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1 NEUROPEDAGOGIA 1 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 2 SUMÁRIO NEUROCIÊNCIA E O DÉFICIT INTELECTUAL: APORTES PARA A AÇÃO PEDAGÓGICA (ADAPTADO) ...................................................................................... 4 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4 A NEUROCIÊNCIA: AVANÇOS CIENTÍFICOS NA COMPREENSÃO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ................................................................................ 7 CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA O PROCESSO EDUCACIONAL INCLUSIVO DE ALUNOS COM DÉFICITS INTELECTUAIS ................................... 9 A NEUROCIÊNCIA E A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA DE PROFESSORES CAPACITADOS E ESPECIALIZADOS ...................................................................... 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 16 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 30 NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO................................................................................ 18 EMERGÊNCIA DA NEUROEDUCAÇÃO: A HORA E A VEZ DA NEUROCIÊNCIA PARA AGREGAR VALOR À PESQUISA EDUCACIONAL (Adaptado) ................. 18 A necessidade de um paradigma científico para a pesquisa educacional ....................... 18 1.1. Contexto: a evolução do pensamento sobre o conhecimento humano e o aprendizado e as novas necessidades da pesquisa .............................................................................. 18 NOVAS EXIGÊNCIAS NA EDUCAÇÃO- PARA ALÉM DO CONSTRUTIVISMO 20 2. Sobre Neuroeducação: surgimento e relevância ......................................................... 21 A NEUROEDUCAÇÃO COMEÇA A GANHAR CORPO .......................................... 22 2.1. Tópicos, fundamentos e princípios da Neuroeducação ........................................... 23 QUATORZE PRINCÍPIOS BÁSICOS, A SEREM USADOS COMO FIO CONDUTOR DA NEUROEDUCAÇÃO, ............................................................................................ 24 3- Produzir tecnologia educacional com fundamentos neuroeducativos........................ 26 A PESQUISA DE BASE NEURO-EDUCACIONAL - VASTO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO .......................................................................................................... 26 3 RELEVÂNCIA DE IDENTIFICAR NECESSIDADES COGNITIVAS E DE MOTIVAÇÃO DE CADA PÚBLICO ........................................................................... 28 Referências ..................................................................................................................... 32 Notas ............................................................................................................................... 35 4 NEUROCIÊNCIA E O DÉFICIT INTELECTUAL: APORTES PARA A AÇÃO PEDAGÓGICA (ADAPTADO) Marlene Cabral de SouzaI; Claudia GomesII IPedagoga formada pela Universidade Federal de Alfenas, Alfenas, MG, Brasil IIProfa. Dra. do nstituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), Universidade Federal de Alfenas, Alfenas, MG, Brasil INTRODUÇÃO De um total de 191,5 milhões de habitantes, o Brasil tem 2,6 milhões de brasileiros com déficit intelectual1. Esse número é grande e ganha destaque, principalmente, porque estamos na era da inclusão e a política educacional tem sido fortificante à causa da inclusão escolar. O número de pessoas com essa deficiência aumentou se comparado aos dois milhões de pessoas no Censo de 2000. Precisa-se considerar que admitir alunos com deficiência na escola é um grande passo dado por uma sociedade que almeja ser mais justa, mais solidária e mais democrática e, sobretudo, inclusiva. Vale ressaltar que, apesar desse movimento de colocar todas as crianças na escola, não se pretende aqui dizer que esta se efetive, sabe-se dos percalços que a inclusão enfrenta no país. Sendo assim, frente a uma parcela representativa em nossa sociedade, há de se esperar que muitas sejam as políticas públicas direcionadas às pessoas com necessidades especiais. Mas, dentre todas as esferas, parece ser as políticas intituladas de propostas de inclusão escolar, que vêm promovendo discussões efetivas no cenário social2,3. As discussões quanto à proposta de inclusão permeiam o panorama escolar há décadas, mas foi a partir de 1994, que as questões proclamadas ganharam foro mundial pela UNESCO, em documento intitulado Declaração Mundial de Salamanca4. Posteriormente, na América Latina, documentos como a Declaração de Guatemala5 e a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas com Deficiência6 deram novo impulso às discussões sobre a inclusão escolar. Já no plano nacional e, mais recentemente, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica7, assim como a Resolução Nacional de Educação Especial na perspectiva da Inclusão8, são exemplos legais e políticos que amparam a temática da inclusão escolar, e que buscam acima de tudo reestruturar as bases 5 organizacionais e pedagógicas das escolas para que venham a possibilitar a inclusão e permanência de seus alunos. Os amparos legais vêm possibilitando gradativamente a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular, fato que pode ser constatado pelos dados apresentados no Censo da Educação Básica, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais no ano de 20068, finalizado e divulgado em 2008, que indica crescimento de 72,4% do número de matrículas realizadas em escolas regulares, o que, segundo análise, torna-se um favorável indicador para a inclusão escolar, mas que, no entanto, não garante que o direito de permanência e desenvolvimento desses alunos no ensino regular esteja sendo resguardado, apenas com a consideração do aumento de matrículas na rede regular. O que se percebe, é que o embate decorrente da contradição entre o legalmente imposto e divulgado (pelas legislações e regulamentos educacionais) e o realmente possível (estruturação física, organizacional e humana das instituições escolares) delimita e amordaça as propostas de inclusão escolar, ao empregar ações cada vez mais descomprometidas, distantes das realidades sociais dos alunos, seus familiares e professores9-11. Dentre as principais causas do distanciamento entre a intenção e a realidade educacional em nosso país12, podem ser destacados os seguintes pontos: a manutenção das formas hierarquizadas e pouco democráticas das ações políticas e interventivas, a desconsideração da história daqueles que vivem o dia-a-dia da escola13-15; a implantação das ações sem a articulação com a infraestrutura necessária;desconhecimento dos sujeitos e agentes envolvidos das reais finalidades das propostas implementadas16,17. É na consideração desse novo contexto escolar, com a inclusão de todos os alunos, inclusive alunos com necessidades especiais, que atualmente, as escolas vêm sendo desafiadas, efetivamente, uma vez que essa população de alunos, explicitamente, caracteriza-se por possuir comprometimentos que afetam sua integridade, podendo trazer prejuízos à locomoção, à coordenação de movimentos, à sua fala, à compreensão de informações, à orientação espacial ou à percepção e ao contato com outras pessoas. Dentre esses prejuízos destacam-se as deficiências físicas, mentais, visuais e auditivas e, portanto, exigem novos posicionamentos que reconstruam o discurso enraizado frente ao oferecimento de ações educativas dispensadas a eles8. Todavia, novos posicionamentos estão trazendo e alcançando modificações importantes sobre essa questão. Quando associada à ação educacional, a proposta 6 inclusiva visa como foco central de atenção, a aplicação de práticas de ensino- aprendizagem que abranja todo e qualquer aluno, propondo, desenvolvimento a partir de suas próprias potencialidades, e, acima de tudo, embasada no respeito e na valorização das diferenças existentes entre as pessoas. A política educacional inclusiva tem como propósito fundamental assumir e aceitar as diferenças humanas, modernizando e evoluindo as práticas educacionais, para que possam ser adaptadas a todas as necessidades dos alunos, ao invés, de se adaptar a criança às ações pré-concebidas a respeito do ritmo e da natureza do processo de aprendizagem. A democracia da educação só pode ser refletida em sistemas educacionais que apresentam como meta oferecer qualidade de ensino a todos os seus alunos, indistintamente, não aplicando uma vertente exclusiva para os alunos com necessidades educacionais especiais, pois, não se trata de uma educação especial para tais, mas sim para toda a sua clientela. No entanto, exige, constantemente, reformulações e novos posicionamentos, motiva a modernização do ensino e, essencialmente, o aperfeiçoamento das práticas docentes. Torna-se, portanto, uma inovação que implica atualização e reestruturação das condições educacionais das escolas brasileiras10. Assim como crianças que não possuem deficiências têm seus direitos garantidos pela lei, também alunos com déficit intelectual devem ser incluídos na escola, de modo que recebam a mesma educação e oportunidades que os demais. A educação inclusiva proporciona aos alunos a convivência com a diversidade, resultando uma escola acolhedora das diferenças. Acima de tudo, crianças com déficit intelectual também são acolhidas e recebem respostas às suas necessidades educacionais específicas. Sabendo-se que alunos com déficit intelectual apresentam complicações em apropriar-se de conteúdos abstratos, faz-se necessário o emprego de materiais pedagógicos concretos, estratégias metodológicas que facilitem sua aprendizagem e desenvolvam suas habilidades cognitivas. Apesar da atual política educacional privilegiar a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em turmas comuns, alunos com déficit intelectual ainda são matriculados em escolas especiais18. A partir da publicação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e das Diretrizes do Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade de Educação Especial, dados recentes do MEC apontam que dos 700.824 alunos matriculados na Educação Especial, 330.794 possuem déficit 7 intelectual. Tendo como foco o aluno com Síndrome de Down que apresenta déficit intelectual. O objetivo dessa lei é assegurar a inclusão desses alunos na escola regular e para que se cumpra essa lei são necessárias algumas mudanças na escola e nas práticas pedagógicas do professor. São necessários conhecimentos em outras áreas que ofereçam alternativas que contemplem a diversidade dos alunos. Nesse sentido, devido aos avanços e descobertas da Neurociência, permite-se a compreensão de novas aprendizagens, assim ofertando subsídios para o ensino. A Neurociência inclui ciências naturais que possuem princípios que buscam compreender a estrutura e o funcionamento cerebral, dessa forma apresenta a cientificidade para se trabalhar com diferentes cérebros. Conhecer o funcionamento cerebral desse alunado é extremamente importante para uma prática pedagógica que funcione19. Com base nas considerações explanadas, este estudo objetiva caracterizar as contribuições da Neurociência para a qualificação da mediação pedagógica para alunos com déficit intelectual. A NEUROCIÊNCIA: AVANÇOS CIENTÍFICOS NA COMPREENSÃO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO No passado, o conhecimento do funcionamento cerebral e como o homem aprendia era uma curiosidade da humanidade. No entanto, para uma melhor compreensão careciam de equipamentos e técnicas, assim a concepção que se tinha era limitada pela falta de instrumentos de pesquisa. Antes se acreditava que o cérebro não tinha funcionalidade para o homem, exemplo disto, são os egípcios que guardavam as vísceras para estudo e o cérebro era jogado fora. Com a ciência moderna, houve a necessidade de estudar o sistema nervoso e seus conhecimentos trouxeram um novo apontamento para diferentes áreas do saber como, por exemplo, medicina e educação20-22. Alguns pesquisadores tentaram explicar como o cérebro funcionava. No século XVIII havia pouco conhecimento sobre o assunto, que era baseado em hipóteses, a partir de experiências em cadáveres de animais e seres humanos que eram dissecados e observada uma série de estruturas diferentes anatomicamente e, a partir de então, pressupunham que se anatomicamente eram diferentes, a função deveria ser também distinta. Sendo assim, não se conseguiam fazer uma relação entre estrutura e função20-22. O primeiro estudioso que fez considerações importantes a respeito do cérebro foi o médico e neuroanatomista Franz Joseph Gall (1758-1888), pioneiro em ilustrar as 8 circunvoluções corticais. A partir de seu estudo, houve avanços para evidenciar o córtex cerebral e suas funções específicas. Já o cientista francês Pierre Flourens (1825) lutou para demonstrar que as teorias de Gall estavam equivocadas. Para tanto, por meio de estudos com cérebros de coelhos e pombos conseguiu demonstrar que os hemisférios cerebrais eram responsáveis pelas funções cognitivas superiores, a fala que no caso dos animais era emissão de som, a visão, a orientação, movimentos, conseguiu afirmar que esses hemisférios eram os responsáveis por essas ações. Provou também que o cerebelo era responsável pela regulação e integração dos movimentos e que o tronco cerebral era importante para o controle das funções vitais, como respiração, batimento cardíaco, regulação da pressão. Estudos posteriores em países como Alemanha, França e Inglaterra, utilizando estimulação elétrica no córtex de primatas e cães, forneceram uma prova de que havia uma localização precisa das funções. Outro cientista Pierre Paul Broca (1860-1870) estudou pacientes afásicos pós- morte que não falavam e identificou uma zona específica destruída por neurossífilis. Após a morte de uma pessoa doente que não falava, percebeu que havia tido sífilis, e esta quando não tratada atacava o sistema nervoso, identificou esta área que chamou de Broca, área que controla a fala. O cérebro humano é um órgão complexo, responsável por coordenar muitas informações vindas dos sentidos, sistema imunológico e também das emoções. Ele é o centro de controle do movimento, sono, fome, sede e quase todas as atividades vitais necessárias à sobrevivência. Emoções, como o amor, o ódio, o medo, a ira, a alegria e a tristeza, também são controladas por esse órgão, que ainda recebe e interpreta os inúmeros sinais enviados pelo organismoe pelo ambiente. Alguns estudiosos também o chamam de encéfalo sendo suas funções ligadas à capacidade cognitiva e afetiva do ser humano. Possuem ventrículos que são diferentes câmaras cheias de líquidos. Este é composto por dois hemisférios justapostos e separados por um sulco e cerebelo constituído por dois hemisférios direito e esquerdo. Tronco encefálico é uma estrutura contínua com a medula espinhal que se esconde por trás do cerebelo e por dentro do cérebro23. O córtex cerebral é a superfície do cérebro enrugada cheia de sulcos, região que estão representadas as funções neurais e psíquicas mais complexas. Geralmente dividido em grandes regiões denominadas lobos, seus nomes fazem referência aos ossos que os cobrem: o lombo frontal, parietal, occipital, temporal19. 9 Além desses lobos destaca-se também o lobo insular, região mais interna do cérebro. Qualquer lesão no cérebro pode afetar os lobos e causar sérias lesões e comprometimento gravíssimo das atividades. Essas importantes regiões possuem funções que nos ajudam compreender como são os processos mentais que colaboram na aquisição, por exemplo, da aprendizagem, tão importante para ações pedagógicas em sala de aula com alunos com deficiência. Esse órgão - que possui inúmeras funções - também tem cerca de cem bilhões de neurônios como estruturas básicas para seu funcionamento e suas atividades cerebrais se dá pela transmissão de sinais elétricos. Esses neurônios se adaptam e se modificam à medida que interagem com o meio ambiente, essa interação é realizada por meio dos cinco sentidos, portanto, são mutáveis, ou seja, possuem plasticidade, podendo modificar sua função24. O sistema nervoso central reúne as estruturas neurais situadas dentro do crânio e da coluna vertebral, sendo dividido em encéfalo e medula espinhal. O encéfalo localiza- se no crânio e a medula espinhal é a parte que continua a partir do encéfalo no interior do canal da coluna vertebral. Ela é cilíndrica ou tubular, nela existe um canal cheio de líquido, apresenta funções motoras e sensitivas relacionadas ao controle do funcionamento do corpo. O encéfalo possui forma irregular com dobraduras e saliências com subdivisões. CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA O PROCESSO EDUCACIONAL INCLUSIVO DE ALUNOS COM DÉFICITS INTELECTUAIS Neurociências é o estudo científico do sistema nervoso, cujo objetivo é investigar o seu funcionamento, sua estrutura, seu desenvolvimento e suas alterações, agregando suas diversas funções. Acrescentam-se ainda na sua definição, as ciências naturais que estudam princípios que descrevem a estrutura e atividades neurais, buscando a compreensão dos fenômenos observados. A terminologia está no plural, pois, são muitas neurociências, possuindo várias abordagens e existem muitos modos de classificá-las dependendo do enfoque. Um jeito distinto de se conceber a diversidade de metodologias para se estudar o cérebro humano é - como proposto por Lent - relacionar, em princípio os distintos níveis anatômicos - funcionais que a biologia utiliza para o estudo dos seres vivos23. Pode ser: Neurociência Molecular (Neuroquímica ou Neurobiologia Molecular), que estuda as moléculas funcionais do sistema nervoso; Neurociência Celular (Neurocitologia ou Neurobiologia) 10 cujo objeto de estudo são as células do sistema nervoso, sua estrutura e função; Neurociência Sistêmica estuda as células nervosas das diferentes regiões do sistema nervoso cuja função está relacionada à visão, à audição, etc.; Neurociência comportamental estuda as estruturas neurais do comportamento humano e outros fenômenos e a Neurociência cognitiva que lida com algumas capacidades humanas, como, por exemplo, a linguagem, e memória humanas20. Assim sendo, são muitos os profissionais que estudam o cérebro humano, mas são os neurocientistas que realizam pesquisa em Neurociência. Especialistas como médicos, psicólogos, enfermeiros e, também, educadores e pedagogos têm se interessado quanto às contribuições do sistema nervoso para os processos de aprendizagem23. Para a educação, a Neurociência contribui no sentido que, para essa abordagem científica, cada indivíduo é único, com um significado e identidade singular. As neurociências colaboram no entendimento do cérebro humano para saber como ele funciona e apontam mudanças em como ensiná-los25. Além do mais, as descobertas sobre a plasticidade cerebral e a compreensão das funções mentais exercem influência sobre as práticas educacionais, as ações pedagógicas em sala de aula e direcionam ao professor novas formas de ensino. Estudos recentes vêm sendo realizados nas áreas de Neurociências, a fim de demonstrar como o cérebro aprende, e os resultados quando aplicados no meio educacional são considerados satisfatórios. E uma das contribuições para a educação é que se traz para a sala de aula, juntamente com seus educadores e alunos, as novas descobertas dessa ciência, para serem aplicadas na sala de aula visando à aprendizagem e a maneira de se ensinar. Para Pereira26, a Neurociência tem como objetivo dar os devidos esclarecimentos sobre as estruturas neuronais que apoiam as ações perspectivas ou motores, tão necessárias para a aprendizagem. Especificamente para a educação, a Neurociência colabora para o processo de aprendizagem, pois essa ciência retrata o cérebro como o principal instrumento para a aprendizagem. Apresentando uma propriedade denominada plasticidade cerebral, esse órgão possui uma capacidade de reorganização cerebral conforme o uso, sendo sua notável característica, e conforme autores como Consenza & Guerra19, o cérebro humano em funcionamento modifica a estrutura cerebral do aluno. A partir da Neurociência e do conhecimento neurocientífico gerado por essa ciência pode se abrir um diálogo com a educação no sentido de cooperação e parceria. 11 Entretanto, deve-se considerar que seus conhecimentos não são uma nova proposta de educação, assim como os autores Consenza & Guerra19 esclarecem: "(...) elas não propõem uma nova pedagogia nem prometem soluções definitivas para as dificuldades da aprendizagem. Podem, contudo, colaborar para fundamentar práticas pedagógicas que já se realizam com sucesso e sugerir ideias para intervenções, demonstrando que as estratégias pedagógicas que respeitam a forma como o cérebro funciona tendem a ser mais eficientes. Os avanços das neurociências possibilitam uma abordagem mais científica do processo ensino-aprendizagem, fundamentada na compreensão dos processos cognitivos envolvidos." Quando uma criança na fase escolar não consegue aprender, educadores e professores fazem uma investigação para constatar porque o desempenho do aluno não corresponde ao esperado. As explicações a este tipo de situação são bem variadas: problemas familiares, condições ruins da família, deficiência, falta de interesse, preguiça, dentre outros. A escola sempre aponta direções externas a ela, a causa sempre está no outro, "dificilmente está no ensino, mas sim na aprendizagem"27. Diante desse quadro, tanto psicólogos quanto neurologistas podem contribuir, pois quem faz um diagnóstico é o médico e não o professor, no caso da criança possuir uma patologia, distúrbios, deficiência ou transtorno, mas em se tratando de aprendizagem escolar o profissional que intervem no processo de aprendizagem é o educador que, com suas práticas pedagógicas, pode trazer diferentes possibilidades de aprendizagem a seus alunos28. A contribuição desses profissionais é de suma importância, mas a abordagem de ensino e aprendizagem a tarefa é do educador. Nesse sentido, o conhecimento sobre a Neurociência pode contribuir, a fim de que saiba sobre o cérebro de seus alunos, como esse órgão processa os saberes, como aprende, e também pode sugerir as intervenções que o professor deve fazer com suas crianças, pois todos podem aprender. As açõespedagógicas em sala de aula podem ficar mais eficientes quando este conhece o funcionamento cerebral. Embora, não seja suficiente ter esse conhecimento, ele permitirá que o docente compreenda melhor como seus educandos aprendem e se desenvolvem19. Se todos os alunos podem aprender, isto precisa estar explanado para os professores em suas práticas pedagógicas. Entretanto, deve-se considerar que a aprendizagem de cada um é diferente, acontece em tempos e etapas distintas e se desencadeia a partir de estímulos diferenciados. Todas elas estão demarcadas em suas 12 atividades neurocerebrais. Há um trajeto químico no cérebro que mantém e que operacionaliza cada ação executada pelos alunos28. A Neurociência, que trata da cientificidade do cérebro, aponta a plasticidade cerebral como uma habilidade que este possui de se reorganizar a partir do aprendizado dos aprendizes, de acordo com meio em que está inserido28. Lent23, ao caracterizar essa habilidade cerebral, afirma que o ambiente contribui para modificar a estrutura do sistema nervoso, ou seja, o cérebro responde às atividades promovidas pela ação do ambiente que o atinge. A partir dessa exposição de Lent observamos que essa capacidade do cérebro de construir novas conexões neurais e modificar suas estruturas é que possibilita nosso aprendizado durante toda a nossa vida. Conforme Relvas20, o cérebro humano tem a capacidade de adaptação, ou seja, se remodela de acordo com as experiências vivenciadas pelo sujeito, ou seja, o cérebro é maleável, que se modifica sob o efeito de experiências, ações e comportamentos dos indivíduos. Essa plasticidade é decorrente das atividades dos neurônios do cérebro, pois a cada experiência e aprendizado, novas conexões neurais são acrescentadas. A NEUROCIÊNCIA E A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA DE PROFESSORES CAPACITADOS E ESPECIALIZADOS A Neurociência sendo uma aliada da educação possui fundamentos importantes para as práticas pedagógicas do professor e pode apontar intervenções para o docente em sala de aula. Nesse sentido, o educador deve buscar uma interlocução com a Neurociência em razão da sua contribuição para a atividade de ensino29. Diante disso, o professor deve conhecer seus alunos, suas dificuldades e particularidades, a fim de promover o desenvolvimento da aprendizagem nas crianças. Não é tarefa fácil para os professores, a inclusão de crianças com deficiência na escola regular requer um trabalho organizado e sistemático, principalmente porque essa escola precisa ter qualidade de ensino a todos. E para que haja qualidade na educação deve-se atentar para os estilos de aprendizagem de cada aluno, ou seja, cada aluno possui caminhos que facilitam sua aprendizagem. São situações que envolvem o ambiente, emoções, aspectos sociológicos, físicos e psicológicos, com isto adota uma educação contextualizada que conceitua o aluno como sendo um ser ativo, construtor de seu próprio conhecimento. 13 Esses estilos de aprendizagem, combinados com fatores que podem ser favoráveis ou não, devem ser considerados, com isto a individualidade dos alunos é respeitada e, consequentemente, são impulsionados ao aprendizado30. Alunos com déficit intelectuais, portanto, têm dificuldades de aprendizagem majoritariamente generalizadas que acometem a linguagem, a motricidade e a integração social. Por isso, não se deve esperar a mesma resposta entre uma criança com déficit intelectual de uma criança que não o possui, pois aquela possui lesões cerebrais e desajustes no sistema nervoso29. Autores como Relvas20 apontam que a educação inclusiva necessita de intervenções pedagógicas renovadas com uma nova força em apoio à escolarização. A maior contribuição que a Neurociência oferece a educação são seus estudos a respeito do funcionamento cerebral que é modificado pela ação pedagógica. A criança com déficit intelectual apresenta dificuldades e debilidades nas funções mentais: memória, percepção, raciocínio, e a falta dessas funções dificulta a aprendizagem escolar. Mesmo assim, diante desse quadro de alterações, é importante ressaltar que ela consegue realizar aprendizagens e conseguir formação profissional29. Esses alunos em suas tarefas em sala de aula possuem dificuldades de concentração, não possuem autonomia em trabalhos coletivos, pois dependem do outro colega para responder, possuem raciocínio oscilante29. Para se efetivar a inclusão, é necessário que as práticas educativas sejam diferenciadas para poder alcançar alunos com déficit intelectual. Lembrando que a compreensão do conteúdo curricular para o aluno com déficit intelectual é limitada, mas mesmo nessas condições existe a possibilidade de um desenvolvimento de suas potencialidades e devido à plasticidade cerebral pode-se pensar em estratégias diferentes de ensino. Os alunos com deficiência, com desenvolvimento cognitivo mais lento, são mais vagarosos para aprender e são necessárias atividades de estimulação precoce, ou seja, criar situações que facilitem o desenvolvimento da criança. Em sala de aula, o professor deve proporcionar um ambiente acolhedor de aprendizagens, e manter as crianças sempre ocupadas, mas sem cansá-las, deve dosar as atividades para que haja interesse de todos e participação principalmente da criança com déficit intelectual. E também deve usar a ludicidade de maneira agradável. Procurar dividir a atividade em etapas, ensinando cada criança até que sejam capazes de realizar a tarefa sozinha. 14 O indivíduo com deficiência intelectual tem condições de ser alfabetizado, por isso deve seguir um currículo adaptado às suas limitações, pois possui um ritmo mais lento que os demais, seu desenvolvimento deve ser respeitado. O ensino especializado para alunos com déficit intelectual é realizado junto ao atendimento educacional especializado (AEE), ensino que ocorre simultaneamente à sala de aula comum. Nesse ambiente, ocorre uma aprendizagem diferente dos conteúdos curriculares do ensino regular, pois a deficiência é observada e considerada a fim de que haja aprendizagem para o aluno, na perspectiva de conhecimentos importantes para a vida do aluno, para que tenha mais autonomia no seu dia-a-dia. Nesse processo, as intervenções do professor são muito importantes. Ele, juntamente com o professor da sala regular, devem interagir para que os conteúdos que ambos ensinam estejam interligados30. A efetivação da inclusão recai exclusivamente sobre o professor, pois ele é que vai executar ou não as ações pedagógicas em sala de aula para incluir esses alunos. Porém, esses profissionais dizem-se sentir sozinhos ao especificar suas dificuldades com seus alunos30. No processo inclusivo é importante que todos da instituição escolar se envolvam: docentes, gestores e demais profissionais educacionais. Nesse sentido, a responsabilidade de efetivar a inclusão não fica exclusiva ao professor, ela é direcionada a todos na instituição escolar, isto inclui interferência do professor capacitado e também do professor especializado. Para que haja intervenções pedagógicas de qualidade, o trabalho inclusivo deve ser em conjunto entre professores da Educação especial e Educação inclusiva juntamente com os professores do ensino regular. O educador especialista precisa colaborar com o professor capacitado, a fim de que juntos planejem ações educativas visando à aprendizagem de seus alunos30,31. Na inclusão educacional, torna-se necessário o envolvimento de todos os membros da equipe escolar no planejamento de ações e programas voltados à temática. Docentes, diretores e funcionários apresentam papéis específicos, mas precisam agir coletivamente para que a inclusão escolar seja efetivada32. Pensar as possibilidades de inclusão escolar das pessoas com Síndrome de Down de maneira efetiva, é oferecer oportunidades de aprendizagens de modo que o aluno ou a aluna seja participanteativo nestes ambientes que oportunizam o ensino. Para que isto se cumpra, são necessários investimentos da parte de educadores, a fim de que a criança com Down "possa amadurecer as funções neurológicas, executar atividades diárias e, consequentemente, aprender e se desenvolver". Nesse sentido, é 15 primordial a conscientização desses docentes sobre as potencialidades e capacidades desse aluno, pois, a clareza a respeito da síndrome fará com que tenha uma postura singular em suas ações metodológicas em sala. O grau de comprometimento na base cognitiva da criança não vai ser diminuído, o que pode ocorrer é o cérebro desse aluno, devido a sua plasticidade, responder aos estímulos externos feitos no indivíduo33. A convivência escolar permite à criança a aquisição de conhecimentos exigidos na sociedade, e que é necessário à formação de qualquer pessoa com ou sem deficiência. Nesse ambiente, o ensino deve ser organizado e sistemático por parte do professor, de forma gradual, pois essas crianças não conseguem guardar muitas informações devido a limitações de memória e atenção. A aprendizagem deve ser facilitada e, por meio da ludicidade, deve-se permitir aos alunos momentos prazerosos de atividades. E também o professor deve lembrar que esses alunos, por não possuírem memória de curto prazo, precisam visualizar o que está sendo ensinado, com isto ele deve abusar de recursos visuais, a fim de que haja compreensão por parte do aluno29. 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS Discutir a temática do processo de desenvolvimento de alunos com déficit intelectuais é defender uma ação que garanta o acesso, a permanência e o desenvolvimento escolar efetivo. Para tanto, a compreensão que o processo de inclusão demarca a necessidade de metodologias e ações diferenciadas que partam da consideração das particularidades dos alunos faz-se necessária à articulação com diferentes áreas do conhecimento que possibilitem o reconhecimento de novos embasamentos teóricos e científicos acerca do desenvolvimento humano e do processo de ensino-aprendizagem. Dentre os avanços teóricos e científicos, ainda que escassos no contexto do nosso país, uma das áreas de maior impacto nas discussões sobre o desenvolvimento humano e as facetas do desenvolvimento cognitivo é a Neurociência, que não apenas oferta aportes recentes para a compreensão do desenvolvimento, como possibilita a organização de estratégias pedagógicas diferenciadas em específicos de alunos que apresentem déficit intelectual. Como discutido, o déficit intelectual caracteriza-se por um funcionamento do intelecto inferior à média das pessoas e está presente em quase 100% dos casos de síndrome de Down. No cotidiano, isso significa que esses indivíduos têm dificuldades para aprender, entender e realizar atividades que comumente são feitas automaticamente. Dessa forma, de acordo com os pressupostos da Neurociência, o desenvolvimento e aprendizagem são possíveis, com práticas pedagógicas e estimulação, por meio de atividades como cartazes, soroban e softwares a criança conseguirá focar a atenção em algo que seja mais concreto. Visto que alunos e alunas com déficit intelectual possuem limitações nas áreas da memória, atenção e concentração. Entendemos que não podemos definir se uma metodologia pedagógica é mais eficiente que a outra, o que evidenciamos é que, para que docente seja capacitado ou especializado, o desafio é observar seus alunos e lidar com eles de acordo com suas necessidades e particularidades com ações pedagógicas que o atendam, dessa forma será mais eficiente. O professor e demais profissionais da instituição, diante da perspectiva inclusiva, devem planejar e rever suas estratégias de ensino, a fim de reformularem e adequarem os interesses de seus alunos. Como considerações finais defendemos que é necessário o avanço no debate da formação e atuação docente com base no reconhecimento das bases científicas cognitivas 17 do aprendizado, e das facetas que compõem o cérebro e suas conexões, e como esses elementos favorecem não só a elaboração de estratégias que minimizem o impacto dos prejuízos decorrentes dos quadros de déficit intelectual, mas acima de tudo posicionem os docentes como agentes centrais no processo de mediação, ação esta que deve ser contemplada com base na compreensão as particularidades e potencialidades desses alunos, à luz dos avanços teóricos, científicos e procedimentais sob os preceitos da Neurociência. 18 NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO EMERGÊNCIA DA NEUROEDUCAÇÃO: A HORA E A VEZ DA NEUROCIÊNCIA PARA AGREGAR VALOR À PESQUISA EDUCACIONAL (Adaptado) Milton Antonio Zaroa , Renata Menezes Rosatb, , Luis Otoni Ribeiro Meirelesc , Marilda Spindolad , Ana Maria Ponzio de Azevedoe , Ana Clara Bonini-Rochaf Maria Isabel Timmg A necessidade de um paradigma científico para a pesquisa educacional Em artigo recente, publicado no prestigiado espaço virtual da Fundação Dana1 , Hardiman e Denckla (2009) referem-se à relevância do que chamaram a ciência da educação, trazendo à tona uma abordagem que vem se consolidando nos últimos anos, principalmente nos Estados Unidos, através de um novo campo multidisciplinar de conhecimento e de atuação profissional, nas áreas da docência e da pesquisa educacional, a Neuroeducação. Segundo estas autoras, a próxima geração de educadores, obrigatoriamente, precisará levar em conta o conhecimento gerado por pesquisas das Neurociências, ao planejar e desenvolver seus projetos de ensino e de aprendizagem. O objetivo deste artigo é resumir pontos já consolidados a respeito da Neuroeducação, bem como refletir sobre a urgência de disseminar suas potencialidades, para fundamentar pesquisa educacional baseada em metodologia científica, envolvendo não apenas práticas e métodos de ensino- aprendizagem, de áreas do conhecimento, idades e perfis profissionais diferenciados, mas também refletir sobre possíveis impactos das tecnologias educacionais contemporâneas sobre estas práticas e métodos. 1.1. Contexto: a evolução do pensamento sobre o conhecimento humano e o aprendizado e as novas necessidades da pesquisa Do ponto de vista filosófico, o que se convencionou chamar de pensamento da modernidade, na área da teoria do conhecimento, ou epistemologia, inicia com Kant 19 (1724- 1804), que recupera a ideia de Descartes (1596-1650) de sujeito epistêmico (o sujeito que conhece), mas liberta-o da metafísica, ao tratar a mente humana como um instrumento para sintetizar e organizar os dados obtidos através dos sentidos, a partir de esquemas, formas e categorias lógicas que fazem parte desta própria mente. Uma concepção tão inovadora, em seu tempo, que até hoje é considerada a “revolução copernicana da filosofia” (Martini, 2006). A evolução lógica deste pensamento inovador de Kant, que relaciona diretamente a compreensão do funcionamento da mente com a produção de conhecimento, não poderia deixar de ser pela sua intersecção com a metodologia científica: a observação da biologia da gênese de conhecimento no cérebro-mente dos humanos, no caso, crianças, como fez o pesquisador suíço Jean Piaget (1896-1980). Possivelmente, Piaget (1973, 1987) tenha sido o grande pioneiro dessa transformação qualitativa na abordagem do aprendizado humano (da especulação à pesquisa empírica), ao descrever, através do que chamou de epistemologia genética, a formação do pensamento e do conhecimento humanos, através de estruturas mentais, de natureza e complexidade crescentes, ao longo de todo o aprendizado e, portanto, de toda a vida humana. Observando seus próprios filhos inicialmente e depois ampliando para um número maior de crianças, Piaget foi corajoso e visionário, ao identificar etapas de evolução deum processo de aprendizagem que começa com a operação do mundo através de estratégias concretas de abordagem e caminha, ao longo do amadurecimento da criança e do jovem, em direção a construções mentais lógico-formais abstratas e mais aptas a processar a exigência do conhecimento complexo. Piaget foi certamente um gênio da síntese, ao descrever um módulo básico através do qual esse processo permanente de aprendizado ocorre na mente humana: assimilação (de novas informações), acomodação (das novas informações em relação à base cognitiva já estruturada previamente no indivíduo) e equilibração (um re-arranjo das estruturas cognitivas, absorvendo as transformações provocadas pela nova informação em contato com as anteriores). Sua observação com certeza pode ser considerada um modelo correto - porém bastante simplificado e certamente incompleto - do que seria um processo básico de aquisição, consolidação e evocação de memórias, em geral, visto através do olhar de um neurofisiologista, o que não poderia ser diferente, sendo Piaget um biólogo, com olhar e raciocínio treinados pela metodologia científica. 20 A observação de Piaget correu mundo e deu suporte a interpretações pedagógicas2 complexas, que acabaram estruturando um importante paradigma do pensamento disseminado hoje, a respeito dos processos de ensino-aprendizagem, o construtivismo (Martini, 2006, Bonini-Rocha et al., 2008b). Inspirado por Piaget e por muitos de seus continuadores, o construtivismo prega, com inegável razão, a relevância da ação do aprendiz no processo de construção de sua própria aprendizagem. Como consequência, talvez, da interpretação literal e da generalização dos achados de Piaget para todos os tipos de públicos e áreas do conhecimento; e provavelmente, como consequência também da ausência de diálogo destas generalizações com o pensamento científico (neste caso, com a Neurociência Cognitiva, que evoluiu de maneira significativa, nas últimas décadas), sugere-se que o construtivismo não cobre, sozinho, todas as necessidades da pesquisa educacional contemporânea, em especial aquelas das áreas da educação superior de áreas científicas e tecnológicas, às voltas hoje com as exigências das inúmeras variáveis e da complexidade já vislumbrada a respeito do sistema de processamento de informações dos humanos. NOVAS EXIGÊNCIAS NA EDUCAÇÃO- PARA ALÉM DO CONSTRUTIVISMO Estas limitações talvez também se relacionem ao fato de os alunos da educação superior, em sua maioria, já terem saído da adolescência, faixa etária limite até onde as pesquisas de Piaget concentraram-se com maior ênfase. Com base na compreensão destas novas exigências, intensificadas pelo uso massivo de novas tecnologias educacionais, bem como pelas evidências de diferentes necessidades cognitivas, afetivas, motoras e culturais de cada sociedade e de cada área do conhecimento, os autores pretendem ao longo deste texto, simultaneamente: • apontar para a oportunidade de semear bases acadêmicas, no Brasil, para a Neuroeducação, como território de pesquisa multidisciplinar e dinâmica, sobre os desafios que fazem parte dos processos formais e informais do ensino-aprendizagem; • ampliar as possibilidades abertas pela multidisciplinaridade desta nova área de pesquisa, em direção ao conjunto das Ciências Cognitivas e das áreas de Comunicação e Ciências da Informação, para estruturar um framework teórico capaz de dar suporte à pesquisa e à produção de tecnologias educacionais eficientes e eficazes, que possam viabilizar as intenções pedagógicas do professor, de forma orgânica e ergonômica aos processos cognitivos de cada aluno. 21 Isto será feito a seguir, a partir de uma rápida revisão bibliográfica acerca da Neuroeducação, comentada no âmbito dos objetivos do artigo e seguida de uma reflexão sobre possíveis contribuições deste olhar científico e multidisciplinar para atender uma nova e igualmente intensa necessidade: formar bons planejadores, produtores e usuários de tecnologias educacionais. 2. Sobre Neuroeducação: surgimento e relevância Defendida em 2008, na Universidade Capella/USA, a tese de doutorado de Tracey Noel Tokuhama-Espinosa (2008), sob orientação de Elena Kays, será considerada neste artigo como uma espécie de documento fundador, uma vez que reúne não apenas os fundamentos da Neuroeducação, desde seu surgimento, mas descreve exaustivamente o conjunto da bibliografia já existente sobre o tema, além dos principais problemas, fundamentos e princípios da nova área do conhecimento. Procurando-se evitar uma repetição igualmente exaustiva do trabalho da pesquisadora, resume-se algumas das suas informações ressaltando se, como Tokuhama-Espinosa e autores por ela citados, a importância de abordar o assunto de maneira cautelosa e realista, sem pretender estabelecer relações e conclusões definitivas sobre resultados de pesquisa e soluções didático-pedagógicas. Tokuhama-Espinosa localiza o início das preocupações da Neuroeducação nos anos 70, com duas referências principais: Show e Stewart (1972) e Gardner (1974, apud Tokuhama-Espinosa, 2008), sendo este último autor bastante conhecido no Brasil, através de sua teoria das inteligências múltiplas (Gardner, 2001, 2005; Timm et al., 2007, 2009). Ambos os autores, diz, já naquele momento “estabeleceram diversos princípios- chave em neuroeducação, incluindo a compreensão de que não existem dois cérebros idênticos, devido tanto à natureza (questões congênitas) quanto à criação (experiência)”3 (Tokuhama-Espinosa, 2008, p. 4). Em 2007, diz ela, Howard Gardner apontou diretamente para a falta de um elo, visivelmente necessário, entre a neurologia, a psicologia e a educação, para formar o que seriam “neuro-educadores” (Sheridan et al., 2005: 11 , apud Tokuhama-Espinosa, 2008 )4 . Sheridan e colaboradores (2005, apud Tokuhama-Espinosa, 2008) não apenas assumem este papel pioneiro, com relação à Neuroeducação, mas apresentam problemas práticos de escolas contemporâneas, que obrigatoriamente tangenciam as áreas de atuação de neurologistas, psicólogos e educadores, sem que estes tenham formação para isto, nas suas respectivas áreas de origem, o que acarretaria problemas de funcionalidade e, inclusive, de ética. 22 Por exemplo: professores às voltas com tomografias computadorizadas trazidas por pais de alunos para discutir desempenho e intervenção; ou uso do que está sendo chamado pelos norte-americanos de dopping intelectual (drogas que aumentam a atenção e a concentração); ou ainda o recrutamento de neurocientistas por empresas de desenvolvimento de softwares educacionais. Não por acaso estes autores propunham, em função destas novas exigências, e de outras, igualmente relevantes, que fosse criada a profissão de neuro-educador. A consequência lógica da observação inicial das novas necessidades - prossegue a contextualização histórica de Tokuhama-Espinosa (2008) - foi o movimento destes e outros pesquisadores, para estabelecer o que seriam os objetivos e padrões da nova área interdisciplinar do conhecimento. A NEUROEDUCAÇÃO COMEÇA A GANHAR CORPO A Neuroeducação ganha destaque pelo fato de se empenhar na finalidade de abordar o conhecimento e a inteligência, integrando três áreas: a Psicologia, a Educação e as Neurociências. Do ponto de vista psicológico, o objetivo principal da Neuroeducação seria explicar os comportamentos da aprendizagem, diz a pesquisadora, ressaltando que os neurologistas se ocupam disto através do cérebro, enquanto os psicólogos se debruçam sobre a mente, o que, certamente, para qualquer um que se mantenha em uma razoável distância crítica do tema, aponta para questões complementares e não antagônicas. Uma destas questões seria, por exemplo, buscar explicações sobre o papel das emoções no aprendizado, nos processos de tomada de decisão e nas várias possibilidades demotivação dos alunos para o aprendizado. Já para os educadores, estas informações seriam usadas para melhorar suas práticas em sala de aula. Poderiam, por exemplo, aproveitar o conhecimento já consolidado sobre as mudanças neuronais que ocorrem no cérebro, durante o aprendizado (área de pesquisa das Neurociências), e as técnicas e métodos de observação e documentação dos comportamentos observáveis (área de pesquisa da Psicologia), para fundamentar de forma consistente e verificável a eficiência de tais práticas. Possivelmente, cabe às três categorias de profissionais – e a outras categorias hoje integradas às equipes educacionais como, por exemplo, os produtores de mídias, os designers, os cientistas da informação e os produtores de tecnologias educacionais – identificar as possibilidades de pesquisa e, principalmente, os padrões e metodologias de 23 pesquisa que poderiam dar conta desta integração. Hardiman e Denckla (2009), citadas no início deste artigo, definem a Neuroeducação como um novo campo do conhecimento que integra “neurocientistas que estudam a aprendizagem e educadores que pretendem fazer uso de pesquisas desta natureza”. Comentam que, embora esta integração pareça óbvia, nem sempre foi ou será fácil e direta, uma vez que os campos profissionais estruturam linguagens e abordagens diferenciadas, definindo seus respectivos métodos de produção e validação do conhecimento. Talvez por isso recomendam que ambos os grupos se dediquem à busca de um método comum para traduzir resultados da pesquisa científica, através de um caminho cujo sentido inicia nos laboratórios dos neurocientistas cognitivos e segue para o planejamento de estratégias pedagógicas aplicáveis. Sugere-se que o mesmo caminho continue em direção à produção e ao uso de tecnologias educacionais, como vídeos, multimídia, games e outros produtos educacionais, refletindo sobre a possibilidade de desenvolver e aplicar estes recursos de forma a que possam, comprovadamente, dar suporte a alguma das variáveis dinâmicas que compõem a cognição humana, identificando essas variáveis observáveis e seus processos de inter-relação. Tokuhama- Espinosa (2008) também concorda que os pesquisadores que quiserem integrar-se à área multidisciplinar da Neuroeducação precisam realizar um exercício de flexibilidade das suas próprias formas de pensar, agir e definir prioridades, uma vez que, como todas as áreas de interface de vários tipos de conhecimento, é preciso perceber as abordagens e integrá-las de forma equilibrada, sem que uma se imponha sobre as demais. Daí a importância de seu trabalho, que tratou de delimitar o que seriam alguns dos temas comuns às áreas, como conhecimento já estruturado ou como instrumento ou metodologia de pesquisa. A seguir, resumem-se alguns desses temas, tratados pela pesquisadora como tópicos básicos ou princípios (optou-se por usar as próprias palavras da autora, em função da excelência de sua síntese). 2.1. Tópicos, fundamentos e princípios da Neuroeducação Entre os tópicos citados por Tokuhama-Espinosa (2008), a partir de sua pesquisa na bibliografia já existente, que delimitam possíveis abordagens para pesquisa em Neuroeducação, estão as várias técnicas de captação de informações neuronais, por sinais elétricos ou imageamento cerebral como instrumento de observação de aprendizagem5 , a neurogênese e plasticidade; as teorias da consciência e da inteligência6 , a neuroética; 24 as diferenças de aprendizado; e as relações corpo-mente (sono e exercícios físicos, entre outros itens a esse respeito). QUATORZE PRINCÍPIOS BÁSICOS, A SEREM USADOS COMO FIO CONDUTOR DA NEUROEDUCAÇÃO, Em torno desses princípios se articulariam premissas das três áreas estruturadoras (neurociências, psicologia e educação, segundo a autora), não necessariamente em ordem hierárquica de relevância: “a) estudantes aprendem melhor quando são altamente motivados do que quando não têm motivação; b) stress impacta aprendizado; c) ansiedade bloqueia oportunidades de aprendizado; d) estados depressivos podem impedir aprendizado; e) o tom de voz de outras pessoas é rapidamente julgado no cérebro como ameaçador ou não-ameaçador; f) as faces das pessoas são julgadas quase que instantaneamente (i.e., intenções boas ou más); g) feedback é importante para o aprendizado; h) emoções têm papel-chave no aprendizado; i) movimento pode potencializar o aprendizado; j) humor pode potencializar as oportunidades de aprendizado; k) nutrição impacta o aprendizado; l) sono impacta consolidação de memória; m) estilos de aprendizado (preferências cognitivas) são devidas à estrutura única do cérebro de cada indivíduo; n) diferenciação nas práticas de sala de aula são justificadas pelas diferentes inteligências dos alunos.” (Tokuhama-Espinosa, 2008: 78). Além desses princípios, que seriam relativos a cada aprendiz, individualmente, diz a pesquisadora, outros dizem respeito a qualquer um deles, podendo ser seguido em qualquer prática instrucional. São eles: “a) cada cérebro é único e unicamente organizado; b) cérebros são especializados e não são igualmente bons em tudo; c) o cérebro é um sistema complexo, dinâmico e em modificação diária, pelas experiências; 25 d) cérebros são considerados ‘plásticos’ e continuam a se desenvolver ao longo de suas vidas; e) aprendizado é baseado em parte na habilidade do cérebro de se auto-corrigir e aprender pela experiência, através da análise de dados e auto-reflexão; f) a busca por sentido é inata na natureza humana; g) a busca por sentido ocorre através de ‘padronizações’; h) aprendizado é baseado em parte na habilidade do cérebro de detectar padrões e fazer aproximações para aprender; i) emoções são críticas para detectar padrões; j) aprendizado é baseado em parte na capacidade do cérebro para criar; k) aprendizado é potencializado pelo desafio e inibido pela ameaça; l) o cérebro processa partes e todo simultaneamente (é um processador paralelo); m) cérebros são projetados para flutuações mais do que atenção constante; n) aprendizado envolve tanto atenção focada quanto percepção periférica; o) o cérebro é social e cresce na interação (tanto quanto na reflexão pessoal); p) aprendizado sempre envolve processos conscientes e inconscientes; q) aprendizado é desenvolvimental; r) aprendizado recruta a fisiologia completa (o corpo impacta o cérebro e o cérebro controla o corpo); s) diferentes sistemas de memória (curto prazo, de trabalho, longo prazo, emocional, espacial, de hábito) aprendem de formas diferentes; t) informação nova é arquivada em várias áreas do cérebro e pode ser evocada através de diferentes rotas de acesso; u) o cérebro recorda melhor quando os fatos e habilidades são integrados em contextos naturais; e v) Memória + Atenção = Aprendizado.7 ” (Tokuhama-Espinosa, 2008: 79,80). Entre os achados finais da pesquisa de Tokuhama-Espinosa, estão alguns que justificam a relevância e urgência da consolidação da nova área de pesquisa, apontando para a necessidade do diálogo entre a ciência e sua aplicação, de maneira justificada e fundamentada em evidências observáveis: “... enquanto milhares de estudos foram devotados para explicar vários aspectos da neurociência (como animais, incluindo humanos, aprendem), apenas uns poucos estudos neurocientíficos tentaram explicar como os humanos deveriam ser ensinados, para maximizar o aprendizado. (...) das centenas de dissertações devotadas ao ‘ensino baseado no cérebro’, ou ‘métodos neurocientíficos de 26 aprendizado’, nos últimos cinco anos, a maioria documentou a aplicação destas técnicas, ao invés de justificá-las.” (Tokuhama-Espinosa, 2008: 117)8 3- Produzir tecnologia educacional com fundamentos neuroeducativos Passando do contexto geral da Neuroeducação para a necessidade prática,do dia- a-dia dos pesquisadores contemporâneos, principalmente daqueles que se ocupam do ensino aprendizagem de áreas científicas e tecnológicas, como as Engenharias, as ciências da saúde e outras áreas da educação superior, um universo de perguntas se impõe, ao longo dos processos de decisão sobre as melhores práticas pedagógicas, tanto quanto dos fundamentos de produção dos melhores recursos da tecnologia educacional. A PESQUISA DE BASE NEURO-EDUCACIONAL - VASTO CAMPO DE INVESTIGAÇÃO A pesquisa de base neuro-educacional comportaria um vasto campo de investigação – de naturezas quantitativas, qualitativas, empíricas e inclusive etnográficas – incluindo temas como, por exemplo, as diferenças de aprendizado entre crianças, jovens, adultos, idosos, tanto quanto entre alunos de diferentes áreas do conhecimento9 , e o impacto das diferentes tecnologias audiovisuais sobre cada uma delas (Ribeiro et al., 2005). Ou, ainda, as diferenças de ensino-aprendizagem envolvidas na constatação de que existem diferentes tipos de conhecimento teórico, prático, técnico, aplicável, memorizável10, etc., cada um deles adequando-se, talvez, a um tipo ou outro de solução tecnológica (quando e por que se deve escolher um vídeo, um game, um acervo dinâmico de pesquisa ou uma simulação, por exemplo?). Pode-se pensar também em fundamentos científicos para tomadas de decisão pragmáticas, na produção de um simples conjunto de lâminas ou de um vídeo educacional, relativas ao uso de uma ou duas cores, um tipo de letra, ou seu tamanho, um fundo de tela, uma textura, um movimento, ou outros itens que podem alterar a percepção ou a atenção dos alunos11. Será que tais microdecisões, tomadas ao longo do processo de produção de tecnologias educacionais, impactam positiva ou negativamente sobre a atenção, a apreensão do conteúdo, a memória de curta/longa duração, a consolidação, a evocação, a motivação, o raciocínio ou qualquer um dos outros itens que compõem aquela interação do estudante com o conteúdo? Estes temas têm sido tratados de forma estruturada na formação geral dos designers (em especial no design de interfaces e no design virtual) e, mais recentemente, através da criação de uma nova área profissional, 27 do design instrucional (Filatro, 2008). Entretanto, talvez possam ser dimensionados na formação de professores e todos os demais profissionais integrados às equipes multidisciplinares de produção de materiais educacionais, exatamente porque implicam no domínio de conhecimentos de múltiplas áreas da cognição, integradas aos conteúdos em pauta. Compreendendo um quadro de múltiplas necessidades, que estruturam a realidade da ecologia educacional contemporânea, sugere-se, então, que a área de pesquisa da Neuroeducação, se implantada no Brasil, não se limite a integrar o conhecimento de pedagogos, neurocientistas e psicólogos, mas de todas as demais áreas que constituem as chamadas Ciências Cognitivas12, bem como com as áreas de conhecimento da Comunicação e das Ciências da Informação, todas elas imbricadas na ecologia tecnológico-cognitivoinformacional-comunicacional de Internet, sala de aula, entretenimento e interação, aprendizado e aplicação, produção e recepção, entre tantas outras características tanto opostas como complementares que caracterizam a educação no Século XXI. Assim como não há retorno possível do ser humano ao mundo do telégrafo sem fio, também não é plausível supor que os processos de ensino-aprendizagem voltem a depender apenas de uma boa teoria, ou de um bom quadro-negro, mesmo que estejam integrados a um bom fundamento neurocientífico. Desde 2001, procurando fundamentar a pesquisa sobre tecnologias educacionais aplicadas ao ensino científico e tecnológico, um grupo multidisciplinar de pesquisadores ligados à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)13 já levantava questões que excediam a formulação da pesquisa educacional de descrição de casos baseada apenas na determinação de um modelo pedagógico desejável, o construtivismo, e na crítica dos demais modelos (Schnaid et al., 2003, 2006; Bonini-Rocha et al., 2008b). 28 RELEVÂNCIA DE IDENTIFICAR NECESSIDADES COGNITIVAS E DE MOTIVAÇÃO DE CADA PÚBLICO Ao longo desse processo, percebeu-se a relevância de identificar necessidades cognitivas e de motivação de cada público, cada área para a qual os materiais e os projetos pedagógicos se destinam (Timm, 2005, Timm et al., 2009). Percebeu-se ainda que tais produtos educacionais precisam dar conta da integridade dos conteúdos; das intenções pedagógicas para as quais se destinam; do suporte cognitivo para dar conta de cumprir as referidas intenções; e da linguagem específica da mídia ou solução tecnológica escolhida para a função14 . Parte destas questões foi parcialmente sintetizada pelo grupo na forma de perguntas (Timm et al., 2007), algumas das quais são listadas a seguir, no intuito de ratificar a relevância do estabelecimento de uma área como a Neuroeducação, como um território multidisciplinar promissor para qualificar a pesquisa educacional contemporânea: - A tecnologia educacional baseada em hipermídia, que contém representações (verbais/nãoverbais), (...) impacta igualmente os estudantes da área de humanas, de ciências biológicas e de ciências exatas? Sim/não/como e por quê? (...)15 - Como – e quanto, e em que condições específicas - a presença de ingredientes menos ou mais inteligentes, no ecossistema educacional computacional, pode contribuir para vencer resistências ao aprendizado, relacionadas a: a) dislexias ou afasias; b) dificuldades de escrita; c) dificuldades de operações com cálculos?16 – (...)- Como – e quanto - o aprendizado de novas linguagens de representação afeta a capacidade de comunicação do professor com grupos de alunos heterogêneos? - Como – e quanto – a capacidade ampliada (ou não) do professor pode interferir para vencer as resistências dos alunos para que aprendam a pensar de acordo com os raciocínios característicos de cada disciplina/profissão/área do conhecimento? - Entre as variáveis envolvidas na cognição humana, quais (e como e quanto) são mais afetadas pelo ambiente computacional (e suas diferentes possibilidades), em cada disciplina/profissão/área do conhecimento? - Quais os limites éticos em que a tecnologia cognitiva pode ser considerada um apoio cognitivo (softwares educacionais, próteses baseadas em chips para necessidades 29 especiais, etc.) ou apenas um potencializador (dopping intelectual) com vistas ao aumento de competitividade em indivíduos normais?(Timm et al., 2007) Além destas perguntas, há outras que começam a fazer parte do dia-a-dia docente, das discussões de eventos e até das angústias dos que precisam saber se um vídeo, por exemplo, tem o mesmo potencial educacional de uma aula presencial17. Responder a estas perguntas – e tantas outras que começam a fazer parte do cotidiano docente – talvez seja parte da delimitação do território da Neuroeducação, mas, certamente, está longe de cobri- lo por inteiro. Ainda resta em aberto o desafio colocado por Hardiman e Denckla (2009), da construção de pontes de diálogo, que possam sintonizar metodologias de pesquisa e epistemologias diversas e às vezes tão antagônicas que inviabilizam publicações de autores de uma área na outra18. Sugere-se, entretanto, que a emergência das novas tecnologias educacionais, sua inexorabilidade e seu enorme potencial para impor a atualização sobre as novas necessidades e formas de ensinar e aprender seja o momento oportuno para que os educadores de todas as formações compreendam a metáfora do próprio cérebro humano, para fundamentar a produção de conhecimento sobre aprendizagem, ao processar informações diversas, em áreas diversas, integrando-as através de terceiras e quartas áreas, nas quais será capaz de produzir sentidoe complexidade compatível com o conhecimento necessário ao educando e educador do Século XXI. Click e assista https://www.youtube.com/watch?v=K3jb_DbByD8 https://www.youtube.com/watch?v=Ca7MctACAUs 30 REFERÊNCIAS 1. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo demográfico e estimativas, 2012. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 20/1/2015. 2. Brasil. Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 8.069/90). 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The scientifically substantiated art of teaching: a study in the development of standards in the new academic field of neuroeducation (mind, brain, and education science). Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Educação, Capella University, Mineápolis, Minesota. 35 Notas (1) The Dana Foundation (http://www.dana.org) é uma entidade filantrópica privada, norte-americana, com sedes em Nova Iorque e Washington, cujo foco de interesse são as ciências relacionadas ao cérebro, imunologia e educação artística. Charles A. Dana, industrial, filantropo e legislador, foi presidente da instituição, de 1950 a 1966, definindo seus principais programas, que incluem publicações, eventos, apoio à pesquisa e à disseminação de informações sobre estas áreas. (2) Importante lembrar, nesse item, que Jean Piaget não produziu teorias pedagógicas, de interpretação de seus achados científicos para as práticas de sala de aula. Estas interpretações foram feitas a partir de seus trabalhos. Esta ressalva é relevante, uma vez que nem sempre as interpretações pedagógicas foram produzidas com a mesma preocupação metodológica das pesquisas iniciais de Piaget. (3) No original, a autora refere-se à expressão “nature or nurture”, a qual, no inglês, concentra os argumentos relacionados às causas biológicas ou culturais para o aprendizado, a qual, no Brasil, têm sido expressos em torno de questões que opõem inatismo X aprendizado. Os autores do presente artigo consideram que ambos os fatores são relevantes para a compreensão do aprendizado, sendo que o equilíbrio entre eles é absolutamente singular, para cada indivíduo, em qualquer cultura. (4) Por razões óbvias de espaço e objetivos, não são citados no artigo todos os autores relevantes da área, segundo a exaustiva pesquisa de T-E. Ressalte-se, entretanto, as instituições citadas por ela como tendo importância fundamental para a estruturação da neuroeducação, seja por abrigarem pesquisadores ou fomentar a pesquisa nesta área: Organisation for Economic Co-operation and Development, Dana Foundation, Association for Supervision and Curriculum Development, American Educators Research Association, Special Interest Group on the Brain and Learning e Society of Neuroscience. Cita ainda as universidades de Harvard (Mind, Brain and Education Program, dirigido por Kurt Fischer), Darmouth College’s (Psycological and Brain Science Program); Cornell (Sackler Institute for Developmental Psychobiology; e Cambridge (programa de Psicologia e Neurociência da Educação) e Universidade de Washington (programa Neurociência para crianças) (5) Sobre este tópico, ver Chiaramonte e colaboradores (2007) e Bonini-Rocha e colaboradores (2008a e 2009). As referências relatam pesquisa realizada pelo grupo de autores do presente artigo. 36 (6) Cabe ressaltar, no item relativo às teorias sobre inteligência, importante referência da tese sobre os temas das inteligências múltiplas (nove tipos de inteligência, número flexível segundo o próprio autor: interpessoal, intrapessoal, matemática, corporal, linguística, espacial, musical, naturalista, humanista (Gardner, 2005) e aos construtos do neurodesenvolvimento de Levine (2002, apud Tokuhama-Espinosa, 2008), descrevendo oito desses construtos no cérebro humano (memória, atenção, ordem sequencial temporal, ordem espacial, linguagem, função neuromotora, cognição social e cognição de ordem superior). (7) A pesquisadora cita mais de 30 autores para corroborar os conceitos citados. (8) O conjunto da pesquisa de Tokuhama-Espinosa incluiu a consolidação de parâmetros para a Neuroeducação, o que foi feito através de revisão bibliográfica, para estruturação de categorias e instrumentos de pesquisa; entrevistas com profissionais e alunos das áreas definidas; e posterior tratamento estatístico de dados. (9) A necessidade de identificação de necessidades cognitivas diferenciadas, para perfis profissionais diferentes, tem como base fundamental a teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner (Gardner, 2005). (10) Embora não seja desejável, como regra geral do aprendizado, é inegável que há partes de conteúdo que exigem memorização, e isto é variável em cada área do conhecimento. Por exemplo: biólogos trabalham com um tipo de conhecimento extremamente designativo, por força inclusive da evolução da profissão, que Howard Gardner (2005) descreveu ao chamar a atenção para a inteligência naturalista. Precisaram, ao longo da evolução da espécie, categorizar as plantas comestíveis,