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CARDIOLOGIA TEORIA E PRÁTICA Edição 7 Organizadores: Guilherme Barroso Langoni de Freitas Juliane Cristina de Almeida Paganini Hanan Khaled Sleiman 2023 2023 by Editora Pasteur Copyright © Editora Pasteur Editor Chefe: Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas Corpo Editorial: Dados Internacionais de Cata logação na Publicação (CIP) (Editora Pasteur, PR, Brasil) Dr. Alaercio Aparecido de Oliveira (Faculdade INSPIRAR, UNINTER, CEPROMEC e Força Aérea Brasileira) Ana Karolina Santos Góes (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dra. Aldenora Maria Ximenes Rodrigues MSc. Aline de Oliveira Brandão (Universidade Federal de Minas Gerais - MG) MSc. Bárbara Mendes Paz (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dr. Daniel Brustolin Ludwig (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dr. Durinézio José de Almeida (Universidade Estadual de Maringá - PR) Dr. Everton Dias D’Andréa (University of Arizona/USA) Dr. Fábio Solon Tajra (Universidade Federal do Piauí - PI) Francisco Tiago dos Santos Silva Júnior (Universidade Federal do Piauí - PI) Dra. Gabriela Dantas Carvalho Dr. Geison Eduardo Cambri MSc. Guilherme Augusto G. Martins (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas (Universidade Federal do Piauí - PI) Dra. Hanan Khaled Sleiman (Faculdade Guairacá - PR) MSc. Juliane Cristina de Almeida Paganini (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dra. Kátia da Conceição Machado (Universidade Federal do Piauí - PI) Dr. Lucas Villas Boas Hoelz (FIOCRUZ - RJ) MSc. Lyslian Joelma Alves Moreira (Faculdade Inspirar - PR) Dra. Márcia Astrês Fernandes (Universidade Federal do Piauí - PI) Dr. Otávio Luiz Gusso Maioli (Instituto Federal do Espírito Santo - ES) Dr. Paulo Alex Bezerra Sales MSc. Raul Sousa Andreza MSc. Renan Monteiro do Nascimento MSc. Talita Cristina Moreira Moraes (Centro Universitário Uniguairacá) Dra. Teresa Leal F866 FREITAS, GUILHERME BARROSO LANGONI DE Cardiologia Teoria e Prática. FREITAS, G.B.L. de et al. - Irati: Pasteur, 2023. 1 livro digital; 205 p.; ed. VII; il. Modo de acesso: Internet ISBN 978-65-815-4986-2 https://doi.org/10.29327/5198921 1. Medicina 2. Cardiologia 3. Cardiopatias I. Título. CDD 610 CDU 616.1 Este livro traz trabalhos sobre um dos sistemas vitais para nossa vida, responsável pelas principais incidências de mortalidade e morbidades, o sistema cardiovascular. Ele possui o coração como ator principal, caracterizado por batidas e frequências graciosamente rítmicas para distribuir sangue e oxigênio a todos os outros órgãos e manter a pressão arterial, filtração glomerular e tantas outras tarefas vitais. Até o final de 1800 a cirurgia cardíaca era algo impensado, entretanto, os avanços da ciência médica permitiram o advento de tratamentos eficientes, cirurgias minuciosamente realizadas de forma presencial e até remota, políticas públicas eficazes para prevenção, controle e tratamento das doenças cardiovasculares. Muitos estudantes, profissionais da área e pesquisadores tornaram este livro possível. Portanto, a Editora Pasteur deixa aqui o seu muito obrigado a todos e deseja uma ótima leitura nesta coletânea de estudos sobre o campo da Cardiologia. Guilherme Barroso Langoni de Freitas Dr. Prof. Dpto. Bioquímica e Farmacologia, Universidade Federal do Piauí (UFPI) Diretor Científico do Grupo Pasteur CAPÍTULO 1 - IMPLANTES CARDÍACOS: UMA REVISÃO DA HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E APLICAÇÕES ....................................................... 1 CAPÍTULO 2 - MÉTODOS NÃO INVASIVOS DE DIAGNÓSTICO DE DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA ............................................................ 7 CAPÍTULO 3 - PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS ÓBITOS POR INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NO BRASIL DE 2016 A 2020 .............................. 14 CAPÍTULO 4 - CONTROLE PRESSÓRICO DOS PACIENTES DE PÓS- OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA NA UTI .................................... 21 CAPÍTULO 5 - MANIFESTAÇÕES CARDIOVASCULARES EM PACIENTES COM COVID-19: REVISÃO DE LITERATURA ..................... 32 CAPÍTULO 6 - CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA: ASPECTOS ATUAIS SOBRE EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ................ 43 CAPÍTULO 7 - AS IMPLICAÇÕES CLÍNICAS DA HIPERTENSÃO ARTERIAL EM PACIENTES COM COVID-19: UMA REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................................... 59 CAPÍTULO 8 - ANÁLISE DOS IMPACTOS CARDIOVASCULARES DAS SÍNDROMES RENOCARDÍACAS: REVISÃO DE LITERATURA ............. 68 CAPÍTULO 9 - HIPERTENSÃO ARTERIAL RESISTENTE ........................ 76 CAPÍTULO 10 - COMPLICAÇÕES GERADAS PELO DIAGNÓSTICO TARDIO EM CASOS DE COMUNICAÇÃO INTERATRIAL ....................... 84 CAPÍTULO 11 - CIRURGIAS CARDÍACA CONGÊNITAS: EVOLUÇÕES E DESAFIOS ............................................................................................................. 89 CAPÍTULO 12 - HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: ABORDAGEM CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA ......................................................................... 97 CAPÍTULO 13 - DOENÇA REUMÁTICA DO CORAÇÃO: EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO EM FOCO ....................................... 112 CAPÍTULO 14 - UMA ABORDAGEM FISIOPATOLÓGICA DAS CRISES HIPERCIANÓTICAS NA TETRALOGIA DE FALLOT .............................. 119 CAPÍTULO 15 - TRANSPOSIÇÃO DE GRANDES ARTÉRIAS ................. 126 CAPÍTULO 16 - O MANEJO AO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO (IAM): UMA REVISÃO DE LITERATURA ................................................... 133 CAPÍTULO 17 - PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA INCIDÊNCIA DE OBITO POR INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NAS REGIÕES BRASILEIRAS ................ 145 CAPÍTULO 18 - USO DE INIBIDORES DE SGLT-2 NO AUMENTO DA SOBREVIDA DE PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA SISTÓLICA .. 152 CAPÍTULO 19 - ENDOCARDITE INFECCIOSA: UMA REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................................ 161 CAPÍTULO 20 - O IMPACTO DA SAÚDE MENTAL SOBRE O CORAÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMATIZADA DA INTEGRAÇÃO CÉREBRO-CORAÇÃO ........ 168 CAPÍTULO 21 - ANÁLISE DA MORTALIDADE POR DOENÇAS CARDIOVASCULARES NA REGIÃO METROPOLITANA DA BAIXADA SANTISTA ....................................................................................................................... 174 CAPÍTULO 22 - DESAFIOS NA APLICAÇÃO DA TERAPIA CELULAR NAS DOENÇAS CARDÍACAS ............................................................................................... 183 CAPÍTULO 23 - USO DE OXIGENAÇÃO POR MEMBRANA EXTRACORPÓREA APÓS REPERFUSÃO MIOCÁRDICA NO CONTEXTO DE SÍNDROME CORONARIANA AGUDA: UM RELATO DE CASO ............................................... 191 1 | P á g i n a 10.29327/5198921.7-1 CAPÍTULO 01 IMPLANTES CARDÍACOS: UMA REVISÃO DA HISTÓRIA, EVOLUÇÃO E APLICAÇÕES CARLOS ROBERTO GOMES DA SILVA FILHO1 MARIA EDUARDA BARACUHY CRUZ CHAVES1 PEDRO GUILHERME PINTO GUEDES PEREIRA1 MARIA FERNANDA STUART HOLMES ROCHA1 EGILMÁRIA LADJA CANDEIA BEZERRA1 MARIA ALICE SANTOS FALCONI DA COSTA3 LUIZ FELIPE MARTINS MONTEIRO1 BIANCA BRUNET CAVALCANTI1 LORENA SOUZA DOS SANTOS LIMA1 CAMYLLA FERNANDES FILGUEIRA DE ANDRADE1 JOAQUIM FRANCISCO DE MELO CAVACANTI FILHO1 ELISE MARIA ANACLETO DE ALBUQUERQUE3 JÉSSICA FREIRE MADRUGA VIANA2 BÁRBARA VILHENA MONTENEGRO1 VICTOR PIRES DE SÁ MENDES¹ 1Discente - Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ 2Discente – Faculdades Nova Esperança - FACENE/FAMENE 3Discente – Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba – FCM/Afya Palavras-chave: Implantes cardíacos; História; Evoluçãoe aplicações. 2 INTRODUÇÃO A atividade elétrica do coração humano foi registrada pela primeira vez por Augustus Wal- ler em 1887, utilizando o Trem de ECG de Wal- ler, parte do Arquivo BCS, como uma valiosa ferramenta de laboratório. No entanto, o galva- nômetro de corda de Willem Einthoven provou ser uma ferramenta mais eficaz como aparelho clínico. Sir Thomas Lewis, presidente da pri- meira reunião do Cardiac Club, foi pioneiro no uso do ECG na prática clínica, graças à sua cor- respondência com Einthoven. Isso é um dos pri- meiros exemplos dos benefícios da colaboração internacional, que foram fundamentais para o desenvolvimento da cardiologia clínica nos úl- timos 100 anos (AMMANNAYA, 2020). Em 1980, o mundo assistiu à revolução da medicina com a primeira implantação bem-su- cedida do ICD (Cardioverter-Desfibrilador Im- plante) em um ser humano. A jornada para esse feito começou com a morte trágica de um co- lega de Michel Mirowski, cirurgião cardíaco, em 1966. Determinado a encontrar uma solução para evitar mortes semelhantes, Mirowski co- meçou a trabalhar em sua ideia de um ICD. Com a ajuda de seus colegas de equipe e apoio financeiro de uma empresa de marcapassos, o primeiro protótipo foi testado com sucesso em um cão em 1969. Após anos de refinamentos e aprovação da Food and Drug Administration (FDA), o ICD foi finalmente implantado em hu- manos com sucesso no Hospital Johns Hopkins em 1980 (AMMANNAYA, 2020). O capítulo tem como objetivo ressaltar a im- portância dos implantes cardíacos ao longo da história da medicina. MÉTODO Uma revisão bibliográfica qualitativa e ex- plicativa de temporalidade serial para estudar o monitoramento móvel na gestão de pacientes em unidades de terapia intensiva. Realizada por meio de estudos publicados entre 2018 e 2023 na base de dados da PubMed. Os dados coleta- dos utilizaram os descritores DeCS/MeSH "Cardiac Pacemaker", "Cardiac Defibrilla- tors", “Evolution" e "History" em combinação com os operadores booleanos "AND" e “OR”. A coleta de dados resultou em 481 artigos, dos quais 33 foram descartados devido à falta do texto completo disponível e 443 foram des- cartados devido ao desvio do tema ou objetivo proposto, ausência do tratamento utilizado, falta de detalhamento das tecnologias de moni- toramento móvel na gestão de pacientes. Os dados coletados foram avaliados por 2 revisores de forma independente e cega, utili- zando o software RAYYAN®, onde os reviso- res selecionaram somente os artigos que cum- priram os critérios de inclusão para compor a síntese, em caso de discrepância enquanto a in- clusão do artigo, um terceiro revisor foi respon- sável pelo desempate. Assim, resultando em 5 artigos incluídos nessa síntese. Os critérios de inclusão utilizados: Artigos publicados entre ja- neiro de 2018 e janeiro de 2023, disponíveis em português, inglês ou espanhol e que contem- plem tecnologias de monitoramento móvel na gestão de pacientes. RESULTADOS E DISCUSSÃO No início da década de 1980, Tony Rickards desenvolveu o primeiro marcapasso responsivo à frequência do mundo, baseado em estudos so- bre os efeitos do exercício, da estimulação atrial e da estimulação ventricular fixa no intervalo QT. Esse sistema permitiu respostas fisiológi- cas ao exercício em pacientes com eletrodos de estimulação unipolar padrão de acordo com o 'Intervalo de estímulo-T'. A pesquisa continuou com o grupo de Richard Sutton publicando so- bre o uso da estimulação AV no tratamento da 3 hipersensibilidade do seio carotídeo e estu- dando a utilidade da estimulação em síncope cardioinibitória e neurogênica. Um estudo de Richard Charles em Liverpool examinou as ten- dências temporais da prescrição do modo mar- capasso em seu centro ao longo de 10 anos, de 1984 a 1994, e mostrou um uso crescente de es- timulação de dupla câmara. Dados fundamen- tais para informar a prescrição de marcapasso foram fornecidos pelos resultados do Estudo UKPACE em 2005, conduzido por William Toff e John Camm, que mostraram nenhum be- nefício significativo de mortalidade para esti- mulação de dupla câmara versus estimulação de câmara única em pacientes > 70 anos (HAYDOCK & CAMM, 2022; AMMAN- NAYA, 2020). Os ICDs de quarta geração, também conhe- cidos como ICDs modernos, são dispositivos cada vez menores e mais sofisticados. Eles têm um peso de 80-90 g e um volume de 30 mL, medindo menos de um centímetro de espessura. As baterias mais recentes, como as de lítio, prata e vanádio, têm duração de até 9 anos. Es- ses ICDs modernos possuem a capacidade de overdrive pacing, ou seja, ATP, o que frequen- temente pode encerrar arritmias sem recorrer à terapia de choque. Além disso, eles também es- tão disponíveis com estimulação biventricular (terapia de ressincronização cardíaca) para me- lhorar os sintomas em pacientes com insufici- ência cardíaca avançada. A importância dos avanços tecnológicos na área de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEIs) na prestação de cuidados a pacientes tem permi- tido o monitoramento contínuo por anos e uma ampla gama de recursos de programação e tera- pias. O monitoramento remoto (RM) tem revo- lucionado o cuidado com o dispositivo, melho- rando a satisfação do paciente, reduzindo a hos- pitalização e melhorando a sobrevida entre os pacientes com DCEI (HAYDOCK & CAMM, 2022; AMMANNAYA, 2020). As indicações para implante de Cardiover- sor Desfibrilador Implantável (ICD) podem ser amplamente categorizadas como profilaxia pri- mária e profilaxia secundária contra morte sú- bita cardíaca (MSC). A profilaxia secundária é indicada para pacientes que já tiveram um epi- sódio de fibrilação ventricular (FV) ou taquicar- dia ventricular (TV) com risco de vida, en- quanto a profilaxia primária é indicada para pa- cientes com alto risco de desenvolver MSC, mas que ainda não tiveram nenhum episódio. Múltiplos ensaios clínicos randomizados mos- traram que os ICDs são claramente superiores aos medicamentos antiarrítmicos em pacientes com história de TV e FV com risco de vida e, portanto, as indicações para profilaxia secundá- ria são bem apoiadas por evidências clínicas. No entanto, as indicações para profilaxia primá- ria, que representam a maioria dos implantes de ICD, têm evidências comparativamente bem menos estabelecidas, pois o benefício quantita- tivo mensurável é menor (AMMANNAYA, 2020). Pesquisas recentes têm mostrado que a res- sincronização cardíaca (TRC) e a terapia com ICD têm eficácia clínica comprovada. Por exemplo, um estudo da Circulation Heart Fail, realizado em 2014, demonstrou a eficácia clí- nica da TRC e da terapia com ICD entre 8.936 pacientes ambulatoriais com insuficiência car- díaca e fração de ejeção (FE) reduzida ≤ 35% e encontrou uma redução substancial da mortali- dade em 24 meses em homens e mulheres ele- gíveis com insuficiência cardíaca e FE redu- zida. Uma edição da Circulation Arrhythmia and Electrophysiology de 2015, investigou a re- lação entre profilaxia primária de ICDs e mor- talidade em 852 pacientes de minorias raci- ais/étnicas (raça não branca ou etnia hispânica) 4 e 2.070 pacientes brancos não hispânicos. Paci- entes minoritários com ICD apresentaram uma taxa de mortalidade ajustada menor em 3 anos (44,9%) em comparação com seus equivalentes sem ICD (54,3%). Da mesma forma, pacientes brancos não hispânicos com ICD apresentaram uma taxa de mortalidade ajustada menor em 3 anos (47,8%) em comparação com seus equiva- lentes sem ICD (57,3%). Nenhuma relação sig- nificativa entre raça/etnia e menor risco de mor- talidade com ICD foi encontrada (POKOR- NEY et al., 2015; WILCOX et al., 2014; AM- MANNAYA, 2020). Vários ensaios clínicos randomizados mol- daram as indicações atuais para os CDIs (cardi- oversor-desfibrilador implantável). Alguns dos principais estudos incluem MADIT I & II, CAT, MADIT-CRT, PRESERVE EF e PRO- TECT-ICD. O estudo MADIT-I mostrou que o CDI salva vidas em pacientesde alto risco com doença coronariana. O estudo MADIT-II mos- trou que a terapia profilática com CDI foi asso- ciada a uma sobrevida significativamente me- lhorada em pacientes com cardiomiopatia is- quêmica, definida por doença cardíaca coroná- ria documentada e disfunção ventricular es- querda avançada, sem a necessidade de triagem para arritmias ventriculares ou indutibilidade por testes eletrofisiológicos. Juntos, esses estu- dos, bem como os resultados de vários outros estudos randomizados de CDI, indicam que a terapia com CDI é indicada em pacientes coro- narianos que atendem aos critérios de elegibili- dade MADIT-I ou MADIT-II (CHEUNG & DEYELL, 2018; AMMANNAYA, 2020). O estudo CAT não forneceu evidências a fa- vor do implante profilático de CDI em pacien- tes com CMD de início recente e fração de eje- ção do ventrículo esquerdo prejudicada. Paci- entes com insuficiência cardíaca classe I ou II da New York Heart Association, fração de eje- ção ≤ 30% e bloqueio de ramo esquerdo (BRE) obtêm benefício clínico substancial da TRC-D na forma de redução na progressão da insufici- ência cardíaca e redução no risco de taquiarrit- mias ventriculares. A terapia de ressincroniza- ção cardíaca (TRC) evoluiu, assim, como uma indicação de tratamento de Classe I com Nível de Evidência A, em pacientes com insuficiência cardíaca leve, fração de ejeção do ventrículo es- querdo deprimida e QRS largo. A classificação atual de SCD vs. NSCD falha em identificar eventos de VTA no momento da morte em uma proporção significativa de pacientes. A análise multivariada mostrou que os fatores indepen- dentemente associados à mortalidade por ATV incluíram TV/FV > 72 h antes do evento de mortalidade, hospitalização por insuficiência cardíaca e história de hipertensão. A incidência anual de MSC é de 0,6–1% em pacientes pós- IM com fração de ejeção do ventrículo es- querdo (FEVE) ≥ 40% (AMMANNAYA, 2020). Projeções futuras A evolução desses dispositivos tem sido constante, visando torná-los cada vez menores e equipados com algoritmos de detecção mais avançados. Um exemplo disso é o S-ICD (Sis- tema de Cardioversor Desfibrilador Subcutâ- neo), que não possui eletrodos no coração e pode ser uma opção para pacientes com alto risco de MSC (Morte Súbita Cardíaca). Além disso, a integração potencial com estimulação sem eletrodo pode tornar essa terapia acessível para uma população-alvo maior. Os S-ICDs também podem ser utilizados como dispositi- vos de monitoramento remoto para reconhecer fibrilação atrial, isquemia aguda ou desequilí- brio eletrolítico. Novos dispositivos ICD e CRT-D, como o novo Gallant, estão surgindo no mercado e incluem recursos como integra- 5 ção com aplicativos móveis, como o myMerlin- Pulse™, para simplificar a comunicação entre médicos e pacientes. A incorporação de tecno- logias avançadas, como inteligência artificial, também está sendo estudada para melhorar a capacidade de monitoramento dos pacientes. No entanto, é importante destacar que essas tec- nologias de ponta vêm com ameaças de segu- rança cibernética e, portanto, exigiriam os mais recentes controles de segurança cibernética e parcerias com especialistas em segurança ciber- nética do setor para fornecer informações sobre o design e o teste desses controles para fornecer uma experiência segura e contínua (AMMAN- NAYA, 2020). O monitoramento remoto é uma tecnologia que tem evoluído ao longo dos anos. Os primei- ros dispositivos usavam transtelefônicos moni- toramento (TTM) para a transmissão de dados, onde os pacientes tinham que ligar para um sistema central e transmitir manualmente infor- mações básicas do dispositivo. Já os dispositi- vos modernos usam tecnologias indutivas ou sem fio, fornecendo uma interrogação mais abrangente e permitindo a transmissão de dados por meio de conexões telefônicas ou de banda larga. Alguns dispositivos mais recentes, ainda, se conectam diretamente a uma rede celular, eli- minando a necessidade de uma conexão fixa. Além disso, pode ser dividido em dois tipos: Monitoramento passivo e monitoramento ativo. O monitoramento passivo se refere a transmis- sões programadas pelo paciente, que fornecem todas as informações de diagnóstico necessárias para avaliar o funcionamento do dispositivo e reduzir significativamente a necessidade de acompanhamento presencial. Já o monitora- mento ativo se refere à transmissão automati- zada e antecipada de diagnósticos em caso de falha do dispositivo ou eventos clínicos. Isso pode salvar vidas em caso de falha do disposi- tivo, mas também pode resultar em alertas des- necessários, se não programado adequadamente (CHEUNG & DEYELL, 2018). CONCLUSÃO A história dos implantes cardíacos tem evo- luído ao longo dos anos, desde o primeiro mar- capasso artificial no final da década de 1950 até os dispositivos mais recentes, como os Cardio- versores Desfibriladores Implantáveis (ICDs) e os Dispositivos de Ressincronização Cardíaca (TRC). Esses dispositivos têm sido amplamente utilizados na profilaxia primária e secundária contra a morte súbita cardíaca, e vários estudos clínicos randomizados têm mostrado a sua efi- cácia. No entanto, as indicações para a profila- xia primária ainda têm evidências comparativa- mente menos estabelecidas. Além disso, pes- quisas recentes têm mostrado que a TRC e a te- rapia com ICD têm eficácia clínica compro- vada, incluindo uma redução substancial da mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida. Ainda as- sim, é importante continuar estudando os bene- fícios e riscos desses dispositivos e aplicá-los de forma seletiva e individualizada para cada paciente. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMMANNAYA, G.K.K. Implantable cardioverter de- fibrillators – the past, present and future. Archives of Medical Science – Atherosclerotic Diseases, v. 5, n. 1, p. 163-170, 2020. CHEUNG, C.C. & DEYELL, M.W. Remote monitoring of cardiac implantable electronic devices. Canadian Journal of Cardiology, v. 34, n. 7, p. 941-944, 2018. HAYDOCK, P. & CAMM, A.J. History and evolution of pacing and devices. Heart, v. 108, n. 10, p. 794-799, 2022. POKORNEY, S.D. et al. Primary prevention implanta- ble cardioverter-defibrillators in older racial and ethnic minority patients. Circulation: Arrhythmia and Elec- trophysiology, v. 8, n. 1, p. 145-151, 2015. WILCOX, J.E. et al. Clinical effectiveness of cardiac resynchronization and implantable cardioverter-defibril- lator therapy in men and women with heart failure. Cir- culation: Heart Failure, v. 7, n. 1, p. 146-153, 2014. 7 10.29327/5198921.7-2 CAPÍTULO 02 MÉTODOS NÃO INVASIVOS DE DIAGNÓSTICO DE DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA LÍVIA COUTO MELO 1 LUISA REIS RIBEIRO1 PEDRO VINICIUS SILVA PEREIRA1 1Discente – Medicina da Universidade do Vale do Sapucaí Palavras-chave: Doença arterial coronariana; Diagnóstico invasivo; Diagnóstico não invasivo. 8 INTRODUÇÃO No Brasil, a estimativa de prevalência de angina na população é de 7,6% de casos leves e de 4,2% de casos moderados a graves. Somente no ano de 2015, os gastos relacionados às doen- ças cardiovasculares contabilizaram um total de 31,7 bilhões de reais (CARMO et al., 2021). A cineangiocoronariografia (CAT), que é um exame invasivo, é considerada padrão-ouro para o diagnóstico de doenças arteriais corona- rianas (DAC). Entretanto, o ideal é que testes diagnósticos não invasivos sejam realizados primeiramente, com a finalidade de selecionar quais pacientes devem ser submetidos à confir- mação diagnóstica invasiva, visando reduzir o número de CATs desnecessárias (CARMO et al., 2021). Assim, esse capítulo visa explicar os parâ- metros, as contraindicações e a forma que são realizados os seguintes exames: Ecocardiogra- fia de estresse (EE), cintilografia miocárdica (CM),teste ergométrico (TE) e angiotomogra- fia (ATC). MÉTODOS Para a realização deste capítulo de livro foi feita uma pesquisa baseando-se primariamente no artigo ‘Análise da Custo-efetividade da an- giotomografia coronariana no SUS, em compa- ração com outros métodos não invasivos na sus- peita de DAC estável’. Com base no artigo mencionado fez-se uma busca na internet em diversas bases de dados tais como PubMed, Sci- ELO, Medline e em sites referências da área da saúde como orientações e diretrizes publicadas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Den- tre os artigos e publicações encontradas, foram selecionados os mais novos e que apresentavam mais evidência científica, tendo como critério a pirâmide de evidência já conhecida, começando com revisões sistemáticas e metanálises até chegar às publicações de menor evidência que são elas: Opiniões de especialistas e relatos de caso. Após aplicados os critérios de seleção cita- dos, os textos restantes foram avaliados e dis- cutidos em grupo, e os métodos foram descritos separadamente, para então, na conclusão, base- ando-se no artigo, apresentarmos os métodos e as combinações deles mais eficazes no diagnós- tico de DAC de forma não invasiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ecocardiografia de estresse A Ecocardiografia de Estresse (EE) é um método diagnóstico não invasivo de DAC fre- quentemente usado em pacientes admitidos no setor emergencial com dor torácica, enzimas cardíacas normais, ECG não interpretável e com suspeita de angina instável de risco baixo ou intermediário (CAMAROZANO et al., 2009). A indução do estresse pode ser por esforço físico ou por administração farmacológica. No estresse por esforço físico utiliza-se de uma es- teira, seguindo o protocolo de Bruce com ob- tenção de imagens em repouso e logo após o término do esforço; ou de uma bicicleta ergo- métrica, colocada em posição vertical ou su- pina, com aquisição de imagens em repouso, no pico de esforço e na recuperação. A movimen- tação excessiva do paciente aumenta a dificul- dade de captação de imagens nítidas, sendo um fator limitante para a realização do EE por es- forço físico. Já no estresse por administração farmacológica, faz-se a aplicação de doses cres- centes de dobutamina, com possível associação à atropina, visando atingir a frequência cardíaca máxima prevista para a idade do paciente. A aquisição das imagens se faz no estado basal, no pico de estresse e na recuperação. A escolha da técnica utilizada irá depender da capacidade 9 do paciente de realizar esforço físico, da expe- riência do profissional e da disponibilidade de equipamento (MATHIAS JUNIOR, 2013; CASTRO FILHO, 2019). O estímulo ao estresse permite constatar al- terações cardíacas por meio da incitação de is- quemia miocárdica em regiões irrigadas por uma artéria com grau significativo de estenose. Tais alterações poderiam estar ausentes durante o repouso, o que não excluiria a presença de DAC (CAMAROZANO et al., 2009; BARBE- RATO et al., 2019). Quando ocorre a isquemia miocárdica, tem- se uma modificação no movimento e no espes- samento da parede ventricular que pode ser identificada, através do EE, pelo modelo de di- visão do ventrículo esquerdo (VE) em 17 seg- mentos. Cada porção é analisada e classificada em um dos seguintes escores de função: 1 = contração normal (contratilidade miocárdica e espessamento ventricular adequados), 2 = hipo- cinesia (diminuição da contratilidade miocár- dica e espessamento ventricular em menos 40%), 3 = acinesia (ausência de contratilidade miocárdica e espessamento ventricular em me- nos de 10%) e 4 = discinesia (alteração da dire- ção do movimento miocárdico e adelgaçamento ventricular). Ao final da avaliação faz-se a mé- dia entre os escores atribuídos aos segmentos, conhecida como índice de escore de motilidade e espessamento de parede (IEMP). O IEMP igual a 1 indica função normal, já valores iguais ou acima de 2, correlacionam a importante dis- função do VE, com aumento da probabilidade de ocorrência de arritmias graves, insuficiência cardíaca e morte. Assim, o EE é capaz de ava- liar a extensão, a localização e a gravidade da lesão isquêmica, fornecendo dados relaciona- dos ao diagnóstico e ao prognóstico e possibili- tando a estratificação de risco para eventos car- díacos futuros (CAMAROZANO et al., 2009; MATHIAS JUNIOR, 2013). Entre as contraindicações para a realização do EE estão: Dor precordial anginosa típica em repouso de início recente (angina de início re- cente), ou pacientes em período após IAM com- plicado; estenose ou insuficiência valvar grave; pacientes com instabilidade hemodinâmica ou clínica (angina instável grave, cardiomiopatia descompensada, endocardite/miocardites agu- das); gravidez; dissecção de aorta; relato de alergia às drogas a serem utilizadas nos testes farmacológicos (MATHIAS JUNIOR, 2013). Cintilografia miocárdica A Cintilografia é um exame realizado para diagnosticar, de forma precoce e com elevada precisão, os padrões da perfusão miocárdica, sendo possível detectar anormalidades, cuja ex- tensão e intensidade podem estar associadas a eventos adversos (SANTORO, 2018). Para realizar a investigação são necessárias duas etapas. A primeira consiste na injeção in- travenosa de uma droga radioativa ou um radi- ofármaco. O paciente é deixado em repouso e, partir disso, imagens do fluxo sanguíneo são co- letadas após um intervalo de 30 a 60 minutos pelo gama câmara, tecnologia capaz de captar os sinais emitidos pelo medicamento radioa- tivo. Iniciando a segunda fase, o alvo do teste é posto em uma situação de esforço físico. O es- tresse pode ser causado por uma atividade física monitorada, ou por algum medicamento que in- duz o aumento do fluxo sanguíneo nas artérias coronárias, como o dipiridamol ou dobutamina. Quando a dilatação máxima das artérias coro- narianas for atingida, novamente será injetada a mesma substância radioativa a fim de marcar o quão perfundido está sendo o musculo cardíaco. 10 Ao final do exame, é feita a associação das imagens das etapas de repouso e estresse e a in- terpretação, através de scores que analisam as variáveis: Repouso ou estresse, isquemia ou perfusão (FEITOSA, 2002). A análise dos re- sultados obtidos inicia-se ao dividir o ventrí- culo esquerdo em 17 partes, a cada uma é atri- buída valores conforme o grau de defeito perfu- sional variando de 0 (perfusão normal) a 4 (is- quemia total). A apuração deve levar em conta a análise obtida, bem como os parâmetros com- parativos com bancos de dados de indivíduos normais, fornecidos por softwares. Após a atri- buição dos índices para cada região miocárdica tanto em estresse quando em repouso, os valo- res devem ser somados, obtendo a somatória dos sores SS (Summed Scores). A somatória dos scores na imagem de repouso é chamada de SRS (Summed Rest Score) e expressa a exten- são e a intensidade de defeito perfusional em re- pouso e, portanto, a área fibrótica do músculo cardíaco. A somatória dos scores na fase de re- pouso é chamada SSS (Summed Stress Score) e infere as áreas hipoperfundidas durante a indu- ção do stress, representando áreas infartadas ou isquêmicas, que podem ser iguais ou maiores que os defeitos vistos em repouso. A somatória destes scores diferenciais é chamda SDS (Sum- med Difference Score), e dirá exatamente a ex- tensão do miocárdico que apresenta reversibili- dade de perfusão induzida pelo estresse e, por- tanto, áreas isquêmicas em risco (SANTORO, 2018). A cintilografia de perfusão miocárdica é de alta sensibilidade (85-91%) e especificidade (85-87%), e um elevado valor preditivo nega- tivo (> 99%), o que garante ao estufo normal uma predição de risco de eventos cardíacos (morte e infarto agudo) inferior a 1% ao ano (SANTORO, 2018). A duração total do teste, contemplando as duas etapas, tem um intervalo variável de qua- tro a seis horas. Já os resultados das imagens são obtidos de 15a 60 minutos após a conclusão das duas etapas (SANTORO, 2018). As contraindicações são reservadas às mu- lheres grávidas ou lactentes, pelo uso de drogas radioativas (FEITOSA, 2002). Os riscos refe- rentes à execução do exame são mais esperados na cintilografia do miocárdio com estresse far- macológico devido aos efeitos colaterais do medicamento, que podem ser: Sensação de ca- lor na cabeça, dor no peito, enxaqueca, tonturas, diminuição da pressão arterial, falta de ar, en- joos. Contudo, na maioria das vezes, a inspeção não provoca sequelas e não é necessário inter- nação hospitalar (SANTORO, 2018). Teste ergométrico O Teste Ergométrico, hoje, é o teste mais usado e indicado para diagnóstico de doenças cardiovasculares, sendo também usado para avaliar resposta terapêutica, sintomas de arrit- mias ao exercício físico e determinação prog- nóstica. Esse possui baixo custo e fácil reprodu- ção em todas as regiões do Brasil, tornando-lhe um dos principais exames cardiológicos não in- vasivos presentes para estudo dos pacientes (MENEGHELO et al., 2010). O TE foi introduzido no país em 1960, no Instituto de Cardiologia do Estado de Guana- bara, atual Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro. Entretanto, foi introduzido na prática clínica somente em 1972, no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (MENE- GHELO et al., 2010). Esse exame possibilita detectar isquemia miocárdica; reconhecer arritmias cardíacas e distúrbios hemodinâmicos induzidos pelo es- forço; avaliar a capacidade funcional e a condi- ção aeróbica; diagnosticar e estabelecer o prog- 11 nóstico de determinadas doenças cardiovascu- lares; prescrever exercício; avaliar objetiva- mente os resultados de intervenções terapêuti- cas; demonstrar ao paciente e aos seus familia- res as suas reais condições físicas e fornecer da- dos para perícia médica. O teste ergométrico trata-se de um procedi- mento de baixo risco, mesmo assim é impor- tante que o profissional que irá conduzir o teste seja capacitado para atuar em caso de uma emergência, tal como uma PCR, além da sala de procedimento possuir os equipamentos neces- sários (MENEGHELO et al., 2010). A ergoespirometria alia os resultados eletro- cardiográficos às análises das variáveis ventila- tórias, aferidas durante a prática de exercício fí- sico de intensidade crescente. É levado em conta também a avaliação subjetiva do paciente quanto à sensação de cansaço, que deve ser me- dido conforme a escala de Borg. No exame são geradas informações tais como: -Consumo de oxigênio (VO2) e produção de gás carbônico (VCO2); -Equivalente ventilatório de oxigênio (VE/VO2) e do gás carbônico (VE/VCO2); -Pulso de oxigênio (VO2/FC); -Quociente respiratório (RQ); -Parâmetros hemodinâmicos como pressão ar- terial (PA) e frequência cardíaca (FC); -Parâmetros eletrocardiográficos. Angiotomografia coronariana A Angiotomografia Coronariana (ATC) consiste em uma tomografia computadorizada das artérias coronárias, o que permite a identi- ficação de alterações na estrutura e no funcio- namento desses vasos, sendo uma modalidade não invasiva de diagnóstico de DAC (MORSCH, 2018). As indicações para realização deste exame dependem das características clínicas apresen- tadas pelo paciente, podendo elas variarem de um quadro sintomático não agudo ou uma ava- liação pós-operatória, a uma avaliação em casos sintomáticos em caráter de urgência. A partir dos dados coletados, é feita uma estratificação por escores, que irá definir qual o grau de reco- mendação do exame. De 7 a 9, a realização ge- ralmente é aceita e a abordagem é racional e aceitável para a indicação. Escores de 4 a 6, a realização e a abordagem são tidas como acei- tável e razoável, respectivamente. Já de 1 a 3, geralmente não é aceita a realização e a aborda- gem é tida como não razoável (SASDELLI NETO, 2013). O preparo para o exame exige jejum com- pleto por pelo menos 4 horas, não ingestão de bebidas cafeinadas e de remédios para trata- mento de disfunção erétil nas 48 horas anterio- res, possível administração oral ou intravenosa de betabloqueadores para diminuir a frequência cardíaca, que deve ficar entre 60 e 65 batimen- tos por minuto (MORSCH, 2018). A angiotomografia não é recomendada para gestantes, pessoas alérgicas ao contraste de iodo (MORSCH, 2018). Durante a realização do exame, o ritmo car- díaco do paciente é registrado com o auxílio de um eletrocardiograma, para que imagens gera- das pelo tomógrafo possam ser sincronizadas com o movimento do coração (sístole e diás- tole). Além disso, faz-se a injeção endovenosa de contraste iodado que circulará na corrente sanguínea, o que permite uma melhor visualiza- ção das artérias coronárias. Alguns pacientes podem referir sensação de calor após a injeção do contraste. Em seguida, o paciente é subme- tido à tomografia, gerando imagens com re- curso 3D. A partir dessas imagens é possível vi- sualizar o lúmen e as paredes das artérias, iden- tificado a possível presença de placas calcifica- das e de placas gordurosas que serão quantifi- 12 cadas quanto ao grau de obstrução do vaso. As- sim, faz-se o diagnóstico não invasivo de DAC, fornecendo informações, quanto ao tipo e ao grau da lesão, importantes para a tomada de de- cisões em relação aos próximos passos no trata- mento (AZEVEDO et al., 2012; MORSCH, 2018). Atualmente, a dose de radiação efetiva esti- mada do exame pode ser reduzida por meio de tomógrafos de última geração, com múltiplos detectores, sem alterações significativas na acu- rácia diagnóstica da imagem (SASDELLI NETO, 2013). Associado à angiotomografia, também pode ser solicitado a avaliação do Escore de Cálcio, um importante indicador de aterosclerose nas artérias, que irá agregar mais informações ao di- agnóstico final (AZEVEDO et al., 2012; MORSCH, 2018). CONCLUSÃO Após a pesquisa, concluiu-se que há diversas modalidades de diagnóstico não invasivo de doença arterial coronariana, sendo que o SUS não contempla apenas a angiotomografia. Com isso, torna-se cada vez menos necessário o di- agnóstico invasivo pela cineangiocoronariogra- fia, evitando possíveis complicações vascula- res, vagais, isquêmicas e alérgicas, associadas a esse procedimento. Assim, a escolha da melhor estratégia diagnóstica não invasiva dependerá da disponibilidade de recursos financeiros de cada instituição para arcar com as despesas da realização desses exames e da capacitação da equipe médica responsável. 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, C.F. et al. Escore de cálcio e angiotomo- grafia coronariana na estratificação do risco cardiovas- cular. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 98, n. 6, 2012. BARBERATO, S.H. et al. Posicionamento sobre indica- ções da ecocardiografia em adultos – 2019. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 113, n. 1, p.135-18, 2019. CAMAROZANO, A. et al. Sociedade Brasileira de Car- diologia. Diretrizes das indicações da ecocardiografia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 93, n. 6, supl.3, p. 265-302, 2009. CARMO, P.B.C. et al. Análise da custo-efetividade da angiotomografia coronariana no SUS, em comparação com outros métodos não invasivos na suspeita de DAC estável. Instituto Nacional de Cardiologia, 2021. CASTRO FILHO, J.J.S. Ecocardiografia de estresse na sensibilidade diagnóstica de doença arterial coronariana: Uma revisão sistemática. 2019. Dissertação (Mestrado) - Curso de Medicina, Centro Biomédico, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2019. FEITOSA, G.S. et al. I Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia Sobre Cardiologia Nuclear. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 78, supl 3, 2002. MATHIAS JUNIOR, W. Manual de ecocardiografia. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2013. MENEGHELO, R.S. et al. III Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Teste Ergométrico. Ar- quivos Brasileiros de Cardiologia,2010. MORSCH, Dr. J.A. O que é, para que serve e riscos do exame de angiotomografia. 2018. Disponível em: https://telemedicina- morsch.com.br/blog/angiotomografia. Acesso em: 16 jan. 2023. ROSSATO, G. et al. Análise das complicações hospita- lares relacionadas ao cateterismo cardíaco. Revista Bra- sileira de Cardiologia Invasiva, v. 15, 2007. SANTORO, V. Cintilografia do miocárdio. DIMEN medicina nuclear. Disponível em: <https://www.dimen.com.br/medicina-nucle- ar/cintilografia-do-miocardio-2/> Acesso em: 16 jan. 2023. SASDELLI NETO, R. et al. Angiotomografia computa- dorizada de coronárias com tomógrafo com 320 fileiras de detectores e utilizando o AIDR-3D: Experiência ini- cial. Einstein, São Paulo, v. 11, n. 3, jul. 2013. https://www.dimen.com.br/medicina-nuclear/cintilografia-do-miocardio-2/ https://www.dimen.com.br/medicina-nuclear/cintilografia-do-miocardio-2/ 14 10.29327/5198921.7-3 CAPÍTULO 03 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS ÓBITOS POR INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NO BRASIL DE 2016 A 2020 CLARA CECÍLIA RODRIGUES MENDES1 ALYNE ANNE SILVA BARRETO3 BRENDHA KETLYN ANDRADE SILVA2 RAFAELLA ALVES PEREIRA1 GABRIEL VICENTE CORREIA1 GIULIA AMORIM PIRES MIRANDA1 INGRID MIKAELLY CARDOSO CAVALCANTE1 JANAÍNA PACHECO OLIVEIRA E SOUZA1 JOÃO MARCOS GUIMARÃES DE OLIVEIRA1 JORDANNA ARAUJO PRAXEDES1 LARA CARVALHO PAIVA1 MARIANNE LACERDA BARRETO2 SABRINNA RODRIGUES SANTOS1 THAYANA DE MATTOS NOGUEIRA1 LARA CÂNDIDA DE SOUSA MACHADO4 1Graduanda – Faculdade de Medicina, Universidade de Rio Verde – GO 2Graduanda – Faculdade de Fisioterapia, Universidade de Rio Verde – GO 3Graduada – Faculdade de Educação Física, Universidade estadual de Goiás – GO 4Docente – Prof.a Ma. da Faculdade de Medicina pela Universidade de Rio Verde - GO Palavras-chave: Infarto; Cardiologia; Mortalidade. 15 INTRODUÇÃO O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) cor- responde a uma necrose miocárdica resultante de obstrução aguda de uma artéria coronária. Decorre, principalmente, de aterosclerose, em que placas de gordura se fixam nos vasos san- guíneos e com o seu rompimento formam-se coágulos. Dessa forma, ocorre a interrupção do fluxo sanguíneo, o que gera isquemia do mús- culo cardíaco (MENDES et al., 2022). Esse fenômeno está entre as maiores causas de morte no Brasil e no mundo, sendo a doença cardiovascular que mais leva a óbito nas pri- meiras horas após o início dos sintomas, em que 65% das mortes acontecem na primeira hora e 80% nas primeiras 24 horas após a manifesta- ção dos sintomas. Além disso, sabe-se que os principais fatores que contribuem para o desen- cadeamento do IAM estão ligados a condições modificáveis como uso abusivo de drogas líci- tas e ilícitas, sedentarismo e obesidade (FREI- TAS et al., 2021). O diagnóstico dessa doença pode ser reali- zado por vários métodos, mas o eletrocardio- grama (ECG) é considerado um exame comple- mentar para avaliação cardiológica rápida, de fácil realização e de baixo custo. Por mais que tenha uma baixa sensibilidade nas síndromes coronarianas agudas, o eletrocardiograma con- tinua sendo um exame muito utilizado capaz de fornecer dados diagnósticos, evolutivos e prog- nósticos das doenças cardiovasculares (BEET et al., 2022). Quanto aos exames laboratoriais, diversos avanços na busca de novos biomarca- dores para o diagnóstico dessa doença estão ocorrendo. Contudo, as troponinas e creatino- quinases continuam sendo as mais usadas pelos laboratórios, especialmente por serem reco- mendadas pela SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) (MOREIRA et al., 2022). A gravidade dessa doença remete a necessi- dade de novas pesquisas que esclareçam e con- tribuam para a diminuição do índice de casos, visto que há uma alta prevalência de mortali- dade e morbidade da doença (SOBRINHO et al., 2015). Assim, o objetivo do presente capítulo é de- finir o perfil epidemiológico dos óbitos por in- farto agudo do miocárdio no Brasil de 2016 a 2020. MÉTODO Trata-se de um estudo ecológico transversal e descritivo, com abordagem quantitativa do perfil epidemiológico dos óbitos por infarto agudo do miocárdio no Brasil de 2016 a 2020. Nos estudos ecológicos, compara-se a ocorrên- cia de uma patologia com a exposição de inte- resse entre agregados de indivíduos como por exemplo populações de países, regiões ou mu- nicípios com o objetivo de verificar a possível existência de associação entre elas (LIMA- COSTA et al., 2003). Os estudos transversais se caracterizam por observarem as variáveis em um momento proposto (uma única vez, sem acompanhamento dos participantes) e os descri- tivos são aqueles que propõe a descrição deta- lhada e organizada de um ou mais fenômenos. Ademais o termo quantitativo, refere-se à expo- sição de números (ZANGIROLAMI-RAI- MUNDO et al., 2018). Incluiu-se na pesquisa dados das “Estatísti- cas Vitais” no item “Mortalidade – desde 1996 pelo CID-10” especificamente os registros da sessão “Mortalidade Geral” contidos no Sis- tema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram considerados como critérios de ele- gibilidade, casos de morte por infarto agudo do 16 miocárdio contidos no Brasil entre janeiro de 2016 e dezembro de 2020. Para a avaliação do perfil epidemiológico utilizou-se as variáveis: Causa CID-BR-10 (068.1), faixa etária, sexo, ano, região e etnia. Os critérios de exclusão fo- ram dados qualitativos e anteriores a dezembro de 2015. A análise de dados foi feita e organizada em gráficos, a partir do software Microsoft Excel®, contendo as quantidades de óbitos por infarto agudo do miocárdio. Calculou-se a taxa de mor- talidade, frequência absoluta e percentual para em um segundo momento descrever em forma discursiva uma comparação entre os principais indicadores em que ocorreram oscilações nos números de casos em todo o Brasil. RESULTADOS E DISCUSSÃO Análise dos óbitos por infarto agudo do miocárdio segundo região geográfica Entre 2016 e 2020 foram registrados 466.099 óbitos por infarto agudo do miocárdio. A região com maior número de casos foi a Su- deste com 46,15% (n= 215.093), seguida do Nordeste 27,98% (n= 130.403), Sul 13,59% (n= 63.343), Centro-Oeste 6,64% (n= 30.967) e Norte 5,64% (n= 26.293). Consoante Mendes (2022) apesar da maior suscetibilidade de casos da Região Sudeste, destaca-se a relevância de atenção que deve ser oferecida às regiões menos favorecidas finan- ceiramente, visto que a dificuldade de acesso a serviços de saúde e desinformação sobre as do- enças, causam por consequência uma maior quantidade de óbitos nesses locais (MENDES et al., 2022). Dessa forma, tanto o estudo de Mendes que destacou o perfil dos óbitos por IAM no Brasil entre 2011 e 2021, quanto o pre- sente estudo que analisou o período de 2016 a 2020, concordam no ponto em que a região Su- deste é que ocorre maior percentual de mortes. Entretanto, é válido ressaltar que essa região também é a mais populosa do Brasil, o que con- tribui para uma maior concentração do número de casos. Assim, é coerente a análise da taxa de mor- talidade, visto que ela considera não só o nú- mero de casos, mas considera também a popu- lação de cada região. Dessa forma, constata-se que em todos os anos analisados o Sudeste ob- teve maiores taxas de mortalidade quando com- parada as demais regiões do Brasil sendo o ano de 2016 o de maior taxa com 50,79 óbitos a cada 100 mil habitantes, conforme ilustrado na Tabela 3.1. Tabela 3.1 Taxa de mortalidade por infarto agudo do miocárdio no Brasil, segundo região geográfica, de 2016 a 2020 Taxa de Morta- lidade 2016 2017 2018 2019 2020 Região Norte 27,16 28,91 29,02 29,57 29,79 Região Nor- deste 45,10 45,95 46,37 47,39 43,67 Região Sudeste 50,79 48,93 48,64 50,15 46,85 Região Sul 46,65 42,20 42,74 41,81 39,26 Região Centro- Oeste 38,75 38,4539,13 38,09 38,12 Fonte: DATASUS, 2023. 17 Análise dos óbitos por infarto agudo do miocárdio segundo ano De acordo com os dados obtidos no DATA- SUS, observa-se que os óbitos do ano de 2016 representam 20,20% (n= 94.148) dos casos, 2017 um percentual de 19,88% (n= 92.657), 2018 equivale a 20,01% (n= 93.272), 2019 tra- duz 20,50% (n= 95.557) e 2020 corresponde a 19,41% (n= 90.465). Desse modo, avista-se que o ano de 2019 registrou o maior número de óbi- tos e 2020 a menor quantidade, entretanto, os anos analisados mantiveram uma certa homo- geneidade no número de óbitos, visto que não houve diferenças expressivas entre eles. Além disso, as taxas de mortalidade variaram entre 42,55 óbitos a cada 100 mil habitantes em 2020 e 45,66 mortes a cada 100 mil habitantes em 2016, conforme a Tabela 3.2. Mediante o estudo de Sant’Anna (2021), em 2010 constatou-se que houve aproximadamente 79 mil óbitos relacionados ao IAM (SANT’ANNA et al., 2021). Assim, ao compa- rar os estudos, compreende-se que aconteceu uma elevação de 14,51% (n= 11.465) no nú- mero de óbitos por IAM de 2010 para 2020. Tabela 3.2 Número de casos anuais de óbitos por infarto agudo do miocárdio no Brasil de 2016 a 2020 Ano 2016 2017 2018 2019 2020 Frequência absoluta 94.148 92.657 93.272 95.557 90.465 População (milhões) 206,2 207,8 209,5 211 212,6 Taxa de Mortalidade (por 100 mil habitantes) 45,66 44,59 44,52 45,29 42,55 Fonte: DATASUS, 2023; IBGE, 2022. Análise dos óbitos por infarto agudo do miocárdio segundo faixa etária Observou-se que as três faixas etárias de maior número de casos de óbitos entre 2016 e 2020 foram as de 80 anos ou mais com 26,87% (n= 125.257), seguida das pessoas com idade entre 70 e 79 anos com 25,02% (n= 116.626) e posteriormente pela de indivíduos entre 60 e 69 anos com 23,83% (n= 111.079). Assim, obser- vamos que pessoas com 60 anos ou mais repre- sentam 75,72% do total de óbitos por infarto agudo do miocárdio entre o período analisado, isso pode ser visto na Tabela 3.3. Um estudo realizado por Freitas (2021), constatou que o perfil epidemiológico do paci- ente com infarto agudo do miocárdio contempla maior prevalência do sexo masculino e o início das manifestações clínicas ocorre predominan- temente entre os 45 e 50 anos de idade (FREI- TAS et al., 2021). Logo, vê-se que o intervalo de idade em que ocorrem os maiores índices de início de sintomas está muito próximo da faixa etária em que acontecem maiores números de óbitos por IAM. Tabela 3.3 Número de óbitos por infarto agudo do mio- cárdio no Brasil, conforme faixa etária, entre os anos de 2016 a 2020 Faixa Etária Frequência Absoluta TOTAL 466.099 Menor 1 ano 7 1 a 4 anos 13 5 a 9 anos 13 10 a 14 anos 38 15 a 19 anos 497 20 a 29 anos 2.744 30 a 39 anos 9.322 40 a 49 anos 29.756 50 a 59 anos 70.393 60 a 69 anos 111.079 70 a 79 anos 116.626 18 80 anos e mais 125.257 Idade ignorada 354 Fonte: DATASUS, 2023. Análise dos óbitos por infarto agudo do miocárdio segundo sexo Segundo o sexo, entre 2016 e 2020 o nú- mero de óbitos por infarto agudo do miocárdio foi maior em homens com um percentual de 59,14% (n= 275.656). Já as mulheres represen- tam um percentual de 40,85% (n= 190.407). É válido acrescentar que 36 casos foram ignora- dos, esses dados estão ilustrados no Gráfico 3.1. O perfil epidemiológico das pessoas acome- tidas por IAM traçado por Freitas (2021) evi- denciou maior número de portadores entre pes- soas do sexo masculino (FREITAS et al., 2021). Dessa maneira, o presente estudo verifi- cou que os homens também morrem mais do que as mulheres por essa causa. Gráfico 3.1 Número de casos de óbitos por infarto agudo do miocárdio no Brasil, segundo sexo, de 2016 a 2020 Fonte: DATASUS, 2023. Análise dos óbitos por infarto agudo do miocárdio segundo etnia Entre 2016 e 2020 os casos de óbitos por in- farto agudo do miocárdio ocorreram majoritari- amente entre brancos 51,97% (n= 242.243) e pardos 37,17% (n= 173.229). As demais etnias representam percentuais pequenos sendo elas: Pessoas de pele preta 7,69% (n= 35.858), ama- rela 0,56% (n= 2.615) e os indígenas 0,21% (n= 977). Ademais, 2,40% (n= 11.177) dos óbitos foram ignorados, assim como demonstrado na Tabela 3.4. Outro estudo que traçou o perfil epidemio- lógico dos óbitos por IAM de 2011 a 2021, evi- denciou que a maior quantidade de óbitos pela doença aconteceu entre brancos com 55,56% dos casos, seguido de pardos com 38,26% dos óbitos, pessoas de pele preta com 4,54% e 1,64% entrou na classificação de outros ou não informado (MENDES et al., 2022). Dessa forma, observa-se que apesar de os percentuais não serem os mesmos, o perfil epi- demiológico dos óbitos nos dois estudos classi- ficou em primeiro lugar quanto ao maior nú- mero de casos brancos, seguido por pardos e pessoas de pele preta. Tabela 3.4 Número de óbitos por infarto agudo do mio- cárdio no Brasil, conforme etnia, de 2016 a 2020 Cor/etnia Frequência Absoluta TOTAL 466.099 Branca 242.243 Preta 35.858 Amarela 2.615 Parda 173.229 Indígena 977 Ignorado 11.177 Fonte: DATASUS, 2023. CONCLUSÃO Mediante o panorama supracitado, pode-se concluir que o maior número de óbitos por in- farto agudo do miocárdio no período analisado ocorreu no ano de 2019. Contudo, o período com maior taxa de mortalidade foi em 2016 com 45,66 mortes a cada 100 mil habitantes. O perfil epidemiológico dos óbitos por IAM no Brasil entre 2016 e 2020 foi constituído por pes- Masculino Feminino Ignorados 19 soas da região Sudeste, com 80 anos ou mais, do sexo masculino e etnia branca. O conhecimento do perfil epidemiológico dos óbitos é importante para que os profissio- nais da saúde se atentem aos pacientes com sin- tomas sugestivos de determinada doença para facilitar o diagnóstico e tratamento em tempo hábil. Dessa maneira, evidencia-se a necessi- dade de medidas em saúde com o objetivo de aprimorar o conhecimento da população pe- rante essa temática, bem como qualificar os profissionais da saúde com o fito de mitigar o número de óbitos por essa doença. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEET, M.S. et al. Infarto agudo do miocárdio: Do diag- nóstico à intervenção. Research, Society and Deve- lopment, v. 11, n. 3, 2022. FREITAS, R.B. et al. Perfil epidemiológico do paciente com infarto agudo do miocárdio no Brasil. Revista de Saúde Faculdade Dom Alberto, v. 8, n. 1, p. 100-127, 2021. LIMA-COSTA, M.F. et al. Tipos de estudos epidemio- lógicos: Conceitos básicos e aplicações na área do enve- lhecimento. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 12, n. 4, p. 189-201, 2003. MENDES, L.M.C. et al. Perfil dos óbitos por infarto agudo do miocárdio do Brasil no período de 2011 a 2021. Revista Científica Multidisciplinar, v. 3, n. 8. 2022. MOREIRA, V.C. et al. Biomarcadores do infarto agudo do miocárdio: Biomarcadores atuais e perspectiva de novos marcadores. Revista Saúde em Foco, n. 14, 2022. SANT’ANNA, M.F.B.S. et al. Taxa de morbimortali- dade entre homens e mulheres com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio. Rev. Enferm. UERJ, v. 29, 2021. SAÚDE. Banco de dados do Sistema Único de Saúde- DATASUS. Estatísticas Vitais. Disponível em: <https://datasus.saude.gov.br/mortalidade-desde-1996- pela-cid-10>. Acesso em: 21 de jan. 2022. SOBRINHO, J.R.P. et al. Infarto agudo do miocárdio: Uma revisão bibliográfica. Scire Salutis, v. 5, n. 1, 2015. ZANGIROLAMI-RAIMUNDO, J. et al. Tópicos de metodologia de pesquisa: Estudos de corte transversal. Journal of Human Growth and Development, v. 28, n. 3, p. 356-60, 2018. 21 10.29327/5198921.7-4 CAPÍTULO 04 CONTROLE PRESSÓRICO DOS PACIENTES DE PÓS- OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA NA UTI LUCIANA MODESTO DE BRITO¹ KYLVIA LUCIANA PEREIRA COSTA2 MÁRIO GUSTAVOLÚCIO ALBUQUERQUE DA NÓBREGA3 MARCOS ANDRÉ PEREIRA4 ARTHUR APOLINÁRIO FEITOSA5 FRANCISCO WILLIAM SARAIVA LEITE6 STÉPHANE APOLINÁRIO LANDIM DA CRUZ5 JANE CAROLINE GUIMARÃES6 MARYANNE PEREIRA FRANCO ADRIANO7 THAISE DE ABREU BRASILEIRO SARMENTO¹ LUCIBEL ALBUQUERQUE DE ANDRADE8 CÍCERA REJANE TAVARES DE OLIVEIRA4 ANILTON JORGE DA NÓBREGA GONÇALVES4 PHILIPPE APOLINARIO FEITOSA LANDIM DA CRUZ8 ROBSON LEITE SAMPAIO8 1Docente – Centro Universitário Santa Maria - UNIFSM . 2Discente – Mestrado em Gestão em Sistemas Agroindustriais do CCTA/UFCG 3Docente – Centro Universitário Dr. Leão Sampaio – UNILEAO . 4Docente – Universidade Federal do Cariri – URCA . 5Discente – Faculdade de Medicina Estácio do Juazeiro do Norte . 6Discente – Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS . 7Discente – Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ . 8Discente – Centro Universitário Santa Maria - UNIFSM Palavras-chave: Cirurgia cardíaca; Pressão arterial; UTI. 22 INTRODUÇÃO As doenças cardiovasculares no Brasil são as principais causas de morte. Apresentado fator adicional à elevada representatividade epidemiológica nos índices de mortalidade e morbidade, o aumento da expectativa de vida ao nascer e as modificações nos hábitos de vida, principalmente decorrentes dos processos de urbanização e industrialização, que aumentaram a exposição aos fatores de risco para o seu desenvolvimento. Apresentam ainda caráter de cronicidade, podendo ser tratadas de maneira clínica ou cirúrgica (DUARTE et al., 2012). A realização de um procedimento cirúrgico, em especial o cardíaco, envolve uma diversidade de questões psicológicas e físicas que se refletem nas alterações biológicas observadas em uma avaliação adequada das queixas expostas pelos pacientes. Tais manifestações repercutem em dados da análise clínica, que podem ser observados e mensurados (SILVA et al., 2014). É possível citar como forma dessas manifestações fisiológicas as medidas dos sinais vitais, das quais direcionam a estabilidade biológica, como as modificações na pressão arterial, nas frequências respiratória e cardíaca e, influenciando ainda na temperatura corporal (SILVA et al., 2014). Ponte et al., (2010) destacam que as alterações nos níveis tensionais são comumente encontradas nos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e diversos fatores, durante o perioperatório, podem provocar distúrbios que podem comprometer na evolução normal da cirurgia. A hipertensão arterial ocorre de acordo com Woods et al., (2005) em 48% a 55% dos paci- entes nas primeiras 4 (quatro) a 6 (seis) horas após a cirurgia cardíaca, sendo que nas primeiras 12 (doze) horas depois da cirurgia pode ocorrer a hipotensão. Nesse contexto, compreende-se a necessidade de uma assistência sistematizada e individualizada, pois existem pessoas que são assintomáticas, mas que possuem valores de pressão arterial que diferem dos valores considerados normais, por isso a importância de se saber os valores habituais, os quais devem ser avaliados evolutivamente. Para Benetti et al., (2013) apesar dos avanços já alcançados nas cirurgias cardíacas estudos ainda demonstram taxas significativas de complicações no pós-operatório, as quais fazem aumentar o tempo de permanência hospitalar, elevam custos e impactam em uma mortalidade. A identificação de fatores que possam influenciar a evolução clínica dos pacientes pode diretamente auxiliar na indicação cirúrgica, como também prevenir as complicações no pós-operatórias (PIOTTO et al., 2012). A mensuração sistemática da pressão arterial deveria ser uma das ações na prevenção de eventos de complicações. O diagnóstico da hipertensão arterial é fácil, necessitando, para sua aferição, equipamentos acessíveis, baixo treinamento e custo para realizá-los. Contudo os equipamentos podem apresentar variabilidade nas medidas de pressão arterial, dependendo do tipo de equipamento usado (COLARES et al., 2009). Nesse sentido, o presente capítulo tem como objetivo geral realizar uma revisão sobre a importância do controle da pressão arterial nas Unidades de Terapia Intensiva - UTI de paciente em pós-operatório de cirurgia cardíaca. 23 MÉTODO Para alcance do objetivo traçado, foi reali- zada uma revisão integrativa da literatura, que permitiu o uso de evidências presentes em estu- dos por meio da análise de pesquisas relevantes. Formulou-se como questão problema: “Qual importância do controle da pressão arte- rial nas Unidades de Terapia Intensiva - UTI de paciente em pós-operatório de cirurgia cardí- aca? Para busca dos estudos elegíveis, foram uti- lizados descritores não controlados e controla- dos dos vocabulários Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) (Controle Pressão Arterial; Cirurgia Cardíaca; Unidade de Terapia Inten- siva) e Medical Subject Heading – MeSH (Cri- anças; Internados; Procedimentos Cirúrgicos Cardíacos; Hipertensão; Cardiopatias Congêni- tas; Cuidados Críticos), dispostos no Quadro 4.1, conectados pelos operadores booleanos OR, se pertencentes a uma mesma categoria da estratégia PVO, e AND, quando pertencentes a etapas distintas da estratégia. Para encontrar respostas apropriadas à per- gunta de pesquisa e com vistas a uma melhor definição dos descritores, utilizou-se a estraté- gia: Population, Variables and Outcomes (PVO) conforme disposto no Quadro 41. Quadro 4.1 Estratégia PVO Etapa Descrição DeCS/MeSH/ Descritores não controlados Population Pacientes Crianças; Internados Variables Controle Pressão Arterial; Cirurgia Cardíaca; Unidade de Terapia Intensiva Procedimentos Cirúrgicos Cardíacos; Hipertensão Outcomes Cuidados Pós-Operatórios; Complicações Pós-Operató- rias Cardiopatias Congênitas; Cuidados Críticos Após a formulação da questão de pesquisa, procedeu-se à busca nas bases de dados para identificação dos estudos incluídos na revisão. Tais publicações, além de responderem à ques- tão de pesquisa, deveriam atender aos seguintes critérios: Artigos originais, publicados em in- glês, português ou espanhol, nos últimos 05 anos, ou seja, a partir do ano de 2018. As buscas foram conduzidas no mês de já- neiro do corrente de 2023, nas bases de dados eletrônicas indexadas na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Banco de Dados em Enfermagem (BDenf) e Sistema Online de Busca e Análise de Litera- tura Médica (MEDLINE). A Tabela 4.1 ilustra a estrutura metodoló- gica utilizada. 24 Tabela 4.1 Publicações encontradas do ano de 2018 a 2023 nas bases de dados DESCRITORES BASE DE DADOS LILACS MEDLINE BDENF Controle Pressão Arterial 649 8.837 100 Cirurgia Cardíaca 748 24.259 97 Unidade de terapia Intensiva 2.505 27.382 1.050 Controle Pressão Arterial and Cirurgia Cardíaca 29 156 4 Controle Pressão Arterial and Unidade de Tera- pia Intensiva 81 16 7 Controle Pressão Arterial and Cirurgia Cardíaca and Unidade de Terapia Intensiva 0 3 0 Soma Artigos Achados 4.012 60.653 1.258 Artigos Escolhidos 2 3 1 Os estudos achados nas bases de dados fo- ram agrupados por meio do gerenciador de re- ferências Endnote Web, excluindo-se os artigos duplicados. Os artigos selecionados nesta etapa que pu- deram ser obtidos na íntegra foram avaliados para a leitura. O processo de seleção foi documentado usando o fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (MOHER et al., 2009). A Figura 4.1 mostra o Fluxograma de sele- ção dos estudos. Figura 4.1 Fluxograma de seleção dos estudos 25 Foram mobilizados 63.169 estudos, dos quais se excluiu 31.496 publicações por encon- trarem-se duplicadas e 31.591após a triagem por título e resumo, por não responderem à questão de pesquisa ou não atenderem ao crité- rio tipo de estudo. Em seguida, os 82 artigos se- lecionados foram submetidosà avaliação por meio da leitura na íntegra para adequação aos critérios de elegibilidade, sendo excluídos 76 artigos. Ao todo 06 artigos foram incluídos na revisão. RESULTADOS E DISCUSSÃO No quadro a seguir está descrita a relação de artigos catalogados segundo: Autor/ano, título, objetivos e resultados (Quadro 4.2). Quadro 4.2 Relação de artigos catalogados segundo autores/ano, título, objetivos e resultados Numero Autor e Ano Titulo Objetivo Resultados 01 Cho et al., 2018) Differences in periop- erative femoral and ra- dial arterial blood pressure in neonates and infants undergoing cardiac surgery requiring cardiopulmonary by- pass Avaliaram as diferenças na pressão arterial média (PAM) entre as artérias ra- dial e femoral durante a ci- rurgia cardíaca pediátrica para determinar a eficácia do monitoramento da pres- são arterial femoral. Os autores sugerem que a monitorização da pressão ar- terial femoral pode ser reali- zada com segurança, mesmo em neonatos, e fornece valo- res de PA mais precisos du- rante os períodos de CEC e imediatamente após o des- mame da CEC, especial- mente quando o tempo de CEC foi superior a 60 min. 02 Silva et al., (2022) Bilevel positive airway pressure improves the autonomic balance in the postoperative pe- riod following cardiac surgery: A randomized trial Avaliar os efeitos da Bi- PAP na saturação perifé- rica de oxigênio, sinais vi- tais e balanço autonômico no período de hospitalização após cirur- gia cardíaca Os achados evidenciam que o BiPAP possibilita meca- nismos autonômicos mais eficientes durante a interna- ção após cirurgia cardíaca. O BiPAP atenuou a atividade simpática e melhorou a mo- dulação vagal e o equilíbrio autonômico na alta hospita- lar. Esses achados eviden- ciam que o BiPAP possibi- lita mecanismos autonômi- cos mais eficientes durante a internação após cirurgia car- díaca. O BiPAP atenuou a atividade simpática e melho- rou a modulação vagal e o equilíbrio autonômico na alta hospitalar. Esses acha- dos evidenciam que o Bi- PAP possibilita mecanismos autonômicos mais eficientes durante a internação após ci- rurgia cardíaca. 03 Gutknecht et al., (2020) Non-invasive assess- ment of haemodynamic parameters in patients after Fontan procedure Avaliação não invasiva dos parâmetros hemodinâ- micos em pacientes após a operação de Fontan. Em pacientes após procedi- mento de Fontan, a cardio- grafia de impedância pode ser uma ferramenta útil na avaliação de alterações he- 26 modinâmicas de curto prazo provocadas por alterações posturais. Seu valor clínico em pacientes com cardiopa- tias congênitas deve ser me- lhor investigado. 04 Gören et al., (2021) Comparison of BPAP S/T and average vol- ume-assured pressure support modes for hy- percapnic respiratory failure in the emer- gency department: A randomized controlled trial Comparação randomizada dos modos AVAPS e pres- são positiva nas vias aé- reas em dois níveis espon- tâneo/temporizado (BPAP S/T) na aplicação de venti- lação mecânica não inva- siva com pacientes com in- suficiência respiratória hi- percápnica no departa- mento de emergência. O modo AVAPS é tão eficaz e seguro quanto o BPAP S/T no tratamento de pacientes com insuficiência respirató- ria hipercápnica no departa- mento de emergência. 05 Li & Shi (2019) Análise retrospectiva de fatores de risco para complicações relacionadas com abla- ção química na cardio- miopatia hipertrófica obstrutiva Investigar retrospectiva- mente os fatores de risco de complicações relaciona- das da ablação miocárdica septal transluminal percu- tânea (PTSMA) para cardi- omiopatia hipertrófica obs- trutiva (CMHO). A hipertensão arterial foi um fator de risco independente para complicações conexas as com o procedimento de PTSMA. Pode ser muito mais seguro e eficiente se os procedimentos de PTSMA forem restritos a centros ex- perientes, de acordo com os resultados da análise para a curva de aprendizado 06 Luz et al., (2022) Analisar preditores de complicações em pós- operatório de cirúrgia cardíaca pediátrica Identificar preditores de complicação no pós-opera- tório de cirurgia cardíaca pediátrica. Variáveis de condições clíni- cas, medicações em uso, de- feitos congênitos e intercor- rências intraoperatórias quando associados às com- plicações encontradas no pós-operatório de cirurgias cardiopediátricas mostram- se como preditivos de risco. O monitoramento invasivo da pressão arte- rial é importante para pacientes durante e de- pois da cirurgia de coração aberto (OHS) e a ar- téria radial é o local de cateterizarão mais co- mum durante uma OHS. Porém, muitos estudi- osos relataram que durante a fase inicial de by- pass cardiopulmonar (CPB) em adultos a pres- são arterial femoral é mais alta significativa- mente do que a pressão arterial periférica. Os poucos estudos investigam a diferença entre a PA da artéria femoral e artéria radial durante a cirurgia e no período pós-operatório em neona tos e em bebês (CHO et al., 2018). Para Cho et al., (2018) muitos autores têm relatado a segurança da cateterização da artéria femoral durante a cirurgia cardíaca em adultos; porém, há poucas publicações sobre as caracte- rísticas do monitoramento da pressão arterial femoral em neonatos e em bebês. O estudo de Cho et al., (2018), buscou examinar as diferen- ças entre a pressão arterial femoral e radial em neonatos e bebês e revelou que a pressão arte- rial radial foi normalmente subestimada em comparação com a pressão arterial femoral du- 27 rante o período do CPB-on nessa população. Contudo, esse fenômeno não permaneceu no período da UTI (CHO et al., 2018). Na população estudada por Cho et al., (2018), a pressão arterial radial foi normal- mente subestimada em comparação com a pres- são arterial femoral após o início do CPB e que as diferenças entre a pressão arterial radial e fe- moral foram mais marcadas em pacientes com CPB mais longo. Também identificamos que essas diferenças de pressão não foram evidentes durante o período da UTI (CHO et al., 2018). A pressão arterial radial reduzida pode ser causada por vasoespasmo como resultado de al- guns mecanismos termorregulatórios; da mesma forma, gradientes pressóricos das arté- rias femoral e radial têm sido observados em pacientes com parada circulatória hipotérmica ou em pacientes cirúrgicos gravemente doentes tratados com doses elevadas de agentes vasoa- tivos (CHO et al., 2018). Silva et al., (2022) buscou avaliar os efeitos da BiPAP na saturação periférica de oxigênio, sinais vitais e balanço autonômico no período de hospitalização após cirurgia cardíaca. Os principais achados desta pesquisa indicam a melhora do equilíbrio autonômico em pacientes tratados com BiPAP durante a internação após cirurgia cardíaca. Os autores encontraram uma atenuação da atividade simpática no BiPAPG, enquanto no GC houve aumento do compo- nente simpático. O BiPAP promoveu o au- mento da resposta parassimpática em compara- ção com o GC. A SpO 2 não se alterou na alta hospitalar e foi semelhante entre os grupos (SILVA et al., 2022). O componente LF prevaleceu no GC, en- quanto no BiPAPG o componente HF foi maior. Isso mostra a predominância da ação parassim- pática na alta hospitalar em resposta ao BiPAP, que expressou boa adaptação autonômica cardi- ovascular. Esses achados mostram que o BiPAP trouxe benefícios adicionais à fisioterapia de ro- tina e aos cuidados habituais, que podem ser re- forçados pela melhora do equilíbrio autonô- mico, com predomínio do sistema nervoso pa- rassimpático. A relação LF/HF apresentou se- melhança entre os grupos no pré-operatório, mas foi prejudicada no GC na alta hospitalar. No BiPAPG, encontramos uma atenuação da atividade simpática, associada à predominância de estímulo vagal induzindo melhora da relação LF/HF e consequente benefício ao sistema decontrole autonômico cardiovascular (SILVA et al., 2022). Na insuficiência cardíaca, há comprometi- mento do equilíbrio autonômico decorrente da hiperativação simpática e redução do tônus va- gal cardíaco. Pacientes com insuficiência cardí- aca hospitalizados por descompensação aguda se beneficiaram da terapia com BiPAP devido à melhora das respostas autonômicas via ativação vagal. Queda da VFC é considerada fator de risco independente para mortalidade cardiovas- cular após infarto agudo do miocárdio (SILVA et al., 2022). Gutknecht et al., (2020) buscaram realizar uma avaliação não invasiva dos parâmetros he- modinâmicos em pacientes após a operação de Fontan. O uso de ventilação não invasiva em pacientes com insuficiência cardíaca aumenta o débito cardíaco e o volume sistólico, reduz a pós-carga e apresenta resultados benéficos para a função ventricular esquerda com redução da regurgitação mitral. Esse mecanismo pode ex- plicar nossos achados, sugerindo adaptações funcionais do sistema cardiovascular em res- posta ao uso de pressão positiva nas vias aéreas. Alguns fatores podem ter contribuído para a estase da SpO 2. Todos os pacientes receberam fisioterapia de rotina com exercícios de respira- ção profunda em CP, o que pode ter sido funda- 28 mental para evitar a queda da SpO 2, uma vez que essa intervenção promove a oxigenação após cirurgia cardíaca. Com isso, o BiPAP foi incapaz de promover efeitos adicionais, além da fisioterapia respiratória, na SpO 2. A melhora da oxigenação poderia ter sido obtida se fosse avaliado o efeito agudo do BiPAP ou da fisio- terapia de rotina. Entretanto, a medida da SpO 2 foi realizada em repouso, tanto no pré-opera- tório quanto na alta hospitalar. Ainda assim, as médias de SpO 2 estavam dentro da normali- dade desde o pré-operatório, pois a amostra era composta apenas por pacientes estáveis. O tra- tamento com CPAP é capaz de reduzir signifi- cativamente a pressão arterial em pacientes com hipertensão resistente (GUTKNECHT et al., 2020). Li & Shi (2019) buscaram realizar uma ava- liação não invasiva dos parâmetros hemodinâ- micos em pacientes após a operação de Fontan. Os autores destacaram que complicações du- rante procedimentos de PTSMA e monitora- mento hospitalar ocorreram nesse estudo. Os eventos foram choque cardíaco, insuficiência cardíaca aguda, eventos arrítmicos (assistolia, bradicardia, fibrilação ventricular e taquicardia ventricular sustentada e não sustentada) e morte cardíaca. As complicações da artéria coronária foram dissecção coronariana, infarto agudo do mio- cárdio, perfuração coronariana, tamponamento pericárdico e derrame pericárdico agudo. Com- plicações conexas com punção foram incluídas também para a análise final (LI & SHI, 2019). Nesse sentido, Li & Shi (2019) colocam a necessidade de os pacientes serem monitorados cuidadosamente nas UTIs, uma vez que a cirur- gia cardíaca é um complexo procedimento que tem importantes repercussões orgânicas, alte- rando de diversas maneiras os mecanismos fisi- ológicos dos pacientes. Nesse estudo os pacien- tes foram monitorados cuidadosamente na Uni- dade Coronariana por pelo menos 3 dias após procedimento, e estimulação de apoio foi conti- nuada pela veia femoral quando preciso. A ava- liação intra-hospitalar foi feita para todos os desfechos clínicos, incluindo as complicações hemorrágicas e vasculares (pseudoaneurisma da artéria femoral e hematoma de punção foram incluídos também para análise). Depois da alta, os exames mensais de acompanhamento clínico foram realizados em ambulatório, com a finali- dade de monitorar a ocorrência de eventos ad- versos (LI & SHI, 2019). Em resumo, o trabalho de Li & Shi (2019) mostra que o PTSMA foi efetivo na redução do GVSVE em pacientes com CMHO. A hiperten- são foi o único fator de risco para complicações conexas com o procedimento PTSMA depois da análise de regressão logística multivariada. Os procedimentos de PTSMA podem ser mais seguros e eficientes em centros experientes, se- gundo os resultados da análise para a curva de aprendizado (LI & SHI, 2019). Goren et al., (2021) buscaram realizar uma comparação randomizada dos modos AVAPS e pressão positiva nas vias aéreas em dois níveis espontâneo/temporizado (BPAP S/T) na aplica- ção de ventilação mecânica não invasiva com pacientes com insuficiência respiratória hiper- cápnica no departamento de emergência. Os resultados mostraram que houve altera- ções no exame de ecocardiograma pós-procedi- mento estavam presentes em 47,7% do total avaliado, 14,8% deles apresentavam achados compatíveis com as correções realizadas e em 37,5% não foi possível encontrar o laudo do exame em prontuário. As alterações encontra- das incluíram: Dilatação de cavidades cardía- cas, hipertrofia de ventrículo esquerdo e direito, derrame pleural, derrame pericárdico, artéria do tronco da pulmonar dilatado, tronco da pulmo- 29 nar aumentado, refluxo pós plastia valvar, insu- ficiência valvar, trombose em prótese, coroná- ria dilatada, retalho cirúrgico mal posicionado, retalho cirúrgico com shunt residual, estenose valvar, neoaorta com refluxo e forame oval pa- tente bidirecional (GOREN et al., 2021). Constatou-se que as complicações coexisti- ram entre si e que nenhuma delas causou óbito aos pacientes. Referente ao sistema circulatório foram observadas a presença de: Hipertensão; hipotensão; trombo; hemorragia/sangramento; plaquetopenia; instabilidade hemodinâmica; baixo debito e queda do hematócrito; em se- guida, a ocorrência de distúrbios renais foi ca- racterizada por: Oligúria; poliúria; anasarca; congestão; hematúria; insuficiência aguda; hi- percalemia e hipocalemia. No aspecto metabó- lico foram percebidos: Hipoglicemia; hipergli- cemia; acidose respiratória; alcalose respirató- ria; acidose metabólica; acidose mista; condi- ções pós paradas cardíaca. Foram consideradas complicações respiratórias a ocorrência de: Ex- tubaçáo acidental; broncoespasmo; dispneia; congestão pulmonar; pneumotórax; derrame pleural; atelectasia; presença de secreção em via aérea; pneumomediastino e cânula orotra- queal mal posicionada (GOREN et al., 2021). As complicações costumam ser comuns no período pós-operatório e podem variar quanto ao risco à vida que podem apresentar. Além disso, fatores de risco para complicações pós- operatórias de cirurgia cardíaca pediátrica ainda não foram completamente elucidados (GOREN et al., 2021). A identificação precoce dos preditores de proteção e de complicações para cirurgia cardí- aca congênita pediátrica pode ajudar na melho- ria da assistência prestada ao paciente, na to- mada de decisão, na escolha do tratamento, na redução do tempo de internação e complicações apresentadas e consequentemente, redução do custo com o tratamento (GOREN et al., 2021). Por fim, Luz et al., (2022) buscaram identi- ficar preditores de complicação no pós-operató- rio de cirurgia cardíaca pediátrica. Os resulta- dos foram expressos pelo odds ratio (OR) com nível de significância de 5%. Observou-se idade média de 61 anos com a predominância do sexo feminino. Complicações metabólicas, circulatórias, renais, cardiovasculares e respira- tórias foram identificadas intra e no pós-opera- tória (LUZ et al., 2022). Foi identificada correlação estatística de complicações em: Uso dos diuréticos, hiperten- são arterial, hipertrofia de ventrículo direito, in- suficiência de valva atrioventricular, trissomia do cromossomo 21, derrame pericárdico, san- gramento intraoperatório, leucócitos alterados nos pré-operatórios e alterações no ecocardio- grama pós-operatório (LUZ et al., 2022). Os autores destacam que variáveis de con- dições clínicas, medicações em uso, defeitos conpênitos e intercorrências intraoperatórias quando associadas às complicações encontra- das no pós-operatório de cirurgias cardiopediá- tricas mostram-se como preditivos de risco (LUZ et al., 2022). CONCLUSÃO O período pós-operatório
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