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Introdução Conceito de direito processual penal: Com a infração, nasce para o Estado o poder-dever de punir (pretensão punitiva), consubstanciado na legislação material, com alicerce no princípio da legalidade; Não há crime sem lei prévia, nem pena prévia sem lei que a comine; O direito penal apresenta instrumentos jurídicos com o objetivo de resguardar o EDD e punir com equilíbrio, visando o bem-estar da sociedade e daquele que sofreu a sanção; Conceito: O direito processual penal é o corpo de normas jurídicas com a finalidade de regular o modo, os meios e os órgãos encarregados de punir do Estado, realizando-se por intermédio do Poder Judiciário, constitucionalmente incumbido de aplicar a lei ao caso concreto. É o ramo das ciências criminais cuja meta é permitir a aplicação de vários dos princípios constitucionais, consagradores de garantias humanas fundamentais, servindo de anteparo entre a pretensão punitiva estatal, advinda do direito penal, e a liberdade do acusado, direito individual. Nucci entende que o DPP tem autonomia científica e é filiada ao direito público; Princípios do processo penal Princípio da dignidade da pessoa humana: Art. 1º, III, da CF; Princípio regente – princípio de hierarquia supraconstitucional; Preservação integral do ser humano; Garantia de um mínimo existencial – condições básicas de vivência; Respeito aos direitos e garantias fundamentais – base do EDD; O processo penal é constituído para servir de base ao justo procedimento de apuração da existência da infração penal e de quem seja seu autor, legitimando, ao final, garantida a ampla defesa, o contraditório e outros relevantes princípios, a devida punição. Porém, alguns aspectos sobressaem, no cenário processual penal, de modo a dar relevo especial à dignidade da pessoa humana, durante o desenvolvimento do devido processo legal. A sociedade não pode insultar seus próprios membros, autores de erros inequívocos, mas que merecem castigo adequado e proporcional aplicado em relação à infração penal cometida; Prazer vingativo – não deve ser o objetivo do Estado; Deve buscar cultuar e aplicar o Direito e a Justiça; CF proíbe penas cruéis; Princípio da presunção de inocência – desdobramento lógico da dignidade da pessoa humana; Segurança pública – punição na exata proporção da necessidade; Ex: prisão cautelar para preservação da instrução criminal idônea; Respeito aos direitos de defesa; Estado-juiz imparcial; MP como acusador – apresenta denúncia; Indiciado/réu – apresenta advogado com prerrogativas profissionais; Devido processo legal: Espectro de garantias fundamentais para que o Estado apure e constate a culpa de alguém, em relação à prática de crime, passível de aplicação de sanção; Coroa os demais princípios: Ampla defesa; Contraditório; Juiz natural; Imparcialidade; Publicidade; A ação e o processo penal somente respeitam o devido processo legal, caso todos os princípios norteadores do direito penal e do processo penal sejam, fielmente, respeitados durante a persecução penal, garantidos e afirmados os direitos do acusado para produzir sua defesa, bem como fazendo atuar um Judiciário imparcial e independente. A comunhão entre os princípios penais (legalidade, anterioridade, retroatividade benéfica, proporcionalidade etc.) e os processuais penais (contraditório, ampla defesa, juiz natural e imparcial, publicidade etc.) torna efetivo e concreto o devido processo legal. Legalidade – anterioridade e taxatividade; Penas devem ser proporcionais – do contrário ferem a igualdade/proporcionalidade e tiram a efetividade do devido processo legal; Celeridade processual – deve-se ter cautela, já que o processo não pode atropelar as garantias essenciais; · Processo penal é formal, no entanto, as nulidades são utilitaristas e não meramente formalistas, em alguns casos; Devida investigação penal: Investigar um crime é dever do Estado; · Delegado – instaura o inquérito policial e providenciar a apuração do fato, até encontrar elementos suficientes, que apontem à tipicidade e, na sequência, ao seu autor; Baseado nos princípios da: · Legalidade – absoluto (tipicidade, taxatividade – detalhada definição do tipo penal –, anterioridade); · Retroatividade benéfica; · Culpabilidade – observado pelo policial se o agente atuou com dolo ou culpa; · Imunidade à autoacusação; · Vedação de provas ilícitas; · Humanidade – vedação à penas cruéis; · Intranscedencia – DP e DPP atua apenas contra o autor do crime; · Proporcionalidade – tipos penais devem ser adequados aos fatos criminosos a punir; · Presunção de inocência – caso de dúvida, será julgado em face do réu (ônus da prova é da acusação); · Contraditório - mitigado na fase investigatória – possibilidade do advogado acompanhar, mas não intervir, exceto em caso de abuso – interpõe MS ou HC; · Juiz natural e imparcial; · Vedação à produção de provas ilícitas; · Duplo grau de jurisdição; · Promotor natural e imparcial; · Vedação ao duplo processo; Princípio da ampla defesa: Art. 5º, LV - LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Contraditório e ampla defesa são institutos correlatos, mas distintos, autônomos e complementares; Defesa garante o contraditório e por ela se manifesta; Se houver, durante o curso do processo criminal, a lesão, inobservância ou não se assegurar esses direitos o acusado, surgirá o fenômeno da atipia constitucional. · Atipia constitucional - violência explícita ao texto constitucional, fazendo com que a marcha do Processo Penal esteja totalmente contaminada, assim, nada pode ser feito a não ser a declaração da nulidade do processo, sentença, condenação ou qualquer ato que se desdobre de uma relação processual que, infelizmente, infringiu o texto constitucional em sua parte principiológica. É garantido ao réu o direito de se defender da acusação; Réu é hipossuficiente em face do Estado (apresenta órgãos bem estruturados); Divisão da ampla defesa: Defesa técnica: · É aquela exercida por profissional da advocacia, dotado de capacidade postulatória, seja ele advogado constituído, nomeado ou defensor público; · Defesa indisponível, necessária, plena e irrenunciável: · Mesmo que o réu não queria defesa, e ainda que seja revel, deve o juiz providenciar a nomeação de defensor; · Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. · Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada. · Não se admite processo penal sem que a defesa técnica seja exercida por profissional da advocacia; · Não se admite advogado com OAB suspensa; · Não se admite advogado para inglês ver; · Acusado não tem direito de renunciar à defesa – indisponível e irrenunciável – visto que isso garante à efetividade da justiça; · Ausência – nulidade do processo · Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: · III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: · c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos; · STF - SÚMULA 708 - É NULO O JULGAMENTO DA APELAÇÃO SE, APÓS A MANIFESTAÇÃO NOS AUTOS DA RENÚNCIA DO ÚNICO DEFENSOR, O RÉU NÃO FOI PREVIAMENTE INTIMADO PARA CONSTITUIR OUTRO. · Direito de escolher o defensor: · Acusado tem direito a escolher seu defensor, não sendo possível o juiz substituí-lo e constituir outro; · Nomeação – só pode acontecer quando o advogado abandonar e o acusado não nomear outro; · Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação. · Caso não tenha como pagar – pode recorrer à Defensoria Pública da cidade – caso não tenha – nomeado dativo; · Defesa técnica plena e efetiva: · Necessário que se perceba efetiva atividade defensivado advogado no sentido de assistir o cliente; · Recai sobre o MP e o juiz o dever de fiscalizar a atuação defensiva do advogado, evitando a possível caracterização de nulidade absoluta do feito, por violação à ampla defesa; · Súmula 523 - No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. · Anulação por falta de defesa – apenas em caso de prejuízo ao réu; · Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis. · Adiamento da audiência - § 1º A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado, o defensor não puder comparecer. · § 2º Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura da audiência. Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento de ato algum do processo, devendo nomear defensor substituto, ainda que provisoriamente ou só para o efeito do ato. · Em um processo criminal, já na fase final, o advogado foi intimado para apresentar alegações finais, mas não apresentou. O juiz, analisando o caso, vê que não foi apresentado. O juiz vai: · O juiz nunca poderá ignorar a inércia do advogado e sentenciar sem a movimentação processual. · O advogado não pode abandonar o processo e não se justificar, visto que foi dado a ele uma função no processo. Sendo assim, o juiz vai intimar o advogado e mandar ele se manifestar, sob pena de multa. · Se mesmo assim o advogado não se manifestar, o juiz vai ver se o advogado foi constituído pelo réu ou dativo. Se for constituído, vai abrir prazo pro réu constituir outro advogado. Se for dativo, o juiz já nomeia outro direto, não precisa consultar o réu. · E se o advogado fizer alegações finais genéricas que só pedem a absolvição do réu por ausência de provas (nada específico em relação ao caso)? · Se a defesa não ataca os pontos colocados pela acusação, ela é considerada ineficiente. Será analisada sua nulidade. · A falta de defesa no processo penal constitui nulidade absoluta, mas sua deficiência só gerará nulidade quando houver falha no trabalho do defensor que gere prejuízos para o réu. A defesa não pode ser meramente formal. (Súmula 523 STF) Autodefesa (disponível): · Aquela exercida pelo próprio acusado em momentos cruciais do processo; · Disponível; · Eventual direito do acusado de exercer sua própria defesa é causa de nulidade por absoluta violação à ampla defesa; · Art. 186, parágrafo único: O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa. · Observação: o juiz, se fundamentar sua sentença condenatória no fato de o acusado ter ficado calado, a decisão será nula. Entretanto, no Tribunal do Júri, os jurados são proibidos de fundamentar suas decisões, então o silêncio pode acabar prejudicando o cliente. · Formas de manifestação: · Direito de audiência – direito do acusado de apresentar sua defesa pessoalmente ao juiz, demonstrando sua versão a respeito da imputação constante da peça acusatória – interrogatório é um meio de defesa; · Direito de presença – oportunidade do acusado, com seu defensor, acompanhar os atos de instrução, auxiliando-o na realização da defesa técnica; · Podem existir falsidades que apenas o acusado irá detectar; · Direito disponível; · Capacidade postulatória autônoma – direito do réu de postular independente de advogado: · Interpor recursos; · Impetrar habeas corpus; · Ajuizar revisão criminal; · Formular pedidos relativos à execução da pena; Inexistência de revelia: O réu, citado, que não comparece para ser interrogado, desinteressando-se por sua defesa, uma vez que os direitos são sempre indisponíveis nesse caso, terá defensor nomeado pelo juiz; · Esse defensor deve ter atuação eficiente, sob pena de ser afastado e substituído por outro pelo juiz; · Não há possibilidade de um réu “contestar” pelo outro, como na ação cível, pois a penal é voltada individualmente a cada um dos autores da conduta criminosa; Estando presente seu defensor, o que é absolutamente indispensável, ainda que ad hoc, não pode ser considerado revel; O acusado estará sempre representado por defensor, uma vez que a Constituição e a legislação processual penal brasileiras, a exemplo de todas as legislações de países democráticos, distinguem a autodefesa da defesa técnica, estabelecendo ser esta última indeclinável, posto ser o contraditório, na persecução penal e, também, na execução penal, real e indisponível; Nulidade absoluta do processo por falta de advogado constituído: Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação. · Não sendo nomeado defensor, caso esse não tenha advogado constituído, gera-se nulidade absoluta, mesmo porque é presumido o prejuízo; Parágrafo único. O acusado, que não for pobre, será obrigado a pagar os honorários do defensor dativo, arbitrados pelo juiz. STF - Súmula 523 No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. · Há deficiências tão grosseiras que podem corresponder à ausência de defesa; Princípio da plenitude de defesa: Não se busca apenas a ampla defesa, mas a mais plena, completa e perfeita, dentro do possível; Art. 5º - XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; Processos criminais comuns – assegurado a ampla defesa; Vasta possibilidade de se defender, propor provas, questionar dados, contestar alegações, oferecer dados técnicos de forma que o magistrado considere equilibrada a demanda, estando de um lado o órgão acusador e de outro a defesa eficiente; Juiz admite no seu julgamento, tese não apresentada pela defesa em favor do acusado – júri não faz isso; Processos julgado pelo Tribunal do Júri – plenitude de defesa; No Tribunal do Júri, as decisões são tomadas pela íntima convicção dos jurados, sem fundamentação; Prevalece a oralidade; Necessário que a defesa atue de modo completo e perfeito; A distinção entre o vocábulo amplo e pleno é que o segundo é mais forte; Princípio do contraditório: Art. 5º - LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Toda alegação fática ou apresentação de prova por uma das partes garante que a outra tenha o direito de se manifestar; Ciência bilateral de todos os atos ou termos do processo e a possibilidade de contrariá-los; Se a parte invoca uma questão de fato – abre-se ao contraditório, do contrário, se for de direito, não há necessidade, bastando a aplicação da lei; Exceção – alegar um abolitio criminis – necessário contraditório; Contraditório deve ser pleno e efetivo; Pleno – observância do contraditório durante todo o desenrolar da causa, até o seu encerramento; Efetivo – não é suficiente apenas dar à parte a possibilidade de se pronunciar, sendo necessário proporcionar os meios para que tenha condições reais de contrariar; O contraditório, dessa forma, está ligado aos princípios da: Paridade de armas – possibilidade de participação dos sujeitos em igualdade de condições; · Obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor; Informação – importância da citação, intimação e notificação; · STF - SÚMULA 707 - CONSTITUI NULIDADE A FALTA DE INTIMAÇÃO DO DENUNCIADO PARA OFERECER CONTRARRAZÕES AO RECURSO INTERPOSTO DA REJEIÇÃO DA DENÚNCIA, NÃO A SUPRINDO A NOMEAÇÃO DE DEFENSOR DATIVO. Participação – possível oferecer reação, manifestação ou contrariedade à pretensão da parte contrária; Contraditório não é observado na fase preliminar de investigações; Contraditório para a prova: Parte devem atuar na formação do elemento prova; Produção deve ser na presença do órgão julgado e das partes; Ex:prova testemunhal; Contraditório sobre a prova/diferido/postergado: Atuação do contraditório após a formação da prova; Ex: acontece com uma interceptação telefônica judicialmente autorizada no curso das investigações; · Finda a diligencia e juntado aos autos o laudo de degravação e o resumo das operações realizadas, deles se dará vista à Defesa, a fim de que tenha ciência das informações obtidas através do referido procedimento investigatório, preservando-se, assim, o contraditório e a ampla defesa; Princípio do juiz natural e imparcial e princípio consequencial da iniciativa das partes: Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; · Tribunal de exceção tem grande chance de ser parcial, já que foi criado para analisar o caso em concreto; · Quando são criadas varas para assuntos específicos, não se fere esse princípio, pois os processos são distribuídos de maneira imparcial; Assegurado o juiz natural – garante o juiz imparcial; Direito do réu ser julgado por juiz previamente determinado em lei; Julgamento imparcial; Possibilidade do réu alegar exceção de suspeição e de impedimento do magistrado não isento; O juiz não atua de ofício para inaugurar a ação penal e a conduz sob impulso oficial, mesmo diante do desdém de qualquer das partes; Titular da ação penal – Ministério Público; · Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: · I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; Caso o MP não proponha a ação no prazo – pode o particular ofendido tomar a iniciativa; · Art. 5º - LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal; Exceção ao princípio – execução penal pode ter início por atuação de ofício do magistrado, já que houve sentença condenatória, com transito em julgado, devendo-se aplicar a pena; Presunção de inocência: Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com a lei e em processo público no qual se assegurem todas as garantias necessárias para sua defesa; CF - Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; CPP - Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; Conceito: Direito de não ser declarado culpado senão após o término do devido processo legal, durante o qual o acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para a sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pela acusação (contraditório); Da regra probatória (in dubio pro reo): Parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado; Acusado não tem que demonstrar sua inocência; Para a imposição de uma sentença condenatória, é necessário provar, eliminando qualquer dúvida razoável, o contrário do que é garantido pela presunção de inocência, impondo a necessidade de certeza; Ausência de certeza – preferível absolvição de um culpado do que condenação de um inocente; · Juízo de ponderação – o primeiro erro acaba sendo menos grave que o segundo; No momento de valoração da prova – em caso de dúvida será julgado favorável ao réu; Após o trânsito em julgado, em caso de revisão criminal (art. 621 do CPP), o princípio que se aplica é in dubio contra reum – acusado deve provar as causas que possibilitem a revisão criminal, sendo que, em caso de dúvida, o tribunal deve julgar improcedente o pedido revisional; Obs. Prisão cautelar deve ser usada em situações excepcionais, desde que comprovada a necessidade de medida extrema para resguardar a eficácia do processo; Princípio do nemo tenetur se detegere: Art. 5º - LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; Direito de silêncio – direito de permanecer calado; Ninguém é obrigado a produzir prova contra si; Modalidade de autodefesa exercida pelo acusado, por meio de sua inatividade; Proibição de uso de qualquer meio para que o acusado colabore em atos que possam ocasionar sua condenação; Evita excessos por parte do Estado – Ex: evita uso de violência para que o indivíduo coopere com a operação/investigação; Informação do direito – acusado deve ser previamente e formalmente informado do seu direito de silêncio, sob pena de se macular de ilicitude a prova; · Deve ser informado que o silêncio é garantia constitucional e que isso não poderá gerar prejuízos; Legitimado do direito – qualquer pessoa a quem é imputada a prática de um ilícito criminal (preso ou solto); Obs. A testemunha tem o dever de falar a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso testemunho (art. 342); Mas não precisa responder sobre fato que possa, em tese, incriminá-la; Não é falso testemunho se a pessoa deixa de revelar fato que possa incriminá-la; Direito de silêncio funciona apenas como uma das decorrências do princípio do nemo tenetur se detegere, o qual se desdobra em: 1) direito ao silencio ou direito de ficar calado – não responder às perguntas formuladas pela autoridade, funcionando como espécie de manifestação passiva da defesa; 2) direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal; 3) inexigibilidade de dizer a verdade – comportamento de dizer a verdade não é exigível do acusado, sendo a mentira tolerada, porque dela não pode resultar nenhum prejuízo ao acusado; 4) direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo – não se pode exigir comportamento ativo do acusado, visto que ele pode se recusar a se auto incriminar; · Acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de verificação de interlocutor; · Acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico; · Pode ser requerido apreensão de papeis e documentos que possam suprir o fornecimento do material para o exame da letra; · Recusa em se submeter ao bafômetro – não configura crime de desobediência; · Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva – intervenções corporais; · Consentimento do sujeito – pode ser feita intervenção corporal invasiva ou não; · Não pode ferir a dignidade da pessoa humana; · Ônus da prova recai sobre o acusador – a parte pode se recusar a fazer medidas ativas que podem incriminá-lo ou provas invasivas; · Não é possível a produção forçada; Lei do abuso de autoridade - Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo: Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório: · I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou Esse artigo criminaliza a conduta do agente público que prossegue com o interrogatório de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; O exercício desse direito não pode ser utilizado como argumento a favor do acusado, nem pode ser valorado na fundamentação de decisões judicias, nem tampouco ser utilizado como elemento para formação da convicção do órgão julgador; Não pode ser extraídas presunções contra o acusado; Não gera crime de desobediência (art. 330, CP), pois é u exercício regular de um direito; Não pode ser usado como fundamento para majoração da pena do condenado; Embora essencial, esse direito não é absolto: Deve-se, por meio da ponderação, resguardar a ordem pública e liberdades alheias; Ex: crime de homicídio praticado contra a testemunha; Ex: alteração da cena do crime como objetivo de levar peritos e o juiz ao erro não consiste no direito à vedação da autoincriminação; Princípio da fundamentação: · Quando o juiz determina a retiradado réu/acusado da sala de audiência em situações excepcionais, visto que o réu pode causar temor a testemunha - juiz deve fundamentar a necessidade de retirar o acusado da sala de audiência; · Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor. · Constrangimento; · Humilhação; · Temor; · Obs. Desconforto não é uma das hipóteses; · Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como os motivos que a determinaram. · Art. 93 - IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; · Exceção - há casos em que apenas as partes e os advogados podem participar do processo; · Sentença judicial sem a devida fundamentação é sentença nula; · Caso o juiz na sentença condenatória adote o regime mais gravoso, é preciso que seja fundamentada, expondo os motivos que pelos quais não será concedido o regime mais brando, do contrário recai sobre as seguintes súmulas: · SÚMULA 718 - STF - A OPINIÃO DO JULGADOR SOBRE A GRAVIDADE EM ABSTRATO DO CRIME NÃO CONSTITUI MOTIVAÇÃO IDÔNEA PARA A IMPOSIÇÃO DE REGIME MAIS SEVERO DO QUE O PERMITIDO SEGUNDO A PENA APLICADA · SÚMULA 719 - STF - A IMPOSIÇÃO DO REGIME DE CUMPRIMENTO MAIS SEVERO DO QUE A PENA APLICADA PERMITIR EXIGE MOTIVAÇÃO IDÔNEA. · Conclusão - fundamentação - todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas, quando praticadas pelo juiz togado (tem a função jurisdicional); · Uma exceção em que não é necessário motivação - juiz no júri não fundamenta sua decisão; · É um juiz colegiado de 7 pessoas cuja decisão independe fundamentação; · Todos os demais casos devem ser fundamentados; Prisão de qualquer cidadão precisa de fundamentação: · Art. 5 - LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; · Se não tiver fundamentação, esta prisão será remetida ao artigo 93, IX, da CF: a falta de fundamentação gera nulidade da prisão: · IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; · Inclusive, as decisões mal fundamentadas foram a principal causa de habeas corpus concedidos pelo STF entre os anos de 2000 até 2019. · Até mesmo para as prisões preventivas, quando nem há processo ainda, é necessário fundamentar a decisão. Princípios regentes do Tribunal do Júri: Art. 5º - XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; Princípio da plenitude de defesa; CPP, Art. 456. Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do acusado, e se outro não for por este constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão. · § 1º Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o acusado ser julgado quando chamado novamente. · § 2º Na hipótese do § 1o deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo julgamento, que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o prazo mínimo de 10 (dez) dias. Em que pese o texto da lei dizer que será comunicado à OAB, a jurisprudência entende que a regra deve ser sempre essa: se o réu tiver advogado desconstituído, o juiz pode desconstituir o advogado e intimar o acusado para, querendo, contratar novo advogado. Após isso, envia para a Defensoria Pública. O art. 456 se refere à 2ª fase do procedimento do Tribunal do Júri. No início do procedimento do júri há uma chamada, onde são chamados os 25 jurados, promotor, assistente de acusação, todas as testemunhas arroladas, e precisa constatar a presença do defensor. · Caso constate a ausência do defensor, o juiz, normalmente, verifica se há alguma justificativa, etc. · Caso não haja nada, verifica-se o réu está presente e se indicou outro advogado. · Caso esteja presente outro advogado, confirma-se com o acusado. Advogado não está presente, qual a consequência? · O juiz irá aplicar a regra do art. 456, § 1º - Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o acusado ser julgado quando chamado novamente. · “Não havendo escusa legítima” - advogado que não dá a menor satisfação ao Juiz e ao Poder Judiciário. · Se o acusado estiver preso, volta para o presídio e fica aguardando o julgamento até a nova data designada; se estiver solto, o juiz ordena que volte à residência. O Oficial de justiça, por sua vez, já colhe a assinatura de todos os presentes para que não seja necessário efetuar, novamente, a intimação. § 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo julgamento, que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o prazo mínimo de 10 (dez) dias. · Como o advogado não compareceu e não justificou, o juiz, em respeito à plenitude de defesa, já prorroga o Júri. · O réu não terá prejuízo; · O juiz tem o poder de destituir o advogado, por meio de despacho fundamentado, tendo em vista que não compareceu, não justificou a ausência, comunica a OAB para, se for o caso, após o inquérito e PA, aplicar alguma sanção e, na sequência, concede prazo para que o acusado exerça o direito de constituição de novo advogado. · Vencidos os 5 dias, o processo não fica parado. No sexto, o juiz manda para o DP ou nomeia advogado dativo. · Se ocorrer um fato marcante, mas justificável, o ato do juiz pode ser revisto. Ex: o advogado pegou COVID, ficou doente e não conseguiu avisar, o juiz pode aguardar a recuperação. · Quando há o rito processual ordinário, quando o juiz vai decidir o caso, sempre parte de uma análise dos fatos e os adequa ao direito, aplicando o que está no CP e no CPP. · No Júri é diferenciado, podem ser aplicados argumentos não jurídicos, como o perdão social. · Caso da mãe que matou o estuprador do filho na delegacia, levada à Júri por homicídio doloso, com motivo torpe, por vingança, e sem chance de defesa (o acusado estava com pés e mãos algemados na cadeira da delegacia, imobilizado). Nesse caso, por exemplo, o advogado não poderia invocar legítima defesa, mas a absolvição por clemência, o perdão que o júri pode conceder a outrem dependendo dos motivos que ele demonstra. · Art. 483, § 2º CPP: § 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação: O jurado absolve o acusado? · Isso porque o jurado decide de acordo com a íntima convicção, não por fundamentação. Então, ao contrário do juiz, ele pode pensar que se estivesse na mesma situação faria o mesmo, então pode absolver o acusado por essa razão. Se o Juiz, no decorrer do procedimento, percebe que o acusado está sendo mal defendido (advogado não consegue apresentar uma defesa consistente, não tem linha de raciocínio, etc.), pode suspender a sessão, dissolver o conselho de sentença e destituir, no ato, o advogado. Princípio das votaçõessigilosas: Jurados devem proferir veredito em votação situada em sala especial; · Sigilo superior à privacidade nesse caso – busca resguardar a serenidade dos jurados leigos que não são, no momento de proferir o veredicto, em sala especial, longe de vistas do público; Deve ser assegurada tranquilidade e possibilidade de reflexão, com eventual consulta ao processo e perguntas ao magistrado, contando apenas com a presença das partes; · Não é um ato secreto – publicidade restrita; Pergunta do magistrado deve ser respondida com sim ou não; São sete jurados e a maioria de 4 votos é suficiente para decidir a questão; Basta que se atinja o quarto voto sim ou não e já se deve encerrar a contagem; · Não precisa se saber do conteúdo dos demais votos; · Se foi decidido de 4x3 ou de 7x0 é totalmente irrelevante; A contagem será em voz alta do resultado; Possui algumas ramificações, entre as quais a da incomunicabilidade. · A incomunicabilidade é entre os 7 cidadãos que compõem o Júri, que assumem o poder do juiz (não para o procedimento, que continua comandado por ele) no julgamento do fato. Ou seja, eles não podem conversar entre eles, perguntar o que o outro acha, opiniões, etc. · Os jurados, quando decidem, são motivados pelo princípio da íntima convicção, do que ele entendeu dos fatos. Princípio da soberania dos veredictos: Proferida a decisão final pelo Tribunal do Júri, não há possibilidade de ser alterada pelo tribunal togado, quanto ao mérito; · Possibilidade de apelação, quanto ao mérito da decisão do Conselho de Sentença, desde que manifestamente contrária à prova dos autos (art. 593, III, d, CPP). · Porém, ao Tribunal togado cabe, dando provimento ao apelo, determinar novo julgamento pela mesma instituição popular, não se substituindo à vontade do povo na prolação do veredicto (art. 593, § 3.º, CPP). · Não será anulada a decisão do Júri, mas será rescindida e devolvido o caso novamente para que haja novo julgamento – será convocado novo júri; O parâmetro correto para a reavaliação do Tribunal togado em relação à decisão do júri é o conjunto probatório: se há duas versões válidas, dependentes apenas de interpretação, para levar à condenação ou à absolvição, escolhida uma das linhas pelo Conselho de Sentença, há de se respeitar sua soberania. Nenhuma modificação pode existir. Entretanto, analisando-se a prova existente nos autos, somente um caminho poderia ser tomado, legitimamente, pelo júri (condenar ou absolver); optando pela decisão oposta ao conjunto probatório, dá-se provimento ao apelo para que se reveja o caso. Ainda assim, deve-se acatar, com serenidade, o segundo veredicto proferido, caso insista em manter o primeiro. A decisão política de inserir o Tribunal do Júri como instituição da Justiça brasileira, conferindo-lhe soberania para seus veredictos, é inquestionável por qualquer Tribunal togado. Resta o acatamento à decisão popular, quanto ao mérito dos julgamentos de crimes dolosos contra a vida. Possibilidade de revisão da sentença condenatória: · Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:[...] III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. · Caso sejam descobertas novas provas que teriam condenado o acusado, mas o processo transitou em julgado – está acobertado pelo trânsito em julgado; Princípio da competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida: A reserva de competência adquire o contorno de enaltecimento da instituição popular, conferindo-lhe importância no cenário do Judiciário, visto tratar de julgamentos de delitos, cuja tutela concentra-se na vida humana, o mais relevante dos bens jurídicos. A competência eleita é mínima e não taxativa ou exclusiva. os únicos delitos, cuja meta do agente é, com nitidez, a ofensa à vida humana, concentram-se nos arts. 121, 122, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal. · 121 – homicídio; · 122 - Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação; · 123 – infanticídio; · 124 - aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento; · 125 e 126 - aborto provocado por terceiro (com ou sem consentimento da gestante); · 127 – aborto gerar lesão corporal ou morte; Outros delitos podem envolver lesão à vida, como ocorre, dentre outros, com o latrocínio (art. 157, § 3.º, II, CP), mas o objetivo primordial do autor focaliza delito patrimonial – não está submetido ao tribunal do júri, pois é preterdoloso (dolo no delito patrimonial e culpa no delito contra à vida); Não são de competência do Júri: · Lesão corporal seguida de morte: se o juiz entender que o agente pretendia a lesão e sobreveio a morte, sem dolo, não é resolvido pelo Júri, mas sim pelo próprio juiz. · Latrocínio: também não vai para Júri, pois o primeiro ato do agente foi o roubo, a morte foi a consequência; · Estupro seguido de morte: não é da competência do Júri pelas mesmas razões. · A primeira fase é sempre decidida pelo Juiz, que analisa o caso e observa se é de competência do Júri ou não. Se perceber que não é, ele mesmo procederá com o julgamento.
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