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TEORIA DA COR AULA 4 Prof. Ed Marcos Sarro CONVERSA INICIAL A COR NA LINGUAGEM E NA COMUNICAÇÃO VISUAL Nesta aula estudaremos as características da cor que a dotam de informação e significado enquanto forma de linguagem, especificamente na comunicação visual. Entenderemos um pouco sobre a dinâmica da cor no universo das marcas em que há questões práticas envolvendo a construção de significado e valor econômico. Buscaremos entender também aspectos técnicos relativos à combinação de cores com outros elementos visuais (como a tipografia) que estão além dos limites da óptica da cor (já abordada nas últimas aulas) quanto à legibilidade e à sua integração harmônica na composição. Por fim, faremos uma breve análise das relações entre cor e forma, com base nos estudos da Bauhaus, retomando Kandinsky. CONTEXTUALIZANDO Dada a sua grande força expressiva, a cor se tornou tanto parte da linguagem humana quanto uma forma de linguagem em si mesma. Isso vale também para a dinâmica da cor nas marcas comerciais ou não. A produção e gestão da marca é uma área que movimenta milhões de reais na ecomomia, nos segmentos de Publicidade e Propaganda, Marketing e Design, em que a cor representa um papel muito importante. É esperado que o profissional entenda minimamente a dinâmica da cor enquanto código de comunicação em diferentes aplicações para que apresente soluções de projeto criativas e eficazes. TEMA 1 – COR COMO INFORMAÇÃO A palavra informação pode ser decomposta em in + forma + ação, ou seja, a forma dinâmica que se percebe em um determinado espaço e que se torna consciente aos nossos sentidos (no caso, a visão) sendo atribuída a ela algum significado (Pignatari, 2002). Figura 1 – Informação Crédito: Diana Volkovskaia/Shutterstock. Informação, nesse sentido, é o elemento que, surgido no campo visual, nos dá critérios de escolha entre o zero (o fundo vazio) e o 1, a figura, no caso, o círculo preto (Figura 1). Informação também é um parâmetro de comparação, o que implica no conceito de qualidade (Pignatari, 2002). Na figura a seguir (Figura 2), as três figuras, apesar de iguais na forma, constituem três modos distintos de informação segregados basicamente pela cor. Tanto pelo matiz quanto pelo tom: Figura 2 – Segregação por cor Crédito: Asag Studio/Shutterstock. Como vimos anteriormente, a cor é o elemento de referência mais notório e eficiente que nossos olhos possuem para distinguir diferentes informações visuais. Pequenas variações da mesma cor, ou o contraste absoluto entre preto e branco, nos permitem estabelecer minimamente diferenças entre elementos na mesma composição. No experimento clássico de Gestalt, a relação entre a figura e o fundo pode nos mostrar tanto dois rostos simétricos de cor preta (em posição oposta entre si) quanto uma coluna ou um vaso branco na figura central (Figura 3). Figura 3 – Gestalt Crédito: Peter Hermes Furian/Shutterstock. Automaticamente, por meio da dinâmica do contraste entre cores (que já vimos anteriormente) e da segregação entre figura e fundo, teremos associado essas formas a palavras e conceitos de nosso repertório: rosto, coluna, vaso. Cor aqui se transforma em informação. 1.1 COR, INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Como vimos nas aulas anteriores, a cor contém de si várias características de informação: pode ser primária ou secundária, pode ser fria ou quente como pode ser neutra, pode ser uma cor complementar ou análoga. Pode ser cor-luz ou cor-pigmento (Figura 4). Figura 4 – Cor como informação Crédito: Dino Osmic/Shutterstock. Entretanto, até aqui, tratamos da cor enquanto dado objetivo. Quando inserida em outros contextos e associada a outras informações, a cor ganha subjetividade e passa a estar relacionada a outros significados. Para ilustrar isso podemos usar um exemplo comum do trânsito de nossas cidades. O vermelho, o amarelo e o verde sozinhos são apenas cores. Quando inseridos na dinâmica do trânsito e incorporados à sinalização viária (na forma do semáforo) passam a ter importante função para a mobilidade urbana (Figura 5). Figura 5 – Cores no semáforo Crédito: Victor Grow/Shutterstock. Convencionou-se internacionalmente nos sinais luminosos de trânsito que o vermelho é a cor que conota alerta e a proibição de seguir em frente, que o amarelo sugere atenção na aproximação, enquanto o verde é utilizado para indicar caminho livre (Figura 6). Figura 6 – Significado das cores Crédito: Sapunkele/Shutterstock. Mesmo quem não dirige um automóvel saberá identificar esses usos da cor no trânsito, porque ciclistas e pedestres precisam dessa informação para conviverem em segurança com os motoristas (Figura 7). Figura 7 – Código para todos Crédito: Romrodphoto/Shutterstock. Isso vale também para os motoristas entre si: os carros são fabricados com luzes de seta de cor vermelha ou alaranjada, com as quais o condutor comunica a outros motoristas suas intenções de manobra; se vai virar à direita, à esquerda ou se vai trocar de faixa (Figura 8). Figura 8 – Sinal de seta Crédito: Fotandy/Shutterstock. Incorporada à lanterna traseira, além da luz de seta, há também uma luz na cor branca, que, quando acesa, sinaliza para quem está atrás que o motorista pretende se movimentar em marcha à ré. Tanto como dado objetivo quanto como informação subjetiva, a cor entra no campo da comunicação como vetor de uma mensagem. Essa mensagem pode ser a de uma marca por exemplo, como veremos a seguir. TEMA 2 – A COR COMO MARCA Desde tempos muito antigos, as cores têm sido usadas como emblema para identificar, associar e distinguir indivíduos, grupos e organizações. Figura 9 – Brasão Crédito: Svetocheck/Shutterstock. No passado (assim como as marcas e a identidade visual de empresas e organizações de hoje) as bandeiras, estandartes, flâmulas, uniformes e brasões (Figura 9) tinham na cor uma forma de comunicação rápida e eficaz de determinados significados. Na Idade Média, poderia até haver brasões sem figuras ou símbolos, mas nunca sem cores (Consolo, 2015). 2.1 COR E SIGNIFICADO Seja nos aparatos de cavaleiros medievais ou nos paramentos de ordens religiosas muito antigas ou nos sinais de trânsito da atualidade, a cor sempre adquiriu representatividade por meio de significados que lhes são atribuídos de forma arbitrária ou por associação direta. No caso do cavaleiro medieval, por estar coberto da cabeça aos pés pelo aço da armadura (Figura 10), as cores tinham uma função prática, distintiva e de identificação, seja no campo de batalha ou nos jogos de guerra (Consolo, 2015). Figura 10 – Cavaleiro Crédito: Photo Spirit/Shutterstock. As cores do cavaleiro o associavam à sua posição social, ao rei a quem servia e mesmo à causa que defendia. Na atualidade, as cores também têm sido associadas a causas, como o Outubro Rosa e o Novembro Azul (Figura 11), no esforço para prevenção de câncer de mama e de próstata. Também se faz a associação entre outras cores e meses para falar sobre suicídio, autismo e deficiência. Figura 11 – Novembro Azul Crédito: Jo Panuwat D/Shutterstock. Ao longo da história, as cores também foram associadas a doenças: a Peste Negra (Figura 12), a febre amarela, a escarlatina (escarlate é um tom de vermelho) e a púrpura (púrpura trombocitopênica imunológica) que recebe esse nome porque a pessoa apresenta manchas roxas (de cor púrpura) no corpo são exemplos disso. Figura 12 – Peste Negra, ilustração medieval Crédito: Everett Historical/Shutterstock. A cor pode se tornar sinônimo de um produto ou serviço, como as páginas amarelas (Petit, 2003). Nos casos citados, a cor exerce uma função designativa e utilitária. Às vezes, uma cor não necessariamente representa o significado exato que lhe é atribuído: a “caixa preta” com informações de bordo de aviões não é preta, mas laranja (Figura 13). As águas do Mar Vermelho, no Oriente Médio, de fato, não são vermelhas. E imprensa marrom é uma forma de se referir ao jornalismo sensacionalistae de credibilidade duvidosa (Rabaça; Braga, 2002). Figura 13 – Caixa preta de avião Crédito: David Mg/Shutterstock. Curiosamente, a cor da Ferrari, notória marca italiana de carros de luxo, não é o vermelho, como muitas pessoas imaginam, mas o amarelo (Contesini, 2016). 2.2 A FORÇA COMERCIAL DA COR NAS MARCAS Grandes marcas estão associadas às suas respectivas cores, às vezes uma cor compartilhada por mais de uma marca da mesma empresa. As cores das marcas estão relacionadas com aspectos históricos da empresa, questões filosóficas ou mesmo estratégias psicológicas de consumo. Isso vale também para os produtos e serviços que elas oferecem. As cores das marcas estão na identidade visual da empresa (Figura 14) ou do produto/serviço, nas fachadas, nas embalagens, nos veículos de frota, nos crachás e nos uniformes dos empregados (Tai, 2018). Figura 14 – Identidade visual Crédito: Macrovector/Shutterstock. Às vezes, cores são uma forma de diferenciação entre marcas em determinados contextos: em shopping centers, reconhecer pela cor da fachada externa onde está a loja de sua marca preferida pode ser muito útil (Figura 15). Figura 15 – Fachadas de lojas em shopping Crédito: Sonpichit Salangsing/Shutterstock. Na cidade de São Paulo, por conta da Lei Cidade Limpa, que disciplina a comunicação visual urbana, aumentou o investimento na cor das fachadas (Figura 16) de estabelecimentos para destacar marcas e, de certa forma, utilizar brechas da lei (Guedes; Deodoro, 2012). Figura 16 – Lojas de grifes na Rua Oscar Freire, em São Paulo Crédito: Diego Grandi/Shutterstock. Alguns bancos investiram na incorporação de suas cores às fachadas, como o Itaú com o laranja (Figura 17) de maneira a diferenciar-se no contexto urbano. Figura 17 – Cor na fachada de banco Crédito: Alf Ribeiro/Shutterstock. Fabricantes de refrigerantes, cervejarias, cadeias de fast food, indústrias alimentícias, empresas aéreas, montadoras, empresas de tecnologia e mesmo lojas on-line fixam suas marcas no imaginário dos consumidores também por meio das cores que os representam. Figura 18 – As “amarelinhas” Crédito: Jfmdesign/Istockphoto. As pilhas Rayovac (fabricadas pela Spectrum Brands do Brasil), por exemplo, há anos usam um slogan que associa o produto à sua cor: as amarelinhas (Figura 18). O slogan, de certa forma, parece fazer alusão também ao uniforme principal da Seleção Brasileira de futebol (amarelo e azul, mesmas cores da pilha, além do vermelho do logotipo) talvez porque já foi uma tradição torcedores ouvirem a locução de partidas em seus radinhos portáteis à pilha, até mesmo dentro dos próprios estádios. 2.3 A COR NO DESIGN DE MARCAS Eventualmente designers e outros profissionais criativos são contratados para trabalhar numa cor que melhor represente o espírito de uma marca. Figura 19 – Marca da Lufthansa em avião Crédito: Dawid Lech/Shutterstock. Em 1963, Otl Aicher (1922-1991) criou o sistema de identidade visual para a empresa aérea Lufthansa (Figura 19) e estabeleceu um tom de amarelo como parte da marca da empresa porque achava que passava a ideia de velocidade, segurança, agilidade, atividade e engenharia (Golling, 2011). Aqui no Brasil, desenhada por Alexandre Wollner (1928-2018), a marca original do banco Itaú trazia o logotipo branco dentro de um campo quadrado de cor preta, dado o fato que a palavra Itaú, em tupi-guarani, significa pedra preta (Stolarski, 2005). A marca depois foi ganhando outras cores por questões estratégicas de marketing (Figura 20). Figura 20 – Evolução da marca do Itaú Fonte: PropMark, 2015. Outro fato curioso é empresas que patenteiam certos tons de cor como marcas comerciais. É o caso, por exemplo, do tom de rosa escolhido pela Mattel para servir de identidade visual para sua boneca Barbie. Outro caso é o da empresa americana de telefonia celular T-Mobile, que patenteou um tom de magenta e chegou a entrar numa disputa judicial com a AT&T por causa de seu uso em um produto. A indústria de máquinas John Deere tem há anos o direito de uso de uma combinação específica de tons de verde e amarelo (Santos, 2011). A United Parcels (UPS), desde a sua fundação, utiliza o mesmo tom de marrom da sua marca em seus furgões de entrega mundo afora, supostamente para passar a ideia de seriedade e eficiência (Pettit, 2003). Essas cores das marcas são padronizadas de acordo com a escala Pantone, um sistema internacional que estabelece combinações CMYK e RGB de acordo com o tom da cor. O verde da bandeira brasileira, por exemplo, é designado pelo código Pantone RGB 0/156/59 e CMYK 100/3/100/1. Sobre o sistema Pantone, nos aprofundaremos nas próximas aulas. 2.4 COR, MARCA E PAIXÃO Os times de futebol e as escolas de samba são exemplos muito próximos de nós de como as cores se tornam marcas de uma agremiação, tornando-se inclusive substitutos de seus nomes originais. Essas cores têm significados muito diferentes de pessoa para pessoa e carregam em si uma carga simbólica e psicológica. Às vezes, elas se tornam a expressão de vida de centenas ou milhares de pessoas, suscitando paixões em níveis diferentes de identificação e adesão (Silveira, 2015). Figura 21 – Esquema de cores do uniforme do São Paulo F.C. Crédito: Grebeshkovmaxim/Shutterstock. O tricolor paulista, apelido dado ao São Paulo Futebol Clube, alude às cores do time da capital paulista, o vermelho, o preto e o branco (também cores da bandeira do Estado de São Paulo) que estão no uniforme dos jogadores (Figura 21), na bandeira e no brasão do time. Figura 22 –São Paulo Futebol Clube Quando no trecho da letra de um samba enredo lê-se “atrás da verde rosa só não vai quem já morreu”; está sendo feita uma alusão à Estação Primeira de Mangueira, tradicional escola de samba do Carnaval carioca (Figura 23). Figura 23 – Desfile da escola de samba Mangueira Crédito: Cp Dc Press/Shutterstock. No que diz respeito às bandeiras de países, as cores têm ainda mais importância como a expressão da própria identidade nacional (dependendo, é claro, do maior ou menor senso cívico): a palavra auriverde, significando algo que é amarelo e verde, remete às cores principais da bandeira brasileira (Figura 24). Figura 24 – Bandeira do Brasil Império Crédito: Grebeshkovmaxim/Shutterstock. Essas duas cores representam a união das casas reais: o verde dos Bragança, a família de Dom Pedro I e o amarelo dos Habsburgo-Lorena, casa real da Áustria, país de onde veio a imperatriz Leopoldina (Luz, 1997). Auriverde virou sinônimo de Brasil ou de algo relacionado ao nosso país. Sobre o simbolismo das cores, falaremos mais nas próximas aulas. TEMA 3 – INTERAÇÃO ENTRE CORES Às vezes, a combinação entre cores em um projeto de design pode ser difícil ou mesmo não funcionar, dependendo do uso ou de possíveis necessidades de reprodução. Isso vale para a maioria dos projetos, especificamente para o desenho de websites (Figura 25) em que a cor tem um papel muito importante em agarrar o olhar do observador. Figura 25 – Criando um website Crédito: Rawpixel.Com/Shutterstock. Quando navegamos na internet, tendemos a trocar de site muito rápido. Uma forma de reter o olhar é uso de um esquema de cores atraente. Tons de cores muito próximos ou muito contrastantes numa composição podem ser percebidos de forma inadequada ou não serem confortáveis para o observador. Figura 26 – Placa de estrada Crédito: Lefpic/Shutterstock. Por outro lado, dados o poder de segregação e a vibração de uma cor em relação à outra, a combinação das duas pode ser favorável. Algumas placas de estrada que são amarelas e pretas (Figura 26), por exemplo, o amarelo vibrante, associado ao formato de losango (que conota movimento) faz com que a seta preta fique mais em evidência. Falaremos mais sobre isso nas próximas aulas. TEMA 4 – LEGIBILIDADE DA COR Como desdobramento do tópico anterior, quando a cor se alia ou interage com outro elemento gráfico (como a tipografia, por exemplo) nem sempre uma solução pode funcionar:letras vermelhas numa placa de fundo verde podem não ser adequadamente lidas à certa distância (Figura 27). Figura 27 – Bom e mau contraste O uso de fontes serifadas ou muito rebuscadas associado a combinações pouco comuns de cores em slides de Powerpoint, por exemplo, acaba por não ser muito legíveis ou cansar o leitor (Figura 28). Figura 28 – Slide de Powerpoint ruim Marcas compostas por formas geométricas e cores podem ter pouca eficiência por conta da falta de afinidade da forma com a cor escolhida. Veremos mais sobre isso no próximo tópico. TEMA 5 – RELAÇÕES ENTRE COR E FORMA Em aulas anteriores, vimos como Kandinsky (artista e professor da Bauhaus) atribuiu temperaturas a diferentes cores com base em análises estruturais e associações daquelas com aspectos físicos, emocionais e naturais. Ele também relacionou cores a timbres de som e à estrutura de formas geométricas básicas, de acordo com a sensação de sinestesia entre movimento, cor e forma (Barros, 2006). Assim como outros colegas, Kandinsky buscava uma linguagem plástica autônoma, não dependente da representação da natureza como a arte fora até então. Ele queria encontrar uma linguagem gráfico-visual universal, que transcendesse barreiras culturais e regionalismos estéticos e que fosse aplicável tanto nas artes quanto no design. No seu livro Ponto, linha, plano (1926), Kandinsky se refere a um glossário de elementos criativos visando uma espécie de gramática para a criação (Barros, 2006). Ele havia escrito algo a respeito também no seu outro livro Do espiritual na arte (1914), já citado anteriormente. Kandinsky acreditava que se duas formas geométricas iguais fossem pintadas com cores diferentes, a percepção de ambas seria também diferente. Para ele, um quadrado azul não seria percebido da mesma forma que um quadrado vermelho (Figura 29). Ele afirmava que certas formas geométricas potencializavam a força expressiva de determinadas cores primárias (Silveira, 2015). Figura 29 – Comparativo de cores Em 1923, durante um workshop de pintura mural, Kandinsky aplicou um formulário de pesquisa a alunos e professores da Bauhaus (e a alguns profissionais) no qual ele pedia para que a pessoa associasse uma cor-pigmento opaca primária a uma forma geométrica básica. Apesar de controvérsias quanto à consistência do método utilizado e à precisão dos dados coletados (Barros, 2006), o resultado foi o que se segue: 1 - O azul foi associado ao círculo (Figura 30), por ser considerada uma cor imaterial, fria, profunda e ligada ao movimento centrípeto, para dentro. Concentrado . A característica estável do círculo e a ideia de ciclo contínuo e de “infinito” combina bem com o conceito de espiritualidade que Kandinsky lhe atribuiu. Seu colega de Bauhaus Johannes Itten afirmava que o azul suscitava o movimento circular e a sensação de transparência (Barros, 2006; Silveira, 2015). Curiosamente, anos depois cosmonautas soviéticos afirmariam que “a Terra é azul”. Figura 30 – Círculo [1] 2 - Sendo uma cor quente, o amarelo foi identificado com o triângulo, (Figura 31) por ser uma forma pontiaguda e que se expande de forma multidirecional, também por conter certa agressividade e expressão por causa de suas pontas. Talvez por remeter também aos raios de sol. Itten achava que o triângulo era uma representação possível para o pensamento (Barros, 2006; Silveira, 2015). Figura 31 – Triângulo 3 - O vermelho foi visto como melhor representado pelo quadrado (Figura 32) por conter características tanto frias quanto quentes (no vermelho-avioletado ou no laranja-avermelhado) sendo um meio termo entre o círculo e o triângulo (Barros, 2006). O vermelho dialoga bem com o quadrado porque, ao passo que o primeiro é uma cor forte, quente e quase violenta, o quadrado é associado aos conceitos de tensão, peso e permanência, enquanto resistência (Silveira, 2015). Figura 32 – Quadrado A mesma lógica valeria para os sólidos geométricos: a pirâmide, a esfera e o cubo (Silveira, 2015). Combinações de formas entre si implicariam na mistura de cores correspondentes (Barros,2005): o pentágono (Figura 33) seria laranja, por exemplo, por ser uma mistura do triângulo (amarelo) com o quadrado (vermelho). Figura 33 – Pentágono Na verdade, o experimento de Kandinsky apenas confirmou suposições que os professores da Bauhaus já tinham: em 1922, Peter Keler, outro colega da escola, construiu um berço (Figura 34) para o filho de Itten, seguindo essa lógica de relação entre cor e forma (Barros, 2006). Figura 34 – Berço de Keler Crédito: John Macdougall/Getty Images. Karl Gerstner, também professor da Bauhaus, e o próprio Itten aprofundariam as conclusões de Kandinsky, inclusive em combinação com a Doutrina das Cores de Goethe (Silveira, 2015). Essas leis das relações forma-cor seriam aplicadas a projetos posteriores de murais, cartazes e capas de livros e de revistas (Barros, 2006). https://www.gettyimages.com/search/photographer?family=editorial&photographer=JOHN+MACDOUGALL Passados esses anos todos, a pesquisa de Kandinsky tem sido repetida por outros professores em outras épocas e em outros contextos, apresentando algumas variações. TROCANDO IDEIAS Leia o artigo da revista Exame sobre a origem das cores de algumas das marcas mais valiosas do mundo no link: <https://exame.abril.com.br/marketing/o-significado-das-cores-de-10-marcas-famos as/>. Qual delas você acha que faz menos sentido? Você conhece outra história para alguma dessas marcas? Você sabe o significado das cores de outra marca que não foi citada no texto? NA PRÁTICA Faça os exercícios que se seguem para ajudar na fixação do conteúdo visto nesta aula. 1 - Desenhe uma marca pessoal para você utilizando o que aprendeu sobre a relação entre cor e forma. 2 - Experimente fazer a pesquisa da Bauhaus – relacionando cores primárias e figuras geométricas básicas – com amigos e familiares. Avalie se o resultado se aproxima daquele obtido por Kandinsky. FINALIZANDO Concluímos mais esta aula esperando que você tenha aproveitado bastante o conteúdo apresentado. Por meio dele, entendemos que a cor contém informação e pode tornar-se vetor para uma mensagem na comunicação visual. Vimos que essa comunicação pode ter um fim utilitário, como nos sinais de trânsito, ou ser vinculada a uma marca, gerando valor econômico. Tivemos uma noção do poder da cor em suscitar sentimentos e emoções no futebol, no Carnaval e nos símbolos nacionais, por exemplo, bem como o de causar desconforto quando mal utilizada em projetos de design gráfico. Por fim, entendemos um pouco a relações entre cor e forma nas pesquisas da Bauhaus. https://exame.abril.com.br/marketing/o-significado-das-cores-de-10-marcas-famosas/ REFERÊNCIAS BARROS, L. R. M. A cor no processo criativo. São Paulo: Editora Senac, 2006. CÓDIGO de Trânsito Brasileiro. Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997. 3. ed. Brasília: DENATRAN, 2008. CONTESINI, L. Não: a cor oficial da Ferrari não é o amarelo. Disponível em: <https://www.flatout.com.br/nao-cor-oficial-da-ferrari-nao-e-o-amarelo/> Acessado em: 23 jan. 2020. GOLLING, D. What's in a colour: Lufthansa yellow. Disponível em: <https://www.disegnodaily.com/article/what-s-in-a-colour-lufthansa-yellow>. Acesso em: 23 jan. 2020. GUEDES, D.; DEODORO, J. Marcas usam design para driblar Lei Cidade Limpa. Disponível em: <https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,marcas-usam-design-para-driblar-lei-cidade-limpa- imp-,928679>. Acesso em: 23 jan. 2020. LUZ, M. A história dos símbolos nacionais: a bandeira, o brasão, o selo, o hino / Milton Luz. Brasília: Senado Federal, Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 1999. PETIT, F. Marca e meus personagens. São Paulo: Editora Futura, 2003. PIGNATARI, D. Informação, linguagem, comunicação. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002. RABAÇA, C. A.; BARBOSA, G. G. Dicionário de comunicação. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2002. SANTOS, A. Cores que podem te render um processo caso você use alguma delas. Disponívelem: <https://www.publicitarioscriativos.com/cores-que-podem-te-render-um-processo-caso-voce- use-alguma-delas/>. Acesso em: 23 jan. 2020. SILVEIRA, L. M. Introdução a teoria da cor. Curitiba: Editora UTFPR, 2015. STOLARSKI, A. Alexandre Wollner e a formação do design visual brasileiro. São Paulo: Cosac Naify, 2005. TAI, H.-A. Design: conceitos e métodos. São Paulo: Editora Blücher, 2018. Em inglês diz-se que alguém sente-se blue (azul) quando está deprimido.[1]
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