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MED 2022 GINECOLOGIA 127 LETICIA ARANEGA DALARI SUA, ADENOMIOSE, ENDOMETRIOSE E ANTICONCEPÇÃO Sangramento Uterino Anormal • Causas estruturais P: pólipo A: adenomiose L: leiomioma M: maligna - CA, hiperplasia • Causas não estruturais C: coagulopatia O: ovulatória E: endometriais - DIP, endometrite I: iatrogênica - farmacológicas (spot no uso do ACO por exemplo) N: não classificada Perguntas-chave • Origem: 1° exame a ser realizado: exame especular!!! • Idade: causas de acordo com faixa etária Neonatal: privação de estrogênio materno. Geralmente autolimitado e imperceptível Infância: corpo estranho, infecção inespecífica, trauma. Sempre excluir abuso sexual, neoplasias (sarcoma botrioide (sangramento em cacho de uva - sarcoma de vulva) / tumor de ovário secretor de estrogênio (pseudo- puberdade precoce / rabdomiosarcoma (tumor de vagina)) - corpo estranho pode causar corrimento. A infecção é uma inespecífica, que é a mais comum na infância - vaginite inespecífica. O trauma que as bancas mais gostam é a queda a cavaleiro (queda de bicicleta), lembrar que no trauma acidental é improvável que penetre o canal vaginal - prestar atenção no caso de abuso, a criança vai estar assustada, não deixa examinar. Qualquer suspeita de abuso pedir ajuda para serviço social ou médico mais experiente. Não liberar paciente com suspeita de abuso. Adolescência: sangramento uterino disfuncional (anovulatório), sangramento na gestação - Até 2 anos da menarca: imaturidade do eixo HHO. Geralmente autolimitado, se resolve com a maturidade do ciclo. - Outras causas: gestação, SOP, infecção específica (IST), coagulopatia (questões sobre coagulopatias geralmente tem ciclo regular, apresentam quadros dramáticos, que necessitam de hospitalização, transfusão, evoluem para instabilidade hemodinâmica e tem ciclos regulares!! As mais comuns são Doença de Von Willebrand e Púrpura trombocitopênica idiopática. Pode-se usar ACO no tto. Nas adolescentes o diagnóstico de SOP é confuso, pois a irregularidade pode acontecer por imaturidade do eixo HHO, e aqui o ideal é reavaliar em 2 anos o diagnóstico, pois a anovulação nos 2 primeiros anos do menacme pode ser por imaturidade e não SOP Adultas: sangramento uterino disfuncional (anovulatório), sangramento da gestação. - Outras: infecção específica (IST), neoplasias (benignas (miomas por exemplo) e malignas) • Pós-menopausa: atrofia endometrial (30% / principal causa), terapia hormonal (30%), CA endométrio (tipo 1) - se questão não falar que usa TH marcar atrofia • Pós coito (sinusorragia): cervicite, CA colo, lesão vaginal • Menacme: sexualmente ativa sem contraceptivo eficaz: sempre pedir beta-hCG • Medicamento: escape do contraceptivo, TH na pós-menopausa • Intrauterino: avaliar USGTV (se ao passar o espéculo e o sangramento estiver vindo da cavidade uterina). USGTV • Endométrio suspeito após menopausa Acima de 8mm mesmo com TH não há justificativa pois a quantidade de estrogênio é baixa. Histeroscopia é padrão ouro - temos também curetagem ambulatorial (Pipele), curetagem em CC… MED 2022 GINECOLOGIA 128 LETICIA ARANEGA DALARI Se mesmo com histeroscopia não achar a causa, excluir gravidez e estabilizar paciente hemodinamicamente, depois seguir para medicação. Estrogênio em alta dose é o que para sangramento - se com dose alta não parar de sangrar, o diagnóstico está errado. Manejo SUA agudo • Excluir gravidez e realizar estabilização hemodinâmica Tratamento medicamentoso: • Tratamento hormonal o Estrogênios equinos conjugados (EEC - Premarim): 1,25 mg VO, de 6/6 horas por 21 dias + AMP 10 dias (tem que parar em 48h) - AMP - acetato de medroxiprogesterona o ACO (que tenha 30 a 35 mcg de etinilestradiol): 1 cp 3x/dia até parar sangramento (mínimo 48 horas) e após, 1 cp/dia por 21 dias • Não hormonal o Antifibrinolítico (Transamin) ou AINE - não é tão bom e não para tão rápido Sangramentos na 1ª metade da gestação mais intenso: abortamento inevitável, incompleto e mola. Pólipo • Hiperplasia focal, projeção do endométrio, tem origem no endométrio • Cervical: sinusorragia • Endometrial: maioria assintomáticos. São achados ocasionais de USG e histeroscopia - imagem hiperecogênica • Tratamento o Polipectomia histeroscópica o Assintomáticos: pode acompanhar Mioma • Nódulo que cresceu no miométrio, é um tumor de musculatura lisa. • Maioria assintomáticos • Não fazer nada para miomas que não causam nada Classificação FIGO • Submucoso: 0 (pediculado) → 1 → 2 o Pode justificar sangramento • Intramural: 3 → 4 (só intramural) o Pode justificar sangramento • Subseroso: 5 → 6 → 7 (pediculado) o NUNCA pode justificar sangramento • Obs.: 8: mioma cervical e parasita - não está no corpo do útero Zero é o mais para dentro Sete é o mais para fora 2-5 é aquele que pega todas as paredes - trata por laparoscopia Mioma pediculado (0 e 7) não pode tratar com embolização MED 2022 GINECOLOGIA 129 LETICIA ARANEGA DALARI Diagnóstico • USG: nódulo hipoecoico • Quando pedir RM? o Antes de algumas cirurgias o Antes de embolização: avalia distância serosa (perfuração) Tratamento • Sintoma x desejo de gestação • Assintomática: não tratar • Sintomática: (se intramural ou submucoso – justificam sangramento) o Sintomas leves a moderados, com mioma pequeno: expectante, tratamento clínico (tratamento hormonal não resolve mioma, mas pode diminuir sangramento. Geralmente é indicado para mulheres na perimenopausa) o Sintoma intenso e nulípara: miomectomia (preferir video à laparotomia) o Sintoma intenso e multípara: histerectomia. Obs.: se mioma submucoso, faz somente miomectomia histeroscópica, mesmo se multípara. Obs.: remédio resolve mioma? Não! - Análogo de GnRH diminui o tumor e anemia antes de operar MAS não pode utilizar por muito tempo pois ele bloqueia o eixo causando sintomas de climatério na paciente (se usar por mais de 6 meses risco de osteoporose - menopausa química). Antes de operar entra com análogo por 3 meses antes da cirurgia associado a ferro para melhorar condições pré-operatórias. • Quando usar embolização artéria uterina? Se miomas múltiplos, mas não pediculados - nulíparas não devem fazer pois esferas podem chegar nos ovários e necrosa-los • Miólise por USG focalizado de alta intensidade quitado por RM - reduz mioma sem ter que operar (chega a temperaturas de 90º). Não temos trabalhos de longo prazo. • Se deseja engravidar, a preferência é pela miomectomia (por vídeo preferencialmente) Degeneração • Hialina: é a mais comum • Rubra, vermelha, necrose asséptica: causa dor súbita na gestação • Sarcomatosa: mioma cresce após menopausa. Risco de transformar CA - muito muito rara, <0,5%, não faz sentido operar pensando em prevenir CA. Na prova só marcar se falar que está crescendo após a menopausa, uma vez que eles são hormônio dependente, então se estiver crescendo é por outro mecanismo e pode ser por sarcoma Dismenorreia secundária: piora ao longo dos anos Dismenorreia secundária + sangramento = adenomiose Dismenorreia secundária + infertilidade = endometriose Adenomiose • Tecido endometrial no miométrio - se tem glândula no miométrio a paciente vai ter cólica que surge ao longo da vida, tem SUA e aumento do volume uterino Clínica • SUA • Dismenorreia secundária • Aumento tamanho uterino Diagnóstico • USG: miométrio heterogêneo • Ressonância: zona juncional mioendometrial > 12 mm - muito sugestivo de adenomiose • Padrão ouro é o histopatológico - tem que ver endométrio no miométrio MED 2022 GINECOLOGIA 130 LETICIA ARANEGA DALARI Tratamento • Definitivo: histerectomia - falha no clínico ou definitivo • Opções: DIU progesterona, ACO, ablação de endométrio - geralmente responde bem ao tratamento clínico. Mulher com desejo reprodutivo não pode fazer ablação endometrial. Endometriose • Endométrio (glândulas e estroma) forado útero • Endometriose infiltrativa profunda: penetra espaço retroperitoneal ou órgãos pélvicos > 5 mm de profundidade - alguns falam na medida e outros falam na invasão retroperitoneal ou invasão de órgãos adjacentes • Localização mais comum: ovariana - massa anexial é uma dica Clínica • Dismenorreia secundária - progressiva • Infertilidade • Dispareunia • Dor pélvica • Obs.: não causa sangramento Fatores de risco • Menacme longo, primiparidade tardia, nuliparidade, história familiar, raça branca, malformações uterinas • Excesso de álcool e café (?) Diagnóstico • História clínica: dismenorreia secundária, dispareunia, infertilidade (algumas são assintomáticas) • Exame físico: nódulo ao toque vaginal / retal, útero fixo, doloroso e massa anexial • USGTV: endometrioma (aspecto vidro fosco - é muito característico de endometriose) - pode vir normal. • USGTV com preparo intestinal: visualiza lesões intestinais (incluindo camadas acometidas) • Ressonância: limitação: implante pequeno • Laparoscopia: padrão ouro em algumas literaturas - diagnóstico definitivo o Atualmente exame clínico + imagem fazem a maioria dos diagnósticos o Laparoscopia tem sido indicada se falha do tratamento clínico (já aproveita e resseca implantes) o O aspecto das lesões reflete atividade: vermelha é mais ativa que preta, que é mais ativa que branca • Obs.: não há correlação direta entre extensão da lesão e intensidade da dor!! • Doença muito extensa menor resultado reprodutivo • Marcador Ca 125: não define doença, tem baixa sensibilidade (pode dar negativo em casos leves). É útil para o controle pós-tratamento. • Confirmação diagnóstico - laparoscopia com biópsia. • Mirena é o DIU que trata endometriose. Tratamento • Dor: inicialmente clínico o Anticoncepcional combinado, progesterona (ex: dienogeste), análogo GnRH, inibidores da aromatase o Cirurgia se: falha de tratamento, lesão ureter, suboclusão intestinal e endometrioma > 4cm (ou 6cm) • Endometrioma (> 4 ou 6cm tem que retirar) o Cistectomia é o melhor procedimento (retirar capsula) - não pode só esvaziar, tem que tirar a cápsula • Infertilidade o Tratamento clínico não resolve o Endometriose, sem dor, mínima, leve: laparoscopia o Endometriose severa: FIV • Infertilidade + dor -> FIV se prognóstico reprodutivo ruim MED 2022 GINECOLOGIA 131 LETICIA ARANEGA DALARI • Infertilidade + dor -> cirurgia se prognóstico reprodutivo bom Prognóstico: idade, reserva ovariana, outros fatores • Obs.: justificativa da infertilidade: aderências, distorções anatômicas, fluido peritoneal aumenta prostaglandinas e citocinas Anticoncepção Sempre antes de escolher o anticoncepcional devemos analisar dois quesitos: - Índice de Pearl - quanto menor índice, maior a taxa de proteção - Critérios médicos de elegibilidade da OMS Índice de Pearl - fórmula matemática que avalia a eficácia de um método contraceptivo. Índice de Pearl = número de falhas x 12 meses x 100 (mulheres)/ número total de meses de exposição É a capacidade desse método de proteger contra a gravidez não desejada e não programada, é a eficácia da pílula. Comportamentais • Tabelinha, curva térmica, muco cervical - tentam prever a ovulação, grande índice de falha. Barreira • Condom e diafragma: alta taxa de falha • São ruins como contraceptivos, mas importantes para IST Dupla proteção - melhor método contraceptivo + condom Clássico de prova: mecanismos de ação? Indicações e contraindicações Categoria 1: pode usar Categoria 2: pode usar com cautela Categoria 3: contraindicação relativa Categoria 4: contraindicação absoluta Mecanismo de ação dos métodos hormonais: A indústria farmacêutica desenvolveu diversos métodos para melhorar a aderência e o acesso. A princípio temos 3 mecanismos envolvidos na ação da pílula: 1. Inibição do eixo hipotálamo-pituitário-gonadal. Secreção do FSH e do LH (impede o pico do LH, progesterona, praticamente todas as pílulas trabalham assim) 2. Alterações específicas no endométrio - não atingindo a espessura necessária para implantação 3. Espessamento da secreção mucosa produzida pelo colo uterino - espermatozóide não consegue que ele suba do fundo de saco, atravesse o canal endocervical e atinja o óvulo. O muco em “clara de ovo” é o ideal para que ele consiga subir, e o espessamento desse muco impede que ele consiga fazer esse trajeto DIU • Cobre Duração de 10 anos - formato em T, retirada mais incômoda Ação espermicida, irritativa e inflamatória Pode aumentar cólica e fluxo Não anovulatório - baixo índice de Pearl MED 2022 GINECOLOGIA 132 LETICIA ARANEGA DALARI • Progesterona Duração 5 anos - formato em Y Atrofia endométrio e torna muco hostil - dificulta ascensão espermatozóide Pode diminuir cólica e fluxo - tratamento endometriose e adenomiose Não anovulatório - baixo índice de Pearl • Cobre + prata Formato em Y que facilita inserção e remoção em comparação ao de cobre Ação irritativa e inflamatória pelo cobre Mesmas contraindicações do cobre Duração de 5 anos - Obs.: em provas: usuária de DIU grávida: pensar em ectópica - se for tópica tentar tirar ainda no 1º trimestre - Preferir inserir durante o fluxo menstrual, mas não é obrigatório - Instrumentos para inserção - espéculo, Pozzi, histerômetro (ideal ficar no fundo do colo do útero) Contraindicações de todos os tipos de DIU • Alterações intrauterinas Suspeita de gravidez, distorção da cavidade, SUA inexplicado, CA colo, CA endométrio e infecção uterina (para progesterona: história pessoal de CA de mama - o de cobre pode) • Entre 48 horas e 4 semanas pós-parto - maior risco de perfuração devido fechamento do colo uterino. LARC: DIU de cobre (10 anos) , DIU progesterona (5 anos) , implante (3 anos) Adolescentes e nulíparas são elegíveis para DIU - reforçar uso de preservativo por causa de IST Hormonais sistêmicos progesterona • Mecanismo de ação: Altera muco cervical e causa atrofia endometrial • Minipílula (progesterona) Altera muco cervical e atrofia endométrio Ideal: amamentando ou peri-menopausa - aleitamento exclusivo nos primeiros 6 meses. Alto índice de falha - tem efeito de primeira passagem Não é anovulatório Obs.: Cerazette: pode fazer anovulação em 97% - pílula de desogestrel 75mcg mas não é minipílula • Injetável trimestral (progesterona) e implante subdérmico (progesterona) Altera muco cervical e atrofia endométrio - índice de proteção muito alto Implante tem melhor índice de Pearl Ambos podem causar spotting Promove anovulação Contraindicações métodos de progesterona isolada • Gravidez - categoria 3 • Tumor hepático - categoria 3 • HAS grave - categoria 3 • AVE - categoria 3 • TVP e TEP aguda - categoria 3 (se for histórico passado pode) • CA mama atual (categoria 4) - DIU de cobre - Obs.: DIU de cobre, DIU progesterona e implante subdérmico são considerados métodos anticoncepcionais de longa ação - < 6 semanas após parto amamentando? SIM!! Minipílula e implante são categoria 2. Injetável trimestral é categoria 3 (só pode após 6 semanas). Pode usar DIU, minipílula, implante. Nas primeiras 6 semanas não pode utilizar combinado de forma alguma. MED 2022 GINECOLOGIA 133 LETICIA ARANEGA DALARI Hormonais sistêmicos combinados • Oral, anel vaginal, adesivo e injeção mensal • Mecanismo de ação: Anovulação, alteram muco cervical, atrofiam endométrio, alteram motilidade tubária. Progesterona sempre predomina no efeito local. Se usa estrogênio inibe FSH (impede ovulação), progesterona inibe LH. Jamais fazer apenas estrogênio numa mulher que tem útero. Contraindicações de todos os métodos combinados • Contraindicações nível 4 (tudo que era 3 na progesterona vira 4 agora) o Amamentação < 6 semanas pós-parto - minipílula, só progesterona ou implante ou DIU (<48h) o CA mama atual o Fumo (≥ 15 ou mais cigarros) após 35 anos - mais de 35 anos e fumar 1 cigarrojá é categoria 3 o IAM, TVP, TEP e AVE atual ou prévio o LES com SAF + o Doença hepática grave o Enxaqueca com aura (risco de AVE) - fator que mais cai na prova. Pode causar AVE independente da idade. Obs.: • Não amamentando o < 21 dias: categoria 3 ou 4 (se risco de TVP) o 21 a 42 dias + sem risco TVP: categoria 2 (> 21 dias, + sem risco TVP: pode usar ACO) o 21 a 42 dias + com risco TVP: categoria 3 • Amamentando o < 6 semanas: categoria 4 o 6 semanas a 6 meses: categoria 3 (pode usar após 6 meses ou interromper amamentação) Emergencial • Alteração ovulação e atrofia endométrio • Levonorgestrel 1 cp de 1,5 mg VO, dose única • Idealmente nas primeiras 72 horas - pode usar até 5 dias, sendo melhor até 3 dias. Laqueadura / vasectomia • > 25 anos OU > 2 filhos vivos - HOJE está mudando para 21 anos e o cônjuge não precisa mais assinar e a laqueadura passa a ser permitida no parto DESDE que mais de 60 dias de manifestação de vontade de cirurgia • Desde que capacidade civil plena • Não pode fazer no parto, após aborto, ou até o 42° dia • Necessidade de consentimento do parceiro (se sociedade conjugal) • Necessário > 60 dias entre vontade e cirurgia • Pode fazer na cesárea? Se alto risco de novo ato cirúrgico ou cesariana de repetição. o Necessidade de laudo assinado por 2 médicos Atenção: Dentre os anticonvulsivantes, o ácido valpróico não interfere no ACO e na progesterona Dentre os antibióticos, a Rifampcina interfere no ACO Em 10/08/2022 o senado mudou a questão da laqueadura, ainda falta aprovação presidencial Projeto aprovado em 2022 laqueadura • Idade > 21 anos OU ≥2 filhos • Cônjuge não precida assinar • Pode no parto • > 60 dias da vontade da cirugia