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2015 Jogos, brinquedos e brincadeiras Prof.ª Ana Clarisse Alencar Barbosa Prof.ª Kathia Regina Bublitz Prof.ª Vilisa Rudenco Gomes Copyright © UNIASSELVI 2015 Elaboração: Prof.ª Ana Clarisse Alencar Barbosa Prof.ª Kathia Regina Bublitz Prof.ª Vilisa Rudenco Gomes Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 371.337 B238j Barbosa, Ana Clarisse Alencar Jogos, brinquedos e brincadeiras / Ana Clarisse Alencar Barbosa, Kathia Regina Bublitz, Vilisa Rudenco Gomes. Indaial : UNIASSELVI, 2015. 188 p. : il. ISBN 978-85-7830-910-7 1. Jogos educacionais e brinquedos. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Impresso por: III apresentação Caro(a) acadêmico(a)! Qual seu jogo, brinquedo ou brincadeira favorita? Para alguns, uma pergunta fácil de responder, para outros nem tanto! Os jogos, brinquedos e brincadeiras fizeram parte do nosso universo infantil e se estendem por toda a nossa vida, para alguns, com mais ênfase, para outros muitas vezes só nas recordações. Não importa qual seja a sua resposta. Queremos convidá-lo(a) a mergulhar nessa temática e aprofundar seus conhecimentos. Inicialmente resgataremos a antropologia dos jogos, brinquedos e brincadeiras, e as influências sociais e culturais que contribuíram para o seu desenvolvimento e/ou aprimoramento. Conheceremos algumas particularidades e semelhanças entre o jogar e brincar e da relevância do brinquedo para o desenvolvimento intelectual e social. Jogar bola, peteca, pular corda, amarelinha... São alguns exemplos de jogos e brincadeiras que divertem e, sobretudo, contribuem no desenvolvimento integral do ser, não importando a idade. Na Unidade 2, você encontrará dicas de como selecionar e confeccionar brinquedos adequados a cada faixa etária, sobre a importância da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem e a formação pedagógica do profissional de educação física. Jogar, por jogar e brincar por brincar, certamente é muito bom, mas na Unidade 3 você estudará a classificação e a finalidade de muitos jogos e brincadeiras que vão muito além do se divertir. Abordaremos a importância da interdisciplinaridade nas práticas educativas de educação física e apresentaremos ideias de construção de projetos de trabalho, que podem ser realizados em qualquer ambiente. Encare o jogo, entre na brincadeira! Para aprender e se divertir, é só começar! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Jogos, Brinquedos e Brincadeiras! IV Um grande abraço e bons estudos! Prof.ª Ana Clarisse Alencar Barbosa Prof.ª Kathia Regina Bublitz Prof.ª Vilisa Rudenco Gomes UNI Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE 1 – O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA ...................................................... 1 TÓPICO 1 – A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO ................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CONTEXTO HISTÓRICO DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS ... 3 2.1 A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS .............................................................................................. 3 3 CONCEITUANDO O JOGO ............................................................................................................. 9 4 ANTROPOLOGIA DOS BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS ................................................... 11 4.1 O BRINCAR NO PASSADO E NO PRESENTE ......................................................................... 13 5 CONCEITUANDO O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA ......................................................... 14 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 16 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 20 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 21 TÓPICO 2 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS – RESGATE CULTURAL ....................................................................................................................... 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 23 2 OS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DA CULTURA BRASILEIRA .................... 23 3 VAMOS CONHECER ALGUNS JOGOS E BRINCADEIRAS TÍPICOS DO BRASIL ................................................................................................................................................ 25 3.1 BRINCADEIRAS DE ORIGEM INDÍGENA .............................................................................. 26 3.2 BRINCADEIRAS DE ORIGEM EUROPEIA .............................................................................. 29 3.3 BRINCADEIRAS DE ORIGEM AFRICANA ............................................................................. 30 3.4 BRINCADEIRAS DE ORIGEM ASIÁTICA ................................................................................ 32 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 37 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 39 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................40 TÓPICO 3 – O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A LUDICIDADE EM DIFERENTES TIPOS DE AMBIENTES ............................................................................................. 41 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 41 2 A LUDICIDADE NOS DIFERENTES TIPOS DE AMBIENTES ................................ 41 3 ORGANIZAÇÃO DE BRINQUEDOTECAS E ESPAÇOS PARA BRINCAR ......... 43 4 RECREAÇÃO E JOGOS ................................................................................................................ 44 5 ADAPTAÇÃO DOS ESPAÇOS ......................................................................................................... 45 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 47 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 52 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 53 UNIDADE 2 – OFICINAS DE JOGOS E BRINQUEDOS .............................................................. 55 TÓPICO 1 – SELEÇÃO E CONFECÇÃO DE BRINQUEDOS ....................................................... 57 sumário VIII 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 57 2 APRENDER A SELECIONAR E CONFECCIONAR BRINQUEDOS ADEQUADOS ÀS CRIANÇAS ........................................................................................................................................... 57 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 78 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 79 TÓPICO 2 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA ........... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 83 2 COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NA APRENDIZAGEM PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ................................................................................................................................. 83 3 APRENDIZAGENS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ................................................................................................................................. 90 4 O JOGO .................................................................................................................................................. 115 4.1 PIAGET E O JOGO ......................................................................................................................... 119 4.2 VYGOTSKY E O JOGO .................................................................................................................. 120 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 124 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 126 TÓPICO 3 – A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA ....................................................................................................................................................... 127 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 127 2 A LUDICIDADE E O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA .................................................. 127 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 138 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 139 UNIDADE 3 – A PRÁTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ............................................... 141 TÓPICO 1 – JOGOS E BRINCADEIRAS E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA ORGANIZAÇÃO DISCIPLINAR ....................................................................................................... 143 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 143 2 JOGOS E BRINCADEIRAS: CLASSIFICAÇÃO E FINALIDADE ............................................ 143 3 A EDUCAÇÃO FÍSICA E A INTERDISCIPLINARIDADE ........................................................ 146 4 A ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA POR PROJETO DE TRABALHO ................. 157 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 161 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 162 TÓPICO 2 – PROPOSTAS PRÁTICAS COM JOGOS MOTORES NA EDUCAÇÃO PELO MOVIMENTO ......................................................................................................................................... 163 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 163 2 A PRÁTICA PROFISSIONAL EM ATIVIDADES RECREATIVAS ........................................... 163 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 176 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 178 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 179 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 181 1 UNIDADE 1 O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade você será capaz de: • compreender a origem dos jogos, brinquedos e brincadeiras e sua influên- cia na cultura de um povo; • conhecer alguns dos principais conceitos relacionados ao jogo, brinquedo e brincadeira; • perceber as variações dos jogos, brinquedos e brincadeiras e a influência de cada região e/ou cultura; • perceber a influência do contexto sócio-histórico-ecônomico e cultural em relação ao jogo, brinquedo e brincadeira; • identificar alguns dos jogos e brincadeiras tradicionais das crianças brasi- leiras; • conhecer a importância da ludicidade no ambiente escolar e os diferentes tipos de ambientes que pode ser realizada; • conhecer e compreender a finalidade da brinquedoteca como ampliador; • conhecer algumas características essenciais do profissional de Educação Física para trabalhar com diferentes brincadeiras; • perceber a importância de adaptar recursos materiais e espaços para reali- zação de atividades recreativas nos mais diversos segmentos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) auxiliarão a fixar os conhecimentos estudados. TÓPICO 1 – A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO TÓPICO 2 – JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS –RESGATE CULTURAL TÓPICO 3 – O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A LUDICIDADE EM DIFERENTES TIPOS DE AMBIENTES 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, mergulharemos na história, e conheceremos a origem dos jogos, brinquedos e brincadeiras e sua influência na cultura de um povo. Muitos são os autores que expõem sobre a história dos jogos e dos brinquedos e sua importância no contexto atual, entre eles destacamos: Huizinga, Philippe Ariès, Kishimoto e Brougère, entre tantos outros. Conhecer e compreender a trajetória dos jogos, brinquedos e brincadeiras é resgatar nossas raízes culturais. 2 CONTEXTO HISTÓRICO DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS A maioria dos jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais entre as crianças brasileiras chegou até aqui através da vida dos povos que deram origem à nossa civilização, vindos da Europa e até mesmo do Oriente, outros já mantêm sua origem aqui, como é o caso da cultura indígena. Vamos conhecer agora, um pouco mais a história e a origem de cada um deles. Embarque nessa aventura e vamos voltar um pouco no tempo! 2.1 A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS Os jogos sempre fizeram parte do contexto histórico do homem e foram se moldando de acordo com a necessidade de cada época. Inicialmente não eram vistos de forma lúdica e sim como um recurso para sua sobrevivência, distração e sofrendo adaptações ao longo dos séculos conforme a necessidade de cada povo. Tudo começou, não se sabe exatamente quando, mas estudiosos vêm realizando pesquisas não exatamente para procurar respostas, mas para trazer à tona fatos históricos e compreender a sua evolução. UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 4 Cada cultura define uma esfera do jogo a partir de uma rede de analogias, de uma experiência dominante, de determinados traços que não são necessariamente idênticos aos nossos. (BROUGÈRE, 1998). Apresentaremos uma série de fatos cronológicos nos quais os jogos apresentavam uma significação singular. Registros apontam que na civilização romana a prática do jogo estava presente em vários momentos. De acordo com Brougère (1998), o jogo romano era visto a partir do espectador e não do participante e estes divididos em dois tipos de jogos, os jogos de cena (ludi scaenici) compostos por teatro, mímica, dança, concursos de poesia e os jogos de circo (ludi circenses) compostos de corridas de biga, combates, encenações de animais, caça e jogos atléticos. Como podemos observar são dois extremos bastante diferentes, um nos leva ao mundo imaginário da fantasia e o outro aos duelos fictícios, nos quais muitas vezes “jogavam” até chegar à morte, escolha feita pelo público que assistia. FIGURA 1 – COLISEU - DESTINO DE UM GLADIADOR DERROTADO DECIDIDO PELO PÚBLICO FONTE: Disponível em: <http://cafelivroearte.blogspot.com.br/2013/05/o-coliseu-de- roma.html>. Acesso em: 28 fev. 2015. Estes também apresentavam a dimensão religiosa, eram realizados com o intuito de pedir ou agradecer alguma bênção, era um presente a Deus. Conforme Brougère (1998), o jogo é certamente um espetáculo, mas nem por isso se deve esquecer que é, tanto em Roma como na Etrúria, um fato religioso, um ato oferecido a deus como um presente. Outras vezes os jogos também tinham sua dimensão política, através de um acordo de interesses, eram oferecidos pelos nobres, depois pelo Imperador ao TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO 5 povo. Vale lembrar que essas atividades eram realizadas apenas por adultos. Com o passar do tempo tentou-se transformar o jogo romano para aproximá-lo ao jogo grego. Na Grécia, encontramos outra dimensão do jogo. De acordo com Brougère (1998), deparamo-nos aqui com uma diversidade de termos: athos (luta, combate, concurso, jogos tais como os píticos), agon (assembleia, em particular para jogos públicos, concursos, lutas, jogos ginásticos), paidaia (derivado de criança, jogo infantil, infantilidade, diversão, mas também jogos ou concurso de lutas, de flauta). Os jogos na Grécia pautam-se no concurso, os quais representam grande importância na civilização grega. A Grécia também foi precursora dos Jogos Olímpicos, os primeiros jogos datam do ano de 776 a.C. De acordo com Brougère (1998), o Concurso de Olímpia foi inserido em um quadro religioso. A exemplo dos heróis fundadores, os participantes dos concursos, lutando no estádio, impõem-se como atores do ciclo dos renascimentos, entre outros, numa representação cósmica, biológica e social. FIGURA 2 – RUÍNAS DE OLÍMPIA - ANTIGA SEDE DOS JOGOS OLÍMPICOS FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/educacao-fisica/origem-dos- jogos-olimpicos.htm>. Acesso em: 28 fev. 2015. Esses jogos/concursos apresentavam uma simbologia muito forte, porém a lógica social do jogo, enraizada naquele concurso, se também é ligada ao fingimento, é bem diferente da lógica romana (BROUGÈRE, 1998). UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 6 Os jogos olímpicos aconteciam de quatro em quatro anos e perduraram mais de mil anos, até 393 d.C. A partir daí o imperador romano Teodósio I extinguiu o evento, declarando que se tratava de uma festa pagã e essa ideia do paganismo dos jogos prevaleceu por muitos anos. Somente no ano de 1896, foram realizados os primeiros jogos olímpicos modernos, em Atenas, na Grécia. FIGURA 3 – ANÉIS OLÍMPICOS Com a ideia de criar um símbolo que resumisse o espírito olímpico de união e interação entre os povos, o organizador das Olimpíadas Modernas, DICAS Primeira edição dos Jogos Olímpicos modernos toma Atenas de assalto, coroa esforços dos organizadores, exibe extraordinárias proezas esportivas e renova a autoestima dos helênicos. Para saber mais leia o artigo A conquista da Grécia Disponível em: <http://veja.abril.com.br/ historia/olimpiada-1896/especial-jogos-olimpicos-era-moderna-atenas.shtml>. Acesso em: 8 mar. 2015. NOTA Em 1896, os primeiros nove esportes foram: atletismo, ciclismo, esgrima, ginástica, natação, tênis, luta, levantamento de peso e tiro. As provas de natação nas Olimpíadas de Atenas foram realizadas nas águas da baía de Zea. A temperatura da água durante as provas nunca ultrapassou os 13 graus. FONTE: Disponível em: <http://www.historiadigital.org/curiosidades/15-curiosidades-historicas-das- olimpiadas/>. Acesso em: 28 fev. 2015. TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO 7 Barão de Coubertin idealizou a figura dos anéis olímpicos. Significado dos Anéis Olímpicos Os cinco círculos representam os continentes: azul, Europa amarelo, Ásia preto, África verde, Oceania vermelho, América O entrelaçamento dos anéis representa a união amistosa e pacífica das nações. Com as cinco cores podem ser compostas todas as bandeiras do mundo. Ao criar o símbolo dos jogos, as cidades devem usar os anéis misturados a outros elementos. FONTE: Disponível em: <http://personaltrainnerelisandria.blogspot.com.br/2011/09/qual-o- significado-do-simbolo-olimpicos.html>. Acesso em: 28 fev. 2015. Tanto na cultura romana, quanto na da Grécia, podemos constatar o jogo e sua relação com a religião. Já na cultura asteca os jogos apresentam características próprias, diferentes das dos romanos e da Grécia. É representado pelo Tlachtli, o termo deriva do verbo Tlachia, que significa ver, olhar. O tlachtli é o fato de ver o espetáculo, representado principalmente pelos jogos com pelotas, também chamado de paume, que tinha como objetivo arremessar a bola de borracha através de um estreito orifício de um anel, vestindo um cinto de couro, a bola não podia encostar no corpo do atleta. O tlachtli é, primeiramente,um drama sagrado antecedendo um sacrifício sangrento, uma representação cosmográfica, em que a bola com saltos aéreos figura a caminhada do sol. O jogo realiza essencialmente a encenação do movimento cósmico. Os astecas pensam todos os movimentos sobre o modelo da bola que parece assim de essência lúdica. A energia se esgota com o ir dessa bola que os jogadores lançam perpetuamente, até a morte sacrifical de um deles. FONTE: Disponível em:<http://www.klepsidra.net/klepsidra13/teotlachtli.htm>. Acesso em: 28 fev. 2015. UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 8 FIGURA 4 - JOGO DE PELOTAS Representação de como era jogado o Tlachtli na maioria dos lugares. Hoje só é possível ver o jogo original no parque temático de XCaret. FONTE: Disponível em:<http://www.klepsidra.net/klepsidra13/teotlachtli.htm>. Acesso em: 28 fev. 2015. Os astecas acreditavam que este jogo representava uma regeneração cósmica indispensável à sobrevivência da sociedade. Segundo Brougère (1998, p. 43): O jogo tem uma função social, um sentido social através de uma especificidade caracterizada pelo “como se”, pelo fingimento. Antes de ser a atividade principal das crianças, a simulação lúdica parece ser um meio de expressão cultural, uma linguagem, até mesmo um ato eficaz de relação da sociedade com o sobrenatural, mesmo que usos profanos possam existir paralelamente. Nesse sentido, vale ressaltar que, com o passar dos anos, os costumes iniciais foram se difundindo a novas culturas e novos conceitos, entretanto, outros ainda se mantêm até os dias atuais. Nos tempos modernos o jogo passou a ser visto como o centro da constituição de uma identidade, e nesse sentido ele é um espaço de aprendizagem, apesar de sua aparência de desordem e mesmo de violência. Nessa fase, pode-se observar a separação do jogo e da religião, é nessa fase que o jogo começa a ser visto como lúdico. (BROUGÈRE, 1998). O autor ainda coloca que, a não seriedade do jogo é talvez resultado de um processo histórico. Cada povo, cada cultura tem uma forma de interpretar e ver o jogo. De acordo com Kishimoto (2004, p. 15), “é muito complexo definir jogo, brinquedo e brincadeira. Uma mesma conduta pode ser jogo ou não jogo em diferentes culturas, dependendo do significado a ela atribuído. Isso porque o que para uns é lúdico (uma diversão) para outros é visto como algo sério”. TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO 9 3 CONCEITUANDO O JOGO Mas o que é jogo, afinal? A palavra jogo é originária do latim: iocus, iocare e significa brinquedo, folguedo, divertimento, passatempo sujeito a regras, ou até mesmo uma série de coisas que formam uma coleção. FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioetimologico.com.br/jogo/>. Acesso em: 28 fev. 2015. Vamos conhecer a definição de jogo, segundo o dicionário Houaiss, (2003, p. 400): 1 – agitação: movimento, oscilação; 2 – aposta: lance, mão, parada, partida; 3 – ardil: astúcia, 4 – balanço: oscilação; 5 – brincadeira: folguedo, folia, reinação; 6 – coleção: conjunto; 7 – combate: certame, luta, peleja, pugna; 8 – diversão: divertimento; 9 – escárnio: gracejo, motejo, troça, zombaria; 10 – funcionamento: movimento; 11 – inconstância: capricho, instabilidade, irregularidade, variabilidade, volubilidade, constância, e variabilidade, regularidade; 12 – joguete: ludibrio; 13 – manejo: manobra, manuseio; 14 – movimento: destreza, habilidade, mobilidade; 15 – partida: certame, competição, espetáculo, peleja, jogo de cartas: carteado. Ao longo de décadas muitos teóricos vêm realizando pesquisas no sentido de aprofundar e buscar respostas acerca deste tema. Para Kishimoto (2004), tentar definir o jogo não é tarefa fácil. Quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendê-la de modo diferente. Pode- se estar falando de jogos políticos, de adultos, crianças, animais, amarelinha ou xadrez etc. Por exemplo, no faz de conta, há forte presença da situação imaginária; no jogo de xadrez, regras padronizadas permitem a movimentação das peças. Para Huizinga (2007, p. 3) “o jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos rigorosas, pressupõe a sociedade humana; mas, os animais não esperaram que os homens os iniciassem na atividade lúdica”. O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana. (HUIZINGA, 2007, p. 33). UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 10 Ainda segundo Huizinga (2007, p. 14), “Todo o jogo tem regras”. E precisam ser respeitadas por todos os participantes em qualquer situação. Para Caillois (1990, p. 29-30), o jogo pode ser encarado essencialmente como uma atividade: 1. Livre: uma vez que, se o jogador fosse a ela obrigado, o jogo perderia de imediato a sua natureza de diversão atraente e alegre. 2. Delimitada: circunscrita a limites de espaço e de tempo, rigorosa e previamente estabelecidos. 3. Incerta: já que o seu desenrolar não pode ser determinado nem o resultado obtido previamente, e já que é obrigatoriamente deixada à iniciativa do jogador uma certa liberdade na necessidade de inventar. 4. Improdutiva: porque não gera bens, nem riquezas nem elementos novos de espécie alguma; e, salvo alteração de propriedade no interior do círculo dos jogadores, conduz a uma situação idêntica à do início da partida. 5. Regulamentada: sujeita a convenções que suspendem as leis normais e que instauram momentaneamente uma legislação nova, a única que conta. 6. Fictícia: acompanhada de uma consciência específica de uma realidade outra, ou de franca irrealidade em relação à vida normal. Pode-se pensar, a priori, que cada cultura define uma esfera do jogo a partir de uma rede de analogias e de uma experiência dominante, de determinados traços que não são necessariamente idênticos aos nossos. (BROUGÈRE, 1998). Vamos observar o quadro “Jogos Infantis” pintado por Pieter Brueghel em 1560, ele apresenta uma série de atividades recreativas. Olhando atentamente, podemos perceber que geralmente eram realizadas em dupla ou grupos. O belga Pieter Bruegel foi um importante artista do século XVI, e em 1560 ele pintou uma de suas grandes obras, chamada Jogos Infantis. A tela mostra 250 crianças brincando pelas ruas em 84 brincadeiras diferentes. TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO 11 FIGURA 5 – JOGOS INFANTIS DO FLAMENGO PIETER BRUEGHEL (1525-1569) FONTE: Disponível em: <http://www.rupert.id.au/TJ521/bruegel_la.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2015. Todo jogo tem regras, elas podem ser alteradas ou não, os participantes podem tomar essa decisão antes de iniciar o jogo. Vale ressaltar que, há jogos “oficiais” que devem seguir à risca as regras e estas só podem ser alteradas com antecedência e em comum acordo pelos responsáveis. Por exemplo: As regras oficiais do futebol brasileiro só podem ser alteradas pela Confederação Brasileira de Futebol. 4 ANTROPOLOGIA DOS BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS Filho(a), vamos ao shopping comprar aquele brinquedo que você tanto quer? Nem sempre foi assim, não encontrávamos brinquedos expostos em prateleiras, nas lojas, supermercados ou na feirinha da esquina. Antigamente eles eram feitos manualmente pelos pais, avós e repassados de geração em geração. Usavam objetos simples que encontravam no lugar onde viviam, nada de luxo e sim muito amor e carinho em cada detalhe. Segundo Ribeiro (2011, p. 60) UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 12 A boneca é um dos mais antigosobjetos de brincar que a humanidade conheceu. Confeccionadas com os mais diversos materiais, eram usadas em cultos religiosos, como peças decorativas e de entretenimento para as crianças, com o intuito de prepará-las para as futuras funções da maternidade, o cuidar. Registros da primeira boneca Pesquisas apontam registros de indícios de bonecas há mais de 40 mil anos, as quais foram mudando e evoluindo com o passar dos anos. Há 40 mil anos – provavelmente as primeiras representações da forma humana em miniatura podem ter sido feitas pelo Homo Sapiens, de barro, na África e na Ásia, com propósitos ritualísticos. Consideradas o primeiro brinquedo feito de argila. 25 mil-20 mil a.C. – No Museu de História Natural de Viena, na Áustria, encontra-se a Vênus de Willendorf, uma estatueta de formas arredondadas similar a uma boneca, provavelmente usada como símbolo de fertilidade e não como brinquedo. Réplica da Vênus de Willendorf FONTE: Disponível em: <https://museudosbrinquedos.wordpress.com/>. Acesso em: 28 fev. 2015. NOTA TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO 13 As bonecas chegaram ao Brasil por volta de 1806, com a vinda da família real, e naquela época eram usadas apenas pela corte, somente no início do século XX chegaram às casas das famílias de classe média. Hoje, encontramos no mercado uma diversidade de modelos: bonecas bebê, adultas, pequenas, grandes e inclusive bonecos masculinos, soldados, heróis etc., destinados ao público masculino, desmistificando a ideia de boneca ser brinquedo apenas de meninas. (RIBEIRO, 2011). Para conhecer mais a história e evolução das bonecas acesse: Museu dos Brinquedos <https://museudosbrinquedos.wordpress.com>. A brincadeira só passa a ter sentido se a criança se entregar, pois é a imaginação da criança que dá vida ao brincar. “A essência do brincar não está no fazer como se, mas um fazer sempre de novo, transferência da experiência mais comovente em hábito”. (BENJAMIM, 1984, p. 75). 4.1 O BRINCAR NO PASSADO E NO PRESENTE Antigamente a criança era vista como um adulto em miniatura. Elas passavam grande parte do seu tempo com os pais, realizando os afazeres domésticos, não eram estimuladas a brincar e a brincadeira era vista como futilidade. Os tempos mudaram e o brincar nos dias atuais é considerado essencial para o desenvolvimento integral da criança. De acordo com a Declaração Universal dos Direitos da Criança, “Toda criança tem direito à alimentação, habitação, recreação e assistência médica.” Portanto, cabe à família, escola e sociedade garantir e colocar em prática este direito. Hoje, o brinquedo e a brincadeira tomam conta do universo infantil, encontramos no mercado brinquedos para todas as idades e gostos. Porém, nosso cotidiano também é incutido pela ideia de que a criança precisa saber quando é hora de brincar e ir assumindo algumas responsabilidades desde cedo. Nessa perspectiva, Santos (2000, p. 57) destaca que: Culturalmente somos programados para não sermos lúdicos. Basta lembrarmos quantas vezes em nossas vidas já ouvimos frases como estas: “Chega de brincar, agora é hora de estudar”; “Brincadeira tem hora”; “Fale a verdade, não brinque”; “A vida não é uma brincadeira”. E assim fomos construindo nossas ideias sobre o lúdico. DICAS UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 14 Brincamos por instinto, desde bebês brincamos com nosso próprio corpo e conforme vamos crescendo precisamos controlar essa nossa vontade, em prol de regras impostas pela sociedade. U jiie, no artigo Brincar, brinquedo e brincadeira usos e significações, descreve que o papel do brincar emerge na sociedade contemporânea para resgatar os valores mais essenciais dos seres humanos, todos fundamentais e indissociáveis, tais como: - ser potencial na cura psíquica e física, forma de comunicação entre iguais e entre as várias gerações; - instrumento de desenvolvimento e ponte para a aprendizagem; - possibilidade de resgatar o patrimônio lúdico-cultural nos diferentes contextos socioeconômicos; - potencialidade criativa; - inserção em uma sociedade regrada; - oportunidade de convivência com os outros, de se colocar no lugar do outro (empatia); - de ganhar hoje e perder amanhã; - de liderar e ser conduzido; - de falar e de ouvir; - incentivo ao trabalho solidário, em equipe, a uma postura mais cooperativa e ecológica; - caminho do conhecimento e descoberta de potenciais ocultos; - estímulo à autonomia, à livre escolha, à transformação e à tomada de decisões. FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/Win7/Downloads/1743-8296-1-PB.pdf>. Acesso em: 5 abr. 2015 5 CONCEITUANDO O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA O brinquedo e a brincadeira estão diretamente ligados ao ato de brincar. Brincar - Essa palavra tem origem latina. Vem de vinculum que quer dizer laço, algema, e é derivada do verbo vincire, que significa prender, seduzir, encantar. Vinculum virou brinco e originou o verbo brincar. FONTE: Disponível em: <http://www.dicionarioetimologico.com.br/brincar/>. Acesso em: 28 fev. 2015. TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO 15 Muitos dos brinquedos que conhecemos hoje foram passados de geração para geração, fazem parte da cultura do nosso povo, são parte do folclore brasileiro e apresentam características específicas de acordo com cada região ou cultura. Segundo Brougère (2004, p. 13), “o brinquedo é um objeto distinto e específico, com imagem projetada em três dimensões, cuja função parece vaga. Com certeza podemos dizer que a função do brinquedo é a brincadeira”. O brinquedo refere-se a um objeto que a criança manipula livremente, sem estar condicionado a regras ou a princípios de utilização de outra natureza. (BROUGÈRE, 2004). Se considerarmos que a criança aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la. (KISHIMOTO, 2004, p. 36). Cada brinquedo apresenta seu valor expressivo, a criança ao manipulá- lo tem a liberdade e a autonomia de desenvolver uma grande variedade de representações imaginárias. Segundo Brougère (2004, p. 41), Para analisar essa dimensão simbólica, devemos, mesmo que isso pareça arbitrário, decompor o brinquedo segundo determinados aspectos. 1. Aspecto material do brinquedo, preliminar à própria significação, à sua própria possibilidade, e que é seu suporte essencial. A originalidade do brinquedo provém dessa capacidade de ser um meio de expressão com volume. É um objeto dotado de significação, mas que continua sendo um objeto. 2. A representação, o brinquedo pode representar a realidade ou reproduzir um mundo imaginário. Até mesmo antes de ser manipulado de forma lúdica, o brinquedo já representa uma significação incutida pela cultura na qual a criança está inserida. De acordo com o autor, manipular brinquedos remete, entre outras coisas, a manipular significações culturais originadas numa determinada sociedade. O brinquedo tem um significado independente para cada ser, tudo depende de como ele é visto pela criança. O material do qual é fabricado, a cor, tudo influencia na sua significação. Segundo Brougère (2004, p. 44), “percebemos, assim, uma autonomia do mundo do brinquedo que produz sua própria lógica. Cada brinquedo pode, desse modo, ser analisado do ponto de vista de sua significação.” UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 16 Para leitura! Este livro traz importantes reflexões referentes ao significado de palavras como jogo, brinquedo e brincadeira, passando pela discussão e importância do jogo na educação infantil, até as teorias sobre este assunto. Através desta leitura vocêterá a oportunidade de aprimorar seu conhecimento em relação à importância do lúdico na Educação Infantil. LEITURA COMPLEMENTAR Primeira Olimpíada Abril de 1896 Entrevista: Pierre de Coubertin O barão dos esportes O secretário-geral do Comitê Olímpico Internacional explica os motivos que o levaram a reviver os antigos Jogos gregos e ataca a envolvimento do dinheiro com a prática esportiva Nascido em 1863 no seio de uma família da aristocracia parisiense, Pierre de Frédy tinha desenhada para si uma carreira militar. Mas o jovem humanista acreditava que o poder da educação era maior do que o das armas. Recusando o destino que lhe fora traçado, tomou para si a missão de uma reforma pedagógica na França. Apaixonado pelo esporte – então visto em seu país como um inimigo mortal da intelectualidade –, o Barão de Coubertin, como se tornou conhecido, visitou a Inglaterra, os Estados Unidos e o Canadá para conhecer sistemas educacionais que aliassem os exercícios físicos aos intelectuais. Convencido de seu sucesso, dedicou-se, em seu retorno à França, a fundar associações desportivas escolares e à sua organização em nível nacional. As fronteiras gaulesas, porém, já eram pequenas para Coubertin, que sonhava em retomar os antigos Jogos Olímpicos gregos. Uma competição multiesportiva internacional era uma ideia impraticável e utópica para a maioria – mas não para o teimoso francês, que, com a ajuda de alguns poucos abnegados, logrou organizar a competição em plena era moderna. Nesta entrevista, o Barão, defensor ferrenho do amadorismo nos esportes, comenta a resistência encontrada ao restabelecimento dos Jogos Olímpicos e já projeta o legado do evento para a Grécia e para o mundo: "Os Jogos Olímpicos, para os antigos, representavam a união do esporte e promoviam a paz. Não é nada visionário recorrer a eles para obter benefícios similares no futuro". DICAS TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO 17 VEJA - Qual foi a intenção dos membros dos fundadores do Comitê Olímpico Internacional ao reviver uma instituição que esteve esquecida por tantos séculos? Coubertin - O esporte está assumindo uma importância cada vez maior a cada ano, e o papel que desempenha parece ser tão importante e duradouro no mundo moderno quanto era na Antiguidade. Mais que isso, ele reaparece com novas características, é internacional e democrático, adequado, portanto, às ideias e necessidades dos dias de hoje. Mas hoje, como antes, seu efeito será benéfico ou maléfico de acordo com o uso que dele é feito, e da direção a que é encaminhado. O esporte pode trazer à baila tanto as paixões mais nobres quanto as mais rasas; pode desenvolver as qualidades de honra e altruísmo da mesma forma que a ganância; pode ser cavalheiresco ou corrupto, viril ou bestial; por último, pode ser usado para fortalecer a paz ou preparar para a guerra. Ora, nobreza de sentimentos, admiração pelas virtudes de altruísmo e honra, espírito cavalheiresco, energia viril e paz são as necessidades primárias de qualquer democracia moderna, seja ela republicana ou monárquica... VEJA - O senhor acredita que, após esta primeira edição, os Jogos Olímpicos realmente se solidificarão como uma competição esportiva internacional periódica? Coubertin - Com certeza. Não se trata de uma criação local e passageira, mas sim de algo universal e duradouro. Até porque o renascimento dos Jogos não é só fruto de um sonho espontâneo: é a consequência lógica das grandes tendências cosmopolitas de nosso tempo. O século XIX viu o despertar de um gosto pelos esportes em toda a parte. Ao mesmo tempo, as grandes invenções desta era, as estradas de ferro e telégrafos, permitiram a comunicação de pessoas de todas as nacionalidades. Uma relação mais fácil entre homens de todas as línguas abriu naturalmente uma esfera maior para interesses em comum. A humanidade tem começado a viver uma existência menos isolada, diferentes raças aprenderam a se conhecer e a se compreender melhor, e ao comparar seus poderes e realizações nos campos da arte, indústria e ciência, uma rivalidade nobre nasceu entre elas, impulsionando-as a conquistas ainda maiores. As Exposições Universais têm reunido em um ponto do globo os produtos de seus cantos mais remotos. Nos domínios da ciência e da literatura, assembleias e conferências vêm unindo os mais ilustres intelectuais de todas as nações. Não poderia ser de outra forma que também esportistas das mais diversas nacionalidades deveriam começar a se encontrar em território neutro. A Suíça tomou a frente ao convidar atiradores estrangeiros para participar das competições de tiro de sua federação; corridas de bicicleta vêm sendo disputadas em todas as pistas da Europa; Inglaterra e Estados Unidos têm se desafiado por mar e por terra; os mais hábeis esgrimistas de Roma e Paris têm cruzado seus floretes. Gradativamente, o esporte está se tornando mais internacional, estimulando os interesses e ampliando a esfera de ação. O renascimento dos Jogos Olímpicos se tornou possível e, posso dizer, até mesmo necessário. VEJA - Ainda assim, a competição esteve longe de ser uma unanimidade. Como foi a organização? Coubertin - Quando tive a ideia de convocar em Paris um Congresso Internacional do Esporte, em 1892, logo descobri que isso não seria possível sem alguma labuta preliminar, e me lancei com afinco nessa tarefa. Unificar os grandes clubes esportivos franceses e me comunicar com as sociedades similares de outros países era primordial, de um lado, para não oferecer a estranhos o edificante espetáculo da discórdia nacional e, de outro, para obter do exterior diversos adeptos a essa causa. Na primavera de UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 18 1893, a situação tinha melhorado tanto que já era possível convocar um congresso. Tínhamos ótima relação com Bélgica, Inglaterra e Estados Unidos, e convites foram enviados a todas as sociedades esportivas no mundo solicitando-lhes que mandassem representantes para Paris, no mês de junho de 1894. A programação do Congresso foi elaborada de modo a disfarçar seu principal objetivo: o renascimento dos Jogos Olímpicos. Ela trazia apenas questões sobre o esporte em geral. Cuidadosamente, deixei de mencionar tão ambicioso projeto, receando que pudesse levantar tamanha manifestação de desdém e escárnio que acabasse por desencorajar, de antemão, aqueles favoráveis à ideia. Isso porque sempre que eu aludira ao meu plano em encontros em Oxford ou Nova York, ficara tristemente consciente de que minha plateia o considerara utópico e impraticável. VEJA - As coisas não mudaram nem mesmo depois do anúncio da realização do evento em Atenas, com o apoio do governo local? Coubertin - Pouco. Os comitês nacionais e internacionais estavam ocupados recrutando competidores, mas a tarefa não era tão fácil quanto se possa imaginar. Não só era preciso superar a indiferença e a desconfiança. O renascimento dos Jogos Olímpicos incitara certa hostilidade. Embora o Congresso de Paris tenha sido cuidadoso em decretar que toda forma de exercício físico praticada no mundo deveria encontrar seu lugar na programação, os ginastas sentiram-se ofendidos, acreditando não ter recebido proeminência suficiente. A maior parte das associações de ginástica da Alemanha, França e Bélgica está animada por um rigoroso espírito exclusivo. Essas associações não ficaram satisfeitas em declinar do convite para dirigirem-se a Atenas. A federação belga escreveu para as outras federações, sugerindo uma resistência orquestrada contra o trabalho do Congresso de Paris. Eles não se mostraram inclinados a tolerar a presença das modalidades atléticas que eles próprios não praticam; aquilo que desdenhosamente chamam de "esportes ingleses" se tornou, por conta de sua popularidade, especialmenteodioso para eles. Felizmente, porém, outras mentes prevaleceram. VEJA - O profissionalismo parece ser cada vez mais uma realidade no esporte. Os Jogos Olímpicos, com seu caráter completamente amadorístico, são uma resposta a esse espírito? Coubertin - Sim, é fato que mais e mais um espírito mercantilista ameaça invadir os círculos esportivos. Os homens não correm ou lutam abertamente por dinheiro, mas ainda assim a tendência a um acordo lamentável se alastrou. O desejo de vencer muitas vezes não tem que ver com a simples ambição por uma distinção honrosa. E, se não desejássemos ver o esporte degenerar e acabar pela segunda vez, ele precisava ser purificado e unido. De todas as medidas que levariam a esse desejado objetivo, só uma me parecia totalmente praticável: a criação de uma competição periódica, para a qual as sociedades esportivas de todas as nacionalidades seriam convidadas a enviar seus representantes, colocando esses encontros sob a única patronagem que poderia lançar sobre eles uma aura de grandeza e glória – a patronagem da Antiguidade Clássica! Nos Jogos Olímpicos, as competições serão sempre disputadas com regulamentos amadores. Abrimos exceção para a esgrima, já que em muitos países professores de esgrima militar são soldados ranqueados. Para eles, providenciou-se um torneio à parte. Para todas as outras modalidades, somente amadores são admitidos. É impossível conceber os Jogos Olímpicos com prêmios em dinheiro. Mas essas regras, que parecem até simples, são bastante complicadas em sua aplicação prática pelo fato de que a definição do que constitui um amador difere de um país para outro – às TÓPICO 1 | A ANTROPOLOGIA DOS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO 19 vezes, de um clube para outro. VEJA - Os Jogos foram um sucesso na Grécia. A população tomou parte nas celebrações, e um sentimento de orgulho pelo passado glorioso esportivo se alastrou pelo país. Qual o legado do evento ao país? Coubertin - É fato amplamente conhecido que os gregos, durante seus séculos de opressão, haviam perdido completamente o gosto pelos esportes. O povo grego, contudo, não é acometido da indolência natural dos orientais, e estava claro que o hábito atlético, dada a oportunidade, voltaria a se enraizar facilmente entre seu povo. De fato, diversas associações de ginástica haviam se formado nos últimos anos em Atenas e Patras, e o público mostrava cada vez mais interesse em seus feitos. Era, então, um momento favorável para dizer as palavras: Jogos Olímpicos. Assim que ficou claro que Atenas auxiliaria no renascimento das Olimpíadas, uma perfeita febre de atividade muscular tomou conta de todo o reino. E isso não foi nada perto do que se seguiu depois dos Jogos. Eu vi, em pequenas vilas longe da capital, pequenos garotos praticamente sem roupas atirando pedrinhas, pulando sobre barreiras improvisadas, e dois moleques nunca se encontravam nas ruas de Atenas sem disputar uma corrida. Nada superava o entusiasmo com que os vitoriosos eram recebidos por seus conterrâneos no retorno às suas cidades natais. Eram recebidos pelo prefeito e pelas autoridades municipais, e aclamados por uma multidão carregando ramos de oliveira e de louro. Nos tempos antigos, o vencedor adentrava a cidade por uma abertura feita especialmente em seus muros. As cidades gregas já não são mais muradas, mas pode- se dizer que o esporte fez uma abertura no coração da nação. Quando se percebe a influência que a prática de exercícios físicos pode ter no futuro de um país e na força de todo um povo, fica-se tentado a imaginar se a Grécia não dará início a uma nova era a partir de 1896. VEJA - E em relação ao resto do mundo? Os Jogos cumpriram o papel que o senhor imaginava? Coubertin - É claro que, no mundo como um todo, os Jogos Olímpicos ainda não exerceram nenhuma influência, mas estou profundamente convencido que eles o farão. Esta foi a razão para seu resgate. Como já disse, o esporte moderno precisa ser unificado e purificado. Acredito que nenhuma educação, especialmente em uma época democrática, pode ser boa e completa sem a ajuda do esporte; mas o esporte, para desempenhar seu papel educacional, precisa ser baseado em um desinteresse puro e no sentimento de honra. Foi com esse pensamento em mente que eu busquei reviver os Jogos Olímpicos. Tive sucesso depois de muito esforço. Se a instituição prosperar – e confio que, com o auxílio de todas as nações civilizadas, ela irá prosperar –, acredito que ela pode ser um fator potente, ainda que indireto, na busca da paz universal. Guerras acontecem porque as nações compreendem erradamente as outras. Não teremos paz enquanto o preconceito, que hoje separa as diferentes raças, não for erradicado. Para obter este objetivo, que melhor meio do que reunir periodicamente a juventude de todos os países para disputas amistosas de força muscular e agilidade? Os Jogos Olímpicos, para os antigos, representavam a união do esporte e promoviam a paz. Não é nada visionário recorrer a eles para obter benefícios similares no futuro. FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/historia/olimpiada-1896/entrevista-barao-pierre-de- coubertin-impressao.shtml>. Acesso em: 28 fev. 2015. 20 Neste tópico, você viu que: • A grande maioria dos jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais entre as crianças brasileiras chegaram até aqui através da vida dos povos que deram origem à nossa civilização, vindos da Europa e até mesmo do Oriente. • Os jogos sempre fizeram parte do contexto histórico do homem e foram se moldando de acordo com a necessidade de cada época. • Os jogos na antiguidade apresentavam uma dimensão religiosa e em alguns casos os jogos também tinham sua dimensão política, através de um acordo de interesses, eram oferecidos pelos nobres, depois pelo Imperador ao povo. • A Grécia também foi precursora dos Jogos Olímpicos, os primeiros jogos datam dos anos de 776 a.C. • Os astecas acreditavam que este jogo representava uma regeneração cósmica indispensável à sobrevivência da sociedade. • Todo jogo tem regras, elas podem ser alteradas ou não, os participantes podem tomar essa decisão antes de iniciar o jogo. Vale ressaltar que, há jogos “oficiais” que devem seguir à risca as regras e estas só podem ser alteradas com antecedência e em comum acordo pelos responsáveis. • Antigamente, a criança era vista como um adulto em miniatura. Elas passavam grande parte do seu tempo com os pais, realizando os afazeres domésticos, não eram estimuladas a brincar e a brincadeira era vista como futilidade. • Muitos dos brinquedos que conhecemos hoje foram passados de geração para geração, fazem parte da cultura do nosso povo, são parte do folclore brasileiro e apresentam características específicas de acordo com cada região ou cultura. • O brinquedo tem um significado independente para cada ser, tudo depende de como ele é visto pela criança. O material do qual é fabricado, a cor, tudo influencia na sua significação. RESUMO DO TÓPICO 1 21 AUTOATIVIDADE 1 Observe a imagem a seguir e teça um comentário partindo das discussões realizadas neste tópico. FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/educacao-fisica/ origem-dos-jogos-olimpicos.htm>. Acesso em: 28 fev. 2015. 2 A partir das discussões iniciadas neste tópico, reflita sobre a evolução antropológica do jogo, brinquedo e brincadeira. Registre suas reflexões para serem discutidas com seus colegas. 3 Observe a obra: Jogos e Brinquedos Infantis, 1560, de Pieter Brueghel e escolha uma brincadeira para descrever. FONTE: Disponível em: <http://www.rupert.id.au/TJ521/bruegel_la.jpg>. Acesso em: 28 fev. 2015. 22 23 TÓPICO 2 JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS – RESGATE CULTURAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como é bom recordar momentos de nossa infância, lembrar das brincadeiras que nos marcaram, das risadas, frustrações, dos amigos, do faz de conta, onde tudo podia acontecer. Momentos estes que não voltam,mas certamente ficarão gravados em nossa memória por muito tempo. Neste tópico apresentaremos alguns jogos e brincadeiras tradicionais das crianças brasileiras, brincadeiras estas que foram se moldando com o passar do tempo, mas mantiveram suas raízes. Quem sabe, iremos trazer à tona lembranças que marcaram sua infância! 2 OS JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DA CULTURA BRASILEIRA Muitos jogos e brincadeiras que conhecemos atualmente são considerados folclóricos, pois são brincadeiras antigas que foram passadas de geração para geração, e mantiveram suas regras básicas de origem. Os jogos e brincadeiras tradicionais são aqueles que por suas características de fácil assimilação, desenvolvimento de forma prazerosa, aspectos lúdicos e função em seu contexto, foram aceitos coletivamente e preservados através dos tempos, transmitidos oralmente de uma geração para outra. Disponível em: <http://alb.com.br/arquivo-morto/ edicoes_anteriores/anais16/sem13pdf/sm13ss14_04.pdf>. Acesso em: 28 fev. 2015. Esses jogos e brincadeiras podem apresentar variações e até mesmo sofrem modificações de acordo com cada região ou cultura. Mas cultivar esses jogos e brincadeiras é essencial para manter viva a história de um povo e o folclore do nosso país. Em relação à origem exata dos jogos, brinquedos e brincadeiras, Kishimoto (2004, p. 15) afirma que: Não se conhece a origem desses jogos, sabe-se, apenas, que são provenientes de práticas abandonadas por adultos, de fragmentos de romances, poesias, mitos e rituais religiosos. A tradicionalidade e universalidade dos jogos assentam-se no fato de que povos distintos e UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 24 antigos, como os da Grécia e do Oriente brincavam de amarelinha, de empinar papagaios, jogar pedrinhas, e até hoje as crianças o fazem da mesma forma. Geralmente o brinquedo tradicional (artesanal) é confeccionado pela criança, dentro de um ponto de vista infantil, a criança sabe o que quer com esse brinquedo. Já o brinquedo industrializado é pensado e projetado pelo adulto de acordo com os seus interesses e objetivos, em muitos deles a criança não acrescenta e não cria nada. “Quando o brinquedo é oferecido como prova de status, para satisfazer a vaidade, as recomendações quanto ao uso são tantas, que restringem a atividade lúdica”. (RIBEIRO, 2011, p. 55). Ainda de acordo com o autor, no mundo lúdico a criança encontra o equilíbrio entre o real e o imaginário, alimenta sua vida interior, descobre o mundo e torna-se operativa. Não se sabe exatamente a data de quando cada um dos jogos ou brincadeiras surgiu, mas pesquisas expõem que algumas fazem parte da história da humanidade há muito, mas muito tempo. Kishimoto (2004, p. 15) apresenta uma importante reflexão acerca do jogo para a cultura indígena. A dificuldade aumenta quando se percebe que um mesmo comportamento pode ser visto como jogo ou não jogo. Se para um observador externo a ação da criança indígena que se diverte atirando com arco e flecha em pequenos animais é uma brincadeira, para a comunidade indígena nada mais é que uma forma de preparo para a arte da caça necessária à subsistência da tribo. Para a criança o ato de atirar com arco e flecha pode ser uma simples brincadeira, mas na verdade os indígenas passam seus costumes e tradições através das brincadeiras com o objetivo de aprender as estratégias de sobrevivência, entre elas a caça. Muitos jogos e brincadeiras tradicionais do Brasil foram trazidos pelos imigrantes. Segundo Kishimoto, (2004, p. 22), “grande parte dos jogos tradicionais popularizados no mundo inteiro, como o jogo de saquinhos (ossinhos), amarelinha, bolinha de gude, jogo de botão, pião e outros, chegou ao Brasil, sem dúvida, por intermédio dos primeiros portugueses”. TÓPICO 2 | JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS – RESGATE CULTURAL 25 3 VAMOS CONHECER ALGUNS JOGOS E BRINCADEIRAS TÍPICOS DO BRASIL A cultura brasileira é marcada pelas cantigas de roda, brincadeiras com corda, versos, parlendas, bolinha de gude, esconde-esconde e pega-pega. Há uma grande riqueza neste sentido, as crianças são incentivadas desde a tenra idade e geralmente aprendem com os mais velhos. De acordo com os PCN de Educação Física: A gama de esportes, jogos, lutas e ginásticas existentes no Brasil é imensa. Cada região, cada cidade, cada escola tem uma realidade e uma conjuntura que possibilitam a prática de uma parcela dessa gama. A lista a seguir contempla uma parcela de possibilidades e pode ser ampliada ou reduzida: • jogos pré-desportivos: queimada, pique-bandeira, guerra das bolas, jogos pré-desportivos do futebol (gol a gol, controle, chute em gol rebatida drible, bobinho, dois toques); • jogos populares: bocha, malha, taco, boliche; • brincadeiras: amarelinha, pular corda, elástico, bambolê, bolinha de gude, pião, pipas, lenço-atrás, corre-cutia, esconde-esconde, pega-pega, coelho sai da toca, duro ou mole, agacha-agacha, mãe da rua, carrinhos de rolimã, cabo de guerra etc.; • atletismo: corridas de velocidade, de resistência, com obstáculos, de revezamento; saltos em distância, em altura, triplo, com vara; arremessos de peso, de martelo, de dardo e de disco; • esportes coletivos: futebol de campo, futsal, basquete, vôlei, vôlei de praia, handebol, futvôlei etc.; • esportes com bastões e raquetes: beisebol, tênis de mesa, tênis de campo; • esportes sobre rodas: hóquei, hóquei in-line, ciclismo; • lutas: judô, capoeira, caratê; • ginásticas: de manutenção de saúde (aeróbica e musculação); de preparação e aperfeiçoamento para a dança; de preparação e aperfeiçoamento para os esportes, jogos e lutas; olímpica e rítmica desportiva. FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/fisica.pdf>. Acesso em: 28 fev. 2015. Para as crianças a brincadeira não tem hora, nem lugar, sempre que surge uma oportunidade, lá estão elas. As brincadeiras, seu nome e o modo de brincar podem variar de região para região, por se tratar de culturas diferentes. Cada uma vai adaptando conforme seus interesses e disponibilidade de materiais. UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 26 FIGURA 6 – BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/ivanisja/brincadeiras- folclricas-33910815>. Acesso em: 28 fev. 2015. 3.1 BRINCADEIRAS DE ORIGEM INDÍGENA Não se pode dizer bem ao certo de onde cada jogo, brinquedo e brincadeira se originaram, o que sabemos é que estes têm suas raízes mais fortes em uma cultura específica e se difundiram entre as mais diversas culturas e regiões, onde suas características e nomes podem variar. Isso ocorreu e ainda ocorre porque as pessoas se mudam, mas mantêm seus hábitos e sua cultura que assim é transmitida a outros. Apresentaremos a seguir alguns jogos, brincadeiras e brinquedos característicos da cultura indígena, europeia, africana e asiática, os quais encantaram e ainda encantam crianças e adultos de todo o Brasil. Quem nunca brincou de peteca? Pois é, essa brincadeira tão familiar e que aos poucos vem sendo esquecida tem origem indígena. Os indígenas não compravam seus brinquedos, eles eram construídos e alguns passaram de geração para geração. A hora de construir o brinquedo para eles também é uma brincadeira, procurar os materiais necessários, é uma grande aventura. TÓPICO 2 | JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS – RESGATE CULTURAL 27 Eles usavam uma trouxa de folha cheia de pedras que eram amarradas numa espiga de milho. Brincavam de jogar esta trouxa de um lado para outro, chamavam-na de Pe’teka, que em tupi significa bater. FIGURA 7 – PETECA FONTE: Disponível em: <http://pibmirim.socioambiental.org/ como-vivem/brincadeiras>. Acesso em: 29 fev. 2015. NOTA O nome “peteca” – de origem Tupi e que significa “tapear”, “golpear com as mãos” – é hoje o mais popular entre todos os nomes desse brinquedotão conhecido no Brasil. Ainda hoje muitas pessoas aguardam o tempo das colheitas para elaborar seus brinquedos. Com as palhas do milho trançam diferentes amarras e laços e criam petecas de vários formatos. As tão conhecidas pernas-de-pau, que fazem a festa da criançada e de muitos adultos, também são de origem indígena. FIGURA 8 – PERNAS-DE-PAU UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 28 Perna-de-pau dos Xavantes Crianças, de uma maneira geral, adoram mostrar o quanto são grandes e fortes. Vivem fazendo gestos que aumentam seus tamanhos e forças. Talvez tenha sido através desse desejo que a perna-de-pau foi parar nas pernas de tantas crianças pelo mundo. Em uma aldeia xavante, no Mato Grosso, quando as crianças têm vontade de andar nas pernas-de-pau, saem em grupos para o mato levando consigo seus facões. Precisam encontrar o brinquedo que está pronto e escondido em alguma árvore da mata, só aguardando a vinda de alguém. Procuram por horas um tronco longo e reto, e que tenha na ponta uma forquilha (uma divisão no formato da letra Y, onde se apoia o pé) nem muito curva, nem muito aberta. Essa busca seria mais simples se a aldeia não estivesse situada bem no meio do cerrado brasileiro, uma região de árvores baixas com troncos bastante tortos. Encontrado o tronco com essas características, logo surge o segundo desafio: achar o par para ele. Dessa forma, uma “caçada” às pernas escondidas na mata pode durar uma manhã inteira. As forquilhas não permitem que os pés fiquem paralelos ao chão, eles ficam retorcidos para dentro, causando um certo desconforto para quem anda sobre elas. Mesmo assim, as crianças xavantes gostam de provar que são fortes e resistentes, e o desafio é conferir quem consegue andar a maior distância possível sem cair. Um dia inteiro se passa sem que as crianças busquem uma nova atividade. Para elas, uma brincadeira por dia é suficiente. FONTE: Disponível em: <http://pibmirim.socioambiental.org/como-vivem/ brincadeiras>. Acesso em: 28 fev. 2015. Como já mencionamos, os indígenas aproveitavam estes momentos de brincadeira para ensinar a sua cultura aos mais jovens. É através dos jogos e brincadeiras que eles aprendem a fazer comida, caçar, cultivar a plantação, pintar seus corpos, a fazer rituais, construir armas, entre tantas outras coisas. DICAS Para conhecer mais sobre essa rica cultura acesse o site: <http://pib. socioambiental.org/pt>. TÓPICO 2 | JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS – RESGATE CULTURAL 29 3.2 BRINCADEIRAS DE ORIGEM EUROPEIA Pular amarelinha, pular macaca, caracol, não importa qual nome tenha! Essa brincadeira tem origem portuguesa e faz a alegria da criançada, faça chuva ou faça sol. De origem francesa, a amarelinha chegou ao Brasil e rapidamente se tornou popular. A brincadeira consiste em um desenho formado por blocos numerados de 1 a 9, com semicírculos nas extremidades que são jogados com uma pedrinha que deve obedecer às paredes de cada bloco. FIGURA 9 – AMARELINHA FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/cultura/brincadeiras-brinquedos- culturais.htm>. Acesso em: 28 fev. 2015. Tem também as canções de ninar, as histórias de bruxas e as tão famosas cantigas de roda. Segundo Kishimoto (2004, p. 22): As lendas das cucas, bichos-papões, e bruxas, divulgadas pelas avós portuguesas aos netinhos e pelas negras amas de sinhozinhos, acompanham a infância brasileira e penetram em seus jogos. [...] Desde primórdios da colonização, a criança brasileira vem sendo ninada com cantigas de origem portuguesa. UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 30 A ciranda, que é a dança mais famosa do Brasil, foi trazida de Portugal como dança adulta, mas logo sofreu transformações e passou a alegrar as brincadeiras infantis. É bastante utilizada ainda hoje em escolas, parques e espaços que prezam as brincadeiras antigas, passando-as às novas gerações, mostrando sua importância folclórica e cultural. FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/cultura/brincadeiras-brinquedos- culturais.htm>. Acesso em: 28 fev. 2015. FIGURA 10 - CIRANDA 3.3 BRINCADEIRAS DE ORIGEM AFRICANA Essa cultura tão rica chegou ao Brasil não de uma forma muito favorável, pois seus portadores eram trazidos para serem escravos, seus costumes e tradições tiveram que ser cultivados dentro da senzala, longe dos olhos dos “senhores”. Por isso, não se tem muitas fontes de pesquisa, por serem escravos não podiam expressar seus interesses e sua cultura, tinham que acatar ordens, caso contrário eram castigados. Acredita-se que as brincadeiras como pega-pega, pular corda, queimada, brincadeira do elástico tenham origem africana. Mas outras, como a Mancala, têm sua origem comprovada, esse jogo tem o objetivo de desenvolver o raciocínio lógico de quem joga, é preciso ficar atento para não perder. Originário da África, a Mancala teria surgido por volta do ano 2.000 a.C. É jogado atualmente em inúmeros países africanos, mas já extrapolou as fronteiras deste continente. Trata-se de um jogo com profundas raízes filosóficas que é jogado habitualmente com pequenas pedras ou sementes. Disponível em: <http://www.richmond.com.br/lumis/portal/ file/fileDownload.jsp?fileId=8A8A8A833C66A449013C690C17EF6594>. Acesso em: 28 fev. 2015. TÓPICO 2 | JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS – RESGATE CULTURAL 31 FIGURA 11 – MANCALA FONTE: Disponível em: <http://www.jogos.antigos.nom.br/mancala.asp>. Acesso em: 28 fev. 2015. O objetivo do jogo é capturar o maior número de pedras. O jogo começa em geral com quatro pedras em cada buraco. Sua jogada consiste em escolher um buraco, retirar suas fichas e distribuí-las pelos outros buracos, uma por buraco, no sentido anti-horário (em algumas versões do jogo, no sentido horário). Quando você passa por sua mancala, você deixa uma pedra nela como se fosse um buraco normal. Mas a mancala do adversário você pula. Se a última pedra distribuída cair na sua própria mancala, você joga de novo. E se ela cair em um dos seus buracos e ele estiver vazio, você leva para sua mancala não apenas essa pedra, mas todas as pedras que estiverem no buraco adversário exatamente oposto. Quando os 6 buracos de um jogador estão vazios, o adversário coloca todas as pedras que estiverem na sua metade do tabuleiro em sua mancala. Somam-se então as pedras e quem tiver mais vence. FONTE: Disponível em: <http://www.ludomania.com.br/Tradicionais/mancala.htm>. Acesso em: 28 fev. 2015. UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 32 3.4 BRINCADEIRAS DE ORIGEM ASIÁTICA O tão famoso aviãozinho que voava pela sala de aula, mas a professora nunca sabia quem tinha jogado. Pois é, este e tantos outros fazem parte dos brinquedos trazidos pelos chineses, os brinquedos de papel. Pipa Pipa, papagaio, arraia, raia, quadrado, pandorga... As pipas apareceram na China, mil anos antes de Cristo, como forma de sinalização. Sua cor, desenho ou movimento poderia enviar mensagens entre os campos. Os chineses eram peritos em construir pipas enormes e leves. Da China elas foram para o Japão, para a Índia e depois para a Europa, chegando ao Brasil através dos portugueses. Os tipos de pipa mais conhecidos são: de três varas, de cruzeta e o de caixa. Para confeccioná-las bastam algumas folhas de papel, varinhas e linha. As pipas são muito comuns em todo País, em alguns estados recebem nomes diferentes, dependendo da sua forma, é conhecida como papagaio, arraia, dentre outros nomes. A pipa artesanal consiste basicamente em: uma armação de madeira (é muito utilizado para fazer a armação taliscas de coqueiro, gravetos feitos com bambu. Para Arraia, muito comum na Bahia, a armação tem forma de "X", para a Pipa tem forma de "±", o Papagaio tem forma de "+"), que é colado no papel de seda já cortado com o formato e coresdesejadas, o único que não leva uma armação é o Periquito que é feito com qualquer tipo de papel. Depois de confeccionada a pipa, são feitos os preparativos para poder colocá-la em voo (empinar), deve-se fazer uma "chave" que consiste numa armação feita de linhas presas nas armações de madeira, que dará a mobilidade à pipa. Deve- se também colocar uma cauda (rabada, que é feita a partir de barbante, a qual se amarra pedaços de plásticos, ou papel. Ou é feita com linha, amarrando pequenos pedaços de algodão, e também pode ser utilizado um barbante de coloração marrom que é retirado a partir de sacos de batata) que serve para estabilizar a pipa no ar. FONTE: Disponível em: <http://www.portaleducacao.com.br/Artigo/Imprimir/25988>. Acesso em: 28 fev. 2015. Jankenpon, ou melhor, Pedra, papel ou tesoura! Essa brincadeira tão comum na escola nos dias atuais, também é de origem asiática. Vamos conhecer um pouco mais sobre essa brincadeira. TÓPICO 2 | JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS – RESGATE CULTURAL 33 FONTE: Disponível em: <http://www.aprendendojapones. com/2008/06/07/jankenpon/>. Acesso em: 28 fev. 2015. O Jankenpon é originário do Japão e por lá é uma brincadeira, mas aqui no Brasil usamos com frequência para tirar a sorte. Jan-Ken- Pon significa, nesta ordem, pedra - papel - tesoura, usado muitas vezes para tirar a sorte, assim, ela é tirada por meio da ascendência entre os objetos: o papel embrulha a pedra, a tesoura corta o papel e a pedra quebra a tesoura. Como brincadeira foi adaptada pelos coreanos: o vencedor deve gritar "olhe para este lado". Se o oponente virar o rosto para o mesmo lugar apontado, ele perde definitivamente o jogo. Senão, é determinado empate. FONTE: Disponível em: <http://www.smartkids.com.br/especiais/brincadeiras-tipicas.html>. Acesso em: 28 fev. 2015. FIGURA 12 - JANKENPON DICAS Quer saber do que as crianças do Brasil brincam? Acesse o site <http:// revistaescola.abril.com.br/brincadeiras-regionais/> e descubra! FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/brincadeiras- regionais/#Nortehtml>. Acesso em: 28 fev. 2015. UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 34 Como vimos, os brinquedos e brincadeiras estão presentes nas mais diversas culturas, alguns deles são mais relevantes em algumas do que em outras, mas estão lá, tornando-se um importante objeto na construção do repertório cultural e formação da criança. De acordo com Santos (1997, p. 61): Muitos outros brinquedos tradicionais estão vigentes no repertório lúdico da criança do século XX, como o bilboquê, o jogo de taco, corda de pular, peteca etc. Quando a criança moderna cansa de navegar em seu computador, distrai-se com as mesmas brincadeiras que as crianças das gerações anteriores. As brincadeiras com música são uma ótima oportunidade para desenvolver no educando as qualidades do movimento expressivo como leve/pesado, forte/ fraco, rápido/lento, fluido/interrompido, intensidade, duração, direção, sendo capaz de analisá-los a partir destes referenciais; conhecer algumas técnicas de execução de movimentos e utilizar-se delas; ser capaz de improvisar, de construir coreografias, e, por fim, de adotar atitudes de valorização e apreciação dessas manifestações expressivas. (PCN 1997, p. 39 e 40). A lista a seguir, retirada dos PCN (1997), é uma sugestão de danças e outras atividades rítmicas e/ou expressivas que podem ser abordadas e deverão ser adaptadas a cada contexto: • danças brasileiras: samba, baião, valsa, quadrilha, afoxé, catira, bumba-meu-boi, maracatu, xaxado etc.; • danças urbanas: rap, funk, break, pagode, danças de salão; • danças eruditas: clássicas, modernas, contemporâneas, jazz; • danças e coreografias associadas a manifestações musicais: blocos de afoxé, olodum, timbalada, trios elétricos, escolas de samba; • lenga-lengas; • brincadeiras de roda, cirandas; • escravos-de-jó. Vale ressaltar que é importante fazer um resgate cultural diversificado através de pesquisa com pessoas mais velhas, que conheçam algumas particularidades da região e assim tornar o trabalho mais significativo. A pesquisa sobre danças e brincadeiras cantadas de regiões distantes, com características diferentes das danças e brincadeiras locais, pode tornar o trabalho mais completo. TÓPICO 2 | JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS – RESGATE CULTURAL 35 FIGURA 13 - BRINCADEIRAS COM MÚSICA FONTE: Disponível em: <http://conexaoleiturarj.blogspot.com. br/2014/04/em-rio-das-pedras-ainda-se-brinca-de.html>. Acesso em: 12 abr. 2015. É através do brincar que a criança se coloca no lugar do outro, um personagem real, imaginário ou até mesmo um super-herói. A mídia em geral influencia nesse processo, no passado a criança se espelhava em seus familiares, reproduzia ações, imitava e com isso se desenvolvia. Atualmente se espelham em personagens da mídia. De acordo com Brougère (1995, p. 50), “a televisão transformou a vida e a cultura da criança, as referências de que ela dispõe. Ela influenciou, particularmente, sua cultura lúdica.” Essa influência pode ser negativa ou positiva, tudo dependerá do rumo que esta tomar no mundo cultural da criança. Nosso país possui uma cultura muito rica, mas é preciso tomar cuidado para que essa riqueza não se perca pela influência e pela “praticidade” que a mídia, a indústria e a tecnologia oferecem. Os super-heróis da TV se transformam em brinquedos e estes se inserem rapidamente nas brincadeiras infantis, onde a criança tem a possibilidade de entrar no personagem, ser mocinho ou bandido, bruxa ou princesa, uma superstar ou ainda um famoso jogador de futebol. UNIDADE 1 | O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA: CONCEITO, EVOLUÇÃO, IDENTIDADE CULTURAL E PEDAGÓGICA 36 FIGURA 14 – HERÓIS INFANTIS FONTE: Disponível em: <http://revistacrescer.globo.com/Revista/ Crescer/0,,EMI69414-15151,00-A+INFLUENCIA+DOS+HEROIS+NA+VIDA+DAS+C RIANCAS.html>. Acesso em: 12 abr. 2015. Estas brincadeiras são positivas para o desenvolvimento da criança. “O grande valor da televisão para a infância é oferecer às crianças, que pertencem a ambientes diferentes, uma linguagem comum, referências únicas”. (BROGÈRE, 2001, p. 54). Basta lembrar de um herói de desenho animado para que as crianças entrem na brincadeira em pé de igualdade, ajustando seu comportamento ao dos outros a partir daquilo que conhecem do seriado lembrado. DICAS Para complementar seus estudos, acesse: <http://revistaescola.abril.com.br/jogos- brincadeiras/Jogos e brincadeiras>. Nesta página, você confere tudo sobre o brincar e como utilizar as brincadeiras na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Reportagens, vídeos, entrevistas com os melhores especialistas, jogos on-line e planos de aula fazem parte deste guia. Boa diversão! TÓPICO 2 | JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS FOLCLÓRICAS – RESGATE CULTURAL 37 LEITURA COMPLEMENTAR DIÁRIO DE BORDO - HISTÓRIAS DE JOGOS Raciocínio. Estratégia. Paciência. Abaixo, você conhece um pouco sobre a história de alguns dos mais tradicionais jogos de tabuleiro, que há milênios encantam gerações. Jogo da Onça Os indígenas criaram o primeiro jogo de tabuleiro praticado no Brasil, o Jogo da Onça, que ainda pode ser encontrado entre eles, tanto no Brasil quanto em outras partes da América do Sul, e data do tempo dos incas. Sua origem provável está ligada ao jogo Taptana, ou Jogo do Puma, que era praticado por esse povo, habitante dos Andes, desde 1200 d.C. até a chegada dos europeus à América. Este jogo foi retratado numa gravura da época em que os espanhóis dominaram os incas, na qual Atahualpa, o último de seus imperadores, joga com seus carcereiros, pouco antes de ser morto, em 1553. Até hoje, existem vestígios do tabuleiro de Taptana em ruínas incas, no Peru. Entre os índios Mapuche, do Chile, um jogo similar era conhecido pelo nome
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