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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE DIREITO MARCO AURELIO DOS SANTOS LIMA RGM – 12.392 A APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS - MASCULINA Dourados-MS 2009 1 MARCO AURELIO DOS SANTOS LIMA RGM – 12.392 A APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS - MASCULINA Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul como requisito parcial para formação de Bacharel em Direito, sob orientação da Professora MSc. Jussara Martins C. de Oliveira. DOURADOS - MS 2009 2 3 DEDICÁTORIA Dedico este trabalho aos meus filhos, fundamentais a minha vida, meus agradecimentos por demonstrarem carinho e amor, contribuindo dessa forma para produção desse trabalho. 4 EPÍGRAFE “o Direito não cria a realidade, é a sociedade que se desenvolve de acordo com o momento histórico, até que os fatos e situações se tornem tão evidente que nada resta ao legislador que curvar-se a eles e regulá-los” Romeu Simon 5 AGRADECIMENTOS A minha Orientadora Professora MSc. Jussara Martins C. de Oliveira, pelo incentivo, simpatia e presteza no auxílio às atividades sobre o andamento e normatização deste trabalho de conclusão de curso. Aos demais professores do curso de Direito da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, unidade de Dourados pela dedicação e entusiasmo demonstrado ao longo do curso. Particularmente a Ligia Yuri Yamasaki, minha amada que sempre me apoiou, auxiliou e estimulou a fim de atingir o sucesso. Aos colegas de classe, pela espontaneidade e alegria, numa rara demonstração de amizade e solidariedade. Aos meus familiares e amigos pela paciência em tolerar a minha ausência. Aos Doutores Benjamim Jose Machado e Sandro Marcio Pereira, que sempre apoiaram aqueles que desejam se aprimorar através da educação. E, finalmente, a Deus pela chance e pelo privilégio que me foi dado em partilhar tamanha experiência e, ao freqüentar este curso. 6 RESUMO Pode- se dizer que a homoafetividade é um tema extremamente discutido desde muito tempo atrás, sendo que o preconceito existe e perpetua até os dias atuais. A união homoafetiva não é reconhecida legalmente, sendo que a Constituição Federal de 88 e o código civil prevêem que as leis são igualmente utilizadas independente de cor, sexo ou religião. Já houve projetos de leis para legalizar o casamento civil dos homoafetivos, porém em nada mudou. Sendo assim continuam essas pessoas privadas de seus direitos como cidadãos, quanto ao direito do casamento, adoção etc. E ainda, vítimas de preconceitos inclusive da própria justiça, sendo que todos têm o direito à vida privada, não importa se com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto. Muitos doutrinadores entendem que a Lei Maria da Penha dispõe, em alguns de seus artigos sobre a legalidade da união homoafetiva, visto ter alterado o conceito de família, e repreender qualquer tipo de preconceito, principalmente no que tange à união de pessoas do mesmo sexo, porém, é necessário ressaltar que esta lei beneficia especialmente as mulheres, motivo pelo qual alguns doutrinadores questionam ser essa união tutelada somente entre mulheres ou também é extensivo à união de homens. 7 ABSTRACT It can say that the homoafetividade is a subject extremely argued since much time behind, being that the preconception has very exists and perpetuates until the current days. The homoafetiva union is not recognized legally, being that the civil code foresees that the laws equally are used independent of color, sex or religion. Already it had projects of laws to legalize the civil marriage of the homoafetivos, however in nothing it moved. Being thus they continue these private people of its right as citizens, with right the marriage, adoption and etc. and still victims of preconceptions also of proper justice, being that all have the right the private life, does not matter the same if with people of sex or the opposing sex. Many doutrinadores understand that the law Maria of the Penha places in some of its articles the legality of the homoafetiva union. Since the same one changed the concept of family, and reprehends any type of preconception, mainly in what it the same refers to the union of people of sex, however is necessary to stand out that this law benefits the women especially, for this reason some doutrinadores point out if this union is only protected for women, or also it protects union of men. . 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................. 08 1 - As relações homoafetivas............................................................................ 10 1.1 - Breve contextualização sobre o homossexualismo ................................. 10 1.2 - O Direito de Família à luz da Constituição Federal ................................. 11 2 - Alcance da lei nas relações homoafetivas .................................................. 14 2.1 - A evolução das relações humanas e sociedades globalizadas............... 14 3 - A Lei Maria da Penha e sua eficácia nas relações homoafetivas .............. 22 3.1 - Breve histórico da Lei Maria da Penha.................................................... 22 3.2 - Da efetividade jurídica da nova norma..................................................... 24 4 - Da constitucionalidade da Lei Maria da Penha .......................................... 29 4.1 - A Lei Maria da Penha e as relações homoafetivas ................................. 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 38 REFERÊNCIAS................................................................................................ 40 ANEXOS........................................................................................................... 43 9 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo, avaliar a aplicabilidade da Lei Maria da Penha no caso concreto das relações homoafetivas no Brasil, comparando os avanços do alcance dessa Lei no campo jurídico. O tema é de grande relevância hoje nos tribunais do país, no âmbito do Direito de Família e das Sucessões, pelo número de ações que envolvem casais formados por pessoas do mesmo sexo. Diante da ausência de legislação específica a respeito, cabe ao julgador se socorrer da analogia, dos princípios gerais do direito, textos doutrinários e jurisprudências para resolver tais questões. Através de análise dos diplomas vigentes no Brasil, e da pesquisa de obras de estudiosos sobre o tema, pretende-se demonstrar que esta possibilidade não atenta às leis jurídicas, pelo contrário, configura uma evolução e adequação à realidade, em face dos novos valores sócio-culturais, bem como um respeito à dignidade humana e à afetividade. Salienta- se que a Constituição de 1988, que buscou constituir uma sociedade sem preconceito e sem discriminação, constituída na igualdade de todos, não domina norma anunciada acerca da liberdade de orientação sexual. Como decorrência natural, não faz referência às uniões homoafetivas. É inovadora em relação, às uniões heterossexuais, reconhecendo como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher. O Código Civil, por sua vez, ao disciplinar o tema da união estável, seguiu a mesma linha. No mesmo sentido, Brito enfatiza que diversos princípios jurídicos protegem a tutela da parceria homoafetiva, sendo uma realidade que necessitade solução jurídica positiva. A indignidade afrontada pelos homossexuais, nos dias de hoje, resulta da reprodução de alguns valores expostos como morais, demonstrando discriminações que têm como causa propriedades intrínsecas de cada pessoa. Para superar essa exclusão jurídica, far-se-á necessária uma ampla reflexão, com 10 observância ao princípio de tutela à privacidade, componente essencial ao reconhecimento da união homoafetiva no âmbito jurídico. Nesta esteira, a Lei Maria da Penha mudou o conceito de família, e enfatizou a não discriminação contra a união de pessoas do mesmo sexo, tema em comento no capítulo III deste trabalho. Devido a vários motivos, a violência atinge lares de muitas famílias, e quase sempre conflitos tão violentos entre os casais, gerando lesões corporais graves nos envolvidos. Traumas psicológicos nos filhos dos casais, e muita angústia para ambas as famílias dos companheiros. 11 1 – AS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS 1.1 Breve contextualização sobre o homossexualismo. Apesar de as questões de homossexualismo remontar desde o império romano, há muito tempo atrás, o que será proposto aqui, são as relações entre pessoas do mesmo sexo avaliadas em épocas mais recentes. A palavra homossexual vem designar uma opção sexual entre pessoas do mesmo sexo. Tem sua origem no grego homo que significa semelhança, igualdade. Já a palavra homoafetividade surge como meio de coibir uma pratica racista que ligava a pessoa a ser praticante de sexo com outra do mesmo sexo, sem ter ligação ou intenção de constituir uma relação duradoura. Logo, o termo homoafetividade vem tentar apagar a idéia de promiscuidade e perversão de valores, buscando imbuir na sociedade como sendo uma relação normal tal como qualquer outra, podendo derivar em mútua assistência, patrimônio em comum, vida a dois, filhos, ou seja, se assemelhar às relações da reconhecida família, como base da sociedade. Polêmica no mundo jurídico em função dos desdobramentos dessas relações homoafetivas no que tange ao direito de família, nas partilhas de bens, entre outros direitos.1 De acordo com Barroso2, ainda não se determinou as razões reais que originam as preferências sexuais nos indivíduos. Existem estudos, dotados de cientificidades que asseguram ser a orientação sexual decorrente de fatores genéticos. Segundo outros estudos, igualmente científicos, os fatores determinantes seriam sociais. Necessita- se enfatizar, ademais, que o fato homossexualismo em si não viola qualquer norma jurídica, nem é adequado, por si só, de dissimular a vida de terceiros. 1 SANTANA, Dr. Luciano - As relações homoafetivas e suas implicações jurídicas – encontrado em www.r2learning.com.br - acesso em mar.2009. 2 BARROSO Luís Roberto - Diferentes, mas iguais: O reconhecimento Jurídico das Relações Homoafetivas no Brasil– encontrado em http://pfdc.pgr.mpf.gov.br – acesso abe.2009 12 1.2- Direito de Família à luz da Constituição Federal. A família foi definida desde, tempos remotos como sendo a base da sociedade. Em assim sendo, houve a necessidade de criação de leis que regessem sua formação e sua dissolução. Nas últimas décadas a evolução das formas de relacionamento entre as pessoas e as mudanças devidas à vários fatores, tais como o comportamental, o financeiro, o religiosos, o social, o psicológicos, entre outros, têm gerado a necessidade de revisão de determinadas normas jurídicas, como nos casos de relacionamentos agressivos dentro da família. A Constituição Federal é inovadora, pois, introduziu relevantes mudanças no conceito de família e no tratamento dispensado a essa instituição considerada a base da sociedade, o Código Civil brasileiro, tem sua estrutura definida no tratamento aos assuntos pertinentes às relações ocorridas entre pessoas na sociedade. Assim o Direito de Família está disciplinado nos artigos 1.511 a 1.783, em quatro Títulos assim denominados: - Do Direito Pessoal, - Do Direito Patrimonial, - Da União Estável, - Da Tutela e Da Curatela. Logo, percebe-se que a nova lei ordinária abandona a visão patriarcal que inspirou a elaboração do Código revogado, quando o casamento era a única forma de constituição familiar e nesta imperava a figura do marido, ficando a mulher em situação submissa e inferiorizada. Assim, hodiernamente tem-se outro entendimento em relação às formas de constituição do ente familiar, bem como a consagração do princípio da igualdade de tratamento entre marido e mulher, assim como iguais são todos os filhos, respeitados em sua dignidade de pessoa humana, independente de sua origem familiar. 13 Deste modo, Oliveira expõe que a Carta Magna neste aspecto, acabou por provocar quatro vertentes fundamentais neste assunto, conforme adverte nos artigos 226 e seguintes: a) ampliação das formas de constituição da família, que antes se circunscrevia ao casamento, acrescendo-se como entidades familiares a união estável e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes; b) facilitação da dissolução do casamento pelo divórcio direto após dois anos de separação de fato, e pela conversão da separação judicial em divórcio após um ano; c) igualdade de direitos e deveres do homem e da mulher na sociedade conjugal; d) igualdade dos filhos, havidos ou não do casamento, ou por adoção, garantindo-se a todos os mesmos direitos e deveres e sendo vedada qualquer discriminação decorrente de sua origem. 3 Assim sendo, estabeleceu- se com Direito de Família, o conjunto de normas que regulam a celebração do casamento, sua legitimidade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o ligame do parentesco e os institutos complementares da tutela, curatela e da ausência. É deste modo, o ramo do Direito Civil referente às relações entre pessoas unidas pelo patrimônio ou pelo parentesco ou aos estabelecimentos complementares de direito protetivo ou assistencial, porque, embora a tutela e a curatela não incidam nas relações familiares, têm, por causa da sua finalidade, conexão com o Direito de Família. Importante lembrar que o objeto do Direito de Família é a própria família, embora debele normas concernentes à tutela dos menores que se sujeitam à pessoas que não são seus genitores, à curatela, que não tem qualquer relação com o parentesco, mas descobre guarida nessa seara jurídica por causa da semelhança ou analogia com o sistema assistencial dos menores. Pelo princípio da razão do matrimônio, a base fundamental do casamento e da vida conjugal é a afeição entre os cônjuges e a precisão de que perdure completa comunhão de vida. Com o princípio da igualdade jurídica dos cônjuges submerge o poder marital e a autocracia do chefe de família é trocada por um sistema em que as decisões 3 OLIVEIRA, Euclides Benedito de - DIREITO DE FAMÍLIA NO NOVO CÓDIGO CIVIL – encontrado em www.pailegal.net- acesso em abr. 2009 14 devem ser tomadas de comum acordo entre marido e mulher, pois os tempos atuais promovem que a mulher seja a colaboradora do homem e não a subordinada. Com base no princípio da igualdade jurídica de todos os filhos, não se faz elevação entre filho legítimo e natural quanto ao pátrio poder nome e sucessão, consente- se o reconhecimento de filhos ilegítimos e impede- se que se divulgue no assento de nascimento a ilegitimidade simples ou espuriedade. Apesar de sofrer intervenção estatal, o Direito de Família compete ao ramo do Direito Privado, pois devido a importância social da família, ao Estado é imposto o ônus em dirimir, da melhor forma, os assuntos pertinentes, especialmente quando não existe consenso entreos envolvidos4. Hesse5 aduz que a Constituição Federal de 1988 simulou a positivação de novas conquistas sociais e individuais, acarretando grandes mudanças no que pertine ao Direito de Família. A interpenetração do Direito Constitucional no Direito Civil anunciou grande avanço nas soluções de questões não cogitadas na codificação. Sendo que, uma releitura do Direito Civil à luz da Constituição constituiu uma total transformação do Direito enfocado nos aparência humanístico, solidarista, funcionalizado, preocupando-se com a dignidade da pessoa humana, assim sendo semeando esperança de uma nova concepção de família. 4 Noções Gerais de Direito de Família – encontrado em www.centraljuridica.com - acesso em abr. 2009 5 HESSE, Konrad. apud PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Apontamentos sobre a aplicação dasnormas de direito fundamental nas relações jurídicas entre particulares. In: Barroso, Luís Roberto, A Nova Interpretação Constitucional, Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 120. 15 2 - ALCANCE DA LEI NAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS 2.1- A evolução das relações humana e sociedades globalizadas Pode-se dizer que a relação entre pessoas do mesmo sexo e seus desenvolvimentos no âmbito jurídico tem causado muitas contestações neste novo século, e esforços tem sido feitos para que exista um enquadramento apropriado, e sem preconceitos a essas relações entre pessoas do mesmo sexo, que a doutrina logo cognominou de “relação homoafetiva”. Assim, a relação homoafetiva é caracterizada pela exposição pública das duas pessoas, que ligadas pela afeição e respeito mútuo, unem-se. Nessa união passam a partilhar das obrigações pecuniárias do lar, contribuem na medida de suas condições para a constituição de patrimônios, alcançando, por último, o reconhecimento ao direito de adoção para não restar dúvidas que ali existe de fato e de direito uma entidade familiar. Contudo, não resta exaurido, para a legislação pátria o simples fato de pessoas do mesmo sexo que se unem e passem a compartilhar suas vidas, para o reconhecimento jurídico e, por consecutivo, tipificá-la, constitucionalmente como entidade familiar, prestando-lhe toda a proteção, direitos e deveres imprescindíveis, restando aos tribunais e doutrina dar traços e linhas gerais, indispensáveis ao enquadramento do direito ao modernismo da sociedade, conforme o brocado “o direito esta para a sociedade como a sociedade esta para o direito”, logo, não poderia esta situação ficar sem resposta e tipificação. Nas palavras de Maria Berenice Dias, dispondo sobre a realidade social atual, assim ensina-nos a douta jurista. Se o convívio homoafetivo gera família e se esta não pode ter a forma de casamento, necessariamente há de ser união estável. Não há outra opção. Trata-se de uma alternativa entre duas opções. Daí é forçoso reconhecer a 16 união estável é um gênero que admite duas espécies: a heteroafetiva e a homoafetiva6. Santana, por sua vez, aduz que faz-se imprescindível que o ordenamento jurídico se adeqüe a essa nova realidade, distinguida pela evolução das relações humanas, não se pode silenciar mister buscar uma resposta à sociedade, seja esta de cunho positivo ou negativo ao reconhecimento das relações entre pessoas do mesmo sexo. Nesse sentido salienta: O que se verifica é que tais relações já configuram semelhanças ao extremo com as famílias e aí residir os embates jurisdicionais, restando aos tribunais dar tratamento jurídico aos casos a ele submetidos. O que resta quase unânime quanto ao assunto é que estamos diante de uma sociedade de fato, onde podemos encontrar algumas das premissas que configuram uma entidade familiar, tais como, mútua assistência, cooperação para aquisição de patrimônio, afetividade, respeito e prole (derivada de processo de adoção). Contudo, o status de família a esses relacionamentos não encontra guarida constitucional, e ai está o cerne dos debates sobre o tema. Questões de ordem patrimonial e adoção envolvendo relações homoafetivas são matérias já vencidas e reguladas pela jurisprudência de nossos tribunais, restando apenas a codificação destas, o que demonstra que nosso legislador pátrio não está muito longe de por termo a este tema. O Brasil é um dos países que ainda não tem norma regulamentando o tema, o que segundo alguns doutrinadores no máximo em uma década já devemos ter promulgada alguma lei. Projetos já foram apresentados, como, por exemplo, da ex-ministra Marta Suplicy, que visa disciplinar essas relações. Por fim, é dever de o Estado promover o bem estar de todos, dando tratamento igualitário e proteção a todos, combatendo todo e qualquer ato de racismo e preconceito, porém, não deve jamais o legislador permitir qualquer norma contrária à moral e aos bons costumes. 7 O conceito secular do casamento chegou- se às mais diferentes estruturas relacionais, alterando ao aparecimento de novas expressões, como “entidade familiar”, “união estável”, “família monoparental”, “concepção homóloga”, “homoafetividade”, “filiação sócio-afetiva”, dentre outros. Esses vocábulos procuram adequar a linguagem às mudanças das relações sociais, que transcorreram da evolução da sociedade e da redefinição do conceito de família. Essas alterações redefiniram o conceito de família, que passou a ter um espectro multifacetário. Por outro lado, por mais estável que seja a relação ou convívio entre pessoas do mesmo sexo, esta jamais se assemelha como uma entidade familiar sob o prisma afetivo e psíquico, uma vez que parceiros de mesmo sexo não oferecem a conjugação de pai e mãe, em toda a complicação psicológica que tais papeis distintos demandam, e tampouco pode ser analisada um núcleo de procriação 6 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. 2. Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 69. 7 SANTANA, Luciano - As relações homoafetivas e suas implicações jurídicas – encontrado em www.r2learning.com.br - acesso em mar.2009. 17 humana ou de educação de futuros cidadãos, que permaneceriam sob o risco de também se “desviar” sexualmente, tal como seus pais. Na sociedade atual, globalizada, a convivência com o “diferente”, com aquilo que escapa ao tradicional, tornou- se estabelecida como natural, demonstrando a força que determinadas minorias organizadas vêm conquistando socialmente. A sociedade evoluiu e com ela suas instituições. Contudo, paralelamente a esse fato, as instituições mais tradicionalistas, como a Igreja e alguns segmentos da política, afrontam ao máximo a tais mudanças, até mesmo por questão de sobrevivência, uma vez que embutem como princípios, valores que não compreendem essas transformações estruturais e sociais comuns no mundo moderno. Vale dizer que, na legislação de Direito de Família no Brasil, não há nenhum conceito da instituição “família”. Entretanto, por meio de uma interpretação sistemática da Constituição Federal, das normas infraconstitucionais e dos princípios gerais de Direito, conclui- se que família seja uma organização de pessoas com desígnio de ajudar-se mutuamente, por meio de laços sanguíneos ou não, com anseios de afeto, carinho e respeito8. Enfatiza- se que a sociedade brasileira, ajuizada na Constituição de 1988, se ambiciona mais justa, e os direitos fundamentais, de forma explícita no conteúdo do seu artigo 5º afastaram toda e qualquer forma de preconceito ou discriminação, celebrando a igualdade e tendo como alicerce a dignidade da pessoa humana, consagrando um novo momento, em que a ciência do Direito, mais do que garantir, necessitará buscar novos direitos e, assim, efetivar o sentido maior de cidadania. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, compõe- se em Estado Democrático de Direitoe tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana; Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. 9 Nesse sentido, tem-se que, o primeiro país a perfilhar os efeitos jurídicos da união homoafetiva foi a Dinamarca,.sendo que, ela confirmou a probabilidade dos homossexuais escreverem um contrato em cartório, disciplinando a vida do casal, 8 Constituição da República Federativa do Brasil. de 1988. 9 WELTER, Belmiro Pedro. Igualdade entre as filiações biológicas e socioafetivas, p. 09 2008. 2003. 18 sendo dado a eles praticamente todos os direitos indicativos ao casamento. Nos Estados Unidos como cada estado tem autonomia para legislar sobre o assunto, existe divisão entre os que já viabilizaram o casamento homossexual como Vermont, como os que sustentam a linha conservadora do ex-presidente Bush10. Neste contexto, Melo11 afirma que a jurisprudência equiparou às relações homoafetivas às relações laborais, dando enseja ao pagamento de indenização por serviços domésticos prestados. Em seguida, abraçou a analogia com o Direito Comercial, equiparando-as às sociedades de fato, uma vez que existe aí um esforço mútuo destinado à vida em comum, o que admite a aplicação da Súmula 380 do Supremo Tribunal Federal, onde dispõe que: comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum, a citada sumula vem com atitude de evitar o enriquecimento injustificado de um dos companheiros e permitir a partição patrimonial. Sendo assim, Maria Berenice Dias12 enfatiza que ao outorgar proteção a todos, a Constituição, veda discriminação e preconceitos por motivo de origem, raça, sexo ou idade e assegura o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Salienta- se, ainda, que a homossexualidade é um fato que e não pode ser negado, estando a merecer a tutela jurídica, ser enlaçado no conceito de entidade familiar. Para isso, é imprescindível mudar valores, abrir espaços para novas discussões, revolver princípios, dogmas e preconceitos. Afirma Maria Berenice Dias: A sexualidade integra a própria condição humana. É um direito humano fundamental que acompanha o ser humano desde o seu nascimento, pois decorre de sua própria natureza. O direito a tratamento igualitário independe da tendência afetiva. Todo ser humano tem o direito de exigir respeito ao livre exercício da sexualidade. A orientação sexual seguida na privacidade não admite restrições, o que configura afronta ao direito à liberdade a que merece todo ser humano, pois diz respeito a sua condição de vida, e o artigo 5º, X, da CF de 1988, reserva o direito à “intimidade, à vida privada, à honra e a imagem das pessoas sendo invioláveis esses direitos”, pois 10 VARGAS, Fabio de Oliveira. A união homoafetiva no direito comparado. MGM, Juiz de Fora, 19 set. 2006. Disponível em: http://www.mgm.org.br/portal/modules.php?name=News&file=article&sid=153>. Acesso em: 25 jun. 2008. 11 MELO, Elaíne Cristina De Oliveira E. Um novo modelo de família. Aspectos sóciojurídicos da união entre homossexuais. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 625, 25 mar. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?i d=6496>. Acesso em: 25 jun. 2008. 12 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, p. 196/197. 19 classificados como direitos fundamentais. O inciso II do artigo 5° define família como “a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa”. Com isso, o legislador, corajosamente define família conforme o formato atual, falando em indivíduos e não homem e mulher, e não limita também a família às constituídas pelo casamento. Assim restam- se aceitas às filiações socioafetivas e também as uniões homoafetivas.13 Sendo assim, diante da complicação das relações sociais e, por conseguinte, familiares, uma interpretação literal do texto constitucional não atende aos interesses da atual sociedade. De acordo com Streck14, “o novo paradigma constitucional estabelecido pelo Estado Democrático de Direito caminha lado a lado com o novo paradigma hermenêutico, que abandona a noção de reprodução de sentido e avança em direção à produção de sentido”. De acordo com Meller Silva15, entre os casos passíveis de mediação familiar encontra-se a dissolução da sociedade de fato, modo pelo qual são assim abrangidas hoje as uniões homoafetivas. Deste modo, porque não refletir na resolução dos conflitos conjugais do casal homossexual por meio da mediação familiar. Já que estas relações assim o são abrangidas hoje pelo Direito positivado. Por sua vez, Girardi16 assevera que a razão da inclusão da reivindicação dos direitos relativos às uniões ou mesmo do direito ao exercício da homossexualidade se abona no fato de, por competir à comunidade humana, as pessoas de orientação sexual homossexual ter o direito à realização de suas capacidades e obrigações humanas respeitadas, tanto pelos demais membros da comunidade como pelo próprio Estado. Trata-se de assegurar no plano individual a tutela ao direito personalíssimo de orientação sexual e, no plano público, o respeito a esse direito, com práticas jurídicas e políticas legislativas que vedem qualquer forma de discernimento por conta da preferência ou orientação sexual de cada pessoa. Sendo assim, Pereira enfatiza: 13 DIAS, ibidem. 14 STRECK, Lenio Luiz Streck. Da solução dos problemas aos problemas da solução: uma visão hermenêutica da bioética – prolegômeros em prefácio. In: WELTER, Belmiro Pedro. Igualdade entre filiações biológica e socioafetiva. , p. 09. 15 MELLER SILVA, F. C. Mediação Familiar. Revista Jurídica Cesumar, v.5, n. 1, p.253-274, 2005. Disponível em: <http://www.cesumar.br/mestradodireito/arquivos/volume5/ mediacao_familiar.pdf>. Acesso em: 12 set. 2007. 16 GIRARDI, Viviane. Famílias contemporâneas, filiação e afeto. A possibilidade jurídica da adoção por homossexuais, p. 52 20 A nossa legislação substantiva civil, mesmo com o advento do Código Civil de 2002, permanece ainda por demais conservadora e fortemente arraigada a um conceito familiar antigo em que predomina a divergência de sexos como requisito fundamental para a caracterização do casamento. Para uma observação meramente exemplificativa, basta olharmos a redação dos arts. 1517, 1535, 1565 e 1567 do Código Civil. Eles trazem toda uma carga ideológica e legalista, estabelecendo os pressupostos para a união entre sexos diferentes, silenciando assim a discussão acerca da união homoafetiva, excluindo-a de sua previsão legal. 17 Deste modo, Espíndola18 aduz que na defesa da união homoafetiva mister se faz uma apreciação sobre os princípios constitucionais que abordem Direito de Família, ou seja, tratar-se-á do Direito Civil Constitucional, uma vez que o Direito de Família depara respaldo na Lex Major. Sendo que, nunca é demais centrado em qual geração de direitos e garantias essenciais encontra- se respaldado os direitos intrínsecos ao casal homoafetivo. Enfatiza- se que os direitos e garantias fundamentais de primeira dimensão surgiram após a Revolução Francesa, tendo como distinção a passividade do Estado diante da população. É o chamado laissez- faire. Logo, acontece a aplicação da liberdade entre os indivíduos. Bertoluzzi19 declama que, quanto ao contexto da contradição de conversão da união homoafetivaem casamento, por se tratar de relação entre pessoas do mesmo sexo, este não é válido. Enfatiza-se que a Constituição não determina que toda união estável seja transformada em casamento, somente dispõe que a lei infraconstitucional a facilite. Salienta-se que a ausência de conversão em casamento não descaracteriza a essência da união estável, que é o afeto. Tal fato o Código Civil de 2002 aceita explicitamente, ou seja, a união estável entre pessoas separadas de fato (art. 1.723, §1º). Se a probabilidade de conversão em casamento fosse elemento caracterizador da união estável, não seria possível a existência de união entre os separados de fato, já que só podem casar após o divórcio. Dessa maneira, Dias20 explana que a constituição de uma família não está em consonância somente a fatores biológicos ou civis, mas especialmente pelos laços de afeto que conectam as pessoas, independente dessas serem ou não do mesmo sexo. Deste modo, não pode ser negado o status de família às uniões homoafetivas. A homossexualidade é um fato que se confere e não pode ser negado, 17 PEREIRA Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil,329. 18 ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princípios Constitucionais, 184. 19 BERTOLUZZI, Roger Guardiola. A dignidade da pessoa humana e sua orientação sexual. As relações homoafetivas. Disponível em:<http://jus2.oul.com.br/doutrina/texto.asp?6494>. Acesso em: 01 set. 2005. 20 DIAS, op. cit. 21 permanecendo merecedora de tutela jurídica, ser enlaçada como entidade familiar, o que não vai transformar a família nem instigar sua prática. Conforme Hesse, esse valor alude dotar os princípios da igualdade e da isonomia de potencial transformador na configuração de todas as relações jurídicas. Igualdade jurídica formal é igualdade diante da lei: o alicerce de igualdade jurídica deixa-se fixar, sem dificuldades, como exigência fundamental do estado de direito.21 Assim, Netto Lobo22, em abordagem ao núcleo familiar afetivo, alega que a enumeração da Constituição Federal é simplesmente exemplificativa, não consentindo assim a rejeição de qualquer entidade que tenha os requisitos da afetividade e estabilidade. De fato, por mais abrangente que seja o rol constitucional, este não é exauriente, uma vez que não logrou enumerar todas as composições familiares da contemporaneidade, formada a partir das relações afetivas. Desta maneira, as pessoas do mesmo sexo, que tenham uma relação estável e lastreada no afeto humano, necessitam merecer a efetiva proteção da lei e o reconhecimento constitucional devido. Nesse sentido, Dias23 leciona que nessa perspectiva, a jurisprudência, seguindo as novas tendências sociais, já tem agradecido a união entre homossexuais em alguns casos, fato que começou a ter uma abordagem mais ressaltante a partir de decisões abalizadas na analogia, no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, pela Desembargadora Maria Berenice Dias. Mostra-se, com isso, que o Judiciário está à frente do conservadorismo legislativo. O Congresso, porém, ainda não confirmou matéria regulamentando a união homoafetiva, uma vez que, entende-se ser muitos parlamentares financiados por grupos ligados à igrejas, as quais entendem a relação homossexual como pecaminosa e impura. Dessa forma, a união entre pessoas do mesmo sexo ainda não é, com amparo em leis, considerada como casamento ou união estável. Mas decisões judiciais reconhecem que a união homoafetiva -relação de afeto entre pessoas do mesmo sexo- é baseada em afeto e, por isso, uma forma de se constituir família. Alguns tribunais, como os do Rio Grande do Sul, já têm julgados que reconhecem a 21 HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha,p. 330. 22 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Identidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus clausus, 66. 23 DIAS, op. cit. 22 união homossexual como união estável e aceitam que tais ações sejam apreciadas nas varas especializadas em Direito de Família, e não nas varas cíveis. 23 3 - LEI MARIA DA PENHA E SUA EFICÁCIA NAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS. 3.1 - Breve histórico da lei Maria da Penha. Importante frisar que a violência contra a mulher passou a ser, invisível aos olhos da sociedade, tolerante e, por isso mesmo, no exercício de um surdo pacto de silêncio, demonstrado em ditados populares que bem anunciam o comportamento social: “Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”; “roupa suja se lava em casa”; “a mulher casada está em seu posto de honra e da rua para fora nada lhe diz respeito”.24 Por sua vez, Paula salienta que: Em 07 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei nº 11.340/2006 conhecida como a Lei Maria da Penha, que apesar de ter como finalidade a criação de mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar praticada contra a mulher acabou trazendo no seu bojo importante inovação no artigo 5º, inciso II e parágrafo único ao estabelecer que família seja comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade, ou por vontade expressa e que as relações sexuais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. 25 De acordo com Dias, a Lei Maria da Penha não teve seu nome selecionado aleatoriamente: Trata-se de justa homenagem a uma mulher que sofreu absurdas agressões de seu marido em seu ambiente doméstico, na década de 1980, e não conseguiu a punição de seu marido pelas leis de então, devido à comunhão de ineficácia legislativa e morosidade judicial.26 Sendo assim, o nome da lei é uma homenagem a Maria da Penha Maia que foi reprimida pelo marido durante seis anos. Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la. Na primeira tentativa, com arma de fogo, deixou- a paraplégica e na segunda por eletrocução e afogamento. Enfatiza- se que o réu só foi punido depois de 19 anos de julgamento, permanecendo dois anos em regime fechado. 24 SILVA JUNIOR, Edison Miguel da. Direito Penal de gênero. Disponível em:<http://www.juspuniendi.net/01/01.htm>. Acesso em: 07 set. 2007. 25 PAULA, Gauthama Carlos Colagrande Fornaciari de. Combate à violência Mulher merece lei específica, pois foi oprimida por anos. Revista Consultor Jurídico, São Paulo, 11 out. 2006. 26 DIAS, op. cit. p. 14. 24 Dessa forma, a lição de Santin27 aduzindo que foi uma resposta às infatigáveis lutas dos movimentos em defesa das mulheres, como também o atendimento à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher e à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Com a vigência da Lei Maria da Penha, surgiram divergências acerca da sua constitucionalidade. Aqueles que sustentam a inconstitucionalidade, apesar de associarem à minoria, afiançam que a lei fere o princípio da isonomia, na medida em que coloca uma desigualdade apenas em função do sexo. Ademais, a mulher vítima seria beneficiada por melhores mecanismos de proteção e de punição contra o agressor. Já, o homem, não disporia de tais instrumentos quando fosse vítima da violência doméstica ou familiar. Conforme entendimento de Freitas28, a Lei Maria da Penha veio consentir compromissos assumidos pelo Brasil ao assinar Tratados Internacionais que impõem a edição de leis que assegurem a proteção à mulher. Na violência doméstica encontra-se a chaga da sociedade e o berço de toda sua violência. De acordo com Cavalcanti29, a Lei 11.340/06 não é completa, porém traz em seu bojo, dentre outros aspectos, todo o procedimento a ser adotado tanto pela Polícia Judiciária, Ministério Público e Judiciário. Além disso, situam medidas protetivas de urgência referentes à vítima. Desse modo, a lei Maria da Penha tem um espírito muito mais educacionale de incentivo às ações afirmativas que de punição mais severas aos agressores. Entende-se que poderiam existir divergências sobre a inconstitucionalidade da lei, se a mesma incidisse sobre qualquer caso de violência contra a mulher, e não apenas a doméstica. Seria desarrazoado, aplicar a Lei Maria da Penha a caso de mulher agredida na rua por um desconhecido (homem), recebendo este tratamento mais recrudescedor. 27 SANTIN, Valter Foleto. Igualdade Constitucional na Violência Doméstica. Disponível em: <http://www.apmp.com.br/juridico/santin>. Acesso em: 17/06/2007 CAMPOS, Roberta Toledo. Aspectos Constitucionais e Penais Significativos da Lei Maria da Penha. Disponível em: <http://www.blogdolfg.com.br>. Acesso em: 16/06/07. 28 FREITAS, Jayme Walmer de. IMPRESSÕES OBJETIVAS SOBRE A LEI DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, p. 431-445. 29 CAVALCANTI, Stela Valéria de Farias. Violência Doméstica Contra a Mulher. Análise da lei "Maria da Penha", n° 11.340/06, p.179. 25 Dessa forma, Paulo Luiz Neto Lôbo30 afiança que a Lei Maria da Penha encontra-se numa etapa normativa à frente do Direito Civil, visto que ao tratar da violência familiar no seu art. 5º aceita o reconhecimento da entidade familiar entre mulheres. Conforme esses doutrinadores, a enumeração constitucional é puramente exemplificativa. Sendo assim, os relacionamentos homoafetivos pautados pelo afeto, têm direito à devida proteção e reconhecimento previstos na Carta Magna de 1988. A Lei da Maria da Penha não trata do homossexualismo masculino, mas apenas do feminino. A Lei preceitua que a vítima sempre é uma mulher e o agressor pode ser um homem ou outra mulher. 3.2 – Da Efetividade Jurídica da Nova Norma A Lei Maria da Penha inovou as normas jurídicas no trato dos casos de violência familiar comumente contra a mulher, para que avançassem no sentido de severidade, eficácia e rigidez na punição do agressor. Denota-se que essas mudanças são nítidas, conforme anuncia o texto da referida lei. Além do mais, a Lei Maria da Penha, ampliou o conceito de família e as formas de violência doméstica. A aludida norma modificou o Código Penal, o Código de Processo Penal e a Lei de Execução Penal. Ressalta-se que os crimes cometidos no campo doméstico passaram a ser punidos mais severamente. Destaca- se que as penas pecuniárias anteriormente aproveitadas: pagamento de multa ou cestas básicas, hoje, são expressamente proibidas. Assim, o agressor pode ser preso em flagrante delito ou pode ser posteriormente constituída a sua prisão preventiva pelo juiz, de acordo com o art. 20 da Lei nº 11.340/06 combinado com o art. 313, IV do CPP 31. Pode- se ressaltar que a lei criou as Medidas Protetivas de Urgência. Sendo que, quando uma mulher registra um boletim de ocorrência confirmando que foi vítima de qualquer espécie de violência doméstica, é obrigação de a autoridade policial inquirir à vítima se esta possui interesse no deferimento de determinada 30 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Identidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus clausus. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMÍLIA, p. 66. 31 BARBOSA, Andresa Wanderley de Gusmão; CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias. A constitucionalidade da Lei Maria da Penha. Disponível em <www.enesacorrea.com >. Acesso em: 12 mar. 2008 26 medida protetiva prevista em lei, como suspensão de porte de arma, afastamento do lar, proibição de aproximação, de contato e de freqüência a determinados lugares, restrição ao direto de visita de menores e prestação de alimentos provisionais. Enfatiza-se que, a vítima formula sua solicitação na delegacia, sem obrigação de assistência de advogado, e esta carece encaminhar, no prazo de 48 horas, ao juiz com cópia do Boletim de Ocorrência e do depoimento da mulher. Por sua vez, o juiz deve decidir num prazo de 48 horas sobre o deferimento dos pedidos. Este procedimento permite que, de forma rápida - no máximo 96 horas -, ao juízo especializado que possa dar uma resposta de proteção a uma situação de urgência experimentada pela mulher vítima de violência, visando assegurar sua integridade física e moral. A desobediência do agressor à ordem determinada pelo juiz pode ensejar sua prisão preventiva, nos termos da alteração feita pela nova lei do Código de Processo Penal32. Nesse sentido Moraes declara: Ao alterar a Lei de Execução Penal, tal instituto, também, possibilitou ao juiz a determinação do comparecimento obrigatório do réu a programas de recuperação e reeducação. A ação penal não será mais proposta no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (art. 41 da Lei 11.340/06). Passa a ser exigido dos Estados a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (art. 14 da Lei 11.340/06), que possuem competência civil e criminal para julgar os crimes abrangidos pela nova norma. Desse modo, o Juiz terá a competência para apreciar a infração penal e os casos que envolverem questões de família (pensão, separação, guarda dos filhos etc.). No entanto, enquanto não forem instituídos os referidos Juizados a ação será processada nas Varas Especializadas da Justiça Criminal Comum (art.33 da Lei 11.340/06). Outra importante inovação da Lei é a aplicação das Medidas Protetivas de Urgência (art. 18 ao art. 24 da Lei 11.340/06). São medidas que dão mais efetividade a nova norma e maior segurança a mulher, vítima da violência doméstica e familiar, ao denunciar seu agressor. O juiz poderá conceder, de oficio ou a requerimento, no prazo de 48h, tais medidas (suspensão do porte de armas do agressor, seu afastamento do lar, distanciamento da vítima, entre outras), dependendo da situação33 Na mesma esteira Pacheco afirma, ao salientar a relevância da criação de um Juizado de Violência Domestica e Familiar contra a Mulher: A especialização é importante, pois, possibilita que a repetição das causas gere especial sensibilidade aos operadores do direito quanto ao problema da violência doméstica, possibilitando ações estatais mais eficientes. No Distrito Federal, o TJDFT editou a Resolução n. 07/2006, criando uma Vara de Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher na 32 OEA. Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Relatório n. 054/01 (Caso Maria da Penha Maia Fernandes), item 61.4, alíneas "b" e "c". Disponível em: http://www.cidh.org/annualrep/2000port/12051.htm. Acesso em: 30 jul. 2007. 33 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, p.618. 27 Circunscrição Especial Judiciária de Brasília e estabelecendo que nas demais circunscrições a competência desta vara será exercida pelo Juizado Especial Criminal respectivo. Certamente há que se atentar para que a efetividade da Lei n. 11.340/06 não fique comprometida com a antiga mentalidade dos Juizados Especiais Criminais, aproveitando-se as experiências positivas de acompanhamento multidisciplinar nestes Juizados e afastando-se a "cultura do arquivamento" e da minimalização da violência, tendo-se efetivamente uma postura ativa do Estado para resolução deste problema social da violência doméstica contra a mulher Jose Afonso da Silva34 ressalta a diferença que a própria Constituição confere ao tratamento distinto a homens e mulheres. E mais outorga proteção ao mercado de trabalho feminino, mediante incentivos específicos (CF, art. 7º, XX) e aposentadoria aos 60 anos, enquanto para os homens a idade limite é de 65 (CF, art. 202). Salienta- se que, acentuando a diferença, far-se-á o caminho para eliminá- la. Nesse sentido, o imperativo das leis de cotas, quer para asseverar a participação das mulheres na política, quer para garantir o ingresso de negros no ensino superior. Nada mais do que mecanismos para dar efetividade à determinação constitucional da igualdade. Além disso,não é outro motivo que leva à instituição de microssistemas protetivos ao consumidor, ao idoso, à criança e ao adolescente. Assim sendo, nem a obediência estrita ao preceito isonômico constitucional admite questionar a indispensabilidade da Lei n. 11.340/06, que cria mecanismos para oprimir a violência doméstica. Salienta-se ainda, que a Lei Maria da Penha veio consentir compromissos assumidos pelo Brasil ao subscrever Tratados Internacionais que impõem a edição de leis visando afiançar proteção à mulher. A violência doméstica é a chaga maior da nossa sociedade e berço de toda a violência que toma conta da nossa sociedade. Os filhos repetem as posturas que vivenciam no interior de seus lares. Assim demagógico, para não dizer cruel, é o questionamento que vem sendo feito sobre a constitucionalidade de uma lei afirmativa que tenta amenizar o desequilíbrio que ainda, e infelizmente, existe nas relações familiares, em decorrência de questões de ordem cultural. De todo descabido imaginar que, com a inserção constitucional do princípio isonômico, houve uma transformação mágica. É ingênuo acreditar que basta proclamar a igualdade para acabar com o desequilíbrio 34 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 327. 28 nas relações de gênero. Extraordinário pretender eliminar as diferenças tomando o modelo masculino como paradigma. A Lei Maria da Penha ao ampliar o conceito de família no ordenamento jurídico brasileiro ao incluir as relações homoafetivas no âmbito de sua aplicação, conforme exposto no art. 5°, parágrafo único de seu texto. Desse modo, a mulher que estabelece relação homossexual poderá denunciar a sua parceira pelas infrações abrangidas pela norma. Verifica-se, nesse caso, que pode ser sujeito ativo, não somente o homem, mas a mulher agressora. Nesse sentido, por questões de analogia e comparação é que vários juristas tem entendido a extensão da aplicabilidade em casos de homoafetividade, conforme é o posicionamento de Cunha e Pinto Notável a inovação trazida pela lei neste dispositivo legal, ao prever que a proteção à mulher, contra a violência, independe da orientação sexual dos envolvidos. Vale dizer, em outras palavras, que também a mulher homossexual, quando vítima de ataque perpetrado pela sua parceira, no âmbito da família – cujo conceito foi nitidamente ampliado pelo inciso II, deste artigo, para incluir também as relações homoafetivas – encontra-se sob a proteção do diploma legal em estudo. 35: Entre outros, assim também entende Dias: No momento em que é afirmado que está sob o abrigo da lei a mulher, sem se distinguir sua orientação sexual, alcançam-se tanto lésbicas como travestis, transexuais e transgêneros que mantêm relação íntima de afeto em ambiente familiar ou de convívio. Em todos esses relacionamentos, as situações de violência contra o gênero feminino justificam especial proteção. 36 Nesse contexto, analisa-se, que as formas de violência doméstica foram estendidas pela nova norma, sendo que, além da violência física e psicológica, foi incluída a violência sexual, patrimonial e moral. Determina, ainda, que nos casos de Ação Penal Condicionada a representação da mulher, esta somente poderá renunciar a denúncia perante a autoridade judiciária conforme dispõe art. 16 da lei 11.340/06. Assim, dificulta-se que ela desista da ação porque está sendo ameaçada ou por pena do agressor. Dessa forma, o combate à violência doméstica e familiar ganhou mecanismos verdadeiramente mais eficazes, através da Lei Maria da Penha. 35 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência doméstica: lei Maria da Penha (Lei 11340/2006) comentada artigo por artigo, p.176. 36 DIAS, op. cit. p. 196/197. 29 Assim ao saber que não haverá impunidade, a vítima se sentirá mais segura e amparada, estando mais protegida de novas agressões por parte de seu agressor.37 37 ANDRADE, Maísa Sá de; FIGUEIREDO NETO, Manoel Valente - Considerações sobre a constitucionalidade da Lei Maria da Penha (Lei N° 11.340/2006) - Disponível em http://www.ambito- juridico.com.br - Acesso em abr.2009 30 4 - Da Constitucionalidade da Lei Maria da Penha Enfatiza-se no Brasil, a ocorrência de altos índices de violência doméstica e familiar cometidos especialmente contra a mulher, determinado a grande importância da lei Maria da Penha. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgados pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres - órgão criado pelo Governo Federal para a proteção e garantia dos direitos femininos - uma a cada seis mulheres no mundo aturam violência doméstica. Ainda, de acordo com a pesquisa, até 60% dos casos de violência física foram empreendidos por maridos ou companheiros. Sobre o assunto, dos dados fornecidos pela OMS ,observa-se o que diz Dias Ainda que tais dados sejam surpreendentes, é preciso atentar que esses números não retratam a realidade, pois a violência é subnotificada, somente 10% das agressões sofridas por mulheres são levadas ao conhecimento da polícia. É difícil denunciar alguém que reside sob o mesmo teto, pessoa com quem se tem um vinculo afetivo e filhos em comuns e que, não raro, é responsável pela subsistência da família. 38 Inobstante isso, Andrade39, salienta que a lei não necessita deixar de existir, mas enquanto beneficiar apenas a mulher ela será inconstitucional. Entende que, o gênero “mulher” previsto na nova legislação, necessita ser alterado para uma palavra comum de dois gêneros, por exemplo, “cônjuge” ou “cohabitante” para que o homem ainda possa ser favorecido pela norma. Diante esse entendimento, a batalha a ser enfrentada pelas mulheres tem como escopo a incorporação e aceitação da nova norma pela sociedade brasileira. Esclarece, ainda, que por meio de uma decisão do Supremo Tribunal Federal que declare ser a nova lei constitucional estará absolutamente decidida esta controvérsia e os Tribunais e juízos de primeiro grau não poderão mais deixar de aplicá-la. Nesse sentido, o Presidente da República, representado pelo Advogado-geral da União, ajuizou, perante o Supremo Tribunal Federal, Ação Declaratória de Constitucionalidade, ADC n°19. 38 DIAS, op. cit. p. 196/197. 39 ANDRADE, ibidem. 31 Sendo assim, Maria Berenice Dias40 salienta que apesar da lei citar em seu texto o termo “mulher”, não se demarcando sua orientação sexual, interpretar-se-á que são alcançadas pela aludida lei, as lésbicas, os travestis, transexuais e os transgêneros que alimentem relações íntimas de afeto em ambiente familiar ou de convívio. Em todos esses relacionamentos, as situações de violência contra o gênero feminino abonam especial proteção. Assim, a lei não se limita a prevenir a violência doméstica contra a mulher independentemente de sua identidade sexual. Sua abrangência tem extensão muito maior. Como a proteção é garantida a fatos que ocorrem no ambiente doméstico, isso quer dizer que as uniões de pessoas do mesmo sexo são entidade familiar. Violência doméstica, como diz o próprio nome, é a violência que advém do seio de uma família. Diante do procedimento legal, é imperioso reconhecer que as uniões homoafetivas constituem uma unidade doméstica, não importando o sexo dos parceiros. Quer as uniões aperfeiçoadas por um homem e uma mulher, quer as formadas por duas mulheres, quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta identidade de gênero, todas conformam entidade familiar. Ainda que a lei tenha por desígnio proteger a mulher, fato é que aumentou o conceito de família, independentemente do sexo dos parceiros. Deste modo, Maria Berenice Dias41 afirma que como já advertido o entendimento por analogia,nesse sentido, entende que família é a união entre duas mulheres, também é família a união entre dois homens. Basta atentar para o princípio da igualdade. Enfatiza- se que a partir da nova definição de entidade familiar, não mais cabe examinar a natureza da vinculação formada por pessoas do mesmo sexo. Ninguém pode permanecer sustentando que, em face da omissão legislativa, não é admissível emprestar-lhes efeitos jurídicos. O avanço é expressivo, conforme Maria Berenice, pondo um ponto final à discussão que entretém a doutrina e divide os tribunais. Sequer sociedade de fato cabe permanecer falando, subterfúgio que tem conotação abertamente 40 DIAS, Maria Berenice. Violência doméstica e as uniões homoafetivas Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1185, 29 set. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8985>. Acesso em: 18 jun. 2009. 41 DIAS, Maria Berenice. Violência doméstica e as uniões homoafetivas. encontrado em http://jus2.uol.com.br - Acesso em abr. 2009. 32 preconceituosa, pois nega o artifício de natureza sexual e afetiva dos vínculos homossexuais. Assim sendo, tais uniões eram relegadas ao âmbito do Direito das Obrigações, sendo vistas como um negócio com fins lucrativos. No final da sociedade, derivava- se à divisão de lucros mediante a prova da participação de cada parceiro na formação do patrimônio amealhado durante o período de convívio. Como sócios não compõem uma família, as uniões homoafetivas acabavam abandonadas do âmbito do Direito de Família e do Direito das Sucessões. Esta era a tendência majoritária da jurisprudência, pois acanhado é o número de decisões que reconheciam tais uniões como estáveis. Em sentido contrário, tem-se que a potência da nova lei é imediata, passando as uniões homossexuais a merecer a especial proteção do Estado. Em virtude da normatização produzir seus efeitos, não existe razão para a tramitação de projetos para definir as relações no âmbito familiar. Esses projetos perderam o objeto uma vez que já há lei conceituando como entidade familiar, ditas relações, não importando a orientação sexual de seus partícipes. No momento em que as uniões de pessoas do mesmo sexo estão sob a tutela da lei que visa a combater a violência doméstica, há que observar serem reconhecidas como uma família, estando sob a égide do Direito de Família. Não mais podem ser reconhecidas como sociedades de fato, sob pena de se estar negando vigência à lei federal. Por conseguinte, as demandas não precisam continuar tramitando nas varas cíveis, atribuindo- se sua distribuição às varas de família. Nesse caso a nova definição do conceito família, mesmo entre pessoas do mesmo sexo, não existe razão para ser banido do âmbito da proteção jurídica, porque suas desavenças ainda serão reconhecidas como violência doméstica. Corroborando, Dias ressalta: A Lei nº 11.340 – chamada Lei Maria da Penha -, que cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Com isso atende o Brasil à recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. A partir da Emenda Constitucional nº 45 – que acrescentou o § 3º ao art. 5º da Constituição Federal –, foi conferido status constitucional aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem devidamente aprovados pelo Congresso Nacional. Justifica-se assim a expressa referência, na ementa da Lei, à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 33 Discriminação contra a Mulher e à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. 42 Importante salientar que na anotação do artigo 27 da Lei 11.340/2006, proposta por Cunha43, as medidas analisadas de urgência podem ser outorgadas de ofício ou diante da provocação do Ministério Público ou ofendida, abstraindo da presença de advogado. Para o referido autor, a urgência da circunstância viabiliza, até mesmo, a manifestação pessoal da vítima diante do magistrado. Assevera- se também a constitucionalidade da Lei Maria da Penha, ao qual, pela sua composição e clareza, elucida a questão: Nesse contexto, a Lei Maria da Penha é um exemplo de ação afirmativa. Implementada no Brasil para a tutela do gênero feminino, justifica-se pela situação de vulnerabilidade e hipossuficiência em que se encontram as mulheres vítimas da violência doméstica e familiar44. Porto, por sua vez, aduz: No artigo 22 da Lei 11.340/2006 estão elencadas como medidas voltadas ao sujeito ativo da violência doméstica: a suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente; o afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; a proibição de condutas como a aproximação da família e o contato com a ofendida; restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores e a prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 45 Por sua vez, Lôbo46 ressalta que a Lei Maria da Penha está uma etapa normativa à frente do Direito Civil visto que ao tratar da violência familiar no art. 5º aceita o reconhecimento da entidade familiar entre mulheres. Conforme esses doutrinadores afirmam, a enumeração constitucional é puramente exemplificativa e, mais mesmo antes desta Lei não se consentia eliminar qualquer entidade familiar que preenchesse os requisitos da afetividade, estabilidade e ostensividade. Sendo assim, os relacionamentos homoafetivos pautados pelo afeto, têm direito à devida proteção e reconhecimento previstos na Carta Magna de 1988. 42 DIAS, Maria Berenice. A violência doméstica na Justiça Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1178, 22 set. 2006. 43 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência doméstica: lei Maria da Penha (Lei 11340/2006) comentada artigo por artigo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p.176. 44 BARBOSA, Andressa Wanderley de Gusmão; CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias, publicado no site JUS NAVIGANDI, n. 1.497, de 07/08/2007. 45 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência Doméstica e familiar contra a mulher: lei 11.340/06, análise crítica e sistêmica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 46 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Identidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus clausus. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMÍLIA, Belo Horizonte, 3, 2002. Anais... Belo Horizonte: [s. n.], 2002. DIAS, Maria Berenice. Bem vinda, Maria da Penha! Consulex: revista jurídica, Brasília, v. 10, n. 231, ago. 2006. p. 66. 34 Enfatiza- se que por força deste conceito legal e mesmo com base no que dispõe o parágrafo único do art. 5º da Lei Maria da Penha, foi adotada como uma classe de entidade familiar a união homoafetiva. Verdadeiramente não existe mais precisão da aprovação de um projeto que venha disciplinar essa matéria. Entretanto, faz-se imperioso uma regulamentação acerca dos direitos e deveres de pessoas do mesmo sexo que vive como entidade familiar, bem como o procedimento legal que carece ser adotado para dirimir futuros litígios. É imprescindível reconhecer que as uniões homoafetivas compõem uma unidade doméstica. Ainda que a Lei tenha protegido só a mulher, reconhece-se a ampliação do conceito de família, independentemente do sexo dos parceiros. Com base no princípio constitucional da igualdade, deve ser extensiva ao homossexualismo masculino. 4.1 - Lei Maria da Penha e as Relações Homoafetivas As uniões homoafetivas não eram alcançadas pelas normas jurídicas no âmbito de casos de família e sim na esfera de sociedade de fato, porém, com o advento da Lei Maria da Penha, da Lei Federal n° 11.340, que entrou em vigor em agosto de 2006, houve mudanças no conceito de entidade familiar e a partir de então, as relações homoafetivas são tratadas pela jurisdição como casos de família, surtindo todosos efeitos, inclusive referente à violência doméstica. Essa lei criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Vale dizer que, não só regulamentou a violência no âmbito doméstico como trouxe uma carga ideológica inovadora, permitindo uma interpretação de reconhecimento da entidade familiar entre pessoas do mesmo sexo, como citado no artigo 5° da Lei 11.340/06 Com efeito, o referido dispositivo legal abriu a possibilidade de reconhecimento legal de uma família constituída por um casal homossexual. Assim as uniões homoafetivas são formadas por vontade anunciada, o que as abarca na previsão legal supracitada. Não distinguir tal possibilidade de aplicabilidade, 35 desvirtuaria uma mulher vítima de violência familiar pela sua parceira ao ficar sem a prestação da tutela jurisdicional. E mais, nos termos do art. 5º, III, expressa que as uniões homoafetivas, entre mulheres, também estão englobadas pela referida lei. Nesse caso, ocorre que a união homoafetiva também se caracteriza como uma relação íntima de afeto. Ademais, para que não restassem dúvidas, o parágrafo único do art. 5º assegura que “as relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”. Deste modo, o legislador tirou qualquer probabilidade de interpretação diferente daquela procurada. E mais, existe precisão de lei constitucional que crie um instituto dentro ou fora do Direito de Família para conceder segurança jurídica, sob a concepção no regime de bens, na sucessão ou nos alimentos.47 Ressalta anotar que, nessa seara, o administrador andou à frente do legislador ao reconhecer o direito ao homossexual em receber indenização decorrente de morte no trânsito. Com efeito, dispõe a circular 257, de 21 de junho de 2004, da superintendência de Seguros Privados (órgão do Ministério da Fazenda): (...) o companheiro ou companheira homossexual fica equiparado a companheiro ou companheira heterossexual na condição de dependente preferencial da mesma classe, com direito a percepção da indenização referente ao seguro DPVAT, em caso de morte do outro (...) (art. 1º). Vale ressaltar que, nesse mesmo posicionamento, o importante julgado do Supremo Tribunal Federal, no qual foi relator o Ministro Celso de Mello, assim se posicionando: O convívio de pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferentes, ligadas por laços afetivos, sem conotação sexual, cabe ser reconhecida como entidade familiar. Presentes os requisitos de vida em comum, coabitação, mútua assistência, é de se concederem os mesmos direitos e se imporem iguais obrigações a todos os vínculos de afeto que tenham idêntica características Segundo Rousinesco48, a união de indivíduos do mesmo sexo tem auferido certa proteção, na medida em que se oferece com os requisitos de uma união estável. Entretanto, essa proteção acontece de uma construção jurisprudencial e doutrinária, que flexibilizaram ainda mais o julgamento de família, para compreender os casais homossexuais com ou sem filhos. 47 Uniões Homoafetivas e a Lei Maria Da Penha – encontrado em www.nalei.com.br - acesso em abril.2009 48 ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem, p.198. 36 Salienta- se que no Brasil, essa questão não havia sido afrontada pela via legislativa, tanto que a doutrina moderna lamentou o fato do Código Civil de 2002 não ter disciplinado a união homoafetiva. Nesse contexto, a Lei Maria da Penha apresenta um avanço em relação ao Direito Civil legislado e em consonância com a atual discussão doutrinária e jurisprudencial. Isso porque o seu art. 5º domina uma carga ideológica inovadora, por permitir uma interpretação de reconhecimento da entidade familiar entre pessoas do mesmo sexo. Vale lembrar que, a própria Lei Maria da Penha não deixa equívoco de que é possível ponderar a união homoafetiva como entidade familiar. Ressalte-se que, apesar de tratar apena do homossexualismo feminino, é óbvio que, com base no princípio constitucional da igualdade, essa regra igualmente necessita ser aplicada ao homossexualismo masculino. O homossexualismo sempre existiu, porém, segundo Castells,49 foi apenas nas três ultimas décadas que os movimentos sociais em defesa dos direitos dos homossexuais e da afirmação da liberdade sexual eclodiram, desafiando a estrutura tradicional do patriarcalismo. Esses movimentos, ainda segundo o mesmo autor, “põem em ação uma crítica corrosiva sobre o que é considerado sexualmente normal e sobre a família patriarcal”. Dessa forma, Dias50 assegura que a eficácia da nova lei é adjacente, passando as uniões homossexuais a ter direito a especial proteção do Estado. Sendo assim, em face da normatização levada a efeito, restam totalmente sem razão todos os projetos de lei que estão em tramitação e que apontam como regulamentar, a união civil, a parceria civil registrada, entre outros. Em assim sendo, a esses projetos submergiu o objeto uma vez que já existe lei conceituando como entidade familiar as relações homossexuais, não importando a orientação sexual de seus partícipes. Neste sentido, Oliveira assevera, pois: O parágrafo único do art. 5º da Lei Maria da Penha resguardou à mulher homossexual a proteção legal, ao definir que as relações pessoais nele 49 CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Trad. de Klauss Brandini Gerhardt. Sao Paulo: Paz e Terra, 1999, 2v. 50 DIAS, Maria Berenice. Violência doméstica e as uniões homoafetivas. Disponível na Internet: http://www.mundojuridico.adv.br. 37 enunciadas independem de orientação sexual. Tal norma trouxe um grande avanço na sociedade brasileira, na medida em que reconhece textualmente a união entre pessoas do mesmo sexo, questão ainda polêmica no ordenamento jurídico pátrio, mas já reconhecida por grande parte da jurisprudência. 51 Alves, neste contexto assegura que, resta comprovado que a família deixou de ser uma entidade fechada e individualista para ser acentuada modernamente como uma comunidade de afeto e entre ajuda, local propício à realização da dignidade da pessoa humana e, por isso mesmo, distinguida como um ente voltado para o próprio homem, plural como ele mesmo é, democrática, aberta, multifacetária, não discriminatória, natural e verdadeira. Por conseqüência, os modelos de família são sempre recomendados pela Constituição e nunca impostos pelo ordenamento jurídico, conforme dispunha Código Civil de 1916. Não oponente a consolidação deste conceito moderno sobre a família, certo é que, no plano infraconstitucional, não havia o reconhecimento expresso, o que, muitas vezes, originava insegurança aos magistrados no julgamento dos casos concretos, especialmente nas lides abarcando uniões homoafetivas, pelo não reconhecimento de outro tipo de entidade familiar. Alves, sobre o assunto, enfatiza: Em definitivo, tem-se como assente o entendimento de que a entidade familiar ultrapassa os limites da previsão jurídica (casamento, união estável e família monoparental) para abarcar todo e qualquer agrupamento de pessoas onde permeie o elemento afeto (affectio familiae). Por conta disso, o ordenamento jurídico deverá sempre reconhecer como família todo e qualquer grupo no qual os seus membros enxergam uns aos outros como seu familiar. 52 Enfatizando Dias expõe: Diante da expressão legal, é imperioso reconhecer que as uniões homoafetivas constituem uma unidade doméstica, não importando o sexo dos parceiros. Quer as uniões formadas por um homem e uma mulher, quer as formadas por duas mulheres, quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta identidade de gênero, todas configuram entidade familiar. Ainda que a lei tenha por finalidade proteger a mulher, fato é que ampliou o conceito de família, independentemente do sexo dos parceiros. Se também família é a uniãoentre duas mulheres, igualmente é família a união entre dois homens. Basta invocar o princípio da igualdade. A partir da nova definição de entidade familiar, não mais cabe questionar a natureza 51 OLIVEIRA, Fábio Dantas de. Uma breve análise da Lei Maria da Penha . Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 2053, 13 fev. 2009. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12330>. Acesso em: 26 mar. 2009. 52 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 5º, II e parágrafo único, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1225, 8 nov. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9138>. Acesso em: 26 mar. 2009. 38 dos vínculos formados por pessoas do mesmo sexo. Ninguém pode continuar sustentando que, em face da omissão legislativa, não é possível emprestar-lhes efeitos jurídicos (...).Diante da definição de entidade familiar, não mais se justifica que o amor entre iguais seja banido do âmbito da proteção jurídica, visto que suas desavenças são reconhecidas como violência doméstica. 53 Nesse sentido Rabelo e Saraiva afiançam que, o reconhecimento legal da família formada por vontade promulgada pode ser apostilado no sentido de se abarcar nessa modalidade um casal homossexual, no caso, constituído por mulheres. Assim: Acerca da situação até então vigente, com a exclusão legal de reconhecimento da união homoafetiva entre mulheres, “são elas, portanto, cônjuges ‘autoconsiderados’, porque, perante si mesmos e perante a sociedade, mas à margem da lei, ambas têm um vínculo íntimo sólido, com envolvimento sexual e afetivo tal qual um casal heterossexual. Além disso, mesmo que o Direito não as reconheça como tal, elas o fazem, mediante ato voluntário de manifestação de vontade. 54 O relato demonstra a existência da manifestação de vontade expressa na constituição da relação homoafetiva feminina. Dessa forma, os casais homossexuais conjugam o mesmo afeto, os mesmos planos comuns, as mesmas vontades e os mesmos interesses que o fariam um casal heterossexual. Constata-se, portanto, que as uniões homoafetivas são constituídas por vontade expressa, o que as inclui na previsão legal retro citada [sic]. Inclusive, admitir de forma contrária poderia levar ao absurdo da hipocrisia, pois uma mulher vítima de violência familiar pela sua parceira não poderia obter a proteção legal. 53 DIAS, Maria Berenice. Violência doméstica e as uniões homoafetivas, in JusNavigandi, Teresina, ano 10, n. 1185, 29 set. 2006, 54 RABELO, Iglesias Fernanda de Azevedo; SARAIVA, Rodrigo Viana. A Lei Maria da Penha e o reconhecimento legal da evolução do conceito de família. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1.170, 14 set. 2006. 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode- se evidenciar que as uniões homoafetivas é uma realidade lícita e referem-se à vida privada de cada um, devendo esse direito ser acatado. Desse modo a função do Estado e do Direito, é o de respeitar a diferença, provocar a tolerância e contribuir para a superação do preconceito e da discriminação. Restou claro ainda que, a maior aversão em acolher a união homoafetiva sendo entidade familiar, está baseada, muitas vezes, em fundamentos preconceituosos. Destaca-se neste sentido que tal como a união estável, a união homoafetiva existiu, existe e sempre existirá. Não há como ignorá-la, de modo que urge uma regulamentação legal. Pode- se ressaltar que o respeito e a lealdade igualmente estão presentes nessas uniões, e de outro lado a promiscuidade, libertinagem e depravação também podem existir nas relações heterossexuais. A grande maioria das características existentes em entidades familiares também está presente nas relações homoafetivas. A ausência de lei não quer dizer ausência de direito, nem se impede que se extraiam efeitos jurídicos de determinada situação fática. A falta de previsão específica, não pode servir de justificativa para negar a existência do direito a quem é merecedor. Esse contexto teve avanços com o advento da Lei Maria da Penha que em seu parágrafo único do art. 5º concede à mulher homossexual o direito à proteção legal, ao definir que as relações pessoais nele enunciadas independem de orientação sexual. Tal norma ocasionou um grande avanço à sociedade brasileira. Deste modo, a Lei Maria da Penha proporciona um avanço em relação ao Direito Civil pátrio, em consonância com a atual discussão doutrinária e jurisprudencial. Isso porque o seu art. 5º contém uma carga ideológica inovadora, 40 por consentir uma interpretação de reconhecimento da entidade familiar entre pessoas do mesmo sexo. As uniões homoafetivas são reais necessitando de tutela jurídica, cabendo ao Judiciário a solução. Impossível que convicções subjetivas impeçam seu enfrentamento e vedem a proibição de efeitos, relegando à marginalidade determinadas relações sociais, uma vez que a função do Estado não é promover a moralidade partindo de opiniões populares, mas o direito de seus cidadãos. 41 REFERÊNCIAS ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 5º, II e parágrafo único, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1225, 8 nov. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9138>. Acesso em: 26 mar. 2009. 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