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Psicologia do Trabalho Fatores Psicossociais e Atividade Profissional Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Flávia Alves Ribeiro Monclùs Romanek Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota 5 Un id ad e Fatores Psicossociais e Atividade Profissional O objetivo é que você, pós-graduando, valorize conceitos que fundamentam a prática de identificação, diagnóstico e prevenção dos males psicossociais no ambiente profissional. Bem-vindo à disciplina Psicologia do Trabalho do Curso de Pós-graduação em Enfermagem do Trabalho. Que tal começarmos a trabalhar? Então, vamos conhecer um pouco sobre o assunto a ser abordado: Nesta Unidade, discutiremos os conceitos fundamentais que se relacionam à Psicologia do Trabalho para a Enfermagem, ou seja, o que são fatores psicossociais e como podem afetar ou influenciar o trabalho de Enfermagem e o processo de cuidados em relação ao profissional dessa área. Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Desenvolvimento Fonte: iStock/G etty Im ages 6 Unidade: Fatores Psicossociais e Atividade Profissional Este instrumento presentemente apresentado se propõe à abordagem dos conceitos referentes aos elementos de ordem emocional e social que interferem ou podem influenciar no desenvolvimento da atividade profissional. O desenvolvimento das atividades profissionais se destaca como elemento relacionado à saúde mental. Isto posto, a Psicologia do Trabalho para a Enfermagem compreende processo de cuidados em relação ao profissional dessa área. Além disso, o material sugerido para leitura é: • Heloani, J.R.; Capitão, C.G. Saúde mental e psicologia do trabalho. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 17(2) 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2. Nessa leitura escrita acima, é possível se elencar que o trabalho, quando relacionado aos desconfortos emocionais e sociais, pode estar envolto em ambiente de desmotivação, desânimo, diminuição na qualidade do trabalho, faltas, licenças e afastamentos. Contextualização http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2 7 Fatores psicossociais, que eu chamo por vezes emocionais, simplesmente, são todos os elementos não físicos, não palpáveis, mas que são muito importantes para o desenvolvimento de uma tarefa. Motivação, por exemplo, é certamente um fator psicossocial que te impulsiona a cursar esta pós-graduação, não é mesmo? Abordaremos alguns conceitos básicos, tais como: • saúde laboral/ mental; • clima ou cultura organizacional; • hierarquia; e • competências do enfermeiro no processo de Psicologia do Trabalho. Vamos refletir inicialmente sobre este trecho, de (Heloani, Capitão, 2003) disponível em http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2: “...as condições e as exigências do mercado de trabalho na atualidade rotinizam e amortecem o sentido da vida, deixando no corpo as marcas do sofrimento, que se manifestam nas mais variadas doenças classificadas como ocupacionais, além de atentar contra a saúde mental”. Na fala escrita acima, podemos sugerir que o trabalho em si não causa doença; pelo contrário, o problema são os desconfortos emocionais e sociais a que o profissional está sujeito; estes sim podem desencadear desmotivação, desânimo, diminuição na qualidade do trabalho, faltas, licenças e afastamentos. Aliás, enquanto líderes, não gostamos que isso aconteça, pois interfere de forma negativa no desempenho da equipe e, portanto, no resultado do serviço que prestamos. Vale destacar que Saúde laboral/mental foi uma proposta iniciada na Administração por Elthon Mayo e Kurt Lewin como teorias que focam o desenvolvimento do recurso humano, ou seja, pessoas como bens mais valiosos que uma empresa possui. Herbert Ross aprimorou esse conceito, inserindo o comportamento a ser trabalhado pela equipe (administração e funcionários) (Kuazaqui, 2008). Em outras palavras, a saúde mental no trabalho se relaciona aos fatores do ambiente: • maneira de trabalhar; • metas estabelecidas; • forma de gerenciar; • forma de liderar; • forma de se comunicar; • forma de se relacionar; e • aos fatores laborais que interferem na ocorrência de estresse e doenças mentais no trabalho. Desenvolvimento http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2 8 Unidade: Fatores Psicossociais e Atividade Profissional Para ilustrar a importância da saúde mental no contexto do trabalho, ressalto uma pesquisa que foi elaborada por enfermeiras em um hospital público de Salvador em 2003. A pesquisadora objetivou analisar a relação entre demanda psicológica, ou seja, o quanto do aspecto emocional de 502 trabalhadoras de Enfermagem as atividades no serviço exigiam e quanto elas referiram ter controle sobre o seu trabalho nestas situações. O resultado alcançado foi que as profissionais de Enfermagem sofriam de distúrbios mentais e por isso não desempenhavam suas atividades com o devido controle (Araújo, Aquino, Menezes, Santos et al, 2003). A pesquisa está disponível em www.researchgate. net/trabalhoenfermagem/004635240927b38bce. O estudo citado acima nos faz refletir sobre a influência do trabalho na saúde mental e vice- versa. Além disso, as autoras sugerem que propostas sejam elaboradas pela administração em conjunto com representantes dos trabalhadores, e por que não dizer, com a enfermeira do trabalho para amenizar o impacto da doença mental no desempenho do trabalhador, evitando intercorrências? Uma forma efetiva de evitar que essas intercorrências aconteçam é conhecermos o clima organizacional, ou seja, a forma como a instituição funciona além das normas e rotinas oficiais que constam dos manuais de procedimentos na percepção e no modo de fazer dos trabalhadores. O sistema de valores e comportamentos dos trabalhadores de uma instituição é: • uma imagem do cenário; • como funciona; • como as pessoas se relacionam; • como as pessoas observam seu trabalho; • como as pessoas percebem sua chefia e o “todo” do lugar. Isso quer dizer que devemos reconhecer o clima para compreender a situação que pode desencadear os problemas emocionais do trabalhador e afetando o seu trabalho. É importante que este conceito esteja claro: clima organizacional é o modo como o processo de trabalho acontece além do manual operacional; pode incluir as relações dos profissionais entre si e com a chefia. Então, é fundamental conhecer que ele existe e pode interferir na saúde emocional no trabalho. Para que você tenha uma ideia e com o objetivo de entender o que os profissionais de Enfermagem compreendem sobre o clima organizacional em uma instituição com alta rotatividade de profissionais, conheça uma pesquisa desenvolvida por Aquino Perossi em 2013 (disponível em http://www.cqh.org.br), a qual constatou que salário e falta de oportunidade em relação ao desenvolvimento dos profissionais eram causas possíveis de pedidos de demissão. Isto é interferência de clima organizacional no trabalho. www.researchgate.net/trabalhoenfermagem/004635240927b38bce www.researchgate.net/trabalhoenfermagem/004635240927b38bce http://www.cqh.org.br 9 A esta altura, você pode estar se perguntando: mas como eu posso interferir no clima organizacional? A resposta a essa pergunta é a seguinte: o nosso papel é levantar a opinião dos trabalhadores sobre o clima organizacional para que possam falar, discutir e admitir que os problemas existem e sempre acontecerão pontos a serem melhorados. Entretanto, isso não significa que eles não tenham satisfação no desenvolvimento das suas atividades ou não as executem. Ao contrário, esse reconhecimento deve servir de motivação para que a situação melhore. Além disso, você deve lembrar que a missão (aquilo que os colaboradores têm que fazer na instituição), a visão (o que a instituição almeja) e a filosofia (o significado do serviço executado na instituição) também devem ser levados em consideração, pois influenciam na saúde no trabalho; afinal é importante que se trabalhe em um local que segue princípios com os quaisse está de acordo, não é mesmo? Essas autoras, que eu citei no parágrafo acima, colocam além da importância de se conhecer a opinião dos profissionais sobre o processo de trabalho, que esta discussão com a Enfermagem do trabalho e com os profissionais da administração da instituição aconteça periodicamente, envolvendo propostas de sugestões para a melhoria das questões dificultosas. Lembrando: todo o problema pode ser procedido de uma solução, ou seja, estimule os trabalhadores a exporem aquilo que lhes incomoda, mas peça também que lhes traga soluções ou formas que podem significar resolução. Eles se sentirão importantes, com poder e valorizados e isso significa certamente que as condições emocionais do funcionário podem ser preservadas de modo que o trabalho seja realizado com qualidade e zelo. Além disso, você deve motivar o trabalho em equipe, as discussões sobre problemas e soluções em grupo, pois quando o trabalhador divide experiências e expectativas em relação ao serviço tende a superar dificuldades, a se motivar para superá-las, propor e buscar alternativas; isto é saúde no trabalho (e para o trabalho). Outro estudo (disponível em http://www.scielo.cl/pdf/cienf/v19n2/art_08.pdf), que vale a pena informar a você, foi desenvolvido por um grupo de enfermeiras professoras de uma faculdade no México. Elas questionaram 195 enfermeiras que trabalhavam em um hospital acerca da opinião delas sobre crescimento e desenvolvimento profissional em relação ao clima organizacional e cultura de segurança do paciente (Castañeda-Hidalgo, Hernandéz, Salinas, Zuñiga et al, 2013). Os resultados foram interessantes e coincidem com o que estamos discutindo nesta aula: o grupo de enfermeiras trabalhadoras percebe que, quando o clima organizacional se relaciona ao aprendizado do funcionário, não se adota condutas punitivas (mas sim de orientação); em caso de erros, fornece recursos para o desenvolvimento das tarefas e favorece a comunicação, o trabalho tem maior qualidade e satisfação. http://www.scielo.cl/pdf/cienf/v19n2/art_08.pdf 10 Unidade: Fatores Psicossociais e Atividade Profissional A liderança participativa, que estimula o trabalhador a desenvolver o seu melhor, faz parte do clima organizacional. Assim, por meio dela é possível evitar problemas emocionais do trabalhador, motivando-o a se comunicar, interagir e não se constranger na presença de chefes ou supervisores, de acordo com (Garcia, Viña, Luna, Gomez, 2004). O texto escrito está disponível em http://bvs.sld.cu/revistas/gme/pub/vol.6.(2)_06/. Liderança... ouvimos sobre esse conceito, essa ferramenta desde a graduação! E continuarei a frisar a importância dela nesta disciplina!! Para gravar o mantra: “Liderança é a capacidade de induzir as pessoas a cumprirem suas tarefas com zelo e qualidade”. Os funcionários podem até não estar diretamente sob a sua supervisão, mas isto não quer dizer, de jeito nenhum, que você não possa exercer um pouco que seja da sua liderança para prevenir males psicossociais da parte do trabalhador; aliás uma estratégia interessante é estimular a liderança do grupo, desenvolvendo dinâmicas, discussões nas quais eles possam se colocar, expor suas opiniões, interagir com os colegas e, assim, se motivarem continuamente a trabalharem com o zelo que almejamos. Que liderança forte! Ao falarmos de clima organizacional e liderança, lembrei-me do outro conceito fundamental que faz parte desta Unidade: a hierarquia. Há um tempo, o conceito de hierarquia esteve vinculado ao autoritarismo e chefia sem liderança. Depois, esse princípio foi totalmente abandonado, dando lugar ao liberalismo, relações de trabalho horizontais, sem hierarquia de um sobre o outro e... Atualmente, a sugestão é que a hierarquia exista sim, até porque ela direciona quem tem poder de decisão, quem intermedeia conflitos, quem resolve em uma análise e assim organiza de maneira estruturada o processo de trabalho. O importante sobre hierarquia e como ela pode ser utilizada em favor da saúde emocional do trabalhador e, portanto, da própria empresa é o modo como ela deve ser (e não necessariamente é), praticada. Lembra-se das autoras que eu citei lá no começo do texto? (Heloani, Capitão, 2003) disponível em http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2. Pois bem, elas têm uma opinião que eu concordo e creio que você também tenderá a isto: as empresas são gerenciadas por pessoas que não passam tempo suficiente nela a ponto de gerar vínculo com os trabalhadores, representarem segurança e conquistarem o respeito do grupo; isto pode gerar no trabalhador que está sob essa hierarquia uma impressão de que: · o líder não se apega; portanto, não se compromete. Então, todo chefe pode nos descartar; insegurança! · a instituição muda o quadro de pessoal de tempos em tempos; insegurança! Percebe que estou em todo o momento colocando o papel da instituição em conjunto com o da administração? E você, que está próximo de se tornar o enfermeiro do trabalho desta instituição, estará, literalmente, intermediando estas relações, afinal, precisa promover saúde, prevenir doença e controlar o absenteísmo em um ambiente de trabalho motivador e produtivo. Ufa!! http://bvs.sld.cu/revistas/gme/pub/vol.6.(2)_06/ http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2 11 Quando eu escrevo “intermediar”, estou me referindo ao fato de que você tem a responsabilidade e, para te auxiliar neste futuro processo sugiro (e a literatura que discutimos até agora, também) que há necessidade de sensibilizar os dois lados envolvidos, trabalhador e administração, de que hierarquia pode ser usada a favor de todos e tornar o clima organizacional (percebe como os conceitos vão se relacionando?). A conversa seria mais ou menos esta: “o trabalhador passa a maior parte do seu tempo no ambiente profissional, correto? Então, se este ambiente demonstrar que existem conflitos, excesso de autoridade e desapego à função ou ao cargo, ele talvez se ausente mais, adoeça mais, trabalhe menos e com menor qualidade, o que pode gerar prejuízo para a empresa e para o trabalhador. Quem ganha com isso?” Percebendo que a matemática não fecha capaz que a sensibilização aconteça. Então, desse conceito, quero que você grave: hierarquia não significa apenas relações de poder, mas sim relações de exemplo, de liderança e de capacidade de induzir o trabalhador naquilo que é correto em um ambiente saudável, evitando, assim, desconforto emocional. Esta matemática, para mim, é positiva e para você? Sempre recomendo, em minhas aulas, a leitura e a discussão sobre os textos de (Chiavenato, 2004). Ele nos coloca algumas considerações sobre as estruturas de trabalho atualmente sobre as quais quero que você reflita: · As instituições de trabalho são como seres vivos, ou seja, cada parte é responsável por uma tarefa que juntas compõem um processo. Se uma falhar ou simplesmente não desempenhar o papel esperado... problemas à vista, queda na produtividade, autoridade excessiva, desmotivação, afastamento, licença, falta. · O trabalho desempenhado nas empresas é dinâmico, muda constantemente; o que requer do profissional certo ambiente de trabalho propício para este desempenho e, de novo, se há doença mental relacionada ao trabalho não há produção. Novamente, a Enfermagem do trabalho tem uma contribuição importante no sentido de elaborar programas sobre esse assunto e discutir esse tema com representantes tanto da administração quanto dos trabalhadores. Você é fundamental!! · A rotina a ser compreendida é que não há rotina, ou seja, é importante criar laços com a empresa e com o grupo, mas isso não quer dizer que a tarefa não vá mudar ou “as coisas aconteceram sempre assim, portanto vão continuar acontecendo assim, para que mudar?” Você já ouviu isso? Certamente. O importante, em relatos como esse, é que haja uma política de sensibilização dos trabalhadores em relação à possível ocorrência de mudança sem ferir o elo ou o climaorganizacional. Lembre-se: informação é poder e quanto mais estratégias a Enfermagem do trabalho elaborar, mais preparados e sensibilizados os trabalhadores estarão. Assim, as mudanças que podem ser propostas (e não estou querendo dizer que elas são sempre positivas ou construtivas) serão melhor assimiladas e refletidas. Dessa forma, os funcionários podem opinar, aderir, propor eles mesmos outras mudanças e, de novo, se sentirem valorizados. 12 Unidade: Fatores Psicossociais e Atividade Profissional O parágrafo que te escrevi acima se relaciona com o próximo conceito de (Chiavenato, 2004): As instituições são auto-organizadoras, ou seja, se a equipe mostrar que está envolvida no processo de trabalho, diagnosticar problemas e trazer soluções junto com este levantamento será “empoderada”, ouvida, acatada e, portanto, motivada. Releia o conceito 1: a empresa é como o nosso organismo: se você tem dor, a pressão eleva correto? Então, avaliemos a dor e a tratemos para controlar os níveis da PA por consequência. No trabalho, é o mesmo e os funcionários também precisam ser orientados para avaliar as “dores”. O seu trabalho é fundamental nas instituições! Eu te contrataria se fosse gestora ou mantenedora de uma empresa!! Temos dois últimos conceitos que o autor aborda de maneira separada, mas eu vou unir em um só, pois acredito que não existem isoladamente: Conhecer a empresa como um todo e considerá-la como um sistema aberto. Primeiro, se o administrador, o funcionário ou o enfermeiro do trabalho não conhecerem e se fizerem conhecer pela instituição, não tem relação de comunicação sequer, que dirá política de saúde no trabalho, concorda? Portanto, dedique tempo fazendo visitas aos setores, converse com os trabalhadores, se faça reconhecer enquanto a pessoa (senhor/ senhora ...) que é o profissional da Enfermagem do trabalho. Pense no quanto você se sente à vontade em um ambiente amigável, até quando os problemas acontecem (e isso é normal!), certamente, são encarados de maneira mais tranquila, com menos conflitos, não é? Aliás, é nesse ambiente, com este clima de confiança, respeito e ética que você tem a responsabilidade de contribuir a construir e isso só será possível se os trabalhadores te conhecerem. Quando nos conhecemos, comunicamo-nos, invariavelmente, sempre. Em 100% dos casos, estamos influenciando outras pessoas e nos deixando influenciar por elas, ou seja, somos como panelas com a tampa aberta: sujamos o fogão todo; então, já que isto é irremediável, que nos lambuzemos de molho aos quatro queijos (ou o seu preferido, o meu você já entendeu, não é?!). O dito “sistema aberto” é esta via de mão dupla na comunicação e nos relacionamentos do trabalho, vale a premissa que te citei alguns parágrafos acima e é o segundo mantra da unidade: “Trabalhar em um ambiente de diálogo aberto é sempre melhor”. Neste momento, você questiona se conflitos não podem acontecer neste processo e eu te respondo com absoluta certeza: acontecem sim, e quem disse que conflito é sempre negativo? Não é sinônimo de briga, mas sim de divergência de opiniões que podem ser discutidas, negociadas, expostas e, às vezes, gerar embate, mas depois de refletido, na maioria dos casos, as partes chegam a um acordo comum, que fique bom para todos os envolvidos, sem privilégios de ninguém e de todos ao mesmo tempo. 13 Mas é importante que eu te diga também que alguns grupos não têm maturidade social para esse tipo de relacionamento. Então, é de responsabilidade da administração (você junto, mas como suporte!) propor dinâmicas e atividades que estimulem a aquisição dessa maturidade e isso demanda tempo. Mas é totalmente aplicável e alcançável. Outra coisa de que preciso te lembrar: alguns conflitos não acabam em paz, geram outros conflitos maiores e, por vezes, nós também podemos incorrer em erros ao gerenciar ou propor à direção que gerencie de determinada maneira. Isto é completamente aceitável, se lembrarmos dos princípios de (Chiavenato, 2004): nós também precisamos mudar, levamos um tempo até nos adequarmos às rotinas e podemos exercer ou sofrer influência que não é a mais adequada. O que não podemos, sob nenhuma justificativa, é deixar de proporcionar a comunicação dentro de padrões éticos e de respeito. Tenho certeza que, ao longo de sua vida, você usa desses elementos. Agora é hora de sensibilizar as pessoas para que façam isso no ambiente de trabalho, e isto, garanto, é tarefa para profissionais qualificados e atualizados em relação ao ambiente de trabalho, à saúde mental no trabalho e à administração. O papel do profissional enfermeiro do trabalho nesse contexto, cujo foco é a prevenção de males emocionais relacionados ao trabalho depende enormemente dos conceitos que discutimos nesta Unidade até o momento: · há que se terem competências técnicas especificamente desenvolvidas para o desempenho do processo de trabalho da Enfermagem do trabalho; e · há de serem reconhecidos e treinados os elementos da administração que auxiliam o profissional de Enfermagem do trabalho para prevenir a ocorrência de males emocionais decorrentes do trabalho. Um instrumento importante para a mensuração da saúde mental dos trabalhadores de Enfermagem, em uma determinada empresa, é proposto pela Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN), em sua sede no Rio de Janeiro, conforme descrito no ideograma abaixo. Você deve perceber que o histórico de vida do trabalho precede de dados relacionados à saúde física do trabalhador em associação a algumas perguntas para que diga a percepção sobre o ambiente de trabalho em relação às suas rotinas; vale a pena, na empresa em que você trabalhar, procurar inserir os aspectos de clima organizacional, relações de hierarquia, liderança e comunicação que discutimos até este momento. Nesse parágrafo escrito acima, quero te deixar uma mensagem que julgo importante: por mais atualizados que os instrumentos que temos em mãos sejam, sempre podem ser melhorados, cada vez que você lê ou aplica nos trabalhadores vai perceber “faltou perguntar isto”. Que bom! Sinal de melhora na ciência!! 14 Unidade: Fatores Psicossociais e Atividade Profissional São boas as condições de trabalho? Há divulgação de informações claras e precisas sobre: · riscos ocupacionais do ambiente de trabalho; · prevenção de acidentes e doenças profissionais ou do trabalho; · procedimentos a serem adotados em caso de incidentes, acidentes e em situações de emergência. · Na dúvida, você sabe a quem recorrer para esclarecer-se sobre saúde, higiene e segurança do trabalho. · Todos os lavatórios e pias do seu ambiente de trabalho possuem torneiras ou comandos que dispensam o contato das mãos para o fechamento da água e são providos de sabão líquido e toalhas descartáveis para secagem das mãos. · Há disponibilidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados aos riscos. · Há equipes especificamente treinadas para a manutenção e transporte de pacientes. · Você está protegido (recebeu vacinas e/ou imunoglobulinas; conhece seu nível imunitário?) contra as seguintes doenças: Caxumba, Difteria, Gripe, Hepatite, Rubéola, Sarampo, Tétano, Tuberculose, Varicella Zoster. · Você sempre adota um comportamento seguro na execução de suas tarefas. · A legislação sobre saúde, higiene e segurança do trabalho é cumprida. · Você se considera um trabalhador-cidadão. Atenção! Quanto mais respostas negativas forem dadas a essas questões, mais riscos você corre. Você e todos os trabalhadores, pacientes/clientes e demais pessoas (acompanhantes, visitantes, prestadores de serviços esporádicos; eventuais) de seu ambiente de trabalho. Fonte ABEN No processo de Enfermagem do Trabalho, o desempenho profissional associado à maneira como a instituição trata e se comporta junto aos colaboradores, além de problemas de comunicação, conflitos, diferenças de opiniões podem significar causas de doença mental no trabalho. O foco desta nossaprimeira unidade foi discutir as questões da saúde mental do trabalhador de modo a refletirmos de que tem possibilidade de que você enfermeiro do trabalho, usando estratégias da administração, possa prevenir os males e, se eles já estiverem instalados (que pena!), usando de diálogo, comunicação e resolução de conflitos, os quais, sabemos, compreendem doenças mentais que implicam em afastamento e queda na produtividade; o verdadeiro pavor das empresas! Deixo uma atividade para ser desenvolvida por você nesta unidade: Leitura e análise do texto Heloani JR, Capitão CG. Saúde mental e psicologia do trabalho. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 17(2) 2003. Disponível em: http://www.scielo. br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2 e 6 atividades de múltipla escolha. http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2 http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2 15 Material Complementar Para aprofundar-se no tema da unidade, salientamos que a produção científica complementar destacada é: • Chiavenato I. Introdução à Teoria Geral da Administração. 3 ed. rev e at. RJ: Elsevier, 2004. A leitura e a compreensão acerca dos materiais e dos conceitos que definem a saúde emocional no ambiente profissional se tornam importantes para a formulação de bases para o planejamento de ações da Enfermagem do Trabalho. 16 Unidade: Fatores Psicossociais e Atividade Profissional Referências Kuazaqui E, Tanaka LCT. Marketing e gestão estratégica de serviços em saúde. São Paulo: Thomson Learning, 2008. Heloani JR, Capitão CG. Saúde mental e psicologia do trabalho. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 17(2) 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v17n2/a11v17n2 Araújo TM, et al. Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbios psíquicos entre trabalhadoras de enfermagem. Rev. Saúde Pública 2003;37(4):424-33. Disponível em: www.researchgate.net/trabalhoenfermagem/004635240927b38bce Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN). Cartilha do trabalhador de Enfermagem: saúde, segurança e boas condições de trabalho. Rio de Janeiro: 2006. Disponível em: bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_aben.pdf Chiavenato I. Introdução à Teoria Geral da Administração. 3 ed. rev. e at. RJ: Elsevier, 2004. 17 Anotações