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Cessão de Crédito Teoria Geral das Obrigações Conceituação A cessão de crédito é negócio jurídico bilateral de transmissão do crédito de um credor para terceiro, que assume sua posição. Todo crédito, em princípio, é cedível, salvo se o próprio negócio jurídico o proibir, por convenção das partes, ou se a lei estabelecer vedação, ou se a natureza da obrigação obstá-lo. Por ser cedido tanto antes como depois do vencimento, e ainda quando esteja ajuizado. (LÔBO, Paulo Luiz N., p.163) PARTES DA CESSÃO DE CRÉDITO CEDENTE É quem cedeu o crédito. CESSIONÁRIA É quem recebeu a cessão de crédito. ● A cessão de crédito está inserida na lógica do comércio, já que facilita as trocas mercantis. Cria-se uma vertente negociável e transitável, atentando-se para a relação em si, não importando os sujeitos, que devem se adequar a ela. ● Livre circulação do crédito é fundamental para o dinamismo das relações sociais e privadas. ● Desdobramento do art.170, CF que regula a ordem social e econômica tendo como um dos seus pilares a livre iniciativa à Cessão de crédito decorre da liberdade do sujeito na ordem econômica. IMPORTÂNCIA DA CESSÃO DE CRÉDITO A aplicação prática da cessão de crédito é ampla, podendo ser utilizada em diversas situações, como por exemplo: ● Na antecipação de recebíveis: empresas podem ceder seus créditos a receber para instituições financeiras, obtendo assim recursos financeiros antecipados e melhorando sua liquidez. ● Na compra e venda de empresas: a cessão de créditos pode fazer parte do negócio de compra e venda de uma empresa, permitindo que o comprador assuma a titularidade dos créditos a receber da empresa vendida. ● Na renegociação de dívidas: a cessão de créditos pode ser utilizada como forma de garantia em negociações de dívidas, em que o credor pode ceder seu crédito a uma instituição financeira como forma de garantir o pagamento da dívida. APLICAÇÃO DA CESSÃO DE CRÉDITO PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS CRÉDITOS TRANSMITIDOS O crédito passa ao cessionário com todos os seus atributos, positivos e negativos: ● positivos: salvaguardas que garantem o crédito; pretensões e ações de que o credor seja titular, salvo as exceções pessoais; ● negativos: vícios que afetam o crédito. Atenção: Não se transmitem os direitos que são exclusivos do cedente, pela não legitimidade do cessionário para pleitear direitos conferidos ao primitivo subscritor das ações, em época anterior à cessão de créditos (LÔBO, Paulo Luiz N., p.164). Dessa forma, mesmo que o cedente ceda seu crédito a um terceiro, ele continua a ser titular de alguns direitos em relação a esse crédito. Antes de seguirmos… Não há extinção da dívida e nem a criação de uma nova relação jurídica obrigacional → cedente é liberado da relação jurídica. Tem-se a mesma obrigação, tendo sido apenas alterado o sujeito que compõe o polo ativo. CESSÃO PRO SOLUTO O cedente responde pela existência e legalidade do crédito ao tempo da cessão, mas não responde pela solvência do devedor. Regra (art.296) Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. CESSÃO PRO SOLUTO → Duas exceções: 1) A cessão a título gratuito efetivada de boa-fé → cessionário nada perde pela existência do crédito. Se houver má-fé, responde pela existência do crédito. 2) A cessão legal do crédito → cedente não pode vir a responder pela existência de um crédito que foi transferido sem o consentimento dele. CESSÃO PRO SOLVENDO O cedente responde pela existência e legalidade do crédito, e inclusive pela solvência do devedor. Trata-se da exceção. (art.297) Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança. CESSÃO PRO SOLVENDO ● Excepcionalmente, cedente e cessionário podem afastar a regra do art. 295, estipulando cláusula de responsabilização. Portanto, a responsabilização do cedente demanda cláusula expressa, eis que, no silêncio do contrato, o risco da insolvência do cedido recai exclusivamente no cessionário. Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé. ● Nessa situação, por ser a cessão pro solvendo, o cedente se responsabiliza pelo adimplemento do crédito, mas a sua responsabilidade está limitada ao valor efetivamente recebido do cessionário e não ao valor do crédito em si, o que evita o enriquecimento sem causa do cessionário. CESSÃO PRO SOLVENDO Observações: ● O cedente somente se responsabiliza pela situação do devedor no momento e no contexto do negócio cessão de crédito. ● A insolvência superveniente ao negócio cessão desonera o cedente de qualquer responsabilidade. ● O momento para verificar a responsabilidade prevista no art.297 é aquele em que se efetiva o negócio cessão e não o previsto para o adimplemento. PLURALIDADE DAS CESSÕES O crédito de A foi cedido a B, que o cedeu a C, tendo este notificado o devedor antes de B, o qual o fez posteriormente. Ante situações como essas, prevê o art. 292 do CC, que o devedor se libera pagando a quem lhe apresenta não apenas o documento da cessão, mas o próprio título originário da obrigação. Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação. FORMA E PROVA DA CESSÃO A eficácia do contrato de cessão dá-se com sua celebração, transferindo-se imediatamente o crédito. Não depende de consentimento do devedor, mas seus efeitos em relação ao devedor dependem da notificação deste (eficácia relativa) A notificação é feita pelo antigo credor (cedente) ou pelo atual (cessionário), com a apresentação do documento de cessão. ACESSÓRIOS AO CRÉDITO Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. Presume-se legalmente que a cessão de crédito abranja seus acessórios, tais como juros compensatórios, correção monetária, as penas legais ou convencionais pela mora da prestação de serviços etc ➡ Presunção juris tantum, pois pode ser prevista a exclusão dos acessórios ou parte deles EFEITOS DE CESSÃO DE CRÉDITO CEDENTE: Dever de informar ao cessionário, para que este possa exercer o direito de crédito em sua integralidade: Daí, decorrem: ● prestações positivas: fornecer dados e informações que envolvam o crédito; e ● prestações negativas: omitir-se de tudo o que possa dificultar ou impedir seu recebimento. Legal: Tem origem na norma jurídica. Independe do registro ou da adoção de instrumento específico. Ex. art.346 – sub-rogação de pleno direito Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor: I - do credor que paga a dívida do devedor comum; II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel; III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. Quanto à origem, a cessão de crédito pode ser classificada em: Judicial: Oriunda de decisão judicial após o processo civil regular (ex. decisão que atribui a herdeiro crédito do falecido) Voluntária/Convencional: Decorre de negócio jurídico (art.286). Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumentoda obrigação. Quanto à origem, a cessão de crédito pode ser classificada em: Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel. -Hipoteca = direito real de garantia direito dado ao credor de receber um bem imóvel como garantia do pagamento de uma dívida por parte do devedor. Faculdade ou obrigação do cessionário averbar a cessão no registro de imóvel? Formalidades Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1 o do art. 654. A inobservância da forma, seja por instrumento público seja por instrumento particular, não compromete a validade da cessão de crédito. O negócio jurídico é válido, entre o cedente e o cessionário, inclusive quando a cessão for apenas tácita; apenas não irradia efeitos a terceiros. Formalidades -Rosenvald: Averbação é Obrigatória para que o cessionário possa se sub-rogar nos efeitos da hipoteca em face do terceiro. Não se trata de mera faculdade do cessionário como aparente a leitura do dispositivo, mas de necessária atividade por questões de segurança jurídica. -Carnacchioni: Averbação é uma faculdade do cessionário. Contudo, para que a cessão de crédito hipotecário tenha eficácia em relação a terceiros é necessária a averbação. Para ele, a averbação é uma garantia do cessionário em relação ao adimplemento do crédito. Obs. Se a cessão de crédito hipotecário versar sobre imóvel de valor superior a 30 salários mínimos, a escritura pública é da essência do ato (art.108) Formalidades Os créditos intransmissíveis decorrem da natureza da obrigação, da lei ou da convenção entre as partes. Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante. Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora. Créditos intransmissíveis -Na ausência de notificação, o devedor, que de boa-fé paga ao cedente, poderá obter eficácia liberatória, restando ao cessionário o direito de regresso em face do credor primitivo para evitar enriquecimento sem causa. -O pagamento pelo devedor ao credor originário antes da notificação configura-se como válido → credor putativo. → O cessionário deverá obter do cedente o valor pago. Notificação de devedor Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido. O devedor não é parte na cessão de crédito e por isso, mesmo antes da sua notificação, o cessionário pode realizar atos para assegurar o crédito e conservar a obrigação. Exemplos: - tutela de urgência: Medida para conservar o patrimônio do devedor que esteja na iminência de ingressar em estado de insolvência ex. cautelar de arresto -ação de cobrança, execução por quantia certa Notificação de devedor -O crédito transfere-se com as mesmas características ao cessionário. A cessão não torna os direitos transferidos mais amplos e nem traz prejuízos à posição jurídica do devedor. -Portanto, o devedor que tem exceção pessoal deve declará-la no momento da notificação e a partir daí o cessionário poderá escolher invalidar ou não a cessão. -Se o devedor notificado da cessão não opõe nesse momento as exceções pessoais, não poderá mais argui-las contra o cessionário. Ex. de exceções pessoais = compensação -As exceções pessoais devem ser oponíveis assim que o devedor tem ciência da cessão, mas qual o prazo? –CC não exige nenhum prazo, por isso, o comportamento do devedor deverá ser analisado conforme a boa-fé (dever de lealdade). Exceções do devedor (art. 294, CC) -As exceções objetivas, por concernirem à própria prestação, poderão ser opostas, mesmo que em momento posterior à época da transmissão. Ex. de exceções objetivas = prescrição Exceções do devedor (art. 294, CC) A novação é modo de extinção de obrigações com modificação substancial da prestação, que requer a indispensável intervenção do devedor, enquanto a cessão de crédito é somente uma forma de transmissão de obrigações que prescinde do consentimento do devedor. Cessão de Crédito x Novação
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