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1 DIMENSIONAMENTO DE CONTENÇÕES 1 SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................... 2 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 3 2. EMPUXO DE TERRA ..................................................................................... 5 2.1 Empuxo Ativo x Empuxo Passivo ............................................................. 6 2.2 Coeficientes de Empuxo........................................................................... 8 2.2.1 Empuxo no Repouso.......................................................................... 9 2.2.2 Empuxo Ativo ................................................................................... 11 2.2.3 Empuxo Passivo .............................................................................. 13 3. MUROS ........................................................................................................ 15 3.1 Muros de Gravidade ............................................................................... 15 3.1.1 Muros de Alvenaria de Pedra ........................................................... 15 3.1.2 Muros de Concreto Ciclópico ou Concreto Gravidade ..................... 16 3.1.3 Muros de Gabião.............................................................................. 17 3.1.4 Muros de Sacos de Solo-Cimento.................................................... 18 3.2 Muros de Flexão ..................................................................................... 20 4.1 Sistemas de Drenagem .......................................................................... 22 1. 5. PROJETO DE MUROS DE ARRIMO ....................................................... 26 2. REFERÊNCIAS ............................................................................................ 35 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 1. INTRODUÇÃO Segundo Luiz (2014), as estruturas de contenção são obras de engenharia civil necessárias quando o estado de equilíbrio natural de um maciço de solo ou de rocha é alterado por solicitações que podem ocasionar deformações excessivas e até mesmo o seu colapso. A estrutura deverá, então, suportar as pressões laterais (empuxo) do material a ser contido de forma a garantir segurança ao talude. A execução de uma estrutura de contenção pode significar um ônus financeiro muito significativo para a realização de um empreendimento em área de encostas. Esta etapa da obra, mesmo abrangendo uma extensão relativamente pequena, pode, em alguns casos, apresentar custo maior do que a própria edificação a ser construída. Diante disso, ressalta-se a importância de sempre se desenvolver um projeto considerando diferentes opções de estruturas de contenção de forma a atender a segurança necessária ao empreendimento com os menores custos envolvidos. Santos et al. (2013) acrescenta que as obras de contenção são frequentemente empregadas em projetos de pontes, metrôs, saneamento, estradas, viadutos e subsolos de edifícios e provocam a movimentação das massas de solo a seu redor, devido: À variação no seu estado de tensões; Ao adensamento de solos saturados; Por rebaixamento do lençol freático; Entre outras causas. É de suma importância para a execução de uma contenção com segurança, conhecer a estratigrafia do maciço de solo a ser contido, determinar os parâmetros de resistência ao cisalhamento, bem como, os esforços atuantes e os deslocamentos gerados sobre a contenção. Contenção é uma estrutura que está diretamente ligada ao solo, sendo condicionada pelo seu deslocamento. Para Cardoso (2002) a necessidade de executarmos as contenções, ou ao menos de limitarmos a escavação por taludes, é evidente: segurança. As escavações são feitas num material normalmente muito heterogêneo, o solo, cujas propriedades podem variar drasticamente com pequenos fatos. Por exemplo, um solo argiloso pode perder totalmente suas propriedades coesivas quando saturado de água advinda de uma chuva, tornando-se susceptível a 4 um desmoronamento, pondo em risco toda a obra, não só no que se refere aos equipamentos e suas partes já executadas dentro da escavação como, e principalmente, o que se refere às vidas humanas que nela trabalham. A Figura 1 mostra o desabamento de um muro de contenção da obra de uma rede de supermercados em Salvador, Bahia. De acordo com o Portal UOL (2020), o desabamento do muro provocou a queda de sete postes de energia. Responsáveis pela obra afirmaram que o deslizamento de terra ocorreu o devido às fortes chuvas na região. Figura 1: Desabamento de muro de contenção Fonte: Portal UOL, 2020 Estruturas de contenção são destinadas a contrapor-se a empuxos ou tensões geradas em maciço cuja condição de equilíbrio foi alterada por algum tipo de escavação, corte ou aterro. 5 2. EMPUXO DE TERRA De acordo com Gerscovich et al.(2016), empuxo de terra é a ação horizontal produzida por um maciço de solo sobre as estruturas com ele em contato. Em outras palavras, o empuxo de terra é a resultante da distribuição das tensões horizontais atuantes em uma estrutura de contenção. A determinação da magnitude do empuxo de terra é fundamental para o projeto de estruturas de contenção, tais como: Muros de arrimo; Cortinas de estacas-prancha; Paredes de subsolos; Encontro de pontes. O valor da resultante de empuxo de terra, bem como a distribuição de tensões horizontais ao longo do elemento estrutural, depende de como o processo de interação solo-estrutura vai ocorrendo durante todas as fases da obra. O empuxo atuando sobre o elemento estrutural provoca deslocamentos horizontais que, por sua vez, alteram o valor e a distribuição do empuxo ao longo das fases construtivas da obra. Dentre os fatores quem intervêm neste processo de interação solo-estrutura, têm-se como principais: Os dependentes do elemento vertical do muro o Altura o Rugosidade o Deformabilidade o Inclinação Os dependentes do elemento horizontal do muro - Sapata de fundação o Deformabilidade por rotação e translação (vertical ou horizontal) Os dependentes do solo o Densidade o Estrutura - Não-coesivo ou coesivo o Ângulo de atrito interno o Recalque o Umidade 6 o Chuvas o Lençóis aquíferos o Trepidações o Solicitações próprias do terrapleno por sobrecarga - Verticais ou Horizontais De acordo com Neiva et al. (2014) o empuxo geralmente é calculado por uma faixa de largura unitária da estrutura de arrimo, não se considerando as forças que atuariam sobre as superfícies lateraisdessa faixa. A magnitude do empuxo depende de fatores, como: Desnível vencido pela estrutura de arrimo; Tipo e características do solo; Deformação sofrida pela estrutura; Posição do nível de água; Inclinação do terrapleno. 2.1 Empuxo Ativo x Empuxo Passivo Nos problemas de fundações, a interação das estruturas com o solo implica a transmissão de forças predominantemente verticais. Contudo, são também inúmeros os casos em que as estruturas interagem com o solo por meio de forças horizontais, denominadas empuxo de terra. Neste último caso, as interações dividem-se em duas categorias: Empuxo Ativo: Quando uma estrutura é construída para suportar um maciço de solo. Nesse caso, as forças que o solo exerce sobre as estruturas são de natureza ativa. O solo “empurra” a estrutura, que reage, tendendo a afastar-se do maciço. Na Figura 2 são apresentadas duas obras desse tipo. Figura 2: Exemplos de obra em que os empuxos são de natureza ativa: (A) muro de proteção contra a erosão superficial; (B) muro gravidade 7 Fonte: Gerscovich et al., 2016 Empuxo Passivo: Acontece quando a estrutura que é empurrada contra o solo. Neste caso, a força exercida pela estrutura sobre o solo é de natureza passiva. Pode-se citar como exemplo deste tipo as pontes em arco, onde as suas fundações transmitem ao maciço forças com elevada componente horizontal, como mostra a Figura 3. Figura 3: Ponte em arco, um exemplo de obra em que mobilizam empuxos de natureza passiva Fonte: Gerscovich et al., 2016 É possível ainda que, em determinadas obras, a interação solo-estrutura englobe simultaneamente as duas categorias acima. É o que pode ser visto na Figura 4, um exemplo de muro de cais ancorado. Neste caso, as pressões do solo suportado imediatamente atrás da cortina são equilibradas pela força de um tirante de aço amarrado em um ponto perto do topo da cortina e pelas pressões do solo em frente à cortina. O esforço de tração no tirante tende a deslocar a placa para a esquerda, isto é, empurra-a contra o solo, mobilizando pressões de natureza passiva de um lado e pressões de natureza ativa do lado oposto (GERSCOVICH ET AL, 2016). Figura 4: Muro cais-ancorado, caso em que se desenvolvem pressões ativas e passivas Fonte: Gerscovich et al., 2016 8 Neiva et al. (2014) acrescenta que os termos ativo e passivo são usualmente empregados para descrever as condições limites de equilíbrio correspondente ao empuxo do solo de retro aterro contra a face interna do muro de arrimo ou contenção. A figura 5 mostra a variação de empuxos em função do deslocamento. A pressão horizontal diminui ou aumenta, conforme o muro aproxima-se ou afasta-se do maciço de terra. Figura 5: Variação dos empuxos em função do deslocamento Fonte: Neiva et al., 2014 2.2 Coeficientes de Empuxo Considerando uma massa semi-infinita de solo, calcula-se a pressão vertical σv em uma profundidade z. Figura 6 - Massa semi-infinita de solo Fonte: Neiva et al., 2014 9 A relação entre σh e σv em repouso é chamado de k, que é o coeficiente de empuxo. 𝑘 = 𝜎ℎ 𝜎𝑣 Equação 1 Se a solicitação imposta ao solo envolver deformações laterais de compressão ou de extensão, o equilíbrio é alterado e o solo se afasta da condição de repouso.Dependendo da magnitude das deformações laterais, o estado de tensões no solo pode situar-se entre as condições de repouso e de ruptura. O valor da força necessária para manter o anteparo estático é denominado de “empuxo em repouso” (Eo), a força sobre o anteparo no momento da ruptura é denominado “empuxo ativo” (Ea), afastando o anteparo da massa de solo e a força empurrando o anteparo contra a massa de areia até a ruptura denomina-se “empuxo passivo” (Ep). Figura 7: Empuxo ativo (Ea) e Empuxo Passivo (Ep) Fonte: Neiva et al., 2014 2.2.1 Empuxo no Repouso O estado de repouso corresponde à pressão exercida pelo solo de retro aterro sobre um muro de contenção rígido e fixo, ou seja, que não sofre movimentos na direção lateral. 10 Figura 8: Empuxo no repouso Fonte: Neiva et al., 2014 Estados de Equilíbrio Plástico: 𝜎𝑣 = 𝛾𝑠𝑜𝑙𝑜 . 𝑧 𝜎ℎ = 𝑘0 . 𝜎𝑣 = 𝑘0 . 𝛾𝑠𝑜𝑙𝑜 . 𝑧 Equação 2 Tabela 1: Valores de 𝒌𝟎 Fonte: Neiva et al. Apud Caputo, 2014 Tabela 2: Valores de 𝒌𝟎 Fonte: Neiva et al. Apud Vargas, 2014 11 Para o caso ativo, a trajetória de tensões corresponde a um descarregamento da tensão lateral, enquanto, para o caso passivo, a trajetória pode ser associada a um carregamento lateral. As teorias clássicas sobre empuxo de terra foram formuladas por Coulomb (1773) e Rankine (1856), sendo desenvolvidas posteriormente por diversos autores. Rankine baseou-se na hipótese de que uma ligeira deformação no solo é suficiente para provocar uma total mobilização da resistência de atrito, produzindo o estado ativo se o solo sofre expansão e passivo se sofre compressão. Figura 9: Empuxo de terra em muros de contenção (Rankine) Fonte: Marchetti, 2007 2.2.2 Empuxo Ativo O estado ativo ocorre quando o muro sofre movimentos laterais suficientemente grandes no sentido de se afastar do retro aterro. Figura 10: Empuxo ativo Fonte: Neiva et al., 2014 12 Figura 11: Estado ativo Fonte: Neiva et al., 2014 𝐴𝐵̅̅ ̅̅ – Anteparo, se afasta do terreno 𝐵𝐶̅̅ ̅̅ – Superfície de ruptura Empuxo ativo total = Área ∆ 𝐴𝐵𝐷 𝑬𝒂 = 𝟏 𝟐 . 𝜸 . 𝒉𝟐. 𝒌𝒂 Equação 3 Ponto de aplicação 𝟏 𝟑 . 𝒉 a partir da base Direção horizontal e Sentido contra a contenção Tabela 3: Coeficiente de empuxo ativo 𝒌𝒂(Rankine) Fonte: Adaptada de Marchetti, 2007 13 2.2.3 Empuxo Passivo De forma análoga, o estado passivo corresponde à movimentação do muro de encontro ao retro aterro. Figura 12: Empuxo passivo Fonte: Neiva et al., 2014 Figura 13: Estado Passivo Fonte: Neiva et al., 2014 𝐴𝐵̅̅ ̅̅ – Anteparo, se desloca contra o terrapleno 𝐵𝐶̅̅ ̅̅ – Superfície de ruptura Empuxo ativo total = Área ∆ 𝐴𝐵𝐷 𝑬𝒑 = 𝟏 𝟐 . 𝜸 . 𝒉𝟐. 𝒌𝒑 14 Equação 4 Ponto de aplicação 𝟏 𝟑 . 𝒉 a partir da base Direção horizontal e Sentido contra a contenção Onde: 𝒌𝒑 > 𝒌𝟎 > 𝒌𝒂𝒌𝒑 = 𝟏 𝒌𝒂 Tabela 4: Coeficiente de empuxo ativo 𝒌𝒑(Rankine) Fonte: Adaptada de Marchetti, 2007 15 3. MUROS Segundo Gerscovichet al.(2016),muros são estruturas corridas de contenção de parede vertical ou quase vertical, apoiadas em uma fundação rasa ou profunda. Podem ser construídos em alvenaria (tijolos ou pedras), em concreto (simples ou armado), ou ainda, de elementos especiais. Os muros de arrimo podem ser de vários tipos: gravidade (construídos de alvenaria, concreto, gabiões ou pneus), de flexão (com ou sem contraforte) e com ou sem tirantes. Figura 14: Terminologias em muros Fonte: Gerscovich et al., 2016 3.1 Muros de Gravidade São estruturas corridas que se opõem aos empuxos horizontais pelo peso próprio. Geralmente, são utilizadas para conter desníveis, inferiores a cerca de 5m. Podem ser construídos de pedra, concreto, gabiões ou ainda, pneus usados. 3.1.1 Muros de Alvenaria de Pedra Os muros de alvenaria de pedra são os mais antigos e numerosos. Atualmente, devido ao custo elevado, o emprego da alvenaria é menos frequente, principalmente em muros com maior altura (Figura 15). Em muros de pedras arrumadas manualmente,a resistência resulta unicamente do imbricamento dos blocos de pedras. Apresenta como vantagens a simplicidade de construção, a dispensa de dispositivos de drenagem, pois o material 16 do muro é drenante e o custo reduzido, especialmente quando os blocos de pedras são disponíveis no local. No entanto, a estabilidade interna do muro requer que os blocos tenham dimensões aproximadamente regulares e são recomendados para a contenção de taludes com alturas de até 2 metros. A base do muro deve ter largura mínima de 1,0 metro e deve ser apoiada em uma cota inferior à da superfície do terren. Quanto a taludes de maior altura, aproximadamente 3 metros, deve-se empregar argamassa de cimento e areia para preencher os vazios dos blocos de pedras. Neste caso, podem ser utilizados blocos de dimensões variadas. A argamassa provoca uma maior rigidez no muro, porém elimina a sua capacidade drenante. É necessário então implementar os dispositivos usuais de drenagem de muros impermeáveis, tais como dreno de areia ou geossintético no tardoz e tubos barbacãs. Figura 15: Muros de alvenaria de pedra Fonte: Gerscovich et al., 2016 3.1.2 Muros de Concreto Ciclópico ou Concreto Gravidade Estes muros (Figura 16) são em geral economicamente viáveis apenas quando a altura não é superior a cerca de 4 metros. O muro de concreto ciclópico é uma estrutura construída mediante o preenchimento de uma fôrma com concreto e blocos de rocha de dimensões variadas. Devido àimpermeabilidade deste muro, é imprescindível a execução de um sistema adequado de drenagem. A sessão transversal é usualmente trapezoidal, com largura da base da ordem de 50% da altura do muro. A especificação do muro com faces inclinadas ou em degraus pode causar uma economia significativa de material. Para muros com face 17 frontal plana e vertical, deve-se recomendar uma inclinação para trás (em direção ao retro aterro) de pelo menos 1:30 (cerca de 2 graus com a vertical), de modo a evitar a sensação ótica de uma inclinação do muro na direção do tombamento para a frente. Os furos de drenagem devem ser posicionados de modo a minimizar o impacto visual devido às manchas que o fluxo de água causa na face frontal do muro. Alternativamente, pode-se realizar a drenagem na face posterior (tardoz) do muro através de uma manta de material geossintético (tipo geotêxtil). Neste caso, a água é recolhida através de tubos de drenagem adequadamente posicionados. Figura 16: Muros de concreto ciclópico ou concreto gravidade Fonte: Gerscovich et al., 2016 3.1.3 Muros de Gabião São constituídos por gaiolas metálicas preenchidas com pedras arrumadas manualmente e construídas com fios de aço galvanizado em malha hexagonal com dupla torção (Figura 17). As dimensões usuais dos gabiões são: comprimento de 2 metros e seção transversal quadrada com 1 metro de aresta. No caso de muros de grande altura, gabiões mais baixos (altura de 0,5 metro), que apresentam maior rigidez e resistência, devem ser posicionados nas camadas inferiores, onde as tensões de compressão são mais significativas. Para muros muito longos, gabiões com comprimento de até 4 metros podem ser utilizados para agilizar a construção. 18 A rede metálica que compõe os gabiões apresenta resistência mecânica elevada. No caso da ruptura de um dos arames, a dupla torção dos elementos preserva a forma e a flexibilidade da malha, absorvendo as deformações excessivas. O arame dos gabiões é protegido por uma galvanização dupla e, em alguns casos, por revestimento com uma camada de PVC. Esta proteção é eficiente contra a ação das intempéries e de águas e solos agressivos. As principais características dos muros de gabiões são a flexibilidade, que permite que a estrutura se acomode a recalques diferenciais e a permeabilidade. Figura 17: Muro gabião Fonte: Gerscovich et al., 2016 3.1.4 Muros de Sacos de Solo-Cimento São constituídos por camadas formadas por sacos de poliéster ou similares, preenchidos por uma mistura cimento-solo da ordem de 1:10 a 1:15 (em volume), Figura 18 e 19. O solo utilizado é inicialmente submetido a um peneiramento para a retirada dos pedregulhos. Em seguida, o cimento é espalhado e misturado, adicionando-se água em quantidade 1% acima da correspondente à umidade ótima de compactação proctor normal. Após a homogeneização, a mistura é colocada em sacos, com preenchimento até cerca de dois terços do volume útil do saco. Procede-se então o fechamento mediante costura manual. O ensacamento do material facilita o transporte para o local da obra e dispensa a utilização de fôrmas para a execução do muro. 19 No local de construção, os sacos de solo-cimento são arrumados em camadas posicionadas horizontalmente e, a seguir, cada camada do material é compactada de modo a reduzir o volume de vazios. O posicionamento dos sacos de uma camada é propositalmente desencontrado em relação à camada imediatamente inferior, de modo a garantir um maior intertravamento e, em consequência, uma maior densidade do muro. A compactação é em geral realizada manualmente com soquetes. Esta técnica não requer mão de obra ou equipamentos especializados. Um muro de arrimo de solo-cimento com altura entre 2 e 5 metros tem custo da ordem de 60% do custo de um muro de igual altura executado em concreto armado, além de ser de fácil execução com sua forma em curva (adaptada à topografia local). Figura 18: Ilustração de muro com sacos de solo-cimento Fonte: Gerscovich et al., 2016 20 Figura 19: Muro de contenção com sacos de solo-cimento Fonte: Gerscovich et al., 2016 3.2 Muros de Flexão Muros de Flexão são estruturas mais esbeltas com seção transversal em forma de “L” que resistem aos empuxos por flexão, utilizando parte do peso próprio do maciço, que se apoia sobre a base do “L”, para manter-se em equilíbrio. Em geral, são construídos em concreto armado, tornando-se antieconômicos para alturas de 5 a 7 metros. A laje de base em geral apresenta largura entre 50 e 70% da altura do muro. A face trabalha à flexão e se necessário pode empregar vigas de enrijecimento, no caso alturas maiores. Figura 20: Ilustração muro de flexão Fonte:Gerscovich et al., 2016 21 Para muros com alturas superiores a cerca de 5 metros, é conveniente a utilização de contrafortes (ou nervuras), para aumentar a estabilidade contra o tombamento (Figura 21). Tratando-se de laje de base interna, ou seja, sob o retro aterro, os contrafortes devem ser adequadamente armados para resistir a esforços de tração. Os contrafortes são em geral espaçados de cerca de 70% da altura do muro. Figura 21 – Muro com contraforte Fonte: Gerscovich et al., 2016 Muros de flexão (Figura 22) podem também ser ancorados na base com tirantes ou chumbadores (rocha) para melhorar sua condição de estabilidade. Esta solução de projeto pode ser aplicada quando na fundação do muro ocorre material competente (rocha sã ou alterada) e quando há limitação de espaço disponível para que a base do muro apresente as dimensões necessárias para a estabilidade. Figura 22: Muro de concreto ancorado na base: seção transversal Fonte: Gerscovich et al., 2016 22 4. INFLUÊNCIA DA ÁGUA Grande parte dos acidentes envolvendo muros de arrimo está relacionada ao acúmulo de água no maciço. A existência de uma linha freática no maciço é altamente desfavorável,aumentando substancialmente o empuxo total. O acúmulo de água, por deficiência de drenagem, pode duplicar o empuxo atuante. O efeito da água pode ser direto, resultante do acúmulo de água junto ao tardoz interno do muro, ou indireto, produzindo uma redução da resistência ao cisalhamento do maciçoem decorrência do acréscimo das pressões intersticiais. A resistência ao cisalhamento dos solos é expressa pela equação: 𝝉 = 𝐜’ + ’ 𝐭𝐚𝐧 𝜱’ = 𝐜’ + (𝛔 − 𝐮) 𝐭𝐚𝐧 𝜱’ Equação 5 Onde: c’ e ’ = parâmetros de resistência do solo; ’= tensão normal efetiva; tensão normal total u = poro pressão. O efeito direto é o de maior intensidade podendo ser eliminado ou bastante atenuado, por um sistema de drenagem eficaz. Todo cuidado deve ser dispensado ao projeto do sistema de drenagem para dar vazão a precipitações excepcionais e para que a escolha do material drenante seja feita de modo a impedir qualquer possibilidade de colmatação ou entupimento futuro. 4.1 Sistemas de Drenagem Para um comportamento satisfatório de uma estrutura de contenção, é fundamental a utilização de sistemas eficientes de drenagem. Os sistemas de drenagem podem ser superficiais ou internos. Em geral, os projetos de drenagem combinam com dispositivos de proteção superficial do talude. Sistemas de drenagem superficial devem captar e conduzir as águas que incidem na superfície do talude, considerando-se não só a área da região estudada como toda a bacia de captação. 23 Figura 23: Dispositivos de drenagem superficial Fonte: Gerscovich et al., 2016 Sistemas de proteção de talude têm como função reduzir a infiltração e a erosão, decorrentes da precipitação de chuva sobre o talude. Figura 24: Proteção superficial 24 Fonte: Gerscovich et al., 2016 Sistemas de drenagem subsuperficiais (drenos horizontais, trincheiras drenantes longitudinais, drenos internos de estruturas de contenção, filtros granulares e geodrenos) têm como função controlar as magnitudes de pressões de água e/ou captar fluxos que ocorrem no interior dos taludes. 25 Figura 25: Sistemas de Drenagem – dreno inclinado Fonte: Gerscovich et al., 2016 Figura 26: Sistemas de Drenagem – dreno vertical Fonte: Gerscovich et al., 2016 26 1. 5. PROJETO DE MUROS DE ARRIMO Estabilidade Na verificação de um muro de arrimo, seja qual for a sua seção, devem ser investigadas as seguintes condições de estabilidade: tombamento, deslizamento da base, capacidade de carga da fundação e ruptura global, como indica a Figura 27. O projeto é conduzido assumindo-se um pré-dimensionamento (Figura 28) e, em seguida, verificando-se as condições de estabilidade. Figura 27: Estabilidade de Muros de Arrimo 27 Fonte: Gerscovich et al., 2016 Figura 28: Pré-dimensionamento Fonte: Gerscovich et al., 2016 Cálculo dos esforços A segunda etapa do projeto envolve a definição dos esforços atuantes. As teorias de Rankine e Coulomb satisfazem o equilíbrio de esforços vertical e horizontal. Por outro lado, não atendem ao equilíbrio de momentos, visto que a superfície de ruptura em geral possui uma certa curvatura. O critério de equilíbrio de 28 projeto depende da geometria da seção. A Figura 29 mostra exemplos de cálculo usando os 2 métodos. Figura 29: Esforços no muro (a) Coulomb (b) Rankine Fonte:Gerscovich et al., 2016 Método construtivo Durante a compactação do retro aterro surgem esforços horizontais adicionais associados a ação dos equipamentos de compactação. Para muros com retro aterro inclinado, usa-se em geral equipamentos de compactação pesados. Os empuxos resultantes podem ser superiores aos calculados pelas teorias de empuxo ativo. Na pratica, alguns engenheiros preferem aplicar um fator de correção da ordem de 20% no valor do empuxo calculado. Outros sugerem alterar a posição da resultante para uma posição entre 0,4 h a 0,5 h, contado a partir da base do muro, ao invés de h/3. Parâmetros de resistência Os parâmetros de resistência são usualmente obtidos para a condição de ruptura (pico da curva tensão-deformação) do solo e, dependendo da condição de projeto, devem ser corrigidos por fatores de redução, conforme indicado abaixo: Equação 6 Onde: 29 ’d e c’d são, respectivamente, o ângulo de atrito e a coesão para dimensionamento; ’p e c’p são, respectivamente, o ângulo de atrito e a coesão de pico; FS e FSc são os fatores de redução para atrito e coesão, respectivamente. Os valores de FS e FSc devem ser adotados na faixa entre 1,0 e 1,5, dependendo da importância da obra e da confiança na estimativa dos valores dos parâmetros de resistência ’p e c’p. A Tabela 5 apresenta uma indicação de valores típicos dos parâmetros geotécnicos usualmente necessários para pré-dimensionamento de muros de contenção com solos da região do Rio de Janeiro. Tabela 5: Valores típicos de parâmetros geotécnicos para projeto de muros Fonte: Gerscovich et al., 2016 No contato do solo com a base do muro, deve-se sempre considerar a redução dos parâmetros de resistência. O solo em contato com o muro é sempre amolgado e a camada superficial é usualmente alterada e compactada, antes da colocação da base. Assim sendo, deve-se considerar: Ângulo de atrito solo muro () = 2/3 Adesão (a) = 2c/3 a 3c/4 Segurança contra o Tombamento Para que o muro não tombe em torno da extremidade externa (ponto A da Figura 30), o momento resistente deve ser maior do que o momento solicitante. O momento resistente (Mres) corresponde ao momento gerado pelo peso do muro. O TIPO DE SOLO 𝜸 (kN/m³) ’ (graus) c’ (kPa) Aterro compactado (silte areno-argiloso) 19 - 21 32 -42 0 - 20 Solo residual maduro Colúvio in situ 17 - 21 15 - 20 30 - 38 27 - 35 5 - 20 0 - 15 Areia densa Areia fofa 18 – 21 17 - 19 35 - 40 30 - 35 0 0 Pedregulho uniforme Pedregulho arenoso 18 - 21 19 - 21 40 - 47 35 - 42 0 0 30 momento solicitante (Msolic) é definido como o momento do empuxo total atuante em relação ao ponto A. O coeficiente de segurança contra o tombamento é definido como a razão: Figura 30: Segurança contra o tombamento Fonte: Gerscovich et al., 2016 Segurança contra o Deslizamento A segurança contra o deslizamento consiste na verificação do equilíbrio das componentes horizontais das forças atuantes, com a aplicação de um fator de segurança adequado: 𝐹𝑆𝐷𝑒𝑠𝑙𝑖𝑧 = F𝑅𝐸𝑆 F𝑆𝑂𝐿𝐼𝐶 ≥ 1,5 Equação 7 Onde: Fres = somatório dos esforços resistentes; Fsolic = somatório dos esforços solicitantes FSdesliz = fator de segurança contra o deslizamento. A Figura 31 ilustra os esforços atuantes no muro. O fator de segurança contra o deslizamento será: 𝐹𝑆𝐷𝑒𝑠𝑙𝑖𝑧 = 𝐸𝑝 + 𝑆 E𝑠 ≥ 1,5 Equação 8 Onde: 31 Ep = empuxo passivo; Ea = empuxo ativo; S = esforço cisalhante na base do muro. O empuxo passivo, quando considerado, deve ser reduzido por um Fator de segurança entre 2 e 3, uma vez que sua mobilização requer a existência de deslocamentos significativos. Alternativamente, esta componente pode ser simplesmente desprezada. Figura 31: Segurança contra o deslizamento Fonte: Gerscovich et al., 2016 O valor de S é calculado pelo produto da resistência ao cisalhamento na base do muro vezes a largura; isto é: Tabela 6: Cálculo do “S” Fonte: Gerscovich et al., 2016 32 O deslizamento pela base é, em grande parte dos casos, o fator condicionante. As 2 medidas ilustradas na Figura 32 permitem obter aumentos significativos no fator de segurança: base do muro é construída com uma determinada inclinação, de modo a reduzir a grandeza da projeção do empuxo sobre o plano que a contém; muro prolongado para o interior da fundação por meio de um “dente”; dessa forma, pode-se considerar a contribuição do empuxo passivo. Figura 32:Medidas para aumentar o FS contra o deslizamento da base do muro Fonte:Gerscovich et al., 2016 Capacidade de Carga da Fundação A capacidade de carga consiste na verificação da segurança contra a ruptura e deformações excessivas do terreno de fundação. A análise geralmente considera o muro rígido e a distribuição de tensões linear ao longo da base. Se a resultante das forças atuantes no muro localizar-se no núcleo centra da base do muro, o diagrama de pressões no solo será aproximadamente trapezoidal. O terreno estará submetido apenas a tensões de compressão. A Figura 33 apresenta os esforços atuantes na base do muro. A distribuição de pressões verticais na base do muro apresenta uma forma trapezoidal e esta distribuição não uniforme é devida à ação combinada do peso W e do empuxo E sobre o muro. 33 Figura 33: Capacidade de carga da fundação Fonte: Gerscovich et al., 2016 Segurança contra a Ruptura Global A última verificação refere-se à segurança do conjunto muro-solo. A possibilidade de ruptura do terreno segundo uma superfície de escorregamento ABC (Figura 34) também deve ser investigada. Para isso, devem ser utilizados os conceitos de análise da estabilidade geral. Figura 34 - Estabilidade Global Fonte: Gerscovich et al., 2016 A verificação de um sistema de contenção quanto a sua segurança em relação a estabilidade geral consiste na verificação de um mecanismo de ruptura global do maciço. Neste caso, a estrutura de contenção é considerada como um elemento interno à massa de solo, que potencialmente pode se deslocar como um corpo rígido. Normalmente essa verificação consiste em se garantir um coeficiente de segurança 34 adequado à rotação de uma massa de solo que se desloca ao longo de uma superfície cilíndrica; isto é 𝐹𝑆𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = M𝑅𝐸𝑆𝐼𝑆𝑇𝐸𝑁𝑇𝐸𝑆 M𝐼𝑁𝑆𝑇𝐴𝐵𝐼𝐿𝐼𝑍𝐴𝑁𝑇𝐸𝑆 > 1,3 𝑜𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑣𝑖𝑠ó𝑟𝑖𝑎𝑠 > 1,5 𝑜𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑝𝑒𝑟𝑚𝑎𝑛𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 Para o cálculo do fator de segurança pode ser utilizado qualquer método de cálculo de equilíbrio limite, normalmente empregado para avaliação da estabilidade de taludes. SAIBA MAIS! Assista aos vídeos: MUROS DE ARRIMO. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OnkK5rRU1kY MURO DE ARRIMO | Entenda o Empuxo de Terra no Muro de Contenção. Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=_DWKL-tfFWg 35 2. REFERÊNCIAS CARDOSO, Francisco Ferreira. Sistemas de contenção. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002. GERSCOVICH, Denise;DANZIGER, Bernadete Ragoni;SARAMAGO, Robson.Contenções: Teoria e aplicações em obras. São Paulo: Oficina de Textos, 2016. LUIZ, Bruna Julianelli. Projeto geotécnico de uma estrutura de contenção em concreto. Dissertação. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2014. MARCHETTI, Osvaldemar. Muros de arrimo. 1ª Edição. São Paulo: Blucher, 2007. NEIVA, Eduardo S.; FARIA, Filipe E.; NOGUEIRA, Gabriel T.; JORGE, Rafael P. Estruturas de contenção, escavações e escoramentos. Dissertação. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2014. PORTAL UOL. Muro de contenção de obra em mercado desaba e derruba sete postes no IAPI. A tarde, 2020. Disponível em: https://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/2128315-muro-de-contencao-de- obra-em-mercado-desaba-e-derruba-sete-postes-no-iapi. Acesso em: 24 de setembro de 2020. SANTOS, Adailton A.; MAGNUS, Dionatan B. Dimensionamento de contenção para subsolo – estudo de caso. Universidade do Extremo Sul Catarinense. Santa Catarina, 2013.
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