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SUINOCULTURA E AVICULTURA AULA 6 Profª Simone Fernanda Nedel Pertile 2 CONVERSA INICIAL Manejo reprodutivo, incubação, higiene e profilaxia Anteriormente, estudamos o manejo dos frangos de corte e das poedeiras, o abate das aves e o manejo dos ovos e da cama. Nesta etapa, abordaremos o manejo reprodutivo e sanitário das aves – desde as diferenças na criação dos reprodutores em relação aos frangos de corte e das poedeiras, até a formação dos ovos fertilizados e de sua incubação. Em relação ao manejo sanitário, serão abordadas as medidas de higiene e profilaxia nas granjas avícolas, as principais doenças das aves e a vacinação. Dessa forma, sua missão aqui é aprender os pontos críticos da produção de reprodutores, aspectos básicos da reprodução das aves e da incubação, além de saber as principais medidas de higiene e profilaxia e doenças que acometem as aves. Assim, trataremos de aspectos práticos e gerais sobre esses temas. TEMA 1 – ASPECTOS GERAIS NA CRIAÇÃO DE REPRODUTORES 1.1 Cria e recria A fase de cria ocorre quando as aves estão com idade entre 0 e 4 semanas, enquanto a recria é de 5 a 21 semanas, e a fase de produção inicia em sua 21ª semana. Essas fases são divididas de acordo com as necessidades das aves e, para cada fase, são estabelecidos objetivos de produção e pontos críticos. De forma geral, o manejo inicial de aves utilizadas para reprodução é muito semelhante ao realizado para aves de corte e de postura, com os mesmos cuidados em relação à temperatura e umidade, regulagem dos comedouros e bebedouros, uso dos círculos de proteção e teste do enchimento do papo. Além desses manejos, também pode ser feita a debicagem das matrizes e dos reprodutores. Na fase de cria, também chamada de fase inicial, ocorre um rápido desenvolvimento dos sistemas imunológico, cardiovascular e digestivo, além do desenvolvimento ósseo e das penas. As aves da espécie Gallus gallus, ou seja, a galinha doméstica, recebem o nome de pintinhos ou pintainhos nas primeiras semanas de vida. Nessa fase, é importante que os pintinhos (ou pintainhos) 3 tenham desenvolvimento com boa viabilidade e uniformidade de peso de machos e fêmeas. Para atingir os objetivos desse período, é importante fazer o correto manejo da temperatura, umidade, ventilação, distribuição dos alimentos, vacinação e a verificação do enchimento do papo (Ross, 2018; Freitas; Costa, 2005). A fase de recria compreende o período entre a 5ª e a 21ª semana de vida das aves. Nessa fase, ocorre o preparo delas para a produção e, em relação às mudanças em seu organismo, há um contínuo desenvolvimento dos sistemas imunológico e cardiovascular, além do esqueleto e das penas. Logo, controlar o peso das aves é muito importante para verificar se elas estão se desenvolvendo de acordo com o preconizado para cada linhagem, além de fazer o controle da uniformidade do lote. É importante verificar o crescimento ósseo das aves, pois 90% dele deve ser concluído até a idade de 80 a 95 dias; a uniformidade do lote também deve ser verificada semanalmente (COBB, 2020a; Ross, 2018; Freitas; Costa, 2005). Durante a fase de cria e recria, os programas de luz são iniciados com 23 horas de luz e uma de escuro nos dois primeiros dias após o alojamento, com o objetivo de estimular o consumo de alimentos, seguido por uma redução de horas de luz por dia até chegar, no 9º dia de alojamento, a 9 horas de luz diárias, e 8 horas de luz por dia entre o 10º dia e a 21ª semana. A intensidade de luz também deve ser mais alta (80 a 100 lux) nos 6 primeiros dias, igualmente para estimular o consumo; após esse período, a luz deve ser reduzida de acordo com o tipo de aviário; de 30 a 60 lux, em ambiente controlado, e de 60 a 80 lux, em aviários abertos (Ross, 2018). 1.2 Fase de produção Consideramos como início da fase de produção o aparecimento do primeiro ovo, ou quando 1 a 5% das matrizes estão produzindo ovos. Nessa fase, ocorre a produção de ovos em si, com o objetivo de obtermos a maior produção de ovos incubáveis com o menor custo de produção; os resultados obtidos nesse momento são consequência do bom manejo realizado nas fases de cria e recria (Freitas; Costa, 2005). Assim, os principais problemas que surgem em tal período são o número de ovos produzidos abaixo do preconizado para a linhagem, e a produção de ovos inférteis, não incubáveis, além da taxa de eclosão baixa. Entre os fatores 4 que podem levar a uma menor produção de ovos estão: questões nutricionais, como a deficiência de nutrientes; excesso ou insuficiência de ração no início da produção, ou no pico; problemas na qualidade da água; duração e intensidade da luz; problemas na ventilação; estresse calórico; e, fatores relacionados ao manejo e doenças (Freitas; Costa, 2005). Em relação a problemas na eclodibilidade dos ovos, entre os fatores para isso, estão: a produção de ovos muito pequenos no início de produção, ou muito grandes no final da produção; ovos de cama; queda na qualidade da casca (o que está diretamente relacionado à qualidade do ovo, além de causar deformidades e trincas na casca); problemas de manejo relacionados à distribuição de água e ração; cama de baixa qualidade; número e condições de ninho insuficientes; determinadas doenças; problemas no incubatório; e, incubação de ovos de aves mais jovens e mais velhas (Freitas; Costa, 2005). Em relação aos ninhos, é recomendado que o aviário tenha um ninho para cada 4 ou 5 aves em postura; este deve ser forrado (entre um e três quartos) com uma cama seca e inerte, para evitar que os ovos quebrem ou rolem para fora. Entre os materiais que podem ser utilizados na cama estão palha seca, maravalha, casca de arroz, entre outros (Viola et al., 2019). O programa de luz é fundamental para se obter uma boa produção de ovos. Assim, a partir da 21 semana, deve ser oferecido um programa de luz crescente para as matrizes, a fim de estimular a produção de ovos. Com 8 horas de luz diárias na 21ª semana de alojamento, o recomendado é aumentar 4 horas até a 22ª semana, e mais uma hora na semana seguinte, chegando a 13 horas diárias de luz de 30 a 60 lux, os quais devem ser mantidos constantes no período de produção. Com esse estímulo luminoso crescente, levamos de 14 a 21 dias para obter 5% de produção (Ross, 2018). Com o fornecimento de luz crescente na 21ª semana de alojamento, ocorre o desenvolvimento rápido dos testículos nos machos, e de oviduto e ovários nas fêmeas; com essa idade, a primeira postura é esperada de 10 a 14 dias após o início do estímulo de luz crescente (Ross, 2018). Em relação à alimentação das aves, o pico de produção ocorre em aproximadamente 31 semanas de idade, e a maior produção de massa de ovos ocorre logo após o pico de produção. Assim, a fase de maior exigência nutricional das matrizes é essa, sendo importante que as aves não percam peso nesse momento, nem ganhem peso depois disso, para evitar o acúmulo de gordura, o 5 que pode prejudicar a produção (Ross, 2018). A proporção de machos sexualmente ativos e fêmeas é apresentada na Tabela 1. Tabela 1 – Proporção de machos sexualmente ativos e fêmeas Idade (dias) Idade (semanas) Machos para cada 100 fêmeas 154 – 168 22 – 24 9,50 – 10,00 168 – 210 24 – 30 9,50 - 10,00 210 – 245 30 – 35 8,50 – 9,75 245 – 280 35 – 40 8,00 – 9,50 280 – 350 40 – 50 7,50 – 9,25 350 até o final do lote 50 até o final do lote 7,00 – 9,00 Fonte: Ross, 2018. TEMA 2 – REPRODUÇÃO DE AVES 2.1 Aparelho reprodutor do macho O aparelho reprodutor do galo é formado por dois testículos e dois ductos deferentes. O peso dos testículos corresponde a 1% do peso da ave; eles estão localizados dentro da cavidade abdominal e estão à temperatura de 41 a 43 ºC. Os ductos dos epidídimos abrem-se nos ductos deferentes, formando o primeirolocal de armazenamento dos espermatozoides. Na parte final dos ductos, eles são projetados para dentro da cloaca, onde está localizado o falo, responsável pela ereção durante a cópula e por seu contato direto com a vagina em eversão. Assim, nos galos não há órgãos acessórios como a vesícula seminal, próstata e glândula bulbouretral (Rutz et al., 2005). Na primeira parte da Figura 1, é possível identificar a posição anatômica dos testículos e dos ductos deferentes entre os testículos e a cloaca, na segunda parte da figura, há uma ilustração da exposição do falo. 6 Figura 1 – Ilustração do aparelho reprodutivo do galo Crédito: RFBSIP/Adobe Stock. 2.2 Aparelho reprodutor feminino O aparelho reprodutor da fêmea é formado, basicamente, pelo ovário (ovary, em inglês), pelo oviduto – um canal onde o ovo é formado –, além de glândulas anexas, como as glândulas hospedeiras de espermatozoides. O ovário e o oviduto se localizam do lado esquerdo da cavidade abdominal da ave. A Figura 2 ilustra a oposição anatômica do ovário e do oviduto Figura 2 – Anatomia do aparelho reprodutor da galinha Crédito: blueringmedia/Adobe Stock. 7 2.3 Formação do ovo e fecundação O processo de formação do ovo dura entre 24 e 26 horas, com início na ovulação, que ocorre de 15 a 45 minutos após a oviposição. A formação do ovo inicia no ovário, no qual um óvulo (gema) é secretado em cada ovulação. A ovulação nas aves é diferente dos mamíferos, pois nas aves um único folículo ovula, e o óvulo é liberado dentro de um intervalo mais curto, de aproximadamente um dia (Figueiredo et al., 2021; Albino et al., 2014; Rutz et al., 2005). Após a ovulação, a gema entra no oviduto pelo infundíbulo, onde ocorre a fertilização, e a gema recebe a chalaza e a membrana vitelínica, permanecendo ali em torno de 15 minutos. Depois, a gema é direcionada para o magno, onde permanece por cerca de três horas e recebe 40% do albúmen. A terceira porção do oviduto é o istmo, no qual a gema permanece em torno de 1 hora e meia, recebendo albúmen e as membranas internas e externas da casca. Após o istmo, o ovo passa para o útero (também chamado de glândula da casca, por promover a formação da casca do ovo, além de secretar parte do albúmen); o ovo permanece por cerca de 20 a 23 horas nesse compartimento. Por último, o ovo passa pela vagina, onde recebe a cutícula externa, que atua como uma barreira antimicrobiana; o ovo fica ali por 5 a 15 minutos, seguido pela oviposição (Figueiredo et al., 2021; Albino et al., 2014; Rutz et al., 2005). Na Figura 3 estão ilustradas as cindo regiões: o infundíbulo (infundibulum), magno (magnum), istmo (isthmus), útero (uterus) e vagina. 8 Figura 3 – As cindo regiões do oviduto são o infundíbulo (infundibulum), magno (Magnum), istmo (isthmus), útero (uterus) e vagina Crédito: Sakurra/Shutterstock. As glândulas hospedeiras de espermatozoides estão localizadas na junção útero-vaginal e são consideradas o principal sítio de armazenamento de espermatozoides no oviduto. Como a galinha ovula diariamente, é necessário que haja um mecanismo gradativo de liberação dos espermatozoides durante dias ou semanas, pois os espermatozoides são armazenados durante um período de três a quatro semanas em galinhas, apesar do percentual de ovos férteis ser maior entre 5 e 7 dias após a cópula (Rutz et al., 2005). 9 O depósito do sêmen ocorre na vagina após a eversão da cloaca, e os espermatozoides sofrem seleção e são armazenados nas glândulas hospedeiras. Posteriormente, os espermatozoides se deslocam para o infundíbulo, e se acumulam nas dobras da mucosa deste (Rutz et al., 2005). TEMA 3 – INCUBAÇÃO A incubação é o processo que leva ao desenvolvimento do embrião, o qual ocorre de forma natural ou artificial, em condições específicas de umidade e temperatura. Os ovos utilizados para a incubação são obtidos nas granjas de reprodução, e são chamados de ovos fecundados, férteis ou galados, por considerar que ocorreu a fecundação no processo de formação do ovo, conforme vimos anteriormente. Para a obtenção de resultados satisfatórios, são realizadas diversas etapas antes do processo de incubação em si. O manejo dos ovos inicia na coleta, que deve ser realizada no mínimo duas vezes por dia. Além disso, na granja de reprodução, deve haver uma sala de ovos, onde eles serão classificados. Ovos muito sujos ou recolhidos no chão do aviário devem ser descartados ou incubados em separado. Ovos a serem incubados devem ser classificados quanto ao tamanho (médio), forma (sem irregularidades), limpeza da casca (sem presença de fezes ou impurezas visíveis), e condições de casca (sem rachaduras ou muito finos) (COBB, 2020a; Viola et al., 2019). O armazenamento dos ovos deve ocorrer, preferencialmente, com a parte mais pontiaguda virada para baixo, pois esse é o lado oposto à câmara de ar, a qual poderá realizar a troca de gases se o ovo estiver nesta posição. Outro manejo importante dos ovos é a viragem, a qual deve ser realizada pelo menos duas vezes por dia, a fim de evitar danos à membrana e à chalaza do ovo (COBB, 2020a; Viola et al., 2019) Os ovos devem ser transportados da granja para o incubatório pelo menos duas vezes por semana. O incubatório é composto, basicamente, pela sala de armazenamento de ovos, pré-incubação, incubação, nascedouro e sala para expedição dos pintinhos. Assim, após a chegada dos ovos no incubatório, eles devem ser acondicionados em bandejas próprias e nos carrinhos para incubação (COBB, 2020a; Viola et al., 2019). A temperatura de armazenamento dos ovos também é muito importante, pois temperaturas elevadas ou muito baixas podem levar a perdas na incubação, 10 devido a morte embrionária. Quando ocorre a oviposição, os ovos têm temperatura em torno de 40 a 41 ºC, que é a temperatura interna da galinha. Quando ocorre a coleta dos ovos, a temperatura deve estar em torno de 24 a 29 ºC e, na sala de ovos da granja, eles ficam armazenados em torno de 21 a 25 ºC. Durante o transporte, em veículos apropriados e climatizados, a temperatura ambiente na qual os ovos estão deve ser em torno de 20 a 23 ºC, e na sala de ovos, no incubatório, a temperatura deve ser de 15 a 19 ºC, dependendo do tempo que os ovos ficarão armazenados (Tabela 2). Outra recomendação é que seja feita a desinfecção dos ovos antes do período do armazenamento, principalmente para evitar a contaminação entre ovos (COBB, 2020b). Tabela 2 – Condições de temperatura e umidade relativa do ar para armazenamento dos ovos Tempo de armazenamento (dias) Temperatura (ºC) Umidade 1 a 6 18 – 19 50 a 60% 7 a 10 16 – 17 50 a 60% Maior que 11 15 – 16 60 a 70% Fonte: COBB, 2020b. Durante o período de armazenamento dos ovos, é indispensável a realização da viragem, a qual é um estímulo importante para o desenvolvimento normal do embrião, que, na natureza, é realizada pela galinha. No incubatório, as bandejas de ovos são inclinadas para os lados uma vez por hora, a fim de atingir um ângulo lateral de 38 a 45 graus e, como resultado, temos maior eclodibilidade. A viragem inadequada dos ovos (frequência ou ângulo), ou sua ausência, resulta em altos níveis de mortalidade embrionária (Aviagen, 2020). Devido às baixas temperaturas utilizadas no período armazenamento, é necessário fazer um período de pré-aquecimento dos ovos, cuja finalidade é evitar possíveis choques de temperatura, pois as temperaturas na máquina incubadora são mais altas, variando entre 37,5 e 37,8 ºC. Os ovos são pré- aquecidos a 24 a 27 ºC, e UR de 65-75% por seis horas, até eles atingirem 26 ºC. No caso de as incubadoras serem de estágio único, os ovos podem ser pré- aquecidos na própria incubadora pelo período de 6 horas, com temperatura ambiente de 26,6 ºC (COBB, 2020a). Depois do pré-aquecimento,os ovos são levados para as incubadoras. Para o correto desenvolvimento dos embriões, as máquinas de incubação devem ter temperatura em torno de 37 ºC e umidade de 65%. A viragem das 11 bandejas dos ovos na incubadora deve ser realizada do segundo ao 16º dia de incubação, com movimentos de 45 graus, de hora em hora. Além disso, é importante que a ventilação seja suficiente para remover o gás carbônico (CO2) oriundo da respiração dos embriões (Rosa, 2021; COBB, 2020a). A transferência dos ovos para o nascedouro ocorre com 18 ou 19 dias de incubação (450 horas), quando os ovos são colocados em cestas para o nascimento dos pintinhos. O tempo dessa transferência deve ser inferior a 20 minutos; nesse momento, pode ser realizada a ovoscopia e a remoção de ovos inférteis. Além disso, também pode ser feita a vacinação in-ovo e a pesagem das bandejas para o cálculo do percentual de perda de peso durante os dias de incubação; perdas médias de peso do ovo de 11 a 12% estão relacionadas a controles de temperatura e umidade corretos durante a incubação (Rosa, 2021; Rosa, 2014). No nascedouro, recomendamos a retirada dos pintinhos das cestas quando 90 a 95% deles estiverem secos. Depois, eles são transferidos para outra sala, na qual passam pela sexagem e vacinação; na sequência, são colocados em caixas com 100 pintinhos, e encaminhados para as granjas. Nessa fase também é realizada a debicagem por infravermelho das poedeira, e é feita a seleção dos pintinhos aptos para serem levados para a granja (Rosa, 2021). Em relação à limpeza e desinfecção do incubatório, recomendamos que todas as salas, máquinas, compartimentos e espaços utilizados no nascimento dos pintinhos sejam devidamente lavados e desinfetados para utilização posterior segura. Após a limpeza e desinfecção dos carrinhos com bandejas de incubação e nascimento, equipamentos e instrumentais, eles devem passar pela secagem para serem novamente utilizados em incubações subsequentes. Os resíduos de incubação devem ser imediatamente acondicionados e encaminhados para compostagem ou para local para beneficiamento (Rosa, 2021). Na Figura 4 são mostradas as partes do ovo com e sem o desenvolvimento embrionário, mostrando em ambos a câmara de ar (air cell), albúmen, gema (yolk), líquido amniótico (amniotic liquid), líquido alantóico (allantoic liquid) e embrião (embryo). 12 Figura 4 – Partes do ovo com e sem a formação do embrião Crédito: Designua/Adobe Stock. 3.1 Eclodibilidade As melhores taxas de eclodibilidade são obtidas quando os ovos são armazenados entre 3 e 6 dias. Na postura, o pH do albúmen é muito baixo para o desenvolvimento embrionário ideal, porém tem a finalidade de proteger o embrião de infecções bacterianas. Após esse período, o armazenamento leva ao aumento do pH do albúmen de 7,6 para 8,8 a 9,2, que é a faixa de pH ideal para o desenvolvimento embrionári; isso ocorre pela liberação do dióxido de carbono (COBB, 2020b). Na Tabela 3 são apresentados os tempos de incubação e eclodibilidade de acordo com o tempo de armazenamento do ovo. 13 Tabela 3 – Eclodibilidade e tempo de incubação de acordo com o número de dias após a postura Dias após a postura Eclodibilidade Tempo de incubação 2 menos 1 a 2 % 21 dias 3 Ideal 21 dias 4 Ideal 21 dias 5 Ideal 21 dias 6 Ideal 21 dias 7 menos 0,5% 21 dias 8 menos 1% Adicionar 1 hora ao tempo de incubação 9 menos 1,5% Adicionar 1 hora ao tempo de incubação 10 menos 2% Adicionar 2 horas ao tempo de incubação 11 menos 3% Adicionar 2 horas ao tempo de incubação 12 menos 4% Adicionar 3 horas ao tempo de incubação 13 menos 5% Adicionar 3 horas ao tempo de incubação 14 menos 6% Adicionar 3 horas ao tempo de incubação 15 menos 7% Adicionar 3 horas ao tempo de incubação Fonte: Elaborada por Pertile, 2022 com base em COBB, 2020b. O principal parâmetro utilizado para mensurar o bom desempenho no incubatório é a eclodibilidade, a qual está relacionada ao número de pintinhos nascidos em relação ao número de ovos incubados (COBB, 2020b), podendo ser calculada pela seguinte fórmula: 𝑒𝑒𝑐𝑐𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑒𝑒 (%) = 𝑛𝑛ú𝑚𝑚𝑒𝑒𝑚𝑚𝑙𝑙 𝑙𝑙𝑒𝑒 𝑝𝑝𝑙𝑙𝑛𝑛𝑝𝑝𝑙𝑙𝑛𝑛ℎ𝑙𝑙𝑜𝑜 𝑒𝑒𝑐𝑐𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑜𝑜 𝑛𝑛ú𝑚𝑚𝑒𝑒𝑚𝑚𝑙𝑙 𝑙𝑙𝑒𝑒 𝑙𝑙𝑜𝑜𝑙𝑙𝑜𝑜 𝑙𝑙𝑛𝑛𝑐𝑐𝑖𝑖𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑜𝑜 × 100 Entre os fatores responsáveis pela perda de qualidade dos ovos durante o armazenamento estão as trocas gasosas entre o ovo e o ambiente. Tais trocas ocorrem através dos poros da casca do ovo durante o armazenamento, assim o dióxido de carbono é liberado do ovo para o ambiente, diminuindo sua concentração rapidamente durante as 12 primeiras horas após a postura do ovo, causando uma redução na viscosidade da clara. Quando os ovos são armazenados por mais de 6 dias, as perdas de CO2 e de vapor de água levam a uma menor eclodibilidade. Em ovos armazenados por períodos longos, como 8 dias ou mais, ocorre a degradação da clara, levando à aproximação do embrião na casca do ovo e a perdas embrionárias (COBB, 2020b). Assim, é indispensável conhecer quais são os fatores que influenciam na eclodibilidade, tanto nas granjas de matrizes, como no próprio incubatório. Os principais fatores das granjas de matrizes que influenciam na eclodibilidade, de acordo com Cobb (2020b), são: 14 1. Nutrição da matriz – Problemas nutricionais na dieta materna tendem a estar associados à baixa qualidade do pintinho ou à mortalidade embrionária. 2. Idade da matriz – Matrizes mais velhas (> 55 semanas de idade), produzem ovos com casca mais fina, com menor qualidade da clara na oviposição e maiores taxas de degradação da clara durante armazenamento. 3. Genética – A eclodibilidade pode ser diferente dependendo da linhagem utilizada. 4. Doenças – Algumas doenças aviárias podem causar anormalidades no formato e/ou casca dos ovos (cor e espessura), bem como reduzir a eclodibilidade. 5. Acasalamento – A atividade de acasalamento normalmente diminui com a idade do rebanho, o que pode reduzir a fertilidade e a eclodibilidade dos ovos. 6. Peso corporal – O controle do peso corporal é muito importante para os reprodutores e para as matrizes, sendo que reprodutores acima do peso têm maiores dificuldades para acasalar, e esse é um problema se agrava com a idade. 7. Manuseio do ovo – Danos causados à casca e à cutícula dos ovos levam a uma maior perda de umidade, resultando em queda na eclodibilidade e na qualidade do pintinho, além da rachadura ser um local de entrada para microrganismos patogênicos. Colocar ovos com a ponta mais pontiaguda para cima e manuseio descuidado também podem reduzir a eclodibilidade. 8. Higienização dos ovos – Os ovos de chão são mais propensos a rachaduras, contaminação fecal e a maior contagem de bactérias na casca, podendo levar a uma menor eclodibilidade e, até mesmo, à contaminação de outros ovos. 9. Armazenamento dos ovos – O tempo de armazenamento, a temperatura e a umidade relativa durante o armazenamento podem afetar negativamente a eclodibilidade. 10. Manejo nas incubadoras e nascedouros – A precisão dos parâmetros ambientais, como temperatura, umidade e a ventilação nas incubadoras e nascedouros é fundamental para a obtenção da eclodibilidade ideal. 15 Temperaturas muito altas podem causar incubação precoce, pintinhos desidratados, absorção reduzida do saco vitelino e umbigo não cicatrizado; temperaturas muito baixas, por sua vez, podem reduzir a qualidade do pintinho e causar atrasos na janela de incubação. A umidade tem um grande impacto na qualidade do pintinho, pois a perda adequada de umidade leva ao aumento do tamanho da célula de ar, permitindo que o pintinho se desenvolva na posição adequada, reduzindo a vermelhidão ou ferimentos nos jarretes. A ventilação adequada é fundamental para obteruma boa incubação e produzir pintinhos de qualidade, sendo que a ventilação incorreta pode reduzir a disponibilidade de oxigênio necessário para o desenvolvimento embrionário, além de levar ao superaquecimento de ovos ou pintinhos, o que pode levá-los a uma predisposição à ascite (acúmulo de líquidos na cavidade abdominal). TEMA 4 – HIGIENE E PROFILAXIA NAS GRANJA AVÍCOLAS A biosseguridade pode ser definida como um conjunto de medidas para diminuir a entrada e transmissão de patógenos dentro da granja. Um programa de biosseguridade deve ser composto por normas e diretrizes operacionais, com o objetivo principal de minimizar a entrada de microrganismos patogênicos nas granjas, incluindo até endo e ectoparasitas. Para isso, é feito um planejamento, com etapas ou práticas, de forma a inibir ou reduzir a entrada de microrganismos patogênicos nesses locais (Avila et al., 2017; Andreatti Filho; Patrício, 2004). A biosseguridade está diretamente relacionada à saúde animal; ela é um conjunto de normas flexíveis e adaptáveis às mudanças na produção animal. Pode ser definida como o conjunto de normas e ações relacionadas com a saúde humana, as quais são inflexíveis e são cada vez mais rigorosas, preconizando 100% de segurança alimentar (Sesti, 2004). Entre as boas práticas de biosseguridade estão: as vacinações, a limpeza e a desinfecção das instalações; cuidados com as possíveis fontes de contágio; controle diário das condições das aves, monitoramento da mortalidade e a identificação de sintomas de doenças; e, a aquisição das aves de incubatórios idôneos (UBA 2008; Andreatti Filho; Patrício, 2004). Assim, algumas medidas de biosseguridade, de acordo com Avila et al. (2017), Bonatti e Monteiro (2008), Mazzuco et al. (2006), e Andreatti Filho e Patrício (2004), são descritas a seguir. 16 1. Localização da granja – Manter o sistema de produção isolado e distante de outros sistemas de produção animal (Tabela 4). Caso a granja possua aves de idades diferentes, elas devem ser alojadas em galpões separados. A granja deve ser construída próxima a uma fonte de água; devemos evitar a transmissão de patógenos entre granjas pelo vento, com o conhecimento dos ventos dominantes e utilizando barreiras físicas para patógenos, como cercar a granja com árvores. Tabela 4 – Distâncias mínimas entre estabelecimentos avícolas Estabelecimentos Distância mínima (m) Entre granja de reprodução e abatedouro ou fábrica de ração 3.000 Entre granjas de reprodução de aves 3.000 Entre galpões e limites periféricos da propriedade 200 Entre galpões e a estra vicinal 500 Entre galpões com aves de diferentes idades 500 Entre recria e produção 500 Fonte: Brasil, 2007. 2. Controle da entrada de pessoas e veículos – A granja deve ter uma única entrada, com controle da entrada de pessoas e veículos, além de um ponto de desinfecção de veículos na entrada (rodolúvio), e pedilúvio, para desinfecção dos calçados. A granja deve dispor de infraestrutura para a troca de roupas, calçados e visitas técnicas. 3. Aquisição de animais – As pintainhas de um dia ou frangas recriadas devem ser provenientes de estabelecimentos avícolas de reprodução registrados e em conformidade com a legislação vigente. No incubatório e na granja, deve ser implementado um programa vacinal que atenda à legislação vigente e aos desafios sanitários locais. 4. Vacinação – É uma importante medida de biosseguridade, a qual deve seguir a legislação em vigor e utilizar vacinas registradas e aprovadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). 5. Ração e água – A água fornecida às aves deve ser limpa, fresca, livre de patógenos e em quantidade adequada. A análise da água deve ser feita anualmente. A ração deve ser balanceada para atender às exigências nutricionais de cada fase, seguindo as normas de boas práticas de fabricação de ração. Além disso, os ingredientes e as rações devem ser armazenados em locais limpos e higienizados, evitando contaminação e a umidade em excesso, além da presença de animais e pragas. 17 6. Cama – Os cuidados com a cama começam com a obtenção de um material livre de agentes patogênicos e de produtos químicos que possam fazer mal aos animais, além do tamanho adequado das partículas para não causar problemas respiratórios nas aves. Além disso, é importante fazer o correto manejo da cama, retirando as partes com excesso de umidade e verificando, periodicamente, possíveis problemas. Após a finalização do lote, a cama deve passar pelo processo de fermentação, sendo recomendado que a cama seja reutilizada somente se não tiver acontecido nenhum problema sanitário no lote. 7. Destino de resíduos – A granja deve ter um local apropriado para destinação das carcaças de aves mortas e ovos descartados, como composteira, ou outros métodos capazes de inativar microrganismos patogênicos, respeitando a legislação ambiental vigente. 8. Controle de insetos, roedores e aves silvestres – Os insetos, roedores, aves silvestres ou outros animais, são fontes de transmissão de microrganismos patogênicos nas granjas, por isso devem ser mantidos longe das instalações dos animais e dos locais de armazenamento de rações. Para o controle desses vetores, é importante colocar telas, com malha não superior a 2,54 cm nos galpões abertos, para impedir a entrada de aves; além de cerca de isolamento em volta do galpão, com altura mínima de 1 m, com afastamento de, no mínimo, 5 m entre a cerca e o galpão, para impedir a entrada de animais. Além disso, é muito importante a limpeza ao redor das instalações, com correta destinação de lixo e resíduos. A granja deve possuir controle de pragas e roedores. 9. Limpeza e desinfecção – É um conjunto de procedimentos que visam diminuir a quantidade de microrganismos patogênicos no ambiente de criação. Preferencialmente, o manejo das aves deve ser “todos dentro, todos fora”, ou seja, o lote deve iniciar e terminar o ciclo de produção junto, a fim de que seja feito o vazio sanitário entre lotes. Ao final de cada lote, após a saída das aves, a cama e todos os equipamentos do aviário devem ser retirados; deve, ainda, ser feita a varrição do teto, paredes, telas, pisos e áreas adjacentes ao aviário; em seguida, deve ser passada a vassoura de fogo nas telas, piso e onde for possível dentro do aviário. Os equipamentos, como comedouros, bebedouros e cortinas, devem ser lavados com água e detergente, assim como toda a instalação quando for 18 possível retirar a cama. Após a limpeza e desinfecção, deve ser feito o vazio sanitário de pelo menos 15 dias. Antes de alojar o próximo lote, devemos colocar cama nova, limpa e seca. Após esse período, pode ser feita uma nova desinfecção, deixando o aviário fechado por mais dois dias antes da preparação para a chegada do novo lote de pintinhos. Na Tabela 5, são apresentados alguns princípios ativos de desinfetantes, seus derivados e os principais locais de aplicação na granja de aves. Tabela 5 – Desinfetantes, derivados e principais locais de uso na granja de aves Desinfetantes Derivados Local de uso Fenóis Cresóis Pisos, paredes, telhados, telas, pedilúvios, rodolúvios e na presença de matéria orgânica Halogênicos Cloro Caixas d’água, encanamentos Iodo Pisos, paredes, telhados, pedilúvios, rodolúvios Aldeídos Formaldeído, Glutaraldeído Pisos, paredes, telhados, telas, equipamentos Agentes tensoativos Compostos de amônio quaternário Caixas d’água, encanamentos, pisos, paredes, telhados, telas pedilúvios, rodolúvios, equipamentos Álcalis Hidróxido de sódio Pisos, paredes, teto Óxido de Cálcio Pisos, paredes, teto Fonte: Mazzucco et al., 2006. TEMA 5 – PRINCIPAIS DOENÇAS E VACINAÇÃO EM AVES A doença de Marek é causada por um herpesvirus oncogênico da família Herpesviridae. Os sinais clínicos são pupilas irregulares e dificuldade de locomoção, podendohaver a presença de aves com pernas esticadas em sentidos opostos e mortalidade variável. Pode ocorrer em aves de todas as idades, porém, geralmente ocorre entre a quinta e a décima semana de vida das aves. A transmissão ocorre por contato direto ou indireto entre as aves, acontecendo, principalmente, por via respiratória de uma ave para outra, por meio da inalação de poeira contaminada com descamações da pele contendo o vírus. Como o vírus tem facilidade de sobreviver por longos períodos no ambiente, a melhor medida de biosseguridade é a vacinação, além das medidas de higiene e desinfecção das instalações (Jaenish, 2021; Torres, 2017; Mazzucco et al., 1997). A bronquite infecciosa é uma doença causada por um vírus da família Coronaviridae (que pertence ao gênero Coronavirus). Os sinais clínicos em aves jovens são espirros, estertores (“ronqueira”), corrimento nasal e ocular, depressão e redução no consumo de ração. Em aves na fase de postura, pode 19 ocorrer decréscimo nos índices de postura, com o aparecimento de ovos com cascas irregulares ou deformadas, ou, até mesmo, sem casca, além de problemas respiratórios. A transmissão ocorre por contágio direto ou indireto entre aves doentes e aves sadias, além de ocorrer por aerossóis, fezes, entre lotes e granjas. O controle é feito por medidas de biosseguridade, como o controle da entrada de pessoas na granja, além da vacinação com vacinas atenuadas e inativadas (Monteiro; Rossini, 2004; Mazzucco et al., 1997). A influenza aviária é causada pelo vírus da influenza tipo A, família Orthomyxoviridae, e é altamente contagiosa. Os principais sintomas são de ordem respiratória, como tosse, espirros, corrimento nasal e ocular. A transmissão da doença ocorre, principalmente, entre aves infectadas e sadias, pelo contato com as secreções do sistema respiratório e digestivo, e pelo contato com qualquer outra fonte contaminada, como equipamentos, insetos e alimentos, e as aves de vida livre infectadas são uma forma de contágio. O controle da doença é feito pelo isolamento das aves contaminadas, pelo uso de medidas de higiene e desinfecção, pois o vírus não resiste ao uso de desinfetantes, controle da entrada de pessoas na granja, que devem usar roupas limpas e, de preferência, tomar banho antes de entrar nos galpões de aves (Jaenish, 2021; Ito et al., 2004). A doença de Newcastle é uma doença aguda, de alta contagiosidade, que ocorre em aves jovens e adultas, selvagens ou domésticas. É causada por um vírus pertencente à família Paramyxoviridae. Os sinais clínicos são anorexia, diarreia, sinais respiratórios (espirros, estertores, corrimento nasal e ocular, dificuldade respiratória) ou sinais nervosos (dificuldade de locomoção, paralisia, torcicolo). A mortalidade é variável, podendo atingir até 100% do plantel. Nas aves em produção, pode ocorrer quedas acentuadas de postura, com ovos de baixa qualidade, deformados e irregulares. A principal medida de controle é a vacinação das aves (Jaenish, 2021; Mazzucco et al., 1997). A doença de Gumboro também é conhecida como doença infecciosa da Bursa; trata-se de uma infecção aguda e contagiosa que acomete aves jovens. Essa doença afeta o tecido linfoide da Bursa de Fabricius, levando à imunossupressão, além dos sinais clínicos de depressão, diarreia, diminuição no consumo de alimento e desidratação. Assim, após o surto, o lote fica propenso a contrair outras infecções, e seu desenvolvimento fica comprometido. A transmissão ocorre, principalmente, por via oral, podendo ocorrer também pelas 20 vias respiratória e ocular. O controle é feito pela vacinação das matrizes e dos pintinhos entre a primeira e a terceira semana de vida, com vacinas via água, além da adoção de medidas de higiene e desinfecção (Jaenish et al., 2021; Padilha, 2005; Mazzucco et al., 1997). A varíola aviária, também chamada de bouba aviária, é causada por um vírus do gênero Avipoxvirus, pertencente à família Poxviridae. A doença ocorre de duas formas: cutânea, na qual ocorrem lesões cutâneas; ou, na forma diftérica, causando lesões no trato digestivo. A transmissão ocorre de forma direta, pelo contato entre aves sadias e doentes e, de forma indireta, por mosquito e pelo ambiente contaminado. Entre as medidas de controle está a vacinação dos lotes no incubatório, com cepa suave, com a vacina de Marek. Deve-se fazer uma revacinação com uma cepa forte, via punção da asa na sétima semana de vida das aves. Também é importante isolar as aves infectadas, fazer o controle de insetos, além das medidas de higiene e desinfecção (Silva, 2016; Mazzucco et al., 1997). A micoplasmose é uma das doenças com destaque em frangos de corte e poedeiras. Os sinais clínicos incluem a presença de espirros, estertores, descarga ocular e nasal, aumento da conversão alimentar, diminuição no consumo de ração e produção de ovos. Além disso, pode causar diminuição na eclodibilidade dos ovos, devido a lesões no trato respiratório dos embriões. A transmissão ocorre pelo contato entre aves susceptíveis e contaminadas por aerossóis ou gotas contaminadas que penetram em seu trato respiratório, além da contaminação dos ovos durante sua formação em aves contaminadas. O controle é feito pela aquisição de lotes livres de micoplasma, uso de práticas de biosseguridade, como o controle de roedores e aves silvestres, e cuidados de higiene, pois esse microrganismo pode sobreviver fora do corpo da ave, e o contágio pode ocorrer por meio de roupas e equipamentos contaminados (Monteiro; Rossini, 2004; Silva, 2005; Mazzucco et al., 1997). A salmonelose é uma doença que pode ser causada por várias espécies de salmonela. Os sorotipos mais importantes para a avicultura são a Salmonella gallinarum e a Salmonella pullorum, ambas bactérias Gram negativas. A Salmonella gallinarum é a causadora da doença conhecida como tifo aviário, que ocorre de forma muito frequente em criações nas quais as medidas de biosseguridade são precárias, levando a grandes perdas nos plantéis e acometendo, preferencialmente, aves adultas. Os sinais clínicos do tifo aviário 21 são a redução da produção, perda de apetite, sonolência, penas arrepiadas, febre alta, palidez de crista e barbela, com alta mortalidade. A Salmonella pullorum é a bactéria causadora da pulorose, que ocorre principalmente em aves jovens. Seus principais sinais clínicos são a perda de apetite, sonolência, asas caídas, penas arrepiadas, febre alta, diarreia e alta mortalidade. A transmissão pode ocorrer entre aves, sendo que alguns insetos são reservatórios da doença. O controle é feito por medidas de biosseguridade na granja de matrizes, incubatório e granjas de frangos de corte e poedeiras, controle de entrada de pessoas nas granjas, na produção das rações, controle de insetos e roedores, além de medidas de higiene, desinfecção e vazio sanitário de 45 dias. É importante destacar que a Salmonella enteritidis e Salmonella tiphimurium, as quais causam enterites (inflamação da mucosa intestinal) de origem alimentar em humanos, causando sintomas como náusea, diarreia e falta de apetite, mas não levam a sinais clínicos em aves (Stella et al., 2021; Ito et al., 2004; Mazzucco et al., 1997). A colibacilose é uma doença causada pela bactéria denominada Escherichia coli. Pode levar a problemas respiratórios, inflamação do umbigo dos pintinhos (onfalite) e enterites. Como consequência, pode ocorrer a desuniformidade e o aparecimento de animais refugos no lote. A contaminação dos ovos pode ocorrer pelo depósito de fezes na casca dos ovos a serem incubados. Para o controle da doença, devemos evitar que os ovos sujos ou de cama sejam utilizados na incubação, além da aquisição de pintinhos livres de contaminação, aquisição de matéria-prima e ração de boa qualidade, tratamento da água de beber com cloro, pulverizações do ambientecom desinfetantes diluídos em água, limpeza e desinfecção das instalações. Também deve ser dada uma atenção especial à higienização do incubatório (COBB, 2020a; Silva, 2004; Mazzucco et al., 1997). A coccidiose é causada por protozoários do gênero Eimeria, e acomete as aves em qualquer idade, podendo levar a grandes perdas econômicas. Os sinais clínicos variam de acordo com o tipo de Eimeria e com a gravidade da doença. Pode causar diversos transtornos, como lesões no intestino, diarreias, manchas de sangue nas excretas, ração não digerida nas excretas, desidratação, anemia, apatia, sonolência, penas arrepiadas e perda variável de apetite. Como consequência, pode haver aumento da conversão alimentar e lesões intestinais crônicas e irreversíveis. Em casos mais graves, pode levar à 22 morte. A transmissão ocorre principalmente pela contaminação do ambiente, que ocorre devido ao fato de as aves contaminadas eliminarem oocistos de Eimeria no ambiente, os quais são eliminados por várias semanas após a infecção e sobrevivem no ambiente, podendo ocorrer também por vetores como homem e insetos. As medidas de prevenção da doença incluem o uso de vacina via spray no incubatório, e via ração ou água nos primeiros dias de vida, além de medidas higiênico-sanitárias para controlar a umidade na cama, e a presença de moscas e cascudinhos, os quais são vetores da doença (Hy-Line, 2019; Ito et al., 2004; Mazzucco et al., 1997). 5.1 Vacinação A vacinação é uma medida preventiva de doenças, devendo fazer parte dos programas de biosseguridade, seguindo os calendários recomendados para a região na qual a granja está localizada. As vias de administração das vacinas são a ocular, nasal e injetável, que são aplicadas individualmente; a oral e a nebulização são aplicadas coletivamente. Os métodos via ocular ou nasal exigem grande manipulação das aves, e para diminuir o estresse causado é recomendado que isso seja feito com outros manejos que exigem a manipulação das aves (Jaenish, 2003). Algumas vacinas são aplicadas na membrana da asa, na qual é utilizado um estilete específico para perfurá-la embebido na vacina; essa via de vacinação é utilizada para a bouba aviária (varíola aviária) e cólera aviária. Os métodos de vacinação injetáveis são basicamente divididos em intramuscular e subcutânea (Jaenish, 2003). Outro tipo de vacinação é a vacinação in ovo, que é feita no incubatório quando os ovos são transferidos das incubadoras para o nascedouro, ou seja, entre o 18º e 19º dia de incubação. Esse método é utilizado principalmente para a vacina de Marek (COBB, 2020b). As vacinas administradas por via oral podem ser fornecidas na água ou ração, sendo esse um método bastante prático. Na vacinação via água de beber, é importante retirar desinfetantes, como o cloro, e medicamentos da água de 24 a 48 horas antes da vacinação, e fazer a limpeza dos bebedouros e do encanamento com água limpa e sem desinfetantes. O horário mais recomendado é no período na manhã, a fim de diminuir o estresse das aves; antes do fornecimento da vacina, deve-se fazer um jejum hídrico das aves entre 23 uma (clima quente) e duas horas (clima frio). A administração via ingestão de ração é feita para algumas doenças, como a coccidiose; para isso, é pulverizada a vacina sobre a ração a ser consumida no primeiro dia de vida dos pintinhos, e é recomendado que os medicamentos e os desinfetantes sejam retirados da água antes, e até 24 horas após o consumo da ração com a vacina (COBB, 2020b; Jaenish, 2003). Por fim, a última forma de administração das vacinas é por aspersão ou via spray. A aspersão é utilizada principalmente para doenças respiratórias, para estimular a imunidade local (nasal, oral e conjuntiva ocular). A ventilação deve ser desligada e, no caso dos galpões abertos, as cortinas devem ser fechadas, assim a nebulização será feita utilizando o próprio sistema de nebulização do aviário. As vacinas por spray podem ser administradas no próprio incubatório, sendo esse método utilizado para as doenças respiratórias e para a coccidiose. Além disso, as vacinas contra doenças respiratórias podem ser aplicadas nas granjas via pulverizador costal (COBB, 2020b; Jaenisch, 2003). Na Tabela 6 há um exemplo de cronograma de vacinação para poedeiras. Tabela 6 – Exemplo de programa de vacinação para poedeiras Idade (dias) Doença Via 1 Marek Subcutânea 1 Bouba Subcutânea 7 Newcastle Gota ocular 7 Bronquite Gota ocular 7 Gumboro Gota ocular 35 Newcastle Gota ocular 35 Bronquite Gota ocular 35 Gumboro Gota ocular 49 Salmonela Intramuscular 49 Coriza Intramuscular 70 Bouba Membrana da asa 70 Bronquite Gota ocular 70 Gumboro Gota ocular 100 Coriza Intramuscular 100 Encefalomielite Oral (água) 100 Salmonela Intramuscular Fonte: Elaborada por Pertile, 2022 com base em Ávila et al., 2017. FINALIZANDO O sucesso da produção de matrizes depende de uma boa produção de ovos incubáveis, a partir dos quais devem ser obtidos pintinhos de qualidade e uma boa taxa de eclodibilidade. Assim, desde o alojamento das matrizes e reprodutores, o manejo é realizado para que eles tenham um bom 24 desenvolvimento e ganho de peso adequados, o que refletirá nos resultados obtidos com sua reprodução. O manejo inicial é bastante semelhante ao realizado nos frangos de corte e nas poedeiras criadas em piso. É na fase de recria que ocorre a preparação da ave para a produção; assim, é muito importante o acompanhamento do peso das aves, a verificação do crescimento ósseo e a uniformidade do lote, pois todas essas são variáveis que vão impactar a reprodução. A nutrição das matrizes antes, durante e depois do pico de produção é muito importante, pois no pico de produção há uma maior demanda por nutrientes; após o pico, devemos cuidar para que as aves não ganhem peso. O programa de luz da fase de produção é crescente e constante, para estimular o crescimento dos órgãos reprodutivos e a produção de ovos. Por fim, são muitos os fatores que interferem na produção de ovos incubáveis, mas não menos importantes são os fatores que interferem na taxa de eclosão após a oviposição, como o armazenamento na granja, transporte, armazenamento no incubatório, classificação dos ovos, pré-aquecimento antes da incubação, incubação, e os manejos após o nascimento dos pintinhos, como a seleção dos indivíduos saudáveis, vacinação e sexagem. Em relação à biosseguridade, é muito importante fazer o correto manejo de limpeza, desinfecção e vazio sanitário das instalações, pois isso diminui a carga de microrganismos dentro dos galpões, além do correto manejo da cama. A aquisição de animais deve ser feita de incubatórios idôneos, pois os pintinhos e pintainhas devem ser livres das principais doenças, devendo ser vacinados ainda no incubatório, seguindo o cronograma de vacinação recomendado pelos órgãos oficiais responsáveis para cada região. Entre outras medidas de biosseguridade estão o controle de roedores, insetos e aves silvestres, controle de qualidade da ração e da água, destinação correta de resíduos e a vacinação. A vacinação das aves pode ser feita por diversas vias, sendo algumas coletivas, como a via oral (água ou ração), nebulização ou spray; e, individuais, como a ocular ou nasal, injetáveis (intramuscular ou subcutânea) e na membrana da asa, as quais se aplicam aos diferentes tipos de vacinas utilizados na avicultura. 25 REFERÊNCIAS ALBINO, L. F. T. et al. Galinhas poedeiras: criação e alimentação. Viçosa: Aprenda Fácil, 2014. ANDREATTI FILHO, R. L.; PATRÍCIO, I. S. Biosseguridade da granja de frangos de corte. In: MENDES, A. A.; NAAS, I. A.; MACARI, M. Produção de frangos de corte. Campinas: Facta, 2004. P. 205-260. AVIAGEN. Dicas de incubação. 2020. Disponível em: <https://pt.aviagen.com/assets/Tech_Center/BB_Foreign_Language_Docs/Port uguese/HatcheryTips-PT.pdf>.Acesso em: 14 nov. 2022. AVILA, V. 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