Buscar

REGIMES E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

REGIMES E ORGANIZAÇÕES 
INTERNACIONAIS 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Devlin Biezus 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
O objetivo geral desta aula é analisar a criação das Nações Unidas e a 
evolução da organização no período pós-Guerra Fria. Para isso, a aula está 
estruturada em cinco temas. O primeiro tema discute o sistema de segurança 
coletiva após a Segunda Guerra Mundial e suas principais implicações teóricas. 
O segundo tema apresenta os principais órgãos que formam as Nações Unidas. 
O terceiro tema traz a atuação da ONU durante a Guerra Fria, relacionando o 
papel da organização com a conjuntura internacional do período. O quarto tema 
discute a atuação das Nações Unidas no pós-Guerra Fria, destacando a 
evolução e as mudanças da organização. Por fim, o quinto tema apresenta o 
debate em torno das reformas políticas das Nações Unidas. 
TEMA 1 – O SISTEMA DE SEGURANÇA COLETIVA PÓS-SEGUNDA GUERRA 
MUNDIAL: A CRIAÇÃO DA ONU 
A segurança coletiva é uma forma de cooperação entre Estados na área 
de segurança. Além da segurança coletiva, outras formas se dão pela formação 
de alianças e mecanismos de resolução de conflitos violentos, como mediação 
e arbitragem, por exemplo. Diferentemente de tais mecanismos, o objetivo da 
segurança coletiva não é acessar a causa de guerras e conflitos violentos para 
solucioná-los, mas evitar que o uso da força seja empreendido (Herz; Hoffmann, 
2004), ou seja, um mecanismo que funcionasse a priori do desencadeamento de 
um conflito violento. Nesse sentido, a segurança coletiva pode ser definida como 
um sistema “baseado na ideia da criação de um mecanismo internacional que 
conjuga compromissos de Estados nacionais para evitar, ou até suprimir, a 
agressão de um Estado contra o outro” (Herz; Hoffmann, 2004, p. 75). 
Para que um sistema de segurança coletiva tenha eficácia, ele deveria 
fornecer meios para os Estados escolherem a cooperação em detrimento do uso 
da força e, ao mesmo tempo, ter capacidade de impor medidas de coerção para 
os Estados que descumpram o acordado perante à instituição. Para isso, o 
sistema de segurança coletiva deve contar com Estados participantes que 
estejam dispostos a apresentar medidas de boicote, intervenções e pressões 
com o intuito de deter algum Estado de iniciar uma empreitada militar (Herz; 
Hoffmann, 2004). A coletividade de Estados participantes levaria os atores a 
decidirem racionalmente que o empreendimento militar não seria vantajoso. 
 
 
3 
Assim, a lógica da segurança coletiva apenas resultaria em medidas eficazes se 
houvesse confiança no próprio sistema e uma participação universal dos 
Estados (Herz; Hoffmann, 2004). 
Considerando esse panorama, é possível destacar dois elementos 
essenciais para o sistema de segurança coletiva: a universalidade e a 
racionalidade. A universalidade está relacionada com a confiança em que os 
Estados apresentam em relação ao sistema; se alguma potência fica de fora da 
organização de segurança coletiva, pode haver maior desconfiança sobre seu 
funcionamento e também pode não apresentar vantagens suficientes para os 
Estados mitigarem o uso da força internacionalmente. Isso pode demonstrar 
como os elementos da universalidade e da racionalidade estão relacionados 
mutuamente. A racionalidade é o pressuposto em que a segurança coletiva se 
baseia porque seu intuito é mudar o cálculo racional dos Estados (Herz; 
Hoffmann, 2004). Isso significa que esse sistema busca desenvolver arranjos 
que facilitem a resolução de conflitos e a limitação da violência internacional para 
que os Estados escolham racionalmente cooperar. 
Para atingir o objetivo de mitigar os conflitos violentos e as guerras, o 
sistema de segurança coletiva estabelece normas em relação ao uso da força. 
Ao estabelecer essas normas, a segurança coletiva objetiva subordinar o 
possível uso da força por um Estado à autorização internacional, isto é, deve 
haver consenso sobre quando o uso da força pode ser empregado. Na Carta 
Constitutiva das Nações Unidas, essas normas e justificativas sobre quando uma 
guerra pode ser empregada são apresentadas. 
Assinada em 1945 durante a Conferência de São Francisco, a Carta das 
Nações Unidas é o tratado que estabeleceu a organização. Contudo, as bases 
para surgimento das Nações Unidas já haviam sido discutidas dois anos antes, 
na Conferência de Moscou e depois, de Teerã, em 1943 (Nações Unidas, s. d). 
Nessas conferências, as principais lideranças dos países aliados trataram das 
principais questões políticas para o pós-Segunda Guerra Mundial. A Conferência 
de São Francisco teve início em abril de 1945 e terminou em 26 de junho do 
mesmo ano com a assinatura da Carta Constitutiva. Assim, as Nações Unidas 
foram fundadas por meio da assinatura de 50 países. A organização 
internacional entrou em vigor em 24 de outubro de 1945. 
Em seu artigo 1º, a Carta das Nações Unidas resume seu propósito como 
uma organização de segurança coletiva: 
 
 
4 
Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, 
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir 
os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por 
meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do 
direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou 
situações que possam levar a uma perturbação da paz. (Nações 
Unidas, 1945). 
Nesse artigo, dois elementos são importantes de serem notados. 
Primeiro, o artigo demostra os principais meios que as Nações Unidas utilizariam 
para lidar com ameaças à segurança internacional, enfatizando a solução de 
controvérsias e o direito internacional como instrumentos para atingir esse fim. 
Contudo, e aqui pode ser colocado o segundo elemento importante desse artigo, 
é possível observar que não há definição exata do que a ONU considerou como 
“medidas efetivas para evitar ameaças à paz”. Assim, o primeiro artigo da Carta 
da ONU possui uma característica abrangente, o que pode ser um empecilho 
nos momentos em que os Estados devem tomar decisões sobre quais ameaças 
seriam consideradas ameaças à segurança internacional. 
Em relação à resolução de controvérsias, o artigo 33 da Carta da ONU 
postula que partes em conflitos devem buscar resoluções pacíficas, como 
negociação, inquérito, mediação, conciliação, solução judicial ou arbitragem 
(Nações Unidas, 1945). Caso ocorra alguma situação de ruptura da paz, o 
Capítulo VII da Carta das Nações Unidas traz as normas que regem o uso da 
força perante o sistema internacional. No artigo 39, é definido o Conselho de 
Segurança das Nações Unidas, responsável por determinar a existência de 
qualquer ameaça à paz. Esse capítulo prevê que o Conselho de Segurança deve 
utilizar todos mecanismos não violentos para a resolução do conflito. Caso não 
haja resultado positivo, é determinado que o Conselho pode aprovar o uso da 
força para preservar a paz internacional (Nações Unidas, 1945). 
Na próxima sessão temática, trataremos da estrutura organizacional da 
ONU, apresentando seus principais órgãos e também abrangendo o papel do 
Conselho de Segurança na organização em relação à sua capacidade de 
autorizar o uso da força internacionalmente. 
TEMA 2 – OS PRINCIPAIS ÓRGÃOS DAS NAÇÕES UNIDAS 
No Capítulo 3 da Carta das Nações Unidas, os principais órgãos da 
organização são estabelecidos: 1) Assembleia Geral; 2) Conselho de 
Segurança; 3) Conselho Econômico e Social; 4) Conselho de Tutela; 5) Corte 
 
 
5 
Internacional de Justiça; e 6) Secretariado (Nações Unidas, 1945). A seguir, as 
principais funções de cada órgão serão desenvolvidas. 
A Assembleia Geral é formada pelos 193 membros que integram as 
Nações Unidas. Esse órgão é considerado o mais representativo da organização 
porque todos Estados-membros possuem o direito ao voto nas eleições 
realizadas pela Assembleia Geral (Onuki; Agopyan, 2020). A Assembleia Geral 
funciona comouma arena de discussões sobre diversos aspectos da política 
internacional. Ela também pode funcionar como um corpo legislativo da ONU, 
pois a aprovação de resoluções pela Assembleia serve como base normativa 
para o Direito Internacional (Herz; Hoffmann, 2004). Entre as principais funções 
da Assembleia Geral estão: as recomendações sobre questões referentes à 
segurança internacional e à paz; a aprovação do orçamento das Nações Unidas; 
a aprovação da admissão de novos membros na organização; e as eleições dos 
membros não-permamentes do Conselho de Segurança, Conselho Econômico 
e Social e do Conselho de Tutela (Onuki; Agopyan, 2020). 
Por ser um fórum composto por todos os Estados-membros e todos eles 
possuírem voto com o mesmo peso, a Assembleia Geral é um espaço que 
permite a formação de coalizões de grupos com interesses convergentes que 
podem exercer pressão sobre determinadas questões políticas. Um exemplo é 
o grupo dos 77, também denominado como G-77, que foi formado em 1964, na 
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, com o 
objetivo de promover os interesses dos países em desenvolvimento frente aos 
países desenvolvidos (Herz; Hoffmann, 2004). 
O Conselho de Segurança, por sua vez, tem como objetivo administrar a 
segurança internacional. Em situações de ameaças à paz, o Conselho tem a 
capacidade de negociar, aplicar sanções, investigar e formar operações de paz. 
Tais ações visam a mitigar o conflito violento e estabelcer um parâmetro para 
sua resolução. O Conselho é composto por cinco membros permanentes, a 
saber: 1) Estados Unidos; 2) França; 3) Reino Unido; 4) Rússia e 5) China. Além 
desses cinco membros permanentes, o Conselho também é composto por 10 
membros rotativos que possuem mandato de dois anos e são eleitos pela 
Assembleia Geral (Herz; Hoffmann, 2004). Diferentemente dos membros 
rotativos, os membros permanentes possuem o poder de veto na votação sobre 
qualquer resolução que tange a atuação do Conselho de Segurança. 
 
 
6 
O poder de veto dado aos membros permanentes pode ser considerado 
uma maneira de reconhecer e conceder atribuições específicas às potências 
globais do pós-Segunda Guerra. De acordo com Herz e Hoffmann (2004, p. 96), 
a criação de um poder de veto foi uma forma de assegurar a participação das 
grandes potências na formação das Nações Unidas, garantindo, assim, o 
princípio da universalidade de um sistema de segurança coletiva. O direito ao 
veto proporciona que o processo decisório do Conselho apenas funcione de 
forma unânime, uma vez que um Estado pode bloquear o processo caso 
discorde com o resultado de alguma resolução. O segundo ponto importante em 
que o Conselho de Segurança diverge da Assembleia Geral é em relação à 
obrigatoriedade de suas resoluções. A Assembleia propõe sugestões ou 
recomendações que podem ser acatadas ou não. Já as resoluções que tangem 
possíveis ameaças à paz possuem caráter obrigatório (Herz; Hoffmann, 2004). 
O já citado Capítulo VII da Carta das Nações Unidas é responsável por 
delinear as bases jurídicas legais da atuação do Conselho de Segurança, 
garantindo ao órgão a capacidade de ação quando há ameaças à paz e à 
segurança internacional. Aqui, é possível retomar a problemática da abrangência 
desse capítulo devido à falta de definição sobre o que se constitui ameaça à paz. 
Isso porque uma ameaça à paz não necessariamente se materializaria por meio 
da violência. Por exemplo, durante a Guerra Fria, o Conselho declarou como 
ameaças à paz a política racista da África do Sul e a falta de legitimidade do 
governo congolês, em 1960 (Herz; Hoffmann, 2004). No artigo 51 desse capítulo, 
é postulado que os Estados possuem o direito de legítima defesa caso ocorra 
um ataque armado a algum Estado-membro da ONU (Nações Unidas, 1945). 
O terceiro órgão das Nações Unidas citado é o Conselho Econômico e 
Social (Ecosoc). A responsabilidade do Ecosoc é redigir relatórios à Assembleia 
Geral com temas das áreas econômicas, culturais, educacionais e sociais. O 
Ecosoc também tem entre suas atividades o monitoramento e a coordenação de 
agências técnicas que fazem parte do sistema da ONU, tais como a Organização 
Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Mundial da Saúde (OMS), o 
Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização das Nações Unidas para 
Ciência, Educação e Cultura (Unesco) e os órgãos financeiros do Banco Mundial 
e do Fundo Monetário Internacional (FMI) (Onuki; Agopyan, 2020). 
O Conselho Econômico e Social possui 54 membros, distribuídos de 
acordo com critérios geográficos. Eles são eleitos pela Assembleia Geral e 
 
 
7 
possuem mandato de três anos. Esse órgão é um exemplo de como as 
responsabilidades das Nações Unidas vão além da segurança internacional, 
lidando também com aspectos econômicos e culturais do sistema internacional. 
O quarto órgão citado é o Conselho de Tutela. Sua responsabilidade é 
administrar e monitorar territórios sob tutela das Nações Unidas ou de outro 
Estado-membro. Esse órgão foi muito ativo durante o período de descolonização 
da África e da Ásia, atuando em países como Camarões, Papua e Nova Guiné 
e Somália. Em 1994, o Conselho de Tutela foi desativado e suas operações 
suspensas quando a ilha de Palau obteve sua independência (ONUKI; 
AGOPYAN, 2020). 
O quinto órgão é a Corte Internacional de Justiça (CIJ). A CIJ é composta 
por 15 juízes eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança com 
mandato de nove anos. A responsabilidade da CIJ é emitir decisões jurídicas 
sobre disputas legais entre Estados. O órgão é um importante ator na resolução 
pacífica de disputa, por exemplo, podendo atuar quando há contestações sobre 
limites territoriais ou marítimos entre Estados (Herz; Hoffmann, 2004). 
Diferentemente do Tribunal Penal Internacional, a CIJ não possui capacidade de 
julgar indivíduos; seu objetivo é julgar questões referentes ao nível estatal. 
Por fim, o sexto órgão citado é o Secretariado e seu principal funcionário 
é o secretário-geral; a equipe que forma esse órgão ultrapassa 37 mil 
funcionários internacionais (Onuki; Agopyan, 2020). O secretário-geral trabalha 
como administrador-chefe das Nações Unidas e entre suas responsabilidades 
estão a preparação orçamentária da organização e a submissão de relatórios à 
Assembleia Geral e ao Conselho de Segurança sobre diferentes problemas do 
âmbito internacional. O mandato do secretário-geral é de cinco anos e pode ser 
renovado uma vez (Herz; Hoffmann, 2004). O atual secretário-geral é António 
Guterres, eleito em 2017; ele já foi primeiro-ministro de Portugal e atuou no Alto 
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Onuki; Agopyan, 2020). 
TEMA 3 – AS NAÇÕES UNIDAS DURANTE A GUERRA FRIA 
As primeiras décadas de atuação das Nações Unidas coincidem com o 
período da Guerra Fria. É importante destacar as atividades da organização 
durante e após a Guerra Fria, pois é possível perceber a atuação das ONU em 
dois sistemas internacionais políticos diferentes, o bipolar e o multipolar. 
 
 
8 
A disputa bipolar entre Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra 
Fria também se materializou no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O 
poder de veto foi amplamente usado por ambas as potências, causando 
congelamento nas decisões do Conselho. Devido a essa paralisação decisória, 
a Assembleia Geral aprovou a Resolução 377, que previa a atuação da própria 
Assembleia em casos de ameaça à paz quando o Conselho estivesse sob 
impasse devido aos vetos (Onuki; Agopyan, 2020). A Resolução 377 permitiu 
que a Assembleia realizasse sessões emergenciais. Contudo, suas decisões 
ainda possuíriam a característica de não ser juridicamente vinculantes. Dessa 
forma, o objetivo da Assembleia era demonstrar e defender suas posições 
políticas formadas pela maioria dos Estados-membro das Nações Unidas. 
Devido ao impasse do Conselho de Segurança desse período,outros 
espaços institucionais das Nações Unidas passaram a ser utilizados para 
contribuir com a resolução pacífica dos conflitos. Um exemplo-chave disso foi o 
desenvolvimento das operações de paz das Nações Unidas (Onuki; Agopyan, 
2020). Assim, foram desenvolvidas duas categorias de operações de paz: as de 
observação e as de manutenção (Herz; Hoffmann, 2004). 
As operações de observação contam com a formação de um pequeno 
contingente internacional desarmado; são empregadas em regiões de conflito 
onde as partes chegaram ao cessar-fogo. Nos anos de 1947 e 1948, logo após 
a criação das Nações Unidas, duas operações foram aprovadas pelo Conselho. 
A primeira foi empreendida na Grécia com o objetivo de verificar o apoio 
internacional à guerra civil grega, r a segunda teve como objetivo monitorar o 
cessar fogo nas fronteiras de Israel (Herz; Hoffmann, 2004). 
As operações de manutenção da paz, por sua vez, contam com um 
contingente militar maior do que as operações de observação. São armadas para 
a autodefesa e seu principal objetivo é atuar como força tampão, ou seja, de 
intercessão entre as partes de um conflito violento. O intuito dessa ação é 
amenizar ou estabilizar alguma situação de crise, evitando a escalada do conflito 
(Herz; Hoffmann, 2004). A primeira operação de manutenção de paz foi realizada 
em 1956 durante a Crise de Suez, no Egito. A operação foi denominada como 
Força Emergencial das Nações Unidas e teve o objetivo de assegurar e 
supervisionar o cessar das hostilidades entre Egito, Reino Unido e França, bem 
como o monitoramento da retirada das forças francesas, israelenses e britânicas 
do território egípcio (Nações Unidas, 2003). 
 
 
9 
As décadas entre 1950 e 1970 marcaram o aumento do número de 
Estados-membros nas Nações Unidas. Nos primeiros anos de sua criação, a 
ONU contava com 60 Estados-membro. Já em 1960, esse número saltou para 
99. O aumento pode ser explicado devido ao processo de descolonização da 
África e da Ásia (Onuki; Agopyan, 2020). A formação de novos Estados também 
alterou a conjuntura internacional do período e passou a abordar questões 
institucionais dentro das Nações Unidas. Ainda, a década de 1960 apresentou 
novas discussões na ONU, as quais iriam além da questão da segurança, 
tratando, por exemplo, de desenvolvimento. 
O início dessa discussão pode ser evidenciado pelo relatório do então 
secretário geral do período, U Thant, denominado como A Década de 
Desenvolvimento das Nações Unidas: propostas para ação (E/3613, 1962; 
Onuki; Agopyan, 2020). O relatório propõe que os Estados-membro das Nações 
Unidas e seus cidadãos intensifiquem seus esforços para mobilizar e sustentar 
o apoio de medidas requeridas para acelerar o progresso e o crescimento 
econômico das nações em desenvolvimento e já desenvolvidas (E/3613, 1962). 
Nesse sentido, o relatório estabelece que seu objetivo é atingir um aumento 
substancial da taxa de crescimento nos países subdesenvolvidos. 
A década de 1970, para as Nações Unidas, é denominada como a 
segunda década do desenvolvimento. Nesse período, a noção de 
desenvolvimento da ONU ultrapassou o entendimento de crescimento 
econômico, apresentando novos componentes para o conceito. Por exemplo, na 
Conferência para a Igualdade DAS Mulheres, Desenvolvimento e Paz, que 
ocorreu no México, em 1975, foi declarado que o objetivo final do 
desenvolvimento é alcançar melhor qualidade de vida para todos – o que 
significaria não apenas desenvolvimento econômico e recursos materiais e, sim, 
ênfase às questões de crescimento cultural, intelectual e moral da pessoa 
humana (E/CONF.66/34, 1975). Durante esse período, as Nações Unidas 
expandiram suas discussões acerca do desenvolvimento, realizando 
conferências sobre racismo, igualdade das mulheres, leis do mar, água e meio 
ambiente. Alguns exemplos dessas conferências são a Conferência sobre o 
Meio Ambiente Humano, de 1972, em Estocolmo; a Conferência Mundial sobre 
População, em 1974; a já citada Conferência Mundial sobre a Mulher, na Cidade 
do México, em 1975 e a Conferência Mundial sobre Assentamentos Humanos 
(Habitat I), em 1976 (Onuki; Agopyan, 2020). 
 
 
10 
Diferentemente da década de 1970, a década de 1980 foi marcada por 
um lento crescimento dos Estados-membro da ONU e pela revisão de temas que 
emergiram nas primeiras conferências da organização, como os direitos 
humanos. Nesse período, organizações como o Fundo Monetário Internacional, 
o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio deram maior ênfase no 
tema do desenvolvimento (Onuki; Agopyan, 2020). 
TEMA 4 – AS NAÇÕES UNIDAS NO PÓS-GUERRA FRIA 
O final da Guerra Fria foi acompanho por um otimismo internacional sobre 
o funcionamento das Nações Unidas. Acreditou-se que o fim da disputa de 
influência política capitalista e socialista daria mais autoridade e assertividade 
sobre a atuação da ONU nos temas de segurança (Lopes; Casarões, 2009). 
Alguns dos indícios para esse otimismo foi a atuação crescente e de maneira 
eficaz da ONU nos conflitos ao final de década de 1980. Por exemplo, a 
aprovação da resolução do Conselho de Segurança que garantiu a 
independência política da Namíbia (1978); a aprovação da resolução do 
Conselho de Segurança sobre o fim da Guerra Irã-Iraque (1988); e a 
intermediação do secretário-geral das Nações Unidas durante a retirada das 
forças soviéticas em sua ocupação do Afeganistão (1988-1989). 
Uma das mudanças mais evidentes sobre a atuação da ONU 
(principalmente de seu Conselho de Segurança) após a Guerra Fria foi o 
descongelamento da aprovação de resoluções. Desde a sua criação até 1985, o 
Conselho de Segurança havia aprovado 580 resoluções. Em 1995, esse número 
quase dobrou, saltando para 1.035 resoluções e, em 2005, a quantidade era de 
1.651 resoluções aprovadas (Lopes; Casarões, 2009). Esses números 
demonstram um aumento excepcional nas aprovações de resoluções do 
Conselho de Segurança. Assim, o final da disputa bipolar contribuiu com a 
diminuição da aplicação do poder de veto dos Estados Unidos e da Rússia. 
A nova conjuntura internacional propiciou não apenas o descongelamento 
do Conselho de Segurança, mas também uma nova percepção sobre conflitos 
internacionais. Desde o final da Segunda Guerra, os conflitos entre Estados se 
tornaram menos recorrentes e os conflitos dentro dos Estados se constituíram 
como os mais recorrentes no sistema internacional (Kemer; Pereira; Blanco, 
2016). Nesse sentido, a demanda para operações de paz aumentou e o escopo 
de atividades dessas operações também aumentou (Onuki; Agopyan, 2020). 
 
 
11 
Essa mudança de escopo pode ser evidenciada pela divulgação do relatório 
denominado Uma Agenda para a Paz, apresentada pelo então secretário-geral, 
Broutos Ghali. A importância desse relatório se dá por ser o primeiro documento 
das Nações Unidas que institucionaliza operações de paz, apresentando 
instrumentos em que o objetivo é mitigar e solucionar conflitos violentos. 
Concomitante a esse cenário de aumento do escopo de operações da 
paz, a década de 1990 foi palco de guerras civis e internacionais que colocaram 
em questionamento a eficácia de funcionamento da ONU. Por exemplo, as 
guerras civis de dissolução da ex-Iugoslávia e de Ruanda tiveram como 
consequência massacres e genocídios. Isso desgastou a imagem das Nações 
Unidas perante o sistema internacional e a opinião pública, que questionava a 
razão de a organização não ter atuado para evitar esses genocídios. A 
participação da ONU nas guerras da ex-Iugoslávia se deu principalmente pelo 
empreendimento de forças militares na região e pela aplicação de sanções 
internacionais à Sérvia (Lopes; Casarões, 2009). Contudo, essa atuação não foi 
o suficiente para mitigar o conflito. No caso da guerra civil de Ruanda, os 
membros das Nações Unidas foram criticados devido à sua indiferença perante 
o genocídio (Lopes; Casarões, 2009). 
Além dessasguerras civis, um conflito internacional que também chamou 
a atenção sobre as ações das Nações Unidas foi a invasão do Kuait pelo Iraque, 
em 1990. Essa invasão antecedeu a Guerra do Golfo (1990-1991) e consistiu na 
invasão do Kuait pelas forças de Saddam Hussein com o objetivo de anexar o 
país como território iraquiano. Após a invasão, o Conselho de Segurança agiu 
rapidamente, aprovando 12 resoluções sobre a crise entre o período de 2 de 
agosto e 29 de novembro (Lopes; Casarões, 2009). Entre as sanções, estavam 
embargos navais e de armamentos e, em novembro, o Conselho aprovou o uso 
da força para conter as forças iraquianas. Apesar dessa rapidez de agir ter sido 
elogiada internacionalmente, o que se questionou foi a relação entre os Estados 
Unidos e o Conselho de Segurança. Nesse caso, a crítica foi relacionada à 
atuação dos Estados Unidos na Guerra do Golfo, que pode ser entendida como 
um posicionamento que se sobressaiu à atuação do Conselho (Lopes, Casarões; 
2009). Segundo Lopes e Casarões (2009, p. 22), isso se deu devido ao 
distanciamento do Conselho sobre os procedimentos prescritos no Capítulo VII 
das Nações Unidas, uma vez que os Estados Unidos possuíam o controle 
dessas operações militares. 
 
 
12 
Em conjunto com tais questões securitárias e de conflito, a década de 
1990 marcou um novo entendimento das Nações Unidas sobre o 
desenvolvimento – tema já presente na instituição desde décadas anteriores. 
Esse novo entendimento teve como base o conceito do desenvolvimento 
humano, cujo conceito cunhado por Amartya Sem traz uma visão ampla e 
multidimensional que abrange questões como direitos humanos, 
desenvolvimento sustentável e igualdade de gênero (Onuki; Agopyan, 2020). É 
com base nesse contexto que as Nações Unidas passam a utilizar o Índice de 
Desenvolvimento Humano em seu Programa para o Desenvolvimento (Pnud). 
Como demonstrado, a década de 1990 não apenas trouxe novos temas 
para debate nas Nações Unidas, mas também apresentou desafios sobre a 
atuação e a eficácia da organização. Nesse sentido, os debates acerca de uma 
reforma na instituição se tornaram mais evidentes. No próximo tema, 
contextualizaremos a questão sobre a reforma da ONU e os principais 
argumentos dos países membros que a defendem. 
TEMA 5 – O DEBATE SOBRE AS REFORMAS NAS NAÇÕES UNIDAS 
As Nações Unidas, na década de 1990, já contavam com 150 Estados-
membro. Considerando os 15 membros que formam o Conselho de Segurança, 
o Conselho conta com menos de 10% de representação de todos os membros 
(Onuki; Agopyan, 2020). Ainda, a conjuntura internacional pós-Guerra Fria foi 
muito diferente daquela do pós-Segunda Guerra, quando os membros 
permanentes do Conselho de Segurança foram escolhidos, o que resultou no 
debate do aumento de membros permanentes no Conselho de Segurança. 
Algumas das potências que argumentam que deveriam ser parte dos 
membros permanentes do Conselho são Alemanha e Japão (Onuki; Agopyan, 
2020). Os dois países saíram perdedores da Segunda Guerra Mundial, sendo 
também importantes esferas de influência durante a Guerra Fria. O crescente 
desenvolvimento econômico desses Estados e suas atuações no sistema 
internacional são utilizados como justificativas para entrarem como membros 
permanentes. O Brasil e a Índia também são países que criticam a atual 
formação do Conselho de Segurança e que também buscam pleitear sua entrada 
como membros permanentes. Além dessa questão, o poder de veto também é 
tema de debates entre os Estados-membro. Entre as discussões existentes, está 
 
 
13 
a sugestão de limitar o poder de veto em temáticas pré-determinadas com intuito 
de evitar a paralização do Conselho (Onuki; Agopyan, 2020). 
O número de membros permanentes e o poder de veto são discussões 
difíceis de apresentar algum consenso entre os Estados-membro. Essas 
reformas são questões complexas que demandam a aprovação da Assembleia 
Geral. De acordo com a Carta das Nações Unidas, qualquer alteração estrutural 
no Conselho de Segurança deve ser aprovada como uma emenda à Carta da 
ONU, assim, exigindo a aprovação de 2/3 dos membros da Assembleia Geral e 
dos membros permanentes do Conselho (Onuki; Agopyan, 2020). 
Com o intuito de lidar com essas demandas, em 1994, foi criado o Grupo 
de Trabalho sobre Representação Equitativa e Expansão do Conselho de 
Segurança, responsável por apresentar relatórios à Assembleia Geral sobre 
pautas acerca da discussão da reforma da organização. Contudo, apesar de o 
grupo existir há mais de duas décadas, não houve nenhum andamento sólido 
em relação a tais reformas (Onuki; Agopyan, 2020). 
Como mencionado, o Brasil está entre os Estados que pleiteam uma 
reforma no Conselho de Segurança. Para isso, o país se apresenta como um 
jogador importante no cenário internacional, participando de conferências e 
destacando sua participação internacionalmente. É possível destacar três áreas 
temáticas em que o Brasil buscou maior protagonismo e mudou suas posições 
de modo a aderir a um maior multilateralismo diplomático. Esses temas são: 
meio ambiente; direitos humanos; e desarmamento. 
A conferência do meio ambiente, de 1992, por exemplo, foi uma maneira 
de o Brasil agir de maneira positiva diplomaticamente e estabelecer sua 
alteração de posicionamento sobre as questões de mudanças climáticas. Isso 
porque, desde as décadas de 1970 e 1980, predominava na política brasileira a 
ideia de que desenvolvimento e proteção ambiental seriam incompatíveis. Esse 
posicionamento se modificou e, em 1992, o Brasil defendia o equilíbrio entre 
proteção ambiental e desenvolvimento (Herz, 1999). 
No campo dos direitos humanos, o Brasil também demonstrou maior 
participação após o fim da Ditadura Militar. Em 1985, a Conferência de Viena foi 
o marco que representou a mudança da postura brasileira acerca desse tema. 
Neste ano, o Brasil assinou três tratados sobre proteção de direitos humanos: a 
Convenção Americana e dois pactos das Nações Unidas (Herz, 1999). 
 
 
14 
Em relação ao desarmamento e à não proliferação de armas nucleares, o 
Brasil teve papel ativo no desenvolvimento de um regime na América Latina 
(Herz, 1999). Em 1994, o tratato de Tlatelolco foi assinado e o Brasil entrou no 
regime de controle de tecnologia para mísseis nucleares (Herz, 1999). Em 1998, 
durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o país aderiu ao Tratado de 
Não Proliferação de Armas Nucleares, principal acordo internacional que trata 
da nuclearização internacional. 
Os posicionamentos destacados acima podem ser interpretados como 
uma investida diplomática brasileira para ter maior destaque na política 
internacional. Segundo Herz (1999, p. 93), essa atuação pode ser percebida 
como tentativa de construir uma estratégia de inserção internacional e, assim, 
buscar legitimidade da cantidatura brasileira a um assento permamente no 
Conselho de Segurança. Desde o governo de Itamar Franco, o Brasil argumenta 
que a composição do Conselho deve refletir as mudanças do sistema 
internacional, dando destaque à participação dos países em desenvolvimento na 
política internacional. Para poder sustentar esse argumento, o Brasil se mostrou 
como um país com forte herança diplomática como mediador internacional, 
tendo participação ativa nos fóruns multilaterais (Herz, 1999). 
NA PRÁTICA 
Em 2015, as Nações Unidas divulgaram a Agenda 2030, trazendo 17 
pontos para um Desenvolvimento Sustentável (Objetivos de Desenvolvimento 
Sustentável). Pesquise quais são esses objetivos e reflita sobre a relação da 
promoção de um desenvolvimento sustentável com o papel da ONU de 
assegurar a paz internacional. Para isso, acesse o site 
<https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>. 
FINALIZANDO 
O intuito desta aula foi tratar do papel das Nações Unidas no regime de 
segurança coletiva internacional. Assim, observamos os pressupostos teóricos 
que fundamentam o surgimentoda organização, dos principais órgãos que 
formam as Nações Unidas, das mudanças na atuação da organização durante e 
após a Guerra Fria e, por fim, os argumentos sobre a reforma da organização. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
E/3613. General Assembly. 17th Session, Official Records, 2nd Committee, 
808th Meeting, Wednesday, 17 oct. 1962, New York. Disponível em: 
<https://digitallibrary.un.org/record/860374>. Acesso em: 07 abr. 2020. 
E/CONF.66/34. Report of the World Conference of the International 
Women's Year, 19 jun. - 2 jul. 1975, Mexico City. Disponível em 
<https://digitallibrary.un.org/record/586225>. Acesso em: 07 abr. 2020. 
KEMER, T.; PEREIRA, A. E.; BLANCO, R. A construção da paz em um mundo 
em transformação: o debate e a crítica sobre o conceito de 
peacebuilding. Revista de Sociologia e Política, v. 24, n. 60, p. 137-150, 2016. 
LOPES, D. B.; CASARÕES, G. S. P. ONU e segurança coletiva no século XXI: 
tensões entre autoridade política e exercício efetivo da coerção. Contexto 
Internacional, v. 31, n. 1, p. 9-48, 2009. 
NAÇÕES UNIDAS. First United Nations Emergency Force (UNEF-I). 
Department of Public Information, 2003. Disponível em: 
<https://peacekeeping.un.org/en/mission/past/unefi.htm>. Acesso em: 27 fev. 
2020. 
HERZ, M. O Brasil e a reforma da ONU. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, 
n. 46, p. 77-98, 1999. 
HERZ, M.; HOFFMANN, A. R. Organizações Internacionais – história e 
práticas. Rio de Janeiro: Ed. 2004. 
ONUKI, J.; AGOPYAN, K. K. Organizações Internacionais. Curitiba: Editora 
Uninter, 2020.

Outros materiais