Buscar

2012-02-07_08-01-09

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
MARCO AURELIO DOS SANTOS LIMA RGM – 12.392 
 
 
 
 
 
A APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA NO ÂMBITO DAS 
RELAÇÕES HOMOAFETIVAS - MASCULINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dourados-MS 
2009 
 1
 
 
 
 
 
 
MARCO AURELIO DOS SANTOS LIMA RGM – 12.392 
 
 
 
 
 
A APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA NO ÂMBITO DAS 
RELAÇÕES HOMOAFETIVAS - MASCULINA 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul 
como requisito parcial para formação de Bacharel 
em Direito, sob orientação da Professora MSc. 
Jussara Martins C. de Oliveira. 
 
 
 
 
 
DOURADOS - MS 
2009 
 2
 
 3
 
 
 
DEDICÁTORIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus filhos, fundamentais a 
minha vida, meus agradecimentos por demonstrarem carinho e 
amor, contribuindo dessa forma para produção desse trabalho. 
 
 4
 
 
 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“o Direito não cria a realidade, é a sociedade que se 
desenvolve de acordo com o momento histórico, até que 
os fatos e situações se tornem tão evidente que nada 
resta ao legislador que curvar-se a eles e regulá-los” 
 Romeu Simon 
 
 
 5
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A minha Orientadora Professora MSc. Jussara Martins C. de Oliveira, pelo 
incentivo, simpatia e presteza no auxílio às atividades sobre o andamento e 
normatização deste trabalho de conclusão de curso. 
Aos demais professores do curso de Direito da Universidade Estadual de 
Mato Grosso do Sul, unidade de Dourados pela dedicação e entusiasmo 
demonstrado ao longo do curso. 
Particularmente a Ligia Yuri Yamasaki, minha amada que sempre me apoiou, 
auxiliou e estimulou a fim de atingir o sucesso. 
Aos colegas de classe, pela espontaneidade e alegria, numa rara 
demonstração de amizade e solidariedade. 
Aos meus familiares e amigos pela paciência em tolerar a minha ausência. 
Aos Doutores Benjamim Jose Machado e Sandro Marcio Pereira, que sempre 
apoiaram aqueles que desejam se aprimorar através da educação. 
E, finalmente, a Deus pela chance e pelo privilégio que me foi dado em 
partilhar tamanha experiência e, ao freqüentar este curso. 
 
 
 
 
 
 
 
 6
 
 
 
RESUMO 
 
 
Pode- se dizer que a homoafetividade é um tema extremamente discutido 
desde muito tempo atrás, sendo que o preconceito existe e perpetua até os dias 
atuais. A união homoafetiva não é reconhecida legalmente, sendo que a 
Constituição Federal de 88 e o código civil prevêem que as leis são igualmente 
utilizadas independente de cor, sexo ou religião. Já houve projetos de leis para 
legalizar o casamento civil dos homoafetivos, porém em nada mudou. Sendo assim 
continuam essas pessoas privadas de seus direitos como cidadãos, quanto ao 
direito do casamento, adoção etc. E ainda, vítimas de preconceitos inclusive da 
própria justiça, sendo que todos têm o direito à vida privada, não importa se com 
pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto. Muitos doutrinadores entendem que a 
Lei Maria da Penha dispõe, em alguns de seus artigos sobre a legalidade da união 
homoafetiva, visto ter alterado o conceito de família, e repreender qualquer tipo de 
preconceito, principalmente no que tange à união de pessoas do mesmo sexo, 
porém, é necessário ressaltar que esta lei beneficia especialmente as mulheres, 
motivo pelo qual alguns doutrinadores questionam ser essa união tutelada somente 
entre mulheres ou também é extensivo à união de homens. 
 
 7
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
It can say that the homoafetividade is a subject extremely argued since much 
time behind, being that the preconception has very exists and perpetuates until the 
current days. The homoafetiva union is not recognized legally, being that the civil 
code foresees that the laws equally are used independent of color, sex or religion. 
Already it had projects of laws to legalize the civil marriage of the homoafetivos, 
however in nothing it moved. Being thus they continue these private people of its 
right as citizens, with right the marriage, adoption and etc. and still victims of 
preconceptions also of proper justice, being that all have the right the private life, 
does not matter the same if with people of sex or the opposing sex. Many 
doutrinadores understand that the law Maria of the Penha places in some of its 
articles the legality of the homoafetiva union. Since the same one changed the 
concept of family, and reprehends any type of preconception, mainly in what it the 
same refers to the union of people of sex, however is necessary to stand out that this 
law benefits the women especially, for this reason some doutrinadores point out if 
this union is only protected for women, or also it protects union of men. 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 8
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 08 
1 - As relações homoafetivas............................................................................ 10 
1.1 - Breve contextualização sobre o homossexualismo ................................. 10 
1.2 - O Direito de Família à luz da Constituição Federal ................................. 11 
2 - Alcance da lei nas relações homoafetivas .................................................. 14 
2.1 - A evolução das relações humanas e sociedades globalizadas............... 14 
3 - A Lei Maria da Penha e sua eficácia nas relações homoafetivas .............. 22 
3.1 - Breve histórico da Lei Maria da Penha.................................................... 22 
3.2 - Da efetividade jurídica da nova norma..................................................... 24 
4 - Da constitucionalidade da Lei Maria da Penha .......................................... 29 
4.1 - A Lei Maria da Penha e as relações homoafetivas ................................. 33 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 38 
REFERÊNCIAS................................................................................................ 40 
ANEXOS........................................................................................................... 43 
 
 9
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O presente trabalho tem por objetivo, avaliar a aplicabilidade da Lei Maria da 
Penha no caso concreto das relações homoafetivas no Brasil, comparando os 
avanços do alcance dessa Lei no campo jurídico. 
O tema é de grande relevância hoje nos tribunais do país, no âmbito do 
Direito de Família e das Sucessões, pelo número de ações que envolvem casais 
formados por pessoas do mesmo sexo. Diante da ausência de legislação específica 
a respeito, cabe ao julgador se socorrer da analogia, dos princípios gerais do direito, 
textos doutrinários e jurisprudências para resolver tais questões. 
Através de análise dos diplomas vigentes no Brasil, e da pesquisa de obras 
de estudiosos sobre o tema, pretende-se demonstrar que esta possibilidade não 
atenta às leis jurídicas, pelo contrário, configura uma evolução e adequação à 
realidade, em face dos novos valores sócio-culturais, bem como um respeito à 
dignidade humana e à afetividade. 
Salienta- se que a Constituição de 1988, que buscou constituir uma sociedade 
sem preconceito e sem discriminação, constituída na igualdade de todos, não 
domina norma anunciada acerca da liberdade de orientação sexual. Como 
decorrência natural, não faz referência às uniões homoafetivas. É inovadora em 
relação, às uniões heterossexuais, reconhecendo como entidade familiar a união 
estável entre o homem e a mulher. O Código Civil, por sua vez, ao disciplinar o tema 
da união estável, seguiu a mesma linha. 
No mesmo sentido, Brito enfatiza que diversos princípios jurídicos protegem a 
tutela da parceria homoafetiva, sendo uma realidade que necessitade solução 
jurídica positiva. A indignidade afrontada pelos homossexuais, nos dias de hoje, 
resulta da reprodução de alguns valores expostos como morais, demonstrando 
discriminações que têm como causa propriedades intrínsecas de cada pessoa. Para 
superar essa exclusão jurídica, far-se-á necessária uma ampla reflexão, com 
 10
observância ao princípio de tutela à privacidade, componente essencial ao 
reconhecimento da união homoafetiva no âmbito jurídico. 
Nesta esteira, a Lei Maria da Penha mudou o conceito de família, e enfatizou 
a não discriminação contra a união de pessoas do mesmo sexo, tema em comento 
no capítulo III deste trabalho. 
Devido a vários motivos, a violência atinge lares de muitas famílias, e quase 
sempre conflitos tão violentos entre os casais, gerando lesões corporais graves nos 
envolvidos. Traumas psicológicos nos filhos dos casais, e muita angústia para 
ambas as famílias dos companheiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11
 
 
 
1 – AS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS 
 
 
1.1 Breve contextualização sobre o homossexualismo. 
 
Apesar de as questões de homossexualismo remontar desde o império 
romano, há muito tempo atrás, o que será proposto aqui, são as relações entre 
pessoas do mesmo sexo avaliadas em épocas mais recentes. 
 A palavra homossexual vem designar uma opção sexual entre pessoas do 
mesmo sexo. Tem sua origem no grego homo que significa semelhança, igualdade. 
Já a palavra homoafetividade surge como meio de coibir uma pratica racista que 
ligava a pessoa a ser praticante de sexo com outra do mesmo sexo, sem ter ligação 
ou intenção de constituir uma relação duradoura. Logo, o termo homoafetividade 
vem tentar apagar a idéia de promiscuidade e perversão de valores, buscando 
imbuir na sociedade como sendo uma relação normal tal como qualquer outra, 
podendo derivar em mútua assistência, patrimônio em comum, vida a dois, filhos, ou 
seja, se assemelhar às relações da reconhecida família, como base da sociedade. 
Polêmica no mundo jurídico em função dos desdobramentos dessas relações 
homoafetivas no que tange ao direito de família, nas partilhas de bens, entre outros 
direitos.1 
De acordo com Barroso2, ainda não se determinou as razões reais que 
originam as preferências sexuais nos indivíduos. Existem estudos, dotados de 
cientificidades que asseguram ser a orientação sexual decorrente de fatores 
genéticos. Segundo outros estudos, igualmente científicos, os fatores determinantes 
seriam sociais. Necessita- se enfatizar, ademais, que o fato homossexualismo em si 
não viola qualquer norma jurídica, nem é adequado, por si só, de dissimular a vida 
de terceiros. 
 
1 SANTANA, Dr. Luciano - As relações homoafetivas e suas implicações jurídicas – encontrado em 
www.r2learning.com.br - acesso em mar.2009. 
2 BARROSO Luís Roberto - Diferentes, mas iguais: O reconhecimento Jurídico das 
Relações Homoafetivas no Brasil– encontrado em http://pfdc.pgr.mpf.gov.br – acesso 
abe.2009 
 12
 
 
1.2- Direito de Família à luz da Constituição Federal. 
 
A família foi definida desde, tempos remotos como sendo a base da 
sociedade. Em assim sendo, houve a necessidade de criação de leis que regessem 
sua formação e sua dissolução. Nas últimas décadas a evolução das formas de 
relacionamento entre as pessoas e as mudanças devidas à vários fatores, tais como 
o comportamental, o financeiro, o religiosos, o social, o psicológicos, entre outros, 
têm gerado a necessidade de revisão de determinadas normas jurídicas, como nos 
casos de relacionamentos agressivos dentro da família. 
A Constituição Federal é inovadora, pois, introduziu relevantes mudanças no 
conceito de família e no tratamento dispensado a essa instituição considerada a 
base da sociedade, o Código Civil brasileiro, tem sua estrutura definida no 
tratamento aos assuntos pertinentes às relações ocorridas entre pessoas na 
sociedade. Assim o Direito de Família está disciplinado nos artigos 1.511 a 1.783, 
em quatro Títulos assim denominados: 
- Do Direito Pessoal, 
- Do Direito Patrimonial, 
- Da União Estável, 
- Da Tutela e Da Curatela. 
Logo, percebe-se que a nova lei ordinária abandona a visão patriarcal que 
inspirou a elaboração do Código revogado, quando o casamento era a única forma 
de constituição familiar e nesta imperava a figura do marido, ficando a mulher em 
situação submissa e inferiorizada. 
Assim, hodiernamente tem-se outro entendimento em relação às formas de 
constituição do ente familiar, bem como a consagração do princípio da igualdade de 
tratamento entre marido e mulher, assim como iguais são todos os filhos, 
respeitados em sua dignidade de pessoa humana, independente de sua origem 
familiar. 
 13
Deste modo, Oliveira expõe que a Carta Magna neste aspecto, acabou por 
provocar quatro vertentes fundamentais neste assunto, conforme adverte nos artigos 
226 e seguintes: 
a) ampliação das formas de constituição da família, que antes se 
circunscrevia ao casamento, acrescendo-se como entidades familiares a 
união estável e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus 
descendentes; 
b) facilitação da dissolução do casamento pelo divórcio direto após dois 
anos de separação de fato, e pela conversão da separação judicial em 
divórcio após um ano; 
c) igualdade de direitos e deveres do homem e da mulher na sociedade 
conjugal; 
d) igualdade dos filhos, havidos ou não do casamento, ou por adoção, 
garantindo-se a todos os mesmos direitos e deveres e sendo vedada 
qualquer discriminação decorrente de sua origem. 3 
Assim sendo, estabeleceu- se com Direito de Família, o conjunto de normas 
que regulam a celebração do casamento, sua legitimidade e os efeitos que dele 
resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução 
desta, as relações entre pais e filhos, o ligame do parentesco e os institutos 
complementares da tutela, curatela e da ausência. É deste modo, o ramo do Direito 
Civil referente às relações entre pessoas unidas pelo patrimônio ou pelo parentesco 
ou aos estabelecimentos complementares de direito protetivo ou assistencial, 
porque, embora a tutela e a curatela não incidam nas relações familiares, têm, por 
causa da sua finalidade, conexão com o Direito de Família. 
Importante lembrar que o objeto do Direito de Família é a própria família, 
embora debele normas concernentes à tutela dos menores que se sujeitam à 
pessoas que não são seus genitores, à curatela, que não tem qualquer relação com 
o parentesco, mas descobre guarida nessa seara jurídica por causa da semelhança 
ou analogia com o sistema assistencial dos menores. 
Pelo princípio da razão do matrimônio, a base fundamental do casamento e 
da vida conjugal é a afeição entre os cônjuges e a precisão de que perdure completa 
comunhão de vida. 
Com o princípio da igualdade jurídica dos cônjuges submerge o poder marital 
e a autocracia do chefe de família é trocada por um sistema em que as decisões 
 
3 OLIVEIRA, Euclides Benedito de - DIREITO DE FAMÍLIA NO NOVO CÓDIGO CIVIL – encontrado 
em www.pailegal.net- acesso em abr. 2009 
 14
devem ser tomadas de comum acordo entre marido e mulher, pois os tempos atuais 
promovem que a mulher seja a colaboradora do homem e não a subordinada. 
Com base no princípio da igualdade jurídica de todos os filhos, não se faz 
elevação entre filho legítimo e natural quanto ao pátrio poder nome e sucessão, 
consente- se o reconhecimento de filhos ilegítimos e impede- se que se divulgue no 
assento de nascimento a ilegitimidade simples ou espuriedade. 
Apesar de sofrer intervenção estatal, o Direito de Família compete ao ramo do 
Direito Privado, pois devido a importância social da família, ao Estado é imposto o 
ônus em dirimir, da melhor forma, os assuntos pertinentes, especialmente quando 
não existe consenso entreos envolvidos4. 
Hesse5 aduz que a Constituição Federal de 1988 simulou a positivação de 
novas conquistas sociais e individuais, acarretando grandes mudanças no que 
pertine ao Direito de Família. A interpenetração do Direito Constitucional no Direito 
Civil anunciou grande avanço nas soluções de questões não cogitadas na 
codificação. Sendo que, uma releitura do Direito Civil à luz da Constituição constituiu 
uma total transformação do Direito enfocado nos aparência humanístico, solidarista, 
funcionalizado, preocupando-se com a dignidade da pessoa humana, assim sendo 
semeando esperança de uma nova concepção de família. 
 
 
 
4 Noções Gerais de Direito de Família – encontrado em www.centraljuridica.com - acesso em abr. 
2009 
5 HESSE, Konrad. apud PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Apontamentos sobre a aplicação 
dasnormas de direito fundamental nas relações jurídicas entre particulares. In: Barroso, Luís Roberto, 
A Nova Interpretação Constitucional, Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 120. 
 15
 
 
 
2 - ALCANCE DA LEI NAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS 
 
 
2.1- A evolução das relações humana e sociedades globalizadas 
 
Pode-se dizer que a relação entre pessoas do mesmo sexo e seus 
desenvolvimentos no âmbito jurídico tem causado muitas contestações neste novo 
século, e esforços tem sido feitos para que exista um enquadramento apropriado, e 
sem preconceitos a essas relações entre pessoas do mesmo sexo, que a doutrina 
logo cognominou de “relação homoafetiva”. 
Assim, a relação homoafetiva é caracterizada pela exposição pública das 
duas pessoas, que ligadas pela afeição e respeito mútuo, unem-se. Nessa união 
passam a partilhar das obrigações pecuniárias do lar, contribuem na medida de suas 
condições para a constituição de patrimônios, alcançando, por último, o 
reconhecimento ao direito de adoção para não restar dúvidas que ali existe de fato e 
de direito uma entidade familiar. 
Contudo, não resta exaurido, para a legislação pátria o simples fato de 
pessoas do mesmo sexo que se unem e passem a compartilhar suas vidas, para o 
reconhecimento jurídico e, por consecutivo, tipificá-la, constitucionalmente como 
entidade familiar, prestando-lhe toda a proteção, direitos e deveres imprescindíveis, 
restando aos tribunais e doutrina dar traços e linhas gerais, indispensáveis ao 
enquadramento do direito ao modernismo da sociedade, conforme o brocado “o 
direito esta para a sociedade como a sociedade esta para o direito”, logo, não 
poderia esta situação ficar sem resposta e tipificação. Nas palavras de Maria 
Berenice Dias, dispondo sobre a realidade social atual, assim ensina-nos a douta 
jurista. 
Se o convívio homoafetivo gera família e se esta não pode ter a forma de 
casamento, necessariamente há de ser união estável. Não há outra opção. 
Trata-se de uma alternativa entre duas opções. Daí é forçoso reconhecer a 
 16
união estável é um gênero que admite duas espécies: a heteroafetiva e a 
homoafetiva6. 
Santana, por sua vez, aduz que faz-se imprescindível que o ordenamento 
jurídico se adeqüe a essa nova realidade, distinguida pela evolução das relações 
humanas, não se pode silenciar mister buscar uma resposta à sociedade, seja esta 
de cunho positivo ou negativo ao reconhecimento das relações entre pessoas do 
mesmo sexo. Nesse sentido salienta: 
O que se verifica é que tais relações já configuram semelhanças ao extremo 
com as famílias e aí residir os embates jurisdicionais, restando aos tribunais 
dar tratamento jurídico aos casos a ele submetidos. O que resta quase 
unânime quanto ao assunto é que estamos diante de uma sociedade de 
fato, onde podemos encontrar algumas das premissas que configuram uma 
entidade familiar, tais como, mútua assistência, cooperação para aquisição 
de patrimônio, afetividade, respeito e prole (derivada de processo de 
adoção). Contudo, o status de família a esses relacionamentos não 
encontra guarida constitucional, e ai está o cerne dos debates sobre o tema. 
Questões de ordem patrimonial e adoção envolvendo relações 
homoafetivas são matérias já vencidas e reguladas pela jurisprudência de 
nossos tribunais, restando apenas a codificação destas, o que demonstra 
que nosso legislador pátrio não está muito longe de por termo a este tema. 
O Brasil é um dos países que ainda não tem norma regulamentando o tema, 
o que segundo alguns doutrinadores no máximo em uma década já 
devemos ter promulgada alguma lei. Projetos já foram apresentados, como, 
por exemplo, da ex-ministra Marta Suplicy, que visa disciplinar essas 
relações. Por fim, é dever de o Estado promover o bem estar de todos, 
dando tratamento igualitário e proteção a todos, combatendo todo e 
qualquer ato de racismo e preconceito, porém, não deve jamais o legislador 
permitir qualquer norma contrária à moral e aos bons costumes. 7 
O conceito secular do casamento chegou- se às mais diferentes estruturas 
relacionais, alterando ao aparecimento de novas expressões, como “entidade 
familiar”, “união estável”, “família monoparental”, “concepção homóloga”, 
“homoafetividade”, “filiação sócio-afetiva”, dentre outros. Esses vocábulos procuram 
adequar a linguagem às mudanças das relações sociais, que transcorreram da 
evolução da sociedade e da redefinição do conceito de família. Essas alterações 
redefiniram o conceito de família, que passou a ter um espectro multifacetário. 
Por outro lado, por mais estável que seja a relação ou convívio entre pessoas 
do mesmo sexo, esta jamais se assemelha como uma entidade familiar sob o prisma 
afetivo e psíquico, uma vez que parceiros de mesmo sexo não oferecem a 
conjugação de pai e mãe, em toda a complicação psicológica que tais papeis 
distintos demandam, e tampouco pode ser analisada um núcleo de procriação 
 
6 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. 2. Ed. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2001, p. 69. 
7 SANTANA, Luciano - As relações homoafetivas e suas implicações jurídicas – encontrado em 
www.r2learning.com.br - acesso em mar.2009. 
 17
humana ou de educação de futuros cidadãos, que permaneceriam sob o risco de 
também se “desviar” sexualmente, tal como seus pais. 
Na sociedade atual, globalizada, a convivência com o “diferente”, com aquilo 
que escapa ao tradicional, tornou- se estabelecida como natural, demonstrando a 
força que determinadas minorias organizadas vêm conquistando socialmente. A 
sociedade evoluiu e com ela suas instituições. Contudo, paralelamente a esse fato, 
as instituições mais tradicionalistas, como a Igreja e alguns segmentos da política, 
afrontam ao máximo a tais mudanças, até mesmo por questão de sobrevivência, 
uma vez que embutem como princípios, valores que não compreendem essas 
transformações estruturais e sociais comuns no mundo moderno. 
Vale dizer que, na legislação de Direito de Família no Brasil, não há nenhum 
conceito da instituição “família”. Entretanto, por meio de uma interpretação 
sistemática da Constituição Federal, das normas infraconstitucionais e dos princípios 
gerais de Direito, conclui- se que família seja uma organização de pessoas com 
desígnio de ajudar-se mutuamente, por meio de laços sanguíneos ou não, com 
anseios de afeto, carinho e respeito8. 
Enfatiza- se que a sociedade brasileira, ajuizada na Constituição de 1988, se 
ambiciona mais justa, e os direitos fundamentais, de forma explícita no conteúdo do 
seu artigo 5º afastaram toda e qualquer forma de preconceito ou discriminação, 
celebrando a igualdade e tendo como alicerce a dignidade da pessoa humana, 
consagrando um novo momento, em que a ciência do Direito, mais do que garantir, 
necessitará buscar novos direitos e, assim, efetivar o sentido maior de cidadania. 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, compõe- se em Estado Democrático de 
Direitoe tem como fundamentos: 
(...) III - a dignidade da pessoa humana; Art. 5º Todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. 9 
Nesse sentido, tem-se que, o primeiro país a perfilhar os efeitos jurídicos da 
união homoafetiva foi a Dinamarca,.sendo que, ela confirmou a probabilidade dos 
homossexuais escreverem um contrato em cartório, disciplinando a vida do casal, 
 
8 Constituição da República Federativa do Brasil. de 1988. 
9 WELTER, Belmiro Pedro. Igualdade entre as filiações biológicas e socioafetivas, p. 09 2008. 2003. 
 18
sendo dado a eles praticamente todos os direitos indicativos ao casamento. Nos 
Estados Unidos como cada estado tem autonomia para legislar sobre o assunto, 
existe divisão entre os que já viabilizaram o casamento homossexual como Vermont, 
como os que sustentam a linha conservadora do ex-presidente Bush10. 
Neste contexto, Melo11 afirma que a jurisprudência equiparou às relações 
homoafetivas às relações laborais, dando enseja ao pagamento de indenização por 
serviços domésticos prestados. Em seguida, abraçou a analogia com o Direito 
Comercial, equiparando-as às sociedades de fato, uma vez que existe aí um esforço 
mútuo destinado à vida em comum, o que admite a aplicação da Súmula 380 do 
Supremo Tribunal Federal, onde dispõe que: comprovada a existência de sociedade 
de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com partilha do 
patrimônio adquirido pelo esforço comum, a citada sumula vem com atitude de evitar 
o enriquecimento injustificado de um dos companheiros e permitir a partição 
patrimonial. 
Sendo assim, Maria Berenice Dias12 enfatiza que ao outorgar proteção a 
todos, a Constituição, veda discriminação e preconceitos por motivo de origem, raça, 
sexo ou idade e assegura o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a 
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores 
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. 
Salienta- se, ainda, que a homossexualidade é um fato que e não pode ser 
negado, estando a merecer a tutela jurídica, ser enlaçado no conceito de entidade 
familiar. Para isso, é imprescindível mudar valores, abrir espaços para novas 
discussões, revolver princípios, dogmas e preconceitos. Afirma Maria Berenice Dias: 
A sexualidade integra a própria condição humana. É um direito humano 
fundamental que acompanha o ser humano desde o seu nascimento, pois 
decorre de sua própria natureza. O direito a tratamento igualitário independe 
da tendência afetiva. Todo ser humano tem o direito de exigir respeito ao 
livre exercício da sexualidade. A orientação sexual seguida na privacidade 
não admite restrições, o que configura afronta ao direito à liberdade a que 
merece todo ser humano, pois diz respeito a sua condição de vida, e o 
artigo 5º, X, da CF de 1988, reserva o direito à “intimidade, à vida privada, à 
honra e a imagem das pessoas sendo invioláveis esses direitos”, pois 
 
10 VARGAS, Fabio de Oliveira. A união homoafetiva no direito comparado. MGM, Juiz de Fora, 19 set. 
2006. Disponível em: http://www.mgm.org.br/portal/modules.php?name=News&file=article&sid=153>. 
Acesso em: 25 jun. 2008. 
11 MELO, Elaíne Cristina De Oliveira E. Um novo modelo de família. Aspectos sóciojurídicos da união 
entre homossexuais. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 625, 25 mar. 2005. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?i d=6496>. Acesso em: 25 jun. 2008. 
12 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, p. 196/197. 
 19
classificados como direitos fundamentais. O inciso II do artigo 5° define 
família como “a comunidade formada por indivíduos que são ou se 
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por 
vontade expressa”. Com isso, o legislador, corajosamente define família 
conforme o formato atual, falando em indivíduos e não homem e mulher, e 
não limita também a família às constituídas pelo casamento. Assim restam-
se aceitas às filiações socioafetivas e também as uniões homoafetivas.13 
Sendo assim, diante da complicação das relações sociais e, por conseguinte, 
familiares, uma interpretação literal do texto constitucional não atende aos interesses 
da atual sociedade. De acordo com Streck14, “o novo paradigma constitucional 
estabelecido pelo Estado Democrático de Direito caminha lado a lado com o novo 
paradigma hermenêutico, que abandona a noção de reprodução de sentido e 
avança em direção à produção de sentido”. 
De acordo com Meller Silva15, entre os casos passíveis de mediação familiar 
encontra-se a dissolução da sociedade de fato, modo pelo qual são assim 
abrangidas hoje as uniões homoafetivas. Deste modo, porque não refletir na 
resolução dos conflitos conjugais do casal homossexual por meio da mediação 
familiar. 
Já que estas relações assim o são abrangidas hoje pelo Direito positivado. 
Por sua vez, Girardi16 assevera que a razão da inclusão da reivindicação dos direitos 
relativos às uniões ou mesmo do direito ao exercício da homossexualidade se abona 
no fato de, por competir à comunidade humana, as pessoas de orientação sexual 
homossexual ter o direito à realização de suas capacidades e obrigações humanas 
respeitadas, tanto pelos demais membros da comunidade como pelo próprio Estado. 
Trata-se de assegurar no plano individual a tutela ao direito personalíssimo de 
orientação sexual e, no plano público, o respeito a esse direito, com práticas 
jurídicas e políticas legislativas que vedem qualquer forma de discernimento por 
conta da preferência ou orientação sexual de cada pessoa. 
Sendo assim, Pereira enfatiza: 
 
13 DIAS, ibidem. 
14 STRECK, Lenio Luiz Streck. Da solução dos problemas aos problemas da solução: uma visão 
hermenêutica da bioética – prolegômeros em prefácio. In: WELTER, Belmiro Pedro. Igualdade entre 
filiações biológica e socioafetiva. , p. 09. 
15 MELLER SILVA, F. C. Mediação Familiar. Revista Jurídica Cesumar, v.5, n. 1, p.253-274, 2005. 
Disponível em: <http://www.cesumar.br/mestradodireito/arquivos/volume5/ mediacao_familiar.pdf>. 
Acesso em: 12 set. 2007. 
16 GIRARDI, Viviane. Famílias contemporâneas, filiação e afeto. A possibilidade jurídica da adoção 
por homossexuais, p. 52 
 20
A nossa legislação substantiva civil, mesmo com o advento do Código Civil 
de 2002, permanece ainda por demais conservadora e fortemente arraigada 
a um conceito familiar antigo em que predomina a divergência de sexos 
como requisito fundamental para a caracterização do casamento. Para uma 
observação meramente exemplificativa, basta olharmos a redação dos arts. 
1517, 1535, 1565 e 1567 do Código Civil. Eles trazem toda uma carga 
ideológica e legalista, estabelecendo os pressupostos para a união entre 
sexos diferentes, silenciando assim a discussão acerca da união 
homoafetiva, excluindo-a de sua previsão legal. 17 
Deste modo, Espíndola18 aduz que na defesa da união homoafetiva mister se 
faz uma apreciação sobre os princípios constitucionais que abordem Direito de 
Família, ou seja, tratar-se-á do Direito Civil Constitucional, uma vez que o Direito de 
Família depara respaldo na Lex Major. Sendo que, nunca é demais centrado em 
qual geração de direitos e garantias essenciais encontra- se respaldado os direitos 
intrínsecos ao casal homoafetivo. Enfatiza- se que os direitos e garantias 
fundamentais de primeira dimensão surgiram após a Revolução Francesa, tendo 
como distinção a passividade do Estado diante da população. É o chamado laissez-
faire. Logo, acontece a aplicação da liberdade entre os indivíduos. 
Bertoluzzi19 declama que, quanto ao contexto da contradição de conversão da 
união homoafetivaem casamento, por se tratar de relação entre pessoas do mesmo 
sexo, este não é válido. Enfatiza-se que a Constituição não determina que toda 
união estável seja transformada em casamento, somente dispõe que a lei 
infraconstitucional a facilite. Salienta-se que a ausência de conversão em casamento 
não descaracteriza a essência da união estável, que é o afeto. Tal fato o Código 
Civil de 2002 aceita explicitamente, ou seja, a união estável entre pessoas 
separadas de fato (art. 1.723, §1º). Se a probabilidade de conversão em casamento 
fosse elemento caracterizador da união estável, não seria possível a existência de 
união entre os separados de fato, já que só podem casar após o divórcio. 
Dessa maneira, Dias20 explana que a constituição de uma família não está em 
consonância somente a fatores biológicos ou civis, mas especialmente pelos laços 
de afeto que conectam as pessoas, independente dessas serem ou não do mesmo 
sexo. Deste modo, não pode ser negado o status de família às uniões homoafetivas. 
A homossexualidade é um fato que se confere e não pode ser negado, 
 
17 PEREIRA Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil,329. 
18 ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princípios Constitucionais, 184. 
19 BERTOLUZZI, Roger Guardiola. A dignidade da pessoa humana e sua orientação sexual. As 
relações homoafetivas. Disponível em:<http://jus2.oul.com.br/doutrina/texto.asp?6494>. Acesso em: 
01 set. 2005. 
20 DIAS, op. cit. 
 21
permanecendo merecedora de tutela jurídica, ser enlaçada como entidade familiar, o 
que não vai transformar a família nem instigar sua prática. 
Conforme Hesse, esse valor alude dotar os princípios da igualdade e da 
isonomia de potencial transformador na configuração de todas as relações jurídicas. 
Igualdade jurídica formal é igualdade diante da lei: o alicerce de igualdade jurídica 
deixa-se fixar, sem dificuldades, como exigência fundamental do estado de direito.21 
Assim, Netto Lobo22, em abordagem ao núcleo familiar afetivo, alega que a 
enumeração da Constituição Federal é simplesmente exemplificativa, não 
consentindo assim a rejeição de qualquer entidade que tenha os requisitos da 
afetividade e estabilidade. De fato, por mais abrangente que seja o rol constitucional, 
este não é exauriente, uma vez que não logrou enumerar todas as composições 
familiares da contemporaneidade, formada a partir das relações afetivas. Desta 
maneira, as pessoas do mesmo sexo, que tenham uma relação estável e lastreada 
no afeto humano, necessitam merecer a efetiva proteção da lei e o reconhecimento 
constitucional devido. 
Nesse sentido, Dias23 leciona que nessa perspectiva, a jurisprudência, 
seguindo as novas tendências sociais, já tem agradecido a união entre 
homossexuais em alguns casos, fato que começou a ter uma abordagem mais 
ressaltante a partir de decisões abalizadas na analogia, no Tribunal de Justiça do 
Rio Grande do Sul, pela Desembargadora Maria Berenice Dias. Mostra-se, com isso, 
que o Judiciário está à frente do conservadorismo legislativo. O Congresso, porém, 
ainda não confirmou matéria regulamentando a união homoafetiva, uma vez que, 
entende-se ser muitos parlamentares financiados por grupos ligados à igrejas, as 
quais entendem a relação homossexual como pecaminosa e impura. 
Dessa forma, a união entre pessoas do mesmo sexo ainda não é, com 
amparo em leis, considerada como casamento ou união estável. Mas decisões 
judiciais reconhecem que a união homoafetiva -relação de afeto entre pessoas do 
mesmo sexo- é baseada em afeto e, por isso, uma forma de se constituir família. 
Alguns tribunais, como os do Rio Grande do Sul, já têm julgados que reconhecem a 
 
21 HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha,p. 330. 
22 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Identidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus 
clausus, 66. 
23 DIAS, op. cit. 
 22
união homossexual como união estável e aceitam que tais ações sejam apreciadas 
nas varas especializadas em Direito de Família, e não nas varas cíveis. 
 
 23
 
 
 
3 - LEI MARIA DA PENHA E SUA EFICÁCIA NAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS. 
 
 
3.1 - Breve histórico da lei Maria da Penha. 
 
Importante frisar que a violência contra a mulher passou a ser, invisível aos 
olhos da sociedade, tolerante e, por isso mesmo, no exercício de um surdo pacto de 
silêncio, demonstrado em ditados populares que bem anunciam o comportamento 
social: “Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”; “roupa suja se lava em 
casa”; “a mulher casada está em seu posto de honra e da rua para fora nada lhe diz 
respeito”.24 
Por sua vez, Paula salienta que: 
Em 07 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei nº 11.340/2006 conhecida 
como a Lei Maria da Penha, que apesar de ter como finalidade a criação de 
mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar praticada contra a 
mulher acabou trazendo no seu bojo importante inovação no artigo 5º, inciso 
II e parágrafo único ao estabelecer que família seja comunidade formada 
por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços 
naturais, por afinidade, ou por vontade expressa e que as relações sexuais 
enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. 25 
De acordo com Dias, a Lei Maria da Penha não teve seu nome selecionado 
aleatoriamente: 
Trata-se de justa homenagem a uma mulher que sofreu absurdas agressões 
de seu marido em seu ambiente doméstico, na década de 1980, e não 
conseguiu a punição de seu marido pelas leis de então, devido à comunhão 
de ineficácia legislativa e morosidade judicial.26 
Sendo assim, o nome da lei é uma homenagem a Maria da Penha Maia que 
foi reprimida pelo marido durante seis anos. Em 1983, por duas vezes, ele tentou 
assassiná-la. Na primeira tentativa, com arma de fogo, deixou- a paraplégica e na 
segunda por eletrocução e afogamento. Enfatiza- se que o réu só foi punido depois 
de 19 anos de julgamento, permanecendo dois anos em regime fechado. 
 
24 SILVA JUNIOR, Edison Miguel da. Direito Penal de gênero. Disponível 
em:<http://www.juspuniendi.net/01/01.htm>. Acesso em: 07 set. 2007. 
25 PAULA, Gauthama Carlos Colagrande Fornaciari de. Combate à violência Mulher merece lei 
específica, pois foi oprimida por anos. Revista Consultor Jurídico, São Paulo, 11 out. 2006. 
26 DIAS, op. cit. p. 14. 
 24
Dessa forma, a lição de Santin27 aduzindo que foi uma resposta às 
infatigáveis lutas dos movimentos em defesa das mulheres, como também o 
atendimento à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra a Mulher e à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e 
Erradicar a Violência contra a Mulher. 
Com a vigência da Lei Maria da Penha, surgiram divergências acerca da sua 
constitucionalidade. Aqueles que sustentam a inconstitucionalidade, apesar de 
associarem à minoria, afiançam que a lei fere o princípio da isonomia, na medida em 
que coloca uma desigualdade apenas em função do sexo. Ademais, a mulher vítima 
seria beneficiada por melhores mecanismos de proteção e de punição contra o 
agressor. Já, o homem, não disporia de tais instrumentos quando fosse vítima da 
violência doméstica ou familiar. 
Conforme entendimento de Freitas28, a Lei Maria da Penha veio consentir 
compromissos assumidos pelo Brasil ao assinar Tratados Internacionais que 
impõem a edição de leis que assegurem a proteção à mulher. Na violência 
doméstica encontra-se a chaga da sociedade e o berço de toda sua violência. 
De acordo com Cavalcanti29, a Lei 11.340/06 não é completa, porém traz em 
seu bojo, dentre outros aspectos, todo o procedimento a ser adotado tanto pela 
Polícia Judiciária, Ministério Público e Judiciário. Além disso, situam medidas 
protetivas de urgência referentes à vítima. Desse modo, a lei Maria da Penha tem 
um espírito muito mais educacionale de incentivo às ações afirmativas que de 
punição mais severas aos agressores. Entende-se que poderiam existir divergências 
sobre a inconstitucionalidade da lei, se a mesma incidisse sobre qualquer caso de 
violência contra a mulher, e não apenas a doméstica. Seria desarrazoado, aplicar a 
Lei Maria da Penha a caso de mulher agredida na rua por um desconhecido 
(homem), recebendo este tratamento mais recrudescedor. 
 
27 SANTIN, Valter Foleto. Igualdade Constitucional na Violência Doméstica. Disponível em: 
<http://www.apmp.com.br/juridico/santin>. Acesso em: 17/06/2007 CAMPOS, Roberta Toledo. 
Aspectos Constitucionais e Penais Significativos da Lei Maria da Penha. Disponível em: 
<http://www.blogdolfg.com.br>. Acesso em: 16/06/07. 
28 FREITAS, Jayme Walmer de. IMPRESSÕES OBJETIVAS SOBRE A LEI DE VIOLÊNCIA 
DOMÉSTICA, p. 431-445. 
29 CAVALCANTI, Stela Valéria de Farias. Violência Doméstica Contra a Mulher. Análise da lei "Maria 
da Penha", n° 11.340/06, p.179. 
 25
Dessa forma, Paulo Luiz Neto Lôbo30 afiança que a Lei Maria da Penha 
encontra-se numa etapa normativa à frente do Direito Civil, visto que ao tratar da 
violência familiar no seu art. 5º aceita o reconhecimento da entidade familiar entre 
mulheres. Conforme esses doutrinadores, a enumeração constitucional é puramente 
exemplificativa. Sendo assim, os relacionamentos homoafetivos pautados pelo afeto, 
têm direito à devida proteção e reconhecimento previstos na Carta Magna de 1988. 
A Lei da Maria da Penha não trata do homossexualismo masculino, mas apenas do 
feminino. A Lei preceitua que a vítima sempre é uma mulher e o agressor pode ser 
um homem ou outra mulher. 
 
 
3.2 – Da Efetividade Jurídica da Nova Norma 
 
A Lei Maria da Penha inovou as normas jurídicas no trato dos casos de 
violência familiar comumente contra a mulher, para que avançassem no sentido de 
severidade, eficácia e rigidez na punição do agressor. Denota-se que essas 
mudanças são nítidas, conforme anuncia o texto da referida lei. Além do mais, a Lei 
Maria da Penha, ampliou o conceito de família e as formas de violência doméstica. 
A aludida norma modificou o Código Penal, o Código de Processo Penal e a 
Lei de Execução Penal. Ressalta-se que os crimes cometidos no campo doméstico 
passaram a ser punidos mais severamente. Destaca- se que as penas pecuniárias 
anteriormente aproveitadas: pagamento de multa ou cestas básicas, hoje, são 
expressamente proibidas. Assim, o agressor pode ser preso em flagrante delito ou 
pode ser posteriormente constituída a sua prisão preventiva pelo juiz, de acordo com 
o art. 20 da Lei nº 11.340/06 combinado com o art. 313, IV do CPP 31. 
Pode- se ressaltar que a lei criou as Medidas Protetivas de Urgência. Sendo 
que, quando uma mulher registra um boletim de ocorrência confirmando que foi 
vítima de qualquer espécie de violência doméstica, é obrigação de a autoridade 
policial inquirir à vítima se esta possui interesse no deferimento de determinada 
 
30 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Identidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus 
clausus. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMÍLIA, p. 66. 
31 BARBOSA, Andresa Wanderley de Gusmão; CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias. A 
constitucionalidade da Lei Maria da Penha. Disponível em <www.enesacorrea.com >. Acesso em: 12 
mar. 2008 
 26
medida protetiva prevista em lei, como suspensão de porte de arma, afastamento do 
lar, proibição de aproximação, de contato e de freqüência a determinados lugares, 
restrição ao direto de visita de menores e prestação de alimentos provisionais. 
Enfatiza-se que, a vítima formula sua solicitação na delegacia, sem obrigação 
de assistência de advogado, e esta carece encaminhar, no prazo de 48 horas, ao 
juiz com cópia do Boletim de Ocorrência e do depoimento da mulher. Por sua vez, o 
juiz deve decidir num prazo de 48 horas sobre o deferimento dos pedidos. Este 
procedimento permite que, de forma rápida - no máximo 96 horas -, ao juízo 
especializado que possa dar uma resposta de proteção a uma situação de urgência 
experimentada pela mulher vítima de violência, visando assegurar sua integridade 
física e moral. A desobediência do agressor à ordem determinada pelo juiz pode 
ensejar sua prisão preventiva, nos termos da alteração feita pela nova lei do Código 
de Processo Penal32. 
Nesse sentido Moraes declara: 
Ao alterar a Lei de Execução Penal, tal instituto, também, possibilitou ao juiz 
a determinação do comparecimento obrigatório do réu a programas de 
recuperação e reeducação. A ação penal não será mais proposta no 
âmbito dos Juizados Especiais Criminais (art. 41 da Lei 11.340/06). Passa a 
ser exigido dos Estados a criação dos Juizados de Violência Doméstica e 
Familiar contra a Mulher (art. 14 da Lei 11.340/06), que possuem 
competência civil e criminal para julgar os crimes abrangidos pela nova 
norma. Desse modo, o Juiz terá a competência para apreciar a infração 
penal e os casos que envolverem questões de família (pensão, separação, 
guarda dos filhos etc.). No entanto, enquanto não forem instituídos os 
referidos Juizados a ação será processada nas Varas Especializadas da 
Justiça Criminal Comum (art.33 da Lei 11.340/06). Outra importante 
inovação da Lei é a aplicação das Medidas Protetivas de Urgência (art. 18 
ao art. 24 da Lei 11.340/06). São medidas que dão mais efetividade a nova 
norma e maior segurança a mulher, vítima da violência doméstica e familiar, 
ao denunciar seu agressor. O juiz poderá conceder, de oficio ou a 
requerimento, no prazo de 48h, tais medidas (suspensão do porte de armas 
do agressor, seu afastamento do lar, distanciamento da vítima, entre 
outras), dependendo da situação33 
Na mesma esteira Pacheco afirma, ao salientar a relevância da criação de um 
Juizado de Violência Domestica e Familiar contra a Mulher: 
A especialização é importante, pois, possibilita que a repetição das causas 
gere especial sensibilidade aos operadores do direito quanto ao problema 
da violência doméstica, possibilitando ações estatais mais eficientes. No 
Distrito Federal, o TJDFT editou a Resolução n. 07/2006, criando uma Vara 
de Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher na 
 
32 OEA. Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Relatório n. 054/01 (Caso Maria da Penha 
Maia Fernandes), item 61.4, alíneas "b" e "c". Disponível em: 
http://www.cidh.org/annualrep/2000port/12051.htm. Acesso em: 30 jul. 2007. 
33 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, p.618. 
 27
Circunscrição Especial Judiciária de Brasília e estabelecendo que nas 
demais circunscrições a competência desta vara será exercida pelo Juizado 
Especial Criminal respectivo. Certamente há que se atentar para que a 
efetividade da Lei n. 11.340/06 não fique comprometida com a antiga 
mentalidade dos Juizados Especiais Criminais, aproveitando-se as 
experiências positivas de acompanhamento multidisciplinar nestes Juizados 
e afastando-se a "cultura do arquivamento" e da minimalização da violência, 
tendo-se efetivamente uma postura ativa do Estado para resolução deste 
problema social da violência doméstica contra a mulher 
Jose Afonso da Silva34 ressalta a diferença que a própria Constituição confere 
ao tratamento distinto a homens e mulheres. E mais outorga proteção ao mercado 
de trabalho feminino, mediante incentivos específicos (CF, art. 7º, XX) e 
aposentadoria aos 60 anos, enquanto para os homens a idade limite é de 65 (CF, 
art. 202). Salienta- se que, acentuando a diferença, far-se-á o caminho para eliminá-
la. 
Nesse sentido, o imperativo das leis de cotas, quer para asseverar a 
participação das mulheres na política, quer para garantir o ingresso de negros no 
ensino superior. Nada mais do que mecanismos para dar efetividade à determinação 
constitucional da igualdade. Além disso,não é outro motivo que leva à instituição de 
microssistemas protetivos ao consumidor, ao idoso, à criança e ao adolescente. 
Assim sendo, nem a obediência estrita ao preceito isonômico constitucional admite 
questionar a indispensabilidade da Lei n. 11.340/06, que cria mecanismos para 
oprimir a violência doméstica. 
Salienta-se ainda, que a Lei Maria da Penha veio consentir compromissos 
assumidos pelo Brasil ao subscrever Tratados Internacionais que impõem a edição 
de leis visando afiançar proteção à mulher. 
A violência doméstica é a chaga maior da nossa sociedade e berço de toda a 
violência que toma conta da nossa sociedade. Os filhos repetem as posturas que 
vivenciam no interior de seus lares. 
Assim demagógico, para não dizer cruel, é o questionamento que vem sendo 
feito sobre a constitucionalidade de uma lei afirmativa que tenta amenizar o 
desequilíbrio que ainda, e infelizmente, existe nas relações familiares, em 
decorrência de questões de ordem cultural. De todo descabido imaginar que, com a 
inserção constitucional do princípio isonômico, houve uma transformação mágica. É 
ingênuo acreditar que basta proclamar a igualdade para acabar com o desequilíbrio 
 
34 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 327. 
 28
nas relações de gênero. Extraordinário pretender eliminar as diferenças tomando o 
modelo masculino como paradigma. 
A Lei Maria da Penha ao ampliar o conceito de família no ordenamento 
jurídico brasileiro ao incluir as relações homoafetivas no âmbito de sua aplicação, 
conforme exposto no art. 5°, parágrafo único de seu texto. Desse modo, a mulher 
que estabelece relação homossexual poderá denunciar a sua parceira pelas 
infrações abrangidas pela norma. Verifica-se, nesse caso, que pode ser sujeito ativo, 
não somente o homem, mas a mulher agressora. 
Nesse sentido, por questões de analogia e comparação é que vários juristas 
tem entendido a extensão da aplicabilidade em casos de homoafetividade, conforme 
é o posicionamento de Cunha e Pinto 
Notável a inovação trazida pela lei neste dispositivo legal, ao prever que a 
proteção à mulher, contra a violência, independe da orientação sexual dos 
envolvidos. Vale dizer, em outras palavras, que também a mulher 
homossexual, quando vítima de ataque perpetrado pela sua parceira, no 
âmbito da família – cujo conceito foi nitidamente ampliado pelo inciso II, 
deste artigo, para incluir também as relações homoafetivas – encontra-se 
sob a proteção do diploma legal em estudo. 35: 
Entre outros, assim também entende Dias: 
No momento em que é afirmado que está sob o abrigo da lei a mulher, sem 
se distinguir sua orientação sexual, alcançam-se tanto lésbicas como 
travestis, transexuais e transgêneros que mantêm relação íntima de afeto 
em ambiente familiar ou de convívio. Em todos esses relacionamentos, as 
situações de violência contra o gênero feminino justificam especial proteção. 
36 
Nesse contexto, analisa-se, que as formas de violência doméstica foram 
estendidas pela nova norma, sendo que, além da violência física e psicológica, foi 
incluída a violência sexual, patrimonial e moral. Determina, ainda, que nos casos de 
Ação Penal Condicionada a representação da mulher, esta somente poderá 
renunciar a denúncia perante a autoridade judiciária conforme dispõe art. 16 da lei 
11.340/06. Assim, dificulta-se que ela desista da ação porque está sendo ameaçada 
ou por pena do agressor. Dessa forma, o combate à violência doméstica e familiar 
ganhou mecanismos verdadeiramente mais eficazes, através da Lei Maria da Penha. 
 
35 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência doméstica: lei Maria da Penha (Lei 
11340/2006) comentada artigo por artigo, p.176. 
36 DIAS, op. cit. p. 196/197. 
 
 29
Assim ao saber que não haverá impunidade, a vítima se sentirá mais segura e 
amparada, estando mais protegida de novas agressões por parte de seu agressor.37 
 
 
 
37 ANDRADE, Maísa Sá de; FIGUEIREDO NETO, Manoel Valente - Considerações sobre a 
constitucionalidade da Lei Maria da Penha (Lei N° 11.340/2006) - Disponível em http://www.ambito-
juridico.com.br - Acesso em abr.2009 
 30
 
 
 
4 - Da Constitucionalidade da Lei Maria da Penha 
 
 
Enfatiza-se no Brasil, a ocorrência de altos índices de violência doméstica e 
familiar cometidos especialmente contra a mulher, determinado a grande importância 
da lei Maria da Penha. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde 
(OMS), divulgados pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres - órgão 
criado pelo Governo Federal para a proteção e garantia dos direitos femininos - uma 
a cada seis mulheres no mundo aturam violência doméstica. Ainda, de acordo com a 
pesquisa, até 60% dos casos de violência física foram empreendidos por maridos ou 
companheiros. Sobre o assunto, dos dados fornecidos pela OMS ,observa-se o que 
diz Dias 
Ainda que tais dados sejam surpreendentes, é preciso atentar que esses 
números não retratam a realidade, pois a violência é subnotificada, somente 
10% das agressões sofridas por mulheres são levadas ao conhecimento da 
polícia. É difícil denunciar alguém que reside sob o mesmo teto, pessoa com 
quem se tem um vinculo afetivo e filhos em comuns e que, não raro, é 
responsável pela subsistência da família. 38 
Inobstante isso, Andrade39, salienta que a lei não necessita deixar de existir, 
mas enquanto beneficiar apenas a mulher ela será inconstitucional. Entende que, o 
gênero “mulher” previsto na nova legislação, necessita ser alterado para uma 
palavra comum de dois gêneros, por exemplo, “cônjuge” ou “cohabitante” para que o 
homem ainda possa ser favorecido pela norma. 
Diante esse entendimento, a batalha a ser enfrentada pelas mulheres tem 
como escopo a incorporação e aceitação da nova norma pela sociedade brasileira. 
Esclarece, ainda, que por meio de uma decisão do Supremo Tribunal Federal que 
declare ser a nova lei constitucional estará absolutamente decidida esta controvérsia 
e os Tribunais e juízos de primeiro grau não poderão mais deixar de aplicá-la. 
Nesse sentido, o Presidente da República, representado pelo Advogado-geral 
da União, ajuizou, perante o Supremo Tribunal Federal, Ação Declaratória de 
Constitucionalidade, ADC n°19. 
 
38 DIAS, op. cit. p. 196/197. 
39 ANDRADE, ibidem. 
 31
Sendo assim, Maria Berenice Dias40 salienta que apesar da lei citar em seu 
texto o termo “mulher”, não se demarcando sua orientação sexual, interpretar-se-á 
que são alcançadas pela aludida lei, as lésbicas, os travestis, transexuais e os 
transgêneros que alimentem relações íntimas de afeto em ambiente familiar ou de 
convívio. 
Em todos esses relacionamentos, as situações de violência contra o gênero 
feminino abonam especial proteção. Assim, a lei não se limita a prevenir a violência 
doméstica contra a mulher independentemente de sua identidade sexual. Sua 
abrangência tem extensão muito maior. Como a proteção é garantida a fatos que 
ocorrem no ambiente doméstico, isso quer dizer que as uniões de pessoas do 
mesmo sexo são entidade familiar. Violência doméstica, como diz o próprio nome, é 
a violência que advém do seio de uma família. 
Diante do procedimento legal, é imperioso reconhecer que as uniões 
homoafetivas constituem uma unidade doméstica, não importando o sexo dos 
parceiros. Quer as uniões aperfeiçoadas por um homem e uma mulher, quer as 
formadas por duas mulheres, quer as formadas por um homem e uma pessoa com 
distinta identidade de gênero, todas conformam entidade familiar. Ainda que a lei 
tenha por desígnio proteger a mulher, fato é que aumentou o conceito de família, 
independentemente do sexo dos parceiros. 
Deste modo, Maria Berenice Dias41 afirma que como já advertido o 
entendimento por analogia,nesse sentido, entende que família é a união entre duas 
mulheres, também é família a união entre dois homens. Basta atentar para o 
princípio da igualdade. Enfatiza- se que a partir da nova definição de entidade 
familiar, não mais cabe examinar a natureza da vinculação formada por pessoas do 
mesmo sexo. Ninguém pode permanecer sustentando que, em face da omissão 
legislativa, não é admissível emprestar-lhes efeitos jurídicos. 
O avanço é expressivo, conforme Maria Berenice, pondo um ponto final à 
discussão que entretém a doutrina e divide os tribunais. Sequer sociedade de fato 
cabe permanecer falando, subterfúgio que tem conotação abertamente 
 
40 DIAS, Maria Berenice. Violência doméstica e as uniões homoafetivas Jus Navigandi, Teresina, ano 
10, n. 1185, 29 set. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8985>. Acesso 
em: 18 jun. 2009. 
41 DIAS, Maria Berenice. Violência doméstica e as uniões homoafetivas. encontrado em 
http://jus2.uol.com.br - Acesso em abr. 2009. 
 32
preconceituosa, pois nega o artifício de natureza sexual e afetiva dos vínculos 
homossexuais. Assim sendo, tais uniões eram relegadas ao âmbito do Direito das 
Obrigações, sendo vistas como um negócio com fins lucrativos. No final da 
sociedade, derivava- se à divisão de lucros mediante a prova da participação de 
cada parceiro na formação do patrimônio amealhado durante o período de convívio. 
Como sócios não compõem uma família, as uniões homoafetivas acabavam 
abandonadas do âmbito do Direito de Família e do Direito das Sucessões. Esta era a 
tendência majoritária da jurisprudência, pois acanhado é o número de decisões que 
reconheciam tais uniões como estáveis. Em sentido contrário, tem-se que a potência 
da nova lei é imediata, passando as uniões homossexuais a merecer a especial 
proteção do Estado. 
Em virtude da normatização produzir seus efeitos, não existe razão para a 
tramitação de projetos para definir as relações no âmbito familiar. Esses projetos 
perderam o objeto uma vez que já há lei conceituando como entidade familiar, ditas 
relações, não importando a orientação sexual de seus partícipes. No momento em 
que as uniões de pessoas do mesmo sexo estão sob a tutela da lei que visa a 
combater a violência doméstica, há que observar serem reconhecidas como uma 
família, estando sob a égide do Direito de Família. Não mais podem ser 
reconhecidas como sociedades de fato, sob pena de se estar negando vigência à lei 
federal. 
Por conseguinte, as demandas não precisam continuar tramitando nas varas 
cíveis, atribuindo- se sua distribuição às varas de família. Nesse caso a nova 
definição do conceito família, mesmo entre pessoas do mesmo sexo, não existe 
razão para ser banido do âmbito da proteção jurídica, porque suas desavenças 
ainda serão reconhecidas como violência doméstica. 
Corroborando, Dias ressalta: 
A Lei nº 11.340 – chamada Lei Maria da Penha -, que cria mecanismos para 
coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Com isso 
atende o Brasil à recomendação da Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos da Organização dos Estados Americanos. A partir da Emenda 
Constitucional nº 45 – que acrescentou o § 3º ao art. 5º da Constituição 
Federal –, foi conferido status constitucional aos tratados e convenções 
internacionais sobre direitos humanos que forem devidamente aprovados 
pelo Congresso Nacional. Justifica-se assim a expressa referência, na 
ementa da Lei, à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
 33
Discriminação contra a Mulher e à Convenção Interamericana para Prevenir, 
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. 42 
Importante salientar que na anotação do artigo 27 da Lei 11.340/2006, 
proposta por Cunha43, as medidas analisadas de urgência podem ser outorgadas de 
ofício ou diante da provocação do Ministério Público ou ofendida, abstraindo da 
presença de advogado. Para o referido autor, a urgência da circunstância viabiliza, 
até mesmo, a manifestação pessoal da vítima diante do magistrado. 
Assevera- se também a constitucionalidade da Lei Maria da Penha, ao qual, 
pela sua composição e clareza, elucida a questão: 
Nesse contexto, a Lei Maria da Penha é um exemplo de ação afirmativa. 
Implementada no Brasil para a tutela do gênero feminino, justifica-se pela 
situação de vulnerabilidade e hipossuficiência em que se encontram as 
mulheres vítimas da violência doméstica e familiar44. 
Porto, por sua vez, aduz: 
No artigo 22 da Lei 11.340/2006 estão elencadas como medidas voltadas 
ao sujeito ativo da violência doméstica: a suspensão da posse ou restrição 
do porte de armas, com comunicação ao órgão competente; o afastamento 
do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; a proibição de 
condutas como a aproximação da família e o contato com a ofendida; 
restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores e a prestação 
de alimentos provisionais ou provisórios. 45 
Por sua vez, Lôbo46 ressalta que a Lei Maria da Penha está uma etapa 
normativa à frente do Direito Civil visto que ao tratar da violência familiar no art. 5º 
aceita o reconhecimento da entidade familiar entre mulheres. Conforme esses 
doutrinadores afirmam, a enumeração constitucional é puramente exemplificativa e, 
mais mesmo antes desta Lei não se consentia eliminar qualquer entidade familiar 
que preenchesse os requisitos da afetividade, estabilidade e ostensividade. Sendo 
assim, os relacionamentos homoafetivos pautados pelo afeto, têm direito à devida 
proteção e reconhecimento previstos na Carta Magna de 1988. 
 
42 DIAS, Maria Berenice. A violência doméstica na Justiça Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1178, 
22 set. 2006. 
43 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência doméstica: lei Maria da Penha 
(Lei 11340/2006) comentada artigo por artigo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p.176. 
44 BARBOSA, Andressa Wanderley de Gusmão; CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias, 
publicado no site JUS NAVIGANDI, n. 1.497, de 07/08/2007. 
45 PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência Doméstica e familiar contra a mulher: lei 11.340/06, 
análise crítica e sistêmica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 
46 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Identidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus 
clausus. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMÍLIA, Belo Horizonte, 3, 2002. Anais... 
Belo Horizonte: [s. n.], 2002. DIAS, Maria Berenice. Bem vinda, Maria da Penha! Consulex: revista 
jurídica, Brasília, v. 10, n. 231, ago. 2006. p. 66. 
 34
Enfatiza- se que por força deste conceito legal e mesmo com base no que 
dispõe o parágrafo único do art. 5º da Lei Maria da Penha, foi adotada como uma 
classe de entidade familiar a união homoafetiva. Verdadeiramente não existe mais 
precisão da aprovação de um projeto que venha disciplinar essa matéria. 
 Entretanto, faz-se imperioso uma regulamentação acerca dos direitos e 
deveres de pessoas do mesmo sexo que vive como entidade familiar, bem como o 
procedimento legal que carece ser adotado para dirimir futuros litígios. 
É imprescindível reconhecer que as uniões homoafetivas compõem uma 
unidade doméstica. Ainda que a Lei tenha protegido só a mulher, reconhece-se a 
ampliação do conceito de família, independentemente do sexo dos parceiros. Com 
base no princípio constitucional da igualdade, deve ser extensiva ao 
homossexualismo masculino. 
 
 
4.1 - Lei Maria da Penha e as Relações Homoafetivas 
 
As uniões homoafetivas não eram alcançadas pelas normas jurídicas no 
âmbito de casos de família e sim na esfera de sociedade de fato, porém, com o 
advento da Lei Maria da Penha, da Lei Federal n° 11.340, que entrou em vigor em 
agosto de 2006, houve mudanças no conceito de entidade familiar e a partir de 
então, as relações homoafetivas são tratadas pela jurisdição como casos de família, 
surtindo todosos efeitos, inclusive referente à violência doméstica. 
Essa lei criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e 
familiar contra a mulher. Vale dizer que, não só regulamentou a violência no âmbito 
doméstico como trouxe uma carga ideológica inovadora, permitindo uma 
interpretação de reconhecimento da entidade familiar entre pessoas do mesmo sexo, 
como citado no artigo 5° da Lei 11.340/06 
Com efeito, o referido dispositivo legal abriu a possibilidade de 
reconhecimento legal de uma família constituída por um casal homossexual. Assim 
as uniões homoafetivas são formadas por vontade anunciada, o que as abarca na 
previsão legal supracitada. Não distinguir tal possibilidade de aplicabilidade, 
 35
desvirtuaria uma mulher vítima de violência familiar pela sua parceira ao ficar sem a 
prestação da tutela jurisdicional. 
E mais, nos termos do art. 5º, III, expressa que as uniões homoafetivas, entre 
mulheres, também estão englobadas pela referida lei. Nesse caso, ocorre que a 
união homoafetiva também se caracteriza como uma relação íntima de afeto. 
Ademais, para que não restassem dúvidas, o parágrafo único do art. 5º assegura 
que “as relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação 
sexual”. Deste modo, o legislador tirou qualquer probabilidade de interpretação 
diferente daquela procurada. E mais, existe precisão de lei constitucional que crie 
um instituto dentro ou fora do Direito de Família para conceder segurança jurídica, 
sob a concepção no regime de bens, na sucessão ou nos alimentos.47 
Ressalta anotar que, nessa seara, o administrador andou à frente do 
legislador ao reconhecer o direito ao homossexual em receber indenização 
decorrente de morte no trânsito. Com efeito, dispõe a circular 257, de 21 de junho de 
2004, da superintendência de Seguros Privados (órgão do Ministério da Fazenda): 
(...) o companheiro ou companheira homossexual fica equiparado a 
companheiro ou companheira heterossexual na condição de 
dependente preferencial da mesma classe, com direito a percepção 
da indenização referente ao seguro DPVAT, em caso de morte do 
outro (...) (art. 1º). 
Vale ressaltar que, nesse mesmo posicionamento, o importante julgado do 
Supremo Tribunal Federal, no qual foi relator o Ministro Celso de Mello, assim se 
posicionando: 
O convívio de pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferentes, ligadas por 
laços afetivos, sem conotação sexual, cabe ser reconhecida como entidade 
familiar. Presentes os requisitos de vida em comum, coabitação, mútua 
assistência, é de se concederem os mesmos direitos e se imporem iguais 
obrigações a todos os vínculos de afeto que tenham idêntica características 
Segundo Rousinesco48, a união de indivíduos do mesmo sexo tem auferido 
certa proteção, na medida em que se oferece com os requisitos de uma união 
estável. Entretanto, essa proteção acontece de uma construção jurisprudencial e 
doutrinária, que flexibilizaram ainda mais o julgamento de família, para compreender 
os casais homossexuais com ou sem filhos. 
 
47 Uniões Homoafetivas e a Lei Maria Da Penha – encontrado em www.nalei.com.br - acesso em 
abril.2009 
48 ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem, p.198. 
 36
Salienta- se que no Brasil, essa questão não havia sido afrontada pela via 
legislativa, tanto que a doutrina moderna lamentou o fato do Código Civil de 2002 
não ter disciplinado a união homoafetiva. 
Nesse contexto, a Lei Maria da Penha apresenta um avanço em relação ao 
Direito Civil legislado e em consonância com a atual discussão doutrinária e 
jurisprudencial. Isso porque o seu art. 5º domina uma carga ideológica inovadora, 
por permitir uma interpretação de reconhecimento da entidade familiar entre pessoas 
do mesmo sexo. 
Vale lembrar que, a própria Lei Maria da Penha não deixa equívoco de que é 
possível ponderar a união homoafetiva como entidade familiar. Ressalte-se que, 
apesar de tratar apena do homossexualismo feminino, é óbvio que, com base no 
princípio constitucional da igualdade, essa regra igualmente necessita ser aplicada 
ao homossexualismo masculino. 
O homossexualismo sempre existiu, porém, segundo Castells,49 foi apenas 
nas três ultimas décadas que os movimentos sociais em defesa dos direitos dos 
homossexuais e da afirmação da liberdade sexual eclodiram, desafiando a estrutura 
tradicional do patriarcalismo. Esses movimentos, ainda segundo o mesmo autor, 
“põem em ação uma crítica corrosiva sobre o que é considerado sexualmente 
normal e sobre a família patriarcal”. 
Dessa forma, Dias50 assegura que a eficácia da nova lei é adjacente, 
passando as uniões homossexuais a ter direito a especial proteção do Estado. 
Sendo assim, em face da normatização levada a efeito, restam totalmente sem 
razão todos os projetos de lei que estão em tramitação e que apontam como 
regulamentar, a união civil, a parceria civil registrada, entre outros. Em assim sendo, 
a esses projetos submergiu o objeto uma vez que já existe lei conceituando como 
entidade familiar as relações homossexuais, não importando a orientação sexual de 
seus partícipes. 
Neste sentido, Oliveira assevera, pois: 
O parágrafo único do art. 5º da Lei Maria da Penha resguardou à mulher 
homossexual a proteção legal, ao definir que as relações pessoais nele 
 
49 CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Trad. de Klauss Brandini 
Gerhardt. Sao Paulo: Paz e Terra, 1999, 2v. 
50 DIAS, Maria Berenice. Violência doméstica e as uniões homoafetivas. Disponível na Internet: 
http://www.mundojuridico.adv.br. 
 37
enunciadas independem de orientação sexual. Tal norma trouxe um grande 
avanço na sociedade brasileira, na medida em que reconhece textualmente 
a união entre pessoas do mesmo sexo, questão ainda polêmica no 
ordenamento jurídico pátrio, mas já reconhecida por grande parte da 
jurisprudência. 51 
Alves, neste contexto assegura que, resta comprovado que a família deixou 
de ser uma entidade fechada e individualista para ser acentuada modernamente 
como uma comunidade de afeto e entre ajuda, local propício à realização da 
dignidade da pessoa humana e, por isso mesmo, distinguida como um ente voltado 
para o próprio homem, plural como ele mesmo é, democrática, aberta, multifacetária, 
não discriminatória, natural e verdadeira. 
Por conseqüência, os modelos de família são sempre recomendados pela 
Constituição e nunca impostos pelo ordenamento jurídico, conforme dispunha 
Código Civil de 1916. Não oponente a consolidação deste conceito moderno sobre a 
família, certo é que, no plano infraconstitucional, não havia o reconhecimento 
expresso, o que, muitas vezes, originava insegurança aos magistrados no 
julgamento dos casos concretos, especialmente nas lides abarcando uniões 
homoafetivas, pelo não reconhecimento de outro tipo de entidade familiar. 
Alves, sobre o assunto, enfatiza: 
Em definitivo, tem-se como assente o entendimento de que a entidade 
familiar ultrapassa os limites da previsão jurídica (casamento, união estável 
e família monoparental) para abarcar todo e qualquer agrupamento de 
pessoas onde permeie o elemento afeto (affectio familiae). Por conta disso, 
o ordenamento jurídico deverá sempre reconhecer como família todo e 
qualquer grupo no qual os seus membros enxergam uns aos outros como 
seu familiar. 52 
Enfatizando Dias expõe: 
Diante da expressão legal, é imperioso reconhecer que as uniões 
homoafetivas constituem uma unidade doméstica, não importando o sexo 
dos parceiros. Quer as uniões formadas por um homem e uma mulher, quer 
as formadas por duas mulheres, quer as formadas por um homem e uma 
pessoa com distinta identidade de gênero, todas configuram entidade 
familiar. Ainda que a lei tenha por finalidade proteger a mulher, fato é que 
ampliou o conceito de família, independentemente do sexo dos parceiros. 
Se também família é a uniãoentre duas mulheres, igualmente é família a 
união entre dois homens. Basta invocar o princípio da igualdade. A partir da 
nova definição de entidade familiar, não mais cabe questionar a natureza 
 
51 OLIVEIRA, Fábio Dantas de. Uma breve análise da Lei Maria da Penha . Jus Navigandi, Teresina, 
ano 13, n. 2053, 13 fev. 2009. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12330>. 
Acesso em: 26 mar. 2009. 
52 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 
5º, II e parágrafo único, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, 
n. 1225, 8 nov. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9138>. Acesso em: 
26 mar. 2009. 
 38
dos vínculos formados por pessoas do mesmo sexo. Ninguém pode 
continuar sustentando que, em face da omissão legislativa, não é possível 
emprestar-lhes efeitos jurídicos (...).Diante da definição de entidade familiar, 
não mais se justifica que o amor entre iguais seja banido do âmbito da 
proteção jurídica, visto que suas desavenças são reconhecidas como 
violência doméstica. 53 
Nesse sentido Rabelo e Saraiva afiançam que, o reconhecimento legal da 
família formada por vontade promulgada pode ser apostilado no sentido de se 
abarcar nessa modalidade um casal homossexual, no caso, constituído por 
mulheres. 
Assim: 
Acerca da situação até então vigente, com a exclusão legal de 
reconhecimento da união homoafetiva entre mulheres, “são elas, portanto, 
cônjuges ‘autoconsiderados’, porque, perante si mesmos e perante a 
sociedade, mas à margem da lei, ambas têm um vínculo íntimo sólido, com 
envolvimento sexual e afetivo tal qual um casal heterossexual. Além disso, 
mesmo que o Direito não as reconheça como tal, elas o fazem, mediante 
ato voluntário de manifestação de vontade.
 54
 
O relato demonstra a existência da manifestação de vontade expressa na 
constituição da relação homoafetiva feminina. Dessa forma, os casais homossexuais 
conjugam o mesmo afeto, os mesmos planos comuns, as mesmas vontades e os 
mesmos interesses que o fariam um casal heterossexual. 
Constata-se, portanto, que as uniões homoafetivas são constituídas por 
vontade expressa, o que as inclui na previsão legal retro citada [sic]. Inclusive, 
admitir de forma contrária poderia levar ao absurdo da hipocrisia, pois uma mulher 
vítima de violência familiar pela sua parceira não poderia obter a proteção legal. 
 
 
53 DIAS, Maria Berenice. Violência doméstica e as uniões homoafetivas, in JusNavigandi, Teresina, 
ano 10, n. 1185, 29 set. 2006, 
54 RABELO, Iglesias Fernanda de Azevedo; SARAIVA, Rodrigo Viana. A Lei Maria da Penha e o 
reconhecimento legal da evolução do conceito de família. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1.170, 14 
set. 2006. 
 39
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Pode- se evidenciar que as uniões homoafetivas é uma realidade lícita e 
referem-se à vida privada de cada um, devendo esse direito ser acatado. Desse 
modo a função do Estado e do Direito, é o de respeitar a diferença, provocar a 
tolerância e contribuir para a superação do preconceito e da discriminação. 
Restou claro ainda que, a maior aversão em acolher a união homoafetiva 
sendo entidade familiar, está baseada, muitas vezes, em fundamentos 
preconceituosos. Destaca-se neste sentido que tal como a união estável, a união 
homoafetiva existiu, existe e sempre existirá. Não há como ignorá-la, de modo que 
urge uma regulamentação legal. 
Pode- se ressaltar que o respeito e a lealdade igualmente estão presentes 
nessas uniões, e de outro lado a promiscuidade, libertinagem e depravação também 
podem existir nas relações heterossexuais. A grande maioria das características 
existentes em entidades familiares também está presente nas relações 
homoafetivas. 
A ausência de lei não quer dizer ausência de direito, nem se impede que se 
extraiam efeitos jurídicos de determinada situação fática. A falta de previsão 
específica, não pode servir de justificativa para negar a existência do direito a quem 
é merecedor. 
Esse contexto teve avanços com o advento da Lei Maria da Penha que em 
seu parágrafo único do art. 5º concede à mulher homossexual o direito à proteção 
legal, ao definir que as relações pessoais nele enunciadas independem de 
orientação sexual. Tal norma ocasionou um grande avanço à sociedade brasileira. 
Deste modo, a Lei Maria da Penha proporciona um avanço em relação ao 
Direito Civil pátrio, em consonância com a atual discussão doutrinária e 
jurisprudencial. Isso porque o seu art. 5º contém uma carga ideológica inovadora, 
 40
por consentir uma interpretação de reconhecimento da entidade familiar entre 
pessoas do mesmo sexo. 
As uniões homoafetivas são reais necessitando de tutela jurídica, cabendo ao 
Judiciário a solução. Impossível que convicções subjetivas impeçam seu 
enfrentamento e vedem a proibição de efeitos, relegando à marginalidade 
determinadas relações sociais, uma vez que a função do Estado não é promover a 
moralidade partindo de opiniões populares, mas o direito de seus cidadãos. 
 
 
 41
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de 
família: o art. 5º, II e parágrafo único, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). 
Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1225, 8 nov. 2006. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9138>. Acesso em: 26 mar. 2009. 
ANDRADE, Maísa Sá de; FIGUEIREDO NETO ,Manoel Valente - Considerações 
sobre a constitucionalidade da Lei Maria da Penha (Lei N° 11.340/2006) - Disponível 
em http://www.ambito-juridico.com.br - Acesso em abr.2009 
BARBOSA, Andressa Wanderley de Gusmão; CAVALCANTI, Stela Valéria Soares 
de Farias, publicado no site JUS NAVIGANDI, n. 1.497, de 07/08/2007. 
BARROSO Luís Roberto - Diferentes, mas iguais: O reconhecimento Jurídico das 
Relações Homoafetivas no Brasil– encontrado em http://pfdc.pgr.mpf.gov.br – 
acesso abr. 2009. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 
Brasília, DF; Senado, 1988. 
CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Trad. de 
Klauss Brandini Gerhardt.2v. Sao Paulo: Paz e Terra, 1999. 
CAVALCANTI, Stela Valéria de Farias. Violência Doméstica Contra a Mulher. 
Análise da lei "Maria da Penha", n° 11.340/06. Bahia: Podivm, 2007. 
CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência doméstica: lei Maria 
da Penha (Lei 11340/2006) comentada artigo por artigo. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2007. 
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 
11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. 2. ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. 
__________________; União homossexual: o preconceito e a justiça. 2.ed. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2001. 
__________________; Manual de Direito das Famílias. 3ª ed. rev., atual. e ampl. 
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. pp. 196/197. 
 42
__________________; Violência doméstica e as uniões homoafetivas . encontrado 
em http://jus2.uol.com.br - Acesso em abr. 2009. 
ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princípios Constitucionais. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1999. 
FREITAS, Vladimir Passos, FREITAS, Dario Almeida Passos. Direito e administração 
da justiça. Curitiba: Juruá, 2006. 
FREITAS, Jayme Walmer de. IMPRESSÕES OBJETIVAS SOBRE A LEI DE 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, in Revista dos Tribunais n.o 864, ano 96, out. 2007, pp. 
431-445. 
GIRARDI, Viviane. Famílias contemporâneas, filiação e afeto. A possibilidade 
jurídica da adoção por homossexuais. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed., 2005. 
HESSE, Konrad. apud PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Apontamentos sobre a 
aplicação das 
Normas de direito fundamental nas relações jurídicas entre particulares. In: Barroso, 
Luís Roberto,

Continue navegando