Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Admilson G. de Almeida EAD Editora Universitária Adventista Presidente da Divisão Sul-Americana: Stanley Arco Diretor do Departamento de Educação para a Divisão Sul-Americana: Antônio Marcos da Silva Alves Presidente do Instituto Adventista de Ensino (IAE), mantenedora do Unasp: Maurício Lima Reitor: Martin Kuhn Vice-reitor para a Educação Básica e Diretor do Campus Hortolândia: Henrique Karru Romaneli Vice-reitor para a Educação Superior e Diretor do Campus São Paulo: Afonso Ligório Cardoso Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de graduação: Edilei Rodrigues de Lames Pró-reitor de pós-graduação lato sensu e Pró-reitor da educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de desenvolvimento espiritual e comunitário: Wendel Tomas Lima Pró-reitor de Desenvolvimento Estudantil e Diretor do Campus Engenheiro Coelho: Carlos Alberto Ferri Pró-reitor de Gestão Integrada: Claudio Valdir Knoener Conselho editorial e artístico: Dr. Adolfo Suárez; Dr. Afonso Cardoso; Dr. Allan Novaes; Me. Diogo Cavalcanti; Dr. Douglas Menslin; Pr. Eber Liesse; Me. Edilson Valiante; Dr. Fabiano Leichsenring, Dr. Fabio Alfieri; Pr. Gilberto Damasceno; Dra. Gildene Silva; Pr. Henrique Gonçalves; Pr. José Prudêncio Júnior; Pr. Luis Strumiello; Dr. Martin Kuhn; Dr. Reinaldo Siqueira; Dr. Rodrigo Follis; Me. Telson Vargas Editor-chefe: Allan Macedo de Novaes Supervisora Administrativa: Rhayane Storch Responsável editorial pelo EaD: Jéssica Lisboa Pereira FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO 1ª Edição, 2023 Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Admilson Gonçalves de Almeida Doutor em Educação ( área de História e Filosofia da Educação) pela Universidade Metodista de Piracicaba Marques, Pâmela Caroline Costa Ferramentas de produtividade e gestão do tempo [livro eletrônico] / Pâmela Caroline Costa Marques. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2022. PDF Bibliografia. ISBN 978-65-5405-041-8 1. Administração 2. Gestão de negócios 3. Produtividade 4. Tempo - Administração I. Título. 22-134421 CDD-650.1 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Tempo : Produtividade : Administração 650.1 Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380 Fundamentos Filosóficos e Históricos da Educação 1ª edição – 2023 e-book (pdf) OP 00123 Coordenação editorial: Amanda Ferelli Preparação: Adriane Rodrigues Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa: Jonathas Sant’Ana Diagramação: Kenny Zukowski Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Francisco Luiz Gomes de Carvalho Doutorado em Educação: História e historiografia da Educação - (USP) Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO FILOSOFIA: CONCEITO, IMPLICAÇÃO E APLICAÇÃO ..............................10 Introdução ...........................................................................11 A era dos mitos ....................................................................11 Filosofia: a origem ................................................................14 Grécia: Sócrates, o modelo de pedagogo; Platão e Aristóteles .............................................16 Filosofia patrística (do século 1 ao 7 D.C.) ..........................................................22 Escolástica ............................................................................23 Considerações finais .............................................................26 Referências ..........................................................................27 HISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO ......................28 Introdução ...........................................................................29 Idade antiga e a história da educação romana .....................29 Esparta ........................................................................29 Atenas ..........................................................................30 Idade média .........................................................................32 As reformas religiosas ...................................................34 Idade moderna: racionalismo, empirismo, criticismo ...........................................................35 Racionalismo ................................................................36 Empirismo ....................................................................36 Criticismo .....................................................................36 Idade contemporânea: pragmatismo ..................................37 Outros atores: autores contemporâneos ...............................38 Immanuel Kant (1724 - 1804) ......................................38 Augusto Comte (1798 – 1857) .....................................39 Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) .........................39 Karl Marx (1818 – 1883) ..............................................40 Michel Foucault (1926 – 1984) ....................................40 Paulo Freire (1921 – 1997) ...........................................40 Considerações finais .............................................................41 Referências ..........................................................................41 EDUCAÇÃO E SISTEMA POLÍTICO NO BRASIL ......................................43 Introdução ...........................................................................44 O início de tudo: a educação jesuíta no Brasil colônia ..................................................................45 Método pedagógico .....................................................47 Expoentes do período Brasil colônia .............................49 Educação no Brasil império ..................................................49 Educação no Brasil república ................................................51 A primeira república (1889-1930) ................................52 A segunda república (1930 – 1937) .............................53 O Estado Novo (1937-1945) ..........................................55 A quarta república (1945-1964) ...................................56 Reformas educacionais: Benjamin Constant .........................56 A reforma educacional proposta por Benjamim Constant ................................................57 A reforma Rivadávia Corrêa (1911) ...............................58 Reforma de 1915 ..........................................................58 Reforma de 1925 ..........................................................58 Educação superior no Brasil e a formação dos brasileiros ...................................................59 Considerações finais .............................................................60 Referências ..........................................................................61 A PRÁTICA ESCOLAR E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS ............................62 Introdução ...........................................................................63 pedagogia liberal: tendência liberal tradicional ...................63 Principais características...............................................65 Pedagogia liberal: renovada progressiva ..............................66 Pedagogia liberal: tendência liberal renovada não diretiva e liberal tecnicista .............................67 Tendência liberal renovada não diretiva.......................67 Pedagogia liberal tecnicista ..........................................68 Pedagogia progressista: tendência progressista libertadora e progressista libertária .....................................70 Tendência progressista libertadora ..............................70 Tendência progressista libertária ..................................72 Pedagogia progressista: tendência progressista crítico-social dos conteúdos .................................................73 Escola Nova ..........................................................................74 Considerações finais .............................................................78 Referências ..........................................................................79 EDUCAÇÃO E PROPÓSITO: HISTÓRIA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ ..................80 Introdução ...........................................................................81 Cosmovisão bíblica e a educação hebraica ...........................81 Educação e redenção ............................................................86 VO CÊ ES TÁ A QU I Filosofia cristã de educação ..................................................87 Valores: ética e moral ...........................................................90 A pedagogia do mestre dos mestres.....................................93 Considerações finais .............................................................97 Referências ..........................................................................97 VO CÊ ES TÁ A QU I EMENTA Estudo da constituição do pensamento pedagógico da antiguidade à contemporaneidade, com destaque na Educação Brasileira, considerando os diferentes elementos étnico-raciais. Fundamentos históricos e filosóficos que subsidiam as concepções educacionais. Constituição da escola e correntes pedagógicas no Brasil. O sujeito do processo educacional: os métodos e concepções de ensino e aprendizagem. EDUCAÇÃO E PROPÓSITO: HISTÓRIA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO CRISTÃ UNIDADE 5 - Pesquisar os princípios educacionais que nascem das conjecturas da cosmovisão cristã; - Interpretar o verdadeiro fundamento da educação considerando o real propósito de Deus ao criar a humanidade.OB JE TI VO S 81 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO INTRODUÇÃO A filosofia de educação cristã possui uma proposta fundamentada nas raízes dos escritos bíblicos, não se tratando de fundamentalismo, mas sim de fundamentos firmados a partir das orientações divinas. O propósito deste estudo é refletir sobre os principais aspectos que sustentam essa filosofia. Para isso, conhe- ceremos o conceito de cosmovisão bíblica, seus sustentáculos primários e como ela se mantém no meio educacional; na sequência, voltaremos a falar da educação hebraica, visto ter sido o povo que recebeu informações sobre educação, saúde, ética e diversos outros valores diretamente de Deus. Abordaremos também a educação e a redenção proporcionadas pelo plano de Deus no processo de resgate do homem após sua queda. Por fim, estudaremos as principais metodologias usadas por Cristo enquanto educador, visto que seus ensinos e métodos estão vivos e são eficazes até hoje. Esperamos que o conteúdo aqui apresentado lhe traga grandes reflexões, tanto acadêmicas quanto espirituais. Ao fim de nosso trajeto de hoje, você terá aprendido: • que o pecado nos impede de ter um relacionamento completo com o Criador e que Seu filho Jesus morreu para que esse relacionamento fosse restaurado; • que os valores bíblico-cristãos são os fundamentos de uma filosofia cristã de educação; • que a filosofia cristã defende o criacionismo; • que Jesus é o Filho de Deus que se fez carne e habitou entre nós, deixando exemplos para seguirmos e praticarmos; • que o maior código de ética bíblico são os Dez Mandamentos e que observá-los faz parte da expressão de amor a Deus e ao próximo. Bom estudo! COSMOVISÃO BÍBLICA E A EDUCAÇÃO HEBRAICA As temáticas fé e ensino não estão desarticuladas em nossa cultura educacional. Se tivéssemos de conceituar a palavra “cosmovisão”, o significado direto, considerando a origem de cada palavra (cosmo e visão) poderia ser traduzido como “uma visão de mundo”; logo, a cosmovisão bíblica consiste justamente em um tipo de óculos ou lente que nos leva a observar a realidade a partir dos valores que encontramos na Bíblia. A cosmovisão bíblica no contexto educacional é um caminho de interpretação fundamentado na relevância que a Bíblia nos oferece na formação profissional. Para tanto, resolvemos resgatar o contexto histórico e filosófico da educação hebraica, cuja principal fonte histórica se encontra na Bíblia, principal- mente nos livros iniciais chamados de Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento escritos por Moisés, utilizados como um verdadeiro manual dos hebreus. Diferente dos povos antigos, que eram politeístas, os hebreus se destacaram por defender a crença em um só Deus, concepção monoteísta. Os hebreus acreditam em um só Deus, que é Criador de todas as coisas (criacionismo). O relato bíblico presente em Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, declara que Deus criou o homem, como podemos constatar: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn. 1:27). 82 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Outro um diferencial marcante na conduta da cultura hebraica é o fato de a cosmovisão sobre educação dos hebreus se concentrar na con- vivência e na prática, enxergando o processo de ensinar e aprender como um processo único. Lima (2011, p. 24) expõe que na educação “hebraica, portanto, o instruir e o praticar estavam integrados num mesmo processo. Entendia-se que houve ensino quando o que foi ensinado era aprendido e praticado. A prática integrava todos os aspectos da vida, principalmente a religião”. O modelo de educação familiar no qual o povo hebreu se funda- mentava tinha uma raiz profunda, pois a herança e o exemplo desse mo- delo tinham sua origem no Jardim do Éden, o lar dos primeiros seres hu- manos criados por Deus. “O Jardim do Éden era a sala de aulas; a Natureza, o compêndio; o próprio Criador, o instrutor; e os pais da família humana, os alunos.” (WHITE, 2008a, p. 15). Na sua organização inicial, o povo hebraico se valia do método de educação familiar, em que os pais eram os representantes de Deus e a família era a própria escola; esse método se estabeleceu por muito tempo entre a nação israelita. Vivendo de maneira simples, moravam no campo ou em colinas, trabalhando no cultivo do solo e cuidando de rebanhos, tendo assim total liberdade para aprender diretamente em meio à natu- reza a respeito das obras de Deus. Depois de um longo período de escravidão no Egito, parte do co- nhecimento se degradou e a maioria das famílias que formavam essa ci- vilização perderam parte relevante da experiência com o divino. Sua fé esteve ameaçada, especialmente por conta do sincretismo religioso após a influência cultural de séculos no contato com os deuses do Egito. As ba- ses de valores familiares haviam sido corrompidas pelo contato com uma outra civilização que não tinha por concepção básica os mesmos princí- pios morais e educacionais. Durante os quarenta anos que passaram no deserto após a libertação e desvinculação da nação egípcia, marchando rumo a uma Terra Prometida, estiveram expostos a diversas situações e dificuldades como a fome, sede, calor, doenças e ameaças dos inimigos; contudo, a situação desfavorável teve por propósito e resultado o fortale- cimento da fé e o restabelecimento da confiança total em YHWH, a figura divina do Deus israelita. A presença de Deus era constante, demonstração visível por meio do maná, o pão que caia do céu todos os dias, exceto aos sábados; por meio de uma coluna de fogo à noite, que os aqueciado frio do deserto; pela água que jorrava misteriosamente de rochas aparentemente secas quando tinham sede; e por uma nuvem de proteção durante o dia, para protegê-los do calor do sol. Todos esses eventos eram testemunhados e deveriam ser repassados para as gerações seguintes que não tiveram o mesmo privilégio de contemplar essa maravilha. O ápice desse processo de conhecimento do Deus Criador se ma- nifestou no momento em que Moisés recebeu as tábuas da Lei, escritas A nossa principal fonte histórica sobre o povo hebreu é a Bíblia. 83 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO pelo dedo do próprio Deus. Essas leis deveriam ser o principal meio de orientação e educação para o povo durante sua jornada no deserto e quando entrassem na Terra Prometida. Por essa razão foram escritas em pedras, sendo mais tarde conhecidas como os dez mandamentos, des- critos em Êxodo 20 e em Deuteronômio 5. Quando essas leis foram recebidas, passaram a ser levadas dentro de uma arca que ia à frente do povo, como um símbolo da própria presença de Deus com eles durante a jornada. Durante a longa trajetória desse povo atravessando o deserto, aprenderam também regras sanitárias, para manter e conservar a saúde, afinal, “a educação dos israelitas incluía todos os seus há- bitos de vida. Tudo que dizia respeito a seu bem-estar foi objeto da solicitude divina, e constituiu assunto da divina legislação” (WHITE, 2008, p. 29). A música era uma ferramenta preciosa na educação dos hebreus durante a jornada no deserto, visto que muitas lições eram facilmente in- ternalizadas por meios dos cânticos. As letras desses cânticos falavam das vitórias sobre os inimigos e exaltavam ao Senhor Deus como Criador, De- fensor e Mantenedor. Os cânticos, além de servir como um método edu- cacional, tinham o propósito de alegrar ao povo durante os quarenta anos de peregrinação no deserto. As instruções educacionais e os princípios de vida e saúde conce- didos aos hebreus tinham por finalidade serem propagados para outras nações que os observavam, tornando-se assim uma bênção, como regis- trado em Deuteronômio 28:10: “E todos os povos da terra verão que és chamado pelo nome do Senhor e terão medo de ti”. A grande responsabi- lidade de manter esse processo de educação estava sob a responsabilida- de dos pais, que eram instrutores de todos os tipos de assuntos. “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.” (Dt. 6:6, 7, ACF). A cosmovisão educacional hebraica consistia em exemplos e práti- cas, estando o processo totalmente articulado. Por essa razão, esse mode- lo de educação ficou conhecido como educação integral, visto que o ob- jetivo era o de pleno crescimento, respeitando o desenvolvimento físico, social, cultural e acima de tudo espiritual. “Porém, apesar desse vínculo com a temática religiosa, não se negligenciavam áreas de conhecimen- to não religiosas, como a engenharia, direito civil, álgebra e astronomia.” (LIMA, 2011, p. 25). Como vimos anteriormente, a filosofia grega, principalmente a par- tir das concepções platônicas a respeito da concepção antropológica, é marcada por um profundo dualismo, onde ser humano é formado de alma e corpo. Os filósofos gregos, de uma maneira geral, apresentam dificuldades de explicar o ser humano a partir do ponto de vista holístico, fundamen- tando-se na compreensão dualista em que o corpo é uma parte falível e, HOLÍSTICO De acordo com o site significados, é “qual- quer doutrina que procura compreender os fenômenos na sua totalidade e glo- balidade”. Disponível em: https://www. significados.com.br/holistico/. Acesso em: 25 jan. 2023. 84 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO por essa razão, morre. Já a alma é a parte nobre e boa do ser humano e não morre; essa é a concepção de “duas partes diferentes e separadas: o corpo (material) e a alma (espiritual e consciente). Chamamos a isso dua- lismo psicofísico, ou seja, a dupla realidade da consciência separada do corpo” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 295). Quando nos referimos ao conceito antropológico de ser humano, a concepção hebraica é totalmente oposta à regra, visto não entender ou aceitar a dicotomia psicofísica. Corpo e alma não estão separadas, mas, na verdade, devem ser compreendidas como almas viventes, sem a pos- sibilidade de separação. Cada corpo é uma alma, cada alma é um corpo, concepção que se fundamenta na própria criação do homem, como en- contrado no texto de Gênesis 2:7: “Então, formou o Senhor Deus ao ho- mem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Na cosmovisão bíblica, a separação do homem em corpo e alma não faz sentido algum. De acordo com o texto, o homem foi formado do pó da terra e só passa a respirar ou viver de fato após receber o fôlego da vida concedido por Deus. Sem esse fôlego, o ser humano volta ao seu estado primário ou, em outras palavras, volta a ser pó, como podemos perceber nesta passagem: “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn. 3:19, ACF). Na educação dos hebreus, a expressão “voltar ao pó” é o signifi- cado da morte do ser humano, deixando de existir, não mais podendo aprender nem tampouco demonstrar qualquer tipo de sentimentos, não conhecendo outros mundos ou fazendo contato com outros seres huma- nos. A semelhança desse estado pode ser traduzida através da compara- ção com um sono, em que os indivíduos nada sabem. “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança.” (1Ts. 4:13, ACF). Faz-se claro, portanto, o contraste entre a educação hebraica e a filosofia grega platônica, afinal, “a dicotomia corpo-consciência já aparece no pensamento grego no século V a.C., com Platão. Esse filósofo parte do pressuposto de que a alma, antes de se encarnar, teria vivido a contem- plação do mundo das ideias” (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 295). No dualismo platônico, o corpo recebe em seu interior a alma, como se fosse um outro elemento vivo, passando a habitar no corpo de maneira provisória, até a morte do corpo. Para essa concepção, quando isso acon- tecesse é que a alma seria então finalmente liberta, filosofia muito dife- rente da educação recebida e defendida na cosmovisão cultural hebraica, na qual alma é sinônimo de vida. Assim, nesse contexto, não há qualquer sentido em dizer que o ser humano tem um corpo, mas faz sentido dizer que o ser humano é um corpo, é uma alma, é uma vida, é uma pessoa, é um indivíduo criado por Deus, único e livre. Na educação dos hebreus, a expres- são “voltar ao pó” é o significado da morte do ser humano. Fonte: Shutterstock 85 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Na educação hebraica, como vimos, a ênfase se dava no contexto da família, e valores e aprendizagens eram repassados de geração a geração. Porém, com o estabelecimento do povo em um só local, deixando de ser nômades e de jornadear pelo deserto, diversas famílias adotaram outras culturas, deixando de seguir o plano original de Deus estabelecido no có- digo de conduta hebraica. Pais foram beber de outras fontes e se torna- ram negligentes com suas obrigações para com Deus e consequentemente para com a família. White (2008a, p. 35) relata no livro Educação que: “Pela infidelida- de no lar e pelas influências idólatras de fora, muitos dos jovens hebreus recebiam uma educação que diferia grandemente da que Deus projetara para eles”. Para resolver essa situação, Deus, em sua misericórdia, ofere- ceu um outro meio de auxiliar aos pais no processode educação de seus filhos. O profeta Samuel, recebendo inspiração divina, estabeleceu um local de instrução, que recebeu o nome de “escola dos profetas”; naquele tempo os profetas, além de receberem revelações diretas de Deus, tam- bém tinham a prerrogativa de instruir e ensinar ao povo hebreu o cami- nho no qual eles deveriam seguir. Estas escolas se destinavam a servir como uma barreira contra a corrupção prevalecente, a fim de prover à necessidade inte- lectual e espiritual da juventude, e promover a prosperidade da nação, dotando-a de homens habilitados para agir no temor de Deus como dirigentes e conselheiros. Para tal fim, Samuel reuniu grupos de rapazes piedosos, inteligentes e estudiosos. Foram eles chamados os filhos dos profetas. Enquanto estuda- vam a palavra e as obras de Deus, Seu poder vivificante desper- tavam-lhes as energias da mente e da alma, e os estudantes re- cebiam sabedoria do alto. Os instrutores não só eram versados na verdade divina, mas tinham pessoalmente experimentado comunhão com Deus, e obtido concessão especial de Seu Espí- rito (WHITE, 2008a, p. 36). Os alunos nessas escolas trabalhavam na agricultura ou na mecâ- nica; na cosmovisão de educação hebraica essa prática era comum e, de maneira contrastante aos nossos dias, não importando a classe social os jovens hebreus deveriam aprender algum ofício prático no seu caminho educacional. A metodologia de ensino era oral e aprendiam a leitura e a escrita, conhecendo de forma específica as leis de Deus, as mesmas que foram escritas pelos dedos do Senhor no Sinai e entregues a Moisés, cha- madas de histórias sagradas. Outros conteúdos também eram aprendidos como a música sacra e a poesia, desenvolvendo no estudante a respon- sabilidades de buscar a Deus por meio da oração e da meditação diária, fortalecendo o intelecto e a fé. Esse processo de educação era totalmente diferente de qualquer outra nação da época. Embora fosse simples, ele exaltava ao Senhor como o Criador de todas as coisas. A perspectiva era a de que a educação he- braica fosse um modelo para outras nações, ou seja, que todos os povos que viviam ao redor da nação hebraica aceitassem e se rendessem ao úni- co Deus, o Deus verdadeiro, o Deus dos hebreus. A metodologia de ensino era oral, aprendendo a leitura e a escrita, conhecendo também as leis de Deus. 86 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO E REDENÇÃO A pergunta que nos moverá a partir de agora é: o que redenção tem a ver com educação? Pois bem, mais uma vez, para isso, precisamos entender essa conexão a partir de um contexto filosófico, histórico e bíblico-cristão. Em primeiro lugar, se você for a um dicionário de significados, vai encontrar alguma de- finição semelhante a esta: “Redenção é o ato ou efeito de redimir ou remir, que significa libertação, rea- bilitação, reparo, salvação. É o ato de adquirir de novo, de resgatar, de tirar do poder alheio, do cativeiro” (SIGNIFICADOS, [c2011-2022], on-line). Partindo desse significado, poderemos compreender a palavra redenção no contexto bíblico; para isso, convido você a voltar ao Jardim do Éden, pois é mediante a cosmovisão bíblica-cristã que entendemos que a criação é um tema central na educação, assim como a própria redenção. Defendemos a ideia de que educar, nesse contexto, é proporcionar ao estudante meios racionais para que ele compreenda que o amor é a base sólida da real e verdadeira educação. Não precisamos ser estudantes da Bíblia para conhecermos a história relatada por Moisés no livro de Gênesis sobre a queda do homem ao quebrar um código de ética estabelecido pelo próprio Deus. Esse código consistia em: “Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais” (Gn. 3:3). Mas o inimigo de Deus, que se levantou contra o Senhor no próprio céu, usando a serpente para impressionar a mulher, dialogou com ela dizendo: “É certo que não morrereis” (Gn. 3:4). A palavra de Deus é viva e eficaz, nos conduz à vida e nunca à morte, mas a serpente, em seu ato para enganar a mulher, desfez o que o próprio Deus havia dito. O relato bíblico continua afirmando que a mulher comeu do fruto da ciência do bem e do mal, e abriram-se os olhos tanto do homem como da mu- lher e perceberam que estavam nus, e ao perceberem a presença do Criador, esconderam-se como se fosse possível se esconder dos olhos daquele que tudo vê. “Os olhos do Senhor estão em todo lugar” (Pv. 15:3). Após alguns questionamentos por parte de Deus, buscando saber onde o homem estava e porque tudo ocorrera, o resultado não poderia ter sido outro: Deus expulsou o homem do jardim. Então, disse o Senhor Deus: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente” (Gn. 3:22). Deus, em sua justiça e por amor ao casal, prometeu que não os abandonaria, mas que providenciaria um redentor, “porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm. 6:23). O efeito da ação de comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal proporcionou uma separação entre a criatura e o Criador. Somente Ele poderia pagar esse salário para res- tabelecer a vida, que é um dom gratuito de Deus segundo o texto que Paulo escreveu aos romanos. Assim, começamos a compreender que redenção é um ato de libertação, de resgate, buscando o que havia se perdido. Esse processo, afinal, é uma questão também de educação, informação e aprendizagem. Adão e Eva foram submetidos a uma avaliação na escola modelo, mas foram reprovados no quesito fidelidade e obediência, preferindo ouvir a voz do engano. O resultado foi a ruína: a desgraça e a perda do privilégio de aprender com o próprio Criador. O pecado do primeiro casal trouxe separação, mas o sacrifício do próprio Deus possibilitou novamente o estabelecimento do relacionamento entre Deus e a humanida- de, o que chamamos de plano da redenção. O plano desfaria a atuação do maligno, permitindo a verdadei- ra educação, que consiste em conhecer a obra de salvação de Cristo. “O professor que aceita este objetivo é em verdade um cooperador de Cristo, um coobreiro de Deus.” (WHITE, 2008a, p. 24). 87 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Essa narrativa foi comunicada aos filhos de Adão e Eva e os valores da obediência deveriam ser aprendidos por Caim e Abel. Ambos conheciam a importância de apresentar a Deus a verdadeira oferta como parte da educação familiar. Contudo, somente a oferta de um deles foi aceita por Deus, pois a oferta de Abel prefigurava o sacrifício do Filho do Homem. Temer a Deus é demonstrar amor ao Criador! Jesus veio pela primeira vez neste mundo como uma criança e as Escrituras não apresentam detalhes de Sua infância. Todavia, podemos afirmar que Ele foi obe- diente aos seus pais terrestres. Maria e José com toda certeza seguiram a base da educação hebraica de ensinamentos dentro do contexto do lar. Jesus não passou pela escola dos profetas instituídas por Samuel, contudo, o aprendizado que recebeu foi fruto de uma educação familiar. Esse exemplo nos mostra a grande responsabilidade que os pais possuem sobre a educação de seus filhos, afinal, essas crianças irão servir a uma sociedade e a formação do caráter tem seu início no seio da família. “Tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (Dt 6:7). A educação das crianças, dos jovens e até dos adultos no contexto da redenção é relevante, pois o homem precisa dispor de autonomia para tomar decisões sobre a sua vida espiritual. Assim como nossos primeiros pais receberam instruções sobre como manter a vida eterna, nós hoje temos as Sagradas Escritu- ras, orientando atodo aquele que busca conhecimento, pois redenção é conhecer a Cristo e Seu trabalho de resgate da alma humana. Esse processo não se faz somente dentro de uma sala de aula formal, muitas atividades pedagógicas redentoras ocorrem também em outros ambientes. Seja na natureza, em casa, na comunidade ou no trabalho, a educação e a redenção são temas que não podem ser deixados de lado, pois delas depende a escolha que definirá a nossa aprovação naquele grande dia, quando o Supremo Professor retornará para conceder o diploma ou a coroa de vencedor para todos os que aceitaram o Seu sacrifício na cruz. Como afirma White (2008a, p. 12), redenção e educação acima de tudo são o ato de “restaurar no homem a imagem de seu Autor, levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, espírito e alma para que se pudesse realizar o propósito divino da sua criação”. FILOSOFIA CRISTÃ DE EDUCAÇÃO De acordo com White (2007b, p. 10), “a mais bela obra já empreendida por homens e mulheres é lidar com espíritos jovens”. A filosofia cristã de educação perpassa por essa afirmação. Em outras palavras, aquele que vai exercer um papel tão importante na educação cristã deve estar ciente de que “o máximo cuidado deve ser tomado na educação da juventude, para variar de tal maneira a instrução, que desperte as nobres e elevadas faculdades da mente”. A filosofia, entre tantas funções, nos oferece um caminho de reflexão tanto por parte de quem ensina, como por parte daquele que aprende. Desenvolver uma atitude crítica filosófica é avaliar todas as informações sobre determinado assunto com o propósito de conhecer e se aprofundar no tema estudado. O objetivo aqui é justamente o de provocar uma reflexão sobre a importância de uma educação com enfoque nos valores bíblicos, valores estes que ressaltam questões como a fé, a realidade do mundo, o significado da vida, além de temáticas que estão presentes no contexto do debate de um tema filosófico- -cristão de educação. Assim, a partir de agora iremos olhar a filosofia cristã de educação sem preconceitos, mas sim como uma proposta que fornece caminhos para trilharmos rumo à verdadeira educação. 88 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Nesse contexto, de forma específica, utilizaremos os escritos de Ellen G, White como base de nossa sustentação pedagógica e metodológica sobre educação; a autora recomenda que, para educar crianças, tanto pais como professores devem em primeiro lugar desenvolver o domínio próprio, a paciência, a tole- rância, a brandura e o amor. Esses valores são essenciais para a instrução em casa e na escola, pois a educa- ção é a ferramenta para o desenvolvimento do caráter. A filosofia cristã de educação defende uma formação holística, cuja ênfase não se concentra em uma só área do conhecimento humano, sendo necessário desenvolvê-lo como um todo, dando atenção para seu desenvolvimento físico, mental, espiritual e moral. O ser humano vive em movimento: nossos primeiros pais foram colocados em um jardim para aprenderem diretamente com a natureza; a atividade física é vital para o pleno desenvolvimento do ser e sem saúde, o desafio de aprender de maneira equilibrada a respeito dos mais diversos temas e assuntos é gigantesco. “Um conhecimento de fisiologia e higiene deve ser a base de todo esforço educativo” (WHITE, 2008a, p. 158). O pleno desenvolvimento mental não pode ser compreendido de forma desarticulada do desen- volvimento físico e espiritual. O aspecto intelectual é fortalecido quando o estudante reserva tempo para conhecer, estudar e compreender as lições contidas na Bíblia. “A mente, elevada em contato com os pensa- mentos do infinito, não poderá deixar de expandir-se e fortalecer-se.” (WHITE, 2008a, p. 97). Se o intelecto é amplamente desenvolvido por ocasião dos estudos da palavra de Deus, mais ainda será o desenvolvimen- to da natureza espiritual, pois possibilita ao estudante entrar em contato direto com o seu Criador. A Bíblia reserva diversos assuntos e relatos históricos, biografias, valores familiares e governamentais e orientações para diversos assuntos como educação, saúde, casamentos e tantos outros, que conduzem o estudante a um conhecimento da natureza de Deus. O ser humano é um ser social, que participa e vive com outros seres humanos em um mesmo espaço. Para isso, é importante que haja respeito para com as regras de convivência. As orientações deixadas nos Dez Mandamentos, quando aplicadas de forma equilibrada, desenvolvem a conduta moral do homem, sendo responsáveis pelas boas maneiras e pela formação de hábitos de respeito a Deus e ao próximo. Recomenda-se que as crianças passem o maior tempo possível sob os cuidados dos pais. Essa é uma obra de responsabilidade e os responsáveis paternos devem dedicar tempo para a educação de seus filhos, visto serem os representantes de Deus. “Pais, despertai da vossa sonolência espiritual e compreendei que os primeiros ensinos que a criança recebe devem ser-lhe dados por vós.” (WHITE, 1954, p. 40). As salas tradi- cionais de educação muitas vezes não se encontram adequadamente preparadas para receber as crianças, sendo salas fechadas, pequenas, sem ventilação, prejudicando de maneira significativa o desenvolvimento e a saúde plena do educando. Outro fator a ser levado em consideração quando o tema é a filosofia educacional cristã é o de- senvolvimento da criança, o que perpassa pela problemática da temperança, principalmente no quesito dietético, visto que alguns tipos de alimentos provocam efeitos negativos no corpo do educando. Pais, professores e escolas devem orientar os pequenos a ter uma educação alimentar simples e equilibrada, evitando alimentos que provoquem efeitos estimulantes no organismo. Um programa curricular na perspectiva filosófica-cristã deve conter ensinos sobre agricultura, economia familiar e outros ramos que possibilitem conhecimentos necessários e básicos para a con- vivência em qualquer sociedade, de maneira justa e eficaz. Todas as habilidades devem ser alvos do pleno desenvolvimento do estudante, sendo um erro valorizar uma área e menosprezar outra. Os métodos de ensino que consistem somente em decorar o conteúdo, muito presentes na educação tra- dicional, consistem em um sacrifício do estudante, pois ignoram a sua capacidade de argumentação, julgamento e discernimento. 89 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO O Criador concedeu ao ser humano a capacidade de aprender e de raciocinar e discernir entre o que de fato é significativo, bom e reto. Adão e Eva fizeram suas escolhas, sabendo do resultado de suas ações; Caim e Abel também sabiam o que estavam fazendo. Deus tem um interesse pessoal por cada ser humano, a “capacidade de discernir entre o que é reto e o que não o é, podemos possui-la unicamente pela confian- ça individual em Deus” (WHITE, 2008a, p. 187). A filosofia educacional cristã tem a responsabilidade social de preparar jovens com elevada cultura moral e intelectual diante de um mundo afligido de barbáries, corrupção e inversões de valores. A so- ciedade e o mundo necessitam de uma outra via em que se desenvolva a justiça, a felicidade para todos e a união cooperativa. Esses propósitos não podem ser considerados apenas responsabilidade de um modelo de educação. Uma educação com esses propósitos bem definidos repercute diretamente no futuro de qualquer sociedade. Concordamos com Knight (2001, p. 173), quando ele afirma que: “a existência do Deus Criador não pode ser provada, mas também não pode ser desaprovada”, entendemos que o processo de formação integral deve ter entre o conjunto de conhecimentos e informações o acesso ao conhecimento sobre o Deus bíblico como Criador. Aqui está a defesa do propósito educacional: adquirir sabedoria para que o ser humano se torne alguém melhor, amando ao seu próximo, prestandoum serviço para a sociedade, que não gere preconcei- tos, mas que venha a glorificar o nome de Deus. Claramente, as riquezas materiais e as posições sociais são relevantes nesse contexto de pensar a educação, porém o que deve motivar nosso esforço aqui é o alcançar a perfeição eterna, pois como disse Cristo: “Que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mt. 16:26). IMPORTANTE O verdadeiro propósito e objetivo de uma filosofia de educação cristã é buscar realizar uma integração entre os conteúdos ensinados e a fé. Não é fácil defender uma filosofia educacional constituída de valores bíblico-cristãos em nossa rea- lidade, contudo é importante sabermos que ela existe e que a sua defesa e transmissão são verdadeiros privilégios, afinal, educar no contexto bíblico é um trabalho nobre, íntegro e cheios de princípios. White (2007, p. 70) afirma que “todo talento que possuímos, quer seja capacidade mental, dinheiro ou influência, pertence a Deus”. Na educação cristã, o centro é Cristo. O professor assume sua responsabilidade por ser um represen- tante de Cristo e, como tal, deve possuir conhecimento sobre a obra de redenção do Criador e sobre as ver- dades contidas nos relatos bíblicos, compreendendo que estamos diante de um grande conflito cósmico. Crianças, jovens e adultos são alvos dessa batalha e a educação é uma ferramenta que servirá de orientação para importantes decisões por parte do ser humano. A metodologia primordial é utilizar a Bíblia, defendendo-a como um canal de educação. Os livros bíbli- cos rompem com as narrativas míticas a respeito da humanidade e seus fenômenos. Beber dessa fonte é bus- car água pura, afinal, “aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap. 22:17). Finalmente, a relação professor (Cristo) e alunos (raça humana) precisa ser restabelecida como era originalmente no Jardim do Éden. Somos criacionistas, acreditamos nesse restabelecimento por parte do 90 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO Criador. “O céu é uma escola [...] uma ramificação desta escola foi estabelecida no Éden; e, cumprindo o plano de redenção, reassumir-se-á a educação na escola edênica.” (WHITE, 2008a, p. 240). VALORES: ÉTICA E MORAL A axiologia é o seguimento da filosofia que trata das questões dos valores. Sendo assim, de que es- pécie de valores estamos tratando aqui? Nesse contexto específico, a abordagem consiste em refletir nos valores éticos e morais proporcionados pelo processo educacional cristão. Essa temática tem avançado cada vez mais diante do mundo contemporâneo, pois vivemos em sociedade e precisamos observar o comportamento social do ser humano. Estamos constantemente avaliando nossa roupa quando vamos a um encontro ou a um jantar e até mesmo em um culto religioso, o comportamento de alguém no trânsito, a aula de um professor etc.; sendo assim, avaliamos pessoas, situações e objetos o tempo inteiro. Ao avaliarmos, também emitimos juízo de valor, como por exemplo o nível de perfeição de uma rou- pa, de uma linguagem ou de um gesto utilizado. “Desse modo, os valores podem ser utilitários, estéticos, éticos, econômicos e de outros tipos, como lógicos (verdadeiro ou falso) e religiosos (sagrado ou profano)” (ARANHA; MARTINS, 2016). A cultura em que o ser humano vive expressa muitos dos valores que são observados. O comporta- mento de uma pessoa à mesa durante as refeições pode variar se você estiver no ocidente ou no oriente, a maneira como uma mulher se veste na sociedade também pode sofrer variações, tudo dependendo da cultura na qual ela está inserida. Em outras palavras, os valores são construídos e herdados a partir do con- texto cultural. O professor George Knight (2001), em sua obra Filosofia e educação, contribui com o tema dizendo que a axiologia tem dois ramos principais: a ética e a estética. A ética é um termo que utilizamos constan- temente em nosso cotidiano, ética ao dirigir, ao usar o telefone móvel, ética na política, no casamento, na sala de aula etc. Como afirmado anteriormente, o objetivo aqui não é realizar um amplo estudo sobre a temática, mas pensar como a ética pode ser útil na prática docente. Isso se faz relevante, pois a prática docente tem relações diretas com o comportamento moral. Os valores éticos no contexto profissional consistem em assumir responsabilidades diante daqueles que nos contratam. Sendo assim, a questão da educação formal envolve também assumir uma responsa- bilidade com aqueles que vão receber a educação e o ensino. Já a moral envolve os passos que damos na perspectiva de cumprir as regras que vão orientar nosso comportamento profissional, o que chamamos de compromisso moral. Nos fundamentos educacionais bíblicos, esse compromisso se estabelece sobretudo diante do Cria- dor. As instruções contidas na Bíblia são para todos os momentos e situações e a lei deixada por Deus esta- belece o maior código de ética existente - cumpri-la fielmente é a decisão moral de aceitar os desígnios de Deus, seja na vida profissional ou na vida pessoal. Os Dez Mandamentos bíblicos foram dados a Moisés para guiar o povo hebreu durante a sua pere- grinação no deserto e continuaram sendo regras áureas de convivência depois que entraram e se estabe- leceram na Terra Prometida. Seus valores ético-morais devem ser observados até hoje, afinal, no contexto de uma filosofia cristã de educação esse tema não pode deixar de ser considerado. Certa vez, Jesus foi questionado a respeito de qual seria o grande mandamento da lei. Jesus respondeu diretamente: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt. 22:37). Os quatro primeiros mandamentos nos direcionam para a resposta de Cristo: “Este é o grande e primeiro 91 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt. 22:38-40). O primeiro mandamento é uma resposta para o excesso de deuses existentes nas narrativas míticas gregas. Nele é estabelecido que existe um só Deus, que é Criador de todas as coisas e que estabelece uma rela- ção com suas criaturas. Uma educação com desígnios fundamentados na fé bíblica deve ter esse propósito bem definido e aceitar que o Criador é único e que não há outro. Diversos povos antigos tinham o costume de construir imagens que representavam as divindades. O próprio apóstolo Paulo, em sua visita a cidade de Atenas, observou que ela estava cheia de ídolos. Paulo aguar- dava o retorno de seus amigos Silas e Timóteo e enquanto “os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade” (At 17:16). O segundo mandamento dos dez relembra a vontade de Deus de não adorarmos esculturas feitas por mãos humanas como se fossem o próprio Deus. Como Criador Real, Verdadeiro e Misericordioso, Ele não pode ser comparado com nada que exista embaixo das águas nem mes- mo acima nos céus. O Senhor Deus é único e eterno. Por essa razão, Seu nome é Santo, o que nos leva ao terceiro mandamento que nos orienta a não tomarmos o nome Santo de Deus em vão. Isso vem mostrar ao ho- mem que ele precisa aprender a respeitar e dar total valor ao nome de Deus, pois Ele é santo, separado, exclusivo. Quando carregamos o nome de Cristo, que tipo de testemunho estamos levando? Qual é a visão de Deus que a humanidade tem de nós? No quarto mandamento, Deus separou um dia para o descanso do homem. Aqui, o Senhor, mais uma vez se valendo de sua condição de Cria- dor, conhece a sua criatura, sabendo que somos pó e que precisamos de um momento para descansar de todas as nossas lutas semanais, um dia de- dicado não somente para o descanso, mas para um encontro com o próprio Criador e coma natureza, executando boas obras aos necessitados. O quarto mandamento ainda se revela como um sinal entre o Criador e a criatura, um sinal perpétuo de adoração. O culto a vários deuses, mui- to comum na cultura do Egito, ainda estava gravado nas mentes do povo escolhido. Ao determinar um dia de consagração e reverência para o único Deus, o Senhor deseja manter uma aliança de liberdade, justiça e amor. É importante ressaltar que o fato de Moisés ter recebido a lei para orientar o povo hebreu no deserto não é um indicativo de que essas orientações estavam limitadas somente a eles. Muito antes de existir o povo hebreu e até mesmo o pecado, o Criador já havia estabelecido essa ligação com suas criaturas. Ao olharmos para o relato da criação de Gê- nesis como um todo, podemos verificar que a afirmação que o encerra é perfeitamente compreensível: “E, havendo Deus terminado no dia sétimo O primeiro mandamento é uma resposta para o excesso de deuses existentes nas narrativas míticas gregas. Fonte: Shutterstock 92 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia séti- mo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.” (Gn. 2:2,3). Fundamentado na resposta de Jesus, acreditamos que os quatro primeiros mandamentos estão re- lacionados com o ato de amar a Deus de todo o entendimento. “Os primeiros quatro mandamentos foram dados para mostrar aos homens seus deveres com Deus.” (WHITE, 2008b, p. 112). Na proposta de valores éticos e morais, no contexto de uma educação cristã fundamentada em uma ética bíblica, ainda temos os seis últimos preceitos divinos que determinam o dever do ser humano para com seu semelhante. O primeiro preceito dessa segunda lista diz respeito aos pais: o ato de honrar ao pai e a mãe era algo que as crianças hebreias aprendiam desde cedo através de valores como respeito, cuidado e carinho. Por conseguinte, encontramos a promessa de que nossos dias seriam prolongados na terra. Portanto, amar aos pais é um valor que não pode deixar de ser ensinados aos estudantes. Se os pais são representantes de Deus aqui nesta Terra, há um dever moral em observar o quinto mandamento. “A honra, assim como a adoração, é uma atitude do coração. Não se refere a um ato ou comportamento específico para com nossos pais, mas à maneira como escolhemos relacionar-nos com eles.” (WADE, 2010). O segundo preceito dessa segunda lista apresenta uma orientação de respeito com a vida do nosso semelhante, afinal, Deus nos convida a amar aqueles que nos odeiam e não a os exterminar. A morte não fazia parte dos planos de Deus ao criar o homem, devendo ser vista como uma intrusa. O sexto manda- mento, “não matarás” (Êx. 20:13), nos lembra que a vida procede somente de Deus e que o ser humano não tem o direito de tirá-la. Esse é um dever ético de convivência com nosso semelhante. Como afirmam as Escrituras: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mt. 7:12). Na continuidade da observância dos valores educacionais que o decálogo divino nos proporciona se encontra o terceiro preceito da segunda lista. Este nos orienta quanto à pureza. Expressado pela recomen- dação “não adulterarás” (Êx 20:14), o sétimo mandamento é uma defesa para a família. O casamento não é uma instituição antiquada e as orientações são para que um homem e uma mulher sejam uma só carne. A pureza não envolve somente o ato de se afastar do ato sexual ilícito, mas também de cuidar de nossas palavras e pensamentos. Meninas e meninos precisam aprender sobre a sexualidade da maneira correta, conforme defendida pelo manual bíblico. O quarto preceito da segunda lista orienta quanto ao respeito pelas propriedades. O oitavo manda- mento, “não furtarás” (Êx 20:15), além de proteger a propriedade, diz respeito à honestidade. O princípio bíblico aqui é não tomar posse daquilo que não nos pertence, bem como administrar com zelo o que esti- ver sob nossa responsabilidade e ser justo nas ações. Vivemos, infelizmente, em uma sociedade violenta, onde muitas pessoas sem o espírito de Deus utilizam da violência para agredir seu semelhante, subtraindo seus bens. O medo assola cada vez mais a sociedade. O amor e a compaixão têm se esfriado consideravelmente e nada pode justificar esse procedi- mento. O trabalho honesto deve ser o meio pelo qual o ser humano deve adquirir seus bens materiais e o furto é uma atitude totalmente condenada por Deus. O penúltimo preceito dessa segunda lista apresenta uma relação com a dignidade humana. O nono mandamento orienta: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20:16). A mentira hoje, em nossa sociedade pós-moderna, tem avançado rapidamente; as chamadas fake news chamam a nossa aten- ção para um aspecto extremamente degradante que predomina em nossos dias. Observamos de manei- ra latente um profundo desrespeito pelas individualidades e pelas privacidades. Falsos testemunhos são 93 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO apresentados nas mídias com o propósito de alavancar fama e retirar di- nheiro de pessoas inocentes. O próprio Jesus foi vítima de falso testemunho e a consequência dessa acusação foi a morte de um inocente. Este ato criminoso tem a prer- rogativa de levar alguém sem culpa a pagar um preço muito caro. No caso de Jesus, pagou com a própria vida. O princípio bíblico é sempre consi- derar o que é justo e verdadeiro, como orienta Paulo: “Tudo o que é ver- dadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp. 4:8). Finalmente, o último preceito dessa segunda lista faz referência às ambições humanas e egoístas. O décimo mandamento declara: “Não co- biçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo” (Êx 20:17). O princípio bíblico aqui é inibir qualquer tipo de cobiça, principal- mente sobre os bens materiais. A cobiça nasce no coração do homem (entendimento) e é uma ferramenta que pode levar o indivíduo a cometer diversos outros deslizes; dentro do contexto de valores éticos e morais, trabalhar com essa perspectiva é um desafio. A educação fundamentada nos valores ético-cristãos produz uma vida ativa na busca de um bem-estar e de uma boa convivência com o semelhante. Não se trata de legalismo, mas acima de tudo de cumprir as orientações do Mestre dos mestres. Amar a Deus sobre todas as coisas, representado pelo quatros primeiros mandamentos e amar ao próximo, representado pelos seis outros preceitos divinos, são valores educacio- nais de vital importância na filosofia educacional cristã. A PEDAGOGIA DO MESTRE DOS MESTRES Como poderíamos definir um bom professor? É difícil, não é mesmo? Alguns poderiam dizer que para ser um bom professor é preciso ter bons conhecimentos, dominar aquilo que ensina, falar bem, ser próximo de seus alunos, avaliá-los de forma justa, dentre diversos outros atributos. Nosso propósito aqui não será o de avaliar bons professores segundo suas várias publicações ou prêmios recebidos, mas refletir no ministério de Jesus como um Educador. Para tanto, vale a pena rever brevemente o contexto históri- co de Sua vida, com ênfase no processo de formação educacional. O nascimento de Jesus é um grande mistério. Seus pais terrestres são José e Maria, um casal que não tinha bens terrestres, riquezas materiais ou posições sociais de destaque. Eles não tinham, tampouco, condições de alugar um lugar confortável para repousar após uma longa viagem até a cidade de Belém da Judeia,sendo obrigados a se hospedarem em uma sim- ples estrebaria, onde nasceu o Filho de Deus, o Salvador, cujo nome é Jesus. O nascimento de Jesus é um grande mistério. 94 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO A profecia se cumpriu: “porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Con- selheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is. 9: 6). Aqui se estabelece o mistério: Jesus, o Deus Altíssimo, escolheu res- gatar o ser humano. Para isso, se fez carne e habitou entre os homens, re- nunciando às riquezas do céu e à nobreza divina para mostrar obediência ao Pai e amor aos homens. O Rei dos reis nasceu em um berço de palha; enquanto criança sofreu perseguição e precisou, ainda bebê, ser levado ao Egito, pois havia pessoas com interesse de matá-lo. Como consta no relato de Mateus: “Apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe- -te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar” (Mt. 2: 13). Quando Herodes morreu, José e Maria receberam outra informação que ordenava que voltassem às terras de Israel. Nesse retorno, resolveram morar na cidade de Nazaré. Por essa razão, Jesus também é conhecido como nazareno. Pouco é relatado sobre a infância de Jesus, mas a Bíblia declara que Ele cresceu e se fortaleceu cheio de sabedoria, com uma mente brilhante e ativa, pois Deus estava com Ele. Os pais de Jesus eram hebreus e valorizavam a educação familiar, algo muito comum na cultura hebraica, como já vimos. As escolas dos profetas estavam ligadas aos locais de culto, porém Jesus não frequentou essas escolas. Maria, sua mãe, foi Sua principal pro- fessora, o ensinando a ler e a escrever através das Escrituras Sagradas. Jesus também aprendeu direto da própria natureza, não frequentando as escolas formais da época, pois não necessitava das instruções que esta- vam sendo passadas, muitas delas recheadas de tradições humanas e não de verdades divinas. Os ensinamentos recebidos por Jesus desde a infância estavam em completa harmonia com as orientações divinas. Ele aprendeu a depender de Deus desde cedo, descobrindo como se relacionar com o divino por meio de meditações, orações, cânticos e poesias que exaltavam a criação. No contexto de Sua educação, também aprendia ofícios manuais e desen- volvia tarefas diárias junto aos seus pais. Ele “trabalhava com as próprias mãos na oficina de carpintaria de José” (WHITE, 2007a, p. 47). Não havia momentos de ócio. Ele uma vida simples, sem riquezas ou conforto terrenos, mas ao mesmo tempo era próspero espiritualmen- te. White (2007a, p. 47) confirma isso dizendo que “Jesus viveu num lar de camponeses, e desempenhou fiel e alegremente Sua parte em suportar as responsabilidades da vida doméstica”. O trabalho fazia parte do pro- cesso da formação educacional de Jesus. Ele o desenvolvia com alegria, talento e acima de tudo com paciência, tendo facilidade de aprender. A sua capacidade intelectual se destacava principalmente quando partici- pava diretamente dos cultos aos sábados nas sinagogas. Aos 12 anos de idade, Jesus foi com seus pais para Jerusalém para as comemorações da Páscoa e, durante o caminho, ouvia dos mais velhos SINAGOGA o dicionário Aulete define como um “templo onde se pratica o culto religioso judaico”. Disponível em: https://www. aulete.com.br/sinagoga. Acesso em: 25 jan. 2023. 95 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO as histórias do povo de Deus e suas vitórias no deserto, cantando hinos e recitando salmos em louvor a Deus. Além da Páscoa, havia mais duas festas anuais muito apreciadas pelos hebreus: a festividade dos Tabernáculos e o Pentecostes, todas em Jerusalém. Para essas festividades, a cidade de Jeru- salém recebia muitos visitantes que vinham de vários lugares diferentes. O templo de Jerusalém chamava atenção pela sua infraestrutura e beleza. Aquele era um espaço dedicado à oração e aos cânticos, e a cada tarde e manhã era ofertado um cordeirinho perfeito como sacrifício. Pela primeira vez, o jovem Jesus contemplava a grandiosidade do templo, ob- servando tudo com muita atenção, desde as roupas dos sacerdotes até os inocentes animais sendo sacrificados. Jesus conheceu e viu toda essa cerimônia, sabendo que um dia Ele mesmo seria o cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo. Impressio- nado com tudo o que estava vendo, acabou se distanciando da segurança dos seus pais terrestres, sendo deixado no pátio do templo. Jesus aproveitou a oportunidade para visitar uma das salas de aulas existentes no templo. Nes- ses espaços, funcionavam as escolas dos profetas. Jesus, então, passou a interrogar os sábios mestres, que se admi- ravam com o conhecimento daquele jovem. Ele conhecia detalhes sobre as profecias e as Escrituras e a admiração coletiva aumentava ao sabe- rem que Ele não havia passado pelas escolas dos profetas. A partir daí, questionavam-se: “Se esse rapaz não estudou conosco, como pode ter tal conhecimento?” Passado um significativo tempo, Jesus, já em sua fase adulta, foi bati- zado por João Batista. Após anos sendo educado com Cristo, estava come- çando a hora de se apresentar como o grande educador da humanidade. Na época em que Cristo viveu, a sociedade valorizava a aparência exterior e o intelecto. Contudo, Jesus não tinha títulos acadêmicos, não tinha nascido numa classe economicamente alta e não tinha sido aluno dos sábios e mestres da sua época. Ainda assim, diante dessa realidade, Ele foi e é um modelo de professor e um modelo de líder. Como homem, nunca pecou, nunca fez algo errado, Seu caráter era perfeito, um exemplo a ser seguido. Ao sair da água após o batismo, o próprio Deus se manifestou. Ma- teus, em seu evangelho, diz: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt. 3:16, 17). Por essa razão era perfeito; já João 1:14 diz que: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”. Jesus veio dos céus e nasceu como criança para ser modelo em tudo. Nele não achamos nada de imperfeito. Seus seguidores mais próxi- mos reconheceram isso. “Então, exclamou Natanael: Mestre, tu és o Filho Jesus interrogava os sábios mestres, que se admiravam com o conhecimento daquele jovem. Fonte: Jan Steen / Wikimedia Commons 96 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO de Deus, tu és o Rei de Israel!” (Jo. 1:49), “respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt. 16:16). Os discípulos não tinham dúvidas sobre a origem de seu Mestre. Jesus veio ao mundo para salvar, mas também veio para ensinar, para revelar o verdadeiro caminho que leva à redenção completa. Ele veio para restaurar o que o homem havia perdido no Jardim do Éden, va- lores eternos cheios de luz, verdade, justiça e amor. Na verdade, seu caráter foi a mais pura manifestação do amor (ágape). Paulo nos lembra que “ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1Co 13:3). O amor era a base de Sua missão e de Seus ensinos. Ele se afastava do mal e se aproximava da pureza; não agia com falsidade, pregava a verdade, não gostava da morte e lutava pela vida. Foi por isso que ofe- receu a Sua na cruz como sacrifício pela humanidade. “Todo verdadeiro trabalho educativo encontra seu centro no Mestre enviado de Deus”, afirma White (2008a, p. 66). Como Educador, Jesus conhecia muito bem aquilo que ensinava, pois falavacom autoridade e sabia interpretar as Escrituras corretamente e com profundidade. Seu ensinamento marcava seus ouvintes, o que fica demonstrado pelos seus métodos. As parábolas são exemplos, pois aproximavam-se da realidade daqueles que estavam ali aprendendo diretamente do Mestre. “As coisas naturais eram o veículo para as espirituais; cenas da natureza e da experiência diária de seus ouvintes eram relacionadas com as verdades das Escrituras Sagradas.” (WHITE, 1964, p. 6). O propósito de seus ensinamentos estava sempre na perspectiva de aproximar o homem de Deus, de revelar o caráter do Pai. Aquela sociedade estava distante de seu Criador, cheia de violência, adultérios, enganos, cobiças e corrupção, havendo mais pessoas amantes dos prazeres do que amantes de Deus. Jesus não condenava o ser humano, mas condenava todas as maldades do mundo. Para a mulher adúltera, Ele perguntou: “Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais” (Jo 8:10, 11). Que exemplo, não é mesmo? Reprovou o pecado, mas resgatou o pecador! Quando a raça humana caída -representada pela mulher pecadora - aceitar o perdão de Cristo, cada um se tornará uma nova pessoa, com o coração (entendimento) plenamente agradecido! Suas ações serão de agradecimento, não importando o que outros falarem, pensarem ou criticarem. De fato, conviver com o Mestre Jesus possibilitava mudanças de comportamento. Foi assim com Za- queu, o cobrador de impostos; com Nicodemos, um doutor da lei; com os discípulos, principalmente com Pedro; foi assim com Paulo. Que experiência incrível essas pessoas tiveram ao conviver com a luz! O Jesus em carne não se encontra mais conosco, contudo prometeu que um dia voltará, não mais como uma pobre criança, mas agora como o Supremo Rei e Senhor. Enquanto aguardamos, podemos desfrutar de seu exemplo e de sua promessa: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14:1), pois não estamos órfãos sem nosso Mestre, afi- nal Ele mesmo disse: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco” (Jo 14:16). Esse Consolador prometido (Espírito Santo) também é um Educador, como percebe- mos nesta passagem: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14:26). Diversas são as razões para considerar Jesus como o Mestre dos mestres. Ele não construiu uma esco- la, escolhendo uma vida de andarilho cuja jornada consistia em atravessar diversas cidades, vilas e aldeias, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças. Chamava a atenção de todos, homens, mulheres crianças, ricos e pobres. Como Mestre e Educador fez discípulos dire- 97 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO tos, os seus apóstolos. Não deixou nada escrito, tudo o que conhecemos a respeito dele é fruto dos escritos de seus alunos. Jesus vivia o que ensinava, não sendo um simples transmissor de conhecimentos sem sentido. Ele amava ensinar e tinha paciência com aqueles que realmente queriam aprender, pois não olhava para a aparência, mas conhecia a profundidade do coração humano. Os métodos usados eram os que estivessem disponíveis no momento: usava a própria natureza, os animais, as técnicas de agricultura e tudo que esti- vesse favorável para a reflexão e aprendizagem daquele que estava aprendendo. O maior objetivo de Jesus como Educador era a salvação de seus alunos. Embora não tenha conse- guido salvar a todos pelo fato de respeitar as decisões - o que chamamos de livre-arbítrio -, seus ensina- mentos estão disponíveis há mais de 2.000 anos. Jesus viveu neste planeta e Seu exemplo continua vivo, eficaz para todos os que quiserem beber da verdadeira fonte da água da vida. CONSIDERAÇÕES FINAIS Você já imaginou um professor perfeito, sem falhas, sem erros, conhecedor de todas as coisas? Esse professor existe e um dia viveu entre os homens! Estamos falando do maior e melhor professor que já existiu nesta Terra: o mestre Jesus. Este estudo como um todo teve o propósito de apresentar Jesus como o mais no- bre e justo educador. Desde o livro de Gênesis - o primeiro livro da Bíblia, em que Deus prometeu aos nossos primeiros pais, no Éden, que teriam um Redentor - até o Apocalipse, é apresentada a história do povo hebreu, uma história de demonstração de fé nas promessas de uma Terra Prometida e de um Redentor. Assim como Deus foi o professor de Adão e Eva, Ele continuou sendo o orientador desse povo (he- breu), não mais face a face como antes do pecado, mas por meio de orientações e instruções educacionais, éticas e morais dadas pelos profetas. A filosofia educacional cristã reconhece esse Deus como a principal fonte de todo o conhecimento, um Deus que doa a própria vida por amor à humanidade criada por Ele mesmo. Um Deus que se fez carne e habitou entre os homens e, quando passou por aqui, nos deixou lindas histórias, que nos motivam a conhecê-lo cada vez mais, pois seus métodos continuam eficazes até hoje. Essa foi a proposta deste estudo, que buscou apresentar a cosmovisão bíblica a partir da civilização hebraica. Estudamos também a importância dos Dez Mandamentos como lei áurea de amor para com Deus e para com os nossos semelhantes. Esses preceitos se configuram como um conjunto de regras que nos ajudam a viver melhor com os homens: se fossem realmente praticados e vividos em sua plenitude teríamos um mundo melhor, cheio de paz, amor, temperança e respeito. Por fim, devemos ter em mente que conhecer a filosofia cristã de educação se faz importante, não somente para a formação profissional, mas acima de tudo para as tomadas de decisões que envolvem diretamente o conhecimento do verdadeiro caminho que leva à aprovação final: a restauração plena do homem. Que essas reflexões nos levem a conhecer e praticar as mais belas ações defendidas e praticadas pelo Mestre dos mestres. REFERÊNCIAS ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando, introdução à filosofia. São Paulo: Editora Moderna, 1993. ________. Filosofando, introdução à filosofia. São Paulo: Editora Moderna, 2016. 98 EDUcAção E ProPósIto: hIstórIA E fIlosofIA DA EDUcAção crIstã FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Almeida Corrigida Fiel – ACF. Disponível em: https://www.bibliaonline. com.br/acf. Acesso em: 23 mar. 2022. ________. Português. Bíblia Sagrada. Almeida Revista e Atualizada – ARA. Disponível em: https://www. bibliaonline.com.br/ara. Acesso em: 23 mar. 2022. KNIGHT, G. R. Filosofia e educação: uma introdução da perspectiva cristã. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2001. LIMA, C. A. H. Valores da educação hebraica na educação adventista. Kerygma. Ano 7, v. 7, n. 1, p. 19-38, 1º sem. 2011. Disponível em: https://revistas.unasp.edu.br/kerygma/article/view/155. Acesso em: 23 mar. 2022. REDENÇÃO. In: SIGNIFICADOS, [c2011-2022]. Disponível em: https://www.significados.com.br/redencao/. Acesso em: 23 mar. 2022. WADE, L. Os dez mandamentos: princípios divinos para melhorar seus relacionamentos. Tatuí: CPB, 2010. Disponível em: https://livro.esperanca.com.br/wp-content/uploads/2016/04/10Mandamentos.pdf. Acesso em: 23 mar. 2022. WHITE, E. G. Orientação da criança. Centro White, 1954. Disponível em: http://centrowhite.org.br/files/ ebooks/egw/Orienta%C3%A7%C3%A3o%20da%20Crian%C3%A7a.pdf. Acesso em: 23 mar. 2022. ________. Parábolas de Jesus. Centro White, 1964. Disponível em: http://www.centrowhite.org.br/files/ ebooks/egw/Par%C3%A1bolas%20de%20Jesus.pdf. Acesso em: 23 mar. 2022. ________. O desejado de todas as nações. Centro White, 2007a. Disponível em: http://www.centrowhite. org.br/files/ebooks/egw/O%20Desejado%20de%20Todas%20as%20Na%C3%A7%C3%B5es.pdf. Acesso em: 23 mar. 2022.________. Fundamentos da educação cristã. Centro White, 2007b. Disponível em: http://www. centrowhite.org.br/files/ebooks/egw/Fundamentos%20da%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Crist%C3%A3. pdf. Acesso em: 23 mar. 2022. ________. Educação. Centro White, 2008a. Disponível em: http://centrowhite.org.br/files/ebooks/egw/ Educa%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 23 mar. 2022. ________. História da redenção. Centro White, 2008b. Disponível em: http://www.centrowhite.org.br/files/ ebooks/egw/Hist%C3%B3ria%20da%20Reden%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 23 mar. 2022.
Compartilhar