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O_MITO_DA_CAVERNA_PROJETADO_NO_ADMIRAVEL_MUNDO_NOVO

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Rev ista D iálogos do D i re i to 
http://ojs .cesuca.edu.br/ index.php/dia logosdodire ito/ index 
ISSN 2316-2112 
	
  
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 REVISTA	
  DILÁOGOS	
  DO	
  DIREITO	
  v.4,	
  n.	
  6,	
  jul/2014 154	
  
DOI:	
  http://dx.doi.org/10.17793/rdd.v4i6.651 
11. O MITO DA CAVERNA PROJETADO NO ADMIRÁVEL MUNDO NOVO: 
A ESCRAVIDÃO TECNOLÓGICA 
 
11. MYTH OF CAVE DESIGNED BY THE BRAVE NEW WORLD: 
SLAVERY THROUGH TECHNOLOGY 
 
Celso Augusto Nunes da Conceição1 
Valdnei Martins Ferreira2 
 
Resumo: O Mito da Caverna, de Platão, foi escrito no século IV a.C. 
com a finalidade de evidenciar a forma como o povo é escravizado 
sem que perceba o que realmente está acontecendo, mas acenando 
para libertação. Com uma roupagem evolutiva, Aldous Huxley 
escreveu, no séc. XX, a obra Admirável Mundo Novo, desenvolvendo 
o caráter futurista pelo benefício que o avanço científico provoca no 
povo, condicionando-o a contemplar as suas admiráveis maravilhas. O 
cotejamento entre essas duas obras propicia a projeção da parábola da 
caverna no processo tecnológico mais amplo, em que o propósito do 
controle da estabilidade social pelos governantes é atingido. Aplicado 
aos dias de hoje, o mercado cria necessidades atrativas na população, 
sendo grande parte delas as famosas mídias: celulares, tablets, 
internet, redes sociais, etc. O resultado é devastador em termos de 
educação porque o uso do condicionamento3 evita que o indivíduo 
acesse os livros e com isso impede-o de refletir sobre as informações 
neles contidas, ou seja, é a escravidão tecnológica de forma 
subliminar. 
Palavras-chaves: condicionamento, escravidão, tecnologia 
 
Abstract: 
The Myth of the Cave, Plato, was written in the fourth century BC in 
order to highlight how the people are enslaved without realize what is 
really happening, but waving to release. With an evolutionary mode, 
Aldous Huxley wrote in the century. XX, the book Brave New World, 
developing the futuristic character of the benefit that scientific 
advancement has on people, conditioning it to contemplate its 
amazing marvels. The examination between these two works provides 
the projection of the parable of the cave in the broader technological 
process, where the purpose of controlling the social stability is 
achieved by governments. Applied to the present day, the market 
creates attractive needs in the population, most of them being the 
famous media: mobile phones, tablets, internet, social networking, 
etc.. The result is devastating in terms of education because the use of 
conditioning prevents access individual books and thus prevents it 
from reflecting on the information contained in them, that is, 
technological slavery subliminally. 
Keywords: conditioning, slavery, technology 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1 Professor das disciplinas de Português Jurídico e Direito e Linguagem no Cesuca, Mestre e Doutor em 
Linguística Aplicada na PUCRS. E-mail: celsus@terra.com.br	
   
2 Professor da disciplina de Português Jurídico no Cesuca, Mestre em Linguística Aplicada na UFRGS 
3 Termo da ciência behaviorista, que será melhor explicitada no artigo. E-mail: val@cesuca.edu.br	
   
	
   	
  
	
  
	
  
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1. Introdução 
Diante do avanço tecnológico por que passa o nosso planeta, com reflexos 
visíveis em todas as áreas do conhecimento, a relação homem e ciência acelera o 
processo de dependência sem que a sociedade tenha tempo para pensar no que está 
acontecendo. A palavra que representa essa situação não poderia ser outra: escravidão. 
Mas isso não começou com a tecnologia, só se agravou. Por quê? Por que a escravidão 
ou o seu agravamento? Na verdade, essa ambiguidade foi provocada propositadamente 
para que as reflexões já começassem a ser suscitadas. 
A escravidão é uma prática que pode ser gerada dentro de uma sociedade ou 
entre elas, ou seja, pode ser um homem que é a propriedade de outro dentro de uma 
comunidade ou uma determinada sociedade se subjugar a outra. Somente a primeira 
será tratada neste artigo porque o importante será a condição de subserviência pessoal 
em relação àqueles que detêm a sua posse. E para começar esse estudo, necessário 
buscar os proeminentes filósofos gregos, que tanto têm contribuído para o 
conhecimento humano desde as suas primeiras reflexões sobre praticamente tudo o que 
sabemos hoje, como também as experiências utópicas baseadas na ciência. 
Tanto o Mito da Caverna,4 de Platão, como o Admirável Mundo Novo, de 
Huxley, têm a escravidão como ponto de convergência em suas obras, mas há uma 
diferença substancial: servidão involuntária na primeira e voluntária na segunda, o que 
será apresentado a partir do histórico de cada uma delas, as obras. 
 
1. Sobre o Mito da Caverna5 
Essa parábola está inserida na obra A República, escrita no século IV a.C., 
através dos diálogos que o filósofo Platão6 escreveu a partir das reflexões do seu mestre 
Sócrates, que não deixou nada escrito. Importante destacar algumas afirmações que 
garantem ser Sócrates pobre e iletrado, inclusive que ele não teria existido. Comprovou-
se a sua existência, mas não a data precisa de seu nascimento. E mais: realmente era 
pobre, contudo sabia ler e escrever (MARCONDES & JAPIASSÚ, 2006, p. 256-257). 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
4 Está inserido na obra A República, um dos vários diálogos de Platão. 
5 Mesmo existindo outras expressões como alegoria da caverna e parábola da caverna, optou-se pela 
expressão mito por ser mais conhecida e melhor entendida nos meios acadêmicos, mas seus sinônimos 
são utilizados no corpo textual do artigo. 
6 Foi mestre de Aristóteles. 
	
   	
  
	
  
	
  
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Então por que não deixou nenhum registro gráfico? Simplesmente porque entendia que 
ideias deveriam ficar no cérebro e não fora dele. 
Apesar de o autor Platão ter escrito o livro, a relevância desse mito está na figura 
do protagonista Sócrates em função de suas brilhantes intervenções a respeito dos 
assuntos que os seus amigos filósofos apresentavam a ele. 
 
1.1 Preâmbulo socrático 
A vida de Sócrates7 é contada por seus dois discípulos: Xenofonte, em suas 
Memorabilia, e por Platão, em dois de seus diálogos: Apologia de Sócrates e Fédon. 
Filho de pai escultor e mãe parteira, nasceu em Atenas, tendo recebido educação 
tradicional para ler e escrever a partir da obra de Homero8. Conhecia as doutrinas 
filosóficas antigas e contemporâneas, participando ativamente do movimento de 
renovação da cultura empreendida pelos sofistas, combatendo-os em seus princípios, e 
da vida da cidade como um todo, que estava tomada por uma desordem intelectual e 
social. 
 Por sua competência no desenvolvimento dos diálogos, principalmente em 
função do uso de sua maiêutica9, foi convidado a fazer parte do Conselho dos 50010. Sua 
atuação está descrita por MARCONDES e JAPIASSÚ (2006, p. 257): 
(...) manifestou sua liberdade de espírito combatendo as medidas que 
julgava injustas. Permaneceu independente em relação às lutas travadas 
entre os partidários da democracia e da aristocracia. Acreditando obedecer a 
uma voz interior, realizou uma tarefa de educador público e gratuito. 
Colocou os homens em face da seguinte evidência oculta: as opiniões não 
são verdades, pois não resistem ao diálogo crítico. São contraditórias.7 Como já foi citado acerca de seu nascimento, tem-se o período aproximado de 470-399 a.C. 
8 Foi um poeta épico da Grécia Antiga que escreveu os poemas Ilíada e Odisseia. A sua existência 
também é questionada no meio filosófico. 
9 Palavra de origem grega que significa ‘ciência ou arte do parto”, sendo uma alusão à profissão de sua 
mãe, que era parteira; e por extensão, é o 'método de Sócrates de ensinar, de tal modo que as ideias 
fossem paridas no curso do diálogo' (HOUAISS, 2009); método filosófico que consiste em questionar 
seus interlocutores fazendo-os entrar em contradição para perceberem sua ignorância. Com esse 
reconhecimento, parte para descobrir, pela razão, a verdade que está neles mesmos. No diálogo Teeteto, 
Platão mostra Sócrates definindo sua tarefa filosófica por analogia à de uma parteira, sendo que, ao 
invés de dar à luz crianças, o filósofo dá luz às ideias. (MARCONDES e JAPIASSÚ (2006, p. 175) 
10 Uma vez por ano, os demos sorteavam 50 cidadãos para se apresentarem no Conselho (Boulê) que 
governava a cidade em caráter permanente. Como eram 10 demos, ele denominava-se "Conselho dos 
500". Entre estes 500 deputados eram sorteados 50 que formavam a pritania ou presidência do 
Conselho, responsável pela administração da cidade por 35 ou 36 dias. Cada demos era chamado, 
alternadamente, a responder pelos assuntos da pólis, durante um certo período. O Conselho determinava 
a pauta das discussões, bem como a convocação das assembléias gerais populares (a Ecclesia), que se 
realizavam duas vezes por semana. (EDUCATERRA, 2014) 
	
   	
  
	
  
	
  
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Acreditamos saber, mas precisamos descobrir que não sabemos. A verdade, 
escondida em cada um de nós, só é visível aos olhos da razão. 
 
Mas como Sócrates atuava nos diálogos a ponto de se perpetuar como referência 
filosófica? Como fazia para que os que dialogavam com ele conseguissem concluir algo 
que desconheciam saber? Ele era uma pessoa pública que gostava muito de conversar e 
de discutir com outras pessoas. Caminhava pelas ruas e praças de Atenas com o 
propósito de encontrar pessoas que gostassem de conversar e de discutir sobre qualquer 
assunto do cotidiano, principalmente em relação à verdade das coisas e dos fatos. Fazia 
perguntas na tentativa de descobrir se as pessoas realmente entendiam o que diziam 
entender. Seu método natural de elaborar seus questionamentos criava nos seus 
interlocutores o desenvolvimento de seus pensamentos para superar a sua própria 
ignorância e encontrar as respostas por si mesmos. Por outro lado, também os fazia 
entrar em contradição a partir de suas próprias respostas. 
Esse processo dialético11de Sócrates gerou irritação no meio a aristocracia 
ateniense e a primeira consequência foi o processo de acusação por três motivos: 
“Sócrates era acusado de recusar o culto devido aos deuses do Estado, 
introduzindo entidades demoníacas, com isso pervertendo a mocidade e 
levando-a a cometer os mesmo crimes ( de ateísmo contra os deuses 
oficiais), pois só assim ficaria o crime sob a jurisdição do Rei, a quem 
competia a defesa da religião do Estado. O Rei recebeu a queixa, dirigiu o 
inquérito e reuniu um triunal de 501 juros, que poderia condenar o réu pela 
maioria de 60 vozes. 
 
 
A segunda foi o julgamento em que o júri votava duas vezes, conforme Stone 
(1988, p.186-187) no capítulo “Como Sócrates fez tudo para hostilizar o júri”: 
Em primeiro lugar, votava-se a favor da condenação ou da absolvição do 
réu. Em caso de condenação, votava-se para decidir qual seria a pena. A 
maior supresa no julgamento de Sócrates foi a pequena margem de votos 
que decidiu a primeira questão, a mais básica. 
[...] 
Por que Sócrates ficou tão surpreso com a pequena margem de votos? Esta 
pergunta não é respondida na Apologia de Platão. Mas na Apologia de 
Xenofonte12 encontramos uma pista. Xenofonte afirma que Sócrates queria 
ser condenado, e fez o que pôde no sentido de hostilizar o júri. 
Infelizmente, o testemunho da Apologia de Xenofonte é com frequência 
obscurecido por uma palavra traduzida de modo errada13. 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
11	
  A	
  dialética	
  significa	
  discussão,	
  mas	
  há	
  distinções	
  de	
  significado	
  dependendo	
  de	
  quem	
  mais	
  a	
  utiliza:	
  
Aristóteles,	
  Hegel	
  e	
  Max.	
  Como	
  estamos	
  na	
  abordagem	
  socrática,	
  desnecessário	
  discorrer	
  sobre	
  esses	
  
filósofos.	
  
12	
  Foi	
  outro	
  de	
  seus	
  discípulos.	
  
13	
  Importante	
  ler	
  toda	
  a	
  celeuma	
  que	
  envolve	
  o	
  problema	
  de	
  tradução	
  porque	
  não	
  explicitaremos	
  neste	
  
artigo	
  em	
  função	
  de	
  o	
  assunto	
  fugir	
  do	
  foco.	
  
	
   	
  
	
  
	
  
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Mais adiante, na obra de Stone (1988, p.188), um pouco mais sobre o 
julgamento de Sócrates principalmente por uma afirmação que se mantém até os dias de 
hoje, em se tratando de julgamentos no qual a oratória faz a diferença, e que é uma 
preciosidade para a área do Direito: 
Xenofonte não estava em Atenas na época do tribunal. Afirma que seu 
relato baseia-se no que lhe foi contado posteriormente por Hermógenes14, 
um dos discípulos mais íntimos de Sócrates, o qual afirmou a Xenofonte 
que insistiu com seu mestre para que este preparasse uma defesa eloquente, 
porque os júris eram influenciados pela oratória. “Não vê”, indaga 
Hermógenes a Sócrates, “que os tribunais atenienses muitas vezes se 
empolgam com um discurso eloquente e condenam inocentes à morte, e 
muitas vezes absolvem o culpado porque sua fala desperta-lhes a 
compaixão ou agrada-lhes os ouvidos?”. 
 
Foi dada a Sócrates a oportunidade de se manter vivo, mas para isso teria que 
parar de fazer perguntas que levavam a reflexões e também de se retratar em público. 
Como já estava decidido a morrer, irritou mais quando não aceitou a imposição do júri e 
disse: Se eu me retratar, minhas ideias morrerão, então morro para que minhas ideias 
continuem vivas e continuem a libertar pessoas que pensam. 
Depois de Sócrates, a filosofia nunca mais foi a mesma, deixando como legado 
não somente as suas ideias, mas dois discípulos que são referência até os dias de hoje: 
Platão e Aristóteles. 
 
1.2 Descrição do mito 
O propósito de Sócrates é descrever a situação humana em uma parábola sobre a 
ignorância e o aprendizado. Começa com homens aprisionados em uma caverna 
subterrânea. Estão acorrentados pelo pescoço e não conseguem olhar para a entrada que 
fica atrás deles. Estão ali desde que nasceram. Não muito perto dessa entrada há um 
fogo aceso e pessoas passando atrás dele e projetando as suas sombras na parede do 
fundo, onde os prisioneiros as veem como se fosse um filme. Outros homens mantêm 
acesa a fogueira e cada vez que passam por ali, juntamente com grande quantidade de 
outras coisas. são projetadas mais sombras ao interior da caverna. Imagens curiosas são 
criadas. Os sons de fora também ecoam pelas paredes e se associam a essas sombras, 
dando a impressão de que são as falas que elas emitem. Essa situação é entendida por 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
14	
  É	
  um	
  dos	
  interlocutores	
  de	
  Sócrates	
  juntamente	
  com	
  Crátilo,	
  que	
  dá	
  o	
  nome	
  para	
  diálogo	
  que	
  trata	
  
sobre	
  a	
  origem	
  da	
  linguagem.	
  
	
   	
  
	
  
	
  
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eles como a própria realidade vivida dia a dia. Tudo o que é externo é transformado em 
realidade por essas projeções. Conversam entre si e suas vozes ecoam pela caverna 
dando a sensação de que suas vozes vêm de suas própriassombras. Mas eles 
entenderiam que as suas próprias sombras é que falavam com eles? Esse é um 
questionamento do próprio Sócrates em uma de suas tantas reflexões. 
 Sócrates fazia uso do modo subjuntivo para simular um fato ou situação irreal, 
mas que fosse algo possível e desejado. Então gera a possibilidade de um prisioneiro ser 
libertado, sair da caverna. Primeiramente teria de se adaptar a luz porque suas pupilas, 
quando no escuro, ficavam dilatadas e agora há muita luz passando por elas. No 
segundo momento, a constatação de que a realidade nada se assemelha ao que vira na 
caverna. E como percebeu um novo e real mundo, quer compartilhar com aqueles 
homens que ficaram na caverna a sua descoberta. Vai até a entrada da caverna e diz a 
eles como é o mundo lá fora. A sua voz e a sua sombra projetada na parede não são 
associadas ao seu amigo que tenta convencê-los a sair. Eles não reconhecem o seu 
próprio amigo, que estava dizendo que o mundo lá fora era real e o que eles estavam 
vendo eram somente sombras. Acreditam que ele voltou com problemas mentais e que, 
se tentarem sair, irão ficar cegos em função de a claridade da fogueira ser intensa e não 
conseguirão mais ver o mundo que entendem ser o real. Outra possibilidade para o 
objetivo da tentativa de convencimento é o fato de ele estar mentindo por alguma razão. 
Nem louco e nem mentiroso conseguirão tirá-los de lá. 
Outra suposição de Sócrates para que eles saiam da caverna é obrigá-los, de 
alguma forma, a sair. E uma das maneiras de fazer isso era pegar na corrente e puxá-los 
até a saída. Será que eles aceitariam aquele homem tirá-los de lá à força? Não ficariam 
furiosos em fazer algo que não querem fazer? E nós, como agiríamos? 
Essas hipóteses e as consequências apresentadas caracterizam a escravidão a 
que os homens estão sujeitos caso não reflitam sobre possibilidades de sair de situações 
como essas. Mas o mito não termina aqui. Sócrates o criou para mostrar o processo de 
uma prisão involuntária e como a sua libertação depende dele mesmo. Como? Agora 
imaginando esses prisioneiros saindo da caverna. Pouco a pouco eles teriam de se 
adaptar ao mundo real. Primeiro continuariam a ver as suas próprias sombras no chão, 
os reflexos dos homens na água e conhecer os objetos que estão à sua frente. Ficaria 
mais fácil começar a olhar para cima e olhar a luminosidade da lua e do próprio sol. 
	
   	
  
	
  
	
  
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Seriam capazes de sentir a natureza com todas as suas nuances provocadas pelo dia e 
pela noite. E o conhecimento do real começa a ser percebido pelos seus sentidos. 
 
2. Sobre o Admirável Mundo Novo15 
É uma obra de ficção que o autor Aldous Huxley16 escreveu durante quatro 
meses no ano de 1930. Como britânico, escreveu sobre o seu país, especificamente a sua 
capital Londres. Projetou-a no ano 632 d.F. (depois de Ford17) como referência a um 
futuro em que seus personagens usariam as expressões Nosso Ford ou Graças a Ford 
como se ele agora fosse um Jesus Cristo futurista. No artigo de Martins Filho (2003, p. 
73-116), há uma passagem que retrata bem essa época: 
Fordismo é um sistema de produção industrial caracterizado por: um 
elenco limitado de produtos estandardizados; métodos de produção de 
massa; automação usando máquinas dedicadas à produção de um 
produto determinado; força de trabalho segmentada responsável por 
tarefas fragmentadas e especializadas; controle centralizado; e 
organização hierárquica e burocrática. (RAGGAT, 1993, p.23) 
 
Huxley assim vai construindo a sua história como pano de fundo do momento 
histórico por que passava a Inglaterra naquele momento. Ideias liberais começavam a 
tomar corpo em função de uma readequação ao sistema econômico que se fragmentou 
com a Crise da Bolsa de Nova York em 1929 nos Estados Unidos, fato que contaminou 
praticamente o mundo inteiro. E por outro lado, os regimes autoritários do pós-guerra, 
criavam a ideia utópica de um mundo pseudamente democrático, principalmente a 
stalinista. 
Esses dois ramos políticos e mais o contexto inglês em que estava Huxley 
constituiam a questão político-econômica, mas a grande fonte de inspiração foram as 
pesquisas de Pavlov e Skinner em relação ao condicionamento clássico e operante nos 
animais, criando conceito estímulo-resposta para as relações mentais. Mais adiante, 
Watson o utiliza para desenvolver a sua teoria baseada no método de investigação 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
15 Titulo original: Brave New World. 
16 Nasceu em Godalming, 26/07/1894, e morreu em Los Angeles, 22/11/1963. Escritor inglês e membro 
muito influente da família Huxley, classe dominante da elite intelectual. Viveu mais nos Estados Unidos 
do que na Inglaterra. 
17 Henry Ford, norte-americano, é um industrial do automobilismo, gerando o topônimo ‘fordismo’ por 
marcar uma geração pela produção radical de bens de consumo, principalmente pela organização do 
trabalho em série, produzindo trabalhadores autômatos, repetindo a mesma tarefa; Significado no 
HOUAISS (2009): conjunto das teorias sobre administração industrial, criadas pelo industrial e fabricante 
de automóveis Henry Ford (1863-1947). 
	
   	
  
	
  
	
  
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psicológica nos seres humanos, conhecido como teoria behaviorista, em que a caixa-
preta era o objeto que processava a relação estímulo-resposta. 
E é com esse conhecimento que Huxley escreve seu livro. A narração tem como 
base um futuro hipotético no qual os indivíduos viverão em plena harmonia, seguindo 
as regras sociais impostas pelo “novo regime”. Essa sociedade é organizada por castas e 
isenta de religião, moralidade ou até mesmo noções do que era uma família. Quando 
acontecia algum problema que o indivíduo provocasse, de origem duvidosa ou de 
insegurança, uma droga chamada ‘soma’ era aplicada a esse cidadão, sem que houvesse 
qualquer efeito colateral. Se não havia família, como era a relação de quem deu à luz 
com quem nasceu? Na verdade, os laboratórios é que os produzem. O embrião tem seu 
desenvolvimento controlado por cientistas, e é nessa fase rotulado para cada uma das 
cincos castas: Alfa, Beta, Gama, Delta e Ípsilon; algumas com subdivisões, como Alfa-
Mais, Beta-Menos e Delta-Menos. Ele, o bebê, receberá alimentação boa ou ruim 
conforme a sua casta e, quando estiver dormindo, a sua mente é monitorada pelas 
máquinas – condicionamento por hipnopedia –, recebendo material ideológico 
constantemente. Hipnopedia é o nome desse condicionamento. Todas elas possuem 
funções específicas na cadeira produtiva em que há uma rígida divisão social de 
trabalho. 
E como vão atuar na “sociedade” imposta pelo sistema para servir ao Estado? Os 
indivíduos de cada casta são preparados em uma incubadora de condicionamento com a 
função específica para casta, garantindo uma certa “Predestinação social” (HUXLEY, 
1996, p.13). Depois dessa fase, vão para outro Centro de Condicionamento a fim de 
reforçarem as predisposições anteriores. Para as castas inferiores, o condicionamento é 
para que as crianças sintam medo de determinados objetos, mas um em especial: o livro. 
E como vão sentir medo de livro? Elas engatinham até os objetos e quando chegam 
perto uma cirene potentíssima é acionada. Caso toquem em algum, um choque elétrico 
também é gerado. Tudo isso era planejado por vários: castas inferiores não podiam 
desperdiçar o tempo de trabalho com o de lazer; tinham de ficar orgulhosos em 
pertencer àquela casta, e também porque o Estado tinha medo de que as pessoas 
pensassem e assim poderiam criar mecanismos para desestabilizá-lo. 
Para exemplificar, alguns diálogos para mostrar o condicionamento na prática: 
(Lenina:) – É horrível, é horrível – repetia. – E como é que você pode falar 
assim de não querer serparte do corpo social? Não podemos prescindir de 
ninguém. Até os Ípsilons... 
	
   	
  
	
  
	
  
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 – Sim, já sei – disse Bernard com sarcasmo. – “Até os Ípsilons são úteis!” 
Eu também. E gostaria imensamente de não servir para nada! 
Lenina escandalizou-se com a blasfêmia. 
 – Bernard! – protestou, espantada e aflita. – Como pode falar assim? 
 Bernard, em outro tom, respondeu meditativamente: 
 – Como posso? Não, o verdadeiro problema é este: como é que não posso, 
 ou antes – porque eu sei perfeitamente por que é que não posso – o que 
sentiria eu se pudesse, se fosse livre, se não estivesse escravizado pelo meu 
 condicionamento? [...] -Você não tem o desejo de ser livre, Lenina? 
 – Não sei o que é que você quer dizer. Eu sou livre. Livre de me divertir da 
 melhor maneira possível. Todos são felizes agora. 
Ele riu. 
– Sim, “Todos são felizes agora” (HUXLEY, 1996, p.86-87). 
 
Esse é um diálogo em que há o efetivo condicionamento de Lenina, mas que tem 
em Bernard Max um personagem rebelde porque consegue pensar e questionar a 
organização social, as ideias e os valores impostos pelo “sistema”. E um exemplo de 
hipnopedia está na fala da Lenina, que não consegue articular um argumento sem deixar 
de incluir expressões ‘programadas’: “Não podemos prescindir de ninguém” e “Todos 
são felizes agora”. 
 Encerra-se esta seção esclarecendo que a seleção de castas é para manter o poder 
na mão de poucos através de conhecimentos distintos, mas com o saber restrito à 
camada superior da hierarquia social. A transmissão desse saber é elaborado com a 
finalidade de assumir as responsabilidades que darão a eles o poder de enfrentar 
situações de conflito, tanto emergenciais como de imprevisibilidade. 
 
3. A escravidão no século XXI 
Paralelamente aos regimes autoritários dessa época, o Brasil dos anos 30 
também entrava na era do controle da sociedade através do regime de Getúlio Vargas, 
criando um governo provisório, mas que se materializaria como autoritário em 1934 
com o Golpe de Estado. E quem sofreu fortemente esse efeito foi a área da Educação, 
pois começava ali o processo tecnicista de trabalho para que o Estado pudesse entrar na 
rota das demandas de consumo de forma muito produtiva. É claro que os cidadãos 
brasileiros, na sua grande maioria, aprovavam tudo isso em função da excelente retórica 
aplicada ao povo. Na verdade, é uma forma de mascarar a escravidão com o rótulo de 
progresso. 
	
   	
  
	
  
	
  
163	
  
E a estratégia da massificação do mundo tecnológico18 está levando as pessoas 
para um beco alienante, onde ficarão cada vez mais encurralados, sem saída, ou pelo 
menos com muito mais dificuldade para voltar ao estado anterior. 
O ‘ser’ e o ‘ter’ trocaram de lugar na falsa compreensão de que ‘ter’ é o que faz 
o ‘ser’ e não o ‘ser’ que o faz ‘ter’. Essa inversão de valores faz com que as classes 
sociais se discriminem mais ainda como se fossem as ‘castas’ idealizadas por Huxley. 
Parece que o depositar valor nas coisas físicas, como produtos tecnológicos de qualquer 
natureza neste século, cria uma justificativa de que esses produtos dão aquele prazer que 
abraça o indivíduo como se estivesse desamparado. O ‘ser’, o ente que é real e que 
pensa, não é visto como alguém que possa nos fazer sentir o prazer de uma boa 
conversa e um bom diálogo. Ele vê o outro como alguém que não contribuirá na mesma 
medida do que esse produto o beneficie. Será que ele percebe o que acontece com sua 
mente? Será que consegue ter o alcance do que aquela mercadoria está fazendo com 
ele? Acreditamos que não simplesmente porque não consegue ter o raciocínio mínimo 
para perceber o domínio que esse produto exerce sobre ele. E o pior está no fato de que 
entende estar no controle da situação como se estivesse agindo livremente na escolha 
que está fazendo. Não se dá conta que seu direito natural para agir está sobremaneira 
sendo substituído por uma crescente alienação a cada nova ‘conquista’ de valores 
oferecidos pelo mercantilismo do modelo capitalista que se apoderou das mentes dos 
que não se expõem na sociedade como seres falantes, ouvintes e pensantes. Dizendo de 
outra forma, é a filosofia na vida ficando cada vez mais enfraquecida. 
E quem já alertava para isso tem nome: Sócrates. Ele já dizia que o homem 
nasce livre, mas que vai se aprisionando por aceitar imposições do meio social, 
especificamente no sistema em que se insere. Sistema esse engendrado pelos homens 
sedentos pelo poder e que precisam de pessoas subservientes a eles, popularmente 
chamados de escravos. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
18	
   Por	
  questões	
  de	
   terminologia	
  histórica,	
   não	
   será	
  utilizada	
  a	
  expressão	
   ‘mundo	
  moderno’,	
   que	
  para	
  
mim/nós	
   é	
   a	
   mais	
   adequada	
   porque	
   o	
   ‘moderno’	
   é	
   a	
   situação	
   última	
   do	
   processo	
   tecnológico	
   do	
  
momento	
  em	
  que	
  essas	
  situações	
  são	
  tratadas.	
  ‘Mundo	
  moderno’	
  (ou	
  Idade	
  moderna)	
  segundo	
  alguns	
  
historiadores	
   é	
   um	
   período	
   que	
   compreende	
   o	
   final	
   do	
   século	
   XV	
   até	
   o	
   ano	
   da	
   Revolução	
   Francesa	
  
(1789).	
   Essa	
   revolução	
   marca	
   o	
   início	
   do	
   ‘mundo	
   contemporâneo’	
   até	
   os	
   dias	
   de	
   hoje;	
   ‘idade	
  
tecnológica’	
  também	
  cairia	
  em	
  um	
  problema	
  conceitual	
  porque	
  a	
  maioria	
  das	
  pessoas	
  entende	
  que	
  esse	
  
período	
  se	
  inicia	
  a	
  partir	
  da	
  invenção	
  da	
  eletrônica.	
  No	
  estudo	
  etimológico	
  da	
  palavra	
  ‘tecnologia’,	
  a	
  sua	
  
origem	
   é	
   grega	
   e	
   a	
   raiz	
   ‘tekcno’	
   significa	
   'arte,	
   artesanato,	
   indústria,	
   ciência').	
   Essa	
   “idade”	
  
compreenderia	
  todos	
  os	
  estágios	
  em	
  que	
  ‘arte’	
  e	
  ‘artesanato’	
  exitem.	
  Para	
  que	
  o	
  artigo	
  não	
  fique	
  refém	
  
da	
  historiografia	
   terminológica,	
  assume-­‐se	
  aqui	
  o	
  uso	
  da	
  expressão	
   ‘mundo	
   tecnológico’	
   como	
  a	
  mais	
  
adequada	
  aos	
  seus	
  propósitos.	
  
	
   	
  
	
  
	
  
164	
  
Esses dois momentos estão separados por uma longa linha de tempo, mas têm 
em comum a escravidão gerada pelo sistema: a distopia19 ou utopia20 negativa. 
Para ilustrar uma das causas dessa escravidão, nada melhor do que utilizar um 
dos mecanismos informáticos como o blog. Ele é veículo da informação do que 
pretende este artigo: a reflexão do mito da caverna quanto ao aprisionamento e como 
sair dele; e a partir daí projetar esses ensinamentos socráticos na ficção do Admirável 
Mundo Novo. Essa projeção é levada pela semelhança que tem uma obra com a outra. 
Os prisioneiros da caverna são para a obra de Huxley os indivíduos condicionados por 
uma tecnologia que aplica na sociedade a programação do que o sistema espera deles. 
Nesses dois casos, a libertação parece que é mais difícil em relação ao momento por que 
passamos neste século. 
Ao contrário dos escravos anteriores à nossa época, que sabiam de sua 
escravidão e que também sabiam que era muito difícil sair daquela condição, a 
escravidão deste século é subliminar. As pessoas não se dão conta que estão entrando 
cada vez mais fundo na alienação como se entra em um túnel da caverna de Platão. Por 
quê? 
O consumismo de produtos em geral, sejam necessários ou supérfluos, é gerado 
pelo sistema que sabe o que o povo quer e como poderá adquiri-lo. Assim, ficará com 
seus desejos materiais satisfeitos e utilizando mais tempo que poderiam ser usados para 
leituras e busca de conhecimentos. 
Que produtos são esses? Computadores, celulares, tablets e outros com a 
finalidadede contato com pessoas pelo meio virtual: internet. Essa interface entre um 
indivíduo e outro está gerando ansiedades e condicionamentos pavlovianos 
preocupantes. Quanto mais equipamento maior a probabilidade de ficar sem ele. Por 
exemplo, a rede “cai” ou a bateria fica sem carga o desespero é imediato. As pessoas 
ficam sem saber o que fazer. Ficam como se tivessem tirado o chão de seus pés. Bate o 
pavor e as consequências são as mais variadas possíveis. E quanto mais acontece esse 
tipo de problema maior é o medo de ficar sem eles. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
19	
   Termo	
  que	
   significa	
   lugar	
   ou	
  estado	
   imaginário	
   em	
  que	
   se	
   vive	
   em	
   condições	
  de	
   extrema	
  
opressão,	
  desespero	
  ou	
  privação;	
  antiutopia;	
  (HOUAISS,	
  2009).	
  	
  
20	
  A	
  palavra	
  de	
  origem	
  latina	
  ‘utopia’	
  foi	
  dada	
  por	
  Thomas	
  Morus	
  (humanista	
  inglês,	
  1477-­‐1535)	
  a	
  uma	
  
ilha	
  imaginária,	
  com	
  um	
  sistema	
  sociopolítico	
  ideal	
  (HOUAISS,	
  2009).	
  O	
  termo	
  ‘utopia’	
  é	
  
popularmente	
  conhecido	
  com	
  os	
  adjetivos	
  ‘positivo’	
  ou	
  ‘negativa’	
  quando	
  não	
  faz	
  uso	
  da	
  palavra	
  
‘distopia’.	
  
	
   	
  
	
  
	
  
165	
  
Blog e Site são páginas na internet com informações atualizadas dinamicamente, 
Twitter e Facebook, são redes sociais ‘alimentadas’ pelos usuários de acordo com a 
política de seus administradores e o Viber e WhatsApp são aplicativos para celulares e 
tablets para facilitar a comunicação online através de mensagens e voz. Todo esse 
manancial tecnológico está incorporado na sociedade e tirando o sono de muita gente. 
Se antes desses produtos entrarem no mercado as pessoas já tinham de administrar o 
tempo para fazer coisas, e agora tendo de dar conta de tudo isso juntamente com os 
amigos, família, trabalho, etc. Já estamos cansados só de escrever este parágrafo 
imaginando a quantidade de pessoas no mundo se conectando com tudo e com todos. 
É notório que novas doenças começam a aparecer no indivíduo. Uma delas é a 
Nomophobia, ansiedade que surge por não ter acesso a um dispositivo móvel; o termo 
deriva da abreviatura de ‘no-mobile phobia’ (medo de ficar sem telefone móvel). Outra 
enfermidade é a Síndrome do toque fantasma, que é quando o seu cérebro faz com que 
você pense que seu celular está vibrando no seu bolso (ou bolsa, se preferir). Há muitas 
outras, como Depressão de Facebook, Transtorno de Dependência da Internet, Vício de 
jogos online, Cibercondria, ou hipocondria digital e Efeito Google. Todas elas estão em 
um dos focos que geram doenças contagiosas: um blog. Mas parece que esse blog está 
na contramão da paranoia cibernética. Ele é o Mundo Tecnológico (2014) que alerta as 
pessoas do mundo virtual para que leiam, reflitam e façam perguntas em busca de 
respostas para a cura. Na verdade, é um blog socrático, a voz da filosofia cibernética no 
mundo virtual para libertar o indivíduo que está aprisionado sem saber que o está. 
 
5. Considerações finais 
Diante de toda a exposição nas seções do artigo, torna-se possível inferir que a 
política de um país, independentemente de ideologia, mantém o processo de 
manutenção da ordem atendendo às necessidades básicas da população. O poder sabe 
que o povo precisa estar minimamente satisfeito para que a maioria não conspire sobre o 
seu governo. 
O emprego e a educação alguns dos importantes alicerces da sociedade que 
precisam ser garantidos. O primeiro aliena de alguma forma e a educação não deveria 
fazer a mesma coisa, mas faz na maioria dos casos. Por que e em que condições essa 
alienação acontece? Um emprego que é aceito porque a necessidade de ganhar dinheiro 
	
   	
  
	
  
	
  
166	
  
é maior possivelmente provocará uma frustação tão logo esse indivíduo entre na “linha 
de montagem” da alienação. Sair dele será muito complicado se a sua formação foi a 
tradicional, ou seja, formação que mostra o que tem de fazer e não o que precisa ser 
feito. Esse efeito é a resignação e incapacidade de alterar o sistema vigente de 
concepção milenar: foco no capital. E como sair dessa “caverna”? Há dois caminhos: a 
busca individual e a coletiva. E onde buscar? 
Platão21 não diz que estamos condenados a viver em uma caverna. O que ele diz 
é que podemos começar como prisioneiros, mas que podemos fazer melhor. De que 
forma? Bem, aí mais uma pergunta! 
Os próprios blogs, instrumentos que alienam são os mesmo que promovem a 
libertação. Como resolver esse impasse? A resposta está justamente na lição que 
Sócrates apresenta com o seu método maiêutico. 
Sair desse estágio de alienação para ver o mundo de forma natural, como deveria 
ser desde o início, não é tarefa fácil. Por quê? Primeiro porque desde quando nascemos 
as regras sociológicas do poder começam a se introjetar em nossas consciências de 
forma subliminar. Tão subliminar a ponto de nossos pais também não perceberem essa 
internalização dos valores que o poder social nos impõe. Segundo porque nossos pais 
são ‘produtos’ de gerações passadas que vão se solidificando pela mudança de valores 
crescentes em nossa sociedade. Então como exigir dos pais uma postura diferente 
daquela que já se massificou? Pode ser simples ou complexo, dependendo da percepção 
que o indivíduo tem da vida. Aqui começamos a lembrar do Sócrates. 
Quando os professores aplicam esse método socrático, ou maiêutico, a fim de 
que os alunos não recebam o conteúdo de forma tradicional em uma aula expositiva, 
necessariamente provoca um certo mal estar porque precisam pensar e isso não faz parte 
de seu mundo cognitivo para a aprendizagem. Mudança de paradigma que precisa ter 
suporte acadêmico-científico para alcançar resultados na maneira de pensar do 
estudante. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
21	
   Importante	
   esclarecer	
   que	
   na	
   literatura	
   filosófica	
   as	
   vozes	
   de	
   Platão	
   e	
   Socrátes	
   são	
   confundidas	
  
porque	
   os	
   diálogos	
   de	
   Sócrates	
   foram	
   escritos	
   por	
   Platão.	
   E	
   como	
   definir	
   se	
   a	
   afirmação	
   é	
   de	
   quem	
  
escreveu	
  o	
  que	
  o	
  outro	
  disse?	
  Realmente,	
  é	
  muito	
  complicado.	
  Existem	
  estudos	
  que	
  argumentam	
  para	
  
um	
  e	
  para	
  outro,	
  mas	
  como	
  são	
  argumentos	
  dependem	
  de	
  condições	
  de	
  verdade.	
  E	
  como	
  saber	
  onde	
  
está	
   a	
   verdade?	
   Complicado	
   mesmo,	
   mas	
   é	
   o	
   que	
   nos	
   faz	
   pensar	
   e,	
   se	
   pensamos,	
   estamos	
   livres.	
  
Lembram	
   da	
   história	
   do	
   livro	
   1984,	
   de	
   George	
   Orwell?	
   Não	
   eram	
   livres,	
   não	
   podiam	
   pensar.	
   	
   Se	
   o	
  
fizessem,	
  eram	
  aprisionados	
  e	
  mortos.	
  Essa	
  obra	
  se	
  assemelha	
  à	
  de	
  Huxley	
  porque	
  também	
  é	
  utópica	
  no	
  
sentido	
  negativo	
  da	
  palavra,	
  chamada	
  de	
  distopia.	
  
	
   	
  
	
  
	
  
167	
  
Será que o discurso de Sócrates conseguiria subverter a juventude deste nosso 
século concorrendo com o poder da tecnologia em suas mãos? Conseguiriam ouvir esse 
professor e deixar seus tablets e celulares desligados na hora do ensino? E se tivessem 
de responder às suas perguntas a partir de um assunto que ainda não foi exposto? ao 
invés de fazerem as perguntas para obter respostas? 
Entrar em uma sala de aula e presenciar o professor expondo o conteúdo de 
forma tradicional pode geraralguma expectativa no aluno? Ele aceita a aula sem 
questionar a maneira como está sendo apresentado esse conteúdo? Ele poderia reclamar 
quando o professor pedisse para guardarem seus celulares ou qualquer instrumento 
tecnológico? Se o professor estivesse ministrando uma aula expositiva com o conteúdo 
somente no quadro-negro, ele reclamaria porque não está sendo utilizada tecnologia? 
Finalizando, a escola tradicional ensina muito o aluno para que aprenda a 
responder. E o professor é um especialista em ensinar o aluno a responder algumas 
perguntas que ele já fez. A proposta é a inversão no processo: o professor ensinará o 
aluno a saber fazer boas perguntas. Com isso a gama de questionamentos que irá surgir 
provocará outra de possíveis respostas. Será que daria certo? E agora o último 
questionamento para reflexão: o conhecimento evolui a partir das perguntas ou das 
respostas? 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/abra-sua-mente-existe-um-mundo-
querendo-entrar/78113/ Acesso em 28/07/2014 às 19h18min. 
EDUCATERRA. http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/democracia3.htm. Acesso 
em 28/07/2014 às 4h46min. 
HOUAISS ELETRÔNICO. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: 
Editora Objetiva, 2009. 
HUXLEY, A. L. Admirável Mundo Novo. 22.ed. São Paulo: Globo, 1996. 
	
   	
  
	
  
	
  
168	
  
LARANJA FILMES. Filme Matrix e a relação com o Mito da Caverna. http://alaranja-
filmes.blogspot.com.br/2013/04/analise-do-filme-matrix-1999.html Acesso em 
28/07/2014 às 19h18min.	
  
MARCONDES, Danilo e JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de filosofia. 4.ed. Rio 
de Janeiro: Zahar, 2006. 
MEDEIROS, Rodrigo. SÓCRATES: O Mártir da Filosofia, 2001. Disponível em 
http://www.odireito.com/impressao.asp?ConteudoId=21&SecaoID=10&SubSecao=1&
SubSecaoID=23. Acesso em 28/07/2014 às 6h25min. 
 
MUNDO TECNOLÓGICO. http://k1tecnologia.blogspot.com.br/. Acesso em 28/07/2014 às 
3h45min. 
 
PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Editora Nova 
Cultura, 1997. 
_______. O Julgamento de Sócrates. Tradução de Paulo Henriques Britto. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1988. 
 
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
(Artigo	
  submetido	
  em	
  29/06/2014	
  e	
  aceito	
  em	
  28/07/2014)

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