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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/352159952 Desenvolvimento da Criança: família, escola e saúde Book · September 2017 DOI: 10.7436/2017.dcfes.0 CITATIONS 8 READS 4,516 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Fisioterapia View project Atividade física precoce: proposta de acompanhamento e intervençao em programa de estimulação precoce e fisioterapia aquática em bebês típicos e em risco ao desenvolvimento View project Luize Bueno Universidade Federal do Paraná 42 PUBLICATIONS 118 CITATIONS SEE PROFILE Vera Lúcia Israel Universidade Federal do Paraná 125 PUBLICATIONS 475 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Luize Bueno on 05 June 2021. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/352159952_Desenvolvimento_da_Crianca_familia_escola_e_saude?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/352159952_Desenvolvimento_da_Crianca_familia_escola_e_saude?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Fisioterapia?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Atividade-fisica-precoce-proposta-de-acompanhamento-e-intervencao-em-programa-de-estimulacao-precoce-e-fisioterapia-aquatica-em-bebes-tipicos-e-em-risco-ao-desenvolvimento?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Luize-Bueno-2?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Luize-Bueno-2?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-do-Parana?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Luize-Bueno-2?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Vera-Israel?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Vera-Israel?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-do-Parana?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Vera-Israel?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Luize-Bueno-2?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Luize Bueno de Araujo Vera Lúcia Israel (Editores) Desenvolvimento da Criança: Faḿılia, Escola e Saúde 2017 Copyright c©2017 Omnipax Editora Ltda Curitiba, PR A editora disponibiliza por acesso livre a versão eletrônica deste livro no site: http://www.omnipax. com.br, sob uma licença Creative Commons 3.0 Atribuição-Não Comercial-Sem Derivados (CC BY-NC- ND 3.0 BR). Digital Object Identifier (DOI): 10.7436/2017.dcfes.0 PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO Ilustrações dos caṕıtulos: Henrique Martins Schmidt Capa: Sérgio Alexandre Prokofiev Projeto gráfico e editoração: Omnipax Editora Ltda Ficha catalográfica: Juliana Farias Motta (CRB7/5880) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D451 Desenvolvimento da criança : famı́lia, escola e saúde / Editores Luize Bueno de Araujo; Vera Lúcia Israel. — Curitiba, PR: Omnipax, 2017 170 p. Inclui referências eISBN: 978-85-64619-19-7 ISBN: 978-85-64619-22-7 1. Crianças – Desenvolvimento. 2. Capacidade motora em crianças. 3. Saúde I. Araujo, Luize Bueno (ed.). II. Israel, Vera Lúcia (ed.). III. T́ıtulo CDD (22. ed.) 152.38 http://www.omnipax.com.br http://www.omnipax.com.br http://dx.doi.org/10.7436/2017.dcfes.0 Organizadores Luize Bueno de Araujo: Doutoranda em Atividade F́ısica e Saúde pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Comportamento Motor pelo Programa de Pós-Graduação em Educação F́ısica da UFPR (2013). Graduação em Fisioterapia pela UFPR (2010) e aperfeiçoamento em Reabilitação F́ısica na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) (2014). Tem experiência na docência, foi professora substituta do curso de Fisioterapia da UFPR (2011–2013). Atuou como orientadora e tutora à distância no Curso de Especialização em Gênero e Diversidade na Escola (UFPR) (2014–2016). Tem experiência na área de Fisioterapia, com ênfase em Neuropediatria, Fisioterapia Neurofuncional e Fisioterapia Aquática. Atualmente atua como docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Jangada – Instituto Educacional Santa Catarina e fisioterapeuta neurofuncional adulto e pediátrico da Fisioform – Cĺınica de Fisioterapia e Reabilitação Ltda. Link para o curŕıculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/ 3039300334535258 Vera Lúcia Israel: Graduação em Fisioterapia pela Pontif́ıcia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e em Educação F́ısica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestrado e doutorado no Programa de Pós- Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar, SP). Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Docente do Curso de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Educação F́ısica da UFPR. Link para o curŕıculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1564269877369119 http://lattes.cnpq.br/3039300334535258 http://lattes.cnpq.br/3039300334535258 http://lattes.cnpq.br/1564269877369119 . Colaboradores Adriano Zanardi da Silva: Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestrado em andamento pelo Programa de Pós-Graduação em Educação F́ısica da UFPR, linha de Pesquisa Atividade F́ısica e Saúde. Bruna Yamaguchi: Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação F́ısica da UFPR. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação F́ısica da UFPR. Fisioterapeuta do munićıpio de Tijucas do Sul, PR. Henrique Martins Schmidt: Acadêmico de Especialização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica Funcional pela Universidade Positivo (UP). Graduado em Fisioterapia pela UniversidadeCampos Andrade (UNIANDRADE). Autor das ilustrações utilizadas em caṕıtulos desse livro. As ilustrações podem ser utilizadas desde que citado o ilustrador e a referida fonte. Jheniffer Freitas: Acadêmica de Especialização em Fisioterapia em Neurofuncional (IBRATE). Graduada em Fisioterapia pela Universidade Campos Andrade (UNIANDRADE). Formação no Conceito Bobath, e Pediasuitr. Fisioterapeuta do Centro de Pesquisa Vitória (Curitiba, PR). Karina Fink: Pós-graduada em Fisioterapia em Neurologia com ênfase em Neuropediatria pelo Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino (IBRATE). Formação no Conceito Neuroevolutivo de Bobath. Aperfeiçoamento em Fisioterapia Pediátrica pelo Hospital Pequeno Pŕıncipe. Fisioterapeuta contratada pela Unidade de saúde Mãe Curitibana, equipe bebê de risco. Fisioterapeuta da equipe de Home- Care da Unifisio. Graduada em Fisioterapia pela Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu (UNIGUAÇU), União da Vitória, PR. . Manoela de Paula Ferreira: Doutoranda em Atividade F́ısica em Saúde pelo Programa de Pós-graduação em Educação F́ısica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestre em Atividade F́ısica e Saúde pela UFPR, Fisioterapeuta pela UFPR. Bacharel em Dança pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). É Fisioterapeuta e Preceptora de Fisioterapia da Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde de Curitiba (FEAES). Tem formação em Pilates solo e acessórios, Microfisioterapia e Bioalinhamento. Maria de Fátima Minetto: Psicóloga, Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora Adjunta do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação da UFPR e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR, na linha de pesquisa Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. Mariana Rodrigues Gaspar Corrêa: Fisioterapeuta formada pela Universidade Federal do Paraná, Pós- Graduada em Terapia Manual e Postural aplicada à Ortopedia e Traumatologia – Ibrate. Nelly Narcizo de Souza: Pedagoga, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Professora Assistente e Coordenadora dos cursos de Pós Graduação lato sensu em Neuropsicologia Educacional e em Desenvolvimento Infantil na Universidade Positivo. Tainá Ribas Mélo: Doutoranda em Atividade F́ısica e Saúde pelo Departamento de Educação F́ısica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestre em Comportamento Motor (UFPR), Especialista em Intervenção em Neuropediatria pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar, SP). Graduada em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Formação no Conceito Bobath, Método Isostretching e Pediasuitr. Fisioterapeuta da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Paranaguá. Docente do Curso de Fisioterapia da Uniandrade. Docente e tutora do Curso de Especialização em Gênero e Diversidade na Escola/UFPR. Preceptora do Projeto PET Redes de Atenção às PcD/UFPR. Docente do curso de especialização em neurologia com ênfase em neuropediatria do IBRATE. Prefácio . Aprender a aprender sempre e a cada momento, desde o momento em que fomos gerados. Na infância constrúımos nossos alicerces baseados num percurso árduo de experiências e emoções com movimentos e sensações, a cada dia novos desafios para alcançar a felicidade e a plenitude de crescimento e desenvolvimento na busca de nossa saúde f́ısica, emocional, espiritual, afetiva, psicológica, mental, intelectual, cognitiva e na diversidade de ambientes e processos. Este é o desenvolvimento humano no decorrer da vida. Interações mãe/pai/bebê, famı́lia/comunidade, meio ambiente/ natureza/pessoas, famı́lia/escola, famı́lia/criança/escola, meio social e os profissionais de diferentes áreas de conhecimento em especial da saúde e da educação. Nossa construção de vida perpassa sim todos estes meios e vivências. Teorias e práticas nos envolvem e levam a evolução de novas etapas de desenvolvimento. Assim, esse livro articulou com essas diversas interações e experiências em busca da evolução. Na sequência apresentamos uma śıntese de cada caṕıtulo da obra que o leitor encontrará. No Caṕıtulo 1 “Como é o processo desenvolvimento da criança nos primeiros 2 anos de idade?” as autoras percorrem os conceitos básicos sobre a criança e seu desenvolvimento neuromotor discutindo o paradigma contextual na faixa etária de 0 a 2 anos de idade. Como o cérebro consegue por meio da neuroplasticidade junto às experiências do movimento corporal da criança pequena favorecer o crescimento e a evolução de suas habilidades motoras. Revisando os fatores positivos e negativos que interferem no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) e fornecendo dicas de estimulação por meio de brincadeiras nos primeiros anos de vida da criança. Já no Caṕıtulo 2 “Interações neuromotoras da criança: indiv́ıduo, ambiente e tarefa” são discutidos aspectos da atuação da Fisioterapia favorecendo a promoção e prevenção da saúde da criança. É relatado um projeto que avaliou fatores neuropsicomotores de mais de 400 crianças de 0 a 5 anos, na rede pública de ensino no litoral. E são discutidos o DNPM na infância e suas mudanças que são cont́ınuas, progressivas e complexas nas capacidades funcionais do movimento corporal, da cognição e da afetividade. Além de propor a aproximação entre famı́lia, escola e profissionais da educação e da saúde, com intervenções formativas e de contextos psicomotores para cada parte envolvida no desenvolvimento infantil. No Caṕıtulo 3, “Para fazer um laço é necessário unir as pontas...”, o desenvolvimento motor infantil é apresentado como fruto da interação e envolvimento entre famı́lia e escola. A adequação de ambientes e das tarefas para a estimulação adequada é descrito como parte de um projeto acadêmico desenvolvido nas escolas de educação infantil do litoral paranaense. É apresentado o modelo de Newell como meio de entender o desenvolvido da criança pequena e suas relações nesta fase da infância. Além das autoras descreverem aspectos de modelos biomédico e biopsicossocial correlacionando-os nos sistema único de saúde, são apresentadas estratégias da Organização Mundial de Saúde para o cuidado e acompanhamento da criança e descritos exemplos usados no projeto desenvolvido na educação infantil para unir as pontas Famı́lia–Escola = Laço. Para englobar as informações do desenvolvimento infantil no Caṕıtulo 4 é apresentado o projeto “Geoprocessamento como instrumento no processo fisioterapêutico no cuidado da criança”. Assim, pode-se traçar o perfil do usuário (criança e famı́lia) da escola de educação infantil e traçar metas e ações na gestão municipal, estadual e federal de aprimoramento da mesma. Levantamentos são feitos em relação ao número de habitantes, renda, escolaridade, doenças, preferências, etc., por meio de dados mapeados em sistemas digitais. São apresentados conceitos básicos de georreferenciamento como de análise e avaliação de riscos à saúde coletiva e geoprocessamento como técnica de coleta, tratamento e exibição de informações referenciadas em um determinado espaço geográfico. Finalmente se discute por meio de dados do projeto realizado como a Fisioterapia pode se utilizar desta ferramenta para produzir informações em saúde da criança. O objetivo do Caṕıtulo 5 é revisar e atualizar os principais recursos, técnicas e métodos da Fisioterapia neurofuncional aplicada à infância buscando evidências conhecidas e atualizadas sobre seus efeitos em crianças. O t́ıtulo “Fisioterapia neurofuncional: atualização de intervenções na infância” traz a experiência localizada na literatura da área e a contribuição de diferentes profissionais fisioterapeutas que produzem categorias de atenção em Fisioterapia esquematizando os achados quanto a cinesioterapia, métodos integrativos e recursos auxiliares adicionais. Isto permitirá ao leitorrevisar ou conhecer conceitos, objetivos terapêuticos e funcionais e resultados da Fisioterapia neurofuncional na infância, bem como novas estratégias e ou tentativas de promover, prevenir e reabilitar saúde integral da criança nos diferentes ńıveis. No Caṕıtulo 6 “Mı́dias: amigas ou vilãs? qual a influência sobre o desenvolvimento das crianças?” as autoras descrevem aspectos históricos de modelos de cuidar e/ou educar na infância, apresentando os ambientes da famı́lia e escola com a presença de mı́dias que interferem no DNPM da criança pequena. É resultado de um estudo que buscou entender a influência da tecnologia da informação e mı́dias no desenvolvimento infantil. São apresentados os dados obtidos da literatura da área e correlaciona-se os cenários da infância com as recomendações de profissionais e associações sobre como a famı́lia deve usar ou permitir o uso das mı́dias pela criança pequena e os resultados e efeitos das mesmas no desenvolvimento da criança. Além de descrever os benéficos do brincar com a criança inclusive usando a tecnologia, tanto junto à famı́lia como na escola. “Endireite essas costas menin@! Verdades e mitos sobre o desenvolvimento postural na infância” é tratado no Caṕıtulo 7. Orientações e dicas para diminuir dúvidas e angústias dos profissionais e familiares a respeito da postura da sua criança e do impacto que essas alterações podem ter no DNPM. É descrito um estudo de revisão sobre desenvolvimento postural do recém-nascido até a adolescência, revisando conceitos básicos sobre formação da coluna vertebral e outras estruturas corporais e como junto com o crescimento da criança como ocorre os aspectos destas mudanças ao longo da infância. Destacando uso de mochilas, tablets, celulares, entre outras tecnologias que podem afetar a postura e consequentemente os movimentos da criança e do adolescente. Prevenir fatores negativos no desenvolvimento postural depende da orientação e observação familiar quanto a sinais de alerta e quando em dúvida procurar profissionais da saúde, em especial educação em saúde feita por fisioterapeutas. O Caṕıtulo 8 discute o “O paradigma inclusivo e a educação infantil: qualidade no atendimento e promoção do desenvolvimento”, abordando a Lei no 13.146/2015 sobre a inclusão da pessoa com deficiência e sua relação de atuação junto à escola e a famı́lia. Descrevem-se interações históricas da Educação Infantil e suas Diretrizes Curriculares Nacionais e as poĺıticas de inclusão e os desafios nacionais para que de fato haja sucesso neste processo de inclusão, desde a formação do professor até o envolvimento da escola e da comunidade com dicas práticas. No Caṕıtulo 9 “Vivendo em sociedade: a inclusão e a valorização do diferente”, são apresentados e revisitados conceitos de inclusão educacional e os relatos e experiências da atuação da Fisioterapia e processos de inclusão de crianças especiais. Correlaciona os diferentes tipos de deficiências e dicas de estimulação, bem como apresenta conceito biopsicossocial do modelo da Organização Mundial de Saúde (OMS) denominado Classificação Internacional da Funcionalidade (CIF) desenvolvendo uma sistematização das restrições do modelo contextual (ecológico ou sistêmico) com a tŕıade pessoa com deficiência (PcD), acessibilidade e tarefas educacionais para a busca da educação em saúde no desenvolvimento desta pessoa com deficiência. Há o cuidado de demonstrar exemplos práticos e dicas de atitudes, serviços e tecnologias assistivas para facilitar o cotidiano desta PcD. Finalmente, as autoras apresentam dados e exemplos práticos de um projeto do laboratório do núcleo de atenção à pessoa com deficiência (LABNAPNE) desenvolvido Na Universidade Federal do Paraná no litoral entre 2007 e 2012. Que profissionais, familiares, educadores, gestores e estudantes possam aproveitar os relatos feitos nesta construção teórica que está fechando um ciclo histórico de vivências e aprendizados no litoral paranaense, com algumas contribuições de pesquisadores de outras cidades. Sejam Felizes!! Luize Bueno de Araujo Vera Lúcia Israel Capítulos 1 Como é o processo de desenvolvimento da criança nos primeiros 2 anos de idade? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 Luize Bueno de Araujo e Vera Lúcia Israel 2 Interações neuromotoras da criança: indiv́ıduo, ambiente e tarefa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Bruna Yamaguchi e Vera Lúcia Israel 3 Para fazer um laço é necessário unir as pontas... envolvimento entre famı́lia e escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Mariana Rodrigues Gaspar Corrêa, Luize Bueno de Araujo e Vera Lúcia Israel 4 Geoprocessamento como instrumento ou indicador no processo fisioterapêutico no cuidado da criança . . . . . . . . . . . . . . . 41 Adriano Zanardi da Silva, Luize Bueno de Araujo e Vera Lúcia Israel 5 Fisioterapia neurofuncional: atualização de intervenções na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Tainá Ribas Mélo, Manoela de Paula Ferreira, Bruna Yamaguchi, Vera Lúcia Israel e Luize Bueno de Araujo 6 Mı́dias: amigas ou vilãs? Qual a influência sobre o desenvolvimento das crianças? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Tainá Ribas Mélo e Karina Fink 7 “Endireite essas costas menin@!” verdades e mitos sobre o desenvolvimento postural na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Tainá Ribas Mélo, Jheniffer Freitas e Henrique Martins Schmidt 8 O paradigma inclusivo e a educação infantil: qualidade no atendimento e promoção do desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . 129 Nelly Narciso de Souza e Maria de Fátima Minetto 9 Vivendo em sociedade: a inclusão e a valorização do diferente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 Manoela de Paula Ferreira, Tainá Ribas Mélo e Vera Lúcia Israel . Capítulo 1 Como é o Processo de Desenvolvimento da Criança nos Primeiros 2 Anos de Idade? Luize Bueno de Araujo∗ e Vera Lúcia Israel 1. Introdução Você já ouviu falar que os dois primeiros anos de uma criança são essenciais para seu desenvolvimento? Mas e áı? O que esperamos de uma criança nesta faixa etária? O que é posśıvel fazer para otimizar esta fase cŕıtica do desenvolvimento? Estas são dúvidas de muitas famı́lias e profissionais que trabalham com a criança pequena. Muitas pessoas ainda acreditam que o recém-nascido responde exclusivamente de forma reflexa e automática, porém é necessário ter uma visão contextual sobre o desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), entender que nesta fase a criança possui potenciais e que suas capacidades e habilidades estão em amadurecimento. Para que esta evolução aconteça de forma saudável e que o DNPM seja pleno, deve-se lembrar de que esta criança recebe influências dos ambientes em que vive e dos est́ımulos ofertados e vivenciados por ela. Dessa forma, o objetivo deste caṕıtulo é abordar o DNPM da criança desde o seu nascimento até os dois anos de idade, destacando o que é esperado no desenvolvimento t́ıpico, bem como as formas de estimulação. 2. O Que é Desenvolvimento Neuropsicomotor? Estudiosos utilizam diferentes denominações e conceitos teóricos sobre o DNPM, como desenvolvimento motor normal, desenvolvimento motor t́ıpico, desenvolvimento neurossensoriomotor, desenvolvimento neuropsicomotor, entre outras nomenclaturas (Castilho-Weinert & Forti- Bellani, 2011). Neste caṕıtulo será utilizado o termo desenvolvimento neuropsicomotor t́ıpico. O DNPM é definido como um processo sequencial, cont́ınuo e relacionado à idade cronológica, porém não depende única e exclusivamente dela. Com opassar dos meses e dos anos, por meio da estimulação ∗Autor para contato: luizebueno@hotmail.com Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.01 ISBN 978-85-64619-19-7 luizebueno@hotmail.com 2 Araujo & Israel da famı́lia e do ambiente, a criança adquire uma enorme quantidade de habilidades motoras, que progridem de movimentos simples, denominados de reflexos, até a execução de habilidades motoras altamente complexas, que compreendem os movimentos voluntários que usa no dia-a-dia (Haywood & Getchell, 2010). Como exemplo, até os primeiros dois meses de idade, quando o bebê é colocado em pé com apoio do tronco e se realiza uma flexão anterior do tronco, ele vai responder reflexamente com alguns passos, é o chamado reflexo da marcha automática, já por volta dos 12 aos 15 meses a criança t́ıpica tem um repertório motor mais complexo e condições neuro-músculo- esqueléticas para adquirir a marcha independente. É necessário destacar que o DNPM tem interação direta com a neuroplasticidade do cérebro e com isto tem relações com os aspectos motores, cognitivos, afetivos, sensoriais e socioambientais. A área motora do cérebro da criança analisa a produção e regulação do movimento, a área cognitiva estuda as implicações da estruturação do pensamento para o movimento e a área afetiva procura compreender como as emoções interferem nos movimentos (Israel & Bertoldi, 2000). A informação sensorial é uma resposta enviada ao sistema nervoso do ser humano e serve como feedback para moldar o movimento e planejar sua execução. Porém se destaca que, apesar das áreas trabalharem em conjunto para a execução dos movimentos, não quer dizer que uma criança que tem uma deficiência f́ısico/motora tenha, por exemplo, uma deficiência auditiva, ou que uma criança com dificuldade na linguagem tenha uma deficiência intelectual. Portanto, a criança nunca deve ser subestimada por estar em uma cadeira de rodas ou por ter alguma dificuldade de expressão, sempre procure estimular seus potenciais neuromotores e cognitivo-afetivos. Por exemplo, uma criança que nasceu com cegueira pode demorar mais tempo para adquirir a marcha independente do que uma criança com visão ı́ntegra, mesmo que seu sistema neuro-músculo-esquelético esteja intacto. Isso acontece porque ela terá uma privação sensorial relacionada com o sistema visual, assim, os outros sistemas do seu corpo irão sofrer ajustes e adaptações para suprir esta necessidade da visão, portanto, esta criança precisa de uma maior variedade de est́ımulos. Atualmente o olhar para a saúde é mais complexo, explicado pelo modelo contextual, também conhecido como ecológico ou sistêmico, ao considerar o ser humano de modo biopsicossocial. Este é o modelo da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (Organização Mundial da Saúde, 2015) que busca uma abordagem da saúde integral, considerando desde a questão da condição de saúde, enquanto aspectos funcionais e até mesmo espirituais. Na Figura 1, observa-se que para integrar estes conceitos entre o desenvolvimento infantil e a CIF se tem hoje a CIF – Crianças e Jovens (CIF-CJ), a qual destaca que o DNPM depende de relações da criança com O processo de desenvolvimento da criança 3 Figura 1. Modelo da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Fonte: (Organização Mundial da Saúde, 2015, p. 20). o meio ambiente e a influência dos est́ımulos oferecidos, ou seja, influências contextuais e/ou ambientais (Silva et al., 2016). A teoria dos sistemas dinâmicos (Newell et al., 2003), mais aceita atualmente como parte do paradigma contextual, aponta que o comportamento motor não é influenciado apenas pelo sistema nervoso do ser humano, mas também por outros fatores, como os psicológicos e os ambientais; assim, baseia-se na tŕıade indiv́ıduo, ambiente e tarefa (Haywood & Getchell, 2010). Com esta perspectiva fica claro o entendimento de quais são os fatores que influenciam o DNPM da criança. 3. Quais Fatores Influenciam no Desenvolvimento Neuropsicomotor? Até aqui foi posśıvel compreender o que é o DNPM em sua complexidade, bem como a influência de diversos fatores durante os primeiros anos da criança. Quando observamos o DNPM de uma criança, é necessário identificar quais fatores prejudicam e quais fatores potencializam o seu desenvolvimento. Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM), pois é neste peŕıodo que as crianças estão propensas a sofrer influências de fatores protetores ou de risco para um desenvolvimento pleno, que podem levar a repercussões futuras até a vida adulta (Gannotti et al., 2014; Grantham-McGregor et al., 2007). 4 Araujo & Israel De acordo com o Comitê Cient́ıfico do Núcleo Ciência Pela Infância (Núcleo Ciência pela Infância, 2014), um pleno potencial no futuro, quando adultos, está relacionado com uma infância com cuidados de saúde adequados, um ambiente familiar afetivo, seguro e estimulante, bem como uma educação de qualidade. Os fatores que prejudicam ou potencializam o desenvolvimento podem ser decorrentes de fatores inerentes à criança, como aspectos biológicos e de hereditariedade; ao ambiente, como o ńıvel socioeconômico e a escolaridade; ou ainda, relacionados com a estimulação oferecida e experienciada (tarefa), como brincadeiras, movimentos e vivências infantis (Resegue et al., 2008). Diante disso, verifica-se que o estudo do desenvolvimento infantil perpassa várias áreas de conhecimento com diferentes olhares e abordagens teóricas e integra a compreensão das múltiplas dimensões nas quais a criança está inserida. Neste processo devem ser considerados inúmeros fatores associados que podem levar ao atraso no DNPM (Pilz & Schermann, 2007). Halpern & Figueiras (2004) afirmam que os resultados negativos no desenvolvimento são oriundos da combinação de fatores de risco genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais e, geralmente, envolvem interações complexas entre eles. Além disso, um ambiente rico em estimulação favorece a aquisição de uma maior variabilidade de movimentos para a criança pequena, principalmente ambientes criativos, que estimulem ou demandem uma variabilidade de estratégias para o controle postural ou para a aquisição de novas habilidades neuromotoras (Silva et al., 2006). Mesmo que uma criança tenha alguma restrição ou deficiência, é necessário que uma grande variedade de est́ımulos e vivências seja ofertada para que ela adote estratégias motoras e assim desenvolva seu repertório motor. Para exemplificar uma prática que prejudica o DNPM, pode-se citar o uso do andador (Figura 2), também conhecido como voador. Atualmente sua venda é proibida, porém ainda se encontra em estabelecimentos comerciais e também como tradição entre famı́lias, ao passar entre primos, parentes e vizinhos. Normalmente o andador é utilizado pela famı́lia como um momento de entretenimento para a criança, sem pensar nas consequências do seu uso. Este dispositivo pula etapas do DNPM, possibilitando que a criança vivencie a postura ortostática e a marcha antes de explorar posturas mais baixas (arrastar e engatinhar) e antes mesmo dos seus sistemas estarem preparados para tal. Além disso, quando a criança está fazendo o uso destes equipamentos, pode alterar o equiĺıbrio corporal e aumentar o número de quedas e o risco de acidentes, como o traumatismo crânio encefálico, queimaduras e afogamentos. Esta vivência da postura e marcha de forma precoce e errada pode trazer consequências até a vida adulta, como alterações de equiĺıbrio e encurtamento musculares, por exemplo. O processo de desenvolvimento da criança 5 Figura 2. Criança fazendo uso do andador: errado. Diante disso, independente do ambiente em que a criança está inserida, seja seu lar, creche, Centro de EducaçãoInfantil ou abrigo, é preciso manter diariamente a atenção e o cuidado associado à estimulação. Os espaços da casa ou da escola/creche devem estar adequados no sentido de proteção e estimulação do processo de desenvolvimento motor, cognitivo, sensorial, emocional e social da criança. Para saber mais sobre a influência da escola no DNPM, bem como a interação com a famı́lia, veja o Caṕıtulo 3 deste livro. 4. O Que Devemos Observar no Desenvolvimento Neuropsicomotor da Criança Pequena? Como foi discutido até aqui, a criança está em processo de desenvolvimento, o qual é aperfeiçoado ao longo do tempo, porém com destaque aos anos iniciais. Para conseguir acompanhar e verificar este processo de desenvolvimento, bem como facilitar esta observação, existem alguns pontos a serem avaliados que estão sistematizados por faixas etárias nas Tabela 1. Observe sua criança, ela é ativa e irá demonstrar se está gostando da atividade ou se está cansada. Respeite a individualidade e vontade da criança, ela também precisa de um tempo para descansar. Lembre que cada criança é única, terá seu tempo e existirá uma variabilidade entre uma criança e outra. Olhe e explore sempre o seu potencial, o que a criança faz de mais avançado, e na dúvida, procure um profissional especializado. 6 Araujo & Israel Tabela 1. Principais Marcos Motores. Fonte: Adaptado de Israel et al. (2014, p.23-25). Idade Marco Motor Dicas Cronológica Recém- nascido ao 1o mês Decúbito ventral (barriga para baixo): permanece em flexão fisiológica, levanta pouco e por pouco tempo a cabeça e a gira para o lado. Decúbito dorsal (barriga para cima): rola parcialmente para o lado. Não apresenta controle de cervical. Posição ortostática (em pé): reflexo de marcha presente e suporta seu peso nos MMII com apoio do tronco. Acompanha objetos em movimento até a linha média, deixa as mãos fechadas, tem movimentos reflexos, com e sem finalidade espećıfica. Mostre objetos coloridos e sonoros para que a criança busque estes objetos. Utilize objetos com diferentes texturas e apresente-os para a criança. Converse com a criança. 2o ao 3o mês Gira a cabeça para todos os lados e chuta em decúbito dorsal. Decúbito ventral: leva a cabeça por curto tempo a 90o, mantém parte do peso sobre os antebraços com o tórax levemente levantado. Sentado: com apoio total e sem controle total da cervical. Posição ortostática: mantém quadris fletidos, suporta pouco peso. Consegue ver objetos mais distantes e os segue com a cabeça a 180o, usa a preensão palmar. Coloque a criança em decúbito ventral com aux́ılio de um rolo no tórax. Em decúbito dorsal ofereça objetos para a criança manipular. Conte estórias. 4o ao 5o mês Passa do decúbito dorsal para o lateral, brinca com os pés. Decúbito ventral: mantém o peso nos MMSS estendidos, arrasta-se. Sentado: flexiona o pescoço para ir para a posição sentada e nesta posição permanece por poucos minutos. Posição ortostática: sustenta o seu peso nos MMII, se apoiado. Segura e solta brinquedos. Com a criança em decúbito dorsal ofereça objetos nas laterais para que ela inicie o rolar. Em decúbito ventral coloque objetos a sua frente para que ela inicie o deslocamento com o arrastar. O processo de desenvolvimento da criança 7 6o ao 7o mês Passa de decúbito dorsal para ventral, se apoia em uma das mãos e pega brinquedos com a outra. Decúbito dorsal: levanta a cabeça. Sentado: senta sozinho. Fica em pé, se apoiado. Engatinha para trás, pega objetos e passa de uma mão para outra. Coloque a criança sentada e ofereça o cesto de tesouros, uma cesta na qual você vai colocar diversos objetos para que a criança explore-os. Selecione os objetos com segurança e adequados para a idade. Fale os nomes dos objetos para a criança. 8o ao 9o mês Prefere o decúbito ventral e fica na posição de engatinhar. Passa da posição sentada para decúbito ventral. Fica em pé e anda se segurando em móveis, senta-se e engatinha para frente. Manipula objetos, aponta, empurra e pega objetos em recipientes. Coloque a criança em ambiente seguro e com espaço para ela iniciar o deslocamento engatinhando. Esconda objetos dentro de recipientes para que a criança pegue-os e manipule- os. 10o ao 11o mês Fica em pé por pouco tempo. Posição ortostática: nesta posição, pega objetos do chão. Anda com apoio nas duas mãos ou em uma. Engatinha. Faz Urso (coloca mãos e pés no chão). Faz pinça (pega objetos e une o polegar ao indicador), coloca objetos em potes. Coloque a criança em pé com apoio em locais seguro. Utilize uma toalha no tórax para dar suporte e a criança iniciar o deslocamento em pé com segurança. 12o ao 15o mês Posição ortostática: anda rápido sem apoio para frente, lado e trás, sobe escadas sentado. Sentado: consegue arremessar objetos. Faz torres de 2 cubos, vira objetos, risca papel. Monte um circuito com obstáculos (colchonetes, espumas) para a criança adotar estratégias motoras e aperfeiçoar o equiĺıbrio. 8 Araujo & Israel 16o ao 24o mês Sobe e desce escadas apoiado em uma mão com os dois pés. Agacha-se. Pega objetos do chão, atira para frente. Impulsiona-se em brinquedos de roda. Dobra papel, faz torre de 6 cubos, segura lápis entre o polegar e os dedos, copia linha horizontal e vertical. Aprimore seu circuito com mais obstáculos. Coloque papel e giz para a criança desenhar. Estimule a criança a falar e não apenas apontar o que ela quer. 2o ano Corre, anda na ponta dos pés, anda para trás, sobe e desce escadas alternando os pés, pula com um pé só. Anda em triciclo, gira fechaduras, abotoa, usa tesouras, monta quebra- cabeça simples, dobra papel. Elabore atividades de pular e ficar em um pé só. Utilize brinquedos de encaixe. Conte histórias e estimule a criança a falar. 5. O Que é Intervenção Precoce? Anteriormente estudamos que o DNPM sofre influência de vários fatores e que devemos enfraquecer os fatores de risco e potencializar os fatores de proteção. A intervenção precoce é um conjunto de atividades e movimentos destinado a proporcionar à criança um desenvolvimento neuromotor e psicocognitivo completo, de forma a utilizar todo o seu potencial. Quanto antes for feita a intervenção da estimulação precoce, preferencialmente nos dois primeiros anos de idade, maiores as chances de prevenir e/ou minimizar atrasos no DNPM, uma vez que é nesse peŕıodo que ocorre com maior velocidade e intensidade a capacidade do sistema nervoso de ampliar e multiplicar suas conexões neurais devido à neuroplasticidade (Blauw- Hospers & Hadders-Algra, 2005; Hallal et al., 2008). A cada dia são mais fortes as evidências cient́ıficas de que os primeiros anos de vida são particularmente formidáveis para o desenvolvimento da criança e representam oportunidades significativas para o crescimento adequado. Descobertas recentes têm demonstrado, convincentemente, que os primeiros anos de vida, desde a gestação, é a fase mais cŕıtica da pessoa no que diz respeito ao seu desenvolvimento biológico, cognitivo, emocional e social (UNICEF, 2001). Isto por que, de acordo com Resegue et al. (2007), nos primeiros anos de vida a intensa neuroplasticidade do cérebro humano é mais acentuada e suscet́ıvel à estimulação. O brincar, seja ao explorar objetos ou interagir com as pessoas, desde os primeiros meses de vida, possibilita que a criança explore sensorialmente O processo de desenvolvimento da criança 9 diferentes objetos, sua forma, interaja com o meio, compreenda ação e reação, que mais tarde terão repercussões nas relações socioafetivas, como na cooperação, autocontrole e negociação, além do est́ımulo à imaginação e criatividade (Núcleo Ciência pela Infância, 2014) Dessa forma, o tempo e o momento de aplicação da intervenção precoce são fatores cŕıticos para o sucesso da estimulação, porém é necessário lembrar que o olharnão deve ser apenas para a criança, mas também para os contextos e ambientes em que a mesma está inserida, ou seja, deve envolver a famı́lia, a escola, os profissionais da saúde e educação e todos os envolvidos com a criança. 6. Dicas de Estimulação Agora já sabemos a importância de estimular e brincar com a criança pequena, mas de que forma podemos fazer isso nas fases iniciais do desenvolvimento? A seguir, apresentamos imagens e descrição de formas simples, de como estimular a criança, que podem ser realizadas em qualquer ambiente e com materiais simples dispońıveis no dia-a-dia. Use sua criatividade e ofereça est́ımulos variados para a criança (Figuras 3 a 14). O movimento serve como possibilidade de desenvolvimento e aprendizagem, possibilite isto a criança de forma segura, supervisionada e com qualidade. Para saber sobre o uso adequado de tecnologias, como tabletes e computadores, leia o Caṕıtulo 6 deste livro. Diante desse caṕıtulo espera-se que os profissionais da saúde e educação, familiares e gestores observem a criança pequena como um ser ativo, em um momento especial e crucial para sua vida futura e, dessa forma, consigam promover uma estimulação adequada e com qualidade para que as crianças cresçam e se desenvolvam da melhor maneira posśıvel e se tornem adultos com o máximo potencial. Figura 3. Coloque seu bebê no colo, estimule a buscar o brinquedo na linha média. Estará desenvolvendo a coordenação óculo-motora. Mantenha o brinquedo de 20 a 30 cm de distância. Utilize brinquedos com luzes e som para estimular os sistemas sensoriais. Aproveite este momento para conversar com a criança. 10 Araujo & Israel Figura 4. Ao deslocar com a criança no colo, carregue-a virada para frente, assim ela irá receber est́ımulos variados do ambiente e interagir com o mesmo. Figura 5. Coloque o bebê em prono (barriga para baixo) e coloque brinquedos que chamem a atenção para ele elevar a cabeça. Assim ele irá fortalecer os músculos da cervical e extensores do tronco. Inicialmente pode fazer um rolo com toalha para colocar abaixo do tórax. Figura 6. Desafie a criança a fazer trocas posturais (mudanças de posturas). Com brinquedos estimule-a a buscar o objeto de forma que realize o rolar. Ofereça os est́ımulos para ambos os lados. Figura 7. Ainda em prono (barriga para baixo) é necessário que a criança explore esta postura, pois assim irá fortalecer os músculos dos membros superiores (braços). E terá ińıcio do deslocamento com o arrastar. O processo de desenvolvimento da criança 11 Figura 8. É necessário deixar a criança em ambiente livre e seguro, no ińıcio ela começará a se arrastar em busca do brinquedo, e com o passar do tempo iniciará o engatinhar. Figura 9. Aos poucos a criança vai se interessar por posturas mais altas, possibilite que a criança passe do chão para em pé com apoio. Aos poucos ela estará mais segura para dar alguns passos na lateral com o apoio das mãos. Figura 10. Após explorar a postura em pé a criança estará preparada para dar os primeiros passos sem apoio. Tudo conforme o seu tempo. Figura 11. Para estimular a criança a caminhar, utilize uma toalha sobre o seu tórax, assim ela estará segura e ao mesmo tempo livre para a execução do andar. 12 Araujo & Israel Figura 12. Utilize as situações do dia-a- dia para a criança se desenvolver. Deixe- a comer com as mãos e tentar se alimentar sozinha, com uma colher. Essa atividade desenvolverá a coordenação manual e possibilita a exploração das texturas, formas, temperatura. Figura 13. A hora do banho também é um momento rico para a estimulação. Pode utilizar brinquedos de ação e reação. Utilize vários est́ımulos, porém ofereça um brinquedo por vez para manter a atenção da criança. Converse e conte histórias para a criança. Figura 14. Deixe a criança explorar diferentes texturas com as mãos, pés ou outras partes do corpo. Como exemplo, espuma de barbear, massinha de modelar, areia, entre outras, sob a supervisão de um adulto. O processo de desenvolvimento da criança 13 Referências Blauw-Hospers, C.H. & Hadders-Algra, M., A systematic review of the effects of early intervention on motor development. Developmental Medicine & Child Neurology, 47(6):421–432, 2005. Castilho-Weinert, L. & Forti-Bellani, C.D. (Eds.), Fisioterapia em Neuropediatria. 1a edição. Omnipax Editora, 2011. Gannotti, M.E.; Christy, J.B.; Heathcock, J.C. & Kolobe, T.H., A path model for evaluating dosing parameters for children with cerebral palsy. Physical Therapy, 94(3):411–421, 2014. Grantham-McGregor, S.; Cheung, Y.B.; Cueto, S.; Glewwe, P.; Richter, L. & Strupp, B., Developmental potential in the first 5 years for children in developing countries. Lancet, 369(9555):60–70, 2007. Hallal, C.Z.; Marques, N.R. & Braccialli, L.M.P., Aquisição de habilidades funcionais na área de mobilidade em crianças atendidas em um programa de estimuação precoce. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 18(1):27–34, 2008. Halpern, R. & Figueiras, A.C.M., Environmental influences on child mental health. Journal of Pediatrics, 80(2):104–110, 2004. Haywood, K.M. & Getchell, N., Desenvolvimento Motor ao Longo da Vida. 5a edição. Porto Alegre, RS: Artmed, 2010. Israel, V.L.; Araujo, L.B. & Ferreira, M.P., Estimulação neuropsicomotora na primeira infância: orientações para familiares e educadores. In: Israel, V.L. & Pardo, M.B.L. (Eds.), Desenvolvimento Infantil: Orientação a Pais e Profissionais. Porto Alegre, RS: Redes Editora, 2014. Israel, V.L. & Bertoldi, A.L.S., Deficiência F́ısico-Motora: interface entre educação especial e repertório funcional. Curitiba, PR: IBPEX, 2000. Newell, K.M.; Liu, Y.T. & Mayer-Kress, G., A dynamical systems interpretation of epigenetic landscapes for infant motor development. Infant Behavior & Development, 26(4):449–472, 2003. Núcleo Ciência pela Infância, , O impacto do desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem. Dispońıvel na internet em: http://issuu.com/fmcsv/docs/o_impacto_do_desenvolvimento_ na_pri/16?e=3034920/10202608, 2014. Estudo I. Organização Mundial da Saúde, , CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo, SP: EDUSP, 2015. Pilz, E.M.L. & Schermann, L.B., Determinantes biológicos e ambientais no desenvolvimento neuropsicomotor em um amostra de crianças de Canoas/RS. Ciência e Saúde Coletiva, 12(1):181–190, 2007. http://issuu.com/fmcsv/docs/o_impacto_do_desenvolvimento_na_pri/16?e=3034920/10202608 http://issuu.com/fmcsv/docs/o_impacto_do_desenvolvimento_na_pri/16?e=3034920/10202608 14 Araujo & Israel Resegue, R.; Puccini, R.F. & Silva, E.M.K., Fatores de risco associados a alterações no desenvolvimento da criança. Pediatria, 29(2):117–128, 2007. Resegue, R.; Puccini, R.F. & Silva, E.M.K., Risk factors associated with developmental abnormalities among high-risk children attended at a multidisciplinary clinic. Sao Paulo Medical Journal, 126(1):4–10, 2008. Silva, A.Z.; Vojciechowski, A.S.; Mélo, T.R.; Yamaguchi, B.; Touchan, A.S.; Bertoldi, A.S. & Israel, V.L., Neuropsychomotor evaluation and functional classification in schoolchildren between the ages of 10 and 12 from the public school system. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 27(1):52–62, 2016. Silva, P.L.; Santos, D.C.C. & Gonçalves, V.M.G., Influência de práticas maternas no desenvolvimento motor de lactentes do 6o ao 12o meses de vida. Revista Brasileira de Fisioterapia, 10(2):225–231, 2006. UNICEF, , Situação da Infância Brasileira – Desenvolvimento Infantil: os seis primeiros anos de vida. Braśılia, DF: Fundo das Nações Unidas para a Infância, 2001. Capítulo 2 Interações Neuromotoras da Criança: Indivíduo, Ambiente e Tarefa Bruna Yamaguchi∗ e Vera Lúcia Israel 1. Introdução A Fisioterapia como ciência do movimento e postura humana é reconhecida historicamente por grande parcela dapopulação pela sua atuação tradicional na reabilitação. Contudo, com os processos de evolução social e cultural houve uma transição das necessidades de atenção em saúde, que trouxeram novas demandas a todos os profissionais da saúde, inclusive na área de saúde da criança. A Fisioterapia tem seu campo de formação e atuação cada vez mais fortalecido e ampliado com atividades que visam à promoção de saúde e a prevenção de doenças (Bispo Júnior, 2010). A intervenção fisioterapêutica, na promoção e prevenção em saúde, ocorre num momento anterior a qualquer sinal ou sintoma de doença, o que pode levar a benef́ıcios dessa assistência como capacitar as pessoas a reconhecer bons hábitos e escolhas para sua saúde, bem como prevenir problemas relacionados à saúde, poupando as pessoas do processo de adoecimento (Pereira, 2014). Dentre os aspectos pasśıveis de promoção e prevenção está a saúde no contexto do desenvolvimento neuropsicomotor das crianças, o que inclui a educação em saúde com orientação de familiares e professores. Para o adequado desenvolvimento na primeira infância, de modo especial, devemos considerar fatores como vacinação, nutrição, condições do ambiente familiar e escolar, estimulação psicomotora, brincadeiras, rotina da criança, vivência cultural, ńıvel educacional e socioeconômico da famı́lia, entre outros, que poderão interferir positiva ou negativamente no desenvolvimento infantil. Nas últimas décadas, houve um maior acompanhamento do desenvolvimento infantil, para a prevenção de posśıveis alterações, o que traz benef́ıcios para toda a vida (Amorim et al., 2009). A verificação do desenvolvimento infantil é parte integrante da atenção da Fisioterapia na saúde infantil e compreende atividades relacionadas à promoção do desenvolvimento neuropsicomotor adequado. ∗Autor para contato: brunayamaguchi@hotmail.com Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.02 ISBN 978-85-64619-19.7 brunayamaguchi@hotmail.com 16 Yamaguchi & Israel O fisioterapeuta é um dos profissionais responsáveis pela vigilância e estimulação das condições neuropsicomotoras na infância que deverão ser facilitadas de diferentes formas e devido a neuroplasticidade nesta faixa etária deverão permanecer no repertório motor por toda vida. Neste contexto, as famı́lias não terão seu primeiro contato com a Fisioterapia após um acometimento de doença já instalada, mas sim, já na estimulação e cuidados da saúde da criança promovendo a assistência a toda população na busca da qualidade de vida e hábitos saudáveis relacionados de modo particular ao movimento e postura humanas e suas repercussões sistêmicas. Em nossa experiência na avaliação neuropsicomotora de crianças de 0 a 5 anos, na rede pública de ensino, avaliamos e acompanhamos mais de 400 crianças, no litoral do Paraná. Este projeto fez parte das atividades extracurriculares dispońıveis na graduação de Fisioterapia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), setor Litoral, entre 2007 e 2013. Apesar da atividade se caracterizar como atividade de pesquisa, por meio da iniciação cient́ıfica, pôde agregar conhecimentos de ensino e extensão que desenvolveram habilidades e competências necessárias ao fisioterapeuta, possibilitando a inserção da Universidade na comunidade. A interação entre os conhecimentos cient́ıficos da academia e os conhecimentos com a população local levou a promoção de saúde das crianças participantes. A equipe de fisioterapeutas e estudantes do curso de Fisioterapia da UFPR frequentava os ambientes de diferentes Centros de Educação Infantil (CEI) públicos dos munićıpios do litoral do Paraná, com o apoio da Secretaria de Saúde e de Educação das cidades, e a autorização dos responsáveis legais pela criança. Na própria escola aconteciam as avaliações fisioterapêuticas lúdicas, bem como as orientações às famı́lias e professores envolvidos. Essa proximidade entre estudante, criança, professor, famı́lias e gestores com a prática na avaliação infantil da Fisioterapia, aliado com os estudos sobre o tema, nos trouxeram conhecimentos que agora buscamos compartilhar por meio deste caṕıtulo com todos os leitores que têm ou terão contato com crianças, em especial na faixa etária de 0 a 5 anos. O desenvolvimento neuropsicomotor na infância é caracterizado por mudanças cont́ınuas, progressivas e complexas na capacidade funcional cognitivo-motora. Esta capacidade é cumulativa e, dentro de condições t́ıpicas esperadas para cada faixa etária, é permanente. O desenvolvimento não cessa, apesar de muitas vezes não se conseguir observar as mudanças em sua plenitude. O desenvolvimento infantil é dependente da idade, sendo mais rápido ou lento dependendo do peŕıodo da vida e do indiv́ıduo (Haywood & Getchell, 2010). Nos primeiros anos de vida, as crianças desenvolvem suas potencialidades, explorando todas suas possibilidades de aprendizagem, favorecidas pela plasticidade cerebral (Baltieri et al., 2010). O As interações neuromotoras da criança 17 desenvolvimento infantil se caracteriza pelas modificações cont́ınuas e permanentes no ińıcio da vida, sendo resultado da interação entre fatores genéticos, biológicos, ambientais e das tarefas realizadas ou estimulações recebidas. Aquisições do desenvolvimento infantil aparecem na medida em que a criança tem contato ativo com ricos ambientes f́ısico e social de seu cotidiano. Estas modificações influenciam na forma como estas crianças percebem e lidam com o ambiente em que se encontram. Esta é a perspectiva ecológica, em que o desenvolvimento infantil influencia e é influenciado, de forma ativa, pelas relações da criança com o meio ambiente (Poletto & Koller, 2008). Com isso, vemos que o desenvolvimento da criança é dependente das potencialidades intŕınsecas de fatores pessoais, além das interações com o ambiente em que a criança é exposta e de est́ımulos (atividades) oferecidos, portanto, faz-se necessário a presença mediadora de profissionais de saúde, como no nosso caso do fisioterapeuta, no ambiente escolar. O modelo ecológico, que atualmente descreve o desenvolvimento humano, propõe que as principais relações que a criança é exposta, seja em cuidados ou em est́ımulos, são dadas por indiv́ıduos conviventes, na escola por profissionais da educação e em casa pelos familiares (Nobre et al., 2009). Estas pessoas que têm contato com as crianças devem assumir a responsabilidade de propor um ambiente saudável e rico em qualidade de cuidados e est́ımulos. Desta forma, os CEI e as famı́lias devem ter conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento da criança e como estimulá-la adequadamente nos primeiros anos de vida. 2. Os Estímulos Neuropsicomotores no Desenvolvimento Infantil Estes est́ımulos que abordamos, são as chamadas tarefas, no modelo de desenvolvimento ecológico. Na prática, são as ações ou atividades psicomotoras t́ıpicas e esperadas para a idade de cada criança. Estas atividades, quando adequadamente propostas e realizadas, funcionam como est́ımulos que auxiliam na aquisição de novas habilidades psicomotoras fazendo a criança a superar desafios diários para o seu crescimento, em ganho de massa corporal e estatura, como no desenvolvimento de habilidades neuropsicomotoras saudáveis. Destaca-se o ato de brincar e a diversidade de brincadeiras como meios de estimular as habilidades psicomotoras na criança. O ato de brincar é uma atividade (tarefa) essencial para a promoção do desenvolvimento intelectual, social, emocional e f́ısico da criança e está presente em todas as culturas, justificando o crescente foco de atenção destinado a esse tema (Pfeifer et al., 2009). Por meio da brincadeira as crianças descobrem o mundo e as respostas neuromotoras, desencadeadas por estes est́ımulos, ajudando-a a formar seu repertório neuromotor individual(Nobre et al., 18 Yamaguchi & Israel 2009). A brincadeira é véıculo da experimentação motora, social, emocional que leva ao amadurecimento saudável da criança. 3. O Papel da Família Além de proporcionar um ambiente seguro, é papel da famı́lia fornecer os v́ınculos afetivos, os cuidados e os est́ımulos necessários ao crescimento e desenvolvimento da criança. A famı́lia ainda é responsável por mediar as relações da criança com a sociedade, possibilitando o desenvolvimento cognitivo infantil (Andrade et al., 2005). A educação no sentido amplo da palavra é missão da famı́lia e a criança é reflexo das relações familiares. Desde bebê a interação mãe-filho(a) ou pai-filho(a) já coopera com o desenvolvimento cognitivo-motor da criança, pois a mãe/pai conseguem interpretar os sinais sutis e dar os est́ımulos adequados a sua criança. Como exemplo, trazemos os resultados de um estudo, desenvolvido por Amorim et al. (2009), que verificou que as crianças que ficam menos tempo com a mãe apresentaram maior déficit no equiĺıbrio estático, comparadas às que permanecem mais tempo com a mãe. Sabe-se que o equiĺıbrio estático é uma função neurológica de alta relevância e complexidade neuromotora para o desenvolvimento, sendo que déficits nesta habilidade podem indicar dificuldades também na aquisição de outras habilidades futuras, como o andar e correr. Isto sugere que a presença da mãe é como um fator de proteção e confiança para aquisição dessa habilidade motora, sendo possivelmente influente em outras habilidades motoras. As habilidades motoras surgem na infância da prática e da experiência proporcionada para a criança, por meio de est́ımulos sensóriomotores (Florindo & Pedro, 2014). Essas habilidades motoras são relativamente permanentes no repertório neuromotor humano, envolvem movimentos do corpo e um conjunto de aprendizagem cognitiva (Florindo & Pedro, 2014). O mais relevante nos diversos estudos que investigam o ambiente escolar e seus est́ımulos, não é o fato da criança frequentar o CEI durante todo o dia ou meio peŕıodo, ou ainda permanecer em casa, mas sim a qualidade de est́ımulos oferecidos por estes ambientes escola e casa, devido a qualidade de sua estrutura e da estimulação feita pelas pessoas. É preciso maior investigação sobre quais experiências são proporcionadas para a criança e a qualidade desta estimulação (Bonome-Pontoglio & Marturano, 2010). Neste sentido, há um consenso multidisciplinar de profissionais que atuam nas escolas ou CEI´s, de que uma boa relação entre a famı́lia e a escola traz benef́ıcios para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança. Para otimizar a interação famı́lia-escola, é preciso adaptar diferentes estratégias, considerando as especificidades locais, como aspectos culturais e de economia (Poletto & Koller, 2008). A abordagem e a linguagem utilizadas devem ser adaptadas ao contexto da realidade local, As interações neuromotoras da criança 19 pois quando feita de maneira inadequada torna-se ineficaz, podendo ainda desmotivar a participação da famı́lia na escola. Para superar as descontinuidades entre os ambientes familiar e escolar, é necessário conhecer os tipos de envolvimento entre familiares e escola e estabelecer estratégias que permitam a concretização de objetivos comuns (Pilz & Schermann, 2007). A estratégia utilizada nas pesquisas e intervenções realizadas sempre foi expor o objetivo comum entre o CEI e os familiares, que é a busca da saúde da criança, assegurando ambiente e estimulação adequados para um desenvolvimento infantil pleno. 4. Avaliação Para verificar como está o desenvolvimento da criança, podem ser utilizadas escalas na Fisioterapia. Estas auxiliam na avaliação infantil, e em nossa experiência, trazem uma forte adesão quando aplicadas de forma lúdica. Os itens que constam nas escalas de avaliação são atividades que tipicamente a criança realiza em determinada idade. Por meio do desempenho funcional, verificando os diversos indicadores, como a aquisição e a evolução em diferentes áreas do desenvolvimento: cognição, linguagem, motricidade, comportamento, entre outras. O uso de testes de avaliação do desenvolvimento infantil é recomendado como estratégia para promoção da saúde infantil, acompanhando o crescimento da criança. Possibilita identificar, monitorar e quantificar as posśıveis alterações no desenvolvimento, ainda que não traga um diagnóstico (Silva et al., 2015). É posśıvel, nas avaliações do desenvolvimento, que os profissionais observem alguma diferença marcante, que pode repercutir num menor rendimento em uma ou mais áreas da vida da criança, ainda que futuramente. Desta forma, a avaliação também de capaz de apontar estas discrepâncias e chamar a atenção para uma ação urgente ou encaminhamentos adequados para cuidados de educação e ou saúde. Ao pensar que a estimativa é que uma em cada oito crianças apresente alterações no seu desenvolvimento neuropsicomotor, que possam interferir em sua qualidade de vida e inclusão escolar e social, a intervenção fisioterapêutica busca reduzir ou extinguir as diferenças ou riscos para o desenvolvimento na infância. O diagnóstico e a intervenção, antes dos cinco anos de idade, são primordiais para um bom prognóstico e evolução da criança reduzindo o risco de atraso neuropsicomotor (Ribeiro et al., 2010). Muitas vezes, consequências indesejáveis ou deficiências serão vistas apenas em idades avançadas, como problemas da aprendizagem, comportamento ou transtornos afetivos. Dessa forma, a identificação precoce de posśıveis situações de risco, que possam prejudicar o curso do 20 Yamaguchi & Israel desenvolvimento infantil, é relevante para evitar maiores déficits ao longo da vida. 5. A Abordagem da Família Os profissionais da saúde, envolvidos com a promoção do desenvolvimento infantil, precisam do apoio dos familiares para que haja continuidade nos cuidados de educação e de saúde e na estimulação neuropsicomotora adequada para cada faixa etária. A sensibilização dos familiares busca esse elo. A famı́lia deve ser o principal promotor, com plena consciência da sua responsabilidade, da formação neuromotora e psicossocial de seus (suas) filhos(as). A partir desse reconhecimento, buscamos a troca de experiências, instrumentalizando os familiares. Em nossa experiência, não apontamos para nenhum familiar os achados da avaliação individual da criança. Todos os familiares participavam de forma igual das atividades de educação em saúde e eram estimulados a reconhecer seus pontos acertivos e pontos a melhorar em relação ao seu papel fundamental. Quando havia discrepância ou risco ao desenvolvimento de uma criança a escola era alertada e fazia o encaminhamento da famı́lia e da criança. Os encontros com familiares e professores são atividades de educação em saúde, com isso, seu papel é gerar conhecimento, agregar, acolher as famı́lias e professores, dar direcionamento para as suas angústias, anseios, temores, dúvidas, assim como aproveitar suas experiências, seu conhecimento e sua cultura. Ao desenvolver essa abordagem de educação em saúde os protagonistas devem ser os participantes, mediados pelos proponentes. As atividades propostas buscavam conversar sobre o desenvolvimento, trocar experiências, oferecer orientações e dicas de como otimizar o conv́ıvio do familiar com a criança e dentro da escola também com os profissionais da educação. Em todas as atividades, que ocorriam em encontros do grupo de pesquisa com a famı́lia e com os professores também, duas vezes no ano letivo, buscava-se reforçar e inovar nas ações em saúde, além de sempre contar com um “lembrete” (produto). O lembrete (produto) era algo direcionado e desenvolvido pelo grupo de pesquisa para a famı́lia levar para casa, que tenha utilidade e seu objetivo fundamental é de lembrara cada famı́lia sobre o encontro, reforçando diariamente as dicas e conversas tidas no encontro do semestre. Podem ser calendário de geladeira com brincadeiras, livro de histórias infantis, porta-canetas de dicas. As interações neuromotoras da criança 21 6. A População de Crianças no Brasil Nossas avaliações vão ao encontro dos achados de outros grupos de estudo do desenvolvimento infantil (Brito et al., 2011; Andrade et al., 2005). Algumas faixas etárias apresentam maiores riscos na linguagem, e outras, no auto-cuidado. Além disso, contextualmente, a presença dos familiares e situação socioeconômica também se apresentam como fatores que influenciam nos resultados das avaliações das crianças realizadas. As áreas motoras foram as com maior desempenho nas crianças avaliadas. A área denominada de motor fino-adaptativo verifica a motricidade de precisão, atividades minuciosas de mão e destreza e foi observado que diversas atividades propostas pelos pedagogos e professores contavam com este tipo de atividade. A área do motor grosso, que verifica a mobilidade funcional, andar, correr, levantar, subir escadas, que envolve grandes grupos musculares, controle desses movimentos e equiĺıbrio dinâmico também teve, em geral, resultados dentro do esperado para cada idade. Ao longo da primeira infância há modificações na capacidade f́ısico- motora e cognitiva que permitem a criança se alimentar, trazer o alimento do prato para si, inicie/auxilie a servir-se, inicie a escovação de dentes com aux́ılio, entre outras atividades do cotidiano que deve ser gradativamente estimuladas e a criança passe a se responsabilizar pelas mesmas. Ocorre que, por diversos motivos, essa transição de funções de cuidado pessoal não acontece. Os motivos relatados pelos familiares vão desde falta de tempo para que a criança experimente a atividade, e por vezes, se suje; até excesso de “mimos” prolongando a dependência parental. Independente da justificativa, o resultado são crianças com baixa independência em tarefas já posśıveis e importantes de serem feitas ou iniciadas pelos pequenos. Ao mesmo tempo, desenvolve-se uma rede de relações pessoais, e o bebê é um indiv́ıduo que se relaciona tanto com o meio, quanto com as pessoas. Pais, avós, irmãos, professoras e colegas são o outro lado dessa relação. Os v́ınculos afetivos iniciam pelos familiares, e posteriormente, se ampliam com a idade para relações sociais na comunidade, na escola e outros em grupos que a famı́lia e a criança frequentam. A cooperação, a identificação de papéis sociais, o reconhecimento do indiv́ıduo, regras dos jogos e brincadeiras de grupo são noções que, da mesma forma que a capacidade funcional e cognitiva e a inteligência emocional também vão se ampliando com o tempo. Essas oportunidades da convivência devem ser estimuladas para o pleno desenvolvimento social progressivo da criança. Outro indicativo das pesquisas realizadas diz respeito ao desenvolvimento da linguagem. Percebeu-se um déficit principalmente a partir dos 18 meses. Pronunciar, reconhecer figuras, nomear objetos e utilizar adjetivos começam a fazer parte do novo repertório de comunicação. O fator socioeconômico se relaciona com o desenvolvimento 22 Yamaguchi & Israel infantil na medida em que os cuidadores têm menor instrução educacional, têm mais chances de dificuldades no desenvolvimento (Brito et al., 2011). Esse fato é facilmente relacionado com a realidade do Brasil e do local em que realizamos as pesquisas. Por sua vez, a baixa escolaridade reflete ainda na renda familiar, que é indicativo também de maior chance de déficit do desenvolvimento neuropsicomotor. 7. O Desenvolvimento Infantil e a Psicomotricidade A proposta da psicomotricidade vem da França do século XX, na busca por otimizar as propostas de est́ımulos, com a tŕıade motricidade, cognição e afetividade (Castilho-Weinert et al., 2011). É relevante destacar que a prática da psicomotricidade não é apenas aplicada a crianças, hoje é amplamente utilizada na intervenção de adultos e idosos, sejam esses com ou sem algum tipo de déficit neuromotor. Contudo, a utilização em bebês e crianças apresenta maior número de pesquisas cient́ıficas, visa não somente a recuperação de funções, mas a primeira aquisição das habilidades psicomotoras (Castilho-Weinert et al., 2011). Os pilares que descrevem a psicomotricidade são relatados em sete fatores (Silva et al., 2016): a) Tonicidade: Percebe que seus músculos podem contráırem-se mais rapidamente ou mais lentamente, tem a capacidade de conseguir controlar essas ações antagônicas. b) Equilibração: Verifica o equiĺıbrio dos seguimentos corporais em diversas posturas, tanto estaticamente quanto ao se movimentar. Utiliza-se das informações proprioceptivas, mas também labiŕınticas e de visão. c) Lateralização: Define a dominância de um membro superior, ou inferior, sobre o outro lado, assim como a noção de reconhecer em si e em outros corpos os lados direito e lado esquerdo. d) Noção de corpo: Reconhece em si e no outro estruturas corporais, podendo associar com funções. e) Estruturação espaço-temporal: Percebe a sequencia temporal e compreende diferenças temporais como ontem, amanhã, dias, anos. Reconhece seu corpo no espaço, desenvolve noções de local, grandezas e formas. f) Praxias global: Trata dos movimentos para mudar de posição, se movimentar assim como carregar objetos. Utiliza grandes grupos musculares. g) Praxia fina: Engloba o desenvolvimento motor fino, com movimentos mais precisos, usando principalmente destreza de mãos, como desenhar, As interações neuromotoras da criança 23 escrever, pegar objetos pequenos, entre outras atividades, que vão sendo desenvolvidas ao longo da infância, com maior domı́nio. Fatores fundamentais para o desenvolvimento infantil, em sido assegurados atualmente no Brasil, pelo recente Marco Legal da Primeira Infância (BRASIL, 2016) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990). Contudo, famı́lia e escola são fundamentalmente os locais para proteção e est́ımulo do desenvolvimento das crianças. O respeito, o cuidado, o brincar, o ser generoso, conhecer direitos e deveres, ser ético, o aprender, o conviver, o conhecer, o assumir responsabilidade e progressivamente desenvolver-se no mundo são aquisições de valores humanos e éticos que a criança ao longo da vida ativamente conquistará vencendo os desafios de sua vida. Que possamos como fisioterapeutas contribuir para a infância. Referências Amorim, R.C.A.; Laurentino, G.E.C.; Barros, K.M.F.T.; Ferreira, A.L.P.R.; Moura Filho, A.G. & Raposo, M.C.F., Programa de saúde da famı́lia: proposta para identificação de fatores de risco para o desenvolvimento neuropsicomotor. Revista Brasileira de Fisioterapia, 13(6):506–513, 2009. Andrade, S.A.; Santos, D.N.; Bastos, A.C. & Pedromônico, M.R., Ambiente familiar e desenvolvimento cognitivo infantil: uma abordagem epidemiológica. Revista de Saúde Pública, 39(4):1–6, 2005. 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Newell (1986), o autor da Tŕıade, reforça a necessidade de compreender a relação do ser humano com o ambiente e com os outros seres humanos analisando a combinação das demandas do organismo, do ambiente e da tarefa em andamento. Os profissionais da saúde, a famı́lia e os/as educadores/as são os principais acompanhantes do desenvolvimento infantil e os responsáveis pelo cuidado da criança. Portanto, conhecer como se caracteriza cada determinante/restrição e como se relacionam é primordial para entender como ocorrem os processos de desenvolvimento, crescimento e perceber desvios no desenvolvimento infantil adequado. A teoria e a prática, quando relacionadas, quase sempre são conflituosas. Entretanto, é necessário o conhecimento sobre os processos envolvidos em um acontecimento para solucionar problemas relativos ao fato. O presente caṕıtulo discorre sobre os principais envolvidos no cuidado à criança, ressalta a necessidade do v́ınculo entre os cuidadores e caracteriza os ambientes que cercam a criança, destacando quais são os fatores nocivos e os fatores proṕıcios para um bom desenvolvimento infantil. Bem como relata a experiência de um projeto de iniciação cient́ıfica da Universidade Federal do Paraná, o qual tinha por objetivo “unir as pontas”, ou seja, ∗Autor para contato: marianargcorrea@gmail.com Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.03 ISBN 978-85-64619-19-7 marianargcorrea@gmail.com 26 Correa, Araujo & Israel Figura 1. Modelo das Restrições de Newell. Fonte: Haywood & Getchell (2010, p. 26). aproximar educadores/as e famı́lia e/ou responsáveis para alertar os ganhos para o desenvolvimento da criança quando há boa convivência entre famı́lia e escola, além de informar os marcos do desenvolvimento infantil e os benef́ıcios neuromotores da estimulação adequada. Pois bem, há uma convenção entre os estudiosos em ausentar o foco do conceito de doença (modelo biomédico), o qual ainda predominante, tem perdido espaço para o modelo biopsicossocial, possuidor de um conceito mais amplo em saúde, sendo que este atende o ser humano de forma integral (Ayres, 2001; Demarco, 2003; Mandú, 2004; Pegoraro & Caldana, 2008; Zoboli, 2004). O modelo biomédico ou mecanicista visualiza a pessoa como uma máquina, no qual o conceito de saúde é definido como a ausência de doença. Neste modelo, perde-se a visão hoĺıstica do ser humano, não existe a integração entre as dimensões psicológicas e sociais, o que ganha destaque é a doença e sua cura, o diagnóstico individual e o tratamento (Cutolo, 2006). Reitera-se que até hoje o modelo biomédico predomina na atenção à saúde, em cĺınicas particulares, no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que dentro desse contexto o médico ou profissional da saúde faz sua entrevista e observação cĺınica ao atender um paciente, focando principalmente nos seus sinais e sintomas, isto é, na sua doença. Em contraponto, o modelo biopsicossocial é definido como “modelo que não tem o foco apenas na doença em si e o tratamento dela, mas em todos os aspectos que estariam diretamente relacionados ao fenômeno do adoecer, sejam eles fisiológicos, psicológicos, sociais, ambientais, dentre outros, os Para fazer um laço é necessário unir as pontas... 27 quais também devem ser considerados para que o tratamento seja eficaz” (Silva et al., 2001). Seguindo o racioćınio acima, na Carta de Ottawa (Brasil, 2002), o modelo biomédico foi considerado necessário, porém insuficiente para dar conta da saúde numa estratégia de promoção. Assim, a aproximação do modelo biopsicossocial de saúde faz com que o atendimento oferecido seja um cuidado participativo, estendido à comunidade, fazendo com que, por meio da prevenção de doenças e de medidas para a promoção da saúde, sejam ampliadas tanto a cobertura como a abrangência desse atendimento. Dessa forma, no cuidado à criança, para que haja um modelo participativo de intervenção, é necessário que as pessoas que cercam a criança se envolvam, tornando-se atentas às fases do desenvolvimento neuropsicomotor, e sejam capazes de identificar algum atraso neste processo. Tais medidas, poderiam reduzir ainda mais os problemas futuros, uma vez que a falta de estimulação adequada da criança pode acarretar prejúızos que se estendem até a vida adulta. Em particular, os primeiros anos de vida da criança são os mais significativos para o seu desenvolvimento completo e as experiências acumuladas durante este peŕıodo têm uma influência por toda a vida (Johnston, 2009). O tecido nervoso apresenta seu maior crescimento e maturação durante este peŕıodo e, portanto, mais suscet́ıvel a lesões. Por causa do alto grau de plasticidade das crianças, também é nesta fase que elas respondem melhor a intervenções de promoção e ou tratamentos e ainda a estimulação neuromotora e ambiental. No entanto, para receber essas intervenções, é necessário identificar o atraso e orientar, o mais rapidamente posśıvel, a criança a serviços especializados. Portanto, é necessário que os profissionais atuantes na atenção básica, a própria
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