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AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL Profª Juliana Kussem AULA 4 2 INTRODUÇÃO Nesse texto abordaremos uma leitura mais atenta sobre as avaliações em larga escala no contexto escolar, em interface ao seu uso na avaliação institucional. Para tanto, observaremos termos que frequentemente pautam as leituras e o trabalho educativo cotidiano, esclarecendo e identificando seus significados e usos nas avaliações externas em diálogo com trabalho de professores, pedagogos e diretores escolares. A abordagem se faz necessária devido sua relação muito próxima com a avaliação institucional, sendo quase confundida com esta. Posto isto, percorreremos os caminhos do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), haja vista utilizar um instrumento padrão de grande magnitude de coleta, de medida e de produção de resultado em todo o território brasileiro. TEMA 1 – AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: CARACTERÍSTICAS GERAIS Para compreendermos a funcionalidade e a importância das avaliações em larga escala, ainda que não em toda a sua abrangência, observaremos no Tema 1 os termos que pautam o vocabulário dos profissionais e dos interessados em educação, como currículo e matriz de referência e o significado de competências e habilidades. 1.1 Currículo e matriz de referência A legislação brasileira, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96, em seu art. 26 faz o seguinte apontamento: os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Brasil, 1996) Após um longo período de construção e de embates, as Bases Nacionais Comum Curriculares foram homologadas no final de 2017. As bases apresentam em seu conteúdo os padrões curriculares nacionais para a educação básica de escolas públicas municipais e estaduais, assim como de privadas, englobando as etapas da educação infantil e ensino fundamental, e outra tratando do ensino médio, sendo referência obrigatória para adequação dos currículos já existentes 3 e referência principal para os que ainda não haviam um currículo próprio, permitindo uma parte diversificada como apontada na LDB, que integre questões culturais e próprias aos contextos sociais em que a educação ocorre. Percebemos, assim, que currículo se trata de uma referência normativa que deve pautar todas as práticas educativas, pedagógicas e avaliativas que se desenvolvem em âmbito escolar. De acordo com Ribeiro (2012), currículo trata de uma seleção intencional de saberes de uma cultura geral para a cultura escolar, sobre conhecimentos considerados socialmente relevantes, configurando-se num processo humanizador numa perspectiva social e histórica (Saviani, 1984). Abordar a temática currículo na escola se refere a um processo abrangente ao mesmo tempo que específico, pois de uma dimensão maior, de um saber elaborado e construído socialmente, tem a educação formal executada por meio da escola, a responsabilidade de sua difusão e sistematização para que possa tornar as pessoas que ali passam mais humanas e aptas ao convívio em sociedade como cidadãos que são. Dessa maneira, é importante que as escolas e todos os envolvidos se apropriem dos elementos que pautam seus currículos, na perspectiva de uma leitura atenta, reflexiva e crítica sobre seus conteúdos, uma vez que são estes que fundamentam as práticas de ensino e de aprendizagem dos estudantes. Esses mesmos elementos curriculares devem estar explicitados também no Projeto Político Pedagógico da escola, pois esse é o documento que norteia todo o trabalho escolar, suas práticas pedagógicas e de avaliação, além de fundamentar todas as decisões que circunscrevem o trabalho educativo. De maneira distinta, a matriz de referência apresenta outras finalidades. No contexto das avaliações externas, uma matriz de referência é construída com base em propostas curriculares diversas, expressando um recorte sobre competências e habilidades que se esperam de um estudante. A seguir, podemos visualizar as distinções objetivas entre os termos que parecem ser similares. Quadro 1 – Diferença entre currículo e matriz de referência. Currículo Matriz de referência Base de toda a ação da escola. Fundamenta os elementos da ação Foca em um determinado recorte sobre um ou mais currículos, visando 4 pedagógica escolar e seus processos avaliativos. uma padronização de procedimentos para medir uma grande população. Fonte: Kussem, 2022. Logo, percebemos que a matriz de referência é um documento parcial e objetivo, que agrega elementos curriculares especificamente selecionados para serem utilizados na elaboração de um instrumento de medida de padrão, nos termos do Inep A Matriz de Referência é o instrumento norteador para a construção dos itens. As Matrizes desenvolvidas pelo Inep são estruturadas a partir de competências e habilidades que se espera que os participantes do teste tenham desenvolvida em uma determinada etapa da educação básica. É importante destacar que a Matriz de Referência não se confunde com o currículo, que é muito mais amplo. Ela é, portanto, uma referência para aqueles que irão participar do teste, garantindo transparência ao processo e permitindo-lhes uma preparação adequada, como para a análise dos resultados do teste aplicado. (Inep, 2010) A padronização desse processo é inerente às avaliações externas devido ao seu grande porte de abrangência (em todo o território nacional), permitindo confiabilidade, credibilidade e viabilidade em todos os procedimentos que a envolvem, pois sem a padronização a divulgação de seus resultados e análise dos seus dados poderiam ser comprometidas. Esse instrumento de medida, conhecido como avaliação em larga escala, tem como objetivo capturar determinadas competências e habilidades, previamente selecionadas e que foram desenvolvidas por estudantes ao longo da educação básica. Por isso, compreendemos que há significativa distinção entre os termos currículo e matriz de referência, no que se refere a sua abrangência e finalidade. Quanto aos termos competência e habilidade, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Saeb, define da seguinte maneira: Quadro 2 – Competências e habilidades, segundo o Inep Competência Habilidade Capacidade de mobilizar recursos cognitivos para resolver situações. Refere-se ao domínio prático, as competências adquiridas. Fonte: elaborado por Kussem, 2022, com base em Inep, 2010. 5 Assim, a matriz de referência de uma avaliação externa procura aferir por meio de testes de desempenho algumas competências e habilidades desenvolvidas pelos estudantes na educação básica a partir de descritores divulgados que servem como diretriz para a elaboração dos itens (questão) de uma avaliação. TEMA 2 – AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA: INSTRUMENTO DE MEDIDA Nesse tópico olharemos para o instrumento de medida utilizado nos exames do Saeb, descrevendo suas escalas e níveis, assim como a metodologia utilizada na construção dos itens (questões): a Teoria de Resposta ao Item (TRI). 2.1 Instrumento de coleta do Saeb Criado na década de 1990, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é composto por testes cognitivos que medem o desempenho de estudantes em conhecimentos de matemática e da língua portuguesa (leitura). Ao longo desse período, o sistema passou por várias modificações a fim de melhor atender as necessidades de diagnóstico e apresentar dados que retratassem um panorama geral da educação brasileira. As avaliações construídas e aplicadas resultam de procedimentos rigorosamente considerados, visando uma forma de medida confiávele verificável da proficiência dos estudantes, além de aplicar questionários contextuais que fornecem importantes informações acerca do contexto em que a educação ocorre. A seguir, observamos as mudanças mais recentes no Saeb quanto ao público-alvo das avaliações e questionários, conforme disponibilizado pelo site do Inep. Quadro 3 – População, abrangência e área avaliada no sistema de avaliação da educação básica, segundo o Inep, em 2022 População Abrangência Área avaliada Educação infantil Amostral – creches e pré- escolas públicas Questionários contextuais destinados a diretores e professores. 6 Estudantes do 2º ano dos anos iniciais do ensino fundamental Amostral – escolas públicas Amostral – escolas privadas Matemática e compreensão leitora. Questionários contextuais destinados a diretores e professores. Estudantes do 5º e 9º ano do ensino fundamental Censitária – escolas públicas Amostral – escolas privadas Matemática e compreensão leitora. Questionários contextuais destinados a diretores, professores e estudantes. Estudantes do 9º do ensino fundamental Amostral – escolas públicas Amostral – escolas privadas Ciências da natureza e ciências humanas. Estudantes do 3º e 4º ano do ensino médio Censitária – escolas públicas Amostral – escolas privadas Matemática e compreensão leitora. Questionários contextuais destinados a diretores, professores e estudantes. Fonte: elaborado por Kussem, 2022, com base em Inep, 2022. Observamos que o Saeb tem expandido sua abrangência a toda a educação básica, o que significa um retrato mais expressivo de dados resultando em um quadro mais amplo de informações que servirão de base aos sistemas de ensino para elaboração de políticas educacionais em âmbito federal, municipal e estadual. Para a construção dos testes aplicados é necessário a elaboração de itens, conhecidos de forma mais usual como questão. O Saeb alimenta a manutenção de um banco de itens, que fornecem subsídios necessários quanto à diversidade de elementos avaliativos para a elaboração dos testes. Segundo o Inep (2012), a existência desse banco é necessária para que se tenha uma variedade expressiva com qualidade técnico-pedagógica e psicométrica para que sirvam à elaboração das avaliações em larga escala a fim de medir o desempenho dos participantes e possibilitem inferências sobre o processo educacional em desenvolvimento. Os testes do Saeb são compostos por itens pré-testados e calibrados com parâmetros na mesma escala de proficiência, a fim de permitir comparabilidade, 7 segundo os modelos estatísticos da Teoria de Resposta ao Item (TRI) (Soares, 2009). A TRI é um conjunto de modelos estatísticos que relacionam a probabilidade de um estudante apresentar uma determinada resposta a um item, de acordo com os parâmetros da questão, possibilitando a medição do nível de proficiência de cada estudante numa escala padronizada. Os parâmetros da TRI são descritos como: 1) discriminação; 2) dificuldade e 3) taxa de acerto casual (Soares, 2009). O parâmetro “discriminação” mede a capacidade do item em separar os estudantes que desenvolveram as habilidades daqueles que ainda não desenvolveram. O parâmetro “dificuldade” se refere à parte de estudantes que conseguem responder corretamente o item, assim, se a maior parte dos respondentes acertar determinado item significa que aquele é considerado de pouca dificuldade. De outra maneira, se apenas uma pequena parte dos respondentes acertar determinado item considera-se de nível difícil. Mas, se o percentual de respondentes que acertarem o item corresponder à média dos participantes, então considera-se um item de nível médio de dificuldade. Já o parâmetro “taxa de acerto casual” se refere à possibilidade de o respondente acertar o item sem o conhecimento devido e a habilidade requerida para o acerto. Para o cálculo da proficiência no Saeb considera-se não somente o número de questões que o estudante acertou, mas a coerência das respostas diante do conjunto das questões que compõem o teste respondido. A coerência esperada ao teste se associa aos acertos das questões que estão abaixo e até o nível de proficiência do respondente. Quando acerta uma questão de forma casual, esta não tem o mesmo valor como quando acerta o item com a coerência referente. Assim, se dois participantes apresentaram o mesmo número de acertos em um teste, podem receber pelo modelo estatístico da TRI diferentes valores de proficiência na escala elaborada para a avaliação. Com base nos resultados de desempenho, o Inep elaborou uma escala de proficiência que representa as habilidades e competências construídas pelos estudantes ao longo da educação básica, em matemática e leitura. 8 Essa escala com finalidade exclusiva para os testes em questão apresenta uma função diagnóstica que auxilia a leitura pedagógica dos resultados, “[...] a interpretação começa com a construção de um mapa de itens, que consiste em associar cada item do teste a um ponto da escala utilizada para medir as proficiências dos alunos” (Soares, 2009, p. 33). Dessa forma, a associação dos itens numa mesma métrica permite inferir em que ponto dessa escala a proficiência do estudante se encontra. Essa interpretação é fundamental para orientar intervenções pedagógicas, embora não esclareça se estas são adequadas ou não, pois “exige a produção de outra interpretação, usualmente apresentada por meio da escolha de níveis, ou seja, da divisão da escala de medida em intervalos aos quais são atribuídos significados pedagógicos e normativos” (Soares, 2009, p. 33). Em 2018, o Saeb divulgou uma interpretação para as escalas atribuindo as seguintes categorias: Quadro 4 – Categorias de interpretação dos níveis de proficiência, segundo o Inep, em 2018 Nível 0 a 3 Nível 4 a 6 Acima de 7 Insuficiente Básico Adequado Fonte: elaborado por Kussem, 2022, com base em Inep, 2018. As escalas permitem uma melhor leitura pedagógica acerca dos resultados das avaliações que se apresentam cada vez mais complexas ao longo da educação básica, além de possibilitar comparações entre resultados de testes diferentes e permitir o acompanhamento longitudinal dos sistemas de ensino. TEMA 3 – POLÍTICAS DE DIVULGAÇÃO DE RESULTADO A política de divulgação dos resultados das avaliações em larga escala, mais conhecida como Índice de desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), é frequentemente utilizada em todo território nacional, assim abordaremos essa conteúdo dessas avaliações, dada a capacidade de circular em vários meios sociais e por se configurar como um dos principais índices que retratam a educação básica nacional, seja via meios de comunicação, nas Secretarias de 9 Educação, como também no chão das escolas, em que os impactos são mais visíveis. 3.1 Índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) Desde a criação do Saeb na década de 1990 e da divulgação dos primeiros resultados, tiveram de ser enfrentados os desafios da divulgação de maneira que pudessem ser compreendidos e apropriados pela comunidade escolar, famílias e a todos os interessados que se propunham a conhecer melhor o desempenho dos estudantes nos testes em questão. Assim, com a criação da Prova Brasil, sua divulgação e publicização de resultados por escola, o Inep criou, em 2007, um indicador que sinalizava para o desempenho dos sistemas educacionais. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) considera os indicadores de desempenho e de rendimento para o cálculo, sendo: desempenho (média das proficiências) e rendimento (taxa de aprovação) (Soares; Xavier, 2013). O Ideb permitiu, em certa medida, a tradução de resultados estatísticos na composição do indicador, que se tornou de grande influência no debate educacional, considerando como desempenho a performancede estudantes na avaliação externa e rendimento como a trajetória regular e adequada (sem reprovações) à etapa correspondente. Foco de muitas discussões no âmbito educacional e acadêmico, o indicador permite comparações em séries históricas e representa, mesmo que de forma parcial e objetiva, uma medida de desempenho em interface a um indicador de rendimento. É importante considerar que o Ideb trata de um indicador padrão de medida que derivou como mencionado anteriormente da necessidade de traduzir os desempenhos dos participantes em testes de larga escala produzidos e aplicados pelo Inep. Sendo assim, trata-se de uma avaliação produzida fora da escola não considerando os contextos sociais em que a instituição se encontra. É importante mencionar que o indicador não se refere à nota escolar, trata-se, portanto, de um índice criado para acompanhar o desempenho de sistemas de ensino. Desse modo, parece imprudente utilizá-lo como indicador único de qualidade de uma escola, se olhado individualmente, pois se refere a 10 uma medida de resultados finalísticos, não considerando os processos e meios dos processos de ensino e de aprendizagem. Mesmo retratando um resultado que circula recorrentemente nos meios sociais, a constante maximização desse indicador acaba incorrendo em práticas pedagógicas pouco adequadas em sala de aula. Sua leitura pode acabar em interpretações acometidas de erros, ainda que não intencionais, por apresentar uma escala teoricamente simples e de uso comum em avaliações escolares (0 a 10) quando considera que os valores “acima de 9 são excelentes e abaixo de 5 são muito ruins” (Soares; Xavier, 2013, p. 912). Todavia, o indicador de desempenho está concentrado em um intervalo menor como explicitam os autores Na realidade, a escala do Ideb tem características difíceis de serem apreciadas em um primeiro momento, por um não especialista. Por exemplo, um Ideb de 4,5 é um valor médio, não baixo, e está longe e não perto do valor 6. Isso é consequência do fato de que os valores extremos da escala, acima de 6 e abaixo de 3, são raros e valores acima de 8 e abaixo de 2 são quase impossíveis. (Soares; Xavier, 2013, p. 912) Os apontamentos dos autores alertam para um cuidado especial que devemos ter ao olhar os valores do índice e traduzi-los diretamente ao nosso fazer cotidiano em sala de aula. Devemos lembrar que indicadores produzidos externamente à escola, em nível padronizado, servem para atender demandas e necessidades em um contexto mais amplo e apresentam como objetivo “saber como está o sistema educacional de um país e, de outros estratos de interesse e não avaliar, classificar, aprovar ou promover indivíduos em particular” (Fontanive, 2013, p. 88). Nesse sentido, precisam ser olhados e contrastados a outros indicadores, como o índice de nível socioeconômico (Inse) da escola, assim como aqueles que possam sinalizar o rendimento escolar e forneçam uma leitura mais apropriada e contextualizada da realidade em que a instituição de ensino está inserida, assim podemos nos apropriar desses índices de maneira reflexiva e efetiva quanto aos seus fins. 11 TEMA 4 – TRATAMENTO DE RESULTADOS: A LEITURA PEDAGÓGICA DOS DADOS Este tópico tratará da consideração de outros elementos que possam agregar às análises dos resultados da avaliação externa em interface à avaliação institucional, fornecendo uma leitura mais pedagógica para as questões e problemas que permeiam os impactos dos resultados na escola. 4.1 Impactos das avaliações externas na comunidade escolar Não é incomum que os resultados divulgados pelas avaliações externas provoquem reações diversas entre os profissionais da educação. Frequentemente, vemos Secretarias de Educação e escolas divulgarem com propagandas suas médias mais altas no Ideb. Contudo, quando se trata de resultados não esperados, com médias mais baixas, as reações costumam ser de desqualificação do instrumento de avaliação. A figura a seguir representa os impactos desses resultados no espaço escolar. Figura 1 – Impactos dos resultados das avaliações externas na comunidade escolar Fonte: Kussem, 2022. Nota-se uma posição dual entre a recepção das informações das avaliações externas no contexto da escola, todavia é necessário um olhar mais reflexivo acerca dos dados que são apresentados e divulgados, levando em Avaliação externa Resultado insatisfatório Indiferença aos dados Negação do resultado Resultado satisfatório Ênfase ao resultado 12 conta que a avalição externa trata de um recorte pontual acerca de todo o trabalho desenvolvido pela escola, por isso há uma certa incompletude nesse tipo de avaliação quando retratada sob o ponto de vista da escola, sendo necessário “[...] estabelecer uma leitura circunstanciada dos dados, produtora de significados e subsidiadora de decisões internas que levem em conta os saberes dos atores locais e as informações geradas fora da escola” (Sordi; Ludke, 2009, p. 320). Não se pode deixar de mencionar que tal concepção exige uma mudança de postura dos professores, pedagogos e diretores, pois ao abrirem mão da posição de avaliadores somente e se colocarem como objeto de avalição, serão instigados a desenvolverem “relações mais maduras com a avaliação e com os avaliadores de seu trabalho, sob pena de não acrescentarem qualidade política ao processo” (Sordi; Ludke, 2009, p. 316). Nessa proposta, além dos resultados produzidos pelas avaliações externas, pode-se considerar os recursos existentes na escola e outros indicadores internos como taxa de aprovação, taxa de reprovação, taxa de evasão e de distorção idade-série, assim como a taxa de conclusão das etapas da educação básica, acompanhados da devida leitura do contexto social em que a comunidade local se localiza, que tem se revelado indispensável à compreensão de resultados escolares. Figura 2 – Cotejando resultados com a realidade escolar Fonte: Kussem, 2022. Resultados das avaliações em larga escala Recursos existentes Indicadores internos de resultado escolar Leitura social do contexto extra-escolar 13 Estes indicadores têm forte potencial em fornecer uma leitura mais verossímil do trabalho desenvolvido pela escola, devendo ser analisados pelo coletivo do corpo profissional e refletidos juntamente à comunidade local com o olhar pedagógico cuidadoso para as fragilidades que se apresentem. Essa perspectiva se coaduna também à escola como eixo integrador dos níveis macro e micro de análise (Sordi; Ludke, 2009), considerando os atores escolares como protagonistas, sem desconsiderar os “novos” sujeitos como interlocutores do fenômeno educativo, oportunizando processos de avaliação mais abrangentes e contextualizados TEMA 5 – INDICADORES DE RENDIMENTO ESCOLAR E AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL Neste último tópico do texto falaremos sobre os indicadores de rendimento escolar, que têm sido apontados em estudos e que podem contribuir com a análise contextualizada de resultados escolares. 5.1 Indicadores e avaliação institucional Na avaliação institucional é preciso considerar os processos administrativos, financeiros e pedagógicos, as relações escola-sociedade e de ensino-aprendizagem, para que possam ser selecionados indicadores e informações adequados para cada dimensão que será avaliada, como destacam Soares e Xavier (2013, p. 918) “ a avaliação de escolas e redes de ensino não deve se restringir ao Ideb, e o indicador de resultados deve ser contextualizado por indicadores que descrevam as condições reais de oferta do ensino”. Assim, propõe-se olhar os dados os resultados escolares nos processos em que se ancoram (Sordi; Ludke, 2009). Estudos têm apontado para as desigualdades significativas que envolvem os resultados escolares. Os critérios raça/cor, sexo masculino e feminino se justificam paraas análises do contexto escolar devido às desigualdades educacionais históricas do contexto brasileiro (Arretche, 2015). Carvalho (2004), em uma pesquisa envolvendo turmas de quinto ano de escolas públicas municipais de São Paulo, nos anos 2000 e 2001, apresenta dados similares, apontando diferenças de desempenho escolar entre meninos e meninas. 14 Essas diferenças entre meninos e meninas se complexifica ao considerar- se ao mesmo tempo a variável “cor” ou “raça”. A autora destaca com os resultados encontrados na pesquisa que as dificuldades escolares estavam intimamente associadas às características das famílias, à pobreza, à cor das crianças, ao gênero e a problemas de funcionamento das escolas. De acordo com os dados apresentados pela autora, o grupo daqueles que fracassavam na escola, ou frente aos quais a escola fracassava em ensinar, os meninos representavam número maior que as meninas, e dentre os meninos, os negros eram em maior proporção que os brancos. Chama a atenção no texto da autora o apontamento de que “havia algo de constrangedor para ambas as professoras que participaram da pesquisa ao fazerem a classificação de cor, evidenciando os significados negativos embutidos nas características associadas ao pertencimento à raça negra” (Carvalho, 2009, p. 269). Percebe-se por meio do estudo da pesquisadora que, além dos estudantes sofrerem com as desigualdades de origem social, o fator raça ou cor foi também um tabu entre os próprios profissionais da educação. Essa tendência mais frágil em escolas que apresentam contextos que demandam maior atenção pedagógica e um olhar mais sensível às condições contextuais é corroborado por Sordi e Ludke. Os alunos das escolas públicas, particularmente aquelas situadas em zonas de vulnerabilidade social acentuada, apresentam reconhecidas carências de ordem estrutural e material, porém a este tipo de problema se agregam as diferenças que possuem em termos de capital cultural, dos recursos linguísticos que acionam e que tendem a não ser considerados pelos professores nas micro decisões que tomam quando da organização do trabalho pedagógico. (Sordi; Ludke, 2009, p. 329) Destaca-se que os problemas relativos à raça/cor não encontram fronteiras sociais, sendo também encontrados em escolas privadas. Em estudo mais recente, Alves (2020), analisando dados da Prova Brasil (2007-2017), relata que o desempenho de estudantes das escolas públicas de ensino fundamental avançou, mas as diferenças entre grupos de estudantes discriminados por sexo, raça/cor e nível socioeconômico aumentaram significativamente para o mesmo período. Dessa forma, é altamente recomendado que os dados sejam analisados de acordo com as suas circunstâncias de inserção, dada a impossibilidade de 15 tomar a escola isolada de seu contexto social, consideradas como origem social e cultural dos estudantes matriculados, além de observar cuidadosamente as desigualdades raciais que têm se apresentado no contexto escolar Compreendemos aqui que uma trajetória escolar marcada pela repetência e pela evasão é um indicador de que a escola está falhando com seus estudantes (Carvalho, 2009). Assim, reiteramos possíveis indicadores de resultado escolar a serem agregados nas análises, como: • Taxa de aprovação: • Taxa de reprovação: • Taxa de abandono: • Taxa de distorção idade-série: • Taxa de conclusão das etapas de ensino. Esses dados podem ser encontrados por meio dos resultados do censo escolar, coletados e divulgados anualmente para todas as escolas públicas e privadas, e podem fornecer um rico panorama acerca dos resultados derivados dos processos de ensino e de aprendizagem, para além do Ideb e de notas escolares. Por último, frisa-se que analisar resultados escolares deve ser um processo que inclua professores, pedagogos, diretores e que seja divulgado aos interessados pela educação da escola, ou seja, as famílias e responsáveis. 16 REFERÊNCIAS ALVES, M. T. G. Caracterização das desigualdades educacionais com dados públicos: desafios para conceituação e operacionalização empírica. Lua nova. São Paulo. 189-2014, 2020. ARRETCHE, M. Apresentação. In: ARRETCHE, M. (Org). Trajetória das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos. São Paulo: Editora Unesp, 2015, p. 1-19. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1996. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Guia de elaboração e revisão de itens, v. 1. Brasília, DF, 2010. CARVALHO, M. P. O fracasso escolar de meninos e meninas: articulações entre gênero e cor/raça. Cadernos Pagu, p. 247-290, 2004. FONTANIVE, N. S. A divulgação dos resultados das avaliações dos sistemas escolares: limitações e perspectivas. Ensaio: avaliação, política pública e educação. Rio de Janeiro, v. 21, n. 78, p. 83-100, jan/mar. 2013. SAVIANI, D. Sobre a natureza e a especificidade da educação. Em Aberto, Brasília, ano 3, n. 22, p. 1-6, jul./ago. 1984. SOARES, J. F. Índice de desenvolvimento da educação de São Paulo: bases metodológicas. São Paulo Perspectiva, São Paulo, v. 23, n. 1, p. 29-41, jan./jun. 2009. SOARES, J. F.; XAVIER, F. P. Pressupostos educacionais e estatísticos do Ideb. Educação e Sociedade, Campinas, v. 34, n. 124, p. 903-923, jul.-set. 2013. SORDI, M. R. L.; LUDKE, M. Da avaliação da aprendizagem à avaliação institucional: aprendizagens necessárias. Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 14, n. 2, p. 267-290, jul. 2009.
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