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BOAS VINDAS Desejamos as boas-vindas ao curso LIBRAS: FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA Informe-se do conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, conheça os objetivos da disciplina, a organização dos temas e o número aproximado de horas de estudo que devem ser dedicadas a cada unidade. O período de duração é compreendido em 12 semanas, totalizando a carga horária de 80 horas/aula. Cabe a você administrar o tempo conforme a sua disponibilidade. Contudo, lembre-se de que há um prazo para a conclusão do curso. Lembramos que o curso inclui a realização das atividades avaliativas (tarefas) para cada unidade apresentada. Os conteúdos estão organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles são abordados por meio de textos básicos, com questões para pesquisa e reflexão. No transcorrer das atividades e unidades são indicadas, também, outras fontes de consulta, para aprofundar os estudos, tais como leituras acadêmicas, assistência de vídeos, fóruns de debates e pesquisas complementares. Lembre-se de que, não obstante o caráter virtual, porém estaremos sempre muito próximos. JUSTIFICATIVA O curso em LIBRAS: FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA busca a formação teórica e a reflexão sobre os conceitos que envolvem a língua de sinais, seu aporte histórico, legislações, conteúdos necessários para uma prática pedagógica que perceba as necessidades da pessoa surda bem como o cenário atual do ensino de Libras. 1. OBJETIVOS 1.1. Objetivo Geral Desenvolver a compreensão das dificuldades de comunicação e da aprendizagem do aluno surdo na sociedade e na escola. Entender o cenário contemporâneo do ensino de Libras. Perceber a função da língua de sinais frente ao preconceito da sociedade atual. Perceber as necessidades da pessoa surda. 1.2.Objetivos Específicos • Conhecer as necessidades da cultura surda por meio da Libras. • Compreender os aspectos históricos da surdez. • Compreender e refletir sobre a educação de surdos. • Conhecer e refletir sobre uma prática de ensino para surdos baseada no bilinguismo. AVALIAÇÃO Constituir-se-á de trabalhos elaborados durante o desenvolvimento do curso, com auxílio dos professores e memorial acadêmico. As atividades avaliativas objetivam duas ações principais: a) Favorecer o processo de aprendizagem do cursista, por meio de atividades reflexivas e analíticas. b) Fornecer subsídios para o tutor avaliar o desenvolvimento do cursista nas atividades e a adequação aos objetivos propostos para a formação do curso. As atividades sugeridas no decorrer das unidades o curso devem ser realizadas pelo aluno, para compor seu diário de formação. Para realizar essas atividades, o cursista poderá consultar os livros indicados na bibliografia, artigos em meio eletrônico ou outras produções acadêmicas de seu conhecimento que versem sobre o assunto em questão, assim como relatar experiências e vivências profissionais. Você contará com o apoio e a orientação de um tutor experiente no assunto, que irá interagir com você sanando suas dúvidas e estimulando a discussão de temas importantes por meio das seguintes ferramentas. O sucesso de sua aprendizagem dependerá de sua disciplina e determinação para o estudo. De nossa parte, você contará com o apoio docente e administrativo, sempre que sentir necessidade. Observações: 1. Se sentir necessidade, entre em contato com o seu tutor. 2. Só encaminhe as atividades quando todas estiverem prontas, pois vale nota. 3. A nota mínima para aprovação é 8,0. Caro (a) aluno (a), Agora vamos dar inicio ao curso LIBRAS: FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA. Este é o nosso Caderno de Orientação de Estudos e Atividades Avaliativas. Esse material foi elaborado com o objetivo de contribuir para a realização e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos no tocante aos conteúdos pertinentes a LIBRAS: FUNDAMENTOS PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA. Objetiva ainda, informar sobre o conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, as atividades avaliativas a serem realizadas, para que conheça os objetivos, a organização dos temas e o número de horas de estudo que deve ser dedicado a cada unidade. A carga horária do curso é de 200 (duzentas) horas, cabendo a você administrar seu tempo conforme a sua disponibilidade. Mas, lembre-se, há uma data limite para a conclusão do curso, implicando a apresentação, ao seu tutor, das atividades avaliativas indicadas nesse caderno, que contém as respectivas pontuações e prazos de acordo com o cronograma disponível na plataforma. Os conteúdos e as atividades avaliativas foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, que farão parte das atividades avaliativas do curso; serão indicadas também, outras fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados no transcorrer desse curso! A Coordenação UNIDADE I CONCEITOS GERAIS SOBRE A SURDEZ– 20 horas Conteúdo Programático: Conceitos gerais sobre a deficiência auditiva. Aspectos biológicos. Possíveis causas. Aspectos históricos da surdez. Objetivos: - Conhecer as causas e consequências da deficiência auditiva, identificando os cuidados básicos com a saúde auditiva e a prevenção de doenças que podem causar a surdez. - Ter conhecimentos sobre as dificuldades de comunicação do ouvinte para com os surdos e vice e versa buscando uma relação sem preconceitos. - Perceber as conquistas do surdo ao longo da história para reconhecimento de suas necessidades pedagógicas. Introdução A deficiência auditiva é definida como a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons. Será considerando surdo o indivíduo cuja audição não seja funcional na vida comum e, parcialmente surdo, aquele que tem audição funcional, independentemente do uso de prótese auditiva. Estima-se que pelo menos uma, em cada mil crianças, nasce profundamente surda. Outras desenvolvem problemas auditivos ao longo da vida, sejam eles resultantes das mais diferentes causas. Os problemas auditivos desenvolvidos tardiamente têm causado uma grande preocupação no que diz respeito à comunicação. Pois, a pessoa era usuária da Língua Portuguesa e, mesmo não a tendo perdido como um todo, ela terá a necessidade de se adaptar à nova maneira de falar e de compreender o que os outros falam. Se essa pessoa não consegue estabelecer nenhuma forma de comunicação oral, então será ainda mais difícil e, às vezes, traumático, pois ela terá que passar por um processo de reabilitação para aprender a Língua Brasileira de Sinais — LIBRAS e, posteriormente, ingressar em uma comunidade de surdos. Nessa unidade trataremos sobre os conceitos relacionados à pessoa surda tais como: Conceitos gerais sobre a deficiência auditiva, seus aspectos biológicos, possíveis causas. Além dos aspectos históricos da surdez que contribuam para o entendimento da necessidade do ensino da Libras. Então, vamos iniciar nossos estudos apresentando alguns conceitos que consideramos importantes: Tipos de surdez A Surdez pré-lingual se acha presente desde o nascimento da criança ou ocorre em idade anterior à aquisição da fala. A outra é a Surdez pós-lingual, que ocorre em idade posterior à aquisição da fala e da linguagem. Existem hoje dois principais tipos de problemas auditivos. O primeiro deles afeta o ouvido externo ou médio e provoca dificuldade auditiva "condutiva" — dificuldade de transmissão do som —, que pode ser tratada e curada quando detectada a tempo. O segundo, porsua vez, afeta o ouvido interno — o nervo auditivo — causando um tipo de deficiência conhecida como surdez neurosensorial, que é irreversível. A deficiência auditiva pode ser congênita ou adquirida. As principais causas da deficiência congênita são: hereditariedade, virose materna (rubéola, sarampo), doenças tóxicas da gestante (sífilis, citomegalovirus, toxoplasmose), ingestão de medicamentos ototóxicos (que lesam o nervo auditivo) durante a gravidez. A deficiência será adquirida quando existir uma predisposição genética (otosclerose), quando ocorrer meningite, ingestão de remédios ototóxicos, exposição a sons impactantes (explosão) e viroses. É importante destacar quais as causas potenciais da deficiência auditiva e suas principais fases de ocorrência: Causas pré-natais: • desordem genética ou hereditária; • consangüinidade e fator Rh; • doenças infecto-contagiosas como rubéola, sífilis, citomegalovirus, toxicoplasmose, herpes; • remédios ototóxicos, drogas, alcoolismo materno; • desnutrição, subnutrição, carências alimentares; • pressão alta; • diabetes; • exposição à radiação. Causas peri-natais: • pré-maturidade, pós-maturidade, anóxia, fórceps; • infecção hospitalar e outros. Causas pós-natais • meningite; • remédio ototóxicos, em excesso e sem orientação médica; sífilis adquirida; • sarampo, caxumba; • exposição contínua a ruídos ou sons muito altos; traumatismo craniano e outros. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, OMS, 1,5% da população dos países em desenvolvimento tem problemas relativos à audição (BRASIL, 1997, p. 34). Portanto, é importante que se efetivem políticas de campanhas preventivas em maior âmbito na divulgação das campanhas de vacinação para a erradicação de algumas doenças causadoras da deficiência auditiva. Temos três tipos importantes de prevenção: Prevenção primária - que acontece por meio de: • campanhas de vacinação das jovens contra a rubéola; • exames pré-nupciais; • acompanhamento à gestante (pré-natal); • campanhas de vacinação infantil contra: sarampo, meningite, caxumba etc.; • palestras.e orientações às mães. Prevenção secundária - que é realizada tanto na área da saúde, como na área da educação: • na área da saúde, por meio do diagnóstico, da protetização precoce da criança e do atendimento fonoaudiológico; • na área da educação, por meio do atendimento na educação infantil. Prevenção terciária - que é realizada pela Educação Especial com o objetivo de melhorar o nível de desempenho educacional da pessoa surda. A deficiência é classificada como normal, perda leve, moderada, severa e profunda. Observe os quadros a seguir. Quadro I QUALIDADE DO SOM DECIBÉIS S TIPO DE RUÍDO Muito baixo 0-20 Farfalhar das folhas Baixo 20-40 Conversação silenciosa Moderado 40-60 Conversação normal Alto 60-80 Ruído médio de fábrica ou trânsito Muito alto 80-100 Apito de guarda e ruído de caminhão Ensurdecedor 100-120 Ruído de discoteca e de avião decolando Quadro II Classificação das Perdas Auditivas de Davis — para crianças Decibéis (dB): unidades da medida da intensidade ou volume dos sons. GRAU DE DEFICIÊNCIA PERDA EM DECIBÉIS (DB) Normal O a 15 Leve 16 a 40 Moderada 41 a 55 Moderada severa 56 a 70 Severa 71 a 90 Profunda + de 90 Fonte: BRASIL, 1997 Assim como temos a classificação da deficiência auditiva, temos também alguns testes específicos para detectar a perda auditiva. • Emissões Oto Acústicas — EOA, teste eletrofisiológico usado desde os três meses; • BERA — Audiometria de Tronco Cerebral, que indica quando há ausência de resposta, ou seja, quando a criança ou adulto, ao serem submetidos ao teste de audiometria, não emitem nenhuma resposta ou apresentam um déficit auditivo. Esse teste pode ser realizado também nos três primeiros meses de vida do bebê; • Imitância Acústica ou Impedanciometria — também recomendando durante os três primeiros meses, ele irá testar a resposta do tímpano, ossículos e pequenos músculos apensos aos ossículos; (Nesses três primeiros testes, o profissional examina o ouvido do bebê, detectando se há algum comprometimento). • Audiometria com Reforço Visual. A ARV é baseada na técnica de Condi- cionamentos de Reflexos de Orientações (COR) de Suzuki e Ogiba (1961). São apresentados estímulos sonoros, de preferência ruídos fortes ou de fala em tons bem altos. Assim que a criança responder ao som, o profissional apresenta o estímulo visual. É importante salientar que com o conhecimento das patologias que ocorrem com o aparelho auditivo, a comunidade poderá atuar também como agente multiplicador de informações para a prevenção da deficiência auditiva. História da surdez A história é sempre um recurso precioso para o estudo do movimento das ideias. Ela nós permite conhecer o surgimento de uma determinada proposição, seu impacto imediato ou tardio, seu declínio, seu retorno em outro tempo sob condições diferentes, ou a rejeição definitiva pela falta de evidências. A comparação é uma estratégia especialmente interessante quando o tema é a surdez. Até o final do século XV, as pessoas surdas, nas civilizações grega e romana, não eram perdoadas, a sua surdez custava-lhes a vida. Ao longo da sua história, as pessoas surdas enfrentaram descrédito, preconceito, piedade e injustiças, além de serem consideradas loucas. Por volta de 637 d.C., um surdo aprende a falar de forma clara, com a ajuda do bispo John of Bervely. Esse acontecimento foi considerado um milagre. Apesar do resultado, essa metodologia fica perdida no tempo, e a igreja toma para si a autoria do feito. A falta de interesse pelo que diz respeito ao surdo, principalmente por sua educação, vai até o século XV. Os primeiros educadores de surdos surgiram no século XVI, sobretudo na Espanha, França, Alemanha e Inglaterra. Esses educadores desenvolveram diferentes metodologias para educação do surdo. O século XVIII é considerado por muitos o período mais próspero para a educação dos surdos. Nesse mesmo século, houve a fundação de várias escolas para surdos, a primeira em Paris. Também, nessa época, a educação evolui: através da língua de sinais, os surdos podiam aprender a dominar diversos assuntos e exercer diversas profissões. Em 1880, é realizado em Milão, na Itália, o Congresso Internacional de Surdo Mudo, fica definido nesse evento que o método oral é o mais adequado para a educação do surdo. A visão oralista defende a ideia de que só através da fala o indivíduo surdo poderá ter seu desenvolvimento pleno e uma integração social perfeita. Assim, a língua oral é a condição básica para sua aceitação na sociedade. Ficando assim proibido o uso da língua de sinais. No Brasil, em 1855, a educação dos surdos é iniciada no Rio de Janeiro, com a chegada do francês Ernest Huent, num momento em que os surdos não eram reconhecidos como cidadãos. Assim como a França e outros países, o Brasil também deixou de usar a língua de sinais em consequência do Congresso de Milão e passou a usar somente o método oral até a década de 60. Como Skliar (apud SALLES, 2004, p. 55) atesta, Existiram dois períodos na história da educação dos surdos: um período prévio, que vai desde meados do século XVIII até a primeira metade do século XIX, quando eram comuns as experiências educativas por intermédio da Língua de Sinais, e outro posterior, que vai de 1880, até os nossos dias. Essa tendência pedagógica, o oralismo, não obteve resultados, foi um fracasso. Diante da constatação dessa realidade, adota-se uma outra tendência pedagógica, a comunicação total, que inclui gestos criados pela criança surda, língua de sinais, leitura labial, alfabeto manual, leitura oral e escrita. Durante o desenvolvimento dessa tendênciapedagógica, realizam-se também alguns estudos sobre a educação bilíngue. Com a insatisfação dos resultados da http://bilíngüe.com/ comunicação total, houve a necessidade de se implantar uma política educacional bilíngue. Essa política educacional tem recebido o apoio das diversas comunidades surdas e vem obtendo maior sucesso nos países escandinavos, cuja política social e cultural é a da aceitação das diferenças. Já no Brasil, infelizmente, as afirmações realizadas sobre a educação bilíngue não se configuram como realidade da educação de surdos. Saiba mais - A expressão “surdo-mudo”, embora muito usada é pejorativa, pois exemplifica uma visão preconceituosa sobre as pessoas surdas. Os surdos não são mudos. Eles apenas não falam porque não ouvem, mas com auxílio de aparelhos podem desenvolver certa audição e falar de acordo com acompanhamento fonaudiológico. - O bilinguismo é adotado como a proposta que busca resgatar o direito de a pessoa surda ser ensinada em sua língua, a língua de sinais. SINTETIZANDO - Estudamos os conceitos básicos pertinentes à deficiência auditiva (diminuição da capacidade de percepção normal dos sons), as principais doenças que podem causar a surdez (doenças pré-natais, peri-natais e pós-natais), os cuidados básicos para ter uma prevenção eficaz com as campanhas de vacinação; prevenção secundária, nas áreas da saúde e da educação infantil; e prevenção terciária, na área da educação como um todo), como a surdez é classificada (perda normal, leve, moderada, moderada severa, severa, profunda) e os principais testes de identificação (Emissões Oto Acústicas, Audiometria de Tronco Cerebral — BERA, imitância acústica ou impedânciometria, audiometria com reforço visual). - Conhecemos um pouco a história geral do surdo. Vimos que, até o século 15, os surdos não tinham direito à educação. Só no século 16, surgiram os primeiros educadores e as primeiras metodologias de ensino. - No século 18 foram criadas as primeiras escolas para surdos. Conhecemos o trato que lhes era reservado pelas famílias e pela sociedade, e preconceitos e injustiças sofridas. ATIVIDADES AVALIATIVAS QUESTIONÁRIO PRIMEIRA QUESTÃO A deficiência auditiva pode ser congênita ou adquirida. Identifique a afirmação em que todas são causas genéticas: a) ( ) ingestão de medicamentos ototóxicos durante a gravidez e virose materna; b) ( ) exposição a sons impactantes (explosões) e viroses; c) ( ) virose materna e traumatismo craniano; d) ( ) hereditariedade e infecção hospitalar. GABARITO: ( A) SEGUNDA QUESTÃO Você deve ter percebido, ao longo do texto "aspectos históricos da surdez", que a pessoa surda não só teve algumas conquistas, como também perderam outras. Entre as afirmações abaixo, indique a conquista mais representativa para a educação do surdo. a) ( ) No Congresso Internacional de Surdo Mudo, em Milão, fica definido que o método oral é o mais adequado para a educação do surdo e a língua de sinais é proibida nas escolas. b) ( ) O Brasil, como outros países, deixa de usar a língua de sinais e passa a usar somente o método oral. c) ( ) Até o século XV os ouvintes tentavam ensinar a fala para os surdos. d) ( ) Com a insatisfação dos resultados da comunicação total, implantou-se o bilinguismo nas escolas. GABARITO: ( D) ATIVIDADE DISSERTATIVA Após a leitura do material escreva um texto de 15 linhas sobre a importância do bilinguismo para a educação com surdos. O texto deverá ser apresentado em fonte Arial, tamanho 12, espaço 1,5 cm entre linhas. Pontuação das atividades = 25 pontos. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Deficiência Auditiva. Organizado por Guiseppe Rinaldi et al. Brasília: SEESP, 1997. SALLES, Heloisa M. Ensino de língua portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília: MEC, SEESO, 2004. UNIDADE II TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS NA COMUNICAÇÃO COM O SURDO - 20 horas Conteúdo Programático: Tradução, interpretação e comunicação; Narrativas em Libras; Coesão e Coerência. Objetivos: • Identificar as formas de tradução, interpretação na comunicação em Libras. • Compreender a diferença de coerência e coesão entre a narrativa de sinais e a narrativa oral. INTRODUÇÃO Com a aprovação da Lei n.°10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais, a LIBRAS é reconhecida como meio legal de expressão e comunicação entre as pessoas surdas do Brasil e como a primeira língua do surdo. É reconhecido também o fato de essa língua possuir uma estrutura gramatical e lexical diferenciada da Língua Portuguesa, segunda língua do surdo. O Decreto 5626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei anteriormente citada, vem especificar as peculiaridades quanto à formação do Tradutor e Intérprete de LIBRAS — Língua Portuguesa. De acordo com o decreto, a formação do tradutor e intérprete da LIBRAS — Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de Curso Superior de Tradução e Interpretação da LIBRAS/ Língua Portuguesa/ LIBRAS ou por meio do PROLIBRAS- Exame Nacional de Certificação na LIBRAS, com a Certificação em Proficiência em Tradução e Interpretação da LIBRAS/ Língua Portuguesa/ LIBRAS com escolaridade de Nível Superior ou Médio. O intérprete é a pessoa que interpreta de uma língua para outra. No caso específico da LIBRAS, ele interpretará da Língua de Sinais para uma outra língua e vice-versa. O tradutor é conhecido como a pessoa que traduz de uma língua para outra, que traduz um texto escrito de uma língua a outra. No caso especifico da LIBRAS, ele irá traduzir da Língua portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais. O tradutor-intérprete é a pessoa que traduz e interpreta o que foi dito ou escrito. Roberts (apud QUADROS, 2004, p. 73) apresenta seis categorias para analisar o processo de interpretação e as competências de um profissional tradutor-intérprete: - Competência linguística: habilidade em manipular com as línguas envolvidas no processo de interpretação. Os intérpretes devem ter um excelente conhecimento de ambas as línguas envolvidas na interpretação (ter habilidade para distinguir as ideias principais das ideias secundárias e determinar os elos que determinam a coesão do discurso). - Competência para transferência: nem todas as pessoas que conhecem duas línguas têm capacidade para transferir a linguagem de uma língua para outra. Essa competência envolve habilidade para compreender a articulação do significado no discurso da língua- fonte, habilidade para interpretar o significado da língua-fonte para língua-alvo (sem distorções, adições ou omissões), habilidade para transferir uma mensagem na língua- fonte para língua-alvo sem influência da língua-fonte e habilidade para transferir da língua-fonte para a língua-alvo de forma apropriada do ponto de vista do estilo. - Competência metodológica: habilidade em usar diferentes modos de interpretação (simultâneo, consecutivo etc.). Entre as habilidades exigidas estão as seguintes: habilidade para escolher o modo apropriado diante das circunstâncias, habilidade para retransmitir a interpretação, quando necessário, habilidade para encontrar o item lexical e a terminologia adequada avaliando e usando-os com bom senso, habilidade para recordar itens lexicais e terminologias para uso no futuro. - Competência na área: conhecimento requerido para compreender o conteúdo de uma mensagem que está sendo interpretada. - Competência bicultural: profundo conhecimento das culturas que subjazem as línguas envolvidas no processo de interpretação (conhecimento das crenças, valores, experiências e comportamentos dos utentes da língua fonte e da língua alvo e apreciaçãodas diferenças entre a cultura da língua fonte e a cultura da língua alvo). - Competência técnica: habilidade para posicionar-se apropriadamente para interpretar, habilidade para usar o microfone e habilidade para interpretar usando fones, quando necessário. A tradução se pode dar em dois momentos diferenciados: 1. Tradução-interpretação simultânea: é a tradução/interpretação de uma língua para outra simultaneamente. O tradutor-intérprete precisa ser bem ágil, ter domínio das línguas que irá traduzir e interpretar ao mesmo tempo da enunciação. 2. Tradução-interpretação consecutiva: é a tradução/interpretação, de forma consecutiva de uma língua para outra. O tradutor-intérprete ouve ou vê o enunciado e, posteriormente, faz a transcodificação para a língua-alvo. Dentro do contexto da tradução/interpretação, o que não pode ocorrer é o tradutor- intérprete expressar sua opinião ou trocar o sentido do que está traduzindo, ele deverá repassar a informação de forma fidedigna, seja a tradução simultânea ou consecutiva. O intérprete precisa saber usar com expressividade e clareza a linguagem corporal, para poder chegar ao outro. Porém, é ele que, ao interpretar ou traduzir com excelência, empresta plenitude às informações cedidas pelo surdo ou pelo ouvinte ao interlocutor. A interpretação é uma atividade' que usa como próprio instrumento o corpo, a voz, a expressão, a presença cênica. Tudo deve ser bem conjugado pelo intérprete para chegar ao interlocutor de uma maneira clara e objetiva. Essa comunicação com os surdos tem, basicamente, dois caminhos: 1) não é suficiente saber e aprender como usara Língua de Sinais; acima de tudo, é necessário entender o surdo, seus aspectos culturais e identitários e a riqueza de sua língua, é necessário saber usar esses recursos tão importantes nesta comunicação; 2) o sucesso da interpretação também dependerá da relação que o intérprete estabelece com o surdo e o ouvinte, subordinado-se a eles, servindo-os e utilizando-se deles. A comunicação em língua de sinais é reconhecida mundialmente e é um tipo de linguagem que se diferencia dos gestos e mímicas. Cada país possui seu próprio código lingüístico e os meios de se comunicar. No Brasil, a Libras é reconhecida oficialmente. Assim como na Língua Portuguesa temos as questões do regionalismo, o mesmo ocorre na Língua de Sinais, sendo esta uma comunicação viso-espacial. A família deve, desde o nascimento do filho surdo, estabelecer a comunicação com ele, como faria com um filho ouvinte, sem se deixar bloquear pela surdez. Os pais devem conversar com ele a respeito de tudo o que acontece no dia-a-dia, para que a criança desenvolva já vínculos comunicativos com a família. Se a família aceita a surdez de seu filho, facilita todo o desenvolvimento do processo de comunicação, seja qual for o método por ela mais aceito: oralização (leitura labial), comunicação total ou Libras. O importante é estabelecerem uma comunicação. Concordo com a afirmação de Naiman e Schein (apud FREEMAN, 1999, p. 185), que exortam: Não deixe que a comunicação se transforme em campo de batalha. Evite apelos emocionais para escolher um único melhor caminho. A comunicação é importante demais para tal decisão. Seu filho precisa saber o que você está pensando e sentindo e você precisa compreendê-lo. Essa é a questão principal, perante a qual todas as outras empalidecem. Narrativas em Libras: coesão e coerência Em um texto coerente, as palavras ou expressões se interligam por meio de elementos de coesão (pronomes, conjunções, sinônimos etc.). Ter esses conhecimentos é necessário para compreender que um operador argumentativo une as palavras estabelecendo uma relação de sentido entre as estruturas de uma narrativa oral. Na narrativa em LIBRAS, as relações entre as estruturas não se estabelecem da mesma forma. Mas, ainda assim, uma narrativa em LIBRAS não viola os princípios de coerência. Coerência e coesão Um texto oral ou escrito não é um amontoado de frases soltas e desconexas. Para produzir um texto oral ou escrito não basta lançar mão de um amontoado de frases soltas. Ao contrário, as palavras devem se relacionar harmonicamente entre si. Para fazer sentido, o texto deve apresentar uma articulação de ideais. A essa articulação chamamos de coerência. A coerência é a relação lógica das ideias, ou seja, na verdade é o próprio texto, pois um texto sem coerência seria um não-texto. Podemos dizer que a coerência está ligada à compreensão. Ela é decorrente do sentido contido no texto, para quem ouve ou lê. Uma simples palavra em um jornal, poema, canção, discurso político ou de jovem, precisa ter sentido, ou seja, precisa ser coerente. A coerência de um texto depende de vários fatores como: conhecimento de mundo, domínio da língua e algumas regras que possibilitam as diferentes combinações dos elementos linguísticos (articulação gramatical entre palavras, orações, frases e parágrafos) ou elementos de coesão. Segundo Koch (apud QUADROS, 2006, p. 20), a coesão é o fenômeno textual que consiste no modo como os elementos presentes na estrutura superficial se encontram interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando sequências vinculadoras de sentido. Elementos como substantivos, adjetivos, advérbios, preposições, verbos, pronomes, conjunções (operadores argumentativos) e outros, podem ser os responsáveis pela coesão textual. Com a coesão podemos recuperar em uma segunda frase, um elemento citado anteriormente. Por exemplo: "dez garotos foram escolhidos pelo professor para representar a escola nas olimpíadas estudantis. Eles ficaram orgulhos e prometeram voltar com o troféu". Para Fávero (2003), um texto tem uma textura e é isso que o distingue de um não-texto. Assim, a coerência e a coesão contribuem para conferir textualidade a um conjunto de enunciados. É importante também lembrar que a coesão pode auxiliar no estabelecimento da coerência, mas nem sempre se manifesta explicitamente através de marcas linguísticas, o que nos faz concluir que pode haver textos coerentes mesmo que não tenham marcas explícitas de coesão. http://textual.com/ Entre línguas de sinais e línguas orais, há diferenças estruturais, pois suas relações não se estabelecem da mesma forma nos dois sistemas lingüísticos. Nesse sentido, o ouvinte apresenta textos organizados com pensamentos seqüenciais em cadeias coesivas. Já o surdo, na sua produção textual, apresenta a dificuldade de estabelecer ligações entre palavras, segmentos, orações, períodos e parágrafos. Baseando-se nessa idéia, muitas pessoas acreditam que textos produzidos por uma pessoa surda não têm coerência. Seus textos, com efeito, não possuiriam elementos de coesão e suas idéias não estariam organizadas de forma seqüencial. Portanto, para essas pessoas, os textos dos surdos seriam incoerentes. Na verdade, esse pensamento está totalmente equivocado. Como vimos, o texto pode ser coerente sem necessariamente explicitar seus elementos de coesão. Nesse caso, existirão outros elementos contextuais que permitirão estabelecer a coerência. Para ilustrar o que foi dito, observe o texto produzido por uma criança surda. Pedro achar menina ser tão linda. Lúcia ver coelhinho, ele idéia flor dar a menina. Pedro pegar flor dar a menina. Lúcia olhar um flor é tão lindo. Pedro ficar sorriso. Lúcia perguntar qual seu nome? Pedro responder eu ser Pedro. Ela dizer meu nome ser Lúcia. Pedro você ser legal. Lúcia ficar sorriso. Pedro beijar rosto Lúcia O gatinho olhar uma namorar. O texto escrito pelo aluno nos dá a idéia de um estrangeiro, ou seja, a sua produção demonstra ser de uma pessoa não nativa. O que confirma a idéia de que para o surdo o português é uma segunda língua (L2). Nessa produção podemos perceber um escasso usode preposições e algumas inadequações na flexão verbal, características decorrentes do uso da língua de sinais, que possui uma estrutura gramatical toda centrada no espaço. Apesar disso, o texto apresenta uma seqüência de frases que se interligam, mostrando coesão e coerência. Não encontramos erros de ortografia e não aparece o discurso indireto. O autor utiliza pontuação, relatando os fatos de forma legível para o leitor. Podemos observar a influência da estrutura da língua de sinais, como em "Pedro resposta": na Libras, não há um sinal que diferencie as palavras "resposta" e "responder". Essa diferenciação acontece apenas pelo contexto. Pela contextualização podemos perceber, por exemplo, que a palavra "linda" se refere à menina; que "ele" se refere a Pedro; que "idéia" se refere a "dar uma flor à menina". Sugestões de atividades práticas Como você já conhece aspectos biológicos e históricos da surdez, os problemas enfrentados pelos surdos e como ocorrem a coesão e a coerência de um texto produzido por um surdo, veremos agora algumas sugestões de atividades, com base em Quadros (2006), para que você possa aplicá-las e adaptá-las ou para que sirvam de inspiração na criação de novas atividades em sala de aula com a criança surda. 1. Trabalhando com saco de novidades Objetivos • Desenvolver na criança a capacidade de expressar sensações sejam elas táteis ou visuais, de forma "oral" (língua de sinais) e escrita; • Proporcionar experiências que levem a criança a realizar abstrações, análises e sínteses, descrições, classificações e conceituações. Material • Um saco de pano, bem maior que o saco das novidades, onde possam ser colocados ao mesmo tempo vários objetos de formas e tamanhos dife¬rentes. O tecido não pode ser transparente; • Objetos escolhidos conforme o tema a ser trabalhado. Desenvolvimento da atividade a) O saco surpresa fica sempre na sala de aula e pode ser utilizado pelo professor na introdução de temas. Seu uso, portanto, pode ser semanal, quinzenal, mensal ou apenas esporádico; b) Os objetos colocados nele devem ser escolhidos pelo professor conforme o assunto a ser desenvolvido e a ênfase que ele queira dar, de acordo com seu planejamento. Deve-se tomar o cuidado, sempre que possível, de ter um número de objetos maior que o número de alunos, a fim de que todos tenham a oportunidade de participar; c) Esta atividade é desenvolvida em grupo: cada aluno coloca a mão no saco surpresa e pega um objeto para explorá-lo inicialmente sem vê-lo; d) A criança que pega o objeto deve tentar descrevê-lo somente através da percepção tátil. Desenvolve-se aí uma conversação em língua de sinais com todo o grupo a respeito das características do objeto: ele é macio? É áspero? É duro? É redondo? Tem partes móveis? Parece ser de comer? Será que serve para brincar? É bom ou ruim de tocar? É igual ao que o colega pegou antes? Ao esgotar as possibilidades de questionamentos, o objeto é mostrado a todos, relacionado ao seu sinal e confrontado com as afirmações feitas durante a conversação. E assim se continua até que todas as crianças tenham vivenciado esse momento; e) A etapa seguinte consiste em trabalhar com o tema e com todos os objetos que estavam no saco. Isso pode ocorrer de diferentes maneiras, conforme os objetivos traçados pelo professor. - Explorar os sinais de todos os objetos expostos; - Brincar com as configurações de mão dos mesmos; - Explorar o nome dos objetos em alfabeto manual e português; Comparar e analisar as palavras; - Explorar o tema; - Registrar a atividade em desenho e/ou em português, trabalhando depois com o que for elaborado. Leitura complementar Coesão e Coerência de Leonor Lopes Fávero. SP: Ática, 2006. SINTETIZANDO Estudamos as diferentes formas de tradução, interpretação e comunicação em Língua de Sinais (simultânea e consecutiva) e sua importância no cotidiano das pessoas com deficiência auditiva. Estudamos também a lei e o decreto que regulamentam a Língua brasileira de sinais e a atuação do intérprete. Coerência é a relação lógica das ideias e a coesão, a articulação gramatical entre as palavras, orações, frases e parágrafos. A narrativa de um ouvinte apresenta ideias sequenciais em cadeias coesivas. A narrativa de um surdo não apresenta elementos de coesão: as ideias não são organizadas de forma sequencial, mas contam com elementos contextuais. ATIVIDADES AVALIATIVAS Questionário PRIMEIRA QUESTÃO Assinale a alternativa correta: a) ( ) a interpretação pode ser simultânea e consecutiva; b) ( ) são cinco as categorias de interpretação e as competências do profissional intéprete; c) ( ) a comunicação em língua de sinais não é reconhecida mundialmente e é igual a gestos e mímicas; d) ( ) há uma língua de sinais universal, ou seja, uma única língua de sinais para todos os países. GABARITO: ( A) SEGUNDA QUESTÃO Em um texto produzido por uma criança surda percebemos a: a) ( ) ausência de sujeito e de adequação verbal; b) ( ) influência da língua de sinais; c) ( ) adequação verbal; d) ( ) estutura da língua de sinais e a oral é a mesma. GABARITO: ( B) ATIVIDADE DISSERTATIVA Produza um texto dissertativo de 10 linhas, colocando a diferença entre a coerência e a coesão na narrativa de sinais e na narrativa oral. Pontuação das atividades = 25 pontos. REFERÊNCIAS FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e Coerência textuais. SP: ÁTICA, 2003. FREEMAN, Roger. Seu filho não escuta? Um guia para todos que lidam com crianças surdas. Brasília: CORDE, 1999. PERLIN, Gladis. Identidade surda. Surdez, processos educativos e subjetividade. SP: Lavise, 2000. QUADROS, Ronice Muller. O tradutor e intérprete da língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC, SEESP, 2004. UNIDADE III Educação de surdos no Brasil e o intérprete de LIBRAS- 20 horas Conteúdo Programático: Histórico da educação de surdos no Brasil; Intérprete de Libras; Oralismo; Comunicação. Objetivos • Conhecer os aspectos históricos da educação de surdos no Brasil; • Compreender a importância do papel do intérprete de Libras no âmbito educacional; • Compreender as diferenças e as semelhanças entre oralismo e comunicação total na educação do surdo. INTRODUÇÃO No Brasil e no mundo, a abordagem educacional oralista ainda detém grande força. O oralismo é o método que enfatiza a fala e a amplificação da audição, e que rejeita de maneira explícita e rígida o uso da língua de sinais. Já se passaram mais de 10 anos desde a década de 1990, quando a educação recebia as primeiras orientações para atender a imensa demanda pela inclusão de sujeitos culturalmente marginalizados nas práticas de escolarização. Tomada como opção política, a educação inclusiva evoluiu desde então de maneira ambígua, ora apreciada pelo caráter humanista com que se definiam os interesses de sujeitos até então banidos das políticas públicas, ora segregada pelo desconforto que provocaria na ordem vigente do cotidiano da educação formal, ora pelo desarranjo das relações de poder entre as classes sociais que caracterizam a sociedade moderna. Em relação a essa ambiguidade, Scliar (2005, p. 9) atesta que, “ A pedagogia para surdos se constrói, implícita ou explicitamente, a partir das oposições normalidade/anormalidade, saúde/patologia, ouvinte/surdo, maioria/minoria, oralidade/ gestualidade etc.” A surdez, que até agora, foi reconhecida como uma deficiência, quer ser reconhecida como uma diferença, cuja linguagem representa uma experiência visual uma conotação cultural própria. A dificuldade na comunicação é o problema básico da surdez, fato que preocupapais e educadores. Com a dificuldade ou impossibilidade de aquisição da língua por meio da audição e com a consequente dificuldade de comunicação, a criança surda pode apresentar um comportamento agitado e agressivo, ou, apático. Comportamento esse que, na maioria dos casos, é detectado durante o período escolar por professores muitas vezes sem nenhum conhecimento sobre as peculiaridades da deficiência auditiva. A criança ouvinte, a partir da nomeação, evolui até compreender que a palavra sinaliza o objeto presente e, posteriormente, consegue representa-lo na sua ausência. Embora a criança seja capaz de compreender situações do dia-a-dia, a partir do contexto situacional, não consegue adquirir o código da sua comunidade linguística, que estabelece relações entre significante e significado. As propostas educacionais voltadas ao sujeito surdo têm como prioridade proporcionar o desenvolvimento pleno de sua capacidade comunicativa. Diferentes práticas pedagógicas foram utilizadas, cada uma com suas limitações. Uma delas é que, ao final do ensino fundamental, não capazes de ler e escrever satisfatoriamente ou ter um domínio adequado dos conteúdos escolares. Isso impede que muitos deles dêem continuidade á vida estudantil. Essas e outras dificuldades na educação das pessoas surdas motivaram os estudos sobre a língua de sinais. O surdo, mesmo sem ouvir, pode ser competente em uma língua viso- gestual capaz de favorecer seu desenvolvimento integral. Para facilitar a comunicação do professor do professor com a pessoa surda, é necessário observar alguns aspectos: • Use a língua de sinais, língua natural do surdo, que utiliza o canal gestual-visual; • Utilize diferentes formas de linguagem: gestos naturais, dramatização, apontações de objetos; • Não é necessário gritar ou exagerar na articulação, seja natural; • Use as expressões faciais para demonstrar dúvida, questionamento, surpresa; • Tenha calma se você não entender o que uma pessoa surda está querendo dizer. Se necessário, peça para ela repetir ou escrever; • Ao abordar uma pessoa surda toque delicadamente seu corpo para ter sua atenção. Não adianta chamar ou gritar, se ela estiver de costas; • Fale de frente, pausadamente e, sempre que possível, dê pistas visuais sobre a mensagem (gestos, apontamentos etc.). A presença do intérprete de língua de sinais em sala possibilita ao aluno surdo receber a informação do professor, embora isso não seja garantia de que a criança surda aprenda facilmente os conteúdos. O acesso à língua de sinais no espaço escolar pode favorecer o desenvolvimento e a aquisição de novos conhecimentos de forma mais ampla e adequada, atingindo inclusive a aceitação da família para aproximação à comunidade de surdos. Com a presença do intérprete em sala de aula, o professor ouvinte pode ministrar suas aulas sem preocupar-se com a compreensão por parte da pessoa surda. É por meio do intérprete que o aluno surdo se integra a todas as atividades desenvolvidas em sala. O intérprete não deve ser considerado como alguém que fornece explicações sobre a atuação do professor, mas como um profissional bilíngue habilitado à tradução da língua oral e escrita para a língua de sinais e da língua de sinais para a língua oral e escrita. O intérprete precisa ter conhecimentos sobre o funcionamento da comunidade surda e sobre as implicações da surdez no desenvolvimento da pessoa surda. Precisa ter também formação acadêmica, noções linguísticas, técnica de interpretação e um bom nível cultural. Citamos, a seguir, alguns itens do Código de Ética do intérprete. - Os intérpretes devem manter todas as informações relacionadas a seu exercício profissional como estritamente confidenciais; - Os intérpretes devem passar a mensagem e o espírito de quem fala, usando a língua mais facilmente compreensível por parte da(s) pessoa(s) que atendem; - Os intérpretes devem guardar discrição em relação ao local e aos clientes envolvidos; - Os intérpretes devem requerer compensação pelos serviços, de forma profissional e justa; - Os intérpretes devem agir de modo apropriado à situação. Tendências pedagógicas: oralismo comunicação total Diante da necessidade de reflexões sobre as formas adequadas de proporcionar um ensino de qualidade para as pessoas surdas, vamos discutir duas importantes tendências pedagógicas utilizadas na educação do surdo em sala de aula, dando um enfoque às vantagens e desvantagens que ambas provocaram na comunicação e no processo de aprendizagem da criança surda. Oralismo e comunicação total Como já observamos a educação do surdo não evoluiu muito e até hoje permanece cheia de preconceitos, injustiças e incoerências. Nas últimas décadas do século XX, o foco dos debates era se o desenvolvimento da fala deveria ou não ser acompanhado de sinais. Esse impasse foi resolvido no Congresso de Milão, na Itália, em 1980, onde prevaleceu a tendência oralista, como melhor forma de o surdo desenvolver a língua e sua competência comunicativa. Essa decisão foi tomada somente por ouvintes, sem antes saber se realmente os surdos compartilhavam da mesa visão. Desde o início da educação formal, as pessoas envolvidas com os surdos têm concentrado esforços em estudos e debates sobre procedimentos que privilegiassem ou não a linguagem gestual, já que grande parte dos professores de surdos é ouvinte e os surdos convivem em um meio sócio-cultural constituído prevalentemente de ouvintes. Com base nessas considerações e nas orientações do Congresso de Milão, o oralismo passou a ser recomendado como método mais adequado para o ensino de surdos. O oralismo usa a integração da criança surda à comunidade de ouvintes, dando-lhe condições de desenvolver a língua oral, no nosso caso, o português. A língua de sinais é proibida pela corrente oralista. Nesse método de ensino, a aprendizagem da fala é o ponto central. Para desenvolvê-la, são utilizadas algumas técnicas específicas. Elas são basicamente: o treinamento auditivo; o desenvolvimento da fala e a leitura labial. • Treinamento auditivo: estimulação auditiva para reconhecimento e discri¬minação de ruídos, sons do ambiente e da fala; • Desenvolvimento da fala: exercícios para mobilidade e tonicidade dos órgãos do aparelho fonador, exercícios de respiração e relaxamento; • Leitura labial: treinamento para identificação da palavra falada por meio da decodificação dos movimentos orais (lábios) do emissor. Para ter um maior aproveitamento auditivo, faz-se a indicação de prótese individual, que amplifica os sons, pois se admite a existência de resíduos de sons em qualquer tipo de surdez, até mesmo na profunda. Esse método tem como objetivo reeducar auditivamente a criança surda e das técnicas específicas da oralidade. Conforme atesta Vygotsky (apud BRASIL, 1997, p. 301), A ruptura entre som e significado torna estéril o estudo da semântica e da fonética clássica, porque o som separado do significado perde as propriedades específicas que o convertem em som exclusivo da linguagem humana, distinguindo-o dos demais sons existentes na natureza. Vygotsky tinha a convicção de que a fala era de grande importância para o desenvolvimento do ser humano surdo. Embora defendesse a oralização na educação dos surdos, admitia o uso da mímica fora da escola. Acreditava também que à medida que a fala fosse se desenvolvendo, a mímica iria sendo descartada espontaneamente pelos surdos. Apesar de valorizar a linguagem gestual-visual, suas orientações educacionais permanecem voltadas para o domínio da língua falada por parte dos surdos. Durante décadas, o oralismo foi o referencial educacional praticado e divulgado. Praticamente, essa abordagem não foi questionada por quase um século. Em todo esse tempo de trabalho, não houve grandes resultados. A maior parte dos surdosprofundos não desenvolveu uma fala socialmente satisfatória. O desenvolvimento da oralidade em surdos era parcial e tardio em relação à aquisição de fala apresentada pelos ouvintes. A aprendizagem da leitura e da escrita era também tardia e muito problemática. Muitos eram apenas parcialmente alfabetizados após muitos anos de escolarização. Além disso, os surdos eram pouco preparados para o convívio social e apresentavam dificuldades de comunicação. Enfim, nada de realmente importante aconteceu com a aplicação do oralismo. No início da década de 60, iniciaram os estudos sobre língua de sinais de Willian Stoke (1978), que, mais tarde, levarão a uma mudança no enfoque educacional. Seus resultados revelaram que a língua de sinais correspondia em grande parte às características que a linguística identificava nas línguas orais. Com isso, surgiu então uma nova proposta pedagógica para a educação das pessoas surdas: a comunicação total. O objetivo da comunicação total é a possibilidade de desenvolver uma comunicação real com amigos, professores e familiares. A oralização, nessa visão mais ampla, é apenas uma das áreas trabalhadas para possibilitar a integração social do surdo. Comunicação total é a prática de usar sinais, leitura orofacial, amplificação e alfabeto digital, tendo total liberdade de expressão. Os estudos sobre essa nova tendência, em relação ao oralismo, apontam que alguns aspectos do trabalho educativo foram melhorados e que os surdos, no final do processo escolar, conseguem compreender e comunicar melhor. Mas, em relação à escrita, os problemas continuam e poucos sujeitos alcançaram autonomia na produção de linguagem. Poucos casos foram bem-sucedidos e a grande maioria não consegue atingir níveis escolares satisfatórios para a sua faixa etária. Devido à prática dos sinais, a comunicação total favoreceu o contato com a Libras. Mas, apesar do uso dos sinais, os alunos não os aprenderam como uma verdadeira língua, mas como um mero apoio à língua oral. Para Marchesi (apud BRASIL, 1997), a prática da comunicação total com seus procedimentos comunicativos serviria mais aos pais e professores ouvintes que aos alunos surdos. Então, quais seriam as vantagens da comunicação total? Ela favorece o contato por meio dos sinais, antes proibido pelo oralismo. No contato entre os alunos é usada frequentemente a língua de sinais. Já com o professor a língua de sinais alterna-se à língua oral. Paralelamente ao desenvolvimento da proposta da comunicação total, estudos sobre a língua de sinais se tornaram cada vez mais estruturados. Com estes estudos surgiram também alternativas educacionais orientadas para uma educação bilíngue. O serviço de reabilitação oral desenvolvido por fonoaudiólogos tem como objetivo o desenvolvimento da oralidade, caso as pessoas surdas optem por aprender a se comunicar por meio do oralismo. SINTETIZANDO - Foi possível conhecer as propostas de duas das três tendências pedagógicas sobre alfabetização de surdos. - O oralismo não obteve sucesso, pois a maior parte dos surdos profundos não desenvolveu uma fala socialmente satisfatória. - Normalmente, esse desenvolvimento era tardio e parcial em relação à aquisição da fala apresentada pelos ouvintes, implicando assim um atraso no desenvolvimento intelectual. - A comunicação total também revelou algumas falhas na produção de linguagem, embora favorecendo o contato com a língua de sinais. ATIVIDADES AVALIATIVAS QUESTIONÁRIO PRIMEIRA QUESTÃO O intérprete precisa ter: a) ( ) conhecimento sobre o funcionamento da comunidade ouvinte. b) ( ) conhecimento sobre as implicações da surdez no desenvolvimento da pessoa surda. c) ( ) formação básica, isto é, não precisa ter formação acadêmica. d) ( ) noções apenas do oralismo. GABARITO: ( B) SEGUNDA QUESTÃO Identifique a afirmação correta sobre as diferenças e semelhanças entre oralismo e comunicação total. a) ( ) o método oral reeduca auditivamente a criança surda com técnicas específicas de oralidade; na comunicação total, a oralidade é apenas uma das áreas trabalhadas para possibilitar a integração social do surdo. b) ( ) com o oralismo, a maior parte dos surdos profundos não desenvolve uma fala socialmente satisfatória; na comunicação total, alguns aspectos do trabalho educativo foram melhorados. No final do processo escolar os surdos conseguem compreender e se comunicar melhor. c) ( ) no oralismo, a aprendizagem da leitura e da escrita é tardia e cheia de problemas: muitos surdos são apenas parcialmente alfabetizados, após anos de escolarização. Na comunicação total, os problemas continuam e as falhas na leitura e na escrita não são solucionadas. d) ( ) o oralismo não foi escolhido pelos surdos, mas é o resultado do Congresso de Milão. O método da comunicação total é resultado da divulgação dos estudos de Wiliam Stoke. GABARITO: ( C) ATIVIDADE DISSERTATIVA Observando os principais aspectos estudados, desenvolva um parágrafo fazendo um paralelo sobre a sobre a educação de surdos sem a presença do intérprete e com o intérprete. Pontuação das atividades = 25 pontos. REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria de Educação Especial. Deficiência Auditiva. V.1. Brasília: SEESP, 1997. ___________________________________. Língua Brasileira de Sinais. V.III. Brasília: SEESP, 1998. UNIDADE IV BILINGUISMO- 20 horas Conteúdo Programático: Bilinguismo, conceito e importância; Educação bilíngue. Objetivos: • compreender o que é bilinguismo; • refletir sobre as adequações necessárias que o sistema educacional deve realizar para responder às demandas dos alunos surdos; • identificar os principais fatores da proposta bilíngue. INTRODUÇÃO Com a oficialização da LIBRAS em território nacional, foi necessária a reorganização dos sistemas de ensino para a oferta de educação bilíngue. Ao discutirmos o bilinguismo no contexto escolar, temos de ter claro, antes, o que é bilinguismo e é disso que nos ocuparemos logo a seguir . O que é bilinguismo? Bilinguismo é o uso de dois sistemas distintos de linguagem e de estruturação do pensamento, que transformam as experiências em cognições, ou seja, é o uso de duas línguas diferentes por parte da mesma pessoa. Aqui, abordaremos o bilinguismo na educação do surdo. O bilinguismo é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõem de tornar acessível à criança surda e ouvinte duas línguas no contexto escolar, a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais. No cenário brasileiro, não basta só decidir se uma ou outra língua fará parte do programa escolar, mas é necessário também dar condições para que essa língua seja de fato parte do programa. Para os surdos, o bilinguismo ultrapassa a fronteira linguística e implica o desenvolvimento da pessoa surda dentro e fora da escola em uma perspectiva sócio- antropológica. Família Homem O bilinguismo tal como o entendemos é mais do que o uso de duas línguas. É uma nova perspectiva educacional que implica em profundas mudanças de todo o sistema educacional. A educação bilíngue consiste, em primeiro lugar, na aquisição da língua de sinais como língua materna. Surdo em contato com outros surdos passa por um processo de identificação com a comunidade de surdos. Essa comunidade está inserida na grande comunidade de ouvintes que, por sua vez, caracteriza-se por fazer o uso de linguagem oral e escrita. A questão do bilinguismo pode ser discutida em dois níveis: um nível biológico e um nível social. No primeiro nível, trata-se de questões essenciais, como a aquisição da linguagem. Já no segundo nível, discutem-se aspectos relacionados às representações culturais. Aqui, nos ocuparemos do segundo nível. Quadrose Schmidt atestam que, As línguas de sinais são consideradas línguas naturais e, consequentemente, compartilham uma série de características que lhes atribui caráter específico e as distingue dos demais sistemas de comunicação, por exemplo: produtividade ilimitada; criatividade; multiplicidade de funções; arbitrariedade da ligação entre significante e significado e entre signo e referente. As línguas de sinais são, portanto, consideradas pela linguística como línguas naturais ou como um sistema linguístico legítimo, e não como um problema de surdo ou como uma patologia da linguagem. Stoke, em 1960, percebeu e comprovou que a língua de sinais atendia a todos os critérios linguísticos de uma língua genuína, no léxico, na sintaxe e na capacidade de gerar uma quantidade infinita de sentenças (apud QUADROS, 2006, p. 15-161. O ensino de LIBRAS nas escolas exige a formação de professores bilíngues, professores tradutores e intérpretes de Libras para atuação no contexto educacional e em outros segmentos sociais. A partir das políticas linguísticas, criaram-se formas de cultivar, divulgar e preservar a língua brasileira de sinais. Uma dessas formas é a tradução das políticas linguísticas no âmbito educacional. A lei 10.436 de 2002 ao mesmo tempo em que reconhece o estatuto linguístico da língua de sinais, assinala que essa não pode substituir a língua portuguesa. Segundo Quadros (2006), o MEC/SEESP, em função de a língua portuguesa ser, em virtude da Constituição Federal, a língua oficial do Brasil, faz a recomendação de que seu uso seja obrigatório nas relações sociais, culturais, econômicas, jurídicas e nas instituições de ensino. Portanto, a exigência de os surdos aprenderem a língua portuguesa como segunda língua é baseada no fato de que eles são cidadãos brasileiros e como tais têm o direito de usar e aprender a língua oficial, importante para o exercício de sua cidadania. No Brasil, a educação bilíngue é a garantia de acesso à educação por meio da língua de sinais, e o ensino da língua portuguesa escrita como segunda língua é marcado pelo decreto 5.626 de 2006. Assim, a língua portuguesa é a segunda língua do surdo, com suas funções sociais representadas no contexto brasileiro. Ao introduzir a língua de sinais no espaço escolar, a língua portuguesa continua ocupando o lugar principal, e a língua de sinais entra como língua secundária. No campo político, os surdos querem aprender na língua de sinais, privilegiando-a como língua de instrução. Estão se afirmando como grupo social e buscam formas de resistência e de auto-afirmação. São eles que conhecem mais profundamente a língua de sinais e que sabem ensinar os surdos. Mesmo que o professor ouvinte seja altamente qualificado em língua de sinais, há uma diferença de status Treinar entre ele e o professor surdo. Para Quadros (apud FERNANDES, 2006), o bilinguismo na educação de surdos envolve questões políticas, sociais e culturais. A educação de surdos, em uma perspectiva bilíngue, deve ter um currículo organizado em uma perspectiva visual-espacial para garantir o acesso a todos os conteúdos escolares na própria língua de sinais brasileira. A educação bilíngue para criança surda pode ter diferentes contextos. Isso dependerá das ações de cada Estado e município brasileiro. Mas, independentemente do contexto de cada Estado ou município, é indispensável à presença de professor bilíngue. Assim a criança surda terá a garantia de permanência na escola. Educação bilíngue para surdos A língua de sinais possui uma riqueza cultural muito grande. Como você já sabe, a língua de sinais é baseada na cultura visual dos surdos, que oferece um amplo universo de representações de mundo, encadeando as palavras não de forma linear e sequencial, como na comunicação oral e escrita, mas de maneira simultânea e multidimensional. Toda essa riqueza ainda é desconhecida pela maior parte da população e oferece uma compreensão nova das pessoas surdas, como integrantes de uma minoria linguística, tal como ocorre com as comunidades indígenas e de imigrantes. A oficialização da Libras em nível nacional representa o primeiro passo para a definição de políticas linguísticas que contemplem a cidadania bilíngue dos surdos brasileiros. Os debates feitos pelas escolas têm a ver com procedimentos e práticas de transferência do oralismo para a comunicação total e não dizem respeito à adoção da língua de sinais. Dessa forma, a mudança para o bilinguismo ainda não representará uma efetiva aceitação do uso da língua de sinais em toda a escola. Geralmente, as escolas têm conselhos de administradores e, raramente, há um surdo participando das decisões. Uma vez que o sistema educacional é majoritário, os currículos provavelmente serão centrados na audição e nos ouvintes. Dificilmente, ocorrem nas escolas exames das reais necessidades das minorias como base de definição dos currículos. Sem uma mudança substancial desse cenário, provavelmente as crianças surdas continuarão a fracassar, mesmo em um sistema bilíngue que adota a língua de sinais. A responsabilidade de ensinar fica com os professores, que raramente recebem treinamentos para trabalhar com surdos. Geralmente, os treinamentos são baseados em perspectivas de ouvintes. Além disso, um ponto crucial para a introdução de um sistema bilíngue é o aprendizado da língua de sinais. Os ouvintes têm muita dificuldade em aprender a língua de sinais, por razões sociais, psicológicas, linguísticas e educacionais. Para que as pessoas surdas possam tornar-se leitores na língua portuguesa, primeiro precisam tornar-se leitores na Libras. Mas, no Brasil, isso não acontece: a criança surda é alfabetizada na língua portuguesa sem ter sido na língua de sinais. Para amenizar a situação, o professor dessas crianças recorre a recursos como o relato de histórias e a produção de histórias infantis em sinais. Outro recurso importante é o uso de vídeos literários produzidos por adultos e por crianças. Esses são instrumentos interessantes que favorecem o processo de reflexão sobre a língua. Segundo Skliar (1999, p. 23), é importante para os programas bilíngues o acesso dos surdos à língua de sinais desde cedo, ou seja, criança surda deveria adquirir a língua de sinais bem antes de entrar na escola. Doriziat (apud SKLIAR, 1999) atesta que para estudiosos dos EUA, da Europa e da América do Sul só por meio do reconhecimento das diferenças haverá uma igualdade de condições de vida entre surdos e ouvintes. Para esses estudiosos, reconhecer as diferenças é reconhecer as limitações e potencialidades dos surdos, no que diz respeito ao seu desempenho na aquisição de uma língua oral auditiva e a sua habilidade lingüística visualgestual. É a língua de sinais que oferece condições de os surdos se tornarem seres humanos em sua plenitude. Para Skliar (1999), a separação entre educação especial e educação de surdos é imprescindível para que a educação bilíngue desenvolva certa profundidade política. Assim, a educação bilíngue não poderá ser conceituada como um novo paradigma de educação especial, mas como um paradigma oposicional. Com base na imensa quantidade de surdos que está fora do sistema escolar e que foi excluída muito antes de completar a educação básica, Skliar (1999, p. 12-13) nos convida a dois tipos de reflexão: A primeira: a educação bilíngue não como um ideal pedagógico a ser desenvolvido apenas dentro das escolas, mas também nos diferentes contextos históricos e culturais. A segunda: as maneiras através das quais a surdez — como diferença — é constituída e determinada nos projetos político-pedagógicos atuais. Em um contexto bilíngüe, as pessoas usam diferentes línguas em contextos completamente diferenciados. Conhecer várias línguas não atrapalha, só enriquece e abre um leque de representaçõeslingüísticas dependentes de diferentes contextos. No caso, por exemplo, de uma criança ouvinte, com pais surdos, babá ouvinte e familiares ouvintes, a criança produz combinações de sinais da língua brasileira de sinais e da língua portuguesa. Se a babá lhe perguntar algo, responderá em português; logo em seguida, poderá usar a língua de sinais ao se dirigir ao pai sinalizante. Nesse caso, ela é bilíngüe e alternará os códigos em função da necessidade comunicativa. Para a criança surda, o ambiente bilíngüe em casa é de grande importância para o seu desenvolvimento. Sem o envolvimento da família no processo, o desenvolvimento bilíngüe será limitado. Portanto, é vital para seu bem-estar e progresso no mundo que as crianças surdas sejam bilíngües. SAIBA MAIS Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005 regulamenta a Lei 10.436 de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais — Libras; art. 18 da Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: http:www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2005/Decreto/D5626.htm. Filmes - Os Filhos do Silêncio. Direção: Randa Haines. Ano: 1986. País: Estados Unidos da América (EUA) James Leeds (William Hurt) é um idealista professor de linguagem de sinais que gosta de usar métodos pouco convencionais. - A Música e o Silêncio. Direção: Caroline Link. Ano: 1996. País: Alemanha. A jovem Lara, vivida na infância por Tatjana Trieb e na juventude por Sylvie Testud, é a ponte de comunicação entre os pais surdosmudos e o mundo exterior, em uma pequena cidade do Sul da Alemanha. - O Som do Silêncio. The Sound Of Silence (Original).Ano: 2012. País: Estados Unidos da América (EUA) Um rapaz e uma garota surda se apaixonam, e ele tenta se encaixar no mundo dela. A trilha sonora é um remix da música “The Sound of Silence” de Simon & Garfunkel. - E seu nome é Jonas. And your name is Jonah (Original). Ano: 1979. País: Estados Unidos da América (EUA) Por um erro de diagnóstico, Jonas, um garoto surdo, é internado – ainda pequenino – em uma instituição para crianças com deficiência intelectual. Sua família ouvinte, ao descobrir o engano, retira-o do internato e o traz de volta à casa, matriculando-o em uma escola (oralista) para surdos. - Alfabeto em Libras, disponível em: www.lsbvideo.com.br SINTETIZANDO - O bilinguismo é o uso que as pessoas fazem de duas línguas diferentes em diferentes contextos. - As políticas linguísticas necessárias são a reorganização do sistema de ensino, divulgação da Língua Brasileira de Sinais. - A educação bilíngue é de extrema necessidade para o desenvolvimento e a comunicação do surdo. ATIVIDADE AVALIATIVAS QUESTIONÁRIO PRIMEIRA ATIVIDADE Por quais adequações deve passar o sistema educacional, para a educação bilíngue alcançar seus objetivos? a) ( ) a criança surda deve se adaptar à linguagem da criança ouvinte. b) ( ) deve haver um currículo organizado em uma perspectiva visual-espacial, para que seja garantido o acesso a todos os conteúdos escolares na língua de sinais e para que o uso dessa língua se difunda em toda a escola. c) ( ) não haverá necessidade de professores bilíngues na sala de aula. d) ( ) devem-se trabalhar as técnicas específicas da oralidade. GABARITO: ( B) ATIVIDADE DISSERTATIVA Faça um texto de 15 linhas expondo a importância do bilinguismo para a escola e para o aluno surdo. Pontuação das atividades=25 pontos. REFERÊNCIAS FERNADES, Eulália (org.) Surdez e bilinguismo. POA: Mediação, 2005. QUADROS, Ronice; SCHMIDT, Magali. Ideias para ensinar português para alunos surdos. Brasília: MEC, 2006. SKLIAR, Carlos. Atualidade da Educação Bilíngue para Surdos. POA: Mediação, 1999. PARA NÃO FINALIZAR Nosso objetivo aqui não foi o de ensinar LIBRAS, uma vez que, devido ao seu status de língua, demandaria muito mais tempo para ser aprendida. Mas o de que você tenha tido contato com os principais aspectos relacionados à língua brasileira de sinais e compreenda sua importância para a educação de surdos, bem como para a cultura, a história e a identidade surda. De compreender como aconteceu a educação de surdos, desde a idade antiga até os dias atuais, e a estudar os aspectos linguísticos básicos que diferenciam a Língua Brasileira de Sinais e Português Brasileiro, observando as diferenças e similaridades existentes entre as duas línguas. Nessa caminhada, você compreendeu em que consiste uma educação bilíngue para os surdos, o papel do professor de LIBRAS e a atuação do intérprete de língua de sinais em contextos educacionais. Refletindo ainda sobre o ensino aprendizagem da LIBRAS em contextos educacionais e o ensino do português como segunda língua para surdos, questões essas que têm implicações importantes no seu papel como educador. Nosso desejo é que os conteúdos estudados aqui, contribuam para uma intervenção pedagógica mais consciente no que diz respeito à educação de surdos.
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