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Sob o ponto de vista do mecanismo do parto, o feto é o móvel ou objeto que percorre o trajeto (bacia), impulsionado por um motor (contração uterina). Na sua atitude habitual de flexão da cabeça sobre o tronco e de entrecruzamento dos membros, que também se dobram, o móvel assemelha-se a um ovoide – o ovoide fetal Este, por sua vez, é composto por dois segmentos semidependentes: o ovoide cefálico (cabeça) e o córmico (tronco e membros). Embora o ovoide córmico seja maior, seus diâmetros são facilmente redutíveis, tornando o polo cefálico mais importante durante a parturição. O estudo da mecânica do parto, na generalidade dos casos, e em essência, analisa os movimentos da cabeça, sob ação das contrações uterinas, a transitar pelo desfiladeiro pelvigenital. O trajeto, ou canal da parturição, estende-se do útero à fenda vulvar. Constituído por formações de diversas naturezas, partes moles do canal do parto (segmento inferior, cérvice, vagina, região vulvoperineal), o canal da parturição é sustentado por cintura óssea, também chamada de pequena pelve, pequena bacia ou escavação. No seu transcurso através do canal parturitivo, impulsionado pela contratilidade uterina e pelos músculos da parede abdominal, o feto é compelido a executar certo número de movimentos, denominados mecanismo do parto. São movimentos puramente passivos e procuram adaptar o feto às exiguidades e às diferenças de forma do canal. Com esses movimentos, os diâmetros fetais se reduzem e se acomodam aos pélvicos. Em 95 a 96% dos casos, o parto processa-se com o feto em apresentação cefálica fletida – apresentação de vértice. De todas as apresentações, esta é a menos sujeita a perturbações do mecanismo. RELAÇÕES UTEROFETAIS Tal nomenclatura orienta a documentação do parto e a comunicação entre os profissionais para que haja, posteriormente, entendimento dos acontecimentos. ATITUDE: Consiste na relação das diversas partes fetais entre si. Assim, a atitude fetal depende da disposição dos membros e da coluna vertebral. Na maioria das vezes, o feto apresenta atitude de flexão generalizada durante toda a gestação e o parto. A coluna vertebral se curva ligeiramente, produzindo uma concavidade voltada para a face anterior do concepto, enquanto os membros se apresentam flexionados e anteriorizados. Assim, configura-se uma formação de aspecto oval ou ovoide, com duas extremidades representadas pelos polos cefálico e pélvico SITUAÇÃO: Consiste na relação entre o maior eixo da cavidade uterina e o maior eixo fetal. Essa relação dá origem a três possibilidades de situação fetal: longitudinal, transversa e oblíqua. APRESETAÇÃO: É definida como a região fetal que ocupa a área do estreito superior e nela se vai insinuar. Para que exista apresentação, é necessário que o volume da região fetal seja capaz de encontrar obstáculo na sua passagem pelo canal pelvigenital; portanto, não existe apresentação antes do sexto mês ou quando a parte fetal é um membro, visto que os respectivos diâmetros são muito inferiores aos da bacia. Quando a situação fetal é longitudinal, há duas possibilidades de apresentação: cefálica ou pélvica, dependendo do polo fetal que ocupa a região inferior do útero. Nas situações transversas, por sua vez, duas outras possibilidades ocorrem, nas quais se distinguem as apresentações córmicas (ou de ombro), em que o dorso fetal se apresenta anterior ou posteriormente, ou as apresentações dorsais superior e inferior, em que o dorso fetal se apresenta superior ou inferiormente (nestes casos, o plano coronal fetal é perpendicular ao plano coronal materno), extremamente mais raras. INSINUAÇÃO Ou encaixamento, é a passagem da maior circunferência da apresentação através do anel do estreito superior. Nessas condições, e pelo geral, está o ponto mais baixo da apresentação à altura das espinhas ciáticas (plano “O” de DeLee) Tem como tempo preliminar a redução dos diâmetros, o que, nas apresentações cefálicas, é conseguido por flexão (apresentação de vértice) ou deflexão (apresentação de face). Na apresentação pélvica, a redução dos diâmetros é obtida aconchegando-se os membros inferiores sobre o tronco ou desdobrando-se os mesmos para baixo ou para cima. Nas apresentações córmicas, a insinuação não ocorre com feto de tamanho normal, em decorrência da grande dimensão dos diâmetros. Por isso, o parto pela via vaginal é impossível. Para que se processe a insinuação, é necessário haver redução dos diâmetros da cabeça, o que será obtido pela orientação de diâmetros e por flexão. No início dessa fase, a cabeça fetal encontra-se acima do estreito superior da bacia, em flexão moderada, com a sutura sagital orientada no sentido do diâmetro oblíquo esquerdo ou do transverso e com a pequena fontanela (fontanela lambdoide) voltada para esquerda. Na realidade, o encaixamento depende, essencialmente, da morfologia da pelve. Nas de tipo ginecoide, ele se dá, preferencialmente, pelo diâmetro transverso; nas androides, as posições transversas são cerca de 3 vezes mais comuns que as anteriores e as posteriores reunidas, sendo estas últimas as de maior incidência; nas antropoides é menor a frequência do encaixamento pelo diâmetro transverso; alguns autores estabeleceram que esse tipo de bacia predispõe às posições posteriores, embora as posições direitas também sejam comuns. Nas bacias platipeloides, a cabeça deve ser encaixada quase obrigatoriamente através dos diâmetros transversos. De qualquer maneira, o aproveitamento dos diâmetros oblíquos ou transversos (os mais amplos do estreito superior) é indispensável para a passagem do diâmetro anteroposterior, o maior da circunferência de encaixamento. A atitude de moderada flexão (atitude indiferente), em que se encontra a cabeça no início do mecanismo do parto, apresenta ao estreito superior da bacia o diâmetro occipitofrontal, maior do que o suboccipitobregmático, que mede 9,5 cm. Para apresentar esse último diâmetro, mais favorável, a cabeça sofre um 1º movimento de flexão. O eixo maior do ovoide cefálico toma a direção do eixo do canal. Reduzindo os seus diâmetros, a cabeça fetal transpõe o estreito superior da bacia. A insinuação ocorre por dois processos diferentes: • Insinuação estática, processada na gravidez, em mais de 50% das primigestas. Flexão por aconchego no segmento inferior e na descida, conjuntamente com o útero, por tração dos ligamentos sustentadores do órgão e pressão das paredes abdominais • Insinuação dinâmica, que surge no fim da dilatação cervical ou no início do período expulsivo nas multíparas. Flexão por contato com o estreito superior da bacia e descida à custa das contrações expulsivas. A insinuação estática é considerada prognóstico favorável para o parto, desde que proporcione boa proporção cefalopélvica. A recíproca, porém, não é correta. O simples fato de não se ter verificado não autoriza concluir pela existência de desproporção cefalopélvica ou de qualquer outra razão de mau prognóstico. DESCIDA Completando a insinuação, a cabeça migra até as proximidades do assoalho pélvico, onde começa o cotovelo do canal. Até aí mantém a mesma atitude e conserva o mesmo sentido, apenas exagerando um pouco a flexão. O ápice do ovoide cefálico atinge o assoalho pélvico, e a circunferência máxima encontra-se na altura do estreito médio da bacia. A descida, na realidade, ocorre desde o início do trabalho de parto e só termina com a expulsão total do feto. Seu estudo, como tempo autônomo, tem apenas propósito didático, facilitando a descrição. Durante esse mecanismo do parto, o movimento da cabeça é turbinal: à medida que o polo cefálico roda, vai progredindo no seu trajeto descendente • Rotação interna da cabeça. Uma vez que a extremidade cefálica distenda e dilate, o conjunto musculoaponeurótico que compõe o diafragmapélvico sofre movimento de rotação, que levará a sutura sagital a se orientar no sentido anteroposterior da saída do canal. O assoalho pélvico, principalmente depois de distendido pela cabeça fetal, é côncavo para cima e para diante, escavado em forma de goteira. Apresenta planos inclinados laterais por onde o feto desliza ao nascer. A fenda vulvar, limitada em cima pelo arco inferior do púbis e para os lados e para baixo pelo diafragma pélvico, apresenta forma ovalar, com o eixo maior no sentido anteroposterior, quando totalmente distendida. Ao forçar a distensão do assoalho pélvico, a cabeça fetal desliza nas paredes laterais (planos inclinados) e roda para acomodar seus maiores diâmetros aos mais amplos da fenda vulvar. • Insinuação das espáduas. Simultaneamente à rotação interna da cabeça e à sua progressão no canal, verifica-se penetração das espáduas através do estreito superior da bacia. O diâmetro biacromial, que mede 12 cm, é incompatível com os diâmetros do estreito superior; porém, no período expulsivo, sofre redução apreciável porque os ombros se aconchegam, forçados pela constrição do canal, e se orienta no sentido de um dos diâmetros oblíquos ou do transverso daquele estreito. À medida que a cabeça progride, as espáduas descem até o assoalho pélvico. DESPRENDIMENTO Terminado o movimento de rotação, o suboccipital coloca-se sob a arcada púbica; a sutura sagital orienta-se em sentido anteroposterior. Dada a curvatura inferior do canal do parto, o desprendimento ocorre por movimento de deflexão. A nuca do feto apoia-se na arcada púbica; e a cabeça oscila em torno desse ponto, em um movimento de bisagra. Com o maior diâmetro do ovoide cefálico (occipitomentoniano) continuando orientado no sentido do eixo do canal, a passagem da cabeça através do anel vulvar deve ser feita pelos diâmetros anteroposteriores, de menores dimensões, originados do suboccipital. Essa região acomoda-se, assim, à arcada inferior da sínfise, em redor da qual a cabeça vai bascular para o desprendimento. Com o movimento de deflexão, estando o suboccipital colocado sob a arcada púbica, liberta-se o diâmetro suboccipitobregmático, seguido pelo suboccipitofrontal, suboccipitonasal e assim por diante, até o completo desprendimento. • Rotação externa da cabeça. Imediatamente após desvencilhar-se, livre agora no exterior, a cabeça sofre novo e ligeiro movimento de flexão pelo seu próprio peso e executa rotação de 1/4 a 1/8 de circunferência, voltando o occipital para o lado onde se encontrava na bacia. É um movimento simultâneo à rotação interna das espáduas, por ela causado, e conhecido como restituição (faz restituir o occipital à orientação primitiva). • Rotação interna das espáduas. Desde sua passagem pelo estreito superior da bacia, as espáduas estão com o biacromial orientado no sentido do oblíquo direito ou do transverso da bacia. Ao chegarem ao assoalho pélvico, e por motivos idênticos aos que causaram a rotação interna da cabeça, as espáduas também sofrem movimento de rotação, até orientarem o biacromial na direção anteroposterior da saída do canal. O ombro anterior coloca-se sobre a arcada púbica; o posterior, em relação com o assoalho pélvico, impelindo para trás o cóccix materno. • Desprendimento das espáduas. Nessa altura, tendo o feto os braços cruzados para diante do tórax, a espádua anterior transpõe a arcada púbica e aparece através do orifício vulvar, onde ainda se encontra parcialmente recoberta pelas partes moles Para libertar o ombro posterior, e tendo de acompanhar a curvatura do canal, o tronco sofre movimento de flexão lateral, pois o facilimum de flexão desse segmento é no sentido lateral do corpo. Continuando a progredir em direção à saída, com o tronco fletido lateralmente, desprende-se a espádua posterior O restante do feto não oferece resistência para o nascimento, embora possa obedecer ao mesmo mecanismo dos primeiros segmentos fetais. INSINUAÇÃO CEFÁLICA PELOS DIÂMETROS TRANSVERSOS DA BACIA Com base em dados radiológicos, a incidência de insinuação pelos diâmetros transversos da bacia e por movimentos de assinclitismo foi estimada em 60 a 70%. A cabeça, antes da insinuação, é observada em posição transversa, com o parietal posterior apresentando-se sobre a região anterior da pelve (obliquidade de Litzmann). A sutura sagital permanece horizontalmente sobre a sínfise, ligeiramente por detrás dela. A insinuação ocorre por mecanismo de alavanca: flexão lateral da cabeça para o lado oposto, ficando a sutura sagital no diâmetro transverso da bacia (sinclitismo). Simultaneamente, começa a descida, e logo a apresentação do parietal posterior, no estreito superior, é substituída pela apresentação do parietal anterior, na escavação (obliquidade de Nägele). A superfície lateral do parietal posterior fica quase paralela à superfície anterior do sacro. A descida ulterior, até o plano sacrococcígeo, ocorre ao longo de uma linha dirigida para baixo e para trás, e mais ou menos paralela à superfície anterior do sacro. A cabeça permanece em posição transversa até as espinhas ciáticas ou um pouco acima, com o parietal anterior apresentado. O vértice continua a mover-se para trás, na direção do plano sacrococcígeo. Ocorre aí a flexão lateral que precede a rotação interna. Então, a bossa do parietal posterior choca-se com a espinha ciática esquerda. O occipital roda para a frente, ao longo da discreta curvatura do ramo isquiopubiano, em ângulo de 90°. A descida ulterior dá-se durante a rotação, permanecendo a cabeça fortemente fletida. Finalmente, a extensão do occipital começa debaixo das espinhas ciáticas e é seguida do movimento de expulsão RESUMO Sob o ponto de vista do mecanismo do parto, o feto é o móvel ou o objeto que percorre o trajeto (bacia), impulsionado pelo motor (contração uterina). O estudo do mecanismo de parto é, em essência, o dos movimentos que a cabeça descreve, sob a ação das contrações uterinas, a transitar pelo desfiladeiro pelvigenital. O trajeto ou canal do parto estende-se do útero à fenda vulvar – partes moles (segmento inferior do útero, cérvice, vagina, região vulvoperineal) –, sustentado pela cintura óssea – pequena bacia ou escavação. .O mecanismo do parto tem características próprias, que variam em seus pormenores de acordo com o tipo de apresentação e a morfologia da pelve. O único mecanismo fisiológico é o da apresentação cefálica fletida em bacia ginecoide. Os tempos do mecanismo do parto são basicamente: insinuação, descida e desprendimento. A insinuação é a passagem da maior circunferência da apresentação pelo estreito superior. Nessas condições, o ponto mais baixo da apresentação está à altura das espinhas ciáticas (plano “O” de DeLee). A variedade de posição mais frequente de insinuação para os autores franceses é a occipitoesquerda anterior (OEA); para os anglo-saxões, a occipitoesquerda transversa (OET). Na descida, a cabeça migra até as proximidades do assoalho pélvico, onde ocorre a rotação interna para occipitopúbica (OP); concomitantemente há a insinuação das espáduas. Uma vez colocado o suboccipital sob a arcada púbica, o desprendimento da cabeça ocorre por movimento de deflexão. O tempo imediato é a rotação externa da cabeça. Durante a descida das espáduas, ocorre a sua rotação interna, colocando o ombro anterior sob a arcada púbica, ocorrendo, em seguida, o seu desprendimento. Os cuidados iniciais dispensados à parturiente envolvem a anamnese dirigida à verificação da existência de doença prévia ou diagnosticada durante o pré-natal, o exame físico inicial e a avaliação da vitalidade fetal. A paciente deverá ser abordada quanto à possibilidade de colonização pelo estreptococo do grupo B, instituindo-se a profilaxia necessária em casos positivos. EXAME FÍSICO INICIAL Envolve exame físico geralmaterno, com verificação da pressão arterial, da frequência cardíaca, da temperatura e do peso; exame físico especial; e exame obstétrico, no qual se avaliam o padrão das contrações uterinas, a palpação obstétrica, o exame vaginal e a vitalidade fetal. O exame obstétrico tem como objetivo principal avaliar os três parâmetros que interferem na evolução do trabalho de parto: o feto, o canal de parto (incluindo a avaliação da bacia obstétrica) e a dinâmica uterina. Mais especificamente, a avaliação vaginal deverá ter por meta averiguar as seguintes condições: Avaliação da integridade das membranas amnióticas: em casos em que se tenha suspeita de rotura de membranas deverá ser efetuado primeiro o exame especular para confirmar ou afastar esse diagnóstico. Caso as membranas estejam rotas, é importante observar as características do líquido amniótico no que concerne à presença ou não de mecônio. Caso as membranas estejam íntegras, deve- -se proceder à amnioscopia para visualização indireta do líquido amniótico e exclusão da presença de mecônio. • Sangramento vaginal: verificar a presença e a quantidade de sangramento. • Colo uterino: deverá ser quantificada a dilatação cervical (0 a 10 cm) e, ainda, deve-se estudar o esvaecimento cervical, o tipo de apresentação (região fetal que ocupa a área do estreito superior e nele irá se insinuar), a variedade de posição (relação entre o ponto de referência materno e o ponto de referência fetal) e a altura da apresentação em relação aos planos de De Lee • Pelve materna: realizar a pelvimetria ASSISTÊNCIA AO PRIMEIRO PERÍODO DO TRABALHO DE PARTO Atividades como andar e sentar-se em cadeira confortável são associadas a maior satisfação da paciente durante o período de dilatação. É importante salientar que a deambulação deve respeitar, além das condições clínicas maternas e fetais, as condições de dilatação cervical e a disposição individual de cada gestante. • Analgesia: deve respeitar o limiar da dor, que é individual. Assim, ela deve ter por objetivo proporcionar conforto à parturiente. • Sinais Vitais Maternos: pulso, pressão arterial e temperatura são rotineiramente avaliados na admissão da gestante de baixo risco. Situações distintas em que se observe rotura de membranas podem necessitar de avaliações de temperatura e frequência cardíaca a intervalos menores. Da mesma forma, a ocorrência de síndromes hipertensivas torna necessária a avaliação da pressão arterial com maior frequência e pacientes portadoras de diabetes necessitam de controle por meio de glicemia capilar, para se evitar tanto a hipoglicemia como a hiperglicemia • Alimentação e Fluídos Intravenosos: fluidos e leves. Acesso venoso não é comum, a não ser para antibióticos, nas induções de trabalho de parto, nas distocias funcionais e analgesia. • Assistência Obstétrica: além de constante avaliação clínica da parturiente, individualizada segundo a presença ou não de doenças maternas, especial atenção às contrações uterinas, à dilatação do colo do útero, à descida da apresentação fetal, à condição das membranas ovulares e à monitorização da frequência cardíaca fetal ASSISTÊNCIA AO SEGUNDO MOMENTO DO TRABALHO DE PARTO Quando a dilatação do colo uterino está completa, pode- -se dizer que se iniciou o segundo período do trabalho de parto. Nessa ocasião, a descida da apresentação fetal promove a compressão do períneo, sobretudo dos músculos levantadores do ânus, e a paciente habitualmente relata sensação semelhante ao desejo de defecar. As contrações se tornam mais frequentes (5 contrações/10 minutos) e com maiores intensidade e duração • Posição da Parturiente: em relação ao momento do parto, parece haver benefício na utilização de posições verticalizadas (dorso elevado em pelo menos 45o), mas os estudos apontam para uma possibilidade de maior perda sanguínea. • Força Expulsiva: esforços expulsivos (puxos), quando não são desencadeados espontaneamente, só devem ser encorajados quando a dilatação cervical é completa, ou seja, no período expulsivo. Deve-se manter monitorização contínua da frequência cardíaca fetal nesse período e, caso se observem desacelerações durante as contrações, é necessário que ocorra recuperação da frequência cardíaca fetal para níveis normais, quando houver retorno ao tônus uterino basal • Controle da Vitalidade Fetal: durante o período expulsivo, é comum a observação de desacelerações precoces. Preconiza-se que a ausculta fetal seja realizada a cada 5 minutos nesse estágio, o que, na prática clínica, é mais fácil de ser realizado por meio de cardiotocografia contínua. PREPARAÇÃO PARA O PARTO A preparação para o parto inclui assepsia de monte púbico, sulcos genitocrurais e terços superiores da face interna da coxa, além das regiões vulvar, vaginal e anal. Depois, procede se à colocação de campos esterilizados, reduzindo os riscos de infecção • Proteção do períneo • Episiotomia e perineotomia (podem ser evitadas de rotina, são feitas apenas nos casos de sofrimento fetal, distocia biacromial, risco de lacerações perineais graves) • Desprendimento do polo cefálico: lento e gradual (as manobras de Kristeller e de Olshausen são proscritas). • Aspiração de líquido amniótico na orofaringe e nasofaringe: aspiração em casos específicos. • Rotação externa: espontânea ou guiada. • Desprendimento do biacromial e do tronco: lento e gradual, geralmente espontâneo. • Clampeamento do cordão umbilical: recomenda- se a avaliação individual dos casos, embora clampeamentos tardios tenham se mostrado importantes para diminuir o risco de icterícia, transfusões sanguíneas e aumentar a reserva de ferro. É possível avaliar, posteriormente, o PH para diagnóstico de sofrimento fetal (padrão ouro). ASSISTÊNCIA AO TERCEIRO PERIODO DO PARTO Após o clampeamento do cordão, a atenção deve ser dirigida à dequitação. Não devem ser realizadas manobras para promover o descolamento da placenta de forma rápida, pois o tempo necessário para a dequitação é muito variável. Estima-se que a média de tempo necessário para a dequitação é de 5 minutos; Os sinais de descolamento da placenta são a elevação do fundo uterino em 2 a 3 cm com desvio para a direita (sinal de Schröeder), a forma discoide e globosa do útero quando avaliado em sentido anteroposterior (sinal de Calkins), a não transmissão da tração do cordão à mão que palpa o fundo do útero (sinal de Fabre), a ausência de propagação da percussão do fundo do útero até o cordão umbilical (sinal de Strassmann) e a elevação do útero por meio de palpação abdominal não acompanhada da movimentação do cordão umbilical (sinal de Küstner). Na expulsão da placenta, notam-se a descida progressiva do cordão umbilical (sinal de Ahlfeld) com rotação deste (sinal de Hochenb ichler), a sensação de peso retal conhecida como sinal da placenta (sinal de Calman ou sinal de Mickulicz-Radecki) e, ao toque vaginal, a identificação da presença de placenta em fórnice vaginal posterior (sinal de Garber) O puerpério, também denominado pós-parto, é o período que sucede o parto e, sob o ponto de vista fisiológico, compreende os processos involutivos e de recuperação do organismo materno após a gestação. Embora o caráter gradual e progressivo assumido por essas manifestações torne o puerpério um período de demarcação temporal imprecisa, é aceitável dividi-lo em: • pós-parto imediato, do 1 o ao 10 o dia; • pós-parto tardio, do 10 o ao 45 o dia; • pós-parto remoto, além do 45 o dia. Os complexos fenômenos regenerativos que ocorrem no sistema reprodutor feminino após o parto desenrolam-se especialmente ao longo do pós-parto imediato e do pós-parto tardio. Enquanto, no pós-parto imediato, prevalece a crise genital, caracterizada por eventos catabólicos e involutivos das estruturas hiperplasiadase/ou hipertrofiadas pela gravidez, no pós-parto tardio evidenciam-se mais claramente a transição e a recuperação genital, com progressiva influência da lactação Em relação à involução uterina, ressalte-se a atuação conjunta de diversos mecanismos fisiológicos, que, em última instância, garantem a involução da matriz uterina e evitam quadros de hemorragia pós-parto. Dentre eles, assumem maior importância: • A retração e contração uterinas, as quais acarretam acentuada anemia miometrial e consequente má nutrição e hipóxia celular, e estão também associadas a trombose e obliteração de vasos parietais formados ao longo da gestação. • Imediatamente após o parto, mais especificamente com a saída da placenta, esses fenômenos de retração e contração são os principais responsáveis pela hemostasia da ferida placentária e por evitar os quadros de hemorragia pós-parto. É o denominado globo de segurança, o qual permite que as ligaduras vivas de Pinard causem acentuada constrição dos vasos miometriais parietais • O reflexo uteromamário, o qual permite que esses eventos involutivos uterinos ocorram mais intensamente nas mulheres que amamentam. A estimulação dos mamilos e da árvore galactófora acarreta contrações uterinas, identificadas pelas mulheres como cólicas (tortos), em virtude da liberação de ocitocina na circulação sanguínea • O remodelamento dos vasos pélvicos, aqui representados pela circulação uterina e ovariana, cujos calibres retornam progressivamente ao pré-gravídico e contribuem para um estado de isquemia do tecido miometrial hipertrofiado. Esse processo é influenciado significativamente tanto pela contração e retração miometrial quanto pelo desaparecimento da fístula arteriovenosa, representada pela circulação uteroplacentária • O desaparecimento súbito, em crise, dos hormônios placentários NA VAGINA: • No pós parto imediato: Progressiva atrofia do epitélio escamoso de revestimento, independentemente da lactação • No pós parto tardio: Por volta do 15 dia, o processo de descamação alcança seu máximo, seguido pelas primeiras manifestações regenerativas A partir do 25 dia, o processo regenerativo é distinto conforme a amamentação. Entre as mulheres que não amamentam há uma aceleração dos processos que culminam com um epitélio eutrófico, enquanto nas mulheres que amamentam observa-se um epitélio vaginal subatrófico NO CORPO DO ÚTERO: • No pós-parto imediato: ele sofre acelerado processo involutivo entre o 3 e 10 dia, quando então reassume sua localização intrapélvica • No pós-parto tardio: persiste o processo involutivo, sem que o útero alcance as proporções encontradas nas nulíparas • No pós-parto imediato: dentro de 2 a 3 dias após o parto, a decídua remanescente se divide. A camada superficial torna-se necrótica e é eliminada, enquanto a camada basal adjacente ao miométrio dá origem ao novo endométrio. O novo se origina da proliferação das glândulas endometriais remanescentes e do estroma do tecido conjuntivo interglandular. É um processo rápido, exceção feita ao leito placentário e, por volta de 1 semana pósparto já se identifica um novo epitélio glandular recobrindo a maior parte da cavidade uterina • No pós-parto tardio: o processo de regeneração endometrial evolui e, a partir do 16 dia pós-parto, o endométrio em geral encontra-se plenamente recuperado • O pós-parto remoto (após 45 dias) é caracterizado pelo retorno da ovulação e da menstruação, eventos marcadamente influenciados pela lactação. Entre as mulheres que não amamentam a menstruação retorna, em média, por volta do 45 o dia pós-natal e, ao contrário do que se pensava, é precedida pela ovulação. Nas lactantes, todavia, esses prazos dependem da duração e da frequência do aleitamento • Lóquios: A involução e a regeneração do leito placentário, de toda a decídua e das demais superfícies genitais ocorrem, inicialmente, por meio da eliminação de grande quantidade de elementos deciduais e células epiteliais descamados, que, associados a eritrócitos e bactérias, compõem, então, o que denominamos lóquios. Ao longo dos três ou quatro primeiros dias pós-parto, temos os lóquios sanguíneos (lochia cruenta, lochiarubra), em função da considerável presença de sangue. A partir de então, a diminuição do conteúdo sanguíneo leva a lóquios progressivamente serossanguíneos (lochia fusca) – de coloração acastanhada – e, posteriormente, serosos (lochia serosa, lochia flava). Por volta do 10 o dia, os lóquios apresentam conteúdo líquido reduzido e significativa quantidade de leucócitos, assumem coloração esbranquiçada ou discretamente amarelada (lochia alba) e mantêm-se dessa forma por 4 a8 semanas. Em geral, o volume total dos lóquios ao longo de todo esse período varia entre 200 e 500 mℓ. SISTEMA ENDÓCRINO: No fim da gestação, os níveis de estrogênio e progesterona estão muito elevados, assim como os de prolactina (PRL). Com a saída da placenta, ocorre queda imediata dos esteroides placentários a níveis muito baixos e leve diminuição dos valores de PRL, que permanecem ainda bastante elevados. As gonadotrofinas e os esteroides sexuais atingem seus menores valores nas primeiras 2 a 3 semanas pós-parto. Já os níveis de gonadotrofina coriônica humana (hCG) retornam ao normal 4 a 6 semanas após o parto. Na ausência da lactação, nas primeiras semanas pósparto, tanto o hormônio luteinizante (LH) como o hormônio foliculoestimulante (FSH) mantêm-se com valores muito baixos, para logo começarem a se elevar lentamente. No início do puerpério, os níveis de estrogênio mantêm-se baixos, e a progesterona não é detectável. A recuperação das gonadotrofinas até os níveis prévios da gravidez depende da ocorrência ou não da amamentação. A amamentação pode inibir a fertilidade pela ação direta do estímulo do mamilo sobre o hipotálamo por via neuroendócrina, elevando a PRL e inibindo o FSH e o LH. SISTEMA URINÁRIO: Algum grau de trauma vesical é comum em partos vaginais, especialmente entre mulheres cujos trabalhos departo foram mais demorados. Embora comumente não cursem com repercussão clínica, esses traumas (especialmente do nervo pudendo), associados à capacidade aumentada e à relativa insensibilidade da bexiga no período pós-parto, podem atuar conjuntamente e favorecer a sobre distensão, o esvaziamento incompleto e a excessiva quantidade de urina residual. Os fatores de risco para a disfunção vesical pós-parto parecem incluir nuliparidade, parto assistido, parto com primeiro e segundo estágios prolongados, cesariana e analgesia de condução. No que tange aos ureteres e pelves renais, os quais se encontram dilatados na gestação, comumente retornam ao estado pré gravídico entre 2 e 8 semanas após o parto. SISTEMA SANGUÍNEO: Ao longo do parto e puerpério imediato, é comum a leucocitose acentuada, a qual pode alcançar 30.000/μℓ e caracteriza-se por um predomínio de granulócitos, relativa linfopenia e eosinofilia absoluta. Em geral, esses parâmetros normalizam-se por volta de 5 a 6 dias pós-parto. Em relação à série vermelha, durante os primeiros dias após o parto, os níveis de hemoglobina (Hb de 10g/dℓ) costumam flutuar moderadamente. Uma queda acentuada de seus valores costuma estar relacionada aperdas sanguíneas excessivas, e, por volta de 6 semanas pós-parto, a hemoglobina encontra-se em níveis pré-gravídicos. As alterações induzidas pela gravidez nos fatores de coagulação sanguíneos persistem por períodos variados do puerpério, mantendo, então, o estado de relativa hipercoagulabilidade. Por exemplo, os elevados níveis de fibrinogênio plasmático persistem ao menos na 1 a semana pós-parto, enquanto a velocidade de hemossedimentação pode vir a se regularizar apenas entre a 5 a e a 7 a semana puerperal. SISTEMA CARDIOVASCULAR: A gestação, normalmente, evolui com acentuadoaumento do conteúdo líquido extracelular, e a diurese pós-parto responde pela reversão fisiológica desse processo. Porém, nas primeiras horas após o parto, é comum nos depararmos com uma diurese escassa, resultante da desidratação relacionada ao trabalho de parto. A partir do2 o dia, inicia-se o processo de eliminação dessa hipervolemia característica da gestação, fenômeno geralmente completo por volta do 6 o dia pós-parto. As alterações na função cardíaca e vascular observadas após o parto acompanham o padrão detectado em relação à redistribuição hídrica. A frequência e o débito cardíacos mantêm-se elevados por 24 a 48 h após o parto e retornam aos valores pré gravídicos por volta do 10 o dia puerperal. Já a resistência vascular permanece reduzida ao longo das primeiras 48 h pós-natais, e, então, progressivamente retorna aos níveis prévios à gestação. PELE: As estriações do abdome e das mamas, quando acontecem, perdem a cor vermelho-arroxeada e ficam pálidas, transformando-se, em algumas semanas, nas estrias branco-nacaradas. O cloasma gravídico e as demais hiperpigmentações da pele, geralmente, regridem no período puerperal, ainda que não se tenha ciência do tempo exato em que isso ocorre. PESO: A média de perda ponderal decorrente do parto é de 6 kg. No puerpério, ocorre perda adicional de 2 a 7 kg, habitualmente mais pronunciada nos primeiros 10 dias de pós-parto, atribuída a maior diurese, secreção láctea e eliminação loquial. MONTENEGRO, Carlos Antonio Barbosa; FILHO, Jorge de Rezende. Rezende obstetrícia. 13 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. ISBN 978-85-277-3071-6. Zugaib, Marcelo, e Rossana Pulcineli Vieira Francisco. Zugaib obstetrícia 4a ed. Disponível em: Minha Biblioteca, (4th edição). Editora Manole.
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