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1 Isadora Silva Clínica Médica Insuficiência Cardíaca A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica caracterizada pela incapacidade do coração de fornecer DC suficiente para atender à demanda metabólica dos tecidos ou pela capacidade de fazê-lo à custa de elevação das pressões de enchimento. Geralmente é a via final de todas as doenças cardíacas. É diagnosticada por um conjunto de sinais e sintomas presentes em pacientes com fatores de risco, associado a exames complementares sugestivos. Pode causar lesões agudas ou crônicas e os sintomas apresentados pelos pacientes geralmente são precedidos por alterações estruturais no miocárdio que causam disfunção sistólica e/ou diastólica. A IC com fração de ejeção reduzida é a mais comum em homens com antecedentes de isquemia coronária, enquanto a IC com fração de ejeção preservada é mais comum em mulheres idosas com comorbidades. No Brasil, a principal etiologia de IC é a cardiopatia isquêmica crônica, que é considerado o principal fator de risco. Essa isquemia cardíaca desenvolve em pacientes com HAS, DM, dislipidemia, tabagismo e história familiar de doença cardiovascular. Fatores de risco: doença isquêmica cardíaca, HAS, consumo de álcool, exposição a drogas quimioterápicas, doença de Chagas, cardiomiopatia dilatada idiopática. CLASSIFICAÇÃO Temporal (tempo de início dos sintomas) -Aguda: a partir de um evento causa a lesão (infarto por ex). -Crônica: doença que vai lesionando o coração aos poucos (Chagas, hipertensão arterial). Anatômico: Direito e Esquerdo Quanto ao DC: -Baixo débito: acontece quando há sístole inadequada. Quando acontece fibrose e perda de contratilidade. EX: infarto -Alto débito: normalmente acontece em coração doente, em exigência de maior trabalho. EX: insuficiência renal, anemia. Quanto à etapa do ciclo cardíaco -DIASTÓLICA: no coração hipertrofiado que tem hipertrofia concêntrica, não permite o enchimento correto do ventrículo e o DC diminui. -SISTÓLICA: partes necrosadas e a perda da contratilidade, acontecendo no coração dilatado, que não tem força para bombear o sangue. Nesse caso a hipetrofia que acontece é a excêntrica. Perfil hemodinâmico: somente na aguda -Presença ou não de congestão: seco e quente. -Presença ou não de circulação: úmido e frio. FISIOPATOLOGIA Temos 3 coisas que podem estar alteradas na insuficiência cardíaca: 1- Pré-carga: É correspondente ao sangue que chega no coração. Acontece o estiramento das fibras miocárdicas do 2 Isadora Silva VE. Se baseia no mecanismo de Frank Starling que diz: quanto maior for a distensão do coração, maior sua contratilidade. Por isso se diz respeito a etapa sistólica. 2- Contratilidade miocárdica: força gerada pelo miocárdio para uma dada pré- carga. 3- Pós-carga: é correspondente ao sangue que sai do coração e corresponde a resistência vascular durante a ejeção. MECANISMOS REGULATÓRIOS São mecanismos que tentam regular o processo de insuficiência, mas que acabam sendo mais prejudiciais e pioram o quadro clínico do paciente. Esses mecanismos são ativados quando o DC está diminuído e acontece uma diminuição do volume de sangue. Rins: o SRAA e o ADH atuam a fim de reter água e sódio e como consequência aumentar o volume de sangue circulando. Só que essa reposta a longo prazo causa problemas significativos que são mais deletérios para o coração: - aumento significativo da resistência vascular periférica; hipervolemia; fibrose e remodelamento cardíaco... Já na produção de ADH o paciente não urina e isso aumenta a pré-carga. Sistema nervoso simpático: permite a vasoconstrição periférica com a finalidade de aumentar a pressão e isso pode causar afetamento na pós-carga. Quando começa a acontecer problemas um mecanismo contra-regulatório começa a acontecer. Ele começa a ser feito pelo peptídeo natriurético tipo B (BNP), que é produzido pela própria parede cardíaca com ação vasodilatadora, quando há alguma lesão. Para descartar problemas respiratórios medimos a dosagem de BNP e se ele estiver alto, é problema cardíaco. Abaixo de 100, a lesão não é cardíaca, acima de 400 é lesão cardíaca e entre esse meio temos a zona de penumbra, onde temos que pedir mais exames complementares para investigar. SINTOMAS E SINAIS Sinais: B3, estease jugular, refluxo hepatojugular, pele fria, pulso fino, cardiomegalia com ictus desviado, sopro 3 Isadora Silva Sintomas: ortopneia, dispneia paroxística noturna, astenia, fraqueza, perda ponderal de peso. A IC esquerda é aquela onde acontece o represamento de sangue no sistema pulmão- coração, causando congestão pulmonar. Esse represamento de sangue causa vazamento de líquido para o 3º espaço, causando edemas e tosse intermitente. Pode ter alguns outros sintomas: Dispneia progressiva Ortopneia (falta de ar em DD) Dispneia paroxística noturna Casos mais graves: edema agudo de pulmão e derrame pleural. Já a IC direita é muitas vezes causada pela IC esquerda. É a congestão sistêmica, onde sobra sangue pelo corpo todo. Existe resistência pelo corpo e o sangue não volta para VCI. Os sintomas mais comuns são: Edema de MMII Ascite (líquido no peritônio) Hepatomegalia Esplenomegalia Turgência jugular Refluxo hepatojugular DIAGNÓSTICO É um diagnóstico essencialmente clínico. Vamos fazer a anamnese bem feita, com exame físico e os exames complementares que não são fundamentais. I- TABELA DE FRAMINGHAM: A: aumento da jugular, turgência jugular e refluxo hepatojugular B: B3 C: cardiomegalia D: dispneia paroxística noturna E: edema agudo de pulmão, estertores pulmonares F: furosemida Na verdade a tabela de Framingham contempla critérios maiores e menores! Com 2 critérios maiores ou 1 critério maior e dois menores. II- TABELA AVALIAÇÃO PROGNÓSTICO (NYHA) Avalia a capacidade funcional do paciente, seu dia a dia e seus sintomas. -Classe I: Leve. Ausência de sintomas durante as atividades diárias -Classe II: atividades cotidianas já causam sintomas -Classe III: mínimos esforços causam sintomas -Classe IV: sintoma em repouso As classes I e II não têm necessidade de encaminhamento, diferentemente das classes III e IV. 4 Isadora Silva III- AVALIAÇÃO DO ESTADIAMENTO CLÍNICO (AHA) Tem por objetivo direcionar o tratamento. A: Não tem IC, mas tem risco (EX: diabéticos, hipertensos, dislipidêmicos, obesos...). B: Pacientes com alteração estrutural cardíaca, mas assintomáticos (EX: hipertrofia de VE, IAM prévio, doenças orovalvares). C: alteração estrutural + sintomas. D: paciente com IC refratária (tratamento não está resolvendo). TRATAMENTO Os pacientes de AHA caracterizados em estágios A/B, devem prevenir remodelamento e surgimento dos sintomas, enquanto os pacientes C/D devem reduzir os sintomas e aumentar a sobrevida. O controle não farmacológico pode ser feito com controle da dieta, do peso, realização de atividades físicas regulares, diminuição ou cessação do tabagismo e etilismo. Já o tratamento farmacológico pode ser realizado com duas finalidades: Aumentar a sobrevida: IECA ou BRA: podem ser usados em todos os tipos de pacientes, já que afetam nos mecanismos deletérios e são usados para regular a pressão. BB (beta-bloqueadores): atua na vasodilatação e melhora a pós-carga (carvediol, bisoprolol, succinato de metoprolol). Antagonistas da aldosterona (poupadores de potássio): o remédio mais usado é a espironolactona. Controle dos sintomas: Diuréticos (furosemida): para retirar a congestão e “secar” o paciente ao fazê-lo eliminar muito líquido. Vasodilatadores diretos: hidralazina, que atua na pós-carga.INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA Pode ser causada por alguns fatores: má adesão ao tratamento, HAS não controlada, infecções e arritmias 1- IC crônica descompensada 2- IC refratária ao tratamento 3- IC aguda sem diagnóstico prévio Vamos analisar o paciente desde sua chegada: Ver os critérios de Framingham, fazer a dosagem de BNP, e fazer a classificação diante da hipoperfusão e da congestão. 5 Isadora Silva O tratamento vai inicialmente ser feito em: M: monitorar O: oxigenação (saturação) V: veia (acesso) A: abertura das vias aéreas (cabeceira elevada) B: respiração (cateter nasal) C: circulação OBS: o paciente que tem IC e tem oxigenação 93%, não é indicado ofertar mais oxigênio, por que pode acontecer dele ter hiperoxia e isso causar vasoconstrição. O tratamento específico acontece de acordo com o perfil hemodinâmico do paciente: PERFIL A (melhor paciente) - quente e seco Esse paciente está sem congestão e com boa perfusão. É o paciente “A” de ambulatório, ou seja, não é necessário encaminhamento, a gente trata no ambulatório colocando ele na maca e esperando passar o gasto energético que logo melhora. Vamos trata-lo com IECA ou BRA ou BB. PERFIL B- úmido e quente É aquele paciente que está congesto (possui estertor), mas está com a perfusão boa. O Furosemida é uma indicação aqui porque é um diurético e a pessoa nesse caso precisa liberar um pouco da congestão. Outros remédios que podem ser usados são os vasodilatadores (nitroglicerina e nitroprussiato). PERFIL C- seco e frio A perfusão desse paciente está comprometida, mas em compensação o pulmão está limpo e não congesto. Nesse caso o coração não está dando conta de vencer a resistência vascular periférica. É geralmente aquele paciente com tratamento inadequado para IC, com uso inadequado de diuréticos. Vamos dar volumes de soro fisiológico sob supervisão, já que o paciente está com pré- carga baixa. Nesse caso o paciente pode evoluir para o quadro D, e nesse caso já entraremos com dobutamina e noradrenalina. PERFIL D- frio e úmido (pior paciente) O paciente tem pressão baixíssima. Não é indicado furosemida ne vasodilatadores, mas sim drogas vasoativas (dobutamina e noradrenalina) que aumentam a força de contração do coração. Nesse caso vamos somente observar a diurese e torcer para que o paciente tenha boa resolutividade e libere líquido por conta própria.
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