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DIDÁTICA PARA CONCURSOS 
| Módulo Completo – Prof. Pedro Israel 
 
 
 
CURSO PRIME ALDEOTA – Rua Maria Tomásia, 22 – Aldeota – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208. 2222 
CURSO PRIME CENTRO – Av. do Imperador, 1068 – Centro – Fortaleza/CE – Fone: (85) 3208.2220 
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OS: 0187/11/17-Gil 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIDÁTICA 
PARA CONCURSOS 
 
MÓDULO COMPLETO 
 
 
Prof. Pedro Israel 
 
 
 
 
SEDUC-CE 
OS: 0187/11/17-Gil 
DIDÁTICA PARA CONCURSOS 
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OS: 0187/11/17-Gil 
CONCURSO: SEDUC – CE 
 
ÍNDICE: 
APRESENTAÇÃO.....................................................................................................................................02 
 
1. HISTÓRIA DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO.................................................................03 
1.1. Teoria da educação..........................................................................................................................................22 
1.2. As diferentes correntes do pensamento pedagógico brasileiro.....................................................................23 
1.3. Projeto político pedagógico.............................................................................................................................30 
 
2. A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM................................................................31 
2.1. Organização do processo didático: planejamento, estratégias e metodologias, avaliação...........................31 
2.2. A sala de aula como espaço de aprendizagem e interação.............................................................................35 
2.3. A didática como fundamento epistemológico do fazer docente....................................................................38 
 
3. PRINCIPAIS TEORIAS DA APRENDIZAGEM........................................................................................40 
3.1. Inatismo, comportamentalismo, behaviorismo, interacionismo, cognitivismo.............................................40 
3.2. As bases empíricas, metodológicas e epistemológicas das diversas teorias de aprendizagem.....................42 
3.3. Contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon para a psicologia e pedagogia..................................................46 
3.4. Teoria das inteligências múltiplas de Gardner................................................................................................50 
3.5. Psicologia do desenvolvimento: aspectos históricos e biopsicossociais........................................................51 
3.6. Temas contemporâneos: bullying, o papel da escola, a escolha da profissão, transtornos alimentares na 
adolescência, família, escolhas sexuais..................................................................................................................52 
 
4. EXERCÍCIOS........................................................................................................................................71 
 
 
Fanpage: www.facebook.com/profpedroisrael 
Email: prof.pedroisrael@gmail.com 
 
 
APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR 
 
É Mestre em Ética e Filosofia Política pelo Programa de Pós-
Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Ceará. 
Possui Licenciatura Plena em Filosofia pela mesma Universi-
dade, com ênfase e especialização em Filosofia da Educação. 
É bacharel em Geografia pela Universidade Estadual do 
Ceará e Professor Universitário de uma importante Univer-
sidade em Fortaleza. Atua como membro integrante da 
Coordenação do Comitê Estadual de Educação em Direitos 
Humanos do Estado do Ceará, estando este por sua vez 
vinculado a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas dos 
Direitos Humanos, órgão subordinado ao Gabinete do Go-
vernador do Estado do Ceará. 
 
_________________________________________________ 
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA 
Esta apostila foi escrita/construída/elaborada com o 
intuito de fornecer um suporte bibliográfico básico aos alu-
nos da disciplina de Didática, não tendo, no entanto, à pre-
tensão de substituir os livros indicados, que são mais pro-
fundos e mais ricos em detalhes. 
Nosso intuito, dessa maneira, será o de propiciar aos 
alunos/professores, que estão se preparando para o Con-
curso da SEDUC-CE, notas de aula idênticas às que serão 
apresentadas durante o curso presencial/online. 
É evidente, no entanto, que, durante as aulas, sempre 
haverá, a bem da verdade, espaço para a implementação de 
temas e exercícios que não constam neste material, em 
decorrência da dinâmica e da fluidez que a própria disciplina 
assume em seu decurso. 
Prof. Pedro Israel 
 
prof.pedroisrael@gmail.com 
www.facebook.com/profpedroisrael 
 
 
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A ARTE DE EDUCAR 
Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador 
diz: “Veja!” e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção 
apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele 
fica mais rico interiormente… E ficando mais rico interior-
mente ele pode sentir mais alegria – que é a razão pela qual 
vivemos. Já li muitos livros sobre Psicologia da Educação, 
Sociologia da Educação, Filosofia da Educação… Mas, por 
mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer 
referência à Educação do Olhar. Ou à importância do olhar 
na educação, em qualquer um deles. 
A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver… É 
através dos olhos que as crianças tomam contato com a 
beleza e o fascínio do mundo… Os olhos tem de ser educa-
dos para que nossa alegria aumente. A educação se divide 
em duas partes: Educação das Habilidades e Educação das 
Sensibilidades. Sem a Educação das Sensibilidades, todas as 
habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos 
dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver. 
Quero ensinar às crianças. Elas ainda tem olhos encantados. 
Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os 
gregos, era o início do pensamento: a capacidade de se 
assombrar diante do banal. 
Para as crianças tudo é espantoso: um ovo, uma 
minhoca, uma concha de caramujo, o voo dos urubus, os 
pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. 
Coisas que os eruditos não veem. Na escola eu aprendi 
complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes 
latinos – mas esqueci. E nenhum professor jamais chamou a 
minha atenção para a beleza de uma árvore… Ou para o 
curioso das simetrias das folhas. Parece que naquele tempo 
as escolas estavam mais preocupadas em fazer com que os 
alunos decorassem palavras que com a realidade para a qual 
elas apontam. As palavras só tem sentido se nos ajudam a 
ver o mundo melhor. 
Aprendemos palavras para melhorar os olhos. Há 
muitas pessoas de visão perfeita que nada veem… O ato de 
ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Quando a 
gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo e o mun-
do aparece refletido dentro da gente. São as crianças que, 
sem falar, nos ensinam as razões para viver. Elas não têm 
saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da 
vida. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e 
não se torna como criança, jamais será sábio. 
 
Rubem Alves 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO 
BRASILEIRO 
 
A história da educação formal no Brasil, apresenta-
da pelas instituições escolares, se dá no período da coloni-
zação do país pelos portugueses e consequentemente com a 
chegadada Companhia de Jesus (1534), uma grande ordem 
religiosa da Igreja Católica que chegou ao Brasil em 1549. 
 Período Jesuítico (1549-1759) 
 
A Companhia de Jesus foi formada por padres que 
seguiam uma rígida disciplina militar, com a principal missão 
de combater os infiéis e a Reforma Protestante de Martinho 
Lutero. Nas palavras de Paiva e Puentes (2000, p. 2), ratifica-
se esta informação: 
A criação da Companhia de Jesus (em 1539) foi fruto do 
amplo movimento que gerou profundas transformações na 
Igreja Católica nos inícios do século XVI, resultado, de um 
lado, dos contínuos esforços de rejuvenescimento e de reor-
ganização a que historicamente esteve submetida; de outro, 
como consequência das imensas pressões exercidas pela 
Reforma Protestante, no bojo de mudanças políticas, eco-
nômicas, sociais e culturais que atravessavam a Europa. 
Os padres jesuítas tinham sólida formação cultural 
e estavam dispostos a todo e qualquer sacrifício para defen-
der os princípios cristãos. A Companhia nasceu para disse-
minar informações católicas por todas as regiões do mundo, 
principalmente aquelas mais distantes. 
Surgiu por volta de 1534, na capela-cripta de Saint-
Denis, na Igreja de Santa Maria, em Montmartre, no contex-
to da Reforma Católica (ou Contrarreforma) por um grupo 
de estudantes da Universidade de Paris e liderada pelo cava-
leiro espanhol Ignácio de Loyola, porém foi oficializada pelo 
papa somente em 1540. Sua atuação foi tão marcante que o 
consagrou como patriarca dos trabalhos jesuítas e ainda na 
atualidade é homenageado com seu nome nos centros edu-
cacionais jesuítas, chamados Centros Loyola, com sede em 
alguns estados brasileiros, como Goiás, Minas Gerais e Rio 
de Janeiro. 
 
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Em 1549, com o apoio do primeiro governador-
geral, Tomé de Souza, a Companhia de Jesus chegou às 
terras brasileiras, especificamente à Bahia, com os primeiros 
padres jesuítas, os chamados verdadeiros soldados de Cris-
to; entre eles destacavam-se os padres Manoel da Nóbrega, 
José de Anchieta e Antônio Vieira, subordinados a um regi-
me de privações que os preparava para viver em locais dis-
tantes e se adaptar às mais adversas condições. 
 
“Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu”, por Benedito Calixto 
(1927). Acervo do Museu do Ipiranga. 
 
Tinham como objetivo catequizar e converter os 
nativos habitantes do novo mundo à religião católica. Os 
nativos: 
Não tinham as letras ‘F, nem L, nem R’, não possuindo ‘Fé, 
nem Lei, nem Rei’, vivendo ‘desordenadamente’. Essa supo-
sição de uma ausência linguística e de ‘ordem’ revela, um 
tanto avant la lettre, o ideal de colonização trazido pelas 
autoridades portuguesas: superar a ‘desordem’, fazendo 
obedecer a um Rei, difundindo uma Fé e fixando uma Lei 
(Gandova, apud Villalta, 2002, p. 332). 
Além disso, os padres jesuítas exerceram forte in-
fluência na sociedade, principalmente burguesa. Eles intro-
duziram, no período colonial, uma concepção de educação 
que contribuiu para o fortalecimento das estruturas de 
poder hierarquizadas e de privilégios para um pequeno 
grupo. Incutiram a ideia de exploração de uma classe sobre 
a outra e a escravidão como caminho normal e necessário 
para o desenvolvimento. A educação tinha o papel de ajudar 
a perpetuar as desigualdades entre as classes sociais. 
Logo que chegaram ao Brasil, os padres jesuítas 
lançaram as bases da catequização, com a criação das pri-
meiras casas, as casas de bê-á-bá, dando início à educação 
colonial em seu sentido restrito, por meio da atuação com 
suas escolas de ler, escrever e contar e, posteriormente, em 
seus colégios na cidade de Salvador (Menardi, 2010, p. 159): 
Estas casas, ou residências ou ainda recolhimentos, recebi-
am os meninos índios para serem catequizados e instruídos 
e se destinavam também a abrigar os padres aqui na colô-
nia, bem como os órfãos vindos de Portugal e os da terra, a 
fim de lhes dar assistência e formação religiosa. […] A vinda 
de órfãos de Portugal contribuiu grandemente como um 
motivador a mais para a já necessária construção de casas 
(residências ou recolhimento) e representou um reforço na 
conversão dos índios, uma vez que os jesuítas utilizaram 
como estratégia de catequese e instrução os órfãos para 
atrair os meninos índios. 
Assim marca-se o processo de criação de escolas 
elementares, secundárias, seminários e missões espalhados 
pelo Brasil. Desse modo, trataram de organizar o sistema 
educativo, pois eles viam a educação como ferramenta de 
domínio religioso e difusão da cultura europeia nas terras 
indígenas. “Foram se infiltrando aos poucos nas aldeias, 
levando os fundamentos de uma educação religiosa dedica-
da à propagação da fé e do trabalho educativo” (Azevedo, 
1976, p. 10). 
Nesse contexto, instruíam-se os nativos, sobretudo 
os jovens e crianças, por entenderem que estes eram mais 
suscetíveis aos valores cristãos que seriam ensinados. A 
instrução era feita por meio do estudo da leitura, da apre-
sentação e da interpretação da palavra divina, pois assim se 
poderia compreender melhor o mundo supostamente des-
conhecido pelos nativos. Os jesuítas perceberam que não 
seria possível converter os índios à fé católica sem que sou-
bessem ler e escrever. Desse modo, os nativos poderiam de 
fato ser inseridos ao mundo cristão (Azevedo, 1978). Para 
Aranha (1996), essa ação ajuda a haver um choque entre os 
valores pregados pela cultura nativa e os do colonizador. 
O sociólogo Gilberto Freire, na obra Casa-grande e senzala, 
diz que os primeiros missionários substituem as ‘cantigas 
lascivas’, entoadas pelos índios, por hinos à Virgem e cantos 
devotos. Não raro os padres ridicularizam a figura do pajé e 
os ensinamentos da tribo e condenam a poligamia, pregan-
do a forma cristã de casamento, e dessa maneira começam 
a abalar o sistema comunal primitivo (Aranha, 1999, p. 101). 
 
Gilberto Freyre (Sociólogo e autor de Casa Grande e Senzala) 
Aqui se percebem algumas das ações missionárias 
com o intuito de destruir a cultura dos povos indígenas e 
empregar a vida do branco europeu cristão, moldando se-
gundo a civilização ocidental cristã, mais especificadamente 
a cultura portuguesa. Entretanto, os jesuítas eram contra a 
exploração dos índios, pois quando estes eram escravizados 
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morriam de fome e doenças. Os castigos violentos sofridos 
pelos índios também eram um dos motivos que desagrada-
vam aos jesuítas, que estavam tentando arrebanhar novos 
fiéis, pois a Igreja Católica estava perdendo fiéis para os 
protestantes. 
Para concretizar as questões que foram citadas até 
agora, os jesuítas, além de trazer consigo os principias cos-
tumes religiosos e boas condutas de comportamento, trou-
xeram também sua metodologia de ensino, sua proposta de 
trabalho pedagógico, que por sua vez era influenciada pelas 
orientações filosóficas das teorias de Aristóteles e São To-
más de Aquino, principalmente no que se refere à ideia de 
universalização do ensino. Sua metodologia era embasada 
por um documento de código pedagógico, plano de estudo, 
conhecido como Ratio Studiorum. 
Os jesuítas empreenderam no Brasil uma significativa obra 
missionária e evangelizadora, especialmente fazendo uso de 
novas metodologias, das quais a educação escolar foi uma 
das mais poderosas e eficazes. Em matéria de educação 
escolar, os jesuítas souberam construir a sua hegemonia. 
Não apenas organizaram uma ampla ‘rede’ de escolas ele-
mentarese colégios como o fizeram de modo muito organi-
zado e contando com um projeto pedagógico uniforme e 
bem planejado, sendo o Ratio Studiorum a sua expressão 
máxima (Sangenis, 2004, p. 93). 
Assim, o Ratio preceitua a formação intelectual 
clássica estreitamente vinculada à formação moral embasa-
da nas virtudes religiosas, nos bons costumes e hábitos 
saudáveis a sociedade, explicitando de forma detalhada as 
modalidades curriculares das instituições escolares; o 
acompanhamento do desenvolvimento da aprendizagem e a 
promoção dos alunos; condutas e posturas respeitosas des-
de os que conduziam (professores) até os que aprendiam 
(alunos) (Toyshima; Costa, 2012). 
Esse método tem como objetivo principal expandir 
a fé cristã aos povos que habitavam a Europa e toda região 
do Novo Mundo. Trata-se de um manual que continha con-
juntos de normas e/ou regras para ajudar e nortear as ativi-
dades de cunho pedagógico dos professores e na organiza-
ção e administração escolar dentro dos colégios da ordem 
jesuítica, com vista a permitir uma formação uniforme a 
todos que frequentassem: 
O manual contém 467 regras, cobrindo todas as atividades 
dos agentes envolvidos ao ensino. Iniciava pelas regras do 
provincial, depois do reitor, do prefeito de estudos, dos pro-
fessores de modo geral, de cada matéria de ensino; incluía 
também as regras da prova escrita, a distribuição de prê-
mios, do bedel, dos alunos e por fim as regras das diversas 
academias. Além das regras e das normas, o Ratio apresenta 
os níveis de ensino (Humanidades, Filosofia e Teologia) e as 
disciplinas que os alunos deveriam cumprir (Toyshima; Cos-
ta, 2012, p. 3). 
Nota-se, pela citação que esse manual pedagógico 
contemplava todos os sujeitos que participavam efetiva-
mente do processo educativo nas instituições escolares, que 
tinha ligação com a Companhia de Jesus. Buscava indicar a 
responsabilidade, o desempenho e a subordinação. Centra-
va-se num currículo de educação literária e humanística. 
Além disso, o manual se preocupava com a organização não 
só das disciplinas curriculares que os alunos deveriam 
aprender, cumprir, mas também com a organização da pro-
va escrita. A preocupação era tão constante que os jesuítas 
davam aos professores as devidas orientações e regras para 
sua elaboração. 
Portanto, o método pedagógico dos jesuítas im-
plantado nas escolas brasileiras possibilitava sólida forma-
ção clássica dos estudantes. Permitiu que os jesuítas inicias-
sem aqui um modelo de formação ativa no constante exer-
cício do pensar, tendo o professor como um dos responsá-
veis pela formação daqueles que frequentavam os espaços 
escolares. Esse professor teria condições plenas de avaliar e 
reavaliar a construção e a reconstrução da aprendizagem 
apresentadas pelos alunos. Isso só seria feito mediante as 
diferentes metodologias, exercícios que contemplavam 
leituras, escritas, declamações, apresentações públicas, 
provas e exames. Destaque-se que para tanto não era re-
querido apenas o exercício intelectual por meio do uso da 
memória, justamente porque o exercício de interpretações 
também era uma exigência no decorrer do estudo (Sange-
nis, 2004). 
Mesmo com todas as estruturas, organização e re-
gras pedagógicas e administrativas, a educação jesuítica não 
satisfazia o Marquês de Pombal, primeiro-ministro de Por-
tugal de 1750 a 1777, porque as escolas da Companhia de 
Jesus atendiam aos interesses da fé, enquanto Pombal se 
preocupava em atender os interesses do Estado. Essa dis-
cordância de objetivos fez com que os jesuítas fossem ex-
pulsos das terras brasileiras em 1759. Dessa forma, retirou a 
Igreja Católica do domínio da educação em Portugal e man-
dou fechar todas as escolas que estavam sob domínio dos 
padres jesuítas, e as bibliotecas dos conventos foram aban-
donadas ou destruídas. 
Além disso, vários outros motivos fizeram com que 
os jesuítas fossem expulsos: eles não obedeciam e/ou não 
respeitavam o Tratado dos Limites entre Portugal e Espanha 
e havia divergências quanto a forma, posse e domínio com 
que os jesuítas tomavam e mantinham os indígenas brasilei-
ros. A forma com era feito o tratamento aos nativos coloca-
va em dúvida se mantinham as regras da coroa; “Pombal 
acusava a atuação dos jesuítas com os indígenas do Brasil”, 
pois “segundo ele, os homens brancos eram apresentados 
aos índios como maus, como mais interessados no ouro do 
que em qualquer coisa e, mais grave, prontos para atrocida-
des” (Costa, 2011, p. 75). Para Pombal: 
O afastamento dos jesuítas dessa região significava tão 
somente assegurar o futuro da América Portuguesa pelo 
povoamento estratégico. O interesse de Estado acabou en-
trando em choque com a política protecionista dos jesuítas 
para com os índios e melindrando as relações com Pombal, 
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tendo esse fato entrado para a história como “uma grande 
rivalidade entre as ideias iluministas de Pombal e a educa-
ção de base religiosa jesuítica” (Seco; Amaral, 2006, p. 5). 
Com essa expulsão, a educação brasileira passou a 
vivenciar uma grande ruptura histórica, num processo já 
implantado e consolidado como modelo educacional. A 
educação passou a ser administrada pelo Estado; não mais 
atrelado à Igreja Católica, mas sim público e laico, tendo 
suas disciplinas submetidas ao poder real, autônomas, sem 
vinculação com sistemas específicos de ensino. O Estado 
começou a elaborar leis sobre o ensino, cobrar impostos e 
fazer estatísticas. A regra era destruir e/ou abolir a influên-
cia da Companhia de Jesus. Isso ocorreu porque Marquês de 
Pombal tinha interesses econômicos como objetivo. Sua real 
pretensão era transformar Portugal numa metrópole capita-
lista para competir com os demais países da Europa. Para 
isso ser concretizado, era preciso acabar com a escravidão 
dos índios, permitindo que casassem com portugueses; 
Pombal desejou também ter uma nobreza e uma burguesia 
mais intelectualizadas, para incentivar o desenvolvimento 
cultural, artístico e científico, com profissionais capacitados 
para poder assumir os cargos públicos (Seco; Amaral, 2006). 
 
 Referências Bibliográficas 
AZEVEDO, Fernando de. A transmissão da cultura: a cultura 
brasileira. São Paulo, Melhoramentos, 1976. 
MENARDI, Ana Paula Seco. A educação na literatura de via-
gem e na literatura jesuítica – séculos XVI e XVII. 2010. 289f. 
Tese (doutorado em Educação) – Universidade Estadual de 
Campinas, Campinas, 2010. 
PAIVA, José Maria de; PUENTES, Roberto Valdés. A proposta 
jesuítica de Educação – uma leitura das Constitui-
ções. Comunicações, São Paulo, nov. 2000. Disponível 
em: http://www.unimep.br/jmpaiva/a-proposta-jesuitica-
de-educacao.pdf. Acesso em 09 jul. 2016. 
SANGENIS, Luiz Fernando Conde. Franciscanos na Educação 
brasileira. In: STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena 
Câmara. Histórias e Memórias da Educação no Brasil. vol. I – 
séculos XVI-XVIII. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 93-107. 
SECO, A. P.; AMARAL, T. C. I. do. Marquês de Pombal e a 
reforma educacional brasileira. 2006. Disponível 
em: http://histedbr.fae.unicamp.br/navegando/periodo_po
mbalino_intro. Acesso em 08 jul. 2016. 
TOYSHIMA, Ana Maria da Silva; COSTA, Célio Juve-
nal. O Ratio Studiorum e seus processos pedagógicos. São 
Paulo, maio 2012. Disponível 
em: http://www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2
012/trabalhos/co_05/104.pdf. Acesso em 07 jul. 2016. 
VILLALTA, Luiz Carlos. O que se fala e o que se lê: língua, 
instrução e leitura. In: História da Vida Privada No Brasil 
I:Cotidiano e Vida Privada na América Portuguesa. São Pau-
lo: Companhia das Letras, 2002. p. 331-445. 
 
 Período Pombalino (1759-1808) 
A política educacional de Marquês de Pombal, co-
mo qualquer outra de suas reformas, era lógica,prática e 
centrada nas relações econômicas anglo-portuguesas. 
 
Marquês de Pombal 
 
A reforma educacional pombalina culminou com a 
expulsão dos jesuítas precisamente das colônias portugue-
sas, tirando o comando da educação das mãos destes e 
passando para as mãos do Estado. Os objetivos que conduzi-
ram a administração pombalina a tal reforma, foram assim, 
um imperativo da própria circunstância histórica. Extintos os 
colégios jesuítas, o governo não poderia deixar de suprir a 
enorme lacuna que se abria na vida educacional tanto por-
tuguesa como de suas colônias. 
Para o Brasil, a expulsão dos jesuítas significou, en-
tre outras coisas, a destruição do único sistema de ensino 
existente no país. Para Fernando de Azevedo, foi “a primeira 
grande e desastrosa reforma de ensino no Brasil”. Como 
bem colocou Niskier, 
A organicidade da educação jesuítica foi consagrada quando 
Pombal os expulsou levando o ensino brasileiro ao caos, 
através de suas famosas ‘aulas régias’, a despeito da exis-
tência de escolas fundadas por outras ordens religiosas, 
como os Beneditinos, os franciscanos e os Carmelitas. (Niski-
er, 2001, p. 34) 
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 Enquanto na Metrópole buscava-se construir um sistema 
público de ensino, mais moderno e popular, na colônia, 
apesar das várias tentativas, através de sucessivos alvarás e 
cartas régias, as Reformas Pombalinas no campo da educa-
ção, só logrou desarranjar a sólida estrutura educacional 
construída pelos jesuítas, confiscando-lhes os bens e fe-
chando todos os seus colégios. 
É importante destacar que a reforma pombalina no 
Brasil não foi implementada no mesmo momento e da 
mesma forma que em Portugal. Foi de quase trinta anos o 
tempo de que o Estado português necessitou para assumir o 
controle pedagógico da educação a ser oferecida em terras 
brasileiras; da completa expulsão dos jesuítas e do desman-
telamento sistemático de seu aparelho educacional, dos 
métodos aos materiais didáticos, até a nomeação de um 
Diretor Geral dos Estudos que deveria, em nome do Rei, 
nomear professores e fiscalizar sua ação na colônia. 
Através do Alvará Régio de 28 de junho de 1759, o 
Marquês de Pombal, suprimia as escolas jesuíticas de Portu-
gal e de todas as colônias ao expulsar os jesuítas da colônia 
e, ao mesmo tempo, criava as aulas régias ou avulsas de 
Latim, Grego, Filosofia e Retórica, que deveriam suprir as 
disciplinas antes oferecidas nos extintos colégios jesuítas. 
Estas providências, entretanto, não foram suficien-
tes para assegurar a continuidade e a expansão das escolas 
brasileiras, constantemente reclamadas pelas populações 
que até então se beneficiavam dos colégios jesuítas. Portu-
gal logo percebeu que a educação no Brasil estava estagna-
da e era preciso oferecer uma solução. 
Somente quando a Real Mesa Censória, criada em 
1767 (inicialmente com atribuição para examinar livros e 
papéis já introduzidos e por introduzir em Portugal), alguns 
anos depois, passa a assumir a incumbência da administra-
ção e direção dos estudos das escolas menores de Portugal 
e suas colônias, é que as reformas na instrução ganham 
meios de implementação. Com as novas incumbências e a 
partir das experiências administrativas da direção geral de 
estudos, nos anos anteriores, a Mesa Censória apontou para 
as necessidades tanto na metrópole quanto na colônia refe-
rente ao campo educacional. Assim, os estudos menores 
ganharam amplitude e penetração com a instituição, em 
1772, do chamado “subsídio literário” para manutenção 
dos ensinos primário e secundário. Como Carvalho (1978) 
bem explicitou: 
Com os recursos deste imposto, chamado subsídio literário, 
além do pagamento dos ordenados aos professores, para o 
qual ele foi instituído, poder-se-iam ainda obter as seguintes 
aplicações: 1) compra de livros para a constituição da biblio-
teca pública, subordinada à Real Mesa Censória; 2) organi-
zação de um museu de variedades; 3) construção de um 
gabinete de física experimental; 4) ampliação dos estabele-
cimentos e incentivos aos professores, dentre ou-
tras aplicações (Carvalho, 1978, p. 128). 
Dessa forma, foi implantado o novo sistema educa-
cional que deveria substituir o sistema jesuítico. Aberto que 
estava à modernidade européia, incorporou partes do dis-
cursos sobre a ação do Estado na educação e passou a em-
pregá-lo para ocupar o vácuo que foi deixado com a saída 
dos jesuítas, pelo menos no que diz respeito ao controle e 
gestão administrativa do sistema escolar. 
 
O Novo Sistema 
Como vimos, foi através do Alvará Régio de 28 de 
junho de 1759 que o Marquês de Pombal, ao mesmo tempo 
expulsou os jesuítas de Portugal e de suas colônias, supri-
mindo as escolas e colégios jesuítas de Portugal e de todas 
as colônias; criou as aulas régias ou avulsas de Latim, Grego, 
Filosofia e Retórica, que deveriam substituir os extintos 
colégios jesuítas e criou a figura do “Diretor Geral dos Estu-
dos”, para nomear e fiscalizar a ação dos professores. 
As aulas régias eram autônomas e isoladas, com 
professor único e uma não se articulava com as outras. Des-
tarte, o novo sistema não impediu, a continuação do ofere-
cimento de estudos nos seminários e colégios das ordens 
religiosas que não a dos jesuítas (Oratorianos, Franciscanos 
e Carmelitas, principalmente). 
Em lugar de um sistema mais ou menos unificado, 
baseado na seriação dos estudos, o ensino passou a ser 
disperso e fragmentado, baseado em aulas isoladas que 
eram ministradas por professores leigos e mal preparados. 
Com a implantação do subsídio literário, imposto 
colonial para custear o ensino, houve um aumento no nú-
mero de aulas régias, porém ainda muito precário devido à 
escassez de recursos, de docentes preparados e da falta de 
um currículo regular. Ademais, vemos uma continuidade na 
escolarização baseada na formação clássica, ornamental e 
europeizante dos jesuítas, isto porque a base da pedagogia 
jesuítica permaneceu a mesma, pois os padres missionários, 
além de terem cuidado da manutenção dos colégios desti-
nados à formação dos seus sacerdotes, criaram seminários 
para um clero secular, constituído por “tios-padres” e “cape-
lães de engenho”, ou os chamadas “padres-mestres” 
Estes, dando continuidade à sua ação pedagógica, 
mantiveram sua metodologia e seu programa de estudos, 
que deixava de fora, além das ciências naturais, as línguas e 
literaturas modernas, em oposição ao que acontecia na 
Metrópole, onde as principais inovações de Pombal no 
campo da educação como o ensino das línguas modernas, o 
estudo das ciências e a formação profissional já se faziam 
presentes. Por isso, se para Portugal as reformas no campo 
da educação, que levaram a laicização do ensino represen-
tou um avanço, para o Brasil, tais reformas significaram um 
retrocesso na educação escolar com o desmantelamento 
completo da educação brasileira oferecida pelo antigo sis-
tema de educação jesuítica, melhor estruturado do que as 
aulas régias puderam oferecer. 
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 O Brasil não é contemplado com as novas propostas que 
objetivavam a modernização do ensino pela introdução da 
filosofia moderna e das ciências da natureza, com a finalida-
de de acompanhar os progressos do século. Restam no Bra-
sil, na educação, as aulas régias para a formação mínima dos 
que iriam ser educados na Europa. (Zotti, 2004, p. 32) 
Nas Instruções do Alvará Régio de 1759, transpare-
ce claramente o objetivo que norteou a reforma na instru-
ção. Apreocupação básica era de formar o perfeito nobre, 
simplificando os estudos, abreviando o tempo do aprendi-
zado de latim, facilitando os estudos para o ingresso nos 
cursos superiores, além de propiciar o aprimoramento da 
língua portuguesa, diversificar o conteúdo, incluir a natureza 
científica e torná-los mais práticos. 
Em substância, tal Alvará teve como significado central a 
tentativa de manter a continuidade de um trabalho pedagó-
gico interrompido pela expulsão dos jesuítas. 
A educação jesuítica não mais convinha aos interes-
ses comerciais emanados por Pombal, com seus conhecidos 
motivos e atos na tentativa de modernização de Portugal, 
que chegariam também as suas colônias. Assim sendo, as 
escolas da Companhia de Jesus que tinham por objetivo 
servir aos interesses da fé não atendiam aos anseios de 
Pombal em organizar a escola para servir aos interesses do 
Estado. 
É dentro desta ordem e em nome dela que o Alvará 
de 1759 pode ser visto como o primeiro esforço no sentido 
da secularização das escolas portuguesas e de suas colônias, 
entendendo que somente um ensino, dirigido e mantido 
pelo poder secular, poderia corresponder aos fins da ordem 
civil. 
A ingerência do Estado nas questões de educação 
começa a ganhar vulto a partir do deste período, concomi-
tante com a ideia do desenvolvimento de sistemas nacionais 
de educação, ligados aos processos político-sociais de con-
solidação dos Estados Nacionais europeus. 
Seguindo nesta direção, com uma ação intensiva, o 
Estado português assume definitivamente o controle da 
educação colonial. A criação da figura do “Diretor Geral dos 
Estudos” deixa bem clara, no mesmo “Alvará”, a intenção da 
Coroa de uniformizar a educação na Colônia e fiscalizar a 
ação dos professores — desde já por ela nomeados — do 
material didático por eles utilizado — também devidamente 
“recomendado” no mesmo documento — de modo a que 
não houvesse choque de interesses — isto é, que não hou-
vesse nenhum outro poder, como era o dos jesuítas, a 
afrontar as determinações da Coroa. Cabe à Coroa a instala-
ção de um novo sistema de ensino, e é exatamente essa a 
linha pela qual segue o Alvará Régio. 
As aulas régias instituídas por Pombal para substi-
tuir o ensino religioso constituíram, dessa forma, a primeira 
experiência de ensino promovido pelo Estado na história 
brasileira. A educação a partir de então, passou a ser uma 
questão de Estado. Desnecessário frisar que este sistema de 
ensino cuidado pelo Estado servia a uns poucos, em sua 
imensa maioria, filhos das incipientes elites coloniais. 
Pedagogicamente, esta nova organização não re-
presentou um avanço. Mesmo exigindo novos métodos e 
novos livros, no latim a orientação era apenas de servir 
como instrumento de auxílio à língua portuguesa, o grego 
era indispensável a teólogos, advogados, artistas e médicos, 
a retórica não deveria ter seu uso restrito a cátedra. A filo-
sofia ficou para bem mais tarde, mas efetivamente nada de 
novo aconteceu devido principalmente, às dificuldades 
quanto à falta de recursos e pessoal preparado. 
As transformações no nível secundário não afeta-
ram o fundamental, que permaneceu desvinculado da reali-
dade, e buscando o modelo de exterior "civilizado". Quem 
tinha condições de cursar o ensino superior enfrentava os 
perigos das viagens, para frequentar a Universidade de 
Coimbra ou outros centros europeus. Como as "Reformas 
Pombalinas" visavam transformar Portugal numa metrópole 
como a Inglaterra, a elite masculina deveria buscar respaldo 
fora, para poder servir melhor na sua função de articuladora 
dos interesses da camada dominante. 
 
Considerações Finais 
Os 27 anos de governo de Pombal caracterizaram-
se por uma tentativa de modernização da sociedade e de 
desenvolvimento da economia portuguesa. A peculiaridade 
de Portugal nessa época foi a coincidência do iluminismo 
com a luta do Estado português para voltar a ser a grande 
nação da época dos descobrimentos - por meio do fortale-
cimento do Reino e seu soberano - adaptando-se às técnicas 
que acreditava terem sido utilizadas pelos seus rivais para 
ultrapassá-lo - ainda que para tanto devesse se apoiar nas 
novas ideias da Ilustração, que não poupavam críticas a sua 
ordem política e social já considerada velha - Pombal tinha 
essa missão. 
Foi um homem eclético, pragmático e obstinado, 
disposto a tirar de seu caminho tudo que lhe impedisse de 
alcançar seus objetivos. - em inúmeras oportunidades en-
trou em conflito com membros da nobreza e do clero – 
como se percebe a controvérsia está no núcleo da ação 
pombalina, na combinação particular de métodos que ele 
utilizou. Eles refletem seu posicionamento entre oportuni-
dade e necessidade. 
Embora a Metrópole portuguesa só abrisse pers-
pectivas para a penetração de um Iluminismo contido, cien-
tífico na aparência, já que permaneceria submetido à tradi-
ção cultural da imitação, memorização e erudição literária, 
houve um avanço no ensino público português, que passou 
a formar uma burocracia administrativa mais moderna e 
eficiente. Além disso, os professores régios que aqui exerci-
am a profissão de ensinar foram propulsionadores dos sen-
timentos liberais e incentivadores das ideias filosóficas que 
tão significativamente se fizeram atuantes nos últimos trinta 
anos que antecederam a independência do país. 
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É muito interessante perceber por quais vias o ilu-
minismo implantou-se no Brasil. É justamente através da 
política imperial de racionalização e padronização da admi-
nistração de Pombal que a educação passou para as mãos 
do Estado, mas essa educação que passou a ser pública, não 
se faz para os interesses dos cidadãos. Ela serviu aos inte-
resses imediatos do Estado, que para garantir seu status 
absolutista precisa manter-se forte e centralizado nas mãos 
e sobre comando de uns poucos preparados para tais tare-
fas. 
Assim, mesmo que aparentemente as ações de 
Pombal induzam ao entendimento de uma política despóti-
ca de benefícios individuais - idéia que não é de toda inváli-
da - é preciso acordar com a análise de Maxwell de que os 
lucros das reformas pombalinas foram individuais, privados. 
Mas os interesses foram públicos - no sentido de estatal - na 
medida em que naquele contexto, iluminismo, racionalidade 
e progresso têm um significado muito diferente aos quais se 
deve estar atento: iluminismo no contexto da colônia brasi-
leira tratou-se, na verdade do engrandecimento do poder 
do Estado e não das liberdades individuais, Dessa forma, 
entender o projeto do iluminismo pombalino talvez seja a 
chave para ajudar a perceber a tradição reformista nas ten-
tativas de construção de um sistema nacional de educação 
pública realmente voltado aos interesses públicos, que até 
hoje não se consolidou no Brasil. 
 
 Referências Bibliográficas 
BAUSBAUM, Leônico. História sincera da República: das 
origens até 1889. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1957. 
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos Permanentes: trata-
mento documental. 2 ed. ver. ampl.. Rio de Janeiro: Editora 
Da FGV, 2004. 
CARVALHO, Laerte Ramos de. As Reformas Pombalinas da 
Instrução Pública. São Paulo: Saraiva: Ed. Universidade de 
São Paulo, 1978. 
MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal - Paradoxo do 
Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. 
NISKIER, Arnaldo. Educação Brasileira: 500 anos de Histó-
ria. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2001. 
RIBEIRO, Maria Luíza Santos. História da Educação Brasilei-
ra: a organização escolar. 18 ed. ver. ampl.. Campinas: Au-
tores Associados, 2000. 
XAVIER, Maria Elizabete Sampaio Prado. História da Educa-
ção: a escola no Brasil. São Paulo: FTD, 1994. 
ZOTTI, Solange Aparecida. Sociedade, Educação e Currículo 
no Brasil:dos jesuítas aos anos de 1980. Campinas: Autores 
Associados, 2004. 
 Período Joanino (1808-1821) 
Com a desorganização do sistema de ensino pela 
expulsão dos jesuítas, a educação colonial veio a tomar 
novos rumos com a vinda da família real portuguesa. Tão 
logo chegou ao Brasil, na sua passagem pela Bahia, o Prínci-
pe Regente abriu os portos às nações amigas e criou o curso 
de Medicina e Cirurgia junto ao Real Hospital Militar. Se-
guem-se os eventos: chegada em 22 de janeiro, abertura 
dos portos em 28 de janeiro e criação do curso médico em 
18 de fevereiro de 1808. 
A ação realizadora atingiu os setores da economia, 
da política, da agricultura com destaque para o ensino. Cur-
sos foram criados em área diversas que até então não exis-
tiam. Com o curso médico, iniciou-se um período novo para 
o ensino superior público, pois até então só havia o ensino 
religioso. A propósito, Luiz Antônio Cunha (1986, p. 67) ao 
analisar o ensino superior no Império (1822 a 1889), obser-
vou que em 1808 emergia o Estado Nacional e houve neces-
sidade de se mudar o ensino superior que vinha do período 
colonial. 
Criaram-se “cursos e academias destinados a for-
mar burocratas para o Estado e especialistas na produção de 
bens simbólicos, como subproduto, formar profissionais 
liberais.“ Cursos que preparavam os funcionário públicos 
com as Academias Militar e de Marinha e cursos de medici-
na, cirurgia, matemática, agricultura e outros. Observa Cu-
nha (p.76) que o núcleo do ensino superior nasceu com D. 
João VI e edificou-se o que se tem até os nossos dias: “O 
ensino superior atual nasceu, assim, junto com o Estado 
Nacional, gerado por ele e para cumprir, predominantemen-
te, as funções próprias deste”. Introduziram-se modifica-
ções, com D. João VI passamos à secularização com ensino 
público. Em Portugal, até a época de Pombal, e no Brasil, até 
a vinda da corte, o ensino era público e religioso. (CUNHA, 
1986, p.79). 
Do ensino médico do tempo do regente D. João, 
depois com o ensino jurídico já no Brasil independente, 
originou-se o ensino superior por ordem de faculdades. Os 
principais tipos de ensino foram o médico, seguidos do mili-
tar e profissional, das aulas e cursos isolados e das institui-
ções culturais. 
 
Ensino médico na Bahia e no Rio de Janeiro 
Parte da esquadra que trazia o Príncipe Regente 
aportou em Salvador da Bahia em 22 de janeiro de 1808. 
Oliveira Lima (1945, p. 250) afirmou que: “A transladação da 
corte rasgou logo novos horizontes ao ensino. Fundou-se no 
Real Hospital Militar da Bahia uma aula de cirurgia e outra 
no Hospital Militar do Rio [...]” Deve-se ao pernambucano 
Dr. José Corrêa Picanço a iniciativa da criação do ensino 
médico, no Brasil. Depois dos estudos em Lisboa, foi para 
Paris completar a sua formação em medicina, regressando a 
Portugal foi nomeado professor de anatomia e cirurgia na 
Universidade de Coimbra. Alcançou o posto de primeiro 
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cirurgião da casa real e cirurgião-mor de todo o reino. É 
nessa dupla condição que acompanhou o Príncipe na via-
gem ao Brasil e sugeriu a criação do curso de cirurgia na 
passagem pela Bahia. Essa é a origem do Aviso de 18 de 
fevereiro de 1808, que cria o curso de cirurgia e de medici-
na: 
O Príncipe regente anuindo à proposta que lhe fez o doutor 
José Corrêa Picanço, cirurgião-mor e do seu Conselho, sobre 
a necessidade que havia de uma escola de cirurgia no Hospi-
tal Real desta cidade (Bahia), para instrução dos que se 
destinam ao exercício desta arte, tem cometido ao sobredito 
cirurgião-mor a escolha dos professores, que não só ensinam 
a cirurgia propriamente, mas a anatomia, bem essencial 
dela, e a arte obstetrícia tão útil como necessária. O que 
participo a V. Exa. Por ordem do mesmo Senhor, para que 
assim o tenha entendido e contribua para tudo o que fez 
promover este importante estabelecimento Deus guarde a 
V. Exa. 
Até então só existiam uns poucos médicos nas prin-
cipais cidades do litoral. Havia, sim, práticos, curandeiros, 
barbeiros e sangradores ignorantes de anatomia e patolo-
gia. O boticário aviava receitas em velhos formulários de 
mais de século. Eram pouquíssimos os formados em medici-
na, por exemplo, a Capitania de São Paulo, em 1808, conta-
va somente com dois diplomados no exercício de médico. 
O curso foi instituído no Real Hospital Militar da 
Bahia e outro similar foi também criado em idêntico hospital 
na cidade do Rio de Janeiro, precisamente com instalação 
da corte. Considerou-se a necessidade de formação de mé-
dicos militares em um tempo de guerra com Napoleão a 
bater-se em toda a Europa. Com a mesma motivação bélica 
foram criadas em seguida as academias militares. 
Para o funcionamento dos cursos foram baixadas as 
instruções pelo cirurgião-mor Dr. Picanço (MOACYR, 1936, 
p. 33-34) a começar pela escolha dos professores para o 
ensino não somente da cirurgia e anatomia como também 
da arte obstetrícia. O professor deveria anotar a matrícula 
dos seus participantes. A língua francesa era uma das condi-
ções de frequência. As aulas teóricas e práticas seriam mi-
nistradas no próprio Hospital Militar, em especial, em suas 
enfermarias. Determinavam-se o horário das preleções e os 
dias da semana para as arguições com frequência obrigató-
ria. O compêndio de cirurgia a ser seguido era o de M. de la 
Fay, utilizado na Europa, tido como o mais completo. O 
curso de cirurgia tinha a duração de quatro anos. Com tais 
instruções os cursos cresceram e foram se completando 
com mais disciplinas. Para Anatomia foi nomeado o profes-
sor Joaquim da Rocha Mazaren, que incluía ligações, portes 
e operações de cirurgias. 
Para o Hospital Real Militar do Rio de Janeiro, foi 
designado para ensinar Anatomia o cirurgião-mor de Angola 
Joaquim José Marques. Visualizando a formação de novos 
professores, escolheram-se três dos melhores estudantes de 
cirurgia para fazer seus estudos na cidade de Edimburgo, na 
Escócia, e depois passarem para a Londres, ficando sob a 
inspeção do embaixador português. 
O ensino recém criado passou a ser organizado se-
gundo a direção do doutor Manoel Luiz Álvares de Azevedo, 
baiano de nascimento, cirurgião-mor do Exército e da Ar-
mada, formado em Coimbra, diretor do ensino médico no 
Brasil. Em 1815, o curso da Bahia completou-se à semelhan-
ça do existente na Corte. Para tanto agregou-se uma cadeira 
de Química regida pelo professor de Coimbra Sebastião 
Navarro de Andrade, juntando-se ao programa anterior que 
incluía Anatomia, Fisiologia, Farmacologia, Higiene, Patolo-
gia, Terapêutica, Operações e Obstetrícia (OLIVEIRA LIMA, 
1954, p.252). Uma terceira escola de medicina foi prometida 
ao Maranhão por carta régia de 1815, mas nunca chegou a 
ser estabelecida. 
Quanto ao currículo, os dois cursos de medicina 
passaram por uma organização conforme o plano do doutor 
Vicente Navarro de Andrade, estabelecendo as matérias do 
curso médico por ano de estudos: primeiro, Anatomia e 
Fisiologia; segundo, Patologia Geral, Terapêutica, Semiótica, 
Higiene; terceiro, explicação dos sistemas de História Natu-
ral, Botânica Médica, Farmácia; quarto, Patologia Médica 
Especial; quinto, Clínica, Medicina Legal, História de Medici-
na. Para complementar o curso médico, foram previstas 
operações cirúrgicas, arte obstetrícia e clínica interna, O 
plano do doutor Navarro de Andrade prescrevia uma socie-
dade médico-cirúrgica, no Rio de Janeiro. Outro plano foi 
apresentado ao ministro Conde da Barca pelo general Fran-
cisco Borja Garção Stokler, concebido por graus de ensino, 
mas não foi posto em prática. 
O curso de cirurgia mudou-se do Hospital Militar 
para o hospital da Santa Casa de Misericórdia da Bahia. 
 
Motivação bélica dos cursos instituídos 
Naorganização de 1815, reformou-se o curso mé-
dico do Rio de Janeiro e da Bahia ficando complementadas 
as disciplinas, quando se estabeleceu a cadeira de Farmácia. 
O curso foi sucessivamente reformado até adquirir a forma 
de Academia Médico-Cirúrgica, nas duas referidas cidades. 
No Rio de Janeiro, começou pela cadeira de Anatomia, no 
Hospital Militar, em 2 de abril de 1808, mas foi somente em 
5 de novembro que se criou a Escola Anatômica, Cirúrgica e 
Médica (NISKIER, 1989, p.83-84). 
O doutor José Lino Coutinho (SANTOS, 2005, 
p.154), herói da Independência e prestigiado médico do 
Imperador Dom Pedro I, idealizou a reforma do chamado 
Colégio Médico-Cirúrgico. As suas ideias foram levadas à 
Assembleia Geral e transformadas em lei no ano de 1832. 
Recebida a denominação de Faculdade de Medicina, tanto a 
da Bahia como a do Rio de Janeiro, a congregação teve mais 
autonomia. A Faculdade passou a contar com catorze cadei-
ras e a duração do curso alcançou seis anos. Lino Coutinho 
foi nomeado o seu primeiro diretor, na Bahia. 
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O curso criado pelo Príncipe Regente, em 1808, 
tornou-se faculdade, sofreu sucessivas reformas, no século 
XIX e no seguinte. Em 1946, a Faculdade de Medicina lide-
rou o processo de criação da Universidade da Bahia (SAN-
TOS, 2005, p.154). 
A criação do ensino superior público de Medicina, 
ainda na Bahia e no Rio de Janeiro, foi uma das primeiras 
iniciativas do Príncipe Regente na área da educação. Segui-
ram-se a criação das Academias Militar e de Marinha, esco-
las primárias, aulas e cursos profissionais isolados. Percebe-
se, claramente, a motivação militar na criação de cursos de 
cirurgia e medicina em hospitais militares em um período 
marcado pelas guerras napoleônicas. 
 
O ensino militar e a Academia de Marinha 
Conforme a mesma necessidade bélica do contur-
bado início do século XIX, pelas campanhas napoleônicas, 
especialmente pela guerra peninsular (MALAFAIA, 2007) 
objetivou-se dotar o Estado brasileiro de instituições indis-
pensáveis ao ensino militar visando-se à segurança. Um 
segundo tipo de ensino vai receber atenção direta do Prín-
cipe Regente é o militar. 
Conforme determinação do ministro Conde de Li-
nhares, o cuidado com a integração territorial criou uma 
Academia de Marinha semelhante àquela fundada em Lis-
boa. Em 1808, instalou-se a Academia de Marinha nas hos-
pedarias do Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, com 
todos os instrumentos, livros, máquinas, cartas e planos 
vindos da Academia de Lisboa. No ano seguinte, 1809, insta-
lou-se o Observatório Astronômico para uso dos guardas-
marinhas, informa Oliveira Lima (1945, p. 254). O currículo 
de estudos incluía conhecimentos de Matemática, Geome-
tria e as disciplinas náuticas como: Desenho de Marinha e 
Rudimentos sobre Construção dos Navios, Navegação Teóri-
ca e Prática, Instrumentos de Tática Naval. Em 1812, decla-
ra-se obrigatório o exame de desenho para completar o 
curso na Academia de Marinha. 
Antes da vinda do Príncipe Regente, o Rio de Janei-
ro dispunha apenas de uma aula de fortificação, no Arsenal 
de Guerra e uma aula para preparo dos soldados e oficiais 
de linha e milícias. Uma vez estabelecida a corte, D. João faz 
saber que: “tendo em consideração ao muito que interessa 
ao meu real serviço, ao bem do público, e à defesa e segu-
rança de meus vastos domínios que se estabeleça no Brasil e 
na minha atual Corte e cidade do Rio de Janeiro, um Curso 
regular das ciências exatas e de observação, assim como de 
todas aquelas que são aplicações das mesmas aos estudos 
militares e práticos”. (MOACYR, 1936, p. 46) 
 
A Real Academia Militar do Rio de Janeiro 
Objetivou-se a formação de hábeis oficiais de arti-
lharia, de engenharia, geógrafos e topógrafos com emprego 
administrativo nas minas, nos caminhos, portos, canais, 
pontes e calçadas, estabelecendo, dessa maneira, a Acade-
mia Real Militar. O curso foi dividido por anos, com previsão 
dos manuais e dos seus respectivos autores acrescida da 
cadeira de Química e de Língua Inglesa. A Academia Militar 
foi instalada no Largo de São Francisco de Paula, no Rio de 
Janeiro, no local onde se construía a Catedral da Sé, com-
plementa Primitivo Moacyr (1936). 
Os professores tinham os mesmos direitos e privi-
légios dos lentes da Universidade de Coimbra. Pelo que 
informou Oliveira Lima (1945, p.255) o ensino das matemá-
ticas era muito exigido. A organização curricular previa, no 
primeiro ano, Álgebra, Análise Geométrica, Trigonometria 
Retilínea e Desenho de Figura; no segundo, Álgebra, Cálculo 
Diferencial e Integral e Geometria Descritiva; no terceiro, 
Mecânica, Hidráulica e Desenho de Paisagem; no quarto, 
Trigonometria Esférica, Ótica, Astronomia, Geodésia e Físi-
ca; no quinto, Tática, Fortificação de Campanha, Química, 
Filosofia, Química e Desenho Militar; no sexto, entravam 
Ataque e Defesa das Praças e Mineralogia; no sétimo, Arti-
lharia, Zoologia, Desenhos e Máquinas de Guerra e outras 
matérias. Tudo isso e mais os exercícios práticos, línguas 
francesa e inglesa e esgrima. 
Em 1858, transformou-se em Escola Central e por 
fim, em 1874, em Escola Politécnica, tornando-se um dos 
núcleos de estudos de engenharia e de tecnologia do país 
no século XX. A Escola Politécnica foi integrada à Universi-
dade do Brasil criada em 1920. 
 
Aspectos do Ensino Profissional 
Algumas iniciativas contemplaram o ensino profis-
sional. Ainda na Bahia, por decreto de 23 de fevereiro de 
1808, instituiu-se a cadeira de Ciência Econômica, a ser 
ministrada, no Rio de Janeiro, por José da Silva Lisboa, futu-
ro Visconde de Cairu, seguidor do liberalismo clássico de 
Adam Smith e perito na disciplina econômica. 
Em 1810, D. Marcus de Noronha e Brito, 8º Conde 
dos Arcos, governador da Capitania da Bahia, abriu em Sal-
vador a Aula de Comércio, onde se formariam os guarda-
livros e criou cadeiras de instrução pública no interior (NU-
NES. Apud MATTOS, 1962, p.46). 
Uma preocupação maior induziu a criação do Curso 
de Agricultura na Bahia, que era a segunda cidade em im-
portância, exportadora de açúcar, fumo e outros produtos 
coloniais pelo seu movimentado porto. O objetivo era au-
mentar a opulência e a prosperidade, utilizando-se a fertili-
dade do solo. A agricultura quando bem entendida e prati-
cada era considerada como a primeira fonte de abundância 
e de riqueza nacional. O Conde dos Arcos estabeleceu o 
curso para instrução pública dos habitantes dessa capitania 
e que servisse de normas para as demais capitanias. O ato 
de criação do curso fez menção ao conhecimento que Do-
mingos Borges de Barros havia adquirido na Universidade de 
Coimbra e nas suas longas viagens a ser nomeado para dire-
tor do Jardim Botânico e professor de agricultura. O ato 
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mencionou o cultivo de plantas indígenas, de que se possa 
tirar proveito, como plantas exóticas ou plantas já testadas 
como a cochonilha, o linho, o cânhamo, as amoreiras e as 
especiarias da Ásia. Uma ligação muito estreita estabeleceu-
se entre o Curso de Agricultura e o Jardim Botânico na Bahia 
(MOACYR, 1936, v.1, p.52-57). 
Na corte, instalou-se, igualmente, a cadeira de Bo-
tânica e Agricultura. Uma aula de Desenho foi também cria-
da na Bahia, ainda na gestão do oitavo Conde dos Arcos, D. 
Marcus de Noronha e Brito (COSTA, 1997). 
 
Aulas régias, música e ensino religioso 
Primitivo Moacyr (1936) relacionou várias outras 
atividades de instrução no Império, fornecendosubsídios 
para a história da educação. Considere-se o provimento de 
cadeiras necessárias ”a bem do serviço e muito conveniente 
ao aumento e prosperidade da literatura e educação nacio-
nal, dar providências para o provimento dos professores, 
para as diversas cadeiras do ensino público que se acham 
estabelecidas” (1936, p.59). Prosseguiu o governo na criação 
das aulas régias, instituídas no tempo do Marquês de Pom-
bal, com aumento dos pedidos de aulas de primeiras letras 
(CARDOSO, 2007, p.217). 
Provida a cadeira de Geometria, mediante reque-
rimento de um certo João Batista, foi ouvida a Mesa do 
Desembargo do Paço. A cadeira abrangia Aritmética, Álge-
bra e Trigonometria, considerando o ensino da Matemática 
o mais necessário a todas as classes de pessoas. Nas especi-
ficações, as matérias são distribuídas por ano, prevendo-se 
o uso das tábuas de Price. Previu-se o uso da língua francesa 
e inglesa como aquelas que entre as línguas vivas têm mais 
utilidade e uso. Dessa maneira, para aumento da prosperi-
dade da instrução pública, criou-se na Corte uma cadeira de 
língua francesa e outra da língua inglesa, em 1809. 
Para a Bahia foi uma Cadeira de Música, justificou-
se conforme atestou o Conde dos Arcos, pela decadência a 
que chegou o seu ensino, tão cultivada pelos povos civiliza-
dos em todas as idades e tão necessária ao decoro e esplen-
dor com que se deve celebrar o culto divino. Mas a carta do 
rei foi dirigida ao Conde da Palma, novo governador e capi-
tão geral da Capitania da Bahia, que substituiu o conde dos 
Arcos somente chegando em 30 de março de 1818 (MO-
ACYR, 1936, p.62). 
Em 1817, criou-se a Cadeira de Química na Bahia: 
“que se ensinem os princípios práticos da química, e seus 
diferentes ramos e aplicados às artes e à farmácia” (MO-
ACYR, 1932, p. 63). Regulada pelas instruções assinadas pelo 
Conde da Barca, sendo responsável pelo ensino o doutor 
Navarro de Andrade, nomeado lente, conservando as hon-
ras dos mestres da Universidade de Coimbra e pensão que 
recebeu pelo cofre da mesma Universidade. As instruções 
diziam como deveriam ser ensinada a teoria química e o uso 
de compêndio de sua escolha a serem aplicadas à essa inte-
ressante ciência às diferentes artes e ramos da indústria. Os 
alunos adquiririam a agilidade e perícia na prática das ope-
rações químicas tudo quanto fossem relativo à farmácia, 
agricultura, tinturaria, manufatura do açúcar e extração não 
somente das substâncias salinas, mas também dos óleos, 
betumes, resinas e gomas. O ensino de Química se ligava ao 
da Farmácia. Era a Química obrigatória aos que se destina-
vam à cirurgia, medicina e ao ofício de boticário. As instru-
ções foram emitidas em 28 de janeiro de 1817 e assinadas 
pelo Conde da Barca. 
Compreendeu-se a criação de escolas para a Bahia 
pela sua importância política e econômica como capitania e 
depois como província e pela eficiência da administração do 
Conde dos Arcos, conforme demonstrou Antonietta d’Aguiar 
Nunes (1997, 2003, 2004), no seu estudo sobre a sua políti-
ca educacional: vinte e cinco cadeiras de primeiras letras, 
onze de gramática latina, algumas criadas e outras existen-
tes, aulas maiores e autorização para abrir o Seminário Ar-
quiepiscopal. 
Em Recife, o bispo Azeredo Coutinho estruturou o 
ensino de Filosofia no seminário de estudos secundários e 
eclesiásticos. Um colégio de meninas foi estabelecido com 
legado do deão da Catedral. Quase um sistema de escolas 
primárias abriu-se em 1814 (OLIVEIRA LIMA, 1845, p.256-
257). Dando continuidade à criação de aulas, Desenho e 
História foram destinadas à Vila Rica, juntamente com Filo-
sofia e Retórica em Paracatu, em Minas Gerais informa 
Primitivo Moacyr (1936, p.67). 
 
Educação e cultura 
A Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e 
Arquitetura Civil originou-se da tão discutida, hoje, missão 
artística francesa, conforme entendimentos mantidos pelo 
Conde da Barca e a França, por intermédio do Marquês de 
Marialva, embaixador em Paris. 
Além de cursos e aulas, criou-se a Biblioteca Pública 
com os livros, instrumentos de Física e de Matemática que 
vieram de Lisboa, da biblioteca da Ajuda. Em 1811, o conde 
dos Arcos, por seu turno, instalou a Biblioteca Pública na 
Bahia. 
Criou-se um Museu para propagação das ciências 
naturais. Para tanto, foi adquirido o gabinete de história 
natural do barão Oheim, com uma bela coleção mineralógi-
ca. O Museu ocupou a casa do José Rodrigues Pereira de 
Almeida, no Campo de Santana. Dele proveio o atual Museu 
Nacional. 
O Jardim Botânico foi instituído para as plantas 
exóticas e plantas do Brasil. A criação da Imprensa Régia 
possibilitou a impressão de livros didáticos, de moral, de 
filosofia aristotélica, obras poéticas e publicações de José 
Silva Lisboa, Observações comerciais e econômicas (1808), 
Memórias do Rio de Janeiro (1820), do monsenhor Pizardo 
(OLIVEIRA LIMA, 1945, p. 260). 
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A cidade do Rio de Janeiro, sede da Corte, recebeu 
a maior atenção com as academias militares, cadeiras de 
Botânica, Matemática e Música. O conjunto da obra educa-
tiva foi formado por academias, cursos e aulas régias, a 
exemplo da aula de Economia. Além do apoio na Biblioteca 
Pública, Museu, Jardim Botânico 
Na síntese de Fernando de Azevedo (1964, p. 562) 
deixa claro as inovações: 
Sobre as ruínas do velho sistema colonial, limitou-se D. João 
VI a criar escolas especiais, montadas com o fim de satisfa-
zer o mais depressa possível e com menos despesas a tal ou 
qual necessidade do meio a que se transportou a corte por-
tuguesa. Era preciso, antes de mais nada, prover à defesa 
militar da Colônia e formar para isso oficiais e engenheiros, 
civis e militares: duas escolas vieram atender a essa necessi-
dade fundamental, criando-se em 1808 a Academia de Ma-
rinha e,em 1810, a Academia Real Militar, com oito anos de 
cursos. Eram necessários médicos e cirurgiões para o Exérci-
to e a Marinha: criaram-se então, em 1808, na Bahia, o 
curso de cirurgia que se instalou no Hospital Militar e, no Rio 
de Janeiro, os cursos de anatomia e cirurgia a que acrescen-
taram, em 1809, os de medicina, e que, ampliados em 1813, 
constituíram com os da Bahia, equiparados aos do Rio, as 
origens do ensino médico no Brasil. 
No final de suas considerações sobre a emancipa-
ção intelectual promovida por D. João VI, Oliveira Lima 
(1945, p. 262) ponderou, criticamente, que: “Somente go-
rou o projeto de uma Universidade – projeto acariciado pelo 
Rei, que chegou a convidar José Bonifácio para diretor, mas 
não igualmente favorecido por todos os seus ministros [...]”. 
Interpreta como uma pertinaz oposição que receava desa-
parecer um dos fundamentos em que se assentava a superi-
oridade da metrópole. Nesse mesmo sentido, foram os 
insistentes pedidos do Senado da Câmara de Salvador, a 
partir de 10 de outubro de 1809 com compromisso de ma-
nutenção de contribuintes para fundo de auxílio à Universi-
dade (SILVA, 1956, p. 125-126). Nenhuma das duas iniciati-
vas obteve êxito. A Universidade só veria um século depois. 
 
 Referências Bibliográficas 
AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira: introdução ao 
estudo da cultura no Brasil. 4. ed. ver. e ampl. São Paulo: 
Melhoramentos, 1964. Obras completas v. 13. 
BOAVENTURA, Edivaldo M. Origem e formação do sistema 
estadual de educação superior da Bahia -1968-1991. Revista 
da Faeeba: Educação e Contemporaneidade. Salvador, v. 
14, n. 24, p. 155-173, p. 155-173. jul./dez., 2005. 
______. O Estado e a educação superior na Bahia. In: CON-
GRESSO DAS ACADEMIAS IBERO-AMERICANAS DE HISTÓRIA, 
10, 2006, Lisboa. 
CALMON, Pedro. O rei do Brasil: a vida de D. João VI. 2. ed. 
aum. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1943. Brasili-
ana______. História do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olym-
pio,1963. v. 4, séculos 18 e 19. 
______. História da civilização brasileira. Brasília: Senado 
Federal, 2002. Biblioteca Básica Brasileira. 
CARDOSO, Tereza Fachada Levy. As bases da educação: as 
aulas régias, a Academia Militar, as aulas de Anatomia. Re-
vista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de 
Janeiro, a.168, n.436, p. 217- 240, jul./set. 2007. 
COSTA, Marcus de Noronha da. A administração civil, políti-
ca, militar e econômica do 8º. Conde dos Arcos na Bahia. 
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salva-
dor, n. 93, p. 91-137, jan./dez. 1997. 
CUNHA, Luiz Antônio. A universidade temporã. 2. ed. rev. 
ampl. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986. 
GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um 
príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napo-
leão e mudaram a História de Portugal e do Brasil São Paulo: 
Planeta, 2007. 
LIMA, Oliveira. Dom João VI no Brasil, 1808-1821. Rio de 
Janeiro: José Olympio, 1945. 
MALAFAIA, Eurico Brandão de Ataíde. Antônio de Araújo de 
Azevedo, Conde da Barca, diplomata e estadista, 1787-
1817. Braga: Arquivo Distrital de Braga/ Universidade do 
Minho, 2004 
______. A guerra peninsular: da gênese ao seu termo – 
notas históricas. Braga: Arquivo Distrital de Bra-
ga/Universidade do Minho, 2007. 
MOACYR, Primitivo. A instrução e o Império: subsídios para 
a história da educação do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 
1936. Brasiliana, série 5, n. 66. 
NISKIER, Arnaldo. Educação brasileira: 500 anos de História, 
1500-2000. São Paulo: Melhoramentos, 1989. 
NUNES, Antonietta d’Aguiar. Educação na Bahia no século 
XX: algumas considerações. Salvador, Revista do Instituto 
Geográfico e Histórico da Bahia, v. 93, p. 167, jan./dez. 
1997. 
______. O governo do 8º Conde dos Arcos (D. Marcos de 
Noronha e Brito) na Bahia (1810-1818) e sua política edu-
cacional (publicado no CD de Anais do VI Colóquio do Mu-
seu Pedagógico da UESB em Vitória da Conquista, realizado 
de 27 a 29 de novembro de 2006) e encaminhado para pu-
blicação na Revista da FACED/UFBA 
______. A educação na Bahia durante os governos de D. 
Maria I e de D. João, seu filho (1777-1821), Aracaju, Revista 
do Mestrado em Educação da Universidade Federal de 
Sergipe, v. 7, p. 37-50, dez.2003. 
______. A formação universitária na Bahia desde os tempos 
coloniais. Salvador, 2006. Inédito 
PEDREIRA, Jorge; COSTA, Fernando Dores. D. João VI: o 
clemente. Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2006. 
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SILVA, Alberto. Raízes históricas da Universidade da Bahia. 
Salvador: Universidade da Bahia, 1956. 
TAVARES, Luiz Henrique Dias. História da Bahia. 10. ed. São 
Paulo: UNESP, Salvador: Edufba, 2001. 
VER HUELL, Quirijn Maurits Rudolph. Minha primeira via-
gem marítima: 1807-1810. Tradução de Jan Maurício van 
Holthe. Salvador: Edufba, 2007 
WILCKEN, Patrick. Império à deriva: a corte portuguesa no 
Rio de Janeiro, 1808-1821. Ed. 5. Porto: Civilização, 2006. 
 
 
 Período Imperial (1822-1889) 
 
Em 1820 o povo português mostra-se descontente 
com a demora do retorno da Família Real e inicia a Revolu-
ção Constitucionalista, na cidade do Porto. Isto apressa a 
volta de D. João VI a Portugal em 1821. Em sete de setem-
bro de 1822, seu filho D. Pedro I declara a Independência do 
Brasil e, inspirada na Constituição francesa, de cunho liberal, 
em 1824 é outorgada a primeira Constituição brasileira. O 
Art. 179 desta Carta Magna afirmava e garantia à ‘instrução 
primária e gratuita para todos os cidadãos’. 
A Proclamação da Independência do Brasil, em 
1822, não modificou o panorama da Educação Nacional. O 
que se observa no cenário nacional, desde então, é a tenta-
tiva do Poder Público (federal, estadual e municipal) de 
transformar a realidade através da lei, o que, via de regra, 
não trouxe os resultados esperados em virtude da falta de 
suporte financeiro, que evidencia a falta de compromisso 
político dos governantes para resolver os problemas educa-
cionais estruturais seculares: falta de professores qualifica-
dos, salário indigno, precariedade das escolas, falta de ma-
terial didático adequado, etc. 
Deve ser destacado, desse período, o início da legis-
lação nacional: 
 
1) O Decreto, de 1º de março de 1823. 
Que instituiu o Método Lancaster, conhecido como ensino 
mútuo, no qual os estudantes com maior aproveitamento 
(monitores ou decuriões) auxiliavam os demais, cada moni-
tor/decurião orientava dez colegas 
 
2) Constituição Brasileira 
Outorgada em 1824, no seu art. 179, inciso XXXII, garante “A 
Instrucção primaria e gratuita a todos os Cidadãos”. 
 
 
 
3) A Lei da Instrução Pública, de 15 de outubro de 1827. 
Que estabelece, no seu art. 1º: “Em todas as cidades, vilas e 
lugares mais populosos haverão as escolas de primeiras 
letras que forem necessárias.” 
O Ato Adicional de 1834, que instituiu a Regência 
Una, no seu art. 10, inciso II, descentralizou o ensino, man-
tendo a competência da União para legislar sobre o ensino 
superior e atribuindo às províncias a responsabilidade pela 
escola primária e secundária. No ano seguinte, em 1835, é 
fundada a primeira Escola Normal do Brasil, em Niterói (RJ). 
Em 1837, na cidade do Rio de Janeiro, é fundado 
o Colégio Pedro II, que, sob as bênçãos da Coroa, deveria ser 
o padrão de escola secundária. Tal intenção, porém, não se 
materializou, uma vez que as suas condições de funciona-
mento eram bem melhores que as dos colégios das provín-
cias, que careciam, dentre outras coisas, de professores 
qualificados. Para diminuir tal deficiência, foram instaladas 
as escolas normais em Niterói (1835), Bahia (1836), Ceará 
(1845) e São Paulo (1846), o que não atendia a grande de-
manda. Na República, o Colégio Pedro II continuou a ser 
referência educacional a nível secundário para ginásios 
estaduais e escolas privadas. 
A partir de 1840, a economia do Império, antes ba-
seada na produção açucareira do Nordeste, encontra no 
café um novo produto de exportação, estabelecendo uma 
nova sociedade, pois as cidades começaram a ocupar um 
papel de destaque na economia nacional, em substituição 
ao campo. A acumulação de capitais deu início à industriali-
zação, exigindo uma mão de obra apta a lidar com as má-
quinas, responsabilidade atribuída à educação. A resposta 
estatal ocorreu, embora que timidamente: a maior parte 
das medidas ficou circunscrita ao Município da Corte. A 
criação das escolas normais, apesar de algumas dificuldades 
– os cursos eram noturnos, o que implicava a realização de 
poucas aulas práticas, não havia garantia da profissionaliza-
ção, além da má preparação dos professores – permitiu uma 
discreta melhoria da qualidade do ensino primário, ainda 
restrito às aulas de leitura, escrita e cálculo. 
A instrução secundária, cuja responsabilidade pela 
organização era das províncias, ainda era marcada pelas 
aulas régias, o que contribuía para que fosse vista apenas 
como um passaporte para o ensino superior, devendo pre-
parar os estudantes aos exames de admissão. Quanto ao 
ensino superior, os cursos se restringiam aos: jurídicos, em 
Olinda e São Paulo; médicos, na Bahia e Rio de Janeiro; 
militares, no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Fortaleza; 
de minas, em Ouro Preto; de marinha e ensino artístico, no 
Rio de Janeiro; e de ensino religioso, em 6 seminários. 
Entre 1832 e 1850, vários relatórios foram escritos 
sobre a educação, tendo em comum os seguintes pontos: 
- quadro caótico da educação primária. 
- insuficiência do método lancasteriano. 
- preocupação com a qualidade dos prédios escolares. 
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- necessidade de fiscalização das escolas. 
- quadro docente muitas vezes despreparado para desem-
penhar a contento a sua função. 
A Reforma de Couto Ferraz, de 1854, revela a ten-
tativa do Governo Federal de criar normas que orientassem 
a educação nacional, ampliadas com o Decreto de Leôncio 
de Carvalho, de 1878, o qual precisava da aprovação do 
Legislativo, motivo pelo qual Rui Barbosa (1849-
1923) elaborou dois pareceres, em 1882: 
1) Sobre o ensino secundário e superior. 
2) Sobre o ensino primário e instituições complementares. 
 
A partir da relação estabelecida entre desenvolvi-
mento econômico, político e social de algumas nações, com 
o grau da instrução primária alcançado, o Parecer apontava 
a educação como o caminho a ser trilhado na extinção da 
ignorância que assolava a nossa pátria, propondo a criação 
de um Ministério da Instrução Pública. Uma novidade con-
sistia na defesa da implantação, no Brasil, dos jardins de 
infância, inspirados nos kindergartens propostos 
por Friedrich Fröbel (1782-1852) na década de 1830, desti-
nados às crianças de 3 a 7 anos. 
A 2ª metade do século XIX foi marcada pela implan-
tação de estabelecimentos de nível secundário dedicados ao 
público feminino. Até então, somente uma pequena parcela 
da população feminina recebia aulas de primeiras letras, 
prendas domésticas e boas maneiras, sendo que um contin-
gente ainda mais reduzido é que tinha acesso ao estudo de 
línguas modernas, ciências e disciplinas pedagógicas. 
Quanto mais o café gerava riqueza para os fazen-
deiros paulistas, mais decaía a importância do açúcar na 
economia nacional. 
É interessante lembrar que essa aristocracia tradi-
cional estava profundamente ligada à Monarquia, enquanto 
a emergente aristocracia não tinha vínculos tão profundos 
com tal regime, o que contribuiu para que paulatinamente 
essa desejasse maior participação nas decisões do Governo, 
o que levou à fundação do Partido Republicano, em 1870. 
É nesse contexto de mudança que as novas ideias 
ganham cada vez mais espaço, notadamente às relacionadas 
ao Positivismo, cujo maior expoente foi Augusto Comte 
(1798-1857). 
Refutando o pensamento católico conservador, os 
republicanos defendiam a posição de que a Ciência deveria 
guiar os passos da sociedade, imprimindo-lhe o progresso 
tão almejado em todos os recantos do País. 
Estima-se que, em 1867, apenas 10% da população 
tinha acesso à escola primária. O analfabetismo, em 1890, 
atingia a marca de 67,2%, revelando a falta de zelo do Poder 
Público nesse período pela Educação. 
(ARANHA, 2002, p. 154-155) 
Assistiu-se, portanto, desde o final do século XVIII e 
boa parte do século XIX até a Proclamação da República, a 
uma série de medidas isoladas – instituição das aulas régias, 
criação das escolas de primeiras letras e escolas normais, 
reformas educacionais... – as quais foram insuficientes para 
elaborar um sistema educacional nacional. 
 
 Referências Bibliográficas 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2. 
ed. São Paulo: Moderna, 2002. 
BARGUIL, Paulo Meireles. O Homem e a conquista dos espa-
ços – o que os alunos e os professores fazem, sentem e 
aprendem na escola. Fortaleza: Gráfica e Editora LCR, 2006. 
BATISTA, Maria Aparecida Camargo. O primeiro “kindergar-
ten” na província de São Paulo. 1996. Dissertação (Mestrado 
em Educação). USP, São Paulo. 
BENITO, Agustín Escolano. Tiempos y espacios para la escue-
la – Ensayos históricos. Madrid: Biblioteca Nueva, 2000. 
FRAGO, Antonio Viñao. Do Espaço escolar e da escola como 
lugar: propostas e questões. In: FRAGO, Antonio Viñao; 
ESCOLANO, Agustín. Currículo, espaço e subjetividade: a 
arquitetura como programa. Tradução Alfredo Veiga-Neto. 
Rio de Janeiro: DP&A, 1998. p. 59-139. 
 
 Período Republicano (1889 - ...) 
Com a Proclamação da República, o Brasil adotou o 
federalismo e o poder, até então centralizado no imperador, 
foi dividido entre o presidente e os governos estaduais. O 
período foi marcado pelo desenvolvimento da indústria, 
pela reestruturação da força de trabalho - não mais escrava 
-, pelas greves operárias e pela Semana de Arte Moderna. 
No mundo, aconteceu a Revolução Russa, a Primeira Guerra 
Mundial e a queda da bolsa de Nova York. Essas transforma-
ções tiveram ecos na Educação. A ideia do ensino como 
direito público se fortaleceu e surgiram modelos que se 
perpetuaram. 
 
República Velha 
No Brasil, com a Constituição de 1891, a União fi-
cou responsável apenas pela Educação no Distrito Federal 
(então, o Rio de Janeiro). "Os estados mais ricos assumem 
diretamente a responsabilidade pela oferta de ensino e os 
mais pobres repassam-na para seus municípios, ainda mais 
pobres", comenta Romualdo Portela no livro Educação e 
Federalismo no Brasil: Combater as Desigualdades e Garan-
tir a Diversidade. 
Diante da fragmentação organizativa e da falta de 
uma orientação nacional, surgiram diversas propostas de 
reforma. Elas eram calcadas em diferentes ideais que passa-
ram a disputar espaço. Os embates principais foram entre o 
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positivismo e o escolanovismo, mas também estavam pre-
sentes os ideais católicos e o anarquismo. 
Não pode ser uma escola de tempo parcial, nem uma escola 
somente de letras, nem uma escola de iniciação intelectual, 
mas uma escola sobretudo prática, de iniciação ao trabalho, 
de formação de hábitos de pensar, hábitos de fazer, hábitos 
de trabalhar e hábitos de conviver e participar em uma soci-
edade democrática, cujo soberano é o próprio cidadão. (Aní-
sio Teixeira) 
Diferentes concepções de ensino 
As ideias positivistas ganharam força com a refor-
ma de 1890, organizada por Benjamin Constant (1833-
1891). Adepto das teses do filósofo francês Auguste Comte 
(1798-1857), ele foi nomeado chefe do Ministério da Instru-
ção Pública, Correios e Telégrafos - primeiro órgão desse 
nível a se ocupar da Educação. Propôs mudanças nos ensi-
nos primário (de 7 a 13 anos) e secundário (de 13 a 15 anos) 
do Distrito Federal, priorizando disciplinas científicas como 
Matemática e Física, em detrimentos das humanas - que 
eram o foco das escolas de primeiras letras, criadas no Im-
pério. 
Benjamin Constant foi ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos. 
Nos grupos escolares estudavam muitos alunos, divididos por série e idade 
 
A resistência da elite e da Igreja católica impediram 
que o projeto de Constant avançasse, mas ele abriu espaço 
para outras propostas. A que alcançou maior êxito foi a 
reforma paulista, implementada de 1892 a 1896. Ela tinha 
como base a criação dos grupos escolares. Como relata 
Dermeval Saviani no livro História das Ideias Pedagógicas no 
Brasil (489 págs., Ed. Autores Associados, tel. 19/3289-5930, 
89 reais), esse modelo - que foi replicado na maioria dos 
estados - reunia em um mesmo espaço as antigas escolas de 
primeiras letras. O ensino passou a ser organizado em séries 
e os estudantes foram divididos por faixa etária. 
Tornou-se necessário formar mais professores. A 
intenção do governo paulista era abrir quatro novas Escolas 
Normais, mas só a da capital saiu do papel no início da Re-
pública. Paralelamente, foi criada uma solução rápida, mas 
de qualidade inferior: as escolas complementares. 
Foi preciso, também, estruturar a administração da 
Educação e formular diretrizes e normas. "Isso gerou novas 
relações de poder dentro das escolas e, a partir de 1894, 
surge o cargo de diretor escolar", registra Jorge Uilson Clark, 
no artigo A Primeira República, as Escolas Graduadas e o 
Ideário do Iluminismo

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