Buscar

REGIMES E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

REGIMES E ORGANIZAÇÕES 
INTERNACIONAIS 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Devlin Biezus 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
 O objetivo principal desta aula é discutir como algumas das teorias das 
Relações Internacionais interpretam o papel das organizações internacionais. O 
primeiro tema da aula apresenta, de maneira geral, os estudos das Organizações 
Internacionais – OIs no campo das relações internacionais. O segundo tema 
tratará da cooperação, trazendo os conceitos de cooperação funcional e técnica. 
O terceiro tema discute o debate neo-neo, contrastando as visões entre 
neorrealismo e institucionalismo sobre o papel das OIs. O quarto tema discute a 
contribuição construtivista para os estudos das OIs. Por fim, o quinto tema 
apresenta as perspectivas da teoria crítica sobre as instituições internacionais. 
TEMA 1 – REGIMES E ORGANIZAÇÕES NO CONTEXTO DAS TEORIAS DAS RI 
 O campo de estudos das relações internacionais conta com o 
desenvolvimento de um debate teórico desde a sua formação. Nas relações 
internacionais, existem diferentes perspectivas teóricas que buscam explicar a 
cooperação e o conflito no sistema internacional e o desenvolvimento dos 
mecanismos de estabilização internacional. (Herz; Hoffmann, 2004). Nesse 
sentido, as teorias de relações internacionais, algumas com maior ênfase do que 
as demais, se debruçam sobre o papel das organizações internacionais. 
 Os estudos voltados às organizações internacionais começaram a se 
desenvolver durante o século XX, ganhado maior proeminência após o final de 
Segunda Guerra Mundial, devido à criação da ONU. Após a Guerra Fria, o 
campo também obteve uma maior produtividade, devido aos novos ativismos 
das organizações (Herz; Hoffmann, 2004). 
O debate sobre as organizações internacionais está diretamente ligado 
com as contribuições teóricas das relações internacionais, que estudam o papel, 
a origem, as dinâmicas e o impacto das OIs sobre os Estados. A história da área 
das organizações internacionais passou por diferentes modificações e enfoques 
de estudos, desde a formação do campo. Essas modificações são provenientes 
tanto das características da agenda internacional ao longo da história, quanto 
das transformações teóricas e metodológicas dentro das relações internacionais 
como um todo (Herz; Hoffmann, 2004). 
 Como demonstrado na aula passada, o surgimento das organizações 
internacionais e seu campo de estudos é fruto de um contexto de otimismo pós-
 
 
3 
Primeira Guerra Mundial. Esse otimismo fica evidente nas propostas de quatorze 
pontos de Woodrow Wilson, e se baseava no entendimento de que o direito 
internacional ou as organizações internacionais seriam responsáveis por evitar 
uma nova guerra. Esse contexto foi refletido na produção teórica do período, em 
se tratando do papel das Ligas e das organizações internacionais em evitar 
guerras (Herz; Hoffmann, 2004). A partir da década de 1930, esse otimismo foi 
substituído pela literatura realista, que se tornaria a teoria dominante das 
relações internacionais nas próximas décadas. 
 No final da década de 1930, Edward Carr publica um estudo intitulado 
“Vinte anos de Crise”. Para Carr, as ideias liberais, exemplificadas pelo discurso 
de Wilson, se formaram a partir da crença em uma harmonia natural entre 
Estados, devido aos seus interesses. Há aqui uma confiança exagerada na 
segurança coletiva e nos princípios morais universais (Solómon, 2016). Carr 
defendia que a Liga das Nações não era suficiente para evitar uma guerra, 
argumentando que também deveria se desenvolver uma diplomacia que 
mantivesse o equilíbrio de poder e as aspirações das potências dentro do status 
quo (Solómon, 2016). 
A partir da década de 1950, observa-se uma hegemonia realista dentro 
dos estudos das teorias de relações internacionais. Para a teoria, o papel das 
organizações internacionais não estaria entre os principais atores da política 
internacional. Assim, os estudos nesse período se voltaram para questões 
diferentes, como estudos estratégicos. Contudo, apesar de os estudos sobre as 
organizações internacionais não formarem o mainstream das relações 
internacionais nesse período, o campo continuou desenvolvendo pesquisas 
(Herz; Hoffmann, 2004). Durante essa década, os trabalhos envolvendo as OIs 
tinham como ponto de partida os aspectos formais das organizações. Por 
exemplo: seus mandatos constituintes, os procedimentos de votações e as 
estruturas de seus comitês (Herz; Hoffmann, 2004). 
A partir da década de 1970, os estudos das organizações internacionais 
ganharam um novo fôlego, criticando a visão realista do papel das OIs no 
sistema internacional. Para o realismo clássico, a atuação das OIs teria um papel 
secundário no cenário internacional, sendo os Estados os únicos e principais 
atores. As pesquisas referentes às OIs começaram a evidenciar o papel dessas 
instituições na formulação de agenda, nos fóruns internacionais e na 
coordenação de políticas transgovernamentais (Herz; Hoffmann, 2004). Ao longo 
 
 
4 
desse período, o realismo perde seu espaço como teoria dominante entre as 
pesquisas em RI, e os trabalhos sobre regimes e organizações internacionais 
começam a ser o principal objeto de pesquisa no campo. 
Durante a década de 1980, os estudos sobre as organizações 
internacionais abrangeram seu escopo de pesquisa, indo além dos aspectos 
institucionais formais. Entre os novos temas de pesquisa, estavam os estudos 
sobre o processo de formação dos princípios, normas e regras que formam os 
regimes internacionais, além do impacto desses fatores nas ações dos atores 
internacionais (Herz; Hoffman, 2004). Um exemplo dessas pesquisas são os 
Estudos da Escola Inglesa, que trazem o conceito de sociedade internacional, 
formada a partir do compartilhamento de normas e valores comuns (Herz; 
Hoffman, 2004). 
Após a Guerra Fria, presencia-se um aumento dos trabalhos relativos às 
organizações internacionais. Nesse período, o debate desse campo fica mais 
amplo, e as organizações passam a ser tratadas como um dos principais atores 
da política internacional (Herz; Hoffmann, 2004). Nos próximos temas desta aula, 
vamos desenvolver, de maneira mais aprofundada, o entendimento das 
principais correntes teóricas das RI, que abrangem o tema das organizações 
internacionais. 
TEMA 2 – O PAPEL DAS ORGANIZAÇÕES NA COOPERAÇÃO 
INTERNACIONAL 
 A formação e o desenvolvimento das organizações internacionais são 
importantes evidências sobre os esforços de cooperação internacional de forma 
articulada e não-temporária. A cooperação pode ser definida como uma atuação 
em conjunto de outras pessoas que visa o mesmo fim (Maciel, 2009). Aqui, É 
necessário ressaltar que a cooperação internacional não é uma medida oposta 
ao conflito. Nas relações internacionais, conflitos e cooperação ocorrem 
simultaneamente, não sendo excludentes. Por exemplo, duas nações em conflito 
podem cooperar para achar um ponto comum e solucionar o problema. 
 A cooperação internacional pode ser conduzida por meio de variadas 
Organizações Internacionais, com focos distintos. Assim, a cooperação pode ser 
caracterizada de acordo com seu objetivo. Por exemplo, a cooperação 
financeira, a cooperação securitária, a cooperação técnica e cooperação 
funcional. Neste tema, vamos apresentar as cooperações técnicas e funcionais. 
 
 
5 
Na Carta das Nações Unidas, é reconhecido que a cooperação técnica 
internacional é uma importante ferramenta para promover o desenvolvimento 
social e econômico. A cooperação técnica ganha espaço no cenário 
internacional a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Nesse período, essas 
atividades se resumiam aos esforços de reconstrução na Europa pós-Guerra, 
tomando assim a forma de investimentos de recursos entre Estados (Maciel, 
2009). 
Após a década de 1950, o entendimento dessa cooperação foi ampliado, 
se tornandouma ferramenta mais disseminada entre os Estados. Contudo, essa 
ação ainda era pautada, na maioria dos casos, pela transferência de recursos 
dos países mais ricos para os países mais pobres, com o intuito de atenuar os 
problemas relacionados ao subdesenvolvimento (Maciel, 2009). Apenas no final 
da década de 1950 as Nações Unidas reconheceram a necessidade de ampliar 
a cooperação técnica para além da assistência financeira internacional. Assim, 
o conceito passa a ser compreendido como uma relação de trocas entre Estados, 
sejam eles iguais ou desiguais no âmbito do desenvolvimento (Maciel, 2009). 
Em paralelo com a cooperação técnica, a cooperação funcional, como 
abordada anteriormente, também está associada com a criação das 
organizações internacionais. Uma importante corrente teórica, intimamente 
relacionada com a criação do sistema de agências funcionais das Nações 
Unidas, é o funcionalismo (Herz; Hoffmann, 2004). O funcionalismo, tendo como 
principal representante o autor David Mitrany, defende uma conexão entre a 
cooperação funcional e a segurança internacional. Para Mitrany, os atores 
internacionais criariam hábitos de cooperação em áreas mais técnicas, como nas 
esferas social e econômica. Os hábitos de cooperação funcional seriam 
responsáveis por construírem valores e instituições comuns entre os atores. 
Como consequência, Mitrany argumenta que essa cooperação naturalmente 
transbordaria para a arena política (Herz; Hoffmann, 2004). Nesse sentido, o 
funcionalismo entende que a cooperação em áreas técnicas resultaria em uma 
interdependência crescente entre os Estados. 
Para a teoria funcionalista, a cooperação seria a chave para enfrentar 
problemas relacionados a conflitos violentos e suas origens (Herz; Hoffmann, 
2004). Sua contribuição normativa está na tese de que um processo de 
aprendizado coletivo entre Estados, e administrado pela cooperação técnica, 
seria fundamental para a criação de um sistema de paz (Herz; Hoffmann, 2004). 
 
 
6 
A visão funcionalista proposta por Mitrany recebeu importantes críticas. 
Entre elas, está o argumento da necessidade do autor de politizar o debate sobre 
a cooperação funcional. Isso porque a separação entre política e cooperação 
funcional não seria coerente com a realidade. Segundo Herz e Hoffmann (2004, 
p. 52), 
“a história dos processos de cooperação funcional indica que a opção 
pela cooperação, distância ou conflito muitas vezes emerge de 
objetivos políticos mais amplos”. 
Nesse sentido, a cooperação em áreas técnicas não necessariamente 
transbordaria para a área política, pois decisões políticas são complexas, e nem 
sempre racionais. 
Apesar dessas pertinentes críticas, a teoria funcionalista contribuiu para 
avançar perspectivas capazes de compreender a atual realidade das 
organizações internacionais. Por exemplo, o funcionalismo foi responsável por 
apresentar a ideia de que os especialistas que trabalham nas OIs são uma 
autoridade à parte de seu Estado-nação. Ou seja, esses funcionários teriam uma 
identidade profissional que ultrapassaria a responsabilidade com seu Estado 
nacional (Herz; Hoffmann, 2004). 
A cooperação internacional pode ser compreendida de diferentes formas 
perante as teorias das relações internacionais. Nesse sentido, existem 
explicações variadas para o questionamento sobre “Por que os Estados 
cooperam?”. Entre essas respostas, também existem diversas perspectivas 
normativas sobre a cooperação, que atribuem algum juízo de valor sobre o tema. 
Por exemplo, para Keohane, a cooperação internacional é algo bom, porque ela 
cria um potencial para o desenvolvimento de ganhos mútuos entre os Estados 
(Herbert, 1996). Para compreender com mais profundidade essas diferenças 
teóricas, vamos abordar as perspectivas realistas, liberais, construtivistas e 
críticas. 
TEMA 3 – O DEBATE ENTRE REALISTAS E INSTITUCIONALISTAS 
No período pós-Guerra Fria, presenciou-se um maior ativismo das 
organizações internacionais. A disputa bipolar e a possiblidade de uma eminente 
guerra nuclear criavam uma certa racionalidade acerca da agenda política 
internacional, voltada para as temáticas de segurança e defesa. O fim dessa 
ameaça permitiu uma ampliação da agenda internacional, que passou a tratar 
 
 
7 
de temas ambientais e sociais. Por exemplo, em 1992, o Brasil foi palco da 
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Eco-92). Essa 
conferência foi uma cúpula dos chefes de Estados para discutir possíveis 
práticas de desenvolvimento sustentável. Como consequência, os estudos sobre 
as Organizações Internacionais também ficaram mais ativos nesse período. O 
principal debate que marca, não apenas os estudos sobre as OIs no pós-Guerra 
Fria, mas também o estudo das relações internacionais como um todo, é o 
debate neo-neo. 
A contribuições teóricas para o debate entre neorrealistas e 
institucionalistas, ou neoliberais institucionalistas, foram realizadas 
principalmente com os estudos de Waltz, Keohane e Nye. A teoria neorrealista 
de Waltz foi responsável por transformar o realismo clássico em uma teoria de 
fato. Isso porque o realismo clássico é compreendido pela sua crítica mais como 
uma ideologia do que uma teoria. De acordo com o entendimento sobre a 
cientificidade de Karl Popper, uma teoria deve ser falseável. Assim, os estudos 
de Waltz saíram do campo prescritivo do realismo clássico e se aprofundaram 
no desenvolvimento de uma teoria científica que explicaria a recorrência da 
guerra (Solomón, 2016). 
Nesse sentido, as contribuições neorrealistas serviram como aportes 
teóricos que têm na segurança seu principal campo de estudos (Lacerda, 2014). 
Já o institucionalismo conta com a integração regional, a integração econômica 
e a interdependência dos mercados entre Estados como principais temas de 
estudo (Lacerda, 2014). Keohane (1993) defende a tese de que o neorrealismo 
entraria em declínio no pós-Guerra Fria, devido ao maior ativismo das 
instituições internacionais. Dessa forma, o crescimento da teoria institucionalista 
estaria atrelado à interdependência econômica, resultado das mudanças 
tecnológicas e do comércio. Por isso, Keohane argumenta que as organizações 
internacionais se tornariam mais complexas. Em um contexto de aprimoramento 
das teorias realistas e de crescimento das teorias institucionalistas, o embate 
paradigmático entre os dois campos é resultado de diferentes percepções sobre 
a possível capacidade das instituições internacionais de modificar as relações 
entre Estados (Herz; Hoffmann, 2004). 
Para os autores neorrealistas, as instituições não seriam capazes de 
modificar os principais aspectos do sistema internacional, tampouco não seriam 
atores relevantes. Por exemplo, John Mersheimer busca demonstrar em seus 
 
 
8 
estudos indicações de que não haveria evidências empíricas que comprovassem 
a eficácia das instituições como modificadoras do comportamento dos Estados 
no âmbito de segurança (Herz; Hoffmann, 2004). Para o neorrealismo, a 
insegurança do sistema internacional dificulta a cooperação. Isso porque a lógica 
do sistema internacional favoreceria os ganhos relativos entre os Estados. Os 
ganhos relativos indicam que a capacidade dos Estados no sistema internacional 
seria medida de acordo com a posição de poder que um Estado ocupa com 
relação a outros Estados. Para exemplificar, é possível pensar em um cenário 
hipotético entre dois Estados. O Estado X, com o intuito de aumentar seu poder 
militar, consegue aumentar o arsenal de mísseis, com dez mísseis adicionais. 
Como resposta, o Estado vizinho consegue ampliar seu arsenal com vinte 
mísseis adicionais. Ao comparar os ganhos do Estado X com seu vizinho, esse 
Estado está em desvantagem. Nesse sentido, os ganhos de um Estado podem 
significar perda para demais Estados (Gannoum, 2010). 
Em contrapartida aos neorrealistas, a teoria institucionalista neoliberalargumenta que as instituições são capazes de mudar o comportamento dos 
Estados. Para o institucionalismo, o poder e a maneira como a informação circula 
são duas importantes variáveis de análise (Herz; Hoffmann, 2004). Em relação 
ao poder, o institucionalismo compreende que a cooperação seria desejada 
devido aos ganhos absolutos. A premissa norteadora desse argumento é que os 
Estados teriam interesse em cooperar para melhorar sua posição no sistema 
internacional, sem considerar os ganhos relativos dos demais Estados (Herz; 
Hoffmann, 2004). 
Em relação à variável da circulação da informação, a premissa teórica é 
de que as instituições diminuiriam o grau de incerteza do sistema internacional, 
por meio da transparência. A maior transparência proveniente das interações 
entre Estados dentro das OIs aumentaria a disposição dos atores em cooperar, 
porque diminuiria o risco da trapaça. Assim, Keohane defende que a circulação 
de informações seria responsável por transformar o sistema internacional. 
 Ainda segundo Keohane (1993), as instituições internacionais existem 
porque facilitam a cooperação autointeressada. Esse entendimento tem como 
base a teoria da escolha racional, uma importante corrente teórica das ciências 
sociais e da ciência política. Uma das ferramentas teóricas utilizadas para 
explicar por que a cooperação é possível, mesmo em casos de autointeresse, é 
a teoria dos jogos. No modelo da teoria dos jogos, “os atores são racionais e 
 
 
9 
egoístas e não há um terceiro ator que garanta o cumprimento dos acordos. A 
presença de instituições eu favorecem a reciprocidade e a confiança mútua é 
fundamental” (Herz; Hoffmann, 2004, p. 47). 
Assim como a teoria neorrealista, os institucionalistas têm a racionalidade 
como fundamento de seus argumentos. Nesse sentido, o institucionalismo se 
afasta dos ideais utópicos do liberalismo clássico para justificar o motivo de os 
Estados cooperarem. Apesar das teorias neorrealistas e institucionalistas 
divergirem sobre a razão pela qual os Estados cooperam, ambas partem de uma 
perspectiva racionalista de relações internacionais. Em contraposição a isso, 
surgiram pensadores que viam a necessidade de deixar de lado argumentos 
racionalistas, para compreender o papel das ideias na tomada de decisão política 
(Lacerda, 2014). No próximo tema, vamos desenvolver esse tópico, 
apresentando a contribuição da teoria construtivista para os estudos das 
organizações internacionais. 
TEMA 4 – O CONSTRUTIVISMO E A INSERÇÃO DOS ATORES SOCIAIS 
O construtivismo tem em Alexander Wendt um de seus percursores. Em 
sua obra A Anarquia é o que os Estados fazem dela’ o autor critica o debate neo-
neo, por ele estar enraizado no conceito da racionalidade. Para Wendt, o 
problema da escolha racional está no entendimento de que identidades, ideias e 
interesses dos atores são determinados externamente (Lacerda, 2014). Desse 
modo, os trabalhos representados pela corrente construtivista enfatizam que as 
identidades e os interesses são fatores socialmente construídos (Herz; 
Hoffmann, 2004). O objetivo do construtivismo é “compreender e explicar a 
construção social dos atores e das estruturas sociais” (Herz; Hoffmann, 2004, p. 
66). Isso significa que o foco dessa teoria está na compreensão dos processos 
que originam as instituições, os regimes, as regras, e que também regulam a 
vida social e as relações internacionais (Solómon, 2016). 
Ao trazer à tona a perspectiva de que os interesses, as instituições e a 
própria racionalidade são formados por ideias, o construtivismo busca 
problematizar a naturalização desses fenômenos. Nesse sentido, o 
construtivismo indica que fatores naturalizados e tidos como imutáveis seriam 
socialmente construídos; portanto, também poderiam ser descontruídos ou 
modificados (Solómon, 2016). 
 
 
10 
Diferentemente do entendimento racionalista, a estrutura do sistema 
internacional não seria o principal definidor do comportamento e da capacidade 
dos Estados. Para o construtivismo, estrutura e atores se constituem 
mutualmente. Por exemplo, o neorrealismo entende que o único resultado da 
estrutura internacional anárquica é a autoajuda. Wendt irá argumentar que a 
autoajuda seria apenas uma das possibilidades de resultado, pois existiriam 
outras consequências possíveis em relação à anarquia internacional. Nesse 
sentido, a autoajuda ou a cooperação não surgem diretamente da anarquia, mas 
sim dos processos de interação mútua entre os Estados (Sólomon, 2016). 
No âmbito das instituições internacionais, autores construtivistas 
consideram que elas teriam um papel fundamental, capaz de modificar os 
interesses e identidades dos Estados e demais atores (Herz; Hoffmann, 2004). 
Isso significa que a política externa ou doméstica de um Estado pode ser 
influenciada por uma norma produzida e propagada dentro uma organização 
internacional. Para explicar como esse processo ocorre, os modelos de difusão 
de normas internacionais são uma ferramenta de análise que busca evidenciar 
os pressupostos construtivistas. 
Os modelos de difusão de normas internacionais foram elaborados pelas 
autoras Martha Finnemore e Kathryn Sikkink (1998). O objetivo do modelo é 
explicar como as ideais e normas são internalizadas e difundidas no âmbito 
internacional. Como norma, é possível a definir como um “padrão de 
comportamento apropriado para atores com uma determinada identidade” 
(Finnemore; Sikkink, 1998). 
Para demonstrar como as normas são difundidas internacionalmente, 
Finnemore e Sikkink apresentam o ciclo de vida das normas, que é formado por 
três estágios: 
• O primeiro estágio é a emergência da norma. Essa fase é determinada 
pela ação de um grupo da sociedade civil organizada, que se articula de 
forma transnacional para promover uma norma, ou um conjunto de 
normas (Solómon, 2016). O intuído é fazer com que essa norma, ou ideia, 
seja adotada internacionalmente. Para que isso aconteça, essa ação pode 
produzir um efeito cascata, que marca o início do segundo estágio do 
ciclo; 
 
 
11 
• O segundo estágio é a difusão da norma. Ele é caracterizado pelo 
número crescente de Estados que passariam a adotar essa norma e a 
respaldá-la.; 
• O terceiro estágio é formado pela internalização da norma. Nessa fase, 
a norma já teria se tornado costumeira, sendo cumprida de forma 
automática pelos Estados (Solómon, 2016). 
A partir dessa ferramenta teórica, é possível perceber como o 
construtivismo entende não apenas o papel das instituições internacionais, mas 
também dos atores sociais, como um importante componente para a emergência 
de novas normas internacionais. A teoria construtivista pode ser considerada 
uma ponte entre as teorias racionalistas, como o neorrealismo e o 
institucionalismo, e as teorias pós-positivistas. No próximo tema, vamos estudar 
as contribuições da teoria crítica acerca das organizações internacionais. 
TEMA 5 – A TEORIA CRÍTICA SOBRE AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS 
 Assim como o construtivismo, a teoria crítica não se limita ao campo de 
estudos das relações sociais, apresentando tradição nas ciências sociais. Os 
autores precursores da teoria crítica estão associados com a Escola de 
Frankfurt, como Horkheimer, Adorno, Habermas e Marcuse (Herz; Hoffmann, 
2004). Esses autores se preocuparam em desenvolver uma crítica à 
epistemologia positivista, atrelada às teorias tradicionais das ciências humanas. 
Assim, a teoria crítica representa um rompimento com as teorias positivistas. As 
teorias positivistas se baseiam no pressuposto de que a neutralidade deve estar 
presente na produção de conhecimento científico, e de que deve haver um 
afastamento entre o pesquisador e seu objeto de estudo (Silva, 2005). A teoria 
crítica argumenta que as ciências sociais são diferentes das ciências naturais, 
porque ao estudar fenômenos da sociedade o próprio pesquisador está inserido 
nesse contexto.Portanto, não haveria como se dissociar do seu objeto de 
pesquisa, da mesma forma que um biólogo é capaz de se desassociar de um 
objeto de estudo que só pode ser observado pelo microscópio, por exemplo 
(Silva, 2005). 
 Robert Cox aprofunda esse argumento no campo das relações 
internacionais. Para Cox, a teoria não seria capaz de se dissociar de um contexto 
histórico concreto no qual ela foi produzia (citado por Silva, 2005). Nesse sentido, 
 
 
12 
os estudos de Cox trazem problematizações acerca do desenvolvimento das 
teorias tradicionais. Para o autor, uma teoria sempre serviria a algum interesse 
e sempre teria um propósito (Silva, 2005). Por isso, seria necessário conhecer o 
contexto em que a teoria é formulada. 
 Além de compreender o contexto histórico e social da formulação teórica, 
Cox argumenta que também é necessário conhecer o objetivo do pesquisador 
ao utilizar a teoria. Cox apresenta duas possibilidades que podem se desdobrar 
desse objetivo: as teorias de resolução de problemas e a teoria crítica. As teorias 
voltadas para a resolução de problemas apontam para a “correção de disfunções 
ou problemas específicos que emergem dentro da ordem existente” (Silva, 2005, 
p. 262). Isso significa que essas teorias analisam os problemas que surgem do 
contexto social por um viés que não problematiza as relações de poder e de 
política, também presentes nesse cenário. Por sua vez, a teoria crítica tem o 
questionamento de ordem política como um elemento central de sua análise. O 
objetivo de tais questionamentos seria a tentativa de compreender como essas 
ordens políticas e relações de poderes surgiram, e identificar se elas podem 
estar em um processo de transformação (Silva, 2005). 
 Ao analisar o papel das instituições internacionais, a teoria crítica terá os 
entendimentos descritos no centro de seus estudos. Assim, a bibliografia 
referente à teoria crítica não se preocupa com as consequências da anarquia 
internacional para o sistema de Estados. A teoria crítica buscaria entender a 
ordem política e o contexto histórico-social que proporcionaram o surgimento das 
instituições, por exemplo. 
 Com influência dos estudos marxistas de Antonio Gramsci, Robert Cox 
analisa as instituições internacionais como forma de proporcionar estabilidade e 
perpetuação à determinada ordem política. Para perpetuar uma ordem política, 
as instituições funcionam como um reflexo das relações de poder, legitimando-
as (Pereira, 2011). Assim, Cox define que as instituições seriam uma 
combinação de ideias particulares e de poder material, que influenciam de 
maneira recíproca o desenvolvimento de ideias e de capacidade material (Cox; 
Schechter, 2002; Pereira, 2011). 
 Para Cox, o contexto histórico de queda do império britânico e de 
dominação crescente dos Estados Unidos seria crucial para entender o 
desenvolvimento das OIs. O estabelecimento do domínio estadunidense no 
sistema internacional estaria diretamente relacionado com a estruturação de 
 
 
13 
uma ordem econômica internacional, com regras que contribuem para a 
manutenção dessa ordem (Pereira, 2011). Esse argumento é evidenciado pela 
criação das instituições financeiras do pós-Segunda Guerra Mundial, como as 
instituições de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial) e o Acordo Geral de Tarifas 
e Comércio (GATT). Assim, nas análises de Cox, e da literatura crítica no geral, 
a discussão do papel das elites globalizantes na formação da ordem política e 
econômica global, tem um papel central nos estudos das instituições (Herz; 
Hoffmann, 2004). 
 Os trabalhos de Cox trazem também o conceito de hegemonia. Para o 
autor, a hegemonia é formada e conquistada por meio da coerção e do 
consenso. Uma forma de construir um consenso a favor da potência hegemônica 
seria por meio de instituições internacionais governamentais e da sociedade civil 
(Herz; Hoffmann, 2004). Segundo Mônica Herz e Andrea Hoffmann (2004, p. 59), 
“Cox se refere à forma consensual que o poder adquire na constituição de uma 
ordem mundial, podendo assim ser aceita pelas partes dominadas.” Assim, um 
ator exerce sua hegemonia quando seus interesses transcendem sua esfera 
particular, passando a ser aceitos por outros agentes. As já citadas instituições 
FMI, Banco Mundial e OMC, antigo GATT, são exemplo de como os interesses 
das elites internacionais incidem diretamente nas relações entre os Estados do 
norte e do sul global (Herz; Hoffmann, 2004). Em suma, os interesses e as ideias 
dominantes dos Estados do norte global são apresentados como universais. As 
organizações internacionais são responsáveis por reproduzir e legitimar esses 
interesses, sendo portanto um instrumento que permite a continuidade dessa 
dominação hegemônica (Herz; Hoffmann, 2004; Murphy, 1994). 
NA PRÁTICA 
 O liberalismo é uma importante corrente teórica que busca explicar o 
funcionamento das organizações internacionais. Pesquise o discurso dos “14 
pontos de Wilson” e relacione esses pontos com a formação da Liga das Nações. 
Em um segundo momento, reflita sobre as principais semelhanças e diferenças 
entre a criação da Liga das Nações e das Nações Unidas. Seus pressupostos 
teóricos são os mesmos? Em sua opinião, qual é a principal diferença entre 
essas organizações, e por que elas existem? 
 
 
14 
FINALIZANDO 
 Nesta aula, nosso objetivo foi trazer uma introdução sobre as perspectivas 
das principais teorias das relações internacionais sobre o papel das 
organizações e dos regimes internacionais. Os dois primeiros temas 
abrangeram, de modo geral, a importância que as OIs têm no desenvolvimento 
teórico. Também apresentamos o conceito da cooperação internacional. Os 
temas seguintes, por sua vez, trataram do debate neo-neo, do construtivismo e 
da teoria crítica, respectivamente, enfatizando a relação entre essas correntes 
teóricas e as instituições internacionais. 
 
 
 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
COX, R. W.; SCHECHTER, M. G. The political Economy of a Plural World: 
Critical Reflections on Power, Morals and Civilization. Londres: Routledge, 2002. 
FINNEMORE, M.; SIKKINK, K. International norm dynamics and political change. 
International organization, v. 52, n. 4, p. 887-917, 1998. 
GANNOUM, N. M. Teoria dos jogos e ganhos relativos: condicionantes 
estratégicos de cooperação internacional. Tese (Doutorado) – Universidade de 
São Paulo, 2010. 
HERBERT, A. L. Cooperation in International Relations: A Comparison of 
Keohane, Haas and Franck. Berkeley Journal of International Law, v. 14, n. 1, 
p. 222-238, 1996. 
HERZ, M.; HOFFMAN, A. Organizações internacionais: história e práticas. Rio 
de Janeiro: Elsevier, 2004. 
KEOHANE, R. O. Institutional Theory and the Realist Challenge After the Cold 
War. In BALDWIN, D. A (Ed.). Neorealism and Neoliberalism: The 
Contemporary Debate. New York: Columbia University Press, 1993. p. 269-300. 
LACERDA, J. M. de A. F. O papel das ideias e das Organizações Internacionais 
nas Teorias das Relações Internacionais. Revista de Estudos Internacionais, 
v. 4, n. 1, p. 83-99, 2014. 
MACIEL, T. M. As teorias de relações internacionais pensando a 
cooperação. Ponto-e-Vírgula: Revista de Ciências Sociais, n. 5, 2009. 
MURPHY, C. International organization and industrial change: global 
governance since 1850. USA: Oxford University Press, 1994. 
PEREIRA, M. Y. B. Teoria Crítica e Governança Global: como compreender o 
papel das Organizações Internacionais? In: SEMINÁRIO DA ASSOCIAÇÃO 
BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 3., 2011, São Paulo. Anais... 
São Paulo: USP, 2011. 
SALOMÓN, M. Teorias e enfoques das Relações Internacionais: uma 
introdução. Curitiba: InterSaberes, 2016. 
SILVA, M. A. de M. Teoria crítica em relações internacionais. Contexto int., Rio 
de Janeiro, v. 27, n. 2, p. 249-282, dez. 2005. Disponível em: 
 
 
16 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
85292005000200001&lng=en&nrm=iso>.Acesso em: 25 mar. 2020.

Outros materiais