-C8) - Tetraplegia - Insuficiência respiratória (diafragma C3-C5) - Perda do tônus vasomotores e inervação simpática. Ombros - deltoide C5 LESÕES TORÁCICAS (T1-T12) - Paraplegia; Axilas T2 Mamilo T4 Apêndice Xifoide T8 Umbigo T10 Púbis T12 LESÕES LOMBO-SACRAIS (L1-L5 S1-S5) - MMII Joelho L3 Esfíncter perianal S4-S5 AVALIAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR GRAU 0: Sem contratura ou movimento 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 GRAU 1: alguma contração muscular GRAU 2: Movimentação no plano, sem influência da gravidade. GRAU 3: Vence a gravidade, mas não vence a resistência. GRAU 4: Vence alguma resistência, mas força ainda abaixo do normal. GRAU 5: Força normal; CLASSIFICAÇÃO DE FRANKEL Obs; a definição do nivel neurologico só é feita após a resolução do choque medular (retorno do reflexo bulbocarvernoso). CHOQUE MEDULAR É como se com o desligamento subito de suas conexões, a medula espinhal abaixo do nivel lesado, mesmo que não lesada diretamente, entra em choque e para de funcionar. Isso é importante porque qualquer déficit motor ou sensitivo avaliado nas primeiras 48h de trauma pode estar superestimado e não deve ser considerado como definitivo. O choque medular apresenta-se com: PARALISIA, ARREFLEXIA E HIPOTONIA. O sinal que deve ser pesquisado em todo paciente com trauma raquimedular é o sinal da piscadela anal através do reflexo bulbocavernoso. Esse sinal é importante pois no choque medular, esse reflexo está ausente por 24-48h e seu retorno indica o final do choque. REFLEXO BULBOCAVERNOSO: Deve-se fazer um toque retal, na sequencia, estimula-se a glande em homens ou o clítoris em mulheres (se o paciente estiver sondado, pode-se tracionar a sonda). Esse estimulo aferente levará a contração reflexa do esfincter anal, que pode ser sentida no toque retal. Ele está ausente no choque medular e seu retorno indica o fim do choque. Isso indica que as lesoes indentificadas inicialmente no trauma raquimedular não são lesoes deifinitivas. A partir do fim do choque medular, pode-se avaliar novamente o nivel neurológico e as sequelas futuras. CHOQUE NEUROGÊNICO O controle simpático é exercido por fibras que emergem, nivel a nivel, da medula. Dessa forma, uma lesao completa, haverá perda de função desses nervos abaixo do nivel da lesao. Os nervos simpáticos são responsaveis por manter o tônus dos vasos sanguíneos e assim a pressão arterial. Ao mesmo tempo, fazem o controle da FC. A apresentação clínica é; HIPOTENSÃO BRADICARDIA EXTREMIDADES FRIAS E ÚMIDAS PRIAPISMO Para que o choque efetivamente ocorra, a lesao deve ser no nível de T6 ou mais alta. Como temos uma perda de controle neurológico com diminuição da pré-carga, aumentar essa pré-carga por meio de liquidos não será suficiente. Esse é um choque que não responde a volume!! 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 O melhor tratamento é com agentes vasoconstrictores, que permite contração dos vasos e aumento da FC e contratilidade cardiaca. SÍNDROMES MEDULARES Síndrome centromedular: é clássica do idoso; a artrose vertebral pré-existente com o trauma, leva a compressao central da medula. Ocorre o acometimento dos membros superiores mais do que os inferiores, preservação sacral. Síndrome de Brown-Sequard: há uma hemissecção medular. Assim teremos perda de força motora e preservação de sensibilidade dolorosa do mesmo lado. Síndrome medular anterior: perda total de sensibilidade e motricidade abaixo do nivel. Mal prognóstico. Sindrome medular posterior: comprometimento da sensibilidade vibratoria e propriocepção. Função motora e sensibilidade termico-dolorosa preservada. Sindrome cone medular: arreflexia da bexiga, intestino e MMII. Síndrome da cauda equina: anestesia em sela, arreflexia total. Urgencia ortopédica. ATENDIMENTO INICIAL E CONDUTAS É prática considerar todos os pacientes como traumatizados medulares até que se prove o contrário. Dessa forma são imobilizados com colar cervical, headblock e colocados em prancha rígida. A prancha rigida é exclusivamente para transporte e pode ser retirada tão logo o paciente chegue ao hospital. Na avaliação da coluna faz-se movimento em bloco para decúbito lateral e palpa-se todas as vertebras em busca de dor. A coluna cervical encontra-se protegida por meio do colar cervical e para retirar-lo deve-se seguir um fluxograma: 1. HÁ ALGUM CRITÉRIO NEXUS (DILCE). 2. PALPAÇÃO DA COLUNA CERVICAL GERANDO DOR. 3. MOVIMENTAÇÃO ATIVA DA COLUNA CERVICAL GERANDO DOR. Se SIM para algumas das 3 perguntas MANTER COLAR E SOLICITAR EXAMES. Se NÃO para as 3 perguntas RETIRAR O COLAR. Critérios DILCE: D: déficit neurológico I: intoxicação (etanol ou drogas). L: lesão extrema que distraia o paciente durante o exame. C: Consiência alterada (glasgow <15) E: espinha dolorosa (dor a palpação da cervical). Se alteração do nivel de consciência, intoxicação ou déficit neurológico: realizar uma TC de coluna cervical. Se não RX anteroposterior e perfil. Obs: corticoides não são mais indicados. Como retirar o colar? Explicar ao paciente. Pedir para não movimentar a cabeça Abrir o colar. Fazer inspeção e palpação da coluna cervical Solicitar que o paciente movimente a cabeça para os lados. Elevar o mento. Encostar o queixo no peito nesse momento retirar o colar. 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2023 CHEGADA DO PACIENTE 1. Restrição do movimento da coluna 2. Se obstrução de vias aéreas: Tração de mandíbula (Jaw-trust) Evitar elevação do mento. 3. Se indicado = IOT IOT > mascara laríngea > crico 4. Sinais de choque: Cristaloide 1000-2000ml 5. Se persistência da hipotensão + FC normal/baixa + Tetraplegia Considerar CHOQUE NEUROGÊNICO 6. Conduta: Atropina 1mg EV bolus (se FC <50) Noradrenalina - alvo PA >90X60mmHg