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OFICINA PEDAGÓGICA ADISA Bruno Maus Beck Raquel Samberg Oficina pedagógica focada em Relações Étnico-Raciais na no Centro de Referência de Assistência Social da Cidade de Arambaré - RS conforme o Parecer CNE/CP 003/2004, direcionada às crianças de faixa etária de aproximadamente dez (10) anos. Projetos Educativos Disciplina: 118112 Turma: 80216 Período: 2022/2 1. CONTEXTUALIZAÇÃO: Essa contextualização tem como propósito identificar uma realidade educacional em um ambiente não escolar. Ela partiu de uma análise do Centro de Referência de Assistência Social, localizado em Arambaré – RS, no endereço na Rua Carlos Bohne, 571 – Centro – Arambaré / RS CEP: 96178-000. É um ambiente não escolar que oferece serviços de prevenção, socialização, proteção social básica para os munícipes da cidade, que são frequentados por crianças e adolescentes de 6 a 17 anos, adultos de 18 a 59 anos e idosos acima de 60 anos. A instituição é composta por 15 colaboradores, em um quadro extenso que conta com: coordenação, equipe técnica (psicólogos e assistentes sociais), orientadores sociais, oficiais administrativos, oficineiros, assistência na limpeza e cozinha, o grau de escolaridade desses colaboradores são de ensino médio a ensino superior. O CRAS é um importante local de assistência social para famílias que estão em vulnerabilidade, tem como objetivo a prevenção, proteção e socialização dessas famílias, fazendo com que elas tenham o básico que é por direito do cidadão. Trata-se de uma luta diária dos colaboradores. A missão de orientar e inserir esses indivíduos na sociedade, através da troca de cultura, do conhecimento, da arte, da música, dos valores básicos de convivência e socialização entre as pessoas. Através dos recursos do governo e doações da própria comunidade e por ser uma cidade de porte pequeno-rural, às vezes, os materiais acolhidos não são o suficiente, mas são necessários para dar avanço em projetos e atividades propostas, o Centro de Referência conta com materiais de oficina para arte (tintas, cartolinas, lápis de cor, canetinhas), equipamento de circo (bambolês,cordas, tecidos), equipamento eletrônico (notebooks, computador de mesa, rádios), figurinos para apresentações e algumas doações dos colaboradores e da comunidade, como por exemplo: figurinos/roupas, materiais escolares e maquiagem para apresentações. Na pandemia, o atendimento ao público ficou mais rígido, houveram alguns projetos para fazer em casa, como exercícios de alongamento para os adultos e idosos. Também, foram enviados alguns materiais às crianças que frequentavam a instituição, para colorir, escrever e desenhar suas experiências com a nova situação que todos estavam inseridos. No final do ano de 2021, alguns atendimentos voltaram a acontecer. A instituição manteve o acolhimento às crianças e adultos, mas com a redução de pessoas no local e o uso de máscara e álcool em gel, seguindo todos os protocolos. O atendimento ao público normalizado começou no mês de março de 2022, com suas oficinas circenses, acolhimento e atendimento acompanhados por assistentes sociais e psicólogos, bem como o fornecimento de alimentação no local, recursos de estudo, leitura e pintura. São muitas as demandas que a instituição carece, pois os projetos precisam sair do papel e, geralmente, não têm a verba necessária para arcar com atividades propostas. A oficina pedagógica da Educação das Relações Étnico-Raciais no Centro de Referência de Assistência Social da Cidade de Arambaré - RS conforme o Parecer CNE/CP 003/2004 será direcionada às crianças de faixa etária de aproximadamente dez (10) anos, no entanto conduzida em ambiente não-escolar. Será proposta uma intervenção no ambiente não-escolar buscando uma maior representatividade negra dentro da instituição referência e também fora dela, por meio da “Caixa Adisa” que acompanhará essa turma durante todo o percurso. A diversidade é por tantas vezes evitada, questões étnico-raciais continuam sendo pouco trabalhadas. Durante as buscas para concretização de uma proposta confronta-se, muitas vezes, com o alto valor de materiais que deveriam de ser muito mais comercializados e difundidos como valor social e cultural. Enfrenta-se a falta de mínimo entendimento da luta negra por parte dos profissionais da educação. Percebe-se que apesar de tudo, enquanto sociedade, ainda se desconhece muito, acarretando a negligência à história e afastamento da luta, dor e afirmação de identidade. 3. JUSTIFICATIVA: Faz-se necessário pensar e planejar atividades de experiência pedagógica em que problematize a diversidade, o respeito com o próximo e a existências de culturas diferentes na nossa sociedade. Além disso, é fundamental ter um olhar crítico com relação à representatividade ou a falta dela dentro do ambiente escolar e não-escolar. A partir da necessidade de viabilizar no processo pedagógico ações de reconhecimento e motivação à representatividade negra, bem como resgate a cultura, dada a importância de compreender a História e Cultura Afro-Brasileira, serão planejadas e direcionadas à oficina. As ações de reconhecimento compreendidas são: o valor da diversidade, pensar sobre preconceitos que desqualificam os negros, estereótipos, palavras e atitudes; valor de processos históricos da resistência negra; o respeito à pessoa negra, suas lutas de afirmação e suas dores; ação de rejeição a assistidos que levam ao desestímulo e descontinuidade dos estudos e, por último, exigência por instituições frequentadas por negros bons equipamentos, estrutura e profissionais. Dentro do trabalho cotidiano e intervenções sempre redirecionadas por planejamento ativo serão reafirmadas essas ações. 4. OBJETIVO DE ENSINO: Empregar elementos do Parecer CNE/CP 003/2004, implementando a cultura Afro ao passo que se trabalha com o conceito de representatividade, através da exploração de brinquedos, instrumentos musicais, a música em si e suas histórias. 4. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: Acrescer novos recursos pedagógicos que remetem a Relações Étnico-raciais e Culturais na sala referência; propor maior representatividade negra dentro do ambiente não-escolar. Realizar-se-á uma reflexão com as crianças sobre os jogos, músicas, bonecos, brinquedos e livros que remetem à cultura negra, mas que não estão presentes de forma significativa dentro da sua sala referência. 5. REFERENCIAL TEÓRICO: Segundo Eduardo Galeano(1971, p.07) “O passado é mudo? Ou continuamos sendo surdos?” A composição da oficina pedagógica foi voltada à valorização da cultura africana, pensando na ampliação de repertório das linguagens artístico-culturais por meio da literatura, da música, da brincadeira e das artes visuais. Valorizar a cultura negra na escola, mais que em qualquer outro espaço, se faz fundamental. Ao investigar sobre essa cultura, muito remete à história, às marcas e às rugosidades de povos que tiveram suas lutas para se afirmar a própria identidade. A partir do dia 9 de janeiro de 2003, garante a legislação, acerca da necessidade e o direito de todos os alunos estudarem e vivenciarem a História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas, tanto nas instituições públicas quanto nas privadas. De acordo com o decreto nº 10.639/2003 “Altera a Lei n o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Um grande avanço aconteceu por meio dessa legislação, entretanto a lei por si só não funciona. É necessário a implementação dela, mas antes de tudo, os professores e gestores precisam ter simpatia, empatia e entender suas importâncias como atores sociais fundamentais para a lei sair do papel e fazer parte do cotidiano escolar. No entanto, viu-se a necessidade de estender o assunto para ambientes não-escolares, a fim de reforçar a consolidar questões de Étnico-Raciais à comunidade, principalmenteno que tange à formação de uma visão crítica e significativa de crianças que estão inseridas em situação de vulnerabilidade. Nesse sentido, Miranda afirma que: Entende-se que a não prática sistemática da lei implica em problemas de ordem social e psíquica: como a baixa autoestima, negação da própria imagem, sentimentos de angústia e revolta; dificuldades de relacionamento e queda no rendimento escolar por parte dos estudantes negros (MIRANDA, 2019, p.3) Seguindo essa linha de raciocínio, os professores precisam ter a plena consciência que toda ação gera uma reação, e que nesse caso não será diferente. Dessa forma, toda vez que aplica-se essa lei de forma efetiva, valorizando e demonstrando a contribuição dos negros para a sociedade, resgata-se e ressignifica-se vidas. Mostrar que existem diferentes culturas, que todas são importantes e merecem respeito e representatividade são passos extremamente importantes que todos os profissionais que lidam com a educação precisam realizar dentro das instituições. 6. METODOLOGIA: Através da observação que se faz constante na educação, foi analisado o nível de participação e envolvimento das crianças com a oficina, a fim de experienciar e desafiar não somente as crianças, mas também os profissionais e instituições. Conforme Kohan (2008, p. 18): [...] um professor experiência é aquele que entra na sala de aula, mesmo afirmando uma série de verdades, com o sentido principal de colocar suas verdades em questão, desejando mais transformar e ser transformado do que transmitir o que já sabe. Por isso e através da experiência direcionada é que se pode investigar novos caminhos ao planejar o fazer pedagógico. A oficina pedagógica Adisa, terá duração de três horas. Primeiramente, haverá a leitura do livro “A menina bonita do laço de fita” para os alunos, e conforme o andamento da leitura, apresentar-se-á o fantoche dessa personagem do livro, para melhor entender a intenção e a importância da representatividade que o livro traz. No segundo momento, apresentará o turbante, e todo o significado que ele representa para a cultura afro. Em seguida colocar-se-á uma música africana e apresentar-se-á o pandeiro para a turma, com ênfase na importância dos elementos apresentados e a forma que a capoeira e a dança africana salvaram vidas e serviram como forma de protesto em época não distante. Em um último momento, apresentar-se-á fantoches para as crianças, com a intenção de inserir e mostrar a diversidade através do brincar, representando a importância da pele negra, de saber o que significava cada personagem, e o porquê de estarem ali. 7. PROCEDIMENTOS: Oficina Pedagógica “Adisa” terá a duração de três horas, os materiais usados vão compor todo o projeto: super-heróis de pano na cor de pele negra; fitas adesivas do tipo crepe ou isolante; Turbantes; Pen-drive; Musicas Afro; pandeiro, cuíca, chocalho e claves. Durante a oficina será realizada uma reflexão com as crianças sobre as histórias, músicas, bonecos, brinquedos e livros que remetem à cultura negra, mas que não estão presentes de forma significativa dentro da sua sala de referência. No primeiro momento aparecerá a “Caixa Adisa” que ninguém saberá dizer de onde ela surgiu. Após todos olharem e analisarem a caixa, descobrirão os primeiros itens que tem dentro dela, sendo mostrado para toda a turma um pendrive com diversar músicas da cultura africana e dois super heróis negros, juntamente com uma carta, explicando a importância da música e desses heróis para a cultura negra e toda sua história. Em seguida, depois da apresentação dos bonecos, as músicas exploradas e a história contada, surgirá de dentro da caixa tecidos de turbante. Os tecidos diversos e coloridos estarão na caixa para que eles possam ser apresentados a esse elemento e usá-lo de diferentes formas. Os turbantes são cheios de significados, além de ser um acessório cheio de charme e autenticidade. Na última hora da oficina, o educador abrirá a caixa Adisa novamente, e trará mais integrantes para contemplar a aula: Pandeiro, cuíca, chocalho e claves serão os mais novos instrumentos musicais que estarão disponíveis na sala para serem explorados e utilizados nas brincadeiras. Todos eles possuem relação ou com a cultura negra ou indígena, sendo ótimos para soltar a criatividade, e criar diferentes ritmos. PERÍODO/DURAÇ ÃO ATIVIDADE RECURSOS MATERIAIS AVALIAÇÃO 1º MOMENTO Reflexão “Caixa Adisa” Caixa Adisa Instigar curiosidade 2º MOMENTO Análise de Conteúdo Pendrive, músicas, bonecos, brinquedos e livros que remetem à cultura negra Aprendizagem significativa 3º MOMENTO Análise de Conteúdo - final Instrumentos musicais Desenvolver a criatividade 8. REFERÊNCIAS MIRANDA, Monica. Reflexões sobre a aplicação da Lei 10.639/03 em escolas da zona oeste do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense. Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura,v. 5, mai. 2019. BRASIL. Decreto nº 10.639, de 9 de jan. de 2003. Inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Brasília, DF: Presidência da República, 2003. MAQUES, Isabel; BRAZIL, Fábio. Arte em questões. São Paulo: Digitexto, 2012, p. 101-118. KOHAN, Walter. A escola, a disciplinarização dos corpos e as práticas pedagógicas. O corpo na escola. Brasil, 2008, ano XVIII, boletim 04, p. 15 - 19. Galeno, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Do original em espanhol: Las venas abiertas de America Latina. Tradução de Sérgio Faraco - Porto Alegre, RS: L&PM Pocket, 2019, 365 p
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