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BOVINOCULTURA DE CORTE E 
LEITE 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Amanda Louise Bruzamolin Oliveira 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Aqui, vamos abordar a fisiologia da reprodução dos bovinos e alguns 
fatores que influenciam o melhoramento genético. 
Vamos iniciar conhecendo a fisiologia da reprodução dos bovinos, uma 
área de estudo fundamental para a bovinocultura, já que é por meio da 
reprodução que garantimos a perpetuação da espécie e o desenvolvimento de 
novas raças. O conhecimento das fases do ciclo estral, dos mecanismos da 
ovulação, da fecundação e da gestação permite o planejamento da atividade 
reprodutiva, maximizando a eficiência e o sucesso dos programas de 
reprodução. 
Em seguida, vamos analisar o funcionamento da avaliação reprodutiva, 
uma etapa importante para a gestão da criação de bovinos, pois permite 
identificar as fêmeas que apresentam maior potencial reprodutivo e, assim, 
selecionar os animais mais aptos para a reprodução. Além disso, a avaliação 
reprodutiva fornece informações sobre a qualidade do sêmen dos touros, 
possibilitando a escolha dos animais que apresentam maior capacidade 
genética. 
No terceiro tópico, vamos abordar os métodos de reprodução em bovinos, 
que incluem reprodução natural, inseminação artificial e fertilização in vitro. Cada 
um deles apresenta vantagens e desvantagens, que devem ser consideradas na 
escolha do método mais adequado para a produção de uma determinada raça. 
É importante destacar, ademais, que a utilização de técnicas de reprodução, 
como a inseminação artificial, possibilita a utilização de touros de alto valor 
genético, viabilizando a melhoria genética da raça. 
Em seguida, vamos conhecer os principais sistemas de cruzamentos 
existentes, como funcionam e quais as suas vantagens e desvantagens para a 
produção de rebanhos de corte e leite. Por fim, vamos concluir entendendo o 
que é melhoramento genético e quais as formas de utilizar o seu potencial para 
melhorar a produção de leite e carne em nosso país. 
TEMA 1 – FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO DOS BOVINOS 
A fisiologia da reprodução em bovinos é uma área importante da ciência 
animal, pois afeta a produção de alimentos e a eficiência da criação de gado. A 
compreensão da fisiologia dos órgãos reprodutivos em machos e fêmeas permite 
 
 
3 
a implementação de práticas de manejo eficientes, para maximizar a taxa de 
concepção e a produção de descendentes saudáveis, aumentando 
consequentemente a produtividade do rebanho. 
Para estudar a fisiologia da reprodução, vamos analisar em separado a 
fisiologia dos machos da fisiologia das fêmeas. 
1.1 Fisiologia reprodutiva dos machos 
As células sexuais masculinas, chamadas espermatozoides, são 
produzidas em grande quantidade, de forma contínua, nos túbulos seminíferos 
dos testículos, por meio de um processo chamado espermatogênese. Esse 
processo se divide em duas fases: a espermatocitogênese e a espermiogênese. 
Para que estejam aptos para a reprodução, os espermatozoides precisam de 
aproximadamente 64 dias, que é o tempo necessário para que as 
espermatogônias (células-tronco) sejam transformadas em espermatozoides 
capacitados (Swenson; Reece, 2017). 
A espermatocitogênese é a fase proliferativa da espermatogênese. 
Nessa fase, as espermatogônias se multiplicam por meio de uma série de 
divisões mitóticas, seguidas de divisões meióticas, gerando os espermatócios 
secundários, com uma contagem haploide (n) de cromossomos. Esse processo 
resultará em 64 espermátides haploides (Hafez; Hafez, 2004). 
O termo espermátide é utilizado para descrever as células resultantes da 
segunda divisão meiótica. Após a conclusão das divisões, as espermátides 
resultantes iniciam a segunda fase da espermatogênese, chamada 
espermiogênese ou fase de maturação. 
Na espermiogênese, as espermátides sofrem diversas alterações 
funcionais, incluindo modificações nucleares e citoplasmáticas; e alterações 
estruturais, como o desenvolvimento de cauda (flagelo), que a transforma de 
uma célula imóvel para uma célula potencialmente móvel. “As espermátides 
maduras formadas durante a última fase da espermiogênese são liberadas no 
lúmen dos túbulos seminíferos na forma de espermatozoides” (Swenson; 
Reece, 2017, p. 1452). Esse processo de liberação das espermátides maduras 
no lúmen dos túbulos seminíferos é chamado de espermiação. 
 
 
 
4 
Figura 1 – Espermatogênese 
 
Crédito: Ali DM/Shutterstock. 
Apesar de possuírem cauda, os espermatozoides recém-formados ainda 
são praticamente imóveis. “Eles são transportados ao epidídimo pelas secreções 
líquidas dentro dos túbulos seminíferos e da rede testicular e pela atividade dos 
elementos contráteis dos testículos, que direcionam este líquido para a cabeça 
do epidídimo” (Swenson; Reece, 2017, p. 1454). 
Ao longo do caminho dos espermatozoides pelo epidídimo, a capacidade 
de fecundação de um animal é progressivamente alcançada por meio de 
algumas alterações, que incluem o desenvolvimento de motilidade unidirecional, 
modificações da cromatina nuclear (complexo DNA-proteína) e alterações do 
tipo de superfície da membrana plasmática (Swenson; Reece, 2017). 
Nos machos, o controle hormonal é conduzido pela ação do GnRH 
(hormônio liberador de gonadotrofina), que estimula a produção de FSH 
(hormônio folículo-estimulante), que por sua vez age nas células de Sertoli, nos 
túbulos seminíferos, resultando na espermatogênese. Além disso, a secreção de 
LH (hormônio luteinizante) estimula a produção de testosterona pelas células de 
Leydig. As células de Sertoli também produzem inibina, que exerce um feedback 
negativo sobre o FSH. A testosterona é responsável por desenvolver os 
 
 
5 
caracteres sexuais secundários e por inibir a liberação de LH, o que suprime a 
liberação pulsante do GnRH pelo hipotálamo. 
Para mais detalhes sobre a espermatogênese e a produção hormonal dos 
machos, sugerimos a leitura do item “Espermatogênese”, do capítulo 52, 
“Reprodução Masculina dos Mamíferos”, de Swenson e Reece (2017). 
1.2 Fisiologia reprodutiva das fêmeas 
O processo através do qual as células sexuais femininas, chamadas 
óvulos, são produzidas nos folículos ovarianos, se chama oogênese. 
Diferentemente dos espermatozoides, os óvulos não são produzidos de forma 
contínua. No momento de seu nascimento (ou logo após), a fêmea já apresenta 
um número fixo de ovócitos primários (células precursoras do óvulo) formados 
nos ovários. Esse é o número total que ela terá disponível ao longo da vida 
(Colville, 2010). 
Os ovócitos primários se mantêm inativos e imaturos, em estado de 
meiose interrompida, até que sejam recrutados como parte do ciclo ovariano no 
momento da ovulação, quando a meiose recomeça (Colville, 2010; Swenson; 
Reece, 2017). 
Cada ciclo ovariano, dependendo da espécie, produz um ou mais óvulos 
maduros, pois a ovogênese é projetada para produzir apenas uma pequena 
quantidade de óvulos por vez, uma vez que é o espermatozoide que vai se dirigir 
para a fertilização (Colville, 2010). 
A prenhez ocorre quando um óvulo maduro e um espermatozoide maduro 
se encontram na tuba uterina da fêmea, resultando na fertilização. Para que isso 
ocorra, a cópula deve ser coordenada no correto momento do ciclo estral, 
quando a fêmea está receptiva ao macho. 
Segundo Colville (2010, p. 846), em todos os animais domésticos comuns 
o acasalamento ocorre somente durante um período pré-definido em cada ciclo 
reprodutivo, no momento em que a chance de uma gestação bem-sucedida é 
maior. “Este período, em que a fêmea está receptiva ao macho, é denominado 
período de cio, ou estro, e é caracterizado por alterações físicas e 
comportamentais que informam a “janela de oportunidade” para o acasalamento 
com o macho”. 
O ciclo estral é o período que decorre entre o início de um cio e o início 
do cio seguinte. “Ele é controlado pelos hormônios da hipófise, o FSH e o LH. 
 
 
6 
Esses hormôniosestimulam a atividade nos ovários, fazendo com que uma ou 
mais células reprodutivas (óvulos) amadureçam e sejam liberadas” (Colville, 
2010, p. 846). Além disso, eles também estimulam a produção hormonal do 
folículo em desenvolvimento (estrógenos) e do corpo lúteo (progestágenos), 
após a ovulação. 
Ao longo do ano, as vacas apresentam vários ciclos hormonais com 
duração de 18 a 24 dias (em média 21 dias), que se sucedem sem interrupções. 
Ao longo desse ciclo, encontramos: fase folicular, que compreende o 
crescimento folicular, o cio e a ovulação; e fase luteínica, quando há ação 
predominante da progesterona produzida pelo corpo lúteo, que se subdivide em 
outras quatro fases: proestro, estro, metaestro e diestro. 
• Proestro: esta fase tem duração média de 3 dias. É o período de 
desenvolvimento folicular, quando ocorrem manifestações não 
detectáveis ao olho humano, mas detectáveis por um touro ou rufião. É 
nesta fase que normalmente as fêmeas montam nas companheiras, mas 
ainda não se deixam montar pelos reprodutores. O proestro inicia com a 
regressão do corpo lúteo e termina no princípio do estro (Hafez; Hafez, 
2004). Segundo Fails (2019, p. 353): 
o folículo ovariano (sob a influência de FSH e LH) aumenta de tamanho 
e começa a secretar estrógenos. [...] Os estrógenos absorvidos dos 
folículos para o sangue estimulam aumentos da vascularidade e do 
crescimento celular da genitália tubular na preparação para o estro e a 
prenhez. Mais tarde, no proestro, a parede vaginal se espessa e a 
vascularidade da genitália se amplia (p. ex., edema e vermelhidão) em 
preparação para a cópula. Em algumas espécies, a vulva libera uma 
secreção mucosa no fim do proestro. 
• Estro: é o período de receptividade sexual da fêmea (Figura 2), conhecido 
como cio, com duração entre 4 e 24 horas (média de 18 horas). Esta fase 
inicia com a elevação dos estrógenos provenientes de folículos maduros 
pouco antes da ovulação. O alto nível de estrógeno causa alterações 
físicas e comportamentais, como inquietação, vocalizações frequentes, 
levantamento da cauda e micção e diminuição da ingestão de alimentos 
e da produção de leite. Tais alterações sinalizam ao macho a disposição 
para o acasalamento. A ovulação ocorre cerca de 30 horas após o início 
do estro comportamental, o que condiz com a fase final do estro (Hafez; 
Hafez, 2004; Colville, 2010). 
 
 
 
7 
Figura 2 – Vaca em período de receptividade sexual aceitando a monta 
 
Crédito: ymgerman/Shutterstock. 
• Metaestro: fase pós-ovulatória, quando ocorre a formação do corpo lúteo. 
“As células da granulosa remanescentes no folículo vazio começam a se 
multiplicar sob estímulo do LH. Rapidamente produzem uma estrutura 
sólida, o corpo lúteo (corpo amarelo), do mesmo tamanho que o folículo 
maduro” (Colville, 2010, p. 847). Segundo Fails (2019, p. 353), “durante 
esse período, os níveis séricos de estrógenos diminuem e os de 
progesterona se elevam. Um corpo lúteo plenamente desenvolvido exerce 
influência notável sobre o útero”. A espessura do endométrio uterino 
aumenta e a genitália externa retorna ao seu estado antes do estro, 
quando os níveis plasmáticos de estrógenos caem. Esta fase tem duração 
de 3 a 4 dias, durante a qual fêmea não aceita mais a monta. 
• Diestro: esta fase inicia 4 dias após a ovulação e termina com a regressão 
do corpo lúteo. É um período de inatividade reprodutiva, com duração 
média de 14 dias. Segundo Colville (2010, p. 848): 
Se o animal acasalar e se tornar gestante, o corpo lúteo recebe um 
sinal endócrino do embrião em desenvolvimento e continua a existir por 
toda a gestação. Se o animal não estiver gestante, o corpo lúteo 
degenera no final do diestro. O animal volta para o proestro ou o ovário 
fica inativo e o animal entra em anestro. 
 
 
8 
Todos os estágios reprodutivos das fêmeas são controlados por uma 
associação entre o sistema nervoso central e os órgãos reprodutivos. Quando o 
sistema nervoso central recebe estímulos ambientais, sinaliza o fato para as 
gônadas pelo eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. Esse processo ocorre da 
seguinte forma: inicialmente o hipotálamo produz o hormônio liberador de 
gonadotrofinas (GnRH), que estimula a produção de FSH (hormônio folículo 
estimulante) e LH (hormônio luteinizante) (Hafez; Hafez, 2004). O FSH, como 
próprio nome sugere, é o hormônio responsável por induzir o desenvolvimento 
dos folículos ovarianos, enquanto o LH é responsável pela maturação dos 
folículos, além de estimular a produção de estradiol, induzindo à ovulação, que 
leva à formação inicial do corpo lúteo (Hafez; Hafez, 2004). 
Podemos concluir que o pico de LH culmina com a ovulação. Após a 
ovulação, ocorre a formação do corpo lúteo, com produção de progesterona, 
responsável pela manutenção da gestação ou pela preparação para um novo 
ciclo folicular (Hafez; Hafez, 2004). 
De maneira simplificada, a progesterona faz a manutenção do ciclo estral 
da fêmea bovina. Nos casos de concepção, a progesterona produzida pelo corpo 
lúteo manterá a prenhez e inibirá a liberação de GnRH, para que o endométrio 
se prepare para a implantação do embrião (nidação), pelo bloqueio das 
contrações endometriais. Caso não haja fecundação, aproximadamente 16 dias 
após a ovulação ocorrerá a liberação de prostaglandina F2-alfa pelo endométrio, 
o que resulta na destruição do corpo lúteo (luteólise). Assim, ocorre regressão 
do corpo lúteo, com consequente diminuição da secreção de progesterona, 
iniciando uma nova onda folicular (Hafez; Hafez, 2004). 
Para maiores detalhes sobre a fisiologia da reprodução das fêmeas, 
sugerimos a leitura do item “Ciclo estral e fatores relacionados”, do capítulo 53, 
“Reprodução Feminina dos Mamíferos”, de Swenson e Reece (2017). 
TEMA 2 – AVALIAÇÃO REPRODUTIVA 
A avaliação reprodutiva tem o objetivo de analisar a capacidade de 
reprodução de machos e fêmeas, abrangendo tanto a avaliação direta como 
indireta de parâmetros relacionados aos órgãos reprodutivos, além das 
características gerais dos animais, incluindo nutrição e saúde. É importante 
destacar a ligação entre esses fatores para garantir a reprodutibilidade dos 
animais com fins comerciais e produtivos, buscando ainda o melhoramento do 
 
 
9 
rebanho. O manejo reprodutivo eficiente do rebanho bovino envolve análise de 
dados, escolha do momento adequado para a fertilização, escolha do sistema 
de acasalamento, oferecimento de dietas adequadas e controle de doenças. A 
seguir, veremos separadamente como podemos realizar a avaliação reprodutiva 
de machos e fêmeas. 
2.1 Machos 
Fertilidade é a capacidade de gerar filhos normais, o que é essencial para 
o progresso genético e para a alta produtividade. Para que um touro seja 
considerado de alta fertilidade, o exemplar deve ser capaz de, durante 45 dias, 
tendo contato com 30 a 50 fêmeas, fecundar entre 80-85% delas nos primeiros 
21 dias; ainda, o touro deve ser capaz de produzir ao menos 80 bezerros ao ano 
por monta natural, ou milhares por meio da inseminação artificial. 
Muitas vezes, a campo, é difícil o conhecimento das capacidades 
reprodutiva e genética reais do touro, devido a problemas de manejo, 
idade do reprodutor, aspectos relacionados a pastagens, deficiências 
nutricionais ou mesmo a problemas referentes às fêmeas, tais como 
reabsorção embrionária e doenças. Portanto, a única alternativa para 
se determinar o potencial reprodutivo real do touro, é através do exame 
de suas funções reprodutivas. (Silva; Dode; Unanian, 1993) 
Por meio do exame de aptidão reprodutiva, chamado de exame 
andrológico, e com a utilização de métodos adequados, é possível diagnosticar 
anormalidade em um ou mais órgãos genitais, além de problemas físicos ou 
qualidade espermática inferior, dados que ajudam a determinar média ou baixa 
fertilidade, e até mesmo esterilidade. 
O exame andrológico apresenta diversas fases: avaliação zootécnica; 
avaliação do comportamento reprodutivo;exame clínico geral; exame 
andrológico externo e interno; exame espermático; e avaliação das 
características físicas e morfológicas do sêmen (Silva; Dode; Unanian, 1993). 
Cada uma dessas fases compreende diversos exames. Vejamos os principais. 
Na avaliação do comportamento reprodutivo, é feita a análise da libido, 
que evidencia o interesse sexual do touro, a capacidade do touro de efetuar a 
monta nas fêmeas e a dominância social do touro no rebanho. 
No exame físico geral, são analisadas as condições que podem afetar a 
capacidade de monta dos touros, como as condições dinâmicas, a disposição e 
a habilidade de caminhar, as condições dos aprumos dinâmicos e estáticos, a 
 
 
10 
condição nutricional e a habilidade de o animal se alimentar (Hafez; Hafez, 
2004). 
Já no exame físico do trato reprodutivo, são analisados os órgãos 
externos, como o pênis, o escroto e a consistência dos testículos, que devem 
estar dentro da normalidade em termos de tamanho e textura, com ausência de 
lesões, inflamações, infecções e demais patologias. Também são avaliados os 
órgãos internos, como a próstata e as vesículas seminais (Hafez; Hafez, 2004). 
Um exame essencial é a avaliação do perímetro escrotal, um indicador da 
produção espermática e da futura precocidade sexual das filhas e irmãs do touro 
(Hafez; Hafez, 2004). 
Figura 3 – Análise laboratorial do sêmen 
 
Crédito: Tong_stocker/Shutterstock. 
Outro exame fundamental é a avaliação do sêmen (Figura 3), que 
considera as características morfológicas do sêmen e as suas características 
físicas, como volume, aspecto, cor, odor, pH, motilidade, vigor, turbilhonamento, 
concentração e porcentagem de espermatozoides vivos e mortos (Hafez; Hafez, 
2004). 
 
 
 
11 
2.2 Fêmeas 
A avaliação reprodutiva das fêmeas é feita, na maioria das vezes, 
considerando o histórico do rebanho. Geralmente, a seleção reprodutiva é feita 
ao longo das estações reprodutivas, por meio do descarte de fêmeas que 
apresentam problemas. 
O objetivo da avaliação e da seleção reprodutiva é reduzir ao máximo o 
intervalo entre partos. Para isso, é preciso priorizar que a fêmea retorne para a 
reprodução de preferência em menos de 90 dias após o parto. Outros fatores 
importantes são: elevação das taxas de concepção na primeira inseminação, 
para que seja maior que 60%, com número de concepções por inseminação 
menor que 1,5 inseminações/gestações; redução dos índices de aborto para 
menos de 3%, com prevalência da idade de 24 meses para o primeiro parto. 
Esses fatores são influenciados pela genética, mas também por aspectos como: 
nutrição, ambiente, raça, sistema de manejo e status sanitário do rebanho (Valle; 
Andreotti; Thiago, 2000). 
Figura 4 – Vaca limpando seu bezerro recém-nascido 
 
Crédito: goodbishop/Shutterstock. 
 
 
12 
Uma importante ferramenta para a predição da habilidade reprodutiva e 
produtiva das fêmeas bovinas é a avaliação do escore de condição corporal 
(ECC) das vacas, em três períodos: antes da estação de monta, no momento do 
parto e na desmama dos bezerros. Nesses momentos, os requerimentos 
nutricionais para manutenção da prenhez, lactação, ciclicidade estral e ovulação 
são maiores (Short; Adams, 1988). 
Os valores de ECC devem ser mantidos em escores intermediários nas 
fêmeas, pois ECC alto indica desperdício de energia, além de gerar impactos 
negativos sobre a taxa de concepção e acarretar doenças metabólicas (Valle; 
Andreotti; Thiago, 2000). 
Além da avaliação do histórico das fêmeas e do controle de índices 
zootécnicos, é possível realizar avaliações de cada fêmea individualmente, por 
meio da inspeção dos órgãos reprodutivos internos e externos, que devem estar 
dentro da normalidade em termos de tamanho e textura, com ausência de 
lesões, inflamações, infecções e demais patologias (Hafez; Hafez, 2004). 
Para facilitar a compreensão dos índices reprodutivos das fêmeas 
bovinas, analise as tabelas a seguir, que apresentam os índices reprodutivos 
ideais para bovinos de leite e corte. 
Tabela 1 – Índices reprodutivos para bovinos leiteiros 
Índices reprodutivos Ideal 
Período de Serviço 60 dias 
Intervalo entre partos 12 meses 
Vacas em cio 60 dias pós-parto >90% 
Taxa de prenhez ao primeiro serviço 65% 
Idade média ao 1º parto 24 meses 
Fonte: Ferreira, 1991 citado por Pegoraro et al., 2009, p. 14. 
Tabela 2 – Índices reprodutivos para bovinos de corte 
Índices reprodutivos Ideal 
Período de Serviço < 90 dias 
Taxa de prenhes > 90% 
Porcentagem de bezerros nascidos > 93% 
Fonte: Valle; Andreotti; Thiago, 2000. 
 
 
 
13 
TEMA 3 – MÉTODOS DE REPRODUÇÃO 
Hoje em dia, diversos métodos são utilizados na reprodução bovina, 
desde métodos naturais e tradicionais, até métodos modernos e inovadores, que 
utilizam fortemente a biotecnologia. Dentre os métodos utilizados, podemos citar: 
monta controlada; monta a campo; inseminação artificial; transferência de 
embriões; fertilização in vitro; produção de embriões in vitro; transferência 
nuclear; clonagem. 
O método mais simples e natural de reprodução é a monta natural a 
campo, que pode ser realizada em duas diferentes modalidades: a simples, 
quando as vacas são expostas a apenas um macho; e a múltipla, quando são 
expostas a vários touros. Ambos os sistemas apresentam como vantagem o fato 
de não demandarem a identificação do cio ou o transporte de vacas para a 
inseminação, o que ajuda a gerar economia de mão de obra e permite bons 
índices de concepção. O sistema múltiplo apresenta algumas desvantagens: 
desconhecimento da paternidade e desgaste dos machos pelo grande número 
de coberturas (Valle; Andreotti; Thiago, 2000). 
Figura 5 – Monta natural a campo 
 
Crédito: yougoigo/Shutterstock. 
 
 
14 
Para um melhor aproveitamento reprodutivo, atualmente é feita também 
a chamada monta natural controlada, quando a vaca é exposta ao touro, mas 
permitindo apenas uma ou duas montas. Para que essa técnica seja efetiva, 
deve ser realizada a adequada identificação do cio, pois caso a vaca não esteja 
no período de estro de ciclo estral, ela não permitirá a monta. As vantagens 
dessa técnica são o menor desgaste dos touros e o reconhecimento da 
paternidade no caso de prenhez; a desvantagem é o aumento na demanda de 
mão de obra. 
Apesar de os métodos tradicionais apresentarem índices aceitáveis de 
produtividade, a adaptação às novas tecnologias, por meio do desenvolvimento 
de biotecnologias, vem crescendo com o passar dos anos, em busca de 
aumento de produção e produtividade, com foco na redução de custos. 
O papel da biotecnologia é fazer com que os animais venham atingir 
os níveis adequados de qualidade e produtividade que o mercado tanto 
exige, justamente porque as características genéticas dos animais de 
produção podem ser rapidamente alteradas utilizando as técnicas 
biotecnológicas, em comparação aos métodos convencionais de 
seleções, na qual o grande objetivo das biotecnologias é produzir 
animais mais saudáveis e eficientes. (Silva, 2021, p. 43) 
Dentre as técnicas de reprodução assistidas pela biotecnologia, algumas 
se destacam por sua ampla utilização na atualidade. A primeira a ser 
desenvolvida (por volta de 1779) foi a inseminação artificial, que consiste em 
introduzir mecanicamente, com a ajuda de instrumentos específicos, o sêmen no 
aparelho reprodutor da fêmea, para que os espermatozoides fertilizem os 
ovócitos (Silva, 2021). Essa técnica é muito utilizada na reprodução animal, pois 
representa ganho genético do rebanho, pela acurácia e pela intensidade da 
seleção, com uso de touros de alto potencial genético. Além disso, ajuda a 
prevenir doenças sexualmente transmissíveis, por não haver contato direto entre 
o macho e a fêmea. “A pecuária bovina tem utilizado essa técnica em busca das 
vantagens que a mesma traz consigo, na qual um touro tem potencial de 
transferência de material genético capaz de inseminar 100.000 mil fêmeasdurante a vida útil, o que demonstra o grande potencial de disseminação dessa 
genética” (Silva, 2021, p. 44). 
Além de aumentar o número de filhos para cada reprodutor, essa técnica 
reduz os gastos com touros na propriedade, uma vez que é possível adquirir 
diretamente o sêmen do reprodutor escolhido. Ela ainda permite o nascimento 
 
 
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de bezerros após a morte de reprodutores, além de possibilitar a utilização de 
sêmen sexado. 
Nessa técnica, inicialmente é realizada a coleta do sêmen, em geral com 
a utilização de uma vagina artificial (porém existem outras técnicas). Em seguida, 
o sêmen é avaliado em laboratório, para que seja feito um controle de qualidade, 
possibilitando a sua diluição para posterior utilização. A completa análise da 
amostra engloba: avaliação microscópica, que é a análise de volume, cor, 
aspecto e pH do ejaculado; e avaliação microscópica, que observa motilidade, 
morfologia, concentração, turbilhonamento e vigor dos espermatozoides (Silva, 
2021). 
Figura 6 – Coleta de sêmen com vagina artificial 
 
Crédito: Alf Ribeiro/Shutterstock. 
Após a avaliação, se não for utilizado logo em seguida, o sêmen pode ser 
adicionado de crioprotetor para que seja congelado por tempo indefinido, o que 
facilita a logística e a sua utilização. “No congelamento, o sêmen é envasado nas 
palhetas plásticas, essas que são colocadas dentro de botijões com nitrogênio 
 
 
16 
líquido a uma temperatura de -196ºC, sendo que a técnica depende de cuidados 
específicos, que se resume basicamente na melhor escolha do crioprotetor” 
(Silva, 2021, p. 45). 
De forma semelhante, e com as mesmas vantagens da inseminação 
artificial, existe outro método chamado de inseminação artificial em tempo fixo 
(IATF). De maneira geral, o processo é o mesmo, a diferença está no 
acompanhamento da fêmea. Na IATF, é realizado um tratamento hormonal para 
a sincronização da onda folicular, processo capaz de aumentar a taxa de serviço 
para até 100%, apresentando ainda a vantagem de concentração dos partos. 
O sucesso na utilização de inseminação artificial abriu caminho para 
outras tecnologias reprodutivas, como a transferência de embriões (TE), 
relatada pela primeira vez em 1890 com coelhos, ainda que só tenha sido 
utilizada pela primeira vez com bovinos no ano de 1951 (Silva, 2021). 
A TE é uma biotécnica formada por diversas etapas, iniciando com um 
tratamento hormonal em uma fêmea de alta qualidade genética, para que ela 
tenha múltiplas ovulações – ou seja, para aumentar ao máximo o número de 
ovócitos. Em seguida, a fêmea é inseminada; após a formação do embrião, ele 
é coletado, isolado, avaliado e cultivado (Figura 7), para que finalmente seja 
criopreservado (congelado) para futura transferência, ou transferido para uma 
fêmea receptora que dará continuidade à gestação. 
Figura 7 – Preparo de um embrião de bezerro em laboratório para a realização 
de uma transferência de embrião 
 
Crédito: Lakeview Images/Shutterstock. 
 
 
17 
Outra biotecnologia utilizada na reprodução é a produção in vitro de 
embriões (Mello et al., 2016, citados por Silva, 2021, p. 50): 
é caracterizada por fazer o intercâmbio entre os gametas do macho e 
da fêmea fora no sistema reprodutor, permitindo a formação de um 
novo indivíduo, sendo que, para tal, a técnica exige etapas claras para 
o processo, sendo a coleta dos ovócitos, maturação in vitro, 
fecundação in vitro e cultivo in vitro. 
O intuito da produção in vitro de embriões é maximizar o potencial 
reprodutivo de fêmeas bovinas e melhorar os indicadores de produtividade. 
Tanto a produção in vitro de embriões quanto as outras biotécnicas aqui 
estudadas têm o intuito de maximizar a exploração do potencial reprodutivo dos 
rebanhos bovinos, viabilizando a utilização de animais mais jovens na 
reprodução, o que diminui o intervalo de gerações e permite a seleção de 
matrizes potenciais, levando à produção de novilhas de reposição apenas de 
animais geneticamente superiores, o que contribui para a otimização do 
melhoramento genético. 
TEMA 4 – SISTEMAS DE CRUZAMENTO 
Tanto na cadeia produtiva da carne quanto na cadeia produtiva do leite, 
cada vez mais existe a necessidade de ajustes nos sistemas de produção, em 
busca de vantagens econômicas produtivas. Nesse sentido, uma importante 
ferramenta que vem sendo utilizada é o cruzamento entre animais de raças 
diferentes (Bos taurus taurus com Bos taurus indicus), com o intuito de promover 
o melhoramento genético da progênie, procurando obter vigor híbrido ou 
heterose, que é a reunião de boas características de duas ou mais raças, 
gerando produtos com desempenho superior à média dos pais (Euclides Filho, 
1997; Miranda; Freitas, 2009). 
De acordo com Euclides Filho (1997, p.7): 
Existem várias formas de se desenvolver programas de cruzamentos, 
as quais são denominadas de sistemas de cruzamentos. É importante 
salientar, no entanto, que nenhum sistema é adequado para todos os 
rebanhos ou sistemas de produção. A escolha deles vai depender de 
diversos fatores, tais como: 1) ambiente, 2) exigência de mercado, 3) 
mão-de-obra disponível, 4) nível gerencial, 5) sistema de produção, 6) 
viabilidade de uso de inseminação artificial, 7) objetivo do 
empreendimento, 8) número de vacas, e 9) número e tamanho dos 
pastos. 
 
 
 
 
18 
De maneira geral, os cruzamentos podem ser de três tipos. 
• Sistema de cruzamento simples: envolve apenas duas raças, 
produzindo mestiços na primeira geração (F1). Machos e fêmeas 
destinados ao abate (não há continuidade). Porém, é preciso manter parte 
das fêmeas como rebanho puro, para a reposição tanto do rebanho puro 
quanto do rebanho de mestiços. A proporção do rebanho total de fêmeas 
envolvidas no cruzamento é importante para a seleção. Se não for 
possível, será necessário adquirir fêmeas de outros criadores (Tabela 3). 
Tabela 3 – Esquema de cruzamento simples, composição genética dos pais e 
progênie e heterozigose 
Composição genética (%) 
 
Pai Mãe* Progênie* Heterozigose* 
A B A B (%) 
100 100 50 50 100 
* Percentagem esperada 
Fonte: Euclides Filho, 1997, p.13. 
• Sistema de cruzamento contínuo ou absorvente: a ideia é substituir 
uma raça ou "grau de sangue" por outra, por meio do uso contínuo da 
segunda. Neste sistema, as fêmeas resultantes do cruzamento são 
acasaladas sucessivamente com machos de uma das raças iniciais. Na 
quinta geração, o patrimônio genético da população é igual a 31/32 da 
raça absorvente. São os chamados “puros por cruza” ou “PC” (Tabela 4). 
 
 
 
 
 
 
 
19 
Tabela 4 – Esquema de cruzamento contínuo, composição genética dos pais e 
progênie e heterozigose 
Composição genética (%) 
 
Pai Mãe* Progênie* Heterozigose* 
A A B A B (%) 
100 - 100 50 50 100 
100 50 50 75 25 50 
100 75 25 87 13 25 
100 87 13 94 6 13 
100 94 6 97 3 6 
100 97 3 98 2 3 
100 98 2 99 1 2 
* Percentagem esperada 
Fonte: Euclides Filho, 1997, p. 13. 
• Sistema de cruzamento rotacionado ou alternado contínuo: neste 
sistema, as várias gerações de fêmeas são acasaladas sucessivamente 
com machos de diferentes raças, sendo alternadas a cada geração, 
podendo ser alternada entre duas ou mais raças. É essencial que as raças 
sejam semelhantes em algumascaracterísticas, como tamanho corporal 
e produção de leite (Tabelas 5 e 6). 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
Tabela 5 – Esquema de cruzamento rotacionado de duas raças, composição 
genética dos pais e progênie e heterozigose 
Composição genética (%) 
 
Pai Mãe* Progênie* Heterozigose* 
A B A B A B (%) 
100 
 
- 100 50 50 100 
 
100 50 50 25 75 50 
100 
 
25 75 63 37 75 
 
100 63 37 31 69 63 
100 
 
31 69 66 34 69 
 
100 66 34 33 67 66 
100 
 
33 67 67 33 67 
 
100 67 33 33 67 67 
* Percentagem esperada 
Fonte: Euclides Filho, 1997, p. 14. 
Tabela 6 – Esquema de cruzamento rotacionado de três raças, composição 
genética dos pais e progênie e heterozigose 
Composição genética (%) 
 
Pai Mãe* Progênie* Heterozigose* 
A B C A B C A B C (%) 
100 
 
 
 
100 50 50 - 100 
 
100 50 50 25 25 50 100 
 
100 25 25 50 12 62 25 75 
100 
 
 12 62 25 56 31 12 88 
 
100 56 31 12 28 16 56 88 
 100 28 16 56 14 58 28 84 
 
 
21 
100 14 58 28 57 29 14 86 
 100 57 29 14 29 14 57 86 
* Percentagem esperada 
Fonte: Euclides Filho, 1997, p. 14. 
Para se aprofunda nessa temática, sugerimos a leitura detalhada do item 
“Sistemas de Cruzamento”, do material produzido pela Embrapa Gado de Corte, 
chamado “O melhoramento genético e os cruzamentos em bovino de corte” 
(Euclides Filho, 1997). 
Para a formação e a fixação de uma nova raça sintética, é necessário 
estabelecer o acasalamento entre touros e vacas mestiças, geralmente de um 
mesmo grau de sangue. Tais raças advêm do cruzamento entre Bos taurus 
taurus (taurinos) e Bos taurus indicus (zebuínos). 
As principais raças sintéticas são: 
• Girolando: composta por ⅜ Gir e ⅝ Holandês. 
• Santa Gertrudis: composta por ⅜ Brahman e ⅝ Shorthorn. 
• Brangus: composta de ⅜ Brahman e ⅝ Abeerden Angus. 
• Simbrasil: surgiu no Brasil, composta com sangue zebu, em especial 
Nelore, com ⅝ de sangue da raça Simental. 
• Bradford: composta de ⅜ Brahman e ⅝ Hereford. 
• Canchim: raça brasileira, composta de ⅝ Charolês e ⅜ Indubrasil. 
• Bonsmara: raça sul-africana, ⅝Afrikaner, 3 16� Hereford e 3 16� Shorthorn. 
Para uma melhor compreensão da formação de uma raça sintética, 
observe o diagrama de formação para a raça Girolando. 
 
 
22 
Figura 8 – Girolando: diagrama de formação 
Créditos: Wasteresley Lima. 
TEMA 5 – MELHORAMENTO GENÉTICO NA BOVINOCULTURA BRASILEIRA 
O melhoramento genético tem por objetivo avaliar as características 
econômicas de um animal para prever os seus valores genéticos. Isso é feito 
usando procedimentos estatísticos para distinguir os efeitos genéticos aditivos 
de outros fatores. Esse método é importante porque permite classificar os 
animais para fins de seleção, buscando alcançar o melhor resultado econômico 
possível. 
Um dos maiores avanços da ciência para a transformação da pecuária 
bovina no Brasil foi a melhoria genética do rebanho. A introdução de gado zebu 
na região central do Brasil foi fundamental para o crescimento nessa área, tendo 
se tornado a base do rebanho brasileiro, que agora aproveita técnicas 
avançadas, como fecundação in vitro, produção de embriões e clonagem 
(Embrapa, 2023). 
A evolução genética das raças criadas no Brasil se baseia em técnicas 
amplamente usadas, comprovadas em todo o mundo, graças à contribuição de 
produtores rurais e profissionais técnicos especializados e capacitados. A 
pesquisa visa aperfeiçoar as melhores características genéticas através do 
cruzamento de diversas raças, resultando em ganhos em rusticidade, resistência 
 
 
23 
a doenças e parasitas, desempenho, eficiência e qualidade. O Brasil evoluiu de 
importador para exportador de genética superior (Embrapa, 2023). 
Independentemente da espécie e da aptidão do animal, os programas de 
melhoramento genético são essenciais para que sejam feitos monitoramento e 
avaliação contínuos dos avanços obtidos em seus objetivos de seleção, 
considerando ainda a estrutura e a diversidade genética da população. O 
monitoramento possibilita analisar o caminho percorrido e traçar novas rotas 
para o futuro (Bruneli et al., 2020). 
Figura 9 – Programas de melhoramento genético 
 
Crédito: Siberian Art/Shutterstock. 
Para planejar um programa de melhoramento genético, é necessário ter 
clareza sobre os objetivos de seleção e os critérios que vão ser utilizados. Em 
seguida, é feita uma análise fenotípica do animal e do ambiente em que foi 
coletada, para obter o seu Pedigree. Com o avanço da avaliação genômica, há 
uma ajuda adicional na identificação de características que não podem ser 
analisadas fenotipicamente. Atualmente, a precocidade sexual está em 
destaque, pois apresenta correlação positiva com a lucratividade dos sistemas 
de pecuária de corte. 
 
 
24 
Para aumentar a produtividade do rebanho, melhorando os índices 
produtivos, devem ser instaurados programas de melhoramento genético. Para 
isso, o primeiro passo é (Yokoo et al., 2019, p. 9): 
Obter os dados dos animais a campo, ou seja, controlar a produção, 
repassando-os de forma correta para o sistema de gerenciamento do 
rebanho, que geralmente é formado por programas computacionais e 
fichas de controle. Esta base para se obter dados de campo com 
qualidade, fornece subsídios para a tomada de decisões em uma 
empresa rural, no programa de avaliação e melhoramento genético, 
antes mesmo de selecionar os animais e planejar os acasalamentos. 
Em seguida, é feita a avaliação genética dos animais, com raqueamento, 
seleção, acasalamento e inseminação artificial, para no fim identificar os animais 
superiores, de acordo com as características selecionadas e os objetivos 
almejados. 
No Brasil, nos últimos anos, a pecuária vem mostrando grandes avanços. 
Cada vez mais, ela se destaca na evolução da economia e no desenvolvimento 
do País. Esse destaque se deve à modernização da bovinocultura, 
principalmente da bovinocultura de corte, o que vem gerando melhorias na 
produtividade dos sistemas de produção e na qualidade do produto. Essa 
modernização relaciona-se principalmente com avanços no manejo, na 
alimentação e no potencial genético dos animais (Alencar; Barbosa, 2010, p. 1): 
Para o país aumentar a produção e manter os mercados ou conquistar 
novos, inclusive de melhor remuneração, é necessário ter 
competitividade, ou seja, é preciso que o setor tenha bom desempenho 
e seja eficiente, para disponibilizar produtos de qualidade a preços 
acessíveis. Nesse contexto, melhorias do potencial genético dos 
animais e sua adequação ao ambiente e ao manejo continuam sendo 
pontos importantes para se alcançar maior eficiência dos sistemas. 
Para compreender onde estamos hoje e onde podemos chegar com 
relação ao melhoramento genético, precisamos entender o início da 
bovinocultura no Brasil, nas primeiras décadas após o seu descobrimento, 
quando os colonizadores introduziram no Brasil os primeiros bovinos de origem 
europeia. Com a mistura e a adaptação desse gado, surgiram as diferentes raças 
brasileiras, como o Curraleiro, o Franqueiro, o Caracu, o Mocho Nacional, o 
Crioulo Lageano e o Pantaneiro. 
Já no início do século XIX, começaram as importações de gado Zebu, que 
mais tarde, no início do século XX, passou a ser importado em maior escala, 
quando foi definitivamente introduzido no Brasil o Zebu indiano. Por conta de sua 
adaptação às condições de criação do País, ele foi amplamente utilizado em 
 
 
25 
cruzamentos absorventes com o gado crioulo. Assim, até hoje grande parte do 
rebanho bovino brasileiro é formado por gado Zebu ou por animais mestiços de 
Zebu. 
Apesar da adaptabilidade do gado Zebu às condições das regiões de 
clima tropical, procurou-se buscar para o Brasil genótipos adaptados 
às nossas condições de clima, mas com características produtivas 
semelhantes às dos animais de raças européias, mais produtivas no 
seu ambiente de produção, como resultado de processos de seleção 
de vários séculos. (Alencar; Barbosa, 2010, p. 2)Foi assim que teve início no Brasil a formação de raças compostas, 
originárias do cruzamento de duas ou mais raças, com a utilização sistemática 
do cruzamento entre raças das espécies taurinas (Bos taurus) e zebuínas (Bos 
indicus), tendo como resultado animais com bom potencial produtivo em 
ambientes tropicais, como consequência da heterose e da complementaridade 
entre raças. 
Com isso, surgiram no Brasil diversas raças sintéticas para a produção de 
carne, por exemplo: Indubrasil, Canchim, Braford e Simbrasil. É importante 
destacar que diversos trabalhos continuam sendo conduzidos no intuito de 
formar novas raças, sempre em busca de melhores resultados produtivos e 
econômicos. 
A busca por melhoramento genético animal consiste na alteração da 
composição genética das populações, a partir de duas estratégias principais: 
seleção e sistemas de acasalamento, com exploração da variabilidade biológica 
dos animais dentro das espécies. 
Atualmente, podemos colocar o melhoramento genético dos rebanhos 
como um dos fatores fundamentais para o progresso do setor produtivo da 
bovinocultura brasileira. Porém, as “pressões de mercado e de competitividade 
impostas sobre o setor continuam a exigir melhorias do potencial genético dos 
animais e sua adequação ao ambiente e ao manejo” (Alencar; Barbosa, 2010, p. 7). 
A clara definição dos objetivos de seleção facilita a elaboração de critérios 
de seleção mais adequados para os sistemas de produção e as exigências de 
mercado. Dessa forma, as informações geradas pelos marcadores genéticos 
poderão ser utilizadas nos programas de melhoramento genético e 
biotecnologias da reprodução, contribuindo para o aumento da intensidade de 
seleção. Além disso, a caracterização das raças e dos cruzamentos entre elas, 
nos diferentes tipos de ambiente e manejo, deve subsidiar a decisão do produtor 
com relação à adequação do ambiente para o tipo de animal que ele busca criar. 
 
 
26 
FINALIZANDO 
Concluímos aqui a nossa discussão. Compreendemos a fisiologia da 
reprodução, tanto nos machos, abordando a espermatogênese, que se divide 
em espermatocitogênese e espermiogênese, quanto nas fêmeas, conhecendo a 
oogênese e a importância do ciclo estral, dividido em fase folicular e fase 
luteínica. 
Vimos também como funciona a avaliação reprodutiva em machos e 
fêmeas, que abrange tanto a avaliação direta como indireta de parâmetros 
relacionados aos órgãos reprodutivos, bem como características gerais dos 
animais, incluindo nutrição e saúde. 
Já no terceiro tópico, vimos os principais métodos de reprodução: monta 
natural a campo; monta natural controlada; inseminação artificial; inseminação 
artificial em tempo fixo; transferência de embriões. Conhecemos também as suas 
vantagens e desvantagens para a criação. 
No tópico seguinte, abordamos os três principais sistemas de cruzamento: 
simples, contínuo e rotacionado. Vimos ainda como se desenvolvem as raças 
sintéticas. Por fim, concluímos analisando o melhoramento genético na 
bovinocultura brasileira, tematizando a evolução genética das raças criadas no 
Brasil e o desenvolvimento e as vantagens dos programas de melhoramento 
genético. 
Em outro momento, vamos analisar as ferramentas de seleção animal e 
os panoramas do ganho genético no Brasil e no mundo! 
 
 
 
27 
REFERÊNCIAS 
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	Conversa inicial
	FINALIZANDO
	REFERÊNCIAS

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