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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/352159952
Desenvolvimento da Criança: família, escola e saúde
Book · September 2017
DOI: 10.7436/2017.dcfes.0
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8
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4,516
2 authors:
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Fisioterapia View project
Atividade física precoce: proposta de acompanhamento e intervençao em programa de estimulação precoce e fisioterapia aquática em bebês típicos e em risco ao
desenvolvimento View project
Luize Bueno
Universidade Federal do Paraná
42 PUBLICATIONS   118 CITATIONS   
SEE PROFILE
Vera Lúcia Israel
Universidade Federal do Paraná
125 PUBLICATIONS   475 CITATIONS   
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Luize Bueno on 05 June 2021.
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https://www.researchgate.net/publication/352159952_Desenvolvimento_da_Crianca_familia_escola_e_saude?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf
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https://www.researchgate.net/profile/Luize-Bueno-2?enrichId=rgreq-ac2736e9e196cfc6fc4f044f0ff1a1ef-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MjE1OTk1MjtBUzoxMDMxNDM4Njk0NjM3NTcwQDE2MjI5MjU1NTY2OTE%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf
Luize Bueno de Araujo
Vera Lúcia Israel
(Editores)
Desenvolvimento
da Criança:
Faḿılia, Escola e Saúde
2017
Copyright c©2017 Omnipax Editora Ltda
Curitiba, PR
A editora disponibiliza por acesso livre a versão
eletrônica deste livro no site: http://www.omnipax.
com.br, sob uma licença Creative Commons 3.0
Atribuição-Não Comercial-Sem Derivados (CC BY-NC-
ND 3.0 BR).
Digital Object Identifier (DOI): 10.7436/2017.dcfes.0
PROIBIDA A COMERCIALIZAÇÃO
Ilustrações dos caṕıtulos:
Henrique Martins Schmidt
Capa:
Sérgio Alexandre Prokofiev
Projeto gráfico e editoração:
Omnipax Editora Ltda
Ficha catalográfica:
Juliana Farias Motta (CRB7/5880)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D451 Desenvolvimento da criança : famı́lia, escola e saúde / Editores Luize
Bueno de Araujo; Vera Lúcia Israel. — Curitiba, PR: Omnipax,
2017
170 p.
Inclui referências
eISBN: 978-85-64619-19-7
ISBN: 978-85-64619-22-7
1. Crianças – Desenvolvimento. 2. Capacidade motora em
crianças. 3. Saúde I. Araujo, Luize Bueno (ed.). II. Israel, Vera
Lúcia (ed.). III. T́ıtulo
CDD (22. ed.) 152.38
http://www.omnipax.com.br
http://www.omnipax.com.br
http://dx.doi.org/10.7436/2017.dcfes.0
Organizadores
Luize Bueno de Araujo:
Doutoranda em Atividade F́ısica e Saúde pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR). Mestre em Comportamento Motor pelo Programa
de Pós-Graduação em Educação F́ısica da UFPR (2013). Graduação
em Fisioterapia pela UFPR (2010) e aperfeiçoamento em Reabilitação
F́ısica na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD)
(2014). Tem experiência na docência, foi professora substituta do
curso de Fisioterapia da UFPR (2011–2013). Atuou como orientadora
e tutora à distância no Curso de Especialização em Gênero e
Diversidade na Escola (UFPR) (2014–2016). Tem experiência na
área de Fisioterapia, com ênfase em Neuropediatria, Fisioterapia
Neurofuncional e Fisioterapia Aquática. Atualmente atua como
docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Jangada – Instituto
Educacional Santa Catarina e fisioterapeuta neurofuncional adulto
e pediátrico da Fisioform – Cĺınica de Fisioterapia e Reabilitação
Ltda. Link para o curŕıculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/
3039300334535258
Vera Lúcia Israel:
Graduação em Fisioterapia pela Pontif́ıcia Universidade Católica do
Paraná (PUCPR) e em Educação F́ısica pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR). Mestrado e doutorado no Programa de Pós-
Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar, SP). Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) na Universidade
Federal de Sergipe (UFS). Docente do Curso de Fisioterapia e do
Programa de Pós-Graduação em Educação F́ısica da UFPR. Link para
o curŕıculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1564269877369119
http://lattes.cnpq.br/3039300334535258
http://lattes.cnpq.br/3039300334535258
http://lattes.cnpq.br/1564269877369119
.
Colaboradores
Adriano Zanardi da Silva:
Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Mestrado em andamento pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação F́ısica da UFPR, linha de Pesquisa Atividade F́ısica e
Saúde.
Bruna Yamaguchi:
Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação
F́ısica da UFPR. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em
Educação F́ısica da UFPR. Fisioterapeuta do munićıpio de Tijucas do
Sul, PR.
Henrique Martins Schmidt:
Acadêmico de Especialização em Fisioterapia Traumato-Ortopédica
Funcional pela Universidade Positivo (UP). Graduado em Fisioterapia
pela UniversidadeCampos Andrade (UNIANDRADE). Autor das
ilustrações utilizadas em caṕıtulos desse livro. As ilustrações podem
ser utilizadas desde que citado o ilustrador e a referida fonte.
Jheniffer Freitas:
Acadêmica de Especialização em Fisioterapia em Neurofuncional
(IBRATE). Graduada em Fisioterapia pela Universidade Campos
Andrade (UNIANDRADE). Formação no Conceito Bobath, e
Pediasuitr. Fisioterapeuta do Centro de Pesquisa Vitória (Curitiba,
PR).
Karina Fink:
Pós-graduada em Fisioterapia em Neurologia com ênfase em
Neuropediatria pelo Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino
(IBRATE). Formação no Conceito Neuroevolutivo de Bobath.
Aperfeiçoamento em Fisioterapia Pediátrica pelo Hospital Pequeno
Pŕıncipe. Fisioterapeuta contratada pela Unidade de saúde Mãe
Curitibana, equipe bebê de risco. Fisioterapeuta da equipe de Home-
Care da Unifisio. Graduada em Fisioterapia pela Unidade de Ensino
Superior Vale do Iguaçu (UNIGUAÇU), União da Vitória, PR.
.
Manoela de Paula Ferreira:
Doutoranda em Atividade F́ısica em Saúde pelo Programa de
Pós-graduação em Educação F́ısica da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Mestre em Atividade F́ısica e Saúde pela UFPR,
Fisioterapeuta pela UFPR. Bacharel em Dança pela Universidade
Estadual do Paraná (UNESPAR). É Fisioterapeuta e Preceptora de
Fisioterapia da Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde
de Curitiba (FEAES). Tem formação em Pilates solo e acessórios,
Microfisioterapia e Bioalinhamento.
Maria de Fátima Minetto:
Psicóloga, Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de
Santa Catarina. Professora Adjunta do Departamento de Teoria e
Fundamentos da Educação da UFPR e do Programa de Pós-Graduação
em Educação da UFPR, na linha de pesquisa Cognição, Aprendizagem
e Desenvolvimento Humano.
Mariana Rodrigues Gaspar Corrêa:
Fisioterapeuta formada pela Universidade Federal do Paraná, Pós-
Graduada em Terapia Manual e Postural aplicada à Ortopedia e
Traumatologia – Ibrate.
Nelly Narcizo de Souza:
Pedagoga, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná.
Professora Assistente e Coordenadora dos cursos de Pós Graduação lato
sensu em Neuropsicologia Educacional e em Desenvolvimento Infantil
na Universidade Positivo.
Tainá Ribas Mélo:
Doutoranda em Atividade F́ısica e Saúde pelo Departamento de
Educação F́ısica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestre
em Comportamento Motor (UFPR), Especialista em Intervenção em
Neuropediatria pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar,
SP). Graduada em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (Unioeste). Formação no Conceito Bobath, Método
Isostretching e Pediasuitr. Fisioterapeuta da Secretaria Municipal de
Saúde da Prefeitura de Paranaguá. Docente do Curso de Fisioterapia
da Uniandrade. Docente e tutora do Curso de Especialização em
Gênero e Diversidade na Escola/UFPR. Preceptora do Projeto PET
Redes de Atenção às PcD/UFPR. Docente do curso de especialização
em neurologia com ênfase em neuropediatria do IBRATE.
Prefácio
.
Aprender a aprender sempre e a cada momento, desde o momento
em que fomos gerados. Na infância constrúımos nossos alicerces baseados
num percurso árduo de experiências e emoções com movimentos e
sensações, a cada dia novos desafios para alcançar a felicidade e a
plenitude de crescimento e desenvolvimento na busca de nossa saúde f́ısica,
emocional, espiritual, afetiva, psicológica, mental, intelectual, cognitiva
e na diversidade de ambientes e processos. Este é o desenvolvimento
humano no decorrer da vida.
Interações mãe/pai/bebê, famı́lia/comunidade, meio ambiente/
natureza/pessoas, famı́lia/escola, famı́lia/criança/escola, meio social e os
profissionais de diferentes áreas de conhecimento em especial da saúde e
da educação. Nossa construção de vida perpassa sim todos estes meios e
vivências. Teorias e práticas nos envolvem e levam a evolução de novas
etapas de desenvolvimento.
Assim, esse livro articulou com essas diversas interações e experiências
em busca da evolução. Na sequência apresentamos uma śıntese de cada
caṕıtulo da obra que o leitor encontrará.
No Caṕıtulo 1 “Como é o processo desenvolvimento da criança
nos primeiros 2 anos de idade?” as autoras percorrem os conceitos
básicos sobre a criança e seu desenvolvimento neuromotor discutindo o
paradigma contextual na faixa etária de 0 a 2 anos de idade. Como o
cérebro consegue por meio da neuroplasticidade junto às experiências
do movimento corporal da criança pequena favorecer o crescimento e a
evolução de suas habilidades motoras. Revisando os fatores positivos e
negativos que interferem no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) e
fornecendo dicas de estimulação por meio de brincadeiras nos primeiros
anos de vida da criança.
Já no Caṕıtulo 2 “Interações neuromotoras da criança:
indiv́ıduo, ambiente e tarefa” são discutidos aspectos da atuação da
Fisioterapia favorecendo a promoção e prevenção da saúde da criança. É
relatado um projeto que avaliou fatores neuropsicomotores de mais de 400
crianças de 0 a 5 anos, na rede pública de ensino no litoral. E são discutidos
o DNPM na infância e suas mudanças que são cont́ınuas, progressivas e
complexas nas capacidades funcionais do movimento corporal, da cognição
e da afetividade. Além de propor a aproximação entre famı́lia, escola e
profissionais da educação e da saúde, com intervenções formativas e de
contextos psicomotores para cada parte envolvida no desenvolvimento
infantil.
No Caṕıtulo 3, “Para fazer um laço é necessário unir as
pontas...”, o desenvolvimento motor infantil é apresentado como fruto da
interação e envolvimento entre famı́lia e escola. A adequação de ambientes
e das tarefas para a estimulação adequada é descrito como parte de
um projeto acadêmico desenvolvido nas escolas de educação infantil do
litoral paranaense. É apresentado o modelo de Newell como meio de
entender o desenvolvido da criança pequena e suas relações nesta fase da
infância. Além das autoras descreverem aspectos de modelos biomédico
e biopsicossocial correlacionando-os nos sistema único de saúde, são
apresentadas estratégias da Organização Mundial de Saúde para o cuidado
e acompanhamento da criança e descritos exemplos usados no projeto
desenvolvido na educação infantil para unir as pontas Famı́lia–Escola =
Laço.
Para englobar as informações do desenvolvimento infantil no Caṕıtulo
4 é apresentado o projeto “Geoprocessamento como instrumento no
processo fisioterapêutico no cuidado da criança”. Assim, pode-se
traçar o perfil do usuário (criança e famı́lia) da escola de educação
infantil e traçar metas e ações na gestão municipal, estadual e federal
de aprimoramento da mesma. Levantamentos são feitos em relação ao
número de habitantes, renda, escolaridade, doenças, preferências, etc.,
por meio de dados mapeados em sistemas digitais. São apresentados
conceitos básicos de georreferenciamento como de análise e avaliação
de riscos à saúde coletiva e geoprocessamento como técnica de coleta,
tratamento e exibição de informações referenciadas em um determinado
espaço geográfico. Finalmente se discute por meio de dados do projeto
realizado como a Fisioterapia pode se utilizar desta ferramenta para
produzir informações em saúde da criança.
O objetivo do Caṕıtulo 5 é revisar e atualizar os principais recursos,
técnicas e métodos da Fisioterapia neurofuncional aplicada à infância
buscando evidências conhecidas e atualizadas sobre seus efeitos em
crianças. O t́ıtulo “Fisioterapia neurofuncional: atualização de
intervenções na infância” traz a experiência localizada na literatura
da área e a contribuição de diferentes profissionais fisioterapeutas que
produzem categorias de atenção em Fisioterapia esquematizando os
achados quanto a cinesioterapia, métodos integrativos e recursos auxiliares
adicionais. Isto permitirá ao leitorrevisar ou conhecer conceitos, objetivos
terapêuticos e funcionais e resultados da Fisioterapia neurofuncional na
infância, bem como novas estratégias e ou tentativas de promover, prevenir
e reabilitar saúde integral da criança nos diferentes ńıveis.
No Caṕıtulo 6 “Mı́dias: amigas ou vilãs? qual a influência
sobre o desenvolvimento das crianças?” as autoras descrevem
aspectos históricos de modelos de cuidar e/ou educar na infância,
apresentando os ambientes da famı́lia e escola com a presença de mı́dias
que interferem no DNPM da criança pequena. É resultado de um estudo
que buscou entender a influência da tecnologia da informação e mı́dias no
desenvolvimento infantil. São apresentados os dados obtidos da literatura
da área e correlaciona-se os cenários da infância com as recomendações de
profissionais e associações sobre como a famı́lia deve usar ou permitir o
uso das mı́dias pela criança pequena e os resultados e efeitos das mesmas
no desenvolvimento da criança. Além de descrever os benéficos do brincar
com a criança inclusive usando a tecnologia, tanto junto à famı́lia como
na escola.
“Endireite essas costas menin@! Verdades e mitos sobre
o desenvolvimento postural na infância” é tratado no Caṕıtulo 7.
Orientações e dicas para diminuir dúvidas e angústias dos profissionais
e familiares a respeito da postura da sua criança e do impacto que essas
alterações podem ter no DNPM. É descrito um estudo de revisão sobre
desenvolvimento postural do recém-nascido até a adolescência, revisando
conceitos básicos sobre formação da coluna vertebral e outras estruturas
corporais e como junto com o crescimento da criança como ocorre os
aspectos destas mudanças ao longo da infância. Destacando uso de
mochilas, tablets, celulares, entre outras tecnologias que podem afetar a
postura e consequentemente os movimentos da criança e do adolescente.
Prevenir fatores negativos no desenvolvimento postural depende da
orientação e observação familiar quanto a sinais de alerta e quando em
dúvida procurar profissionais da saúde, em especial educação em saúde
feita por fisioterapeutas.
O Caṕıtulo 8 discute o “O paradigma inclusivo e a
educação infantil: qualidade no atendimento e promoção
do desenvolvimento”, abordando a Lei no 13.146/2015 sobre a inclusão
da pessoa com deficiência e sua relação de atuação junto à escola e a
famı́lia. Descrevem-se interações históricas da Educação Infantil e suas
Diretrizes Curriculares Nacionais e as poĺıticas de inclusão e os desafios
nacionais para que de fato haja sucesso neste processo de inclusão, desde
a formação do professor até o envolvimento da escola e da comunidade
com dicas práticas.
No Caṕıtulo 9 “Vivendo em sociedade: a inclusão e a
valorização do diferente”, são apresentados e revisitados conceitos
de inclusão educacional e os relatos e experiências da atuação da
Fisioterapia e processos de inclusão de crianças especiais. Correlaciona os
diferentes tipos de deficiências e dicas de estimulação, bem como apresenta
conceito biopsicossocial do modelo da Organização Mundial de Saúde
(OMS) denominado Classificação Internacional da Funcionalidade (CIF)
desenvolvendo uma sistematização das restrições do modelo contextual
(ecológico ou sistêmico) com a tŕıade pessoa com deficiência (PcD),
acessibilidade e tarefas educacionais para a busca da educação em saúde
no desenvolvimento desta pessoa com deficiência. Há o cuidado de
demonstrar exemplos práticos e dicas de atitudes, serviços e tecnologias
assistivas para facilitar o cotidiano desta PcD. Finalmente, as autoras
apresentam dados e exemplos práticos de um projeto do laboratório do
núcleo de atenção à pessoa com deficiência (LABNAPNE) desenvolvido
Na Universidade Federal do Paraná no litoral entre 2007 e 2012.
Que profissionais, familiares, educadores, gestores e estudantes possam
aproveitar os relatos feitos nesta construção teórica que está fechando
um ciclo histórico de vivências e aprendizados no litoral paranaense, com
algumas contribuições de pesquisadores de outras cidades.
Sejam Felizes!!
Luize Bueno de Araujo
Vera Lúcia Israel
Capítulos
1 Como é o processo de desenvolvimento da criança
nos primeiros 2 anos de idade? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Luize Bueno de Araujo e Vera Lúcia Israel
2 Interações neuromotoras da criança: indiv́ıduo, ambiente
e tarefa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Bruna Yamaguchi e Vera Lúcia Israel
3 Para fazer um laço é necessário unir as pontas... envolvimento
entre famı́lia e escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Mariana Rodrigues Gaspar Corrêa, Luize Bueno de Araujo e
Vera Lúcia Israel
4 Geoprocessamento como instrumento ou indicador no
processo fisioterapêutico no cuidado da criança . . . . . . . . . . . . . . . 41
Adriano Zanardi da Silva, Luize Bueno de Araujo e
Vera Lúcia Israel
5 Fisioterapia neurofuncional: atualização de intervenções
na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Tainá Ribas Mélo, Manoela de Paula Ferreira,
Bruna Yamaguchi, Vera Lúcia Israel e Luize Bueno de Araujo
6 Mı́dias: amigas ou vilãs? Qual a influência sobre o
desenvolvimento das crianças? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Tainá Ribas Mélo e Karina Fink
7 “Endireite essas costas menin@!” verdades e mitos sobre
o desenvolvimento postural na infância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Tainá Ribas Mélo, Jheniffer Freitas e Henrique Martins Schmidt
8 O paradigma inclusivo e a educação infantil: qualidade
no atendimento e promoção do desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . 129
Nelly Narciso de Souza e Maria de Fátima Minetto
9 Vivendo em sociedade: a inclusão e a valorização
do diferente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Manoela de Paula Ferreira, Tainá Ribas Mélo e Vera Lúcia Israel
.
Capítulo 1
Como é o Processo de Desenvolvimento da Criança
nos Primeiros 2 Anos de Idade?
Luize Bueno de Araujo∗ e Vera Lúcia Israel
1. Introdução
Você já ouviu falar que os dois primeiros anos de uma criança são essenciais
para seu desenvolvimento? Mas e áı? O que esperamos de uma criança
nesta faixa etária? O que é posśıvel fazer para otimizar esta fase cŕıtica do
desenvolvimento?
Estas são dúvidas de muitas famı́lias e profissionais que trabalham com
a criança pequena. Muitas pessoas ainda acreditam que o recém-nascido
responde exclusivamente de forma reflexa e automática, porém é necessário
ter uma visão contextual sobre o desenvolvimento neuropsicomotor
(DNPM), entender que nesta fase a criança possui potenciais e que suas
capacidades e habilidades estão em amadurecimento. Para que esta
evolução aconteça de forma saudável e que o DNPM seja pleno, deve-se
lembrar de que esta criança recebe influências dos ambientes em que vive
e dos est́ımulos ofertados e vivenciados por ela.
Dessa forma, o objetivo deste caṕıtulo é abordar o DNPM da criança
desde o seu nascimento até os dois anos de idade, destacando o que é
esperado no desenvolvimento t́ıpico, bem como as formas de estimulação.
2. O Que é Desenvolvimento Neuropsicomotor?
Estudiosos utilizam diferentes denominações e conceitos teóricos sobre
o DNPM, como desenvolvimento motor normal, desenvolvimento
motor t́ıpico, desenvolvimento neurossensoriomotor, desenvolvimento
neuropsicomotor, entre outras nomenclaturas (Castilho-Weinert & Forti-
Bellani, 2011). Neste caṕıtulo será utilizado o termo desenvolvimento
neuropsicomotor t́ıpico.
O DNPM é definido como um processo sequencial, cont́ınuo e
relacionado à idade cronológica, porém não depende única e exclusivamente
dela. Com opassar dos meses e dos anos, por meio da estimulação
∗Autor para contato: luizebueno@hotmail.com
Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.01 ISBN 978-85-64619-19-7
luizebueno@hotmail.com
2 Araujo & Israel
da famı́lia e do ambiente, a criança adquire uma enorme quantidade de
habilidades motoras, que progridem de movimentos simples, denominados
de reflexos, até a execução de habilidades motoras altamente complexas,
que compreendem os movimentos voluntários que usa no dia-a-dia
(Haywood & Getchell, 2010).
Como exemplo, até os primeiros dois meses de idade, quando o bebê
é colocado em pé com apoio do tronco e se realiza uma flexão anterior
do tronco, ele vai responder reflexamente com alguns passos, é o chamado
reflexo da marcha automática, já por volta dos 12 aos 15 meses a criança
t́ıpica tem um repertório motor mais complexo e condições neuro-músculo-
esqueléticas para adquirir a marcha independente.
É necessário destacar que o DNPM tem interação direta com a
neuroplasticidade do cérebro e com isto tem relações com os aspectos
motores, cognitivos, afetivos, sensoriais e socioambientais. A área motora
do cérebro da criança analisa a produção e regulação do movimento, a
área cognitiva estuda as implicações da estruturação do pensamento para
o movimento e a área afetiva procura compreender como as emoções
interferem nos movimentos (Israel & Bertoldi, 2000). A informação
sensorial é uma resposta enviada ao sistema nervoso do ser humano e serve
como feedback para moldar o movimento e planejar sua execução.
Porém se destaca que, apesar das áreas trabalharem em conjunto para
a execução dos movimentos, não quer dizer que uma criança que tem uma
deficiência f́ısico/motora tenha, por exemplo, uma deficiência auditiva,
ou que uma criança com dificuldade na linguagem tenha uma deficiência
intelectual. Portanto, a criança nunca deve ser subestimada por estar em
uma cadeira de rodas ou por ter alguma dificuldade de expressão, sempre
procure estimular seus potenciais neuromotores e cognitivo-afetivos.
Por exemplo, uma criança que nasceu com cegueira pode demorar mais
tempo para adquirir a marcha independente do que uma criança com visão
ı́ntegra, mesmo que seu sistema neuro-músculo-esquelético esteja intacto.
Isso acontece porque ela terá uma privação sensorial relacionada com o
sistema visual, assim, os outros sistemas do seu corpo irão sofrer ajustes
e adaptações para suprir esta necessidade da visão, portanto, esta criança
precisa de uma maior variedade de est́ımulos.
Atualmente o olhar para a saúde é mais complexo, explicado pelo
modelo contextual, também conhecido como ecológico ou sistêmico, ao
considerar o ser humano de modo biopsicossocial. Este é o modelo da
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)
(Organização Mundial da Saúde, 2015) que busca uma abordagem da saúde
integral, considerando desde a questão da condição de saúde, enquanto
aspectos funcionais e até mesmo espirituais.
Na Figura 1, observa-se que para integrar estes conceitos entre o
desenvolvimento infantil e a CIF se tem hoje a CIF – Crianças e Jovens
(CIF-CJ), a qual destaca que o DNPM depende de relações da criança com
O processo de desenvolvimento da criança 3
Figura 1. Modelo da Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF). Fonte: (Organização Mundial da Saúde,
2015, p. 20).
o meio ambiente e a influência dos est́ımulos oferecidos, ou seja, influências
contextuais e/ou ambientais (Silva et al., 2016).
A teoria dos sistemas dinâmicos (Newell et al., 2003), mais
aceita atualmente como parte do paradigma contextual, aponta que o
comportamento motor não é influenciado apenas pelo sistema nervoso
do ser humano, mas também por outros fatores, como os psicológicos
e os ambientais; assim, baseia-se na tŕıade indiv́ıduo, ambiente e
tarefa (Haywood & Getchell, 2010). Com esta perspectiva fica claro o
entendimento de quais são os fatores que influenciam o DNPM da criança.
3. Quais Fatores Influenciam no Desenvolvimento
Neuropsicomotor?
Até aqui foi posśıvel compreender o que é o DNPM em sua complexidade,
bem como a influência de diversos fatores durante os primeiros anos da
criança. Quando observamos o DNPM de uma criança, é necessário
identificar quais fatores prejudicam e quais fatores potencializam o seu
desenvolvimento.
Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento
neuropsicomotor (DNPM), pois é neste peŕıodo que as crianças estão
propensas a sofrer influências de fatores protetores ou de risco para um
desenvolvimento pleno, que podem levar a repercussões futuras até a vida
adulta (Gannotti et al., 2014; Grantham-McGregor et al., 2007).
4 Araujo & Israel
De acordo com o Comitê Cient́ıfico do Núcleo Ciência Pela Infância
(Núcleo Ciência pela Infância, 2014), um pleno potencial no futuro,
quando adultos, está relacionado com uma infância com cuidados de saúde
adequados, um ambiente familiar afetivo, seguro e estimulante, bem como
uma educação de qualidade.
Os fatores que prejudicam ou potencializam o desenvolvimento podem
ser decorrentes de fatores inerentes à criança, como aspectos biológicos e de
hereditariedade; ao ambiente, como o ńıvel socioeconômico e a escolaridade;
ou ainda, relacionados com a estimulação oferecida e experienciada (tarefa),
como brincadeiras, movimentos e vivências infantis (Resegue et al., 2008).
Diante disso, verifica-se que o estudo do desenvolvimento infantil
perpassa várias áreas de conhecimento com diferentes olhares e abordagens
teóricas e integra a compreensão das múltiplas dimensões nas quais a
criança está inserida. Neste processo devem ser considerados inúmeros
fatores associados que podem levar ao atraso no DNPM (Pilz & Schermann,
2007). Halpern & Figueiras (2004) afirmam que os resultados negativos no
desenvolvimento são oriundos da combinação de fatores de risco genéticos,
biológicos, psicológicos e ambientais e, geralmente, envolvem interações
complexas entre eles.
Além disso, um ambiente rico em estimulação favorece a aquisição
de uma maior variabilidade de movimentos para a criança pequena,
principalmente ambientes criativos, que estimulem ou demandem uma
variabilidade de estratégias para o controle postural ou para a aquisição
de novas habilidades neuromotoras (Silva et al., 2006). Mesmo que
uma criança tenha alguma restrição ou deficiência, é necessário que uma
grande variedade de est́ımulos e vivências seja ofertada para que ela adote
estratégias motoras e assim desenvolva seu repertório motor.
Para exemplificar uma prática que prejudica o DNPM, pode-se citar o
uso do andador (Figura 2), também conhecido como voador. Atualmente
sua venda é proibida, porém ainda se encontra em estabelecimentos
comerciais e também como tradição entre famı́lias, ao passar entre primos,
parentes e vizinhos. Normalmente o andador é utilizado pela famı́lia
como um momento de entretenimento para a criança, sem pensar nas
consequências do seu uso. Este dispositivo pula etapas do DNPM,
possibilitando que a criança vivencie a postura ortostática e a marcha
antes de explorar posturas mais baixas (arrastar e engatinhar) e antes
mesmo dos seus sistemas estarem preparados para tal. Além disso, quando
a criança está fazendo o uso destes equipamentos, pode alterar o equiĺıbrio
corporal e aumentar o número de quedas e o risco de acidentes, como o
traumatismo crânio encefálico, queimaduras e afogamentos. Esta vivência
da postura e marcha de forma precoce e errada pode trazer consequências
até a vida adulta, como alterações de equiĺıbrio e encurtamento musculares,
por exemplo.
O processo de desenvolvimento da criança 5
Figura 2. Criança fazendo uso do andador: errado.
Diante disso, independente do ambiente em que a criança está inserida,
seja seu lar, creche, Centro de EducaçãoInfantil ou abrigo, é preciso manter
diariamente a atenção e o cuidado associado à estimulação. Os espaços da
casa ou da escola/creche devem estar adequados no sentido de proteção
e estimulação do processo de desenvolvimento motor, cognitivo, sensorial,
emocional e social da criança.
Para saber mais sobre a influência da escola no DNPM, bem como a
interação com a famı́lia, veja o Caṕıtulo 3 deste livro.
4. O Que Devemos Observar no Desenvolvimento
Neuropsicomotor da Criança Pequena?
Como foi discutido até aqui, a criança está em processo de desenvolvimento,
o qual é aperfeiçoado ao longo do tempo, porém com destaque aos
anos iniciais. Para conseguir acompanhar e verificar este processo de
desenvolvimento, bem como facilitar esta observação, existem alguns
pontos a serem avaliados que estão sistematizados por faixas etárias nas
Tabela 1.
Observe sua criança, ela é ativa e irá demonstrar se está gostando
da atividade ou se está cansada. Respeite a individualidade e vontade
da criança, ela também precisa de um tempo para descansar. Lembre que
cada criança é única, terá seu tempo e existirá uma variabilidade entre uma
criança e outra. Olhe e explore sempre o seu potencial, o que a criança faz
de mais avançado, e na dúvida, procure um profissional especializado.
6 Araujo & Israel
Tabela 1. Principais Marcos Motores. Fonte: Adaptado de Israel et al.
(2014, p.23-25).
Idade Marco Motor Dicas
Cronológica
Recém-
nascido
ao 1o
mês
Decúbito ventral (barriga para baixo):
permanece em flexão fisiológica,
levanta pouco e por pouco tempo a
cabeça e a gira para o lado.
Decúbito dorsal (barriga para cima):
rola parcialmente para o lado.
Não apresenta controle de cervical.
Posição ortostática (em pé): reflexo de
marcha presente e suporta seu peso
nos MMII com apoio do tronco.
Acompanha objetos em movimento até
a linha média, deixa as mãos fechadas,
tem movimentos reflexos, com e sem
finalidade espećıfica.
Mostre objetos
coloridos e sonoros
para que a criança
busque estes objetos.
Utilize objetos com
diferentes texturas e
apresente-os para a
criança.
Converse com a
criança.
2o ao 3o
mês
Gira a cabeça para todos os lados e
chuta em decúbito dorsal.
Decúbito ventral: leva a cabeça por
curto tempo a 90o, mantém parte do
peso sobre os antebraços com o tórax
levemente levantado.
Sentado: com apoio total e sem
controle total da cervical.
Posição ortostática: mantém quadris
fletidos, suporta pouco peso.
Consegue ver objetos mais distantes e
os segue com a cabeça a 180o, usa a
preensão palmar.
Coloque a criança
em decúbito ventral
com aux́ılio de um
rolo no tórax.
Em decúbito dorsal
ofereça objetos para
a criança manipular.
Conte estórias.
4o ao 5o
mês
Passa do decúbito dorsal para o lateral,
brinca com os pés.
Decúbito ventral: mantém o peso nos
MMSS estendidos, arrasta-se.
Sentado: flexiona o pescoço para ir
para a posição sentada e nesta posição
permanece por poucos minutos.
Posição ortostática: sustenta o seu
peso nos MMII, se apoiado.
Segura e solta brinquedos.
Com a criança em
decúbito dorsal
ofereça objetos nas
laterais para que ela
inicie o rolar.
Em decúbito ventral
coloque objetos a sua
frente para que ela
inicie o deslocamento
com o arrastar.
O processo de desenvolvimento da criança 7
6o ao 7o
mês
Passa de decúbito dorsal para ventral,
se apoia em uma das mãos e pega
brinquedos com a outra.
Decúbito dorsal: levanta a cabeça.
Sentado: senta sozinho.
Fica em pé, se apoiado. Engatinha
para trás, pega objetos e passa de uma
mão para outra.
Coloque a criança
sentada e ofereça o
cesto de tesouros,
uma cesta na
qual você vai
colocar diversos
objetos para que a
criança explore-os.
Selecione os objetos
com segurança e
adequados para a
idade. Fale os nomes
dos objetos para a
criança.
8o ao 9o
mês
Prefere o decúbito ventral e fica na
posição de engatinhar. Passa da
posição sentada para decúbito ventral.
Fica em pé e anda se segurando
em móveis, senta-se e engatinha para
frente.
Manipula objetos, aponta, empurra e
pega objetos em recipientes.
Coloque a criança
em ambiente seguro
e com espaço
para ela iniciar
o deslocamento
engatinhando.
Esconda objetos
dentro de recipientes
para que a criança
pegue-os e manipule-
os.
10o ao
11o mês
Fica em pé por pouco tempo.
Posição ortostática: nesta posição,
pega objetos do chão. Anda com apoio
nas duas mãos ou em uma.
Engatinha. Faz Urso (coloca mãos e
pés no chão). Faz pinça (pega objetos
e une o polegar ao indicador), coloca
objetos em potes.
Coloque a criança
em pé com apoio em
locais seguro.
Utilize uma toalha
no tórax para
dar suporte e a
criança iniciar o
deslocamento em pé
com segurança.
12o ao
15o mês
Posição ortostática: anda rápido sem
apoio para frente, lado e trás, sobe
escadas sentado.
Sentado: consegue arremessar objetos.
Faz torres de 2 cubos, vira objetos,
risca papel.
Monte um circuito
com obstáculos
(colchonetes,
espumas) para
a criança adotar
estratégias motoras
e aperfeiçoar o
equiĺıbrio.
8 Araujo & Israel
16o ao
24o mês
Sobe e desce escadas apoiado em uma
mão com os dois pés. Agacha-se. Pega
objetos do chão, atira para frente.
Impulsiona-se em brinquedos de roda.
Dobra papel, faz torre de 6 cubos,
segura lápis entre o polegar e os dedos,
copia linha horizontal e vertical.
Aprimore seu
circuito com mais
obstáculos.
Coloque papel e
giz para a criança
desenhar.
Estimule a criança
a falar e não apenas
apontar o que ela
quer.
2o ano
Corre, anda na ponta dos pés, anda
para trás, sobe e desce escadas
alternando os pés, pula com um pé só.
Anda em triciclo, gira fechaduras,
abotoa, usa tesouras, monta quebra-
cabeça simples, dobra papel.
Elabore atividades
de pular e ficar em
um pé só.
Utilize brinquedos
de encaixe.
Conte histórias e
estimule a criança a
falar.
5. O Que é Intervenção Precoce?
Anteriormente estudamos que o DNPM sofre influência de vários fatores
e que devemos enfraquecer os fatores de risco e potencializar os fatores de
proteção.
A intervenção precoce é um conjunto de atividades e movimentos
destinado a proporcionar à criança um desenvolvimento neuromotor e
psicocognitivo completo, de forma a utilizar todo o seu potencial. Quanto
antes for feita a intervenção da estimulação precoce, preferencialmente
nos dois primeiros anos de idade, maiores as chances de prevenir e/ou
minimizar atrasos no DNPM, uma vez que é nesse peŕıodo que ocorre com
maior velocidade e intensidade a capacidade do sistema nervoso de ampliar
e multiplicar suas conexões neurais devido à neuroplasticidade (Blauw-
Hospers & Hadders-Algra, 2005; Hallal et al., 2008).
A cada dia são mais fortes as evidências cient́ıficas de que os primeiros
anos de vida são particularmente formidáveis para o desenvolvimento
da criança e representam oportunidades significativas para o crescimento
adequado. Descobertas recentes têm demonstrado, convincentemente, que
os primeiros anos de vida, desde a gestação, é a fase mais cŕıtica da pessoa
no que diz respeito ao seu desenvolvimento biológico, cognitivo, emocional
e social (UNICEF, 2001). Isto por que, de acordo com Resegue et al.
(2007), nos primeiros anos de vida a intensa neuroplasticidade do cérebro
humano é mais acentuada e suscet́ıvel à estimulação.
O brincar, seja ao explorar objetos ou interagir com as pessoas, desde os
primeiros meses de vida, possibilita que a criança explore sensorialmente
O processo de desenvolvimento da criança 9
diferentes objetos, sua forma, interaja com o meio, compreenda ação e
reação, que mais tarde terão repercussões nas relações socioafetivas, como
na cooperação, autocontrole e negociação, além do est́ımulo à imaginação
e criatividade (Núcleo Ciência pela Infância, 2014)
Dessa forma, o tempo e o momento de aplicação da intervenção precoce
são fatores cŕıticos para o sucesso da estimulação, porém é necessário
lembrar que o olharnão deve ser apenas para a criança, mas também
para os contextos e ambientes em que a mesma está inserida, ou seja, deve
envolver a famı́lia, a escola, os profissionais da saúde e educação e todos os
envolvidos com a criança.
6. Dicas de Estimulação
Agora já sabemos a importância de estimular e brincar com a criança
pequena, mas de que forma podemos fazer isso nas fases iniciais do
desenvolvimento?
A seguir, apresentamos imagens e descrição de formas simples, de como
estimular a criança, que podem ser realizadas em qualquer ambiente e com
materiais simples dispońıveis no dia-a-dia. Use sua criatividade e ofereça
est́ımulos variados para a criança (Figuras 3 a 14).
O movimento serve como possibilidade de desenvolvimento e
aprendizagem, possibilite isto a criança de forma segura, supervisionada
e com qualidade. Para saber sobre o uso adequado de tecnologias, como
tabletes e computadores, leia o Caṕıtulo 6 deste livro.
Diante desse caṕıtulo espera-se que os profissionais da saúde e educação,
familiares e gestores observem a criança pequena como um ser ativo, em um
momento especial e crucial para sua vida futura e, dessa forma, consigam
promover uma estimulação adequada e com qualidade para que as crianças
cresçam e se desenvolvam da melhor maneira posśıvel e se tornem adultos
com o máximo potencial.
Figura 3. Coloque seu bebê
no colo, estimule a buscar o
brinquedo na linha média. Estará
desenvolvendo a coordenação
óculo-motora. Mantenha o
brinquedo de 20 a 30 cm de
distância. Utilize brinquedos
com luzes e som para estimular
os sistemas sensoriais. Aproveite
este momento para conversar
com a criança.
10 Araujo & Israel
Figura 4. Ao deslocar com
a criança no colo, carregue-a
virada para frente, assim
ela irá receber est́ımulos
variados do ambiente e
interagir com o mesmo.
Figura 5. Coloque o bebê em
prono (barriga para baixo) e coloque
brinquedos que chamem a atenção
para ele elevar a cabeça. Assim ele
irá fortalecer os músculos da cervical
e extensores do tronco. Inicialmente
pode fazer um rolo com toalha para
colocar abaixo do tórax.
Figura 6. Desafie a criança
a fazer trocas posturais
(mudanças de posturas).
Com brinquedos estimule-a
a buscar o objeto de forma
que realize o rolar. Ofereça
os est́ımulos para ambos os
lados.
Figura 7. Ainda em prono
(barriga para baixo) é
necessário que a criança
explore esta postura, pois
assim irá fortalecer os
músculos dos membros
superiores (braços). E terá
ińıcio do deslocamento com
o arrastar.
O processo de desenvolvimento da criança 11
Figura 8. É necessário deixar
a criança em ambiente livre e
seguro, no ińıcio ela começará
a se arrastar em busca do
brinquedo, e com o passar do
tempo iniciará o engatinhar.
Figura 9. Aos poucos a
criança vai se interessar
por posturas mais altas,
possibilite que a criança
passe do chão para em pé
com apoio. Aos poucos ela
estará mais segura para dar
alguns passos na lateral com
o apoio das mãos.
Figura 10. Após explorar
a postura em pé a criança
estará preparada para dar os
primeiros passos sem apoio.
Tudo conforme o seu tempo.
Figura 11. Para estimular a
criança a caminhar, utilize
uma toalha sobre o seu
tórax, assim ela estará
segura e ao mesmo tempo
livre para a execução do
andar.
12 Araujo & Israel
Figura 12. Utilize as
situações do dia-a-
dia para a criança se
desenvolver. Deixe-
a comer com as
mãos e tentar se
alimentar sozinha,
com uma colher. Essa
atividade desenvolverá
a coordenação manual e
possibilita a exploração
das texturas, formas,
temperatura.
Figura 13. A hora do banho
também é um momento rico para
a estimulação. Pode utilizar
brinquedos de ação e reação.
Utilize vários est́ımulos, porém
ofereça um brinquedo por vez
para manter a atenção da criança.
Converse e conte histórias para a
criança.
Figura 14. Deixe a criança
explorar diferentes texturas com
as mãos, pés ou outras partes
do corpo. Como exemplo,
espuma de barbear, massinha de
modelar, areia, entre outras, sob
a supervisão de um adulto.
O processo de desenvolvimento da criança 13
Referências
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Capítulo 2
Interações Neuromotoras da Criança:
Indivíduo, Ambiente e Tarefa
Bruna Yamaguchi∗ e Vera Lúcia Israel
1. Introdução
A Fisioterapia como ciência do movimento e postura humana é reconhecida
historicamente por grande parcela dapopulação pela sua atuação
tradicional na reabilitação. Contudo, com os processos de evolução social
e cultural houve uma transição das necessidades de atenção em saúde, que
trouxeram novas demandas a todos os profissionais da saúde, inclusive na
área de saúde da criança. A Fisioterapia tem seu campo de formação e
atuação cada vez mais fortalecido e ampliado com atividades que visam à
promoção de saúde e a prevenção de doenças (Bispo Júnior, 2010).
A intervenção fisioterapêutica, na promoção e prevenção em saúde,
ocorre num momento anterior a qualquer sinal ou sintoma de doença, o
que pode levar a benef́ıcios dessa assistência como capacitar as pessoas a
reconhecer bons hábitos e escolhas para sua saúde, bem como prevenir
problemas relacionados à saúde, poupando as pessoas do processo de
adoecimento (Pereira, 2014). Dentre os aspectos pasśıveis de promoção
e prevenção está a saúde no contexto do desenvolvimento neuropsicomotor
das crianças, o que inclui a educação em saúde com orientação de familiares
e professores. Para o adequado desenvolvimento na primeira infância,
de modo especial, devemos considerar fatores como vacinação, nutrição,
condições do ambiente familiar e escolar, estimulação psicomotora,
brincadeiras, rotina da criança, vivência cultural, ńıvel educacional e
socioeconômico da famı́lia, entre outros, que poderão interferir positiva ou
negativamente no desenvolvimento infantil. Nas últimas décadas, houve
um maior acompanhamento do desenvolvimento infantil, para a prevenção
de posśıveis alterações, o que traz benef́ıcios para toda a vida (Amorim
et al., 2009). A verificação do desenvolvimento infantil é parte integrante
da atenção da Fisioterapia na saúde infantil e compreende atividades
relacionadas à promoção do desenvolvimento neuropsicomotor adequado.
∗Autor para contato: brunayamaguchi@hotmail.com
Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.02 ISBN 978-85-64619-19.7
brunayamaguchi@hotmail.com
16 Yamaguchi & Israel
O fisioterapeuta é um dos profissionais responsáveis pela vigilância e
estimulação das condições neuropsicomotoras na infância que deverão ser
facilitadas de diferentes formas e devido a neuroplasticidade nesta faixa
etária deverão permanecer no repertório motor por toda vida.
Neste contexto, as famı́lias não terão seu primeiro contato com a
Fisioterapia após um acometimento de doença já instalada, mas sim, já na
estimulação e cuidados da saúde da criança promovendo a assistência a toda
população na busca da qualidade de vida e hábitos saudáveis relacionados
de modo particular ao movimento e postura humanas e suas repercussões
sistêmicas.
Em nossa experiência na avaliação neuropsicomotora de crianças de 0
a 5 anos, na rede pública de ensino, avaliamos e acompanhamos mais de
400 crianças, no litoral do Paraná. Este projeto fez parte das atividades
extracurriculares dispońıveis na graduação de Fisioterapia da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), setor Litoral, entre 2007 e 2013. Apesar
da atividade se caracterizar como atividade de pesquisa, por meio da
iniciação cient́ıfica, pôde agregar conhecimentos de ensino e extensão que
desenvolveram habilidades e competências necessárias ao fisioterapeuta,
possibilitando a inserção da Universidade na comunidade. A interação
entre os conhecimentos cient́ıficos da academia e os conhecimentos com a
população local levou a promoção de saúde das crianças participantes.
A equipe de fisioterapeutas e estudantes do curso de Fisioterapia
da UFPR frequentava os ambientes de diferentes Centros de Educação
Infantil (CEI) públicos dos munićıpios do litoral do Paraná, com o apoio
da Secretaria de Saúde e de Educação das cidades, e a autorização dos
responsáveis legais pela criança. Na própria escola aconteciam as avaliações
fisioterapêuticas lúdicas, bem como as orientações às famı́lias e professores
envolvidos.
Essa proximidade entre estudante, criança, professor, famı́lias e gestores
com a prática na avaliação infantil da Fisioterapia, aliado com os
estudos sobre o tema, nos trouxeram conhecimentos que agora buscamos
compartilhar por meio deste caṕıtulo com todos os leitores que têm ou
terão contato com crianças, em especial na faixa etária de 0 a 5 anos.
O desenvolvimento neuropsicomotor na infância é caracterizado por
mudanças cont́ınuas, progressivas e complexas na capacidade funcional
cognitivo-motora. Esta capacidade é cumulativa e, dentro de condições
t́ıpicas esperadas para cada faixa etária, é permanente. O desenvolvimento
não cessa, apesar de muitas vezes não se conseguir observar as mudanças
em sua plenitude. O desenvolvimento infantil é dependente da idade,
sendo mais rápido ou lento dependendo do peŕıodo da vida e do indiv́ıduo
(Haywood & Getchell, 2010).
Nos primeiros anos de vida, as crianças desenvolvem suas
potencialidades, explorando todas suas possibilidades de aprendizagem,
favorecidas pela plasticidade cerebral (Baltieri et al., 2010). O
As interações neuromotoras da criança 17
desenvolvimento infantil se caracteriza pelas modificações cont́ınuas e
permanentes no ińıcio da vida, sendo resultado da interação entre fatores
genéticos, biológicos, ambientais e das tarefas realizadas ou estimulações
recebidas. Aquisições do desenvolvimento infantil aparecem na medida
em que a criança tem contato ativo com ricos ambientes f́ısico e social
de seu cotidiano. Estas modificações influenciam na forma como estas
crianças percebem e lidam com o ambiente em que se encontram. Esta é
a perspectiva ecológica, em que o desenvolvimento infantil influencia e é
influenciado, de forma ativa, pelas relações da criança com o meio ambiente
(Poletto & Koller, 2008).
Com isso, vemos que o desenvolvimento da criança é dependente das
potencialidades intŕınsecas de fatores pessoais, além das interações com o
ambiente em que a criança é exposta e de est́ımulos (atividades) oferecidos,
portanto, faz-se necessário a presença mediadora de profissionais de saúde,
como no nosso caso do fisioterapeuta, no ambiente escolar.
O modelo ecológico, que atualmente descreve o desenvolvimento
humano, propõe que as principais relações que a criança é exposta, seja
em cuidados ou em est́ımulos, são dadas por indiv́ıduos conviventes, na
escola por profissionais da educação e em casa pelos familiares (Nobre
et al., 2009). Estas pessoas que têm contato com as crianças devem assumir
a responsabilidade de propor um ambiente saudável e rico em qualidade
de cuidados e est́ımulos. Desta forma, os CEI e as famı́lias devem ter
conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento da criança e como
estimulá-la adequadamente nos primeiros anos de vida.
2. Os Estímulos Neuropsicomotores no Desenvolvimento
Infantil
Estes est́ımulos que abordamos, são as chamadas tarefas, no modelo
de desenvolvimento ecológico. Na prática, são as ações ou atividades
psicomotoras t́ıpicas e esperadas para a idade de cada criança. Estas
atividades, quando adequadamente propostas e realizadas, funcionam como
est́ımulos que auxiliam na aquisição de novas habilidades psicomotoras
fazendo a criança a superar desafios diários para o seu crescimento,
em ganho de massa corporal e estatura, como no desenvolvimento de
habilidades neuropsicomotoras saudáveis.
Destaca-se o ato de brincar e a diversidade de brincadeiras como meios
de estimular as habilidades psicomotoras na criança. O ato de brincar
é uma atividade (tarefa) essencial para a promoção do desenvolvimento
intelectual, social, emocional e f́ısico da criança e está presente em todas
as culturas, justificando o crescente foco de atenção destinado a esse tema
(Pfeifer et al., 2009). Por meio da brincadeira as crianças descobrem o
mundo e as respostas neuromotoras, desencadeadas por estes est́ımulos,
ajudando-a a formar seu repertório neuromotor individual(Nobre et al.,
18 Yamaguchi & Israel
2009). A brincadeira é véıculo da experimentação motora, social, emocional
que leva ao amadurecimento saudável da criança.
3. O Papel da Família
Além de proporcionar um ambiente seguro, é papel da famı́lia fornecer
os v́ınculos afetivos, os cuidados e os est́ımulos necessários ao crescimento
e desenvolvimento da criança. A famı́lia ainda é responsável por mediar
as relações da criança com a sociedade, possibilitando o desenvolvimento
cognitivo infantil (Andrade et al., 2005). A educação no sentido amplo da
palavra é missão da famı́lia e a criança é reflexo das relações familiares.
Desde bebê a interação mãe-filho(a) ou pai-filho(a) já coopera com
o desenvolvimento cognitivo-motor da criança, pois a mãe/pai conseguem
interpretar os sinais sutis e dar os est́ımulos adequados a sua criança. Como
exemplo, trazemos os resultados de um estudo, desenvolvido por Amorim
et al. (2009), que verificou que as crianças que ficam menos tempo com a
mãe apresentaram maior déficit no equiĺıbrio estático, comparadas às que
permanecem mais tempo com a mãe. Sabe-se que o equiĺıbrio estático é
uma função neurológica de alta relevância e complexidade neuromotora
para o desenvolvimento, sendo que déficits nesta habilidade podem indicar
dificuldades também na aquisição de outras habilidades futuras, como o
andar e correr. Isto sugere que a presença da mãe é como um fator
de proteção e confiança para aquisição dessa habilidade motora, sendo
possivelmente influente em outras habilidades motoras. As habilidades
motoras surgem na infância da prática e da experiência proporcionada para
a criança, por meio de est́ımulos sensóriomotores (Florindo & Pedro, 2014).
Essas habilidades motoras são relativamente permanentes no repertório
neuromotor humano, envolvem movimentos do corpo e um conjunto de
aprendizagem cognitiva (Florindo & Pedro, 2014).
O mais relevante nos diversos estudos que investigam o ambiente escolar
e seus est́ımulos, não é o fato da criança frequentar o CEI durante todo o
dia ou meio peŕıodo, ou ainda permanecer em casa, mas sim a qualidade de
est́ımulos oferecidos por estes ambientes escola e casa, devido a qualidade
de sua estrutura e da estimulação feita pelas pessoas. É preciso maior
investigação sobre quais experiências são proporcionadas para a criança e
a qualidade desta estimulação (Bonome-Pontoglio & Marturano, 2010).
Neste sentido, há um consenso multidisciplinar de profissionais que
atuam nas escolas ou CEI´s, de que uma boa relação entre a famı́lia e a
escola traz benef́ıcios para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo
da criança. Para otimizar a interação famı́lia-escola, é preciso adaptar
diferentes estratégias, considerando as especificidades locais, como aspectos
culturais e de economia (Poletto & Koller, 2008). A abordagem e a
linguagem utilizadas devem ser adaptadas ao contexto da realidade local,
As interações neuromotoras da criança 19
pois quando feita de maneira inadequada torna-se ineficaz, podendo ainda
desmotivar a participação da famı́lia na escola.
Para superar as descontinuidades entre os ambientes familiar e escolar,
é necessário conhecer os tipos de envolvimento entre familiares e escola
e estabelecer estratégias que permitam a concretização de objetivos
comuns (Pilz & Schermann, 2007). A estratégia utilizada nas pesquisas
e intervenções realizadas sempre foi expor o objetivo comum entre o CEI
e os familiares, que é a busca da saúde da criança, assegurando ambiente
e estimulação adequados para um desenvolvimento infantil pleno.
4. Avaliação
Para verificar como está o desenvolvimento da criança, podem ser utilizadas
escalas na Fisioterapia. Estas auxiliam na avaliação infantil, e em nossa
experiência, trazem uma forte adesão quando aplicadas de forma lúdica.
Os itens que constam nas escalas de avaliação são atividades que
tipicamente a criança realiza em determinada idade. Por meio do
desempenho funcional, verificando os diversos indicadores, como a
aquisição e a evolução em diferentes áreas do desenvolvimento: cognição,
linguagem, motricidade, comportamento, entre outras.
O uso de testes de avaliação do desenvolvimento infantil é recomendado
como estratégia para promoção da saúde infantil, acompanhando o
crescimento da criança. Possibilita identificar, monitorar e quantificar
as posśıveis alterações no desenvolvimento, ainda que não traga um
diagnóstico (Silva et al., 2015).
É posśıvel, nas avaliações do desenvolvimento, que os profissionais
observem alguma diferença marcante, que pode repercutir num menor
rendimento em uma ou mais áreas da vida da criança, ainda que
futuramente. Desta forma, a avaliação também de capaz de apontar
estas discrepâncias e chamar a atenção para uma ação urgente ou
encaminhamentos adequados para cuidados de educação e ou saúde.
Ao pensar que a estimativa é que uma em cada oito crianças apresente
alterações no seu desenvolvimento neuropsicomotor, que possam interferir
em sua qualidade de vida e inclusão escolar e social, a intervenção
fisioterapêutica busca reduzir ou extinguir as diferenças ou riscos para o
desenvolvimento na infância. O diagnóstico e a intervenção, antes dos
cinco anos de idade, são primordiais para um bom prognóstico e evolução
da criança reduzindo o risco de atraso neuropsicomotor (Ribeiro et al.,
2010).
Muitas vezes, consequências indesejáveis ou deficiências serão vistas
apenas em idades avançadas, como problemas da aprendizagem,
comportamento ou transtornos afetivos. Dessa forma, a identificação
precoce de posśıveis situações de risco, que possam prejudicar o curso do
20 Yamaguchi & Israel
desenvolvimento infantil, é relevante para evitar maiores déficits ao longo
da vida.
5. A Abordagem da Família
Os profissionais da saúde, envolvidos com a promoção do desenvolvimento
infantil, precisam do apoio dos familiares para que haja continuidade
nos cuidados de educação e de saúde e na estimulação neuropsicomotora
adequada para cada faixa etária. A sensibilização dos familiares busca
esse elo. A famı́lia deve ser o principal promotor, com plena consciência
da sua responsabilidade, da formação neuromotora e psicossocial de seus
(suas) filhos(as). A partir desse reconhecimento, buscamos a troca de
experiências, instrumentalizando os familiares.
Em nossa experiência, não apontamos para nenhum familiar os
achados da avaliação individual da criança. Todos os familiares
participavam de forma igual das atividades de educação em saúde e
eram estimulados a reconhecer seus pontos acertivos e pontos a melhorar
em relação ao seu papel fundamental. Quando havia discrepância ou
risco ao desenvolvimento de uma criança a escola era alertada e fazia o
encaminhamento da famı́lia e da criança.
Os encontros com familiares e professores são atividades de educação
em saúde, com isso, seu papel é gerar conhecimento, agregar, acolher
as famı́lias e professores, dar direcionamento para as suas angústias,
anseios, temores, dúvidas, assim como aproveitar suas experiências, seu
conhecimento e sua cultura. Ao desenvolver essa abordagem de educação
em saúde os protagonistas devem ser os participantes, mediados pelos
proponentes.
As atividades propostas buscavam conversar sobre o desenvolvimento,
trocar experiências, oferecer orientações e dicas de como otimizar o conv́ıvio
do familiar com a criança e dentro da escola também com os profissionais
da educação.
Em todas as atividades, que ocorriam em encontros do grupo de
pesquisa com a famı́lia e com os professores também, duas vezes no ano
letivo, buscava-se reforçar e inovar nas ações em saúde, além de sempre
contar com um “lembrete” (produto). O lembrete (produto) era algo
direcionado e desenvolvido pelo grupo de pesquisa para a famı́lia levar
para casa, que tenha utilidade e seu objetivo fundamental é de lembrara
cada famı́lia sobre o encontro, reforçando diariamente as dicas e conversas
tidas no encontro do semestre. Podem ser calendário de geladeira com
brincadeiras, livro de histórias infantis, porta-canetas de dicas.
As interações neuromotoras da criança 21
6. A População de Crianças no Brasil
Nossas avaliações vão ao encontro dos achados de outros grupos de
estudo do desenvolvimento infantil (Brito et al., 2011; Andrade et al.,
2005). Algumas faixas etárias apresentam maiores riscos na linguagem,
e outras, no auto-cuidado. Além disso, contextualmente, a presença dos
familiares e situação socioeconômica também se apresentam como fatores
que influenciam nos resultados das avaliações das crianças realizadas.
As áreas motoras foram as com maior desempenho nas crianças
avaliadas. A área denominada de motor fino-adaptativo verifica a
motricidade de precisão, atividades minuciosas de mão e destreza e foi
observado que diversas atividades propostas pelos pedagogos e professores
contavam com este tipo de atividade. A área do motor grosso, que
verifica a mobilidade funcional, andar, correr, levantar, subir escadas, que
envolve grandes grupos musculares, controle desses movimentos e equiĺıbrio
dinâmico também teve, em geral, resultados dentro do esperado para cada
idade.
Ao longo da primeira infância há modificações na capacidade f́ısico-
motora e cognitiva que permitem a criança se alimentar, trazer o alimento
do prato para si, inicie/auxilie a servir-se, inicie a escovação de dentes com
aux́ılio, entre outras atividades do cotidiano que deve ser gradativamente
estimuladas e a criança passe a se responsabilizar pelas mesmas. Ocorre
que, por diversos motivos, essa transição de funções de cuidado pessoal
não acontece. Os motivos relatados pelos familiares vão desde falta de
tempo para que a criança experimente a atividade, e por vezes, se suje; até
excesso de “mimos” prolongando a dependência parental. Independente da
justificativa, o resultado são crianças com baixa independência em tarefas
já posśıveis e importantes de serem feitas ou iniciadas pelos pequenos.
Ao mesmo tempo, desenvolve-se uma rede de relações pessoais, e o
bebê é um indiv́ıduo que se relaciona tanto com o meio, quanto com as
pessoas. Pais, avós, irmãos, professoras e colegas são o outro lado dessa
relação. Os v́ınculos afetivos iniciam pelos familiares, e posteriormente,
se ampliam com a idade para relações sociais na comunidade, na escola
e outros em grupos que a famı́lia e a criança frequentam. A cooperação,
a identificação de papéis sociais, o reconhecimento do indiv́ıduo, regras
dos jogos e brincadeiras de grupo são noções que, da mesma forma que a
capacidade funcional e cognitiva e a inteligência emocional também vão se
ampliando com o tempo. Essas oportunidades da convivência devem ser
estimuladas para o pleno desenvolvimento social progressivo da criança.
Outro indicativo das pesquisas realizadas diz respeito ao
desenvolvimento da linguagem. Percebeu-se um déficit principalmente
a partir dos 18 meses. Pronunciar, reconhecer figuras, nomear objetos
e utilizar adjetivos começam a fazer parte do novo repertório de
comunicação. O fator socioeconômico se relaciona com o desenvolvimento
22 Yamaguchi & Israel
infantil na medida em que os cuidadores têm menor instrução educacional,
têm mais chances de dificuldades no desenvolvimento (Brito et al., 2011).
Esse fato é facilmente relacionado com a realidade do Brasil e do local
em que realizamos as pesquisas. Por sua vez, a baixa escolaridade reflete
ainda na renda familiar, que é indicativo também de maior chance de
déficit do desenvolvimento neuropsicomotor.
7. O Desenvolvimento Infantil e a Psicomotricidade
A proposta da psicomotricidade vem da França do século XX, na busca
por otimizar as propostas de est́ımulos, com a tŕıade motricidade, cognição
e afetividade (Castilho-Weinert et al., 2011).
É relevante destacar que a prática da psicomotricidade não é apenas
aplicada a crianças, hoje é amplamente utilizada na intervenção de adultos
e idosos, sejam esses com ou sem algum tipo de déficit neuromotor.
Contudo, a utilização em bebês e crianças apresenta maior número de
pesquisas cient́ıficas, visa não somente a recuperação de funções, mas a
primeira aquisição das habilidades psicomotoras (Castilho-Weinert et al.,
2011).
Os pilares que descrevem a psicomotricidade são relatados em sete
fatores (Silva et al., 2016):
a) Tonicidade: Percebe que seus músculos podem contráırem-se mais
rapidamente ou mais lentamente, tem a capacidade de conseguir
controlar essas ações antagônicas.
b) Equilibração: Verifica o equiĺıbrio dos seguimentos corporais em
diversas posturas, tanto estaticamente quanto ao se movimentar.
Utiliza-se das informações proprioceptivas, mas também labiŕınticas e
de visão.
c) Lateralização: Define a dominância de um membro superior, ou inferior,
sobre o outro lado, assim como a noção de reconhecer em si e em outros
corpos os lados direito e lado esquerdo.
d) Noção de corpo: Reconhece em si e no outro estruturas corporais,
podendo associar com funções.
e) Estruturação espaço-temporal: Percebe a sequencia temporal e
compreende diferenças temporais como ontem, amanhã, dias, anos.
Reconhece seu corpo no espaço, desenvolve noções de local, grandezas
e formas.
f) Praxias global: Trata dos movimentos para mudar de posição, se
movimentar assim como carregar objetos. Utiliza grandes grupos
musculares.
g) Praxia fina: Engloba o desenvolvimento motor fino, com movimentos
mais precisos, usando principalmente destreza de mãos, como desenhar,
As interações neuromotoras da criança 23
escrever, pegar objetos pequenos, entre outras atividades, que vão sendo
desenvolvidas ao longo da infância, com maior domı́nio.
Fatores fundamentais para o desenvolvimento infantil, em sido
assegurados atualmente no Brasil, pelo recente Marco Legal da Primeira
Infância (BRASIL, 2016) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
(BRASIL, 1990). Contudo, famı́lia e escola são fundamentalmente os locais
para proteção e est́ımulo do desenvolvimento das crianças.
O respeito, o cuidado, o brincar, o ser generoso, conhecer
direitos e deveres, ser ético, o aprender, o conviver, o conhecer, o
assumir responsabilidade e progressivamente desenvolver-se no mundo são
aquisições de valores humanos e éticos que a criança ao longo da vida
ativamente conquistará vencendo os desafios de sua vida. Que possamos
como fisioterapeutas contribuir para a infância.
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Capítulo 3
Para Fazer um Laço é Necessário Unir as Pontas...
envolvimento entre família e escola
Mariana Rodrigues Gaspar Correa∗,
Luize Bueno de Araujo e Vera Lúcia Israel
1. Introdução
O desenvolvimento motor infantil é caracterizado por Gallahue et al.
(2005) e Haywood & Getchell (2010) como uma mudança cont́ınua,
influenciada pela exigência das tarefas motoras, as carateŕısticas do
indiv́ıduo e as condições do ambiente. Para Papalia et al. (2010) o
desenvolvimento infantil sofre influências desses três determinantes, os
quais estão simbolizados na Tŕıade de Newell (1991 – Figura 1). Newell
(1986), o autor da Tŕıade, reforça a necessidade de compreender a relação
do ser humano com o ambiente e com os outros seres humanos analisando
a combinação das demandas do organismo, do ambiente e da tarefa em
andamento.
Os profissionais da saúde, a famı́lia e os/as educadores/as são os
principais acompanhantes do desenvolvimento infantil e os responsáveis
pelo cuidado da criança. Portanto, conhecer como se caracteriza cada
determinante/restrição e como se relacionam é primordial para entender
como ocorrem os processos de desenvolvimento, crescimento e perceber
desvios no desenvolvimento infantil adequado.
A teoria e a prática, quando relacionadas, quase sempre são
conflituosas. Entretanto, é necessário o conhecimento sobre os processos
envolvidos em um acontecimento para solucionar problemas relativos ao
fato.
O presente caṕıtulo discorre sobre os principais envolvidos no cuidado à
criança, ressalta a necessidade do v́ınculo entre os cuidadores e caracteriza
os ambientes que cercam a criança, destacando quais são os fatores nocivos
e os fatores proṕıcios para um bom desenvolvimento infantil. Bem como
relata a experiência de um projeto de iniciação cient́ıfica da Universidade
Federal do Paraná, o qual tinha por objetivo “unir as pontas”, ou seja,
∗Autor para contato: marianargcorrea@gmail.com
Luize Bueno de Araujo & Vera Lúcia Israel (Ed.), (2017) DOI: 10.7436/2017.dcfes.03 ISBN 978-85-64619-19-7
marianargcorrea@gmail.com
26 Correa, Araujo & Israel
Figura 1. Modelo das Restrições de Newell. Fonte: Haywood & Getchell
(2010, p. 26).
aproximar educadores/as e famı́lia e/ou responsáveis para alertar os ganhos
para o desenvolvimento da criança quando há boa convivência entre famı́lia
e escola, além de informar os marcos do desenvolvimento infantil e os
benef́ıcios neuromotores da estimulação adequada.
Pois bem, há uma convenção entre os estudiosos em ausentar o foco do
conceito de doença (modelo biomédico), o qual ainda predominante, tem
perdido espaço para o modelo biopsicossocial, possuidor de um conceito
mais amplo em saúde, sendo que este atende o ser humano de forma integral
(Ayres, 2001; Demarco, 2003; Mandú, 2004; Pegoraro & Caldana, 2008;
Zoboli, 2004).
O modelo biomédico ou mecanicista visualiza a pessoa como uma
máquina, no qual o conceito de saúde é definido como a ausência de
doença. Neste modelo, perde-se a visão hoĺıstica do ser humano, não
existe a integração entre as dimensões psicológicas e sociais, o que ganha
destaque é a doença e sua cura, o diagnóstico individual e o tratamento
(Cutolo, 2006). Reitera-se que até hoje o modelo biomédico predomina
na atenção à saúde, em cĺınicas particulares, no Sistema Único de Saúde
(SUS), sendo que dentro desse contexto o médico ou profissional da saúde
faz sua entrevista e observação cĺınica ao atender um paciente, focando
principalmente nos seus sinais e sintomas, isto é, na sua doença.
Em contraponto, o modelo biopsicossocial é definido como “modelo que
não tem o foco apenas na doença em si e o tratamento dela, mas em todos
os aspectos que estariam diretamente relacionados ao fenômeno do adoecer,
sejam eles fisiológicos, psicológicos, sociais, ambientais, dentre outros, os
Para fazer um laço é necessário unir as pontas... 27
quais também devem ser considerados para que o tratamento seja eficaz”
(Silva et al., 2001).
Seguindo o racioćınio acima, na Carta de Ottawa (Brasil, 2002), o
modelo biomédico foi considerado necessário, porém insuficiente para dar
conta da saúde numa estratégia de promoção. Assim, a aproximação do
modelo biopsicossocial de saúde faz com que o atendimento oferecido seja
um cuidado participativo, estendido à comunidade, fazendo com que, por
meio da prevenção de doenças e de medidas para a promoção da saúde,
sejam ampliadas tanto a cobertura como a abrangência desse atendimento.
Dessa forma, no cuidado à criança, para que haja um modelo
participativo de intervenção, é necessário que as pessoas que cercam a
criança se envolvam, tornando-se atentas às fases do desenvolvimento
neuropsicomotor, e sejam capazes de identificar algum atraso neste
processo. Tais medidas, poderiam reduzir ainda mais os problemas futuros,
uma vez que a falta de estimulação adequada da criança pode acarretar
prejúızos que se estendem até a vida adulta.
Em particular, os primeiros anos de vida da criança são os mais
significativos para o seu desenvolvimento completo e as experiências
acumuladas durante este peŕıodo têm uma influência por toda a vida
(Johnston, 2009). O tecido nervoso apresenta seu maior crescimento e
maturação durante este peŕıodo e, portanto, mais suscet́ıvel a lesões. Por
causa do alto grau de plasticidade das crianças, também é nesta fase que
elas respondem melhor a intervenções de promoção e ou tratamentos e
ainda a estimulação neuromotora e ambiental. No entanto, para receber
essas intervenções, é necessário identificar o atraso e orientar, o mais
rapidamente posśıvel, a criança a serviços especializados. Portanto, é
necessário que os profissionais atuantes na atenção básica, a própria

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