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1. Estudar a relação entre voz e respiração oral; Voz e Motricidade Oral são áreas de especialidade que ocupam lugar de destaque na Fonoaudiologia. Ambas estudam o aparelho fonador em suas dimensões constitucionais, neurológicas e funcionais. As funções estomatognáticas são comportamentos realizados a partir das estruturas que compõem o sistema estomatognático, ou seja, os ossos fixos da cabeça, a mandíbula, o hióide e o esterno; os músculos da mastigação, da deglutição e faciais; a articulação temporomandibular (ATM); os dentes e tecidos anexos; o sistema vascular e também que dependem do sistema nervoso central e periférico. São consideradas funções estomatognáticas a mastigação, a sucção, a deglutição, a fala e a respiração. Todas as funções atuam de acordo com suas propriedades funcionais e seus sistemas específicos de controle; porém, é necessária uma inter-relação harmônica entre eles, que finaliza em um equilíbrio do sistema. A respiração é o mecanismo fisiológico que permite a ocorrência das trocas entre o organismo e o ambiente. Quando há interferência ou desvio no padrão de respiração nasal, por manifestação de determinados fatores etiológicos, ocorre a suplência oral ou respiração mista. Os fatores etiológicos da respiração oral podem ser alterações alérgicas como: rinite ou sinusite; alterações anatômicas na cavidade nasal, como: desvio do septo nasal, hipertrofia de cornetos, hipertrofia de adenóides, hipertrofia das amígdalas palatinas A voz falada se utiliza de estruturas do aparelho respiratório e do digestivo, na medida em que ocorrem alterações constantes na movimentação dos lábios, língua, véu palatino e da própria laringe. O sistema respiratório funciona como o ativador da voz, em que os volumes e a pressão do fluxo de ar expirado, passam pelas pregas vocais que se aproximam e põe-se em vibração, o que produz a voz. Portanto, qualquer comprometimento da função aérea pode provocar um efeito direto sobre a fala e sobre a voz (intensidade, altura, qualidade). Em respiradores orais as funções de fala, mastigação, deglutição e voz podem estar alteradas. Todavia, a voz, muitas vezes, passa despercebida no momento da avaliação. A voz apresenta um desequilíbrio ressonantal e de coordenação pneumo-fônica-articulatória. Nesses indivíduos, a voz pode, ainda, encontrar-se com uma alteração no traço de sonoridade, hiper ou hiponasal, ou rouca. - Respiração A respiração nasal propicia um desenvolvimento e crescimento do complexo craniofacial normal, favorecendo a harmonia estrutural e funcional do indivíduo. O indivíduo respirador nasal mantém seus lábios ocluídos e a mandíbula encontra-se na posição de repouso. A língua fica contida na cavidade bucal propriamente dita e, pelo contato com o palato, realiza forças de expansão na maxila, que se equilibra com as forças restritivas do músculo bucinador. A coluna cervical apresenta uma curvatura fisiológica e a cabeça se mantém ereta. A respiração nasal adequada é importante para o bom funcionamento da laringe, faringe, deglutição e sensação de bem estar. A obstrução nasal conduz à respiração oral, resultando em posição alterada da língua e lábios entreabertos(18). Devido a esta obstrução, que pode ser causada por anormalidades estruturais, patologias nasossinusais ou hipertrofia do anel linfático de Waldeyer(7), o indivíduo adota o padrão respiratório oral. O padrão respiratório inadequado induz às adaptações funcionais, promovendo desequilíbrio muscular da face, modificações posturais, como lábios entreabertos, extensão posterior da cabeça e um posicionamento mais inferior da mandíbula e da língua. O complexo craniofacial busca uma posição mais favorável para realizar as funções e, portanto, se adapta, conforme suas possibilidades, com a finalidade de buscar o que é mais fácil para realizar a respiração. Por apresentar vários sintomas característicos, entre eles: alterações do sistema sensório-motor e das funções orais do sistema estomatognático e, por apresentar vários fatores etiológicos, alguns autores denominaram tal alteração de Síndrome do Respirador Oral. Estas alterações podem levar, também, a um comprometimento na voz. A alteração na função respiratória, geralmente, pode levar à ressonância nasalizada e a voz pode apresentar alterações no traço de sonoridade, hiper ou hiponasal, ou rouca. Voz e M.O - Voz A voz é o meio ao qual o ser humano extravasa seus sentimentos, sensações e impressões; é o maior canal de comunicação interpessoal e reflete o que somos e como pensamos” Para a produção da fala contribuem três processos: o mecanismo de fole utilizando o ar oriundo dos pulmões, a geração do som na glote através da vibração das pregas vocais, a ressonância e a articulação deste som, as quais ocorrem no segmento supraglótico. No entanto, a fonação não é apenas o resultado da atividade dentro da laringe. A atividade muscular do corpo inteiro é também responsável pela função apropriada da mesma. A voz, originada pelo fluxo de ar vibrando as pregas vocais, é amplificada nas cavidades da via aérea superior do pescoço e cabeça. Esta amplificação denomina-se ressonância. O trato vocal, em comprimento, se estende desde a glote até os lábios. O som glótico inicial é modificado pela ressonância e posteriormente pelo movimento dos articuladores. Durante a fonação, o modo respiratório costuma ser misto preferencialmente, devido à necessidade da rápida tomada de ar. Alterações no nível respiratório, glótico e ressonantal são frequentemente encontradas na disfonia funcional, que pode ser provocada por uso incorreto, gerado por um simples desvio no processo básico da produção natural da voz. As alterações mais encontradas na disfonia são: nível respiratório (inspiração insuficiente para fonação, ou início fonatório após a expiração); nível glótico (uso hipertônico da compressão glótica e o uso hipotônico menos comum) e nível ressonantal (não- aproveitamento das caixas de ressonância). Na disfonia, podem se encontrar, também, distorções do sinal laríngeo e desequilíbrio no foco ressonantal, que se relacionam com a região do trato vocal a qual predomina a amplificação da voz. 2. Entender a interface entre as alterações oromiofuncionais e os impactos vocais. Os distúrbios miofuncionais orofaciais (DMO) são definidos como qualquer alteração que envolva a musculatura orofacial, que geram forças desfavoráveis ao equilíbrio do sistema estomatognático. Alguns quadros de DTM manifestam dor que é desencadeada ou que piora com os movimentos mandibulares. Segundo Bianchini (2000), as disfunções da ATM têm como um dos sinais clínicos, a limitação dos movimentos dos mandibulares. Os prejuízos na articulação da fala e na qualidade de voz, associados aos distúrbios da ATM, tais como presença de redução da amplitude do movimento mandibular, modificações da qualidade vocal e desvios em lateralidade no percurso mandibular durante a fala. Para Tamaki (1981), a fonação é “uma das funções importantes da fisiologia oral, através do conjunto de órgãos que executam a fonação, a boca desempenha um papel destacado na articulação dos sons”. Esta depende da posição da língua e da sua capacidade de se movimentar, da presença e posição dos dentes, da movimentação dos lábios e das bochechas. Douglas (1998) descreve a voz como a produção de um som primário ou fundamental pela laringe e suas modificações através da ressonância do ar nos vários espaços localizados entre a laringe e os lábios. Há uma proposta onde é conceituada a qualidade vocal como um conjunto de característicasconstantemente presentes na produção da fala do indivíduo. Tais características são provenientes de dois componentes: um orgânico, determinado pela estruturas anatômicas do aparelho fonador; e outro fonético ou funcional, definido pelo uso que o indivíduo faz de seu aparelho fonador. Ele ressalta que o seu conceito de qualidade vocal não se restringe à atividade laríngea, mas envolve a descrição dos ajustes de longo prazo utilizados pelo indivíduo no ato da fala. O posicionamento da língua na cavidade oral influencia na ressonância. O corpo da língua em uma posição anterior e elevada produz uma voz infantilizada, já a língua numa posição hiperfuncional, isto é, excessivamente posteriorizada, produz uma ressonância posterior. Hiperfuncionamento vocal nos pacientes que falam com restrição mandibular severa, o que leva a produção das vogais com a mandíbula trancada, os molares firmemente ocluídos e apenas com o movimento da língua. Esta situação leva aos sintomas de fadiga vocal, dor ou aperto na região hióidea, após fala ou canto prolongado. O sistema de ressonância é conceituado como um conjunto de elementos do aparelho fonador que guarda íntima relação entre si visando à moldagem e a projeção do som no espaço; consiste no reforço da intensidade de sons de determinadas frequências do espectro sonoro e no amortecimento de outros (BEHLAU, 2001). As cavidades orais e nasais são fundamentais no processo de ressonância. A cavidade oral geralmente é considerada como o ressonador principal. Sua contribuição para a ressonância depende da posição dos lábios, língua, palato mole, e é claro, do grau em que as maxilas se acham separadas. A cavidade nasal também é de considerável importância na ressonância da voz, apresenta como função principal agir como um ressonador constante e universal para a voz, sendo responsável pela clareza e beleza do tom. A boca desempenha um papel destacado na articulação dos sons. Esta depende da posição da língua e de sua capacidade de se movimentar, da presença e da posição dos dentes e também da movimentação dos lábios e das bochechas. Para a articulação correta de cada sílaba é necessário uma posição mandibular determinada que proporcione um espaço interdental. A respiração clavicular superior prejudica a qualidade da voz, e esse é o tipo que mais tem sido encontrado nos pacientes com disfunções. Sendo assim, as contrações cervicais que ocorrem nessa condição podem dissipar-se para a face, provocando hipertonia dos músculos mastigatórios e alterações nas funções. Para Behlau (2001) a voz depende fundamentalmente de uma complexa e interdependente atividade de todos os músculos que servem à produção, além da integridade dos tecidos do aparelho fonador. Ainda nesse sentido, destaca Albernaz o som fundamental produzido pelas pregas vocais na laringe é ampliado pelas cavidades de ressonância (faringe, boca e nariz), e os sons da fala articulada na cavidade oral por meio dos movimentos da língua, lábios, mandíbula e palato, modificando o fluxo de ar vindo dos pulmões, projetando o som para o ambiente. O uso incorreto deste mecanismo causa alterações funcionais definidas como disfonia. 3. Relacionar os diferentes tipos de fissura e as possíveis características vocais. As fissuras de lábio ou palato como defeitos de não fusão de estruturas embrionárias. Ou seja, tanto o lábio como palato (“céu da boca”) são formados por estruturas que, nas primeiras semanas de vida, estão separadas. Estas estruturas devem se unir para que ocorra a formação normal da face. Se, no entanto, esta fusão não acontece, as estruturas permanecem separadas, dando origem às fissuras no lábio e/ou no palato. As fissuras faciais são estabelecidas na vida intrauterina, no período embrionário (ou seja, até a 12a. semana de gestação), e apresentam grande diversidade de forma pela variabilidade na amplitude e pelas estruturas afetadas no roso → Classificação das fissuras No HRAC, adota-se a Classificação de Spina et al1 modificada por Silva Filho et al2 : Fissura pré-forame incisivo: Fissuras que se restringem ao palato primário, ou seja, envolvem o lábio e/ou o rebordo alveolar sem ultrapassar o limite do forame incisivo. Varia desde um pequeno corte no vermelhão do lábio (incompleta) até toda a extensão do palato primário (completa). Podem ser classificadas em unilateral (só de um lado), bilateral (nos dois lados) ou mediana (no meio). Fissura transforame incisivo: São fissuras totais, ou seja, que envolvem total e simultaneamente o palato primário e o palato secundário. Estende-se desde o lábio até a úvula (“campainha”), atravessando o rebordo alveolar. Podem ser também classificadas em unilateral (só de um lado), bilateral (nos dois lados) ou mediana (no meio). Fissura pós forame incisivo: Envolvem apenas o palato (“céu da boca”), mantendo o lábio intacto assim como os dentes. Ocorrem quando as as estruturas do palato secundário não fazem a fusão. As consequências são essencialmente funcionais, no mecanismo velofaríngeo e na trompa auditiva. São consideradas completas quando atingem tanto palato mole como palato duro, morrendo no forame incisivo. Fissura Submucosa: Malformação que ocorre no palato secundário considerada forma anatômica subclínica. O defeito é na musculatura do palato mole e/ou no tecido ósseo do palato duro, sendo que a camada da mucosa permanece íntegra. Pode ocorrer de forma isolada, associada à fissura de palato primário ou a síndromes. Fissura Raras da face: A ocorrência dessas fissuras é muito incomum e, por isso mesmo, são chamadas de “raras”. Referem-se àquelas fissuras que ocorrem em bochecha, pálpebras, orelha, nariz e ossos do crânio e face, como frontal, nasal, etmóide, malar e temporal. Spina não se dedicou à sua classificação minuciosa, o que foi feito por outro pesquisador, Tessier, que enumerou cerca de 15 fissuras raras, tendo como referência a órbita ocular. Por serem incomuns, as https://hrac.usp.br/saude/fissura-labiopalatina/#spina_etal https://hrac.usp.br/saude/fissura-labiopalatina/#spina_etal https://hrac.usp.br/saude/fissura-labiopalatina/#silvafilho_etal fissuras raras de face não têm protocolos de tratamento bem definidos, variando caso a caso O indivíduo portador de sequela decorrente de fissura labiopalatina pode apresentar alterações de naturezas diversas na comunicação verbal, algumas delas ainda não suficientemente esclarecidas quanto à etiologia1 . Na fonoaudiologia, a comunicação verbal é estudada dividindo-a nas áreas de fala, voz, linguagem e fluência, sendo que indivíduo portador de sequelas decorrentes de fissura labiopalatina apresenta alterações mais frequentes nas três primeiras áreas. A área da fala, que se refere à articulação dos sons, pode se apresentar alterada devido a questões morfológicas, como a alteração de função velofaríngea, o desalinhamento dentário e as deformidades alveolares e palatinas. Pode também apresentar alterações funcionais, tais como aprendizagem inadequada de ponto articulatório. A voz se refere ao som gerado na fonte sonora – as pregas vocais – acrescido do efeito de ressonância que ocorre no filtro ressonantal – o trato vocal. Pode principalmente apresentar alteração ressonantal, a hipernasalidade, devido à alteração da função velofaríngea. Pode também apresentar alteração de fonte glótica, por exemplo, rouquidão, relacionada ou não diretamente à fissura labiopalatina. Na área da linguagem, que se refere à simbolização, ao léxico, à semântica e à pragmática, podem se apresentar alteradas devido a questões de desenvolvimento cognitivo por causa primária ou por falta de estimulaçãoadequada ou em consequência da própria dificuldade de fala. ALTERAÇÕES NA VOZ Distúrbios de ressonância: A falha na função→ velofaríngea causa também outra alteração passiva, que é a hipernasalidade. A voz ressoa excessivamente na cavidade nasal. Todos falantes utilizam normalmente a cavidade nasal como caixa de ressonância, porém nesses casos, a ressonância para a região nasal é desequilibradamente maior. A hipernasalidade é, na maioria das vezes, relacionada ao acoplamento entre a cavidade oral e a nasal, e pode ser percebida e analisada durante a emissão das vogais. Algumas requerem um acoplamento maior para serem percebidas como nasais e pode ser causada ou piorada devido a cirurgias ortognáticas. A gravidade da hipernasalidade não é diretamente proporcional ao grau da inadequação velofaríngea, pois há diversos outros fatores que intervêm, tais como resistência aérea nasal, assim como a presença das alterações articulatórias compensatórias. Distúrbios vocais: Há uma grande variação na→ prevalência de distúrbios vocais reportados nos indivíduos fissurados, mas parecem ser mais frequentes do que nos indivíduos não-fissurados. Uma hipótese a partir da teoria acústica seria que há um esforço adicional para se manter a intensidade vocal na presença de acoplamento nasal, requerendo um esforço laríngeo maior que resultaria em abuso vocal e formação de nódulo vocal. 1. Estudar a relação entre voz e respiração oral; 2. Entender a interface entre as alterações oromiofuncionais e os impactos vocais. 3. Relacionar os diferentes tipos de fissura e as possíveis características vocais.
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