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REGIMES E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

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REGIMES E ORGANIZAÇÕES 
INTERNACIONAIS 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Devlin Biezus 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
 O objetivo desta aula é apresentar a criação dos regimes internacionais 
frente ao dilema da segurança, à mudança do conceito de segurança 
internacional e à dimensão dos novos desafios no pós-Guerra Fria. Para isso, a 
aula está estruturada em cinco temas. O primeiro tema engloba os 
entendimentos de segurança internacional e suas principais mudanças. O 
segundo tema trata a relação dos regimes internacionais de segurança e o 
dilema de segurança, definindo o conceito e apresentando seus principais 
desafios frente à cooperação. O terceiro tema discute o conceito da 
responsabilidade de proteger, ilustrando o novo entendimento de segurança das 
Nações Unidas após a Guerra Fria. O quarto tema apresenta o papel da 
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no regime contemporâneo 
de segurança. Por fim, o quinto tema trata das questões de terrorismo e da não 
proliferação nuclear, temas centrais da agenda de segurança internacional. 
TEMA 1 – SEGURANÇA INTERNACIONAL E O PODER DOS ESTADOS 
SOBERANOS 
Compreender a relação entre os regimes de segurança internacionais e 
os estudos de segurança se faz necessário porque, durante o ápice do 
desenvolvimento dos estudos de segurança, os estrategistas civis possuíam 
conexões com os atores governamentais que planejavam as políticas de 
segurança. Os estudos sobre segurança são centrais na disciplina das Relações 
Internacionais. Para os estudos clássicos da área, conceitos como soberania e 
não intervenção são essenciais para compreender e garantir a segurança estatal 
perante o sistema internacional (Onuki; Agopyan, 2020). 
Durante as décadas de 1950 e 1960, as potências ocidentais, 
principalmente Estados Unidos e países europeus, utilizavam das pesquisas 
acadêmicas para auxiliar na formulação de suas políticas. Dessa forma, os 
analistas de segurança desse período priorizavam os estudos sobre teorias de 
dissuasão de armas nucleares, as análises das forças armadas e instrumentos 
de gerenciamento de crises (Williams, 2008). A ênfase desses estudos é 
explicada pelo contexto histórico em que esses analistas e formuladores de 
política se encontravam. Durante a Guerra Fria, a principal ameaça de segurança 
para as potências ocidentais era a possibilidade de uma guerra nuclear. 
 
 
3 
Nesse contexto, os estudos de segurança tiveram uma dominância da 
teoria realista de relações internacionais, e seus objetos de estudos eram o que 
Paul D. Williams (2008, p. 3) classificou como “os quatro S”: states, strategy, 
science e status quo. Na tradução: Estados, estratégia, ciência e status quo. 
Esses estudos têm o Estado como o agente mais importante na atuação da 
política internacional; a estratégia é voltada para a pesquisa sobre os melhores 
meios de empregar o uso da força militar; a ciência é empregada com o objetivo 
de desenvolver um conhecimento objetivo sobre o tema em estudo, afastando-
se de uma análise opinativa; e, por fim, o status quo reflete a preocupação dos 
estudos tradicionais de segurança em conservar e preservar a conjuntura de 
vantagens das grandes potências no sistema internacional (Williams, 2008). 
Essa abordagem, voltada para a teoria realista, tende a compreender a 
segurança como algo derivado do poder. Isso significa que o poder de um Estado 
garantiria sua segurança (Rudzit, 2005). 
Essa abordagem foi a que predominou nos estudos de segurança durante 
a Guerra Fria. A ênfase nos estudos estratégicos começou a ser modificada a 
partir do trabalho de Barry Buzan intitulado People, States, and Fear. Uma das 
principais contribuições dessa obra foi o entendimento de que a segurança não 
se limitaria apenas à segurança nacional, mas também deveria abranger a 
segurança da coletividade humana (Williams, 2008). Para ilustrar a formação 
abrangente dos estudos de segurança, Williams (2008) propõe quatro questões 
fundamentais. Primeiro, o que é segurança; segundo, a quem se direciona a 
segurança; terceiro, o que conta como uma questão de segurança; e quarto, 
como a segurança pode ser alcançada. 
Ao perguntar “o que é segurança?”, Williams (2008, p. 6) identifica duas 
filosofias diferentes que podem emergir desse conceito. A primeira compreende 
à segurança como um sinônimo de acumulação de poder. Assim, quanto mais 
poder um Estado consegue acumular, principalmente poder militar, mais seguro 
esse Estado seria. Por sua vez, a segunda filosofia desafia esses pressupostos. 
O segundo entendimento vê a segurança a partir da preocupação com a justiça 
e os princípios dos direitos humanos. Essa perspectiva parte do princípio de que 
a segurança é relativa, dependendo da relação que diferentes atores possuem 
entre si. Nesse sentido, mais armamentos não necessariamente garantiriam uma 
maior segurança para determinado ator (Williams, 2008). 
 
 
4 
Um exemplo que pode ilustrar essas diferentes filosofias é a percepção 
de ameaça dos Estados Unidos em relação ao Reino Unido e ao Irã. O Reino 
Unido possui 215 armas nucleares em seu arsenal. Em contrapartida, o Irã ainda 
não possui armas nucleares desenvolvidas, até o presente momento. Apesar 
dessa discrepância da quantidade de armas nucleares entre Reino Unido e Irã, 
os Estados Unidos percebem o Irã como uma ameaça à sua segurança. Esse 
exemplo demonstra que, de acordo com a segunda filosofia, “uma segurança 
verdadeira e estável não vem da habilidade de exercer poder sobre os outros, 
mas sim da cooperação para alcançar a segurança sem privar os demais atores 
dela” (Williams, 2008, p. 6). 
A segunda pergunta proposta por Williams (2008), “a quem se destina a 
segurança?”, visa esclarecer o objeto de análise em uma discussão securitária. 
Durante o ápice dos estudos estratégicos e no período da Guerra Fria, a resposta 
para essa pergunta estava nos Estados. Uma segunda perspectiva foca na 
segurança para os indivíduos. Já uma terceira visão compreende a sociedade 
como o objetivo mais importante para os estudos de segurança (Williams, 2008). 
A terceira questão que delineia os estudos de segurança trata sobre o que 
deve ser considerado uma questão de segurança. Esse questionamento envolve 
uma análise do processo de como agendas de ameaça são construídas e 
compreende quem decide o que será encarado como uma ameaça. A construção 
de uma agenda que trate de possíveis ameaças pode abranger questões 
econômicas e sociais: pobreza, doenças infeciosas, problemas ambientais etc., 
além de conflitos entre Estados e conflitos internos, como guerras civis, 
genocídios, terrorismo e crime organizado (Williams, 2008). Essa questão abre 
um debate nos estudos de segurança sobre o que deveria ser encarado como 
ameaça securitária. Duas perspectivas podem ser destacadas. A primeira 
defende que assuntos militares e conflitos armados devem ser o foco da análise 
de segurança. A segunda argumenta que as análises deveriam ser direcionadas 
para ameaças imediatas que afetam o cotidiano da sociedade (ibidem). 
Por fim, a quarta questão proposta por Williams (2008, p. 9) é: “como a 
segurança pode ser alcançada?”. O objetivo dessa pergunta é esclarecer quais 
são os atores que colocam seus esforços sobre problemáticas securitárias. No 
sistema internacional contemporâneo, agentes securitários vão além dos 
Estados, por exemplo: organizações internacionais, ONGs, empresas de 
segurança privada e organizações criminais (ibidem). 
 
 
5 
 Esses quatro questionamentos são úteis para obtermos um panorama 
sobre os debates e objetos de análise dos estudos de segurança. Assim, nos 
próximos temas, poderá ser desenvolvida a relação dessa área de estudo com 
os regimes internacionais de segurança contemporâneos. 
TEMA 2 – ANARQUIA INTERNACIONAL E O DILEMA DE SEGURANÇA 
O entendimento de segurança durante a GuerraFria era focado na 
atuação dos Estados como principais agentes securitários e era racionalizado a 
partir da perspectiva da acumulação do poder. Nesse contexto, os Estados 
Unidos e a União Soviética buscaram maximizar sua segurança com o objetivo 
de evitar conflitos e de expandir, ou consolidar, suas esferas de influência (Onuki; 
Agopyan, 2020). Esse entendimento também interpreta o poder a partir dos 
ganhos relativos do Estado. Assim, a busca por segurança de uma potência pode 
ser compreendida como uma ameaça para outra potência. Essa escalada de 
poder, usualmente materializada por armamentos, gera o dilema da segurança 
(ibidem). 
 O dilema de segurança representa o cenário em que um Estado adota 
políticas que aumentem sua segurança, o que automaticamente irá diminuir a 
segurança dos demais Estados (Jervis, 1982). Essas reações que levam ao 
dilema de segurança possuem natureza unilateral e competitiva de 
comportamento, em vez da procura por soluções cooperativas (ibidem, 1982). 
Assim, o dilema de segurança se tornou um risco para a construção de um 
regime de segurança internacional confiável. 
 Se, por um lado, o acirramento da competição gerada pelo dilema de 
segurança é um risco para a manutenção de um regime de segurança, quais 
seriam os fatores que favoreceriam a formação e funcionamento desse regime? 
Segundo Jervis (1982, p. 360), o primeiro fator seria o desejo das grandes 
potências em estabelecer esse regime. Para isso, as potências e os demais 
Estados necessitariam estar razoavelmente satisfeitos com o status quo vigente 
para mantê-lo. O segundo fator seria a crença dos atores em que os demais 
Estados dividem valores similares sobre segurança mútua e cooperação. Essa 
condição também envolve possíveis formas incorretas em que os Estados 
podem perceber outros como ameaças (Jervis, 1982). 
O terceiro fator destacado por Jervis (1982, p. 361) é que atores que 
acreditam que a segurança pode ser sanada por meio da expansão colocam em 
 
 
6 
risco o funcionamento do regime internacional. Por fim, a quarta condição que 
favorece o surgimento de um regime de segurança seria o entendimento de que 
guerras, conflitos armados e a busca individual pela segurança seriam custosos. 
Segundo o autor, isso significa que se Estados acreditarem que construir 
armamentos é algo positivo (por exemplo, porque apoia a indústria doméstica), 
não haverá incentivos para a cooperação em manter baixos os custos de 
armamentos (Jervis, 1982). 
Trazendo o dilema da segurança para a contemporaneidade, Booth e 
Wheeler (2008, p. 133) argumentam que esse conceito deveria ser central para 
os estudos de segurança. Para os autores, o conceito é essencial porque está 
intimamente relacionado à condição de incerteza – uma característica presente 
em todas relações humanas. Nas relações internacionais, a incerteza representa 
o fato de que nenhum Estado é capaz de estar totalmente certo sobre as 
intenções e motivações de demais Estados. Nesse sentido, mesmo em tempos 
de paz, um Estado não conseguiria estar seguro das ações de um terceiro devido 
à incerteza futura (Booth; Wheeler, 2008). 
De modo a dar maior complexidade ao conceito do dilema de segurança, 
Booth e Wheeler apresentam três lógicas que podem moldar a maneira como 
teóricos e tomadores de decisão de política internacional interpretam o dilema 
de segurança. Essas lógicas são: 1) a fatalista; 2) a mitigadora e 3) a 
transcendente. A lógica fatalista determina que a competição securitária seria 
intrínseca à política internacional. A lógica mitigadora possui o pressuposto de 
que a competição securitária pode ser amenizada, mas nunca eliminada. Por 
sua vez, a lógica transcendente parte da ideia de que a sociedade humana é a 
responsável por constituir a si própria. Assim, a sociedade não é predeterminada 
e possui agência para promover mudanças (Booth; Wheeler, 2008). 
Aos trazer essas diferenciações, Booth e Wheeler (2008) demonstram 
como diferentes perspectivas teóricas compreendem o dilema de segurança. Os 
autores apresentam como as manifestações empíricas desse conceito têm sido 
interpretadas de diversas formas. Compreender o dilema de segurança se faz 
importante para analisar o papel que a cooperação securitária possui na política 
internacional. Como consequência, compreende-se também a construção e 
eficácia do regime de segurança internacional contemporâneo. 
 
 
 
7 
TEMA 3 – SEGURANÇA NA ONU: A RESPONSABILIDADE DE PROTEGER 
Após a Guerra Fria, o entendimento internacional sobre conflitos armados 
se modificou. As dimensões internas do conflito passaram a ser uma variável 
importante para buscar sua resolução. Isso se materializou nas mudanças das 
operações de paz das Nações Unidas. Assim, a perspectiva de segurança 
também foi modificada. Durante a Guerra Fria, a segurança se destinava aos 
Estados. A partir da mudança do entendimento internacional sobre o conflito, ela 
passou a permear outras dimensões. Nos estudos de segurança, Barry Buzan 
foi um dos percursores em associar a segurança não somente aos Estados, mas 
também à coletividade humana (Onuki; Agopyan, 2020). 
Nesse novo paradigma da segurança, problemáticas como a pobreza, as 
mudanças climáticas, o desenvolvimento e os direitos humanos passaram a 
serem discutidas. Dessa forma, a segurança deixa de ser entendida apenas pela 
ótica estatal e da integridade territorial, passando a abranger também a garantia 
da segurança humana (Onuki; Agopyan, 2020). É diante desse cenário que as 
atividades das operações de paz são expandidas e a questão das intervenções 
humanitárias ganha espaço no debate sobre política internacional. 
Em conjunto com a mudança do paradigma de segurança, o entendimento 
da soberania também se modificou após a Guerra Fria. Durante a disputa bipolar, 
o enfoque dado ao conceito da soberania residia em uma interpretação 
indivisível. Isso significa que a soberania estatal era inquestionável e se 
priorizava a não intervenção em assuntos internos dos Estados. Após esse 
período, o entendimento da soberania como algo indivisível passou a ser 
modificado em detrimento da justificativa do direito ao uso da força em situações 
de violações aos direitos humanos. Nesse sentido, criou-se o conceito de 
“responsabilidade de proteger”, cujo objetivo seria demonstrar que os Estados 
teriam o dever de agir quando um Estado não é capaz, ou não deseja, proteger 
os direitos humanos de sua própria população. A partir do conceito da 
responsabilidade de proteger, o entendimento da soberania passar a ser 
vinculado à noção de direitos humanos (Onuki; Agopyan, 2020). Em suma, 
a soberania não é um atributo intrínseco e imutável do Estado, algo 
que possa justificar, inclusive, violações de direitos humanos contra 
populações nacionais. [...], a soberania decorre da responsabilidade de 
o Estado proteger sua população contra crimes contra a humanidade, 
genocídio, crimes de guerra e limpeza étnica e tem como fato gerador 
essa obrigação de proteger. (Alexandre, 2014, p. 8) 
 
 
8 
 A responsabilidade de proteger surgiu em um contexto histórico-crítico 
para as Nações Unidas. A organização enfrentava questionamentos sobre sua 
eficácia e funcionamento devido às violações humanitárias ocorridas durante a 
década de 1990. Por exemplo, a ONU foi criticada por não agir rapidamente no 
caso de genocídio em Ruanda e em não atuar de forma eficaz para impedir o 
genocídio na Bósnia-Herzegovina. Dessa forma, o conceito de responsabilidade 
de proteger tem o intuito de fazer com que as intervenções humanitárias fossem 
mais assertivas (Alexandre, 2014). 
Em 2005, o conceito foi institucionalizado nas Nações Unidas por meio de 
uma resolução da Assembleia Geral (A/RES/60/1, 2005). De acordo com a 
resolução, cada Estado individual teria a responsabilidade de proteger sua 
população de violações humanitárias, incluindo a prevenção que essescrimes 
venham a ocorrer. Ainda, a resolução afirma que a comunidade internacional, 
por meio das Nações Unidas, teria a responsabilidade de usar meios pacíficos 
para proteger populações que sofressem violações humanitárias. Caso os meios 
pacíficos não surtissem efeito, o Conselho de Segurança poderia autorizar o uso 
da força para mitigar crimes humanitários (A/RES/60/1, 2005). 
O endosso sobre a responsabilidade de proteger veio de forma unânime 
pela Assembleia Geral. Contudo, existem críticas em relação à sua prática. 
Essas críticas ganharam força a partir da intervenção na guerra civil da Líbia, em 
2011. Em março de 2011, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou 
a Resolução 1973 a qual autorizava o uso robusto da força para impor uma zona 
de exclusão aérea a Líbia com a justificativa de proteger os civis do regime de 
Gaddafi. Contudo, a intervenção militar não estabilizou a política na Líbia e levou 
o país a uma guerra civil entre apoiadores de Gaddafi e seus opositores – 
apoiados pela OTAN (Neves, 2014). A situação de instabilidade criada pela 
intervenção despertou debates dentro do âmbito das Nações Unidas. Um 
importante conceito que surgiu a partir desse questionamento foi o da 
‘responsabilidade ao proteger’ cunhado pela representação diplomática 
brasileira e o ministro das relações exteriores do período, Antônio Patriota. 
 Após a intervenção da Líbia, o Brasil foi um importante porta-voz das 
críticas direcionadas à responsabilidade de proteger. As críticas trazidas pelo 
Brasil não foram fruto unicamente da intervenção na Líbia, mas preocupações 
de longa data sobre as limitações do sistema de segurança coletiva. Essa 
proposta sofreu resistência inicial das potências pertencentes à OTAN, como os 
 
 
9 
Estados Unidos, França e Reino Unido, mas o debate ganhou corpo e passou a 
ser abertamente discutido nas Nações Unidas (Tourinho; Stuenkel; Brockmeier, 
2016, p. 7). O conceito da responsabilidade ao proteger pode ser interpretado 
como uma crítica também à maneira como as potências ocidentais no hemisfério 
norte conduzem as intervenções humanitárias. Assim, abre espaço para uma 
discussão de cunho securitário para participação de países em desenvolvimento. 
 O conceito da responsabilidade ao proteger foi um importante passo para 
a formulação de uma crítica construtiva à doutrina de intervenções que surgiu do 
próprio âmbito político. Contudo, o debate perdeu espaço a partir de 2012. Na 
prática, as consequências das intervenções na Líbia ressoaram na doutrina 
vigente. Por exemplo, o argumento de que o uso da força pode trazer mais 
malefícios do que benefícios ganhou espaço nas discussões políticas e 
acadêmicas (Tourinho; Stuenkel; Brockmeier, 2016, p. 10). 
TEMA 4 – SEGURANÇA NO CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO DO TRATADO 
DO ATLÂNTICO NORTE (OTAN) 
Tratar da atuação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) 
no âmbito dos regimes internacionais se faz necessário por dois principais 
motivos. O primeiro está relacionado ao seu papel na cooperação securitária 
como a principal organização de defesa coletiva da contemporaneidade. Em 
segundo lugar, a OTAN serve como exemplo prático para a compreensão de 
como o entendimento de segurança foi expandido após a Guerra Fria. 
A OTAN foi oficialmente formada em 1949 com a assinatura do Tratado 
de Washington. Inicialmente, a organização contava com 12 países-membros: 
Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Portugal, França, Dinamarca, Bélgica, 
Islândia, Itália, Países Baixos, Noruega e Luxemburgo (Onuki; Agopyan, 2020). 
Atualmente, a organização conta com 29 Estados-membros, sendo Grécia e 
Turquia exemplos de como a OTAN se expandiu geograficamente para além do 
Atlântico Norte (Bertazzo, 2010). 
O contexto histórico do surgimento da OTAN foi o início dos acirramentos 
entre as duas potências do pós-Segunda Guerra: Estados Unidos e União 
Soviética. A OTAN materializou, por meio de recursos militares, o conjunto de 
valores e ideologias representados pela democracia liberal. Liderada pelos EUA, 
a organização visava ampliar a cooperação com a Europa e mitigar o avanço 
soviético no território europeu (Barroso, 2006). 
 
 
10 
O documento original constitutivo da OTAN contava com 14 artigos. Entre 
eles, pode-se destacar o Artigo 5: 
as Partes concordam em que um ataque armado contra uma ou várias 
delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque 
a todas, e, consequentemente, concordam em que, se um tal ataque 
armado se verificar, cada uma, no exercício do direito de legítima 
defesa, individual ou coletiva, reconhecido pelo artigo 51.° da Carta das 
Nações Unidas, prestará assistência à Parte ou Partes assim atacadas, 
praticando sem demora, individualmente e de acordo com as restantes 
Partes, a ação que considerar necessária, inclusive o emprego da força 
armada, para restaurar e garantir a segurança na região do Atlântico 
Norte. Qualquer ataque armado desta natureza e todas as providências 
tomadas em consequência desse ataque serão imediatamente 
comunicados ao Conselho de Segurança. Essas providências 
terminarão logo que o Conselho de Segurança tiver tomado as 
medidas necessárias para restaurar e manter a paz e a segurança 
internacionais. (OTAN, 1949) 
Como é possível observar, o Artigo 5 é o responsável por determinar as 
justificativas do uso da força da organização. Qualquer ataque contra algum dos 
membros da OTAN levaria todos os membros ao conflito em sua defesa. Dessa 
forma, o artigo demonstra a natureza de aliança militar da OTAN durante a 
Guerra Fria. Após o período bipolar, essa natureza se expandiu (Onuki; 
Agopyan, 2020). 
Com o desmantelamento da União Soviética em 25 de dezembro de 1991, 
a OTAN precisou de um novo propósito para seu funcionamento. A organização 
ganhou maior institucionalidade e se consolidou como uma organização regional 
de cooperação em segurança (Onuki; Agopyan, 2020). De modo a justificar sua 
continuidade, a OTAN ampliou seu escopo sobre assuntos securitários. Assim, 
a organização adaptou suas normas e ampliou suas estruturas para lidar com a 
realidade das novas ameaças securitárias. Por exemplo, seus Estados-membros 
passaram a conduzir e participar de operações de paz. Ainda, a OTAN ampliou 
suas atividades para além do âmbito militar, tornando-se um fórum político para 
discussões entre seus membros (Bertazzo, 2010). 
A mudança institucional da OTAN pode ser evidenciada pelo ‘conceito 
estratégico’, apresentado em 1991. Nesse documento, afirma-se que o ambiente 
pós-Guerra Fria não modificaria o propósito da organização. Contudo, tais 
mudanças trariam visões mais amplas de segurança (Barroso, 2006). Esse novo 
entendimento de segurança da OTAN refletia a promoção de instituições livres 
e da economia de mercado, uma vez que essas medidas estavam relacionadas 
à promoção de paz, democracia e segurança. Apesar de essa modificação 
refletir a conjuntura internacional de mudanças sobre percepções securitárias, 
 
 
11 
Barroso (2006) menciona uma crítica sobre o tema. Segundo ele, o conceito 
heterogêneo de segurança adotado pela OTAN foi demasiado amplo (idem, p. 
49). Por exemplo, reformas econômicas, violações de direitos humanos e 
questões ambientais entraram no entendimento mais amplo de segurança. 
Contudo, a OTAN não definiu o escopo e o alcance de sua atuação para cada 
um desses casos. 
Em relação à atuação contra a violação de direitos humanos, é possível 
destacar duas atuações da OTAN. O primeiro caso é a Guerra da Bósnia e o 
segundo caso é a intervenção em Kosovo (Barroso, 2006). A intervenção da 
OTAN na Guerra da Bósnia (1992-1995) marcou a primeira vez em que a 
organização utilizou a força em um conflito. A atuação da OTAN foi capaz de 
desmantelar as forças sérvias contra os grupos bósnios para que o Acordo de 
Paz fosse negociado. Quanto à Guerra do Kosovo (1999), a intervenção da 
OTAN foi justificadacom o intuito de prevenir violações de direitos humanos 
durante o conflito. Os ataques da OTAN foram direcionados às forças sérvias, 
as quais objetivavam reprimir o movimento separatista dos kosovares albaneses. 
Uma importante diferença entre as atuações da OTAN em ambos os 
casos foi sua relação com o Conselho de Segurança da ONU. Durante a Guerra 
da Bósnia, o Conselho de Segurança aprovou a intervenção. Já no caso do 
Kosovo, a intervenção foi vetada. Apesar do veto do Conselho de Segurança, a 
OTAN realizou a intervenção na região. 
TEMA 5 – TERRORISMO E NÃO PROLIFERAÇÃO DE ARMAS NUCLEARES 
Como discutido, a conjuntura internacional pós-Guerra Fria foi 
acompanhada por um novo entendimento de segurança, trazendo questões 
como o desenvolvimento humano, os direitos humanos e questões ambientais 
para a agenda tantos dos Estados quanto dos estudos de segurança. O início do 
século XXI mobilizou, de forma ainda mais assertiva, as instituições 
internacionais para novas ameaças (Onuki; Agopyan, 2020). Os ataques 
terroristas ao World Trace Center, em Nova York, e ao Pentágono, em 
Washigton D.C., fizeram com que os atores internacionais se mobilizassem 
contra essa nova ameaça. Além do terrorismo, a invasão do Iraque em 2003 
fortaleceu o debate entorno da não proliferação de armas de destruição em 
massa. O argumento utilizado pelos Estados Unidos para realizar a invasão foi 
de que Saddam Hussein deteria um arsenal de armas de destruição em massa. 
 
 
12 
Em 2004, o então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, propôs 
a reunião de um painel sobre ameaças, desafios e mudanças com o intuito de 
lidar com esses desafios. (Onuki; Agopyan, 2020). O painel foi intitulado “A more 
secure world: our shared responsability” e seu objetivo era endereçar as 
principais ameaças à paz e à segurança internacional (A/59/565, 2004). Entre as 
ameaças tratadas pelo documento, a questão do terrorismo e das armas de 
destruição em massa são abordadas. 
Em relação ao terrorismo, o documento relata a existência de duas novas 
dinâmicas que tornam essa ameaça urgente. A primeira dinâmica é a capacidade 
de os grupos terroristas formarem uma rede com alcance global e capacidade 
de agir de forma sofisticada, como ocorreu com a Al Qaeda. A segunda dinâmica 
é a ameaça de que o terrorismo buscaria causar casualidades em massa e, por 
isso, criaria perigos sem precedentes no contexto da segurança coletiva das 
Nações Unidas. O documento recomenda que uma das formas para lidar com 
essa ameaça seria por meio do controle dos materiais nucleares, químicos e 
biológicos e também construir sistemas globais robustos de saúde pública 
(A/59/565, 2004). 
Entre as principais dificuldades em lidar com a ameaça do terrorista está 
a questão de que não há uma definição comumente aceita sobre o que poderia 
ser considerado um ato terrorista (Onuki; Agopyan, 2020). O relatório traz essa 
dificuldade à tona, afirmando que os Estados-membros das Nações Unidas não 
haviam sido capazes de chegar a um consenso sobre a definição de terrorismo. 
Reconhecendo esse empecilho, o documento define o terrorismo como 
qualquer ação [...] que tem como intenção causar morte ou danos 
corporais a civis ou não combatentes, quando o propósito desse ato, 
em sua natureza ou contexto, é intimidar uma população ou compelir 
um governo ou organização internacional em agir ou se abster de um 
determinado ato. (A/59/565, 2004, p. 49)1 
 Partindo dessa definição, é interessante ressaltar o elemento da 
intimidação. Nesse sentido, a violência causada pelo terrorismo teria um objetivo 
predeterminado e usaria o medo como instrumento para alcançá-lo (Onuki; 
Agopyan, 2020). 
 
1 Tradução da autora. No original: “any action [...] that is intended to cause death or serious bodily 
harm to civilians or non-combatants, when the purpose of such an act, by its nature or context, is 
to intimidate a population, or to compel a Government or an international organization to do or to 
abstain from doing any act” (A/59/565, 2004, p. 49). 
 
 
13 
Ao tratar das formas de prevenção ao terrorismo, o relatório dá destaque 
ao desenvolvimento de instrumentos globais para a cooperação no tema 
(A/59/565, 2004). Apesar de a importância dessa iniciativa ter sido reconhecida 
em 2004, o Escritório de Contraterrorismo das Nações Unidas (UNOCT) foi 
criado apenas em 2017. O objetivo do escritório foi o de unificar as iniciativas do 
sistema ONU e fortalecer os esforços dos Estados-membros sobre a temática 
do contraterrorismo (Onuki; Agopyan, 2020). 
Em 1968, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) foi 
elaborado. O objetivo do TNP era conter a difusão de armamentos nucleares por 
meio do comprometimento dos Estados que aderem o acordo. Apesar de o TNP 
ser um importante passo para a cooperação nuclear, sua eficácia é questionada. 
Uma das críticas é de que o TNP não foi capaz de impedir que Israel, Índia e 
Paquistão e a República Democrática da Coreia desenvolvessem suas armas 
nucleares (Onuki; Agopyan, 2020). Uma segunda crítica é de que o TNP teria 
legitimado a divisão entre Estados que detêm armamentos nucleares e aqueles 
que não (César, 2008). O relatório “A more secure world” reconhece que o TNP 
não seria tão eficaz quanto na época de sua formulação (A/59/565, 2004). 
Além do TNP, outros elementos essenciais que formam os alicerces do 
regime de não proliferação são: 1) um sistema que verifique o cumprimento do 
que foi acordado pelo tratado, como é o caso da Agência Internacional de 
Energia Atômica (AIEA); 2) controle de fornecedores de materiais nucleares ou 
químicos; e 3) um mecanismo de cumprimento ao tratado, como funciona o 
Conselho de Segurança das Nações Unidas (Batista, 2011; Lamazière, 1996). 
A cooperação na área nuclear surgiu durante a Guerra Fria, na década de 
1950. O então presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower, propôs às 
Nações Unidas o programa Átomos para a Paz. A preocupação estadunidense 
surge a partir de uma possível corrida armamentista nuclear e para manter um 
oligopólio formado pelos países que já eram detentores de armas nucleares. Por 
meio do programa Átomos para a Paz, os Estados Unidos se comprometeram a 
compartilhar seus conhecimentos científicos nucleares para propósitos pacíficos 
(Batista, 2011). A cooperação promovida por esse programa aconteceu de forma 
bilateral. Em 1954, a Assembleia Geral da ONU aprovou a criação da AIEA, 
dando ênfase multilateral à cooperação nuclear. O objetivo da criação de uma 
agência voltada à questão nuclear foi coordenar, reduzir e eliminar o uso do 
material nuclear para fins bélicos (Batista, 2011). 
 
 
14 
NA PRÁTICA 
 O conceito da responsabilidade de proteger representou um novo 
posicionamento das Nações Unidas sobre os crimes contra civis. Explique o que 
é a responsabilidade de proteger e como ela se relaciona com o entendimento 
de segurança vigente no pós-Guerra Fria. Saliente, também, uma contradição, 
ou crítica, possível de direcionar a esse conceito. 
FINALIZANDO 
 Esta aula teve como objetivo apresentar o desenvolvimento do regime 
internacional de segurança, tratando de temas pertinentes ao assunto em pauta. 
Em um primeiro momento, os temas trataram dos diferentes entendimentos de 
segurança e da relação do regime com o dilema de segurança. Em um terceiro 
momento, discutiu-se questões pertinentes ao regime, como a responsabilidade 
de proteger, o terrorismo e a não proliferação nuclear. 
 
 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
A/59/565. UN General Assembly. A more secure world: our shared 
responsibility, 2004. Disponível em: 
<https://www.refworld.org/docid/47fdfb22d.html>. Acesso em: 10 maio 2020. 
ALEXANDRE, C. F. Responsabilidade de proteger e soberania como 
responsabilidade: análise teórica e desafios brasileiros. Trabalho de conclusão 
de curso (Especialização em Relações Internacionais)– Universidade de 
Brasília, Brasília, 2014. 
BATISTA, G. F. F. Política externa brasileira e o Tratado de Não-Proliferação 
de Armas Nucleares (TNP): da resistência à adesão. Dissertação (Mestrado) – 
UNESP/UNICAMP/PUC-SP, 2011. Disponível em: 
<http://hdl.handle.net/11449/96283>. Acesso em: 9 maio 2020. 
BERTAZZO, J. Atuação da OTAN no pós-Guerra Fria: implicações para a 
segurança internacional e para a ONU. Contexto Internacional, v. 32, n. 1, p. 
91-119, 2010. 
CÉSAR, L. F. P. Tratado de Não Proliferação Nuclear – TNP (1968). História da 
Paz. São Paulo: Contexto, 2008. 
JERVIS, R. Security regimes. International Organization, v. 36, n. 2, p. 357-
378, 1982. 
LAMAZIÈRE, G. O conceito de regime internacional e o regime de não-
proliferação de armas de destruição em massa. Política Externa, v. 4, n. 4, p. 
83-109, 1996. 
NEVES, L. P. Novas abordagens para a Segurança Internacional: caminhos para 
a Responsabilidade de Proteger. Monções: Revista de Relações 
Internacionais da UFGD, v. 2, n. 4, p. 100-130, 2014. 
ONUKI, J.; AGOPYAN, K. K. Organizações internacionais. Curitiba: Uninter, 
2020. 
OTAN. Tratado do Atlântico Norte. Washington D.C., 4 de abril de 1949. 
Disponível em: 
<https://www.nato.int/cps/su/natohq/official_texts_17120.htm?selectedLocale=p
t>. Acesso em: 9 maio 2020. 
 
 
16 
TOURINHO, M.; STUENKEL, O.; BROCKMEIER, S. Responsibility while 
protecting: Reforming R2P implementation. Global Society, v. 30, n. 1, p. 134-
150, 2016. 
WHEELER, K. B.; NICHOLAS, J. Uncertainty. In: WILLIAMS, P. D. Security 
Studies: An Introduction, p. 133-150, 2008. 
WILLIAMS, P. D. Security studies: an introduction. In: Security studies. 
Routledge, 2012. p. 23-34.

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