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INTRODUÇÃO À PEDAGOGIA Alex Ribeiro Nunes Revisão técnica Marcia Paul Waquil Assistente Social Mestre em Educação Doutora em Educação Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 L732i Lima, Caroline Costa Nunes. Introdução à pedagogia / Caroline Costa Nunes Lima, Daiane Duarte Lopes, Alex Ribeiro Nunes ; [revisão técnica: Marcia Paul Waquil]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 207 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-376-5 1. Pedagogia. I. Lopes, Daiane Duarte. II. Nunes, Alex Ribeiro. III. Título. CDU 37.01 A profissão dentro da área de atuação: nacional e mundial Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as competências do profissional de Pedagogia. Identificar os parâmetros nacionais que regem a profissão no Brasil e as discussões nacionais sobre a formação e atuação docente. Contextualizar a profissão de pedagogo a nível mundial. Introdução Neste capítulo, você terá a possibilidade de adentrar um pouco mais no universo do profissional de Pedagogia, de modo a compreender e cons- truir novos olhares sobre este profissional. Os pontos a serem abordados no capítulo perpassam pelas características do Pedagogo considerando os parâmetros que regem a profissão em âmbito nacional e, ainda, apontam as características deste(a) profissional de maneira globalizada em um contexto mundial. Deste modo, espera-se que o capítulo, a partir de uma abordagem significativa, possibilite um olhar diverso e contextualizado sobre a Pedagogia e os profissionais que a assumem e a compõem. Competências do profissional de Pedagogia Na atualidade, os cursos de Ensino Superior de Pedagogia têm apresentado propostas de ensino cada vez mais modernas, com objetivos inovadores de formação do profi ssional e com competências, habilidades e conteúdos para o exercício da prática educativa em espaços escolares e não escolares. Além disso, em geral, propõe-se a articular, de forma crítica e refl exiva, as con- cepções teóricas e o cotidiano docente. Nessa perspectiva, utiliza, enquanto suporte teórico, os saberes advindos de áreas como a Filosofi a, a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia, a Didática e a Política, entre muitas outras. Busca-se, nesse profissional, diversas competências e habilidades, que, portanto, acabam por caracterizá-lo. São elas: ter capacidade de planejamento, execução de planos e projetos; dinamismo e olhar múltiplo frente às diversidades; saber se comunicar e dialogar; ter equilíbrio emocional; ter conhecimento teórico suficiente para embasar a sua prática pedagógica; saber trabalhar em equipe e mediar conflitos; ser criativo; ter aptidão para o trabalho com o público; ser proativo para promover ações preventivas; elaborar estratégias e intervenções pedagógicas; acreditar na Educação. Diante de tantas aptidões, o objetivo é que os profissionais de Pedagogia consigam, principalmente, compreender as transformações educacionais, políticas, científicas e sociais, considerando os mais diversos vieses e as diversidades existentes nesse processo de construção do conhecimento. É preciso defender e assegurar uma matriz curricular que contenha o domí- nio de conteúdos básicos e a expansão gradual de habilidades e competências articuladas e relacionadas com o universo educacional e pedagógico, tomando, para si, a reflexão, a ação crítica, a interdisciplinaridade, a contextualização e a formação continuada. Para que o processo de formação do pedagogo ocorra de maneira eficaz e seja coerente com as demandas sociais, a adequação, a ampliação e a inovação da proposta pedagógica curricular, com a perspectiva de conceber a Educação como algo em constante movimento e transformação, são necessárias. Nesse contexto, tem-se, como pano de fundo, a atuação do pedagogo, de modo a possibilitar que o conhecimento pedagógico esteja acessível e contribua com os mais diversos espaços e em diferentes realidades. A formação e a consequente atuação do profissional de Pedagogia deve reafirmar uma preocupação com a qualidade e a responsabilidade inerentes a essa função para resultar na transformação dos mais diversos espaços edu- cacionais, escolares e não escolares. A profissão dentro da área de atuação: nacional e mundial2 Portanto, é preciso que haja a reflexão permanente acerca dos processos que envolvem a Educação e a Pedagogia e toda a sua complexidade na sociedade contemporânea. Assim, emergem alguns questionamentos indispensáveis: Qual é o pedagogo que queremos para a sociedade atual? Como colaborar na (re)construção desse profissional? O pedagogo da/na sociedade atual deve ser um profissional multifacetado, o qual navega pelos conhecimentos teóricos da Educação e da Pedagogia para que tenha sustentação em sua prática cotidiana. Deve ser um profissional pesquisador empenhado em transformar a realidade do espaço escolar ou dos demais espaços onde atua. Além disso, esse profissional precisa agir no trabalho com ética pela justiça, pela igualdade de oportunidades e pela diminuição dos distanciamentos e das lacunas para que todos tenham acesso aos processos educativos, nos mais diferentes espaços. A escola e a atuação do pedagogo frente às diversidades As discussões que envolvem a diversidade perpassam, inclusive, pelo contexto escolar, visto que este é um espaço de diferenças e pluralidades. Portanto, o pedagogo contemporâneo deve atuar nesse cenário, de forma a descons- truir aspectos de preconceito e criar estratégias de respeito e dissolução das discriminações, que aniquilam as relações e comprometem o processo de ensino-aprendizagem. Nadime (2003) ressalta que o preconceito poderá ser manifestado pelo simples discurso ou pelo ato de um sujeito e poderá também tomar forma, ou melhor, estruturar-se a partir da observação do cotidiano escolar. Isso poderá ser uma via de disseminação da intolerância, por meio da linguagem ou do pequeno gesto, na qual estão contidos termos pejorativos, os quais, na maioria das vezes, desvalorizam a imagem do outro. De acordo com Gentile (2003), na sociedade, a rejeição aparece de várias formas. O desrespeito e a intolerância se contrapõem a indivíduos ou grupos desfavorecidos, que se entregam ao medo e convivem com violência, corrupção e discriminação. Na escola, essa característica aparece de forma constante. O fato de ameni- zar situações sem, na verdade, resolvê-las ou ainda optar pelo silêncio diante de certos fatos pelo receio de haver repressão por outros são apenas simples exemplos, os quais comprovam que, muitas vezes, atos discriminatórios são reforçados por atitudes de omissão, levando uma situação que deveria ser 3A profissão dentro da área de atuação: nacional e mundial discutida e resolvida ao esquecimento. Por isso, torna-se fundamental que o pedagogo esteja sempre atento e promova o combate a essas violências. Segundo Whitaker (1994), é necessário que os educadores, incluindo os profissionais de Pedagogia e as pessoas envolvidas no sistema educacional, percebam que, quando situações de violência e discriminação são ocultadas com o intuito de serem amenizadas, estes podem estar agindo como violadores dos direitos dos alunos, reforçando uma corrente discriminativa que não só oculta a violência que está no dia a dia, como também esconde suas verdadeiras causas. É uma violência sutil que, em geral, não aparece de forma tão explícita e serve para dissimular os conflitos. É uma situação que, em princípio, nortearia o bem para todos os envolvidos, principalmente para aqueles que são os responsáveis pela ordem na instituição escolar, contudo, estaria mascarando um ato que gera maiores consequências, além de constatar a violação do direito ao respeito de quem sofreu a ação, o qual é muitas vezes obrigado a se contentar com o silêncio e o descaso. Diante de situações assim, surgem novas perspectivas e características do profissional de Pedagogia,que precisa se reinventar para atuar com eficácia nessas situações que emergem no espaço escolar (Figura 1). Figura 1. Pedagogia. Fonte: Robert Kneschke/Shutterstock.com. A profissão dentro da área de atuação: nacional e mundial4 Parâmetros nacionais para o profissional de Pedagogia no Brasil Na perspectiva de pensar a Educação e a Pedagogia na atualidade, é impor- tante nos atermos a alguns pontos que auxiliam em tal compreensão. Paulo Ghiraldelli Jr. (2009) ressalta que apenas com a modernidade a Pedagogia foi tomando a forma e se tornou aquilo que hoje, efetivamente, conhecemos por Pedagogia. Foi a partir do século XVII que ela começou a deixar de atuar como simples condutora de crianças para se transformar em uma ciência da Educação. Nessa vertente, a Pedagogia vai traçando seus objetivos e passa a ter como objetivo geral o aperfeiçoamento dos processos de ensino-aprendizagem dos sujeitos por intermédio da reflexão crítica, da sistematização (organização) e da produção de conhecimentos. Como ciência social, a área da Pedagogia deve estar conectada com o saber produzido socialmente, inclusive por outras ciências, como a Filosofia, a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia, a Pediatria, etc., além de se inteirar para compreender e fazer valer as normas educacionais do país em que está inserida. Em nível nacional, as discussões geradas acerca da construção de um curso de Pedagogia só emergiram a partir da década de 1930, visto que esse momento estava marcado por uma grande discussão em torno da Educação. De acordo com Pereira ([201-?]), algumas curiosidades sobre o curso de Pedagogia são: O curso foi instituído no Brasil, em 1939, e desde então a atuação do pe- dagogo e seu perfil profissional vêm sofrendo alterações significativas. Hoje, a Pedagogia está cada vez mais presente em diferentes áreas: Pedagogia Empresarial, Pedagogia Hospitalar, Psicopedagogia, etc. Devido às muitas mudanças com o decorrer da história, o perfil do pedagogo se modificou, assim como também foi redefinido o papel da Educação, da escola e dos profissionais que nela atuam. A Pedagogia investiga a natureza dos processos educativos, bem como suas finalidades. A ciência é responsável por explicar os objetivos e as formas de intervenção metodológica e de organização da atividade educativa visando ao sucesso da aprendizagem. 5A profissão dentro da área de atuação: nacional e mundial Vale enfatizar que as diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia, definidas recentemente pela Resolução nº 1, de 15 de maio de 2006, do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2006), trouxeram como pauta para discussão o debate a respeito da identidade do curso e a sua finalidade profissionalizante, agora instituída como licenciatura. Portanto, o curso de Pedagogia é destinado, na sua atual formulação legal, à formação de professores para a Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Complementarmente também há o desenvolvimento de competências para o ensino nos cursos de nível médio, na modalidade normal, para a educação profissional na área de serviços e apoio escolar, para as atividades de orga- nização e gestão educacionais e para as atividades de produção e difusão do conhecimento tecnocientífico do campo educacional. Nessa perspectiva, a estrutura curricular do curso de Pedagogia deverá ser organizada em três grandes núcleos: 1. Conteúdos básicos: articuladores da relação teoria e prática, referentes aos contextos: a) histórico e sociocultural, compreendendo os funda- mentos filosóficos, históricos, políticos, econômicos, sociológicos, psicológicos e antropológicos; b) da educação básica, compreendendo estudos dos conteúdos curriculares da educação básica, os conheci- mentos didáticos, o estudo dos processos de organização do trabalho pedagógico e o estudo das relações entre educação e trabalho; c) do exercício profissional em âmbitos escolares e não escolares, articulando saber acadêmico, pesquisa e prática educativa. 2. Estudos de aprofundamento e/ou diversificação da formação: referem- -se “à diversificação da formação do pedagogo [que] é desejável para atender às diferentes demandas sociais e para articular a formação aos aspectos inovadores que se apresentam no mundo contemporâneo”. Propõem ainda o aprofundamento de conteúdos da educação básica ou o oferecimento de conteúdos voltados às áreas de atuação profissional priorizadas nos projetos das IES. 3. Estudos integradores: realizados a partir da participação em seminários, A profissão dentro da área de atuação: nacional e mundial6 o oferecimento de conteúdos voltados às áreas de atuação profissional priorizadas nos projetos das IES. o projetos de iniciação científica, monitoria e extensão, bem como e aulas práticas, experiências, atividades de comunicação e expressão cultural, entre outros É importante considerar que muitos dos problemas do curso surgiram a partir das diversas discussões que o circundam, configurando-se como alguns de seus muitos dilemas: Qual é a área de atuação dos profissionais em Peda- gogia? Para que serve a Pedagogia? Pedagogo e professor são a mesma coisa? Nessa perspectiva, torna-se importante trazer, neste capítulo, a atualização legal sobre os cursos de licenciatura. A Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial de Nível Superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licen- ciatura) e para a formação continuada (BRASIL, 2015). Nesse cenário, o curso de Pedagogia vem se firmando como importante instrumento para a formação de docentes no país, sendo assim, com o passar dos anos, tem demonstrado seu valor e sua pertinência nos processos educativos de empresas, instituições e escolas. O pedagogo empresarial: características e campos de atuação Você sabia que o pedagogo pode atuar e contribuir para o cenário organizacional de empresas, hospitais e demais instituições não escolares? A prática pedagógica no ambiente empresarial exige estratégias de capacitação, gestão de projetos e, muitas vezes, atuação como gestor cultural. O profissional dessa área deverá desenvolver estratégias para a capacitação de pessoas e treinamentos, no que se refere à motivação, ao compromisso e ao trabalho em equipe. Deve, também, inteirar-se de táticas para a elaboração de projetos de integração entre setores e da organização de palestras e dinâmicas empresariais. Outra característica importante para esse profissional contemporâneo se refere a aprender técnicas para atuar como gestor cultural e para promover possíveis eventos empresariais, atividades de extensão para a comunidade e campanhas educativas e culturais. Vale ressaltar que é um profissional que deverá descobrir indicadores para uma atuação diferenciada no setor de RH. 7A profissão dentro da área de atuação: nacional e mundial Algumas considerações sobre a contextualização da profissão de pedagogo no mundo O desejo por outras respostas e transformações e a busca por novos olhares e novas perspectivas é o que impulsiona e deve impulsionar o pedagogo na busca pelo desconhecido. É importante atravessar o universo de uma escola ou de uma instituição e entrelaçar os conhecimentos para desvendar quais são as possibilidades de pensar o processo educacional. O pedagogo, muitas vezes, é infl uenciado pelas experiências que vivencia, experiências essas que são vitais para que suas ações aconteçam de maneira efi caz. Em seu percurso, em geral, cada encontro resulta em uma nova descoberta ou uma (re)vivência. À medida que o tempo passa, as impressões e as percepções, certamente, dão lugar aos registros e às intervenções que mobilizam, diminuem distanciamentos e permitem aprendizagens. Libâneo (2001) enfatiza que o pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa e que suas ações estão direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processosde transmissão e assimilação de saberes, além de citar as formas de atuação, tendo em vista os objetivos da formação previamente definidos em sua contextualização histórica. Nas ações pedagógicas, cada passo dado faz emergir novos questionamentos e novas descobertas no profissional da Pedagogia e fervilhar um turbilhão de encontros e desencontros. As ações de um pedagogo, em qualquer lugar do mundo, devem dialogar com as circunstâncias e os acontecimentos, além de observar, problematizar, articular, perceber as falas, criar estratégias e inter- vir. O olhar e o compromisso de um educador, a garra de um pesquisador, as vivências e experiências de um professor, o desejo de fazer e de aprender de um estudante e a responsabilidade do sujeito, todas essas características são essenciais ao profissional de Pedagogia, independente do país em que este atue. A profissão exige uma postura que se baseia em estratégias políticas para mostrar que, mesmo em meio a tantos desafios e desventuras que atravessam os sujeitos, é possível transformar e que diante da imposição, do medo e da descrença, há reinvenções e criatividade, mecanismos necessários para as reconstruções. É preciso que o pedagogo sinalize as transformações futuras, vislumbrando a necessidade da continuidade de cursos de formação e aperfeiçoamentos que busquem levantar, problematizar e discutir as práticas pedagógicas cotidianas dos profissionais, visando a um olhar para além daquilo que está imposto, tentando perceber as lacunas existentes dentro da escola e das demais insti- tuições de atuação, para assim dialogar e reinventar maneiras de ser pedagogo e de praticar a Pedagogia. A profissão dentro da área de atuação: nacional e mundial8 BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP n° 1, de 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Brasília, DF, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/ pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em: 05 mar. 2018. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Brasília, DF, 2015. Disponível em: <http://pronacampo.mec.gov.br/images/pdf/res_cne_cp_02_03072015.pdf>. Acesso em: 05 mar. 2018. A profissão dentro da área de atuação: nacional e mundial10 GENTILE, P. As diversas faces da escola. Nova Escola, São Paulo, ano 18, n. 165, p. 36- 37, set. 2003. GHIRALDELLI JR, P. História da educação brasileira. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2009. LIBÂNEO, J. C. Pedagogias e pedagogos: inquietações e buscas. Educar, Curi- tiba, n. 17, p. 153-176, 2001. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/educar/article/ viewFile/2074/1726>. Acesso em: 21 fev. 2018. NADIME, L. A.; BOURDIEU, P.; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução. Elementos para uma teoria do sistema de ensino, Lisboa, 1970. PEREIRA, L. C. Pedagogo. [201-?]. 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