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118 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 Unidade II 5 LITERATURA E FATORES DE TEXTUALIDADE 5.1 Texto nos paradigmas da linguística Caro aluno, no curso de Letras, seja em língua portuguesa, inglesa ou espanhola, o objeto de estudo é a língua. A ciência que dá conta desse objeto é a linguística, fundada em 1916, com a publicação das ideias concebidas em sala de aula pelo professor Ferdinand de Saussure. Por ser uma ciência – como outra qualquer – a linguística passa por mudanças, amplia-se em diferentes vertentes teóricas e a delimitação de seu objeto é transformada. Em outras palavras, o aluno graduando precisa ter a noção de que a ciência não é um fenômeno imutável, com teorias e ideias fixas e absolutas e, por isso, inquestionáveis. Ao contrário, o mundo científico é rico em variação teórica, metodológica e de objeto; ele tem paradigmas. Lembrete O termo paradigma está conceituado aqui como modelo de método, teoria, procedimento etc., tanto dentro da área da ciência, no geral, quanto da linguística, em especial. A investigação científica está determinada por quatro fatores, como aponta Varó (1990): 1. Método: conjunto de princípios metodológicos do paradigma no qual trabalhamos. 2. Objeto: ser ou fenômeno estudado. 3. Meta: é o fim pretendido. Exemplo: descobrir e descrever um dado da língua. 4. Finalidade: propósito da investigação: vantagem, benefício do conhecimento adquirido. Enfim, a investigação científica explora, descreve, explica e prediz os acontecimentos do mundo em que vivemos, confrontando as afirmações de seus enunciados com uma base empírica de dados (VARÓ, 1990, p. 9, tradução do autor). Para Varó, paradigma é um marco de referência, caracterizado por uma homogeneidade relativa de pensamento teórico básico que proporciona à comunidade científica critérios para: 119 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR • Marcar metas novas que estimulem formulação de teorias. • Selecionar feitos relevantes que se convertam em problemas de investigação. • Propor soluções aos problemas anteriores dentro do paradigma. Essa noção de paradigma é importante para compreender o avanço de qualquer campo de investigação, levando às mudanças de paradigma. Mudança de paradigma ocorre quando há abandono de teorias e há substituição por outra completamente distinta. A mudança é gradativa, nunca abrupta. Os paradigmas alcançam status como quando têm mais êxito que seus competidores (paradigmas anteriores) na resolução de problemas com explicações satisfatórias ou quando os cientistas de uma determinada área sentem a necessidade de reconsiderar a linha básica teórica de investigação que proporciona o paradigma de maior vigência. O mundo da ciência, de forma geral, passa, nesse momento, por uma mudança de paradigma, que reflete na linguística. Veremos, a partir desse ponto, essa mudança e a relação com a nossa área, neste tópico do livro-texto, com base nos estudos de Silva (2004). Santos (2001), ao tratar da história da ciência, esclarece que vivemos uma fase de transição entre dois paradigmas: uma ciência vigente, calcada em bases epistemológicas que se remetem ao século XVI, e uma emergente, prenunciada na metade do século XX. Nessa transição, surgem princípios decorrentes de uma nova concepção de universo e de humanidade, não apenas na ciência natural mas também nas outras áreas do conhecimento, como apontam Hobsbawm (2003), em sua crítica histórica sobre o século XX, e Morin (2002), em suas reflexões sobre educação. A ciência vigente vem moldando a sociedade científica e educacional desde o século XVI, quando as descobertas e as ideias revolucionárias emergem contra a filosofia aristotélica e o dogmatismo medieval. No combate à autoridade religiosa, os cientistas passam a adotar a observação e a experiência como método, colocando-as acima dessa autoridade, fato que produz resultados espantosos nos séculos subsequentes (Ronan, 1987). Assim, nos séculos XVII e XVIII, intensificam-se as pesquisas nas áreas de exatas e biológicas, com inúmeros avanços nos universos da física, em especial nos campos da óptica, do calor e da eletricidade; da química; da geologia, especificamente no campo da paleontologia; e da biologia, principalmente nos campos da microscopia, botânica, zoologia e medicina. Observação Entre os cientistas desse período marcante para a história da ciência estão Copérnico, Kepler, Galileu e Newton do lado físico-matemático, e Bacon e Descartes do lado filosófico. 120 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 O próprio Estado passa a se interessar pela ciência e muitos países fundam academias científicas. Bacon, um dos eruditos dessas academias, The Royal Society propõe uma ciência experimental, cujos procedimentos são coleta, classificação e catalogação de dados referentes a cada assunto pesquisado, para que sejam identificadas as características e natureza do fenômeno estudado. As etapas do método experimental são a observação, as hipóteses levantadas, a experimentação e, finalmente, a generalização, para a formulação de leis gerais sobre a natureza, pois os cientistas acreditam que o conhecimento dos fatos naturais pode ser organizado pelo princípio da regularidade. Opondo-se à ênfase dada ao papel da experiência sensível pelo método de Bacon, Descartes acentua o caráter absoluto e universal da razão, tornando dicotômicos mente e corpo, sendo o corpo sujeito a leis deterministas da natureza, e a mente sujeita a ordens e medidas, tais quais operações matemáticas que estabelecem cadeias de razões. O racionalismo cartesiano e o método baconiano, chamado de Empirismo, fundamentam a ciência vigente e condensam-se, mais tarde, no século XIX, no Positivismo. Então, a ciência vigente desenvolve-se no domínio das ciências naturais e funda as distinções dicotômicas natureza/cultura, natural/artificial, mente/matéria, vivo/inanimado, observador/observado, subjetivo/objetivo, coletivo/individual e, principalmente, animal/pessoa (Santos). Na acepção de Morin, essa ciência: Determina dupla visão do mundo – de fato, o desdobramento do mesmo mundo: de um lado, o mundo de objetos submetidos a observações, experimentações, manipulações; de outro lado, o mundo de sujeitos que se questionam sobre problemas de existência, de comunicação, de consciência, de destino (MORIN, 2002, p. 27). Destacamos que qualquer área de estudo voltada para o homem como direito, história, filologia, entre outras, não apresenta status de ciência para o modelo vigente, o que cria a dualidade entre ciência natural e estudos humanísticos. Essa situação muda somente no fim do século XIX, quando ocorre a transferência dos princípios da ciência natural para os estudos humanísticos, considerados, a partir de então, ciências sociais. Nas palavras de Hobsbawm (2003, p. 504), “nenhum período da história é mais penetrado pelas ciências naturais nem mais dependente delas do que o século XX, pois a ciência passa a ser um modelo global de racionalidade científica” (SANTOS, 2001, p. 48). A transferência dos princípios da ciência natural para a ciência humana se configura pelo Positivismo, que estabelece critérios rígidos para a ciência, exigindo que ela se funde na observação dos fatos. Segundo Comte (1978), o estado positivo se caracteriza pela subordinação da imaginação à observação, desconsiderando as causas dos fenômenos (procedimento teológico ou metafísico) e visando as suas leis imutáveis. Torna-se fundamental a análise exata das circunstâncias em que elesocorrem e do vínculo entre tais circunstâncias, mediante relações normais de sucessão e de similitude. De acordo com levantamento de Coseriu (1980), o Positivismo se caracteriza por quatro princípios: do indivíduo, da substância, do evolucionismo e do naturalismo. O princípio do indivíduo não parte de 121 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR uma generalização teórica aplicada a um fenômeno particular; são os casos particulares que constroem as generalizações. O princípio da substância releva os fatos estudados como substância material, sem consideração a sua função. O princípio do evolucionismo leva em conta o próprio fato estudado e sua evolução. Por fim, o princípio do naturalismo considera qualquer fato análogo à natureza, sujeito à lei da causalidade; desse modo, é necessário buscar leis que regulam os fatos, estabelecer-lhes normas gerais e prever o seu desenvolvimento. O pensamento positivista cria o mito do progresso como consequência do desenvolvimento (da sociedade, por exemplo); o mito da cientificidade, segundo o qual o único conhecimento perfeito é o científico, e o discurso do especialista, o único autorizado. Do mito do especialista decorre a fragmentação do conhecimento, pois a cada especialista cabe uma investigação rigorosa de uma parte do todo. Para Morin, a ciência vigente obedece ao princípio de redução, que limita o conhecimento do todo ao conhecimento de suas partes, como se a organização do todo não produzisse qualidades ou propriedades novas em relação às partes consideradas isoladas. O autor é contra a inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista, disjuntiva e reducionista, fruto dessa ciência, que rompe o complexo do mundo em fragmentos disjuntivos, fraciona os problemas, separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional. Mas a necessidade de reduzir, compartimentar e unidimensionar um fenômeno analisado reporta-nos ao objetivo primeiro da ciência. Conforme expõe Coracini (1991), a aparência caótica e desorganizada do universo não possibilita ao homem chegar ao conhecimento dos fenômenos; isso só parece ser possível mediante estudos sistematizados e minuciosos dos componentes físicos, do comportamento dos seres, das reações em cadeia, enfim, da apreensão da ordem e organização dos elementos, de modo a tornar os fatos familiares e manipuláveis. O estudo da ciência vigente, portanto, é causal formal ou mecanicista e estabelece a redução da complexidade da natureza e de qualquer fenômeno do universo, bem como a pressuposição da ordem e da estabilidade do mundo. De forma geral, é uma ciência que rompe com as ideias metafísicas, com a função contemplativa e com o conceito de valor e que se caracteriza pela observação sensível, pela técnica e pela quantificação como referente de generalizações. Em outras palavras, trata-se de uma abordagem científica que fragmenta o conhecimento em disciplinas, traz soluções unidimensionais por meio da generalização e da regularidade, e dissocia as realidades, não atendendo mais ao campo atual da compreensão do mundo e das pessoas. Vários fatores e criações levam a outros paradigmas científicos, formadores de uma ciência emergente. Os estudos, por exemplo, referentes à velocidade dos corpos e à observação de fenômenos no nível da partícula subatômica, em que a posição e a velocidade são incertas, são fundamentais na história da ciência, já que, por meio deles, dois princípios surgem: o da relatividade e o da incerteza. Esses dois princípios, acrescidos ao emprego da bomba atômica usada na Segunda Guerra Mundial, alteram a concepção de ciência e de Universo, pois, desde então, cientistas e humanidade, de maneira geral, passam a reconsiderar tanto a função da ciência quanto a do cientista para a condição humana e universal. 122 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 Observação A teoria da relatividade (1905) se deve a Einstein e o princípio da incerteza (1927), a Heisenberg. De acordo com Hobsbawm, a ciência, a partir da segunda metade do século XX, passa a ser considerada como catástrofe potencial devido à bomba nuclear. A crise se torna universal depois da década de 1970, quando não apenas os críticos à ciência, mas os próprios cientistas percebem que as pesquisas científicas, afinal, não são separadas das suas consequências, suscitando a questão imediata de que devem ser levadas em consideração as formas de vida humana e de outras vidas, bem como a responsabilidade de restrição das pesquisas. Quanto aos princípios da relatividade e da incerteza, os cientistas aprendem que a realidade não pode ser descrita por meio de um modelo único e que existem diferentes modos de perceber a mesma realidade. Eles não acreditam mais em um conhecimento que revela certeza nem buscam a uniformização generalizada: as contracorrentes do século XX lançam outros princípios. Um deles é o rompimento dos estudos científicos com as dicotomias. O conhecimento passa, assim, a ser construído pela interação animal/pessoa, natureza/cultura, matéria/mente, ciências naturais/ciências sociais, visando à totalidade. Nossa sociedade ainda é resultado da ciência vigente, que fragmentou o conhecimento em disciplinas. O novo paradigma científico, ao contrário, procura avançar em conhecimentos à medida que o seu objeto se amplia pela diferenciação, em busca de novas e variadas interfaces (Santos, 2001, p. 48). Por conseguinte, a fragmentação, nesse caso, não é em disciplinas, mas em temas que possibilitam a ampliação do conhecimento. Ressaltamos, entretanto, que para atingir o conhecimento amplo por meio da qualidade e da exemplaridade, e não mais pela quantidade e pela generalização, tal ciência precisa adotar uma pluralidade de método, uma vez que não é unidimensional e absoluta. Ao contrário, ela reage a essa condição, deixando de privilegiar o conhecimento rigoroso e adotando a possibilidade na constituição do resultado de uma pesquisa, bem como a imaginação e a interferência da experiência pessoal. O mito do progresso da ciência, da humanidade, da sociedade, entre outros, é derrubado, bem como a crença no futuro, seja ele partindo de uma noção de repetição ou de progresso. Em outros termos, o século XX revela a perda do futuro ou, como sintetiza Morin (2002, p. 81), o futuro se chama incerteza, já que se torna um tempo incerto, aberto e imprevisível. Enfim, ainda de acordo com o autor, a civilização adquire muitas certezas pela ciência, mas igualmente se depara com inúmeras zonas de incerteza, que precisam ser enfrentadas. Assim, o autor propõe o princípio de estratégias por intermédio das quais elaboramos as nossas ações para o enfrentamento das (in)certezas e (im)probabilidades. As estratégias se caracterizam pela sua flexibilidade e, por essa razão, as ações podem ser modificadas de acordo com o acaso, os contratempos ou as oportunidades, sendo singulares em função do contexto em que são usadas. 123 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR Ambos os modelos de ciência – o vigente e o emergente – são bases para os paradigmas da linguística: o estruturalismo e o gerativismo transformacional seguem os princípios da ciência vigente, e a linguística textual (e linhas posteriores como a Pragmática) adere aos princípios da ciência emergente. Consequentemente, o objeto e o método adotados por cada um deles diferem entre si, assim como seu posicionamento quanto ao usuário da língua. Observação O termo estruturalismo, precisamos observar, estende-se às correnteslinguísticas da primeira metade do século XX. Coseriu (1980) denomina o estruturalismo, propriamente dito, ao se referir ao início do estudo estruturalista, no caso, a Saussure (1916, e o estruturalismo europeu ao abranger os defensores saussurianos, como Trubetzkoy e Jakobson; os membros do Círculo de Praga; os colaboradores diretos de Saussure – Bally e Sechehaye – da escola de Genebra, e os membros da escola de Copenhague. O estruturalismo também se refere aos estudos americanos ou estadunidenses, assim chamados por Lepschy (1971), os quais têm como representantes Sapir e o Bloomfield. Este último, mesmo sendo seguidor das ideias de Saussure, criou metodologia e terminologia próprias. Observamos que a linguística, desde sua formação como ciência (em 1916) até a década de 1960, segue o princípio de racionalidade. No entanto, o estruturalismo ora se aproxima, ora se afasta dos princípios que regem a ciência vigente. Saussure (2006) e outros linguistas modernos, por exemplo, posicionam-se contra os estudos do século XIX, especificamente contra os neogramáticos, ideologicamente positivistas. Tal posição torna-os antipositivistas, conforme assevera Coseriu (1980). O quadro a seguir sintetiza os princípios defendidos pelos dois grupos de estudiosos: Quadro 4 Positivismo X Antipositivismo Indivíduo Universalidade Substância Função Evolução Estado O princípio do indivíduo se vale do método indutivo, partindo de características particulares para a construção de generalizações. Em contrapartida, o princípio da universalidade se baseia no fato de que o fenômeno não pode ser considerado pela generalização; há nele características inerentes e permanentes, ou seja, universais, que fazem dele o que é. As generalizações não atingem o âmago do ser, mas apenas a sua superficialidade. Além disso, o fenômeno não pode ser tratado de modo isolado, deve ser “inserido em uma estrutura mais ampla, num sistema de relações do qual faz parte” (COSERIU, 1980, p. 23). 124 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 Já o princípio da substância leva os linguistas do século XIX a estudarem a língua pela sua materialidade e a ele contrapõe-se o princípio da função, que se baseia no fato de que cada unidade da língua tem uma função, ou seja, um traço distintivo diferenciador no plano do conteúdo e da expressão. Saussure estabelece como primeira etapa dos estudos da língua o seu funcionamento e funcionalismo, gerando uma forma metodológica, cuja base é cartesiana. O autor subverte os estudos linguísticos e aplica o método cartesiano de conhecimento, que consiste na análise, ou melhor, na decomposição da língua em suas partes, considerando a relação que elas mantêm entre si. Para ele, “a língua é um sistema do qual todas as partes podem e devem ser consideradas” (Saussure, 2006, p. 102). O princípio da evolução, por sua vez, presume a modificação e o desenvolvimento do fato estudado. O princípio do estado, por outro lado, relaciona-se ao da universalidade e postula que as características essenciais do ser não mudam no decorrer do tempo e são encontradas em cada momento de seu desenvolvimento. Saussure diferencia, então, o eixo das simultaneidades e o eixo das sucessões, respectivamente, sincronia e diacronia, sendo a língua, no estruturalismo, vista pela perspectiva sincrônica e descrita estrutural e funcionalmente como um sistema unitário e homogêneo, isto é, em si mesma e imutável; ela é abstrata, separada da fala. Nesse ponto, temos outra dicotomia, além dos eixos acima, fruto também da ciência vigente: dualidade natureza/pessoa, língua/falante. Podemos dizer, em síntese, que o estruturalismo, na verdade, funda-se sob o princípio da dicotomia: langue e parole, sincronia e diacronia, sintagma e paradigma, significado e significante. Por fim, o princípio do naturalismo rege a hipótese de que todo e qualquer fato pesquisado é reduzido à classe dos fatos naturais e é sujeito às leis da natureza. A língua, dessa ótica, é vista como organismo, dotada de desenvolvimento. Esse é o princípio a que menos os linguistas modernos conseguem se opor, como esclarece Coseriu (1980), porque é forte a dicotomia ciência natural e ciência cultural e, além disso, a ideologia da ciência natural é corrente no estruturalismo. Em um estudo igualmente imanente e dicotômico, o gerativismo transformacional relaciona suas teorias com os elementos internos da língua, oferecendo uma visão ideal de usuário. Esse paradigma também chega às unidades mínimas da língua; porém, com base nos elementos constitutivos da oração (por exemplo, SN + SV), preocupa-se com a formalização e a aplicação das estruturas – superficial e profunda. Os gerativistas entendem que as regularidades da língua são observáveis na superfície sintagmática, mas consideram a necessidade de se aprofundarem além da aparência superficial para alcançarem as regularidades profundas e reconstruí-las. Na perspectiva de Chomsky (apud Parret, 1988), o estudo dessas regularidades acarreta dois mecanismos importantes: a abstração, que consiste no comprometimento do linguista com a idealização, sem ligação com a inferência direta aos dados do uso da língua, e a matematização, na qual as regularidades profundas têm o mesmo grau de realidade dos modelos matemáticos. Tais regularidades são consideradas leis interiorizadas como uma competência, o que implica sua interiorização e idealização psicologizantes. A interiorização não leva à dependência do contexto nem a juízos de aceitabilidade, mas a estados mentais. Nesse sentido, a competência se distingue da 125 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR performance, pois enquanto aquela consiste na interiorização das regularidades da língua, esta consiste no uso da língua e, por isso, é desconsiderada pelos gerativistas em seus estudos. O modelo adotado pela linguística pragmática, ao contrário dos paradigmas linguísticos mencionados, considera não só o usuário da língua, mas também o contexto em que está inserido. A pragmática, ao pressupor o sujeito: Reage contra a linguística estrutural, onde, a começar por Saussure, a subjetividade (o sujeito que fala) é expulsa da ‘língua’ para a ‘parole’, não passível de domínio teórico – e também contra a gramática gerativa chomskiana –, onde o ‘falante/ouvinte ideal’ não é sujeito que fala, mas uma ‘mente’ que se identifica com a estrutura neurofisiológica do cérebro (PARRET, 1988, p. 27). A noção de sistema linguístico se amplia, e surge, entre outras, a vertente da teoria da enunciação, que estuda o funcionamento individual da língua, levando em conta o próprio ato enunciativo, as situações na qual ele se realiza e seus instrumentos de realização. Os estudos da pragmática são, assim, os “enunciados e fatos linguísticos reais” (Varó, 1990, p. 117) e, dessa perspectiva, dois fatores se tornam básicos: o processo do uso da língua e o contexto em que ela é usada. As partes de uma oração ou a própria oração tornam-se, então, insuficientes para esse fim, e o discurso e o texto se tornam objeto de estudo na nova vertente. Nela, de acordo com Varó, o discurso é considerado como linguagem em ação e o texto é definido como matriz para a observação linguística. Portanto, o método adotado é a observação empírica, que visa a descobrir o processo e a dinâmica geral, no caso, as estratégias na situação de comunicação. A pragmática se serve de uma metodologia pluridisciplinar, pois, ao contrário dos paradigmas linguísticos anteriores, não tem tendência endogâmica, ou seja, não considera a “linguagem em si, por si e para si, com suas formas, níveise unidades” (Varó, 1990, p. 117). Estamos diante de uma ciência que se relaciona com outras ciências ou disciplinas que tratam da língua ou da linguagem de forma geral, sendo uma de suas características a interdisciplinaridade. Em síntese, a pragmática, desenvolvida a partir da década de 1960, está de acordo com a concepção da ciência emergente, desenvolvendo determinados princípios que se opõem aos até então seguidos pelos paradigmas anteriores. Assim, a pragmática surge não por causa de extrínsecos preconceitos filosóficos, mas devido às próprias necessidades que impõem os interesses pelo estudo da língua em seu uso real e do seu processo, implicando o sujeito/falante empírico. A linguística busca, então, o texto, tornando-os objetos de estudo (VARÓ). O objeto de estudo da linguística é deslocado. No estruturalismo, o objeto é a língua em suas partes mínimas: morfema e fonema. No gerativismo-transformacional, o objeto continua sendo a língua, mas suas partes mínimas estipuladas passam a ser SN e SV. A partir da linguística textual, incluindo 126 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 pragmática e estudos posteriores, o objeto é a língua, porém, delimitada agora ao texto. A tendência é considerar o texto o maior objeto de estudo sobre a língua. Nesse sentido, o texto é concebido como um signo linguístico completo, isto é, ele não é conjunto de orações nem unidade sintática superior (Halliday, apud Varó, 1990). No caso do texto literário, a linguística textual equivale a qualquer texto, como a uma conferência, a um sermão religioso e a outros. O interesse dos linguistas passa a ser, então, a dimensão sociocontextual do discurso literário e as ideias controversas geradas pelas necessidades sociais, e, dessa forma, o sentido do texto depende em grande parte do mundo do leitor, ou seja, do conhecimento, da expectativa e dos valores. A tradição positivista tem moldado, de maneira geral, a construção do conhecimento científico, porém, não atende mais aos anseios de compreensão de muitas questões surgidas na sociedade contemporânea. A necessidade de solucioná-las abrange tanto um aspecto global, que se refere à humanidade e sua relação com a ciência quanto um aspecto específico, que se refere, por exemplo, à reestruturação escolar, gerando os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN. Os PCNs surgem para melhorar o ensino unidimensional, herança da ciência vigente que provoca disjunção entre a humanidade e as ciências, bem como entre as ciências e as disciplinas, levando o século XX, segundo Morin, a progressos dispersos e desunidos. Os PCNs, diante desse ensino, propõem reformulação curricular, visando à superação do tratamento estanque e compartimentado que caracteriza o conhecimento escolar, assim também a análise segmentada, que desconsidera o desenvolvimento da compreensão dos múltiplos conhecimentos e a focalização meramente disciplinar. A interdisciplinaridade e a contextualização se tornam, então, eixos organizadores dos PCNs, cujas concepções, diferentemente daquelas que fundamentam o paradigma vigente científico, postulam que o conhecimento não é algo situado fora do indivíduo, a ser adquirido por meio da cópia real, tampouco algo que o indivíduo constrói independentemente da realidade exterior, dos demais indivíduos e de suas próprias capacidades pessoais. É, antes de mais nada, uma construção histórica e social, na qual interferem fatores de ordem antropológica, cultural e psicológica, entre outros (SILVA). Em outros termos, o conhecimento precisa resultar da integração de áreas afins. No entanto, esse processo não deve consistir apenas na justaposição de disciplinas, mas no envolvimento dos sujeitos que conhecem, ensinam, aprendem e percebem a univocidade da visão disciplinar no tratamento de temas complexos. Além da interdisciplinaridade e do contexto sócio-histórico, o conhecimento deve resultar da mobilização de teorias e métodos científicos. Assim, uma das finalidades do Ensino Médio é a compreensão dos fundamentos da ciência. O domínio dos princípios, do conteúdo e da metodologia deve ser estabelecido como uma das competências no processo de ensino-aprendizagem. No âmbito do objetivo mais amplo, esse ensino deve visar à superação da curiosidade ingênua – ou senso comum – e chegar à curiosidade crítica, isto é, buscar a rigorosidade metódica e teórica, evitando simplismos, facilidades e incoerências grosseiras. De acordo com os PCNs, o Ensino Médio precisa adotar “metodologias de ensino diversificadas, que estimulem a reconstrução do conhecimento e mobilizem o raciocínio, a experimentação, a solução de problemas e outras competências cognitivas superiores”, bem como estabelecer a prevalência dos aspectos qualitativos em detrimento dos quantitativos. 127 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR A exigência pela rigorosidade metódica se estende também ao ensino de leitura. Entretanto, na escola pública paulista, por exemplo, ainda vigoram o método e os princípios das teorias estruturalista e gerativista, que estudam não o texto mas a sequenciação de palavras e frases. No intuito de resolver esse problema, os PCNs priorizam o ensino de leitura de texto, descentralizando o ensino tradicional de gramática, que está afastado, muitas vezes, do uso social e do texto, e propõem também a integração da leitura literária. São deslocados, então, os conteúdos tradicionais da história da literatura para um segundo plano e adotados os conhecimentos linguísticos atuais inseridos na vertente sociointeracionista. Saiba mais Possenti é um dos estudiosos atuais que analisa o texto literário em uma abordagem linguística, considerando-a mais precisa, cuja hipótese pode ser provada. Análises biográficas, históricas, psicológicas, entre outras são convincentes e sofisticadas, mas não atendem à exigência de um estudo científico. POSSENTI, S. Discurso, estilo e subjetividade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. A adoção dessa vertente mostra que a reestruturação educacional assume o caráter sócio-histórico da leitura literária e abre-se para alternativas metodológicas que levam à construção de conhecimentos em um processo de interação. Dessa forma, a linguagem verbal se caracteriza como construção humana, carregada de uma história e de significados socioculturais. Em outras palavras, na gênese da linguagem verbal está presente o homem, seus sistemas simbólicos e comunicativos, em um mundo sociocultural (SEF, 1999, p. 139). O objetivo do ensino de leitura literária, na proposta dos PCNs, passa a ser, então, o de recuperar, pelo estudo do texto literário, as formas instituídas de construção do imaginário coletivo, o patrimônio representativo da cultura e as classificações preservadas e divulgadas, no eixo temporal e espacial (POSSENTI, 2001). Esse objetivo tem duas implicações: a ideia de imaginário como produto de uma coletividade e a concepção de texto como fruto da sociedade, indo ao encontro das atuais concepções de ciência, de homem, de conhecimento. No que se refere à primeira implicação, destacamos que a tradição ocidental tem um percurso histórico constituído por um recalque e por uma depreciação tão tenazes contra o imaginário que influenciam estudiosos contemporâneos como Jean-Paul Sartre (Durand, 2001, p. 15), para quem a imagem é quase observação, uma degradação do saber. Na concepção ocidental, o imaginário não segue a lógica clássica, aquela pautada no pressuposto da inalterabilidade do homem e da natureza, segundo a qual ambos são governados por leis permanentes (Lima, 1984), bem como no processo dedutivo, oriundo do socratismo e da lógica binária (essa assentada no raciocínioverdadeiro e falso). Consequentemente, o imaginário sempre é desvalorizado, conforme explica Durand. 128 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 Entendemos, então, que o imaginário é um sistema que implica: A ideia de uma abertura necessária e uma flexibilidade: trata-se de um conjunto relacional entre vários elementos que podem até ser contrários ou contraditórios. Por conseguinte, a origem da coerência dos plurais do imaginário se encontra na sua natureza sistêmica, e esta, por sua vez, funda- se no princípio do ‘terceiro dado’, na ruptura da lógica bivalente onde A exclui não-A (DURAND, 2001, p. 84). Em qualquer manifestação imaginária, seja ela o sonho, o mito ou a literatura, existe convivência dos contrários, no qual um elemento existe pelo outro. A partir dessa ruptura com a lógica clássica, o teórico identifica uma característica do imaginário, que é seu caráter não- lógico ou alógico. A segunda implicação contida no objetivo dos PCNs consiste na ideia de que o texto só existe na sociedade e é, portanto, produto da história sociocultural. Contudo, é necessário relacioná-la à função comunicativa da linguagem, pois é por meio dela que ocorre a interação entre texto e leitor, em que o leitor atualiza o texto, relacionando-o com o seu contexto sociocultural. Tal interação é, segundo os PCNs (SEF, 1999, p. 142), “um grande passo para a sistematização da identidade do aluno-leitor”, que, como representante de um grupo social, confronta seu espaço sociocultural com o texto literário. Esse, por sua vez, é um exemplo do simbólico verbalizado, ou seja, é uma representação de um espaço social e cultural diferenciado do espaço do aluno, que aprende a conviver com as diferenças e a compreendê-las. Essa dimensão social leva os professores, na atualização orientada pelos PCN, à busca da concepção bakhtiniana de gênero discursivo, apesar de não existir nos Parâmetros referência explícita à teoria de Bakhtin (SILVA, 2004). A adoção da noção de gênero pelos PCNs deve-se ao fato de o texto manifestar-se concretamente em gênero e caracterizar-se como uma manifestação situada no contexto social em que é produzido. O gênero é cada vez mais flexível no mundo moderno; como exemplo, citamos o romance, que se desdobra em inúmeras formas. Outra caracterização fundamental do texto e, portanto, do gênero, é a sua dimensão dialógica, marcada pelo diálogo entre os interlocutores e entre os próprios gêneros, devido ao hibridismo: um gênero pode ter forma ou função de outros gêneros. A esse respeito, destacamos que uma das considerações finais nos Parâmetros é a de que os seus autores não enxergam outra saída: Senão o diálogo, para que o aluno aprenda a confrontar, defender, explicar suas ideias de forma organizada, em diferentes esferas de prática da palavra pública, compreendendo e refletindo sobre as marcas de atualização da linguagem (a posição dos interlocutores, o contexto extraverbal [sociocultural], suas normas, de acordo com as expectativas em jogo, a escolha dos gêneros e recursos) (SEF, 1999, p. 143 – 144). 129 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR Os posicionamentos dos PCNs apontam para a mudança paradigmática em relação ao objeto e à abordagem do ensino da leitura literária. A essas mudanças, acrescente-se o alerta aos professores para uma atitude consciente e reflexiva quanto ao conteúdo e ao procedimento metodológico de ensino, utilizados em sala de aula. Em síntese, os PCNs estão organizados por práticas de uso da linguagem e práticas de reflexões. A reflexão sobre a língua e a linguagem implica conhecimento e compreensão mais acurados por parte dos professores e rediscussão do ensino, pois não são oferecidas receitas de como ensinar, mas, reflexões que possam orientar a ação do professor na criação de situações de aprendizagem. Exemplos de aplicação Questão 1: A influência no ensino da ciência moderna e do estruturalismo – paradigma da linguística – é vista em determinadas atividades didáticas em língua portuguesa. Vejamos os exemplos dados por Irandé Antunes (2007, p. 24 – 25): Exemplo A Leia: O patinho feio Era o mais feio de todos Só fazia trapalhadas Nem cantar ele sabia Nadava que nem louco Se brincava ninguém entendia. Tentou fazer amizades Tentou uma duas três vezes Tiraram sarro dele Diziam que era avesso. Um dia o patinho cansou Comprou um bilhete para a lua Já era tempo futuro Mudar de planeta foi como atravessar a rua. Indique os tempos verbais dos verbos destacados na segunda estrofe. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 130 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 Exemplo B Nas frases a seguir, circule os verbos que estão no futuro do presente e no futuro do pretérito e escreva-os abaixo: Será assim, amiga: um certo dia Estando nós a contemplar o poente Sentiremos no rosto, de repente, O beijo leve de uma aragem fria Futuro do presente: ________________________ Se eu fosse um padre eu citaria os poetas Rezaria seus versos, os mais belos, Desses que desde a infância me embalaram” Futuro do pretérito: ________________________ Exemplo C Leia o texto e faça o que se pede: Sou pretinho... Pretinho de uma perna só. Uso gorro vermelhinho E cachimbo de cipó. Faço cada traquinada! Eu sou esperto como eu só... (RANGEL, 2002) Retire do texto palavras com: a) Uma sílaba:______________________________________________ b) Duas sílabas:_____________________________________________ c) Três sílabas:______________________________________________ d) Mais de três sílabas:________________________________________ Exemplo D Comunhão Eu quero a paz, eu não quero guerra Quero fartura, eu não quero fome Quero justiça, eu não quero ódio 131 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR Quero a casa de um bom tijolo Quero a rua de gente boa Quero a chuva na minha roça Quero o sol na minha cabeça Quero a vida, não quero a morte não. (NASCIMENTO, 1982) Marque X na alternativa correta: A palavra roça é: ( ) substantivo comum; ( ) substantivo composto; ( ) substantivo primitivo; ( ) substantivo derivado; a) Que substantivo composto podemos formar com o substantivo chuva? b) Apresente um substantivo derivado para a palavra chuva. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Produza duas frases que contenham substantivos coletivos. Grife os coletivos utilizados. ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Com base nos exemplos de exercícios anteriores: a) Analise o que é destacado dos textos poéticos na proposta dos exercícios. b) Discuta: é assimque se aprende a compreender um texto? Comentário: Caro aluno, como futuro professor de língua (seja portuguesa, inglesa, espanhola), você se deparará com material didático com o tipo de atividade exemplificada anteriormente por Irandé Antunes. Na sua análise, você deve ter verificado que os exercícios partem de textos poéticos, que são complexos na sua temática, na formalização, no jogo linguístico. No entanto, em vez de atividades que dessem conta de uma leitura profunda e eficaz dos textos, os exercícios são sobre alguns aspectos gramaticais isolados, tais como identificação do tempo verbal e número de sílaba das palavras. 132 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 Será que o poema ficará mais claro para o aluno se ele identificar a palavra roça como substantivo concreto e comum? Que relação existe entre formar frases com substantivos coletivos com os sentimentos expressos no poema (exemplo D)? As atividades propostas podem ser feitas independentes de um texto, uma vez que já estão isoladas, fora do contexto, dos textos. Afinal não houve análise do texto. No caso do texto de Milton Nascimento, seria muito mais significativo se, por exemplo, houvesse exploração dos sentidos opostos na palavra de cada verso ou a função da repetição da palavra “quero” no início de cada um. Questão 2: Temos, a seguir, um exemplo de atividade centrada na análise interpretativa. Diferente das anteriores acima, essa atividade não se baseia em identificação de alguns elementos gramaticais. A atividade é uma questão discursiva constada em prova da VUNESP/SP, dada como exemplo por Antunes (2007): Epitáfio para um banqueiro n e g ó c i o e g o ó c i o O (PAES, 1967) Epitáfio para um banqueiro enfoca um tema literário bastante atual: o egoísmo, a solidão do indivíduo, a falta de comunicação que o leva a se fechar nos limites de sua própria existência e, consequentemente, a ver o mundo sempre deformado por uma visão individualista. Tomando por base essas observações: a) Faça uma descrição do plano semântico-visual do texto, de modo a revelar sua compreensão do poema como um “epitáfio”. b) Aponta a palavra que, numa das linhas do poema, demarca a característica do indivíduo como ser em si, exclusivista e isolado. Reflita: A construção de um texto e a expressão de suas intenções só são possíveis na mobilização, entre outros aspectos, do léxico e da gramática. Assim, como esses aspectos (léxico, gramática) colaboram na interpretação do texto? Afinal, por que Irandé Antunes destacou a atividade anteior como exemplo de trabalho efetivo de compreensão textual? 5.2 Fatores de textualidade Habituamo-nos a considerar o texto apenas como fonte de conhecimento, esquecendo-nos de que ele é também um objeto de estudo para o leitor. A sua produção e recepção são tratadas pelo paradigma vigente da linguística, que concebe, além da própria definição de texto, a noção de textualização e de textualidade. 133 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR A primeira grande noção desse paradigma é a superação de texto como conjunto de frases, cujo leitor é um decodificador de mensagens. O texto é uma ocorrência material da língua, com dimensões que não são apenas linguísticas, mas também sociocognitivas. Ele é marcado por um conjunto de fatores que fazem com o que o texto seja texto e não um amontoado de palavras ou frases. A textualidade é formada justamente por esses fatores e é subdividida em dois aspectos: fatores linguísticos, no caso, a coesão e a coerência, e fatores pragmáticos, que situam o produtor em seu meio e com o leitor, interagindo-os. A coesão, como fator linguístico de textualidade, é a responsável pelo aspecto formal do texto, marcando linguisticamente sua superfície por meio da gramática e do léxico. A coesão pode ser de três tipos: referencial, recorrencial e sequencial. A coesão referencial é o elemento linguístico que remete a um mesmo referente por: • Substituição: pode ser feita por meio da anáfora (quando o elemento é retomado) ou por meio da catáfora (quando o referente é precedido). • Reiteração: feita por sinônimo, hiperônimo, nomes genéricos, entre outros. A coesão recorrencial permite a progressão da informação por meio de: • Termo: cuja função é dar ênfase à informação. • Paralelismo: é a reutilização de estruturas com diferentes conteúdos. • Paráfrase: é a reformulação pela qual se restaura o conteúdo do texto . • Recursos fonológicos, segmentais e suprassegmentais: são o ritmo, a motivação sonora, aliteração etc. A coesão sequencial faz progredir o texto por sequenciação temporal e por conexão. A coesão temporal ordena linearmente os elementos, usa partículas temporais, correlaciona os tempos verbais e a coesão por conexão, usa operadores do tipo lógico como a disjunção, a condicionalidade, entre outros operadores e usa operadores do discurso como, por exemplo, a conjunção, a disjunção, pausas. Esses vários tipos de coesão, no entanto, não são suficientes para tornar o texto coerente, pois enquanto a coesão é explícita no texto, a coerência está subjacente a ele, dependendo dos elementos linguísticos, mas também dos pragmáticos, como o conhecimento do leitor. A coerência é responsável pelo sentido do texto, envolvendo aspectos lógicos, semânticos e cognitivos. Ela pode ser local, linear e global. A coerência global tem relação com a superestrutura do texto, ou seja, com a sua temática, e é ligada à função geral da própria coerência: dar sentido global ao texto quando este é extenso e há vários subtemas ou tópicos. 134 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 A coerência linear, por sua vez, está relacionada à macroestrutura textual, aos seus tópicos e comentários e às relações frásticas. A coerência local se refere às unidades linguísticas, que superficializam o texto, formando a microestrurutra: as frases, os organizadores sintáticos e os conectivos. O modelo de configuração dos níveis de coerência na construção textual, a seguir, é proposta de Arriaza (1994): Situação Marco textual ou frame Adequação Texto Superestrutura temática Organizadores textuais Coerência global Sequências Macroestrutura: tópico/comentário Correferências Coerência linear Frases Coerência local Conectivos Organizadores sintáticos Tratar da coerência, então, é relacioná-la com os dois níveis de conhecimento: o conhecimento declarativo é dado pelas sentenças textuais a respeito de situações, eventos e de fatos do mundo real; o conhecimento procedimental é dado pelos fatos ou convicções em um determinado formato, e é armazenado na memória e construído por meio da experiência. Esse conhecimento é trazido à memória ativa no momento da interação com o texto. De forma geral, se a coerência não é garantida pela superfície linguística do texto – a coesão –, ela também não é pela macroestrutura. A coerência é construída, na verdade, pelas pistas formais e subjacentes dadas pelo texto em interação com o leitor, que leva para o texto seus conhecimentos prévios. Quanto aos fatores pragmáticos, a intencionalidade e a aceitabilidade estão, respectivamente, relacionados ao produtor e ao leitor do texto. O produtor se preocupa em construir um texto coerente, 135 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINARcoeso e capaz de atender aos objetivos do leitor, que, durante a leitura, tenta recuperar a coerência textual, construindo-lhe sentido. Do produtor/texto/leitor esperamos sua adequação à situação sociocomunicativa, inteirados ao contexto, realizando o fator de situacionalidade. A informatividade diz respeito ao grau de informatividade do texto tanto no aspecto formal quanto no conceitual. O texto atende à expectativa do leitor ou rompe com ela ao oferecer informação nova, pois esta pode ou não ser facilmente recuperada em seu sentido. Quanto à intertextualidade, muitos textos estão relacionados a outros, adquirindo sentido apenas quando o leitor recupera essa relação. Esses fatores de textualidade na verdade são possibilidades. É a intertextualização, isto é, o processo de produção textual que os concretiza. A textualização tem parâmetros nos quais estão incluídos a motivação; aquele desejo ou necessidade que leva um individuo a produzir o texto, o objetivo do texto, a identidade do produtor e do leitor e as relações micro e macroestrutural. O produtor proficiente tem consciência – se não dos termos científicos criados pelos linguistas sobre texto – do dinamismo desse processo de produção e de sua oscilação. Ele também é consciente sobre o próprio ato de ler e de seu compromisso com o leitor. Este, por sua vez, prontifica-se a recuperar os fatores linguísticos e pragmáticos do texto lido, como, por exemplo, o sentido global e a intenção do autor. Assim, apesar da produção e da recepção não ocorrerem em momentos simultâneos, pois a leitura sempre é posterior à escrita, elas têm as mesmas preocupações relevantes quanto à competência comunicativa do texto e à interação autor, texto e leitor. Seguindo essa linha da linguística, faremos uma leitura do poema Texto de consulta, do poeta brasileiro Murilo Mendes, baseada no paradigma que trata do texto e dos fatores de textualidade. Verificaremos como esses fatores são atualizados ao poema para formalizar o posicionamento do enunciador poético sobre a palavra e o próprio poema: Texto de consulta 1 A página branca indicará o discurso Ou a supressão o discurso? A página branca aumenta a coisa Ou ainda diminui o mínimo? O poema é o texto? O poeta? O poema é o texto + o poeta? O poema é o poeta - o texto? O texto é o contexto do poeta Ou o poeta o contexto do texto? 136 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 O texto visível é o texto total O antetexto o antitexto Ou as ruínas do texto? O texto abole Cria Ou restaura? 2 O texto deriva do operador do texto Ou da coletividade — texto? O texto é manipulado Pelo operador (ótico) Pelo operador (cirurgião) Ou pelo ótico-cirurgião? O texto é dado Ou dador? O texto é objeto concreto Abstrato Ou concretoabstrato? O texto quando escreve Escreve Ou foi escrito Reescrito? O texto será reescrito Pelo tipógrafo / o leitor / o crítico; Pela roda do tempo? Sofre o operador: O tipógrafo trunca o texto. Melhor mandar à oficina O texto já truncado. 3 O texto é o micromenabó do poeta Ou o poeta o macromenabó do texto? 4 A palavra nasce-me fere-me 137 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR mata-me coisa-me ressuscita-me 5 Serviremos a metáfora? Arquivaremos a? Metáfora: instrumento máximo; CASSIRER. A própria linguagem do homem. ORTEGA Y GASSET Invenção / translação. 6 A palavra cria o real? Juízo final do texto: O real cria a palavra? Mais difícil de aferrar: Realidade ou alucinação? Ou será a realidade Um conjunto de alucinações? 7 Existe um texto regional / nacional Ou todo texto é universal? Que relação do texto Com os dedos? Com os textos alheios? Giro NÉ POUR D’ÉTERNELS Com o texto a tiracol PARCHEMINS Sem o texto (MALLARMÉ) Não decifro o itinerário. Toda palavra é adâmica: Nomeia o homem Que nomeia a palavra. Querendo situar objetos Construímos um elenco vertical. Enumeração caótica? Antes definição. Catalogar, próprio do homem. 138 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 8 Morrer: perder o texto Perder a palavra / o discurso Morrer: perder o texto Ser metido numa caixa Com testo Sem texto. 9 Juízo final do texto: Serei julgado pela palavra Do dador da palavra / do sopro / da chama. O texto-coisa me espia Com o olho de outrem. Talvez me condene ao ergástulo. O juízo final Começa em mim Nos lindes da Minha palavra. (MENDES, 1994, p. 112 – 114) Texto de consulta tem nove divisões enumeradas em uma versão nova de um recurso já utilizado na literatura e é, como diz o título, uma fonte de consulta dos críticos literários. Esse texto tem estruturas sintático-semântica e pragmática, dotado de uma superestrutura temática, que constrói a coerência global, de acordo com o modelo de configuração de construção textual de Arriaza (1994). No caso do poema de Murilo Mendes, a superestrutura temática é a metalinguagem. Essa coerência global se dá pela manutenção da coerência linear ou pela macroestrutura, que é a representação de um tópico. Por ser um texto extenso, o poema Texto de consulta tem vários tópicos ou subtemas, apresentados a seguir: T1 – A página branca indicará o discurso. T2 – O poema é o texto? O poeta? T3 – O texto é o contexto do poeta. T4 – O texto visível é o texto total. T5 – O texto é objeto concreto / abstrato. T6 – Existe um texto regional / nacional. 139 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR T7 – O texto derivado do operador do texto / Ou da coletividade. T8 – O texto é manipulado / pelo operador (ótico) / pelo operador (cirurgião). T9 – O texto será reescrito. T10 – O texto é o micromenabó do poeta. T11 – A palavra cria o real? T12 – Palavra nasce-me / fere-me. T13 – Metáfora: instrumento máximo. T14 – Toda palavra é adâmica. T15 – Morrer: perder o texto / Perder a palavra / o discurso. T16 – Serei julgado pela palavra. Os tópicos acima podem ser enxutos assim: a) Definição de poema: T1 ao T6. b) Relação do poema com recebedores (leitores, editor etc.): T7 ao T10. c) Função da literatura: T11. d) Personificação da palavra: T12. e) Importância da palavra: T13, T15, T16. f) Definição de palavra: T14. O modo como o enunciador constrói esses tópicos, em concordância com o seu posicionamento sobre eles, leva-nos a perceber que, na verdade, há dois grandes tópicos no poema: a concepção de poema por parte da crítica literária e a importância da palavra. Em relação à concepção de poema por parte da crítica literária, a figura de pensamento – interrogação (pergunta estilística) – e a coesão se tornam recursos diretivos fundamentais tanto para a construção dos tópicos e do ponto de vista do enunciador quanto para o leitor reconstruir-lhes o sentido. A coesão sequencial por conexão do tipo lógico pode estabelecer relação de condicionalidade, causalidade, entre outras, e também de disjunção. O conector disjuntivo ou é usado em todas as indagações do enunciador: • O texto é o micromenabó do poeta. Ou o poeta o macromenabó do texto? • Existe um texto regional / nacional. Ou todo texto é universal? Figura e conectivo, ou mostra-nos que, para o enunciador, nenhuma dessas críticas são importantes, porque a função da figura é ser usada para demonstrar que o enunciador não tem intenção de resposta e a coesão passa a impressão de sentimento de desorientação, talvez de inutilidade, frente a tantos conceitos sobre o texto literário. 140 Unidade II Re vi sã o: Ana L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 Genericamente, quando o enunciador trata desse subtema, ele usa o elemento coesivo ou, de forma a não incluir nem excluir uma teoria literária, e usa a interrogação, deixando o leitor desorientado com indagações, às vezes paradoxais, que nem dele são, mas dos críticos. Porém, a formalização em Texto de consulta é mudada quando passa ao segundo grande subtema: a palavra, que, para o enunciador, é a ferramenta de trabalho e a verdadeira julgadora de seu trabalho. A partir disso, temos unicamente declarações afirmativas. As afirmações sobre a palavra são: 1. “A palavra nasce-me / fere-me / mata-me / coisa-me / ressuscita-me”. Essas afirmações, superficializadas pela coesão sequencial temporal, obtida pela ordenação linear dos elementos verbais, personificam a palavra e, ao mesmo tempo, tornam o enunciador objeto delas. 2. “Toda palavra é adâmica”, isto é, está relacionada ao primeiro homem, Adão, e tem, assim, uma origem primitiva e mítica. 3. “Juízo final / começa em mim / nas lindes da / minha palavra”: isso significa que a palavra julgará o poeta. A palavra é o material de trabalho do poeta e é relacionada com o início do mundo e da humanidade, imprimindo ao enunciador os ritmos da vida e da morte (usando a expressão de Hill, In: Samuel, 1985, p. 27). O enunciador poético usa os termos adâmica e juízo final, fechando o círculo mítico formado pela origem (do mundo e do homem) e pelo fim (do homem, que passará pelo “juízo final”, quando será julgado). Texto de consulta tem conteúdo e forma que tornam o texto indivisível. Portanto, continuaremos a enfocar esse subtema juntamente com a sua configuração dada pelo enunciador no decorrer de suas declarações afirmativas. Essa configuração se junta à posição do enunciador, que usa o fator de textualidade, a intertextualidade, para firmar sua posição. No poema, existem três referências explícitas de intertextualidade: Cassirer, Ortega y Gasset e Mallarmé. Os dois primeiros estão, em um esquema suprassegmental, na divisão 5 do poema, em que a metáfora é o tópico. Podemos deduzir que as afirmações sobre a metáfora estão em concordância com os pensamentos desses autores. Quanto ao Mallarmé, um trecho seu reescrito e traduzido significa “os pergaminhos são eternos”. Essa expressão é relacionada, no poema, com a afirmação do enunciador sobre o poeta seguir sua vida ou sua produção poética apoiado pela própria produção. Tanto as referências intertextuais quanto os próprios tópicos podem causar muitas dúvidas no leitor. Por isso, a informatividade é um dos fatores pragmáticos de textualidade mais relevantes no poema Texto de consulta. A linguagem poética é por natureza carregada de polissemia e seu grau de informatividade é mais imprevisível e, logo, é muito mais informativo. No caso desse poema, em especial, cada verso exige do leitor um conhecimento profundo sobre o tópico desenvolvido. 141 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR Texto de consulta é metalinguístico. É um poema que trata do próprio poema: sua conceituação, sua origem, seu instrumento de trabalho, sua recepção pelas críticas literárias, além de referências diretas a ideias de outros autores, Mallarmé, Cassirer, Ortega y Gasset. Na divisão 1 do texto, por exemplo, em que o enunciador poético está consciente das várias formas de encarar um texto literário pelos críticos e de suas teorias, são formuladas inúmeras perguntas que nos remetem ao esforço de identificar sobre a qual crítica literária ele está se dirigindo. Os primeiros versos são os seguintes: A página branca indicará o discurso Ou a supressão o discurso? A página branca aumenta a coisa Ou ainda diminui o mínimo? E os últimos, dessa divisão 1, são: O texto visível é o texto total O antetexto o antitexto Ou as ruínas do texto? Afinal, qual é a pergunta feita pelo enunciador poético (ou pela crítica) e qual é a crítica literária a que ele se refere? A pergunta é: o que é o poema? a) O texto visível? b) O espaço em branco na folha? c) A supressão? d) O texto total? Podemos interpretar a “página branca” como a disposição gráfica do poema na folha. A partir do século XX, fundamentalmente, houve uma mudança no que se referia à produção poética, que poderia sair da distribuição gráfica tradicional, formada por versos e estrofes, e encarar o espaço da folha como parte integrante do poema. Em consequência, como as críticas literárias vigentes até então não davam conta dessa criação artística, surgiu a crítica semiótica. O texto poético, para o semiotista Yuri Lotman, é um sistema de sistema. Ele é feito de um número de sistema, seja léxico, gráfico, métrico, fonológico etc., e obtém seus efeitos por meio dos choques e tensões constantes entre esses sistemas (EAGLETON, 1983, p. 108). Por outro lado, podemos entender a página branca, a supressão e o texto visível com base no ponto de vista da crítica Estética da recepção. O papel do leitor, para essa crítica, é conseguir preencher 142 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 o que o texto literário não diz. Wolfgang Iser afirma que “o leitor diante dos ‘vazios’ do texto, isto é, espaços abertos para a plurissignificação [...], deve encontrar ‘pontos de indeterminação’ que preencherá de acordo com seu próprio imaginário” (apud SAMUEL, 1985, p. 115). Dentro dessa mesma divisão 1, há referências sobre mais duas críticas: a biográfica e a sociológica, que dão preferência não à poesia, mas ao poeta: O poema é o texto + o poeta? O poema é o poeta – o texto? A crítica biográfica procura na vida pessoal, cultural etc. do autor circunstâncias que poderiam proporcionar a este a criação do texto literário. O texto é o contexto do poeta Ou o poeta o contexto do texto? Existem alguns tipos de críticas literárias. As críticas biográfica, sociológica, psicológica, contrárias de outras mais atuais (como semiótica, estética da recepção, hermenêutica etc.) que usam o texto literário como pretexto para averiguar temas fora da literatura. Assim, prossegue o enunciador nas divisões 2, 3, 6 e no início da 7 do poema, referindo às indagações das críticas literárias que estudam, além da relação poema e poeta, a relação poema e sociedade (divisões 2 e 7), a descendência da literatura (divisão 3) e a relação entre literatura e realidade (divisão 6). Nada deixa mais claro sobre a posição desfavorável às críticas, quando o enunciador encerra esse subtema com referência a Mallarmé. O trecho desse poeta reescrito em Texto de consulta, né pour d’éternels parchemins, faz parte do poema Prose (Mallarmé) e está contextualizado na seguinte estrofe: L’enfant abdique son êxtase Et docte déjà par chemins Elle dit le mot: Anastase! Né pour d’éternels parchemins. (MALLARMÉ, 1945, p. 45) Esse poema de Mallarmé pode ser considerado também metalinguístico, pois se trata da renovação, da transformação artística. A estrofe anterior, da qual o trecho usado por Murilo Mendes faz parte, significa mais ou menos isso: um grito para o mundo de uma criança, simbolizando, talvez, a criança (o novo) nascida para percorrer caminhos, eternizando-se, quem sabe, antes que o mundo critique esse grito. No poema, o mundo é representado pela palavra sepulcro: Avant qu’um sépulcre ne rie. Essa busca pelo texto original de Mallarmé e a interpretação, contudo, não são suficientes para nós, leitores, relacionarmos com o poema de Murilo Mendes, especificamente, com a opinião desfavorável deste. Precisamos, então, levar em conta que depois de Mallarmé, a crítica literáriaprecisou mudar seu método e objeto de estudo. Como esclarece Barthes: 143 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR Ora, há mais ou menos cem anos, desde Mallarmé, sem dúvida, um remanejamento importante dos lugares de nossa literatura está em curso: o que se troca, penetra-se e se unifica é a dupla função, poética e crítica, da escritura [...] o escritor e o crítico se reúnem na mesma condição difícil, em face do mesmo objeto: a linguagem (BARTHES 1970, p. 209 – 210). O crítico precisa ter um texto à altura do literário, ou seja, criar a escritura. Essa mudança se deve ao fato de Mallarmé ter produzido uma obra tão elaborada, tão fechada em si mesma, tão intransitiva [...], orientada para essa linguagem impessoal e autônoma (Genette, 1972, p. 94), que não foi possível ao crítico relacioná-la (transitar) com a vida do autor. Assim, resultou um questionamento sobre a função da crítica e a necessidade de escrever no mesmo nível linguístico da obra literária. Recontextualizando o trecho do poema de Mallarmé no texto de Murilo Mendes com base nessas informações, podemos entender a importância dada pelo enunciador de Texto de consulta a Mallarmé. O enunciador diz “Giro/ Com o texto a tiracolo”, que pode ser interpretado como a obra renovadora de Mallarmé, e os versos “Sem o texto/ Não decifro o itinerário” lança várias possibilidades de sentido e uma delas pode ser que o enunciador siga os passos de Mallarmé e de seus precedentes, que romperam com a configuração de produção textual do passado e a linguagem não é mais instrumento de representação. Continuando nesse tópico, a palavra, as referências explícitas intertextuais a Cassirer e Ortega y Gasset também são melhores explicadas por meio desse fator de textualidade – a informatividade – que nos leva a uma pesquisa sobre esses autores. O enunciador afirma que a metáfora é “instrumento máximo e a própria linguagem do homem” e relaciona-a com esses autores. Cassirer e Ortega y Gasset são filósofos, representantes do movimento neokantismo, que se opõe à filosofia romântica e ao sistema metafísico. Também caracterizado como filosofia transcendental, considera todo conhecimento, que se ocupa menos dos objetos do que de nossos conceitos a priori dos objetos. Ernst Cassirer (1874 – 1945), filósofo alemão, concebeu a filosofia como teoria do conhecimento, ou melhor, como uma análise das condições de possibilidade da verdade. José Ortega y Gasset (1883 – 1955), espanhol, destacou-se não só como filósofo, mas como jornalista, ensaísta e crítico literário. Sua doutrina mais conhecida é o perspectivismo, que sustenta, em teoria do conhecimento, que o mundo pode ser interpretado de diferentes maneiras por esquemas conceituais alternativos que podem se todos verdadeiros. Cassirer questiona os domínios da religião, dos símbolos, da cultura popular, dos mitos, da poesia etc., e Ortega y Gasset questiona e analisa a cultura espanhola de sua época e acredita que a vida se apoia nas crenças e, por isso, viver na crença constitui o mais fundamental segmento de nossa existência. Tanto um quanto outro escreveram sobre a metáfora, seguindo a concepção filosófica idealista e não realista. Para Ortega y Gasset, a metáfora sempre foi uma de suas preocupações. Ele entendia a metáfora não só em sentido literário mas como formação do próprio homem. A origem dela está relacionada ao tabu, porque houve época em que o homem era dominado pelo terror cósmico, que o levava a preservar 144 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 uma realidade ou evitá-la, não se referindo a ela diretamente. Para o homem primitivo, a palavra é a própria coisa nomeada e surgindo, então, a necessidade de nomear, criou a metáfora. No caso da poesia, a metáfora, para esse filósofo, já serviu para enobrecer o objeto real, decorando-o, e na arte moderna se torna o objeto da poesia. De acordo com Cassirer, a metáfora tem origem no mito e na linguagem. Para o autor: É a palavra que, por seu caráter originariamente metafórico, deve gerar a metáfora mítica e prover-lhe constantemente novos alimentos, ora, ao contrário, considera-se o caráter metafórico das palavras tão somente um produto indireto, um patrimônio que a linguagem recebeu do mito e que ela tem como um feudo dele (CASSIRER, 1924, p. 102). A linguagem e o mito são originariamente associados, pois ambos têm os mesmos impulsos de informação simbólica e só aos poucos se tornam independentes um do outro. Essas discussões sobre metáfora explicam melhor a importância da palavra dada pelo enunciador no poema de Murilo Mendes e o círculo mítico formado pela “origem” e pelo “fim”. A palavra começa e termina o poema, não havendo dissociação entre metáfora, linguagem e mito. Ela fere e mata, porém ressuscita o poeta. Para concluir esse tópico, referimo-nos ao poeta Baudelaire, que utilizou a metáfora até a sua saturação, quando retomou a imagem do cisne como mediadora entre a poesia e a existência do poeta preso das contingencias, isto é, o artista preso e incapaz de voar. Ao saturar uma metáfora, ela perdeu seu valor original de mediação entre as realidades. Esse poeta se torna a primeira manifestação moderna de saturação metafórica e a inadequação entre linguagem e mundo pode ser resolvida em termos de spleen, de viagem, de morte, porque na partilha existencial é o mundo que é vergastado (BARBOSA. 1974, p. 23). O enunciador de Texto de consulta, após falar sobre metáfora (divisão 5), lança a pergunta: A palavra cria o real? O real cria a palavra? Mais difícil de aferrar: Realidade ou alucinação? Em discussões sobre a função da literatura, algumas conclusões são feitas, como ela cria o real, ou representa esse real, ou mesmo “desrealiza” esse real, desmitificando-o. Mas não é usual o termo alucinação, que só é entendido agora, ao ser relacionado com Baudelaire, que simboliza o auge da metáfora. Esse posicionamento do enunciador contra as críticas literárias e a favor da palavra está de acordo com a instância enunciativa do texto e pode ser explicitado pela situacionalidade, outro fator pragmático de textualidade. 145 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR Texto de consulta faz parte da coletânea de poemas escritos entre 1963 e 1966, publicada em 1970 como Convergência. Essa obra tem duas partes, Convergência e Sintaxe, em um total de 145 textos poéticos, sendo o último Texto de consulta. Esse livro já foi motivo de várias análises sobre ele, pois é o resultado de um período no qual os interesses do poeta se voltam à própria forma poética, tendo João Cabral de Melo Neto como ponto de referência, e ao movimento concretista – em especial a poesia experimental de Haroldo de Campos – tornando suas poesias mais abstratas, secas e intelectualizadas. Considerado pelos críticos e leitores como resultado de um projeto poético, Convergência é uma leitura dessacralizadora do poeta, cuja sensibilidade está voltada para a captação da multiplicidade do real. Sabemos que é por meio dos dados linguísticos do texto que podemos chegar a qualquer ideia conclusiva. Assim, a situacionalidade do Texto de consulta pode ser caracterizada como pertencente ao movimento literário do Modernismo (ou Pós) e à concepção de que “a poesia moderna é inseparável da crítica da linguagem que, por sua vez, é a forma mais radical e virulenta da crítica da realidade” (PAZ, apud BARBOSA, 1974, p. 53). Primeiro, sua temática geral, poema/poeta/palavra/leitor, é típico do Modernismo e Pós- Modernismo. Segundo, háreferência ao poeta Mallarmé, que rompeu com o modo de escrever de outros poetas e abriu um esquema de criação para o advento do século XX. Terceiro, as perguntas lançadas no poema podem ser aludidas às várias tendências de críticas literárias surgidas no século passado. Esses três aspectos comprovam que o enunciador constrói o texto, sob o qual subjaz a interdiscursividade, isto é, seu discurso segue uma ideologia (ou pensamento vigente). No caso, é considerar a palavra (a linguagem) objeto do texto poético, seu processo de invenção e de translação, e o modo como esse texto é formalizado serve para atender à intenção do enunciador em se posicionar e argumentar sobre esse objeto. O nosso papel de leitores é construir um sentido ao texto lido, percorrendo os fatores de textualidade coerência, coesão e intertextualidade. O grau de informatividade é determinado por nós, que tivemos de recorrer à pesquisa sobre crítica literária e aos autores apontados no poema. Apenas com base nas investigações, conseguimos relacionar as informações obtidas com a intencionalidade (posicionamento do enunciador) e cooperar na construção de sentido, concretizando o fator de aceitabilidade. Exemplos de aplicação Questão 1: Em edição especial, a revista Nova Escola a n. 15, ofereceu aos leitores o CD Gabriel o Pensador para crianças, em que há, entre outras, a letra de música Gualín. Relacione essa letra de música com Chapeuzinho amarelo (1979), de Chico Buarque: 146 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 Gualín Oi, tudo legal? Oi, dotú gal-lê? Meu nome é Gabriel, meu menô é Elbrigá Meu filho é Davi, meu lhofí é Vidá Os nomes nessa língua, os mesnô sané gualín são assim, são sim-a Se cevô besá larfá sané gualín, lafá bemtâm É de trás pra tefrén, se quiser falar também Se você sabe falar nessa língua, fala também è de tr´s pra frente, se serquí larfá bemtâm Oi tudo legal? Oi, dotú gal-lê? tá tudo tranquilão, tá dotú lãoquitrân tá tudo tranquilão, tá dotú lãoquitrân Oi, tudo legal? Oi, dotú gal-lê? Meu nome é Gabriel, meu menô é Elbrigá Meu nome é Gabriel, meu menô é Elbrigá Quero chocolate, roqué telacochô Quero chocolate, roqué telacochô Macaco quer banana, cocamá quer nanabá Macaco quer banana, cocamá quer nanabá O macaco quer banana, mas não sabe descacar! Vou falar um palavrão, vou larfá vrãolaprá Vou falar um palavrão, vou larfá vrãolaprá Paralelepípedo, dopepilelerapá Paralelepípedo, dopepilelerapá. (O PENSADOR, 2007) Destaquei trechos da obra de Buarque, mas indico a obra na íntegra, que é rica na relação língua/imagem: Chapeuzinho amarelo Era a Chapeuzinho amarelo. Amarelada de medo. Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho. Já não ria. Em festa, não aparecia. Não subia escada nem descia. Não estava resfriada, mas tossia. Ouvia conto de fada e estremecia. Não brincava mais de nada, nem de amarelinha. 147 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR Tinha medo de trovão. Minhoca, pra ela, era cobra. E nunca apanhava sol porque tinha medo da sombra. Não ia pra fora pra não se sujar. Não tomava sopa pra não ensopar. Não tomava banho pra não descolar. Não falava nada pra não engasgar. Não ficava em pé com medo de cair. Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo. Era a Chapeuzinho Amarelo. E de todos os medos que tinha o medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO. Um LOBO que nunca se via, que morava lá pra longe, do outro lado da montanha, num buraco da Alemanha, cheio de teia de aranha, numa terra tão estranha, que vai ver que o tal do LOBO nem existia. Mesmo assim a Chapeuzinho tinha cada vez mais medo do medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO. Um LOBO que não existia. E Chapeuzinho Amarelo, de tanto pensar no LOBO, de tanto sonhar com o LOBO, de tanto esperar o LOBO, um dia topou com ele que era assim: carão de LOBO, olhão de LOBO, jeitão de LOBO e principalmente um bocão tão grande que era capaz de comer duas avós, um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz e um chapéu de sobremesa. Mas o engraçado é que, assim que encontrou o LOBO, a Chapeuzinho Amarelo foi perdendo aquele medo, o medo do medo do medo de um dia encontrar um LOBO. Foi passando aquele medo do medo que tinha do LOBO. Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo. Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo. [...] O lobo ficou chateado. [...] LO B0 LO B0 LO B0 LO B0 LO B0 LO B0 LO B0 LO B0 LO BO BO [...] (BUARQUE, 1997) Comentário: Na obra Chapeuzinho amarelo, o medo da Chapeuzinho é combatido por meio do jogo linguístico: a repetição da palavra lobo se torna segmental, formando nova palavra: bolo, que não passa, na verdade, de uma inversão silábica de lobo. O jogo de inverter sílabas também foi usado na letra de música Gualín, ou em termos invertidos: língua. A língua não é apenas a matéria-prima dos escritores, mas principalmente motivo temático, bem como recurso estético nas obras. 148 Unidade II Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 Questão 2: Dado o poema abaixo, analise-o, destacando os fatores de textualidade: Mar português Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. (PESSOA, 1998, p. 48) a) Coerência: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ b) Coesão: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ c) Informatividade: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ d) Intertextualidade: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ e) Situacionalidade: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ 149 Re vi sã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : F ab io - 3 1/ 08 /1 1 2ª R ev isã o: A na L ui za - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 2/ 09 /1 1 LETRAS INTERDISCIPLINAR f) Intencionalidade: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ g) Aceitabilidade: ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ Comentário: A ordem apresentada
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