Buscar

CAPOEIRA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 208 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 208 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 208 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CAPOEIRA
PROFESSORES
Me. Reginaldo Calado de Lima
Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo 
Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. 
O download do aplicativo está disponível nas plataformas:
Acesse o seu livro também disponível na versão digital.
Google Play App Store
https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/420
2 
CAPOEIRA 
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação 
Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; 
LIMA, Reginaldo Calado de.
Capoeira. Reginaldo Calado de Lima
Maringá - PR.:Unicesumar, 2019. Reimpressão, 2022. 
208 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Capoeira . 2. Cantigas . 3. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1836-3 CDD - 22ª Ed. 796.81
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por: 
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor 
Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio 
Ferdinandi.
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia 
Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção 
de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, 
Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência 
de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, 
Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo.
Coordenador(a) de Conteúdo Mara C R Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto 
Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti, 
Ilustração Ilustrador, Fotos Shutterstock.
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não 
somente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão 
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional 
e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de 
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil 
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro 
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa 
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, 
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. 
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais 
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos 
pelo MEC como uma instituição de excelência, com 
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 
maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educadores 
soluções inteligentes para as necessidades de todos. 
Para continuar relevante, a instituição de educação 
precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, 
coragem e compromisso com a qualidade. Por 
isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, 
metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor 
do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes áreas 
do conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
boas-vindas
Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à 
Comunidade do Conhecimento. 
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar 
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores 
e pela nossa sociedade. Porém, é importante 
destacar aqui que não estamos falando mais daquele 
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas 
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, 
atemporal, global, democratizado, transformado pelas 
tecnologias digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, 
informações, da educação por meio da conectividade 
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares 
e da mobilidade dos celulares. 
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram 
a informação e a produção do conhecimento, que não 
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em 
segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer 
transformou-se hoje em um dos principais fatores de 
agregação de valor, de superação das desigualdades, 
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. 
Logo, como agente social, convido você a saber cada 
vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a 
tecnologia que temos e que está disponível. 
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg 
modificou toda uma cultura e forma de conhecer, 
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, 
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa 
cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o 
conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância 
(EAD), significa possibilitar o contato com ambientes 
cativantes, ricos em informações e interatividade. É 
um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá 
as portas para melhores oportunidades. Como já disse 
Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. 
É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. 
Willian V. K. de Matos Silva
Pró-Reitor da Unicesumar EaD
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes 
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível 
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem 
dialógica e encontram-se integrados à proposta 
pedagógica, contribuindo no processo educacional, 
complementando sua formação profissional, 
desenvolvendo competências e habilidades, e 
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, 
de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, 
estes materiais têm como principal objetivo “provocar 
uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta 
forma possibilita o desenvolvimento da autonomia 
em busca dos conhecimentos necessários para a sua 
formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento 
e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos 
fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe 
das discussões. Além disso, lembre-se que existe 
uma equipe de professores e tutores que se encontra 
disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em 
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe 
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória 
acadêmica.
boas-vindas
Débora do Nascimento Leite
Diretoria de Design Educacional
Janes Fidélis Tomelin
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Kátia Solange Coelho
Diretoria de Graduação 
e Pós-graduação
Leonardo Spaine
Diretoria de Permanência
autor
Professor Me. Reginaldo Calado de Lima
Doutorando em Educação Física pelo Programa de Pós-Graduação em Educação 
Física Associado UEM/UEL. Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Gradua-
ção em Educação da Universidade Estadual de Maringá - PPE/UEM.Graduação 
em Educação Física - Licenciatura/Bacharelado pelo Centro Universitário de 
Maringá - Unicesumar. Professor assistente do Departamento de Educação 
Física - DEF da Universidade Estadual de Maringá - UEM. Pesquisador integrante 
do Grupo de Pesquisa Corpo, Cultura e Ludicidade GPCCL/CNPQ. Desenvolve 
pesquisa acerca da relação entre capoeira e Educação Física, sobretudo no 
que tange o desenvolvimento e a abordagem desta manifestação cultural no 
contexto escolar.
<http://lattes.cnpq.br/3396790957668600>
apresentação do material
CAPOEIRA
Reginaldo Calado de Lima
Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! 
Iniciaremos os nossos estudos acerca da capoeira, manifestação possuidora de 
uma racionalidade bastante distinta de outras práticas corporais. Neste sentido, 
este material que você tem em mãos não foi preparado com o intuito de lhe ensinar 
a jogar capoeira, ou seja, não temos a intenção de formar capoeiristas, mas sim, 
lhe apresentar a estrutura da capoeira por meio de seus elementos constitutivos. 
Desta forma, esperamos que você, prezado(a) aluno(a), uma vez formado(a), 
ao se deparar com a necessidade da abordagem da capoeira, seja na escola, durante 
as aulas de Educação Física, ou em outros espaços, sinta-se à vontade, mas, so-
bretudo, sinta-se capacitado(a) para tal abordagem. Para que atinjamos os nossos 
objetivos, estruturamos este livro em cinco unidades. 
Na Unidade 1, discutiremos o desenvolvimento histórico da capoeira, refleti-
remos acerca da percepção que temos dessa manifestação, analisaremos algumas 
teorias quanto às suas origens, transitaremos por períodos distintos, desde o que 
promoveu o processo de criminalização da capoeira até as iniciativas para a sua 
ascensão social. 
Nossa atenção, na Unidade 2, será direcionada às vertentes e aos estilos de 
capoeira, ou seja, as diferentes formas pelas quais essa prática corporal tem sido 
organizada e representada. Assim, conheceremos a capoeira Angola de mestre Pasti-
nha e a capoeira Regional de mestre Bimba, dois estilos consolidados, mas também 
conheceremos o que se tem convencionado chamar de capoeira Contemporânea. 
O repertório gestual da capoeira será o nosso objeto de análise na Unidade 
3, na qual conheceremos alguns dos gestos técnicos característicos da capoeira. 
Na Unidade 4, serão apresentados elementos referentes aos instrumentos, às 
cantigas e à roda de capoeira. Conheceremos os instrumentos presentes na capoeira, 
as suas funções e como são organizados. Quanto às cantigas, nos ocuparemos de 
conhecer os diferentes tipos e as suas respectivas estruturas. 
Na quinta e última unidade, apresentaremos algumas experiências quanto à 
possibilidade de abordagem prática e pedagógica dos elementos constitutivos da 
capoeira.
Esperamos, com a elaboração deste material, que este venha a contribuir para 
que você, caro(a) aluno(a), aproprie-se de saberes básicos acerca dessa prática 
corporal, contribuindo, desta forma, com a sua formação profissional. 
Desejo-lhe, desde já, ótimos estudos!
sumário
UNIDADE I
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA CAPOEIRA
14 Luta, Jogo, Dança, Esporte... Afinal, o Que é a 
Capoeira?
20 As Origens da Capoeira
26 Capoeira, uma Atividade Criminosa
30 Ascensão Social da Capoeira
35 Considerações finais
40 Referências
42 Gabarito
UNIDADE II
VERTENTES E ESTILOS DE CAPOEIRA
48 A Capoeira Angola de Mestre Pastinha
52 A Capoeira Regional de Mestre Bimba
64 Capoeira Contemporânea: uma Tendência 
Atual
70 Considerações finais
75 Referências
76 Gabarito
UNIDADE III
OS GESTOS TÉCNICOS CARACTERÍSTICOS DA CAPOEIRA
82 Distribuição Didático-Pedagógica dos Gestos 
Técnicos
86 Ginga, o Gesto Fundamental
92 Gestos Técnicos Ofensivos, o Ataque do 
Capoeira
112 Gestos Técnicos Defensivos
122 Gestos Técnicos Acrobáticos, Desafiando os 
Limites do Corpo
133 Considerações finais
138 Referências
139 Gabarito
UNIDADE IV
OS INSTRUMENTOS, AS CANTIGAS E A RODA DE CAPOEIRA
144 Os Instrumentos Característicos da Capoeira
152 Bateria: o Conjunto de Instrumentos da Ca-
poeira
156 As Cantigas de Capoeira e a sua Estrutura
162 A Roda, o Momento de Expressão da Capoeira
165 Considerações finais
171 Referências
173 Gabarito
UNIDADE V
ABORDAGEM PEDAGÓGICA DOS ELEMENTOS CONSTI-
TUTIVOS DA CAPOEIRA
178 Fuga Para o Quilombo, uma Forma de Re-
sistência
182 Pega e Salva o Capoeira
186 Berimbau de PVC: uma Alternativa à Falta de 
Instrumentos
194 Na Roda, o Jogo de Compra é “Nunca Três”
197 Considerações finais
203 Referências
203 Gabarito
204 CONCLUSÃO GERAL
Professor Me. Reginaldo Calado de Lima
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta 
unidade:
• Luta, jogo, dança, esporte... Afinal, o que é a capoeira?
• As origens da capoeira
• Capoeira, uma atividade criminosa
• Ascensão social da capoeira
Objetivos de Aprendizagem
• Identificar os diferentes sentidos atribuídos à capoeira.
• Apresentar as teorias que discutem a origem da capoeira.
• Entender o processo de criminalização da capoeira.
• Descrever o processo de reestruturação da capoeira.
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA 
CAPOEIRA
unidade 
I
INTRODUÇÃO
Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo (a)!
Iniciamos as nossas discussões sobre a capoeira, valendo-nos de al-
guns pontos de referência, na forma de questionamentos sobre esta prá-
tica corporal. Para começar, você já se perguntou: o que é a capoeira? Por 
vezes, ela é representada como luta, em outros momentos, como dança, 
têm aqueles que a classificam como esporte e até como filosofia de vida.
Você já refletiu como essa prática corporal surgiu? Ou ainda, se a 
capoeira que nós conhecemos, atualmente, sempre apresentou esta con-
figuração? E por que algumas pessoas “torcem o nariz” quando falamos 
de capoeira? Estas questões nos auxiliarão a compreender, dentro de 
nossas limitações, obviamente, essa manifestação da cultura corporal 
que é a capoeira.
Nesse sentido, organizamos a unidade em quatro tópicos. No primei-
ro, abordaremos os diferentes sentidos e percepções existentes acerca da 
capoeira. No segundo tópico, já com alguma noção do que estamos tra-
tando, enveredaremos pelas teorias que discutem as origens da capoeira. 
No terceiro tópico, atentar-nos-emos ao seu processo de criminalização, 
buscando entender o contexto em que tal prática foi considerada uma 
prática criminosa, a ponto de figurar no código penal brasileiro. No quar-
to tópico, poderemos perceber como é complexa e cheia de contradições 
a dinâmica social, visto que, mesmo sendo considerada uma prática cri-
minosa, havia aqueles que viam a capoeira uma prática virtuosa e que, 
com o passar do tempo, para atender aos anseios sociais, foi reestrutura-
da aos moldes desportivos da época.
Espero que as discussões vindouras lhe permita, como futuro(a) pro-
fissional de Educação Física, de um ponto de vista específico, refletir so-
bre como a história da capoeira pode ser abordada nos mais diferentes 
espaços e, de um ponto de vista mais amplo, refletir sobre o percurso his-
tórico das mais diversas práticas corporais, reconhecendo-as, desta for-
ma, como uma forma de conhecimento situado histórica e socialmente.
14 
CAPOEIRA 
Caro(a) aluno(a), quando as práticas corporais são 
abordadas nas aulas de Educação Física em diferen-
tes níveis escolares, via de regra, uma das primeiras 
estratégias adotadas pelo(a) professor(a) é a apre-
sentação de uma definição clara e objetiva da prática 
em questão. Esta é uma estratégia compreensível a 
qualquer um de nós e, até desejada, afinal de contas, 
ao nos depararmos com determinado objeto, é im-
portante sabermos do que se trata. Entretanto, você 
vai perceber que, no que se refere à capoeira, essa 
estratégia de definição não é uma tarefa das mais fá-
ceis. Aliás, como muitos outros aspectos ligados à 
capoeira.
Você já se perguntou em qual, ou mesmo, em 
quais categorias dos conteúdos da Educação Física 
escolar podemos enquadrar a capoeira? Ou seja, 
ela será abordada quando tratarmos, nas aulas de 
EducaçãoFísica, de esportes, quando tratarmos das 
ginásticas, das danças, dos jogos ou das lutas? A 
questão pode parecer insignificante à primeira vista, 
contudo, basta uma pequena dose de cautela e perce-
beremos as possíveis implicações à nossa futura atu-
ação profissional. O que queremos dizer de fato é que 
fará diferença se você, caro(a) aluno(a), ao abordar a 
capoeira no contexto escolar, conhecer os diferentes 
sentidos atribuídos a tal manifestação corporal.
Luta, Jogo, Dança, Esporte... 
Afinal, o Que é a Capoeira?
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 15
É a partir destas reflexões que podemos nos per-
guntar: mas, afinal, o que é a capoeira? Esta questão 
norteará as discussões empreendidas neste tópico. 
Perceba que ela não é uma exclusividade do contexto 
escolar, mas se apresenta também no contexto cultu-
ral da própria capoeira. É bastante comum sermos 
questionados, enquanto praticantes de capoeira, se 
nós a dançamos, a lutamos ou a jogamos.
Uma possibilidade para entendermos os senti-
dos atribuídos à capoeira passa pelo esforço de ana-
lisar o seu percurso histórico. Porém deixemos essa 
empreitada para um próximo tópico. Por agora, nos 
deteremos às impressões de autores do calibre de 
Luís da Câmara Cascudo que, ao estudar a capoeira 
por um viés folclórico, a definiu como um “jogo atlé-
tico de origem negra, ou introduzido no Brasil pelos 
escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, es-
palhado pelo território [brasileiro] e tradicional no 
Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro” (CAS-
CUDO, 1959, p. 371).
Do excerto apresentado, é possível extrairmos, 
além do sentido, elementos referentes à capoeira, 
tais como origem, características e locais de inci-
dência, contudo, mantendo o nosso foco no senti-
do, destacamos a ideia apresentada pelo autor, da 
capoeira ser um jogo atlético defensivo e ofensivo. 
Esta definição evoca, em certa medida, um senti-
do esportivo, ao tratar a capoeira como jogo atléti-
co, mas também com um caráter combativo, uma 
vez que a descrição apresenta a natureza defensiva 
e ofensiva.
O caráter bélico da capoeira, ou seja, a sua 
representação como forma de luta, parece privi-
legiado também em outras exposições que desta-
cam a predominância do confronto, do combate 
corporal. É o que podemos verificar nos argumen-
tos de Lamartine Pereira da Costa que, ao redigir 
uma espécie de manual didático com o sugestivo 
título “Capoeira sem Mestre”, define tal manifes-
tação como uma “luta em que os executantes se 
valem dos pés, das mãos e da cabeça para bater 
nos adversários ou derrubá-los [...] É uma luta es-
sencialmente agressiva: o capoeira se defende ata-
cando” (COSTA, s. d., p. 17).
Nunca é demais termos em mente em que am-
biente e, principalmente, em que momento esta-
mos pensando sobre a capoeira. Estamos agora 
imersos em um processo de formação profissional, 
o qual, em tese, permitir-nos-á agir com expertise 
sobre determinadas realidades por meio de deter-
minados conteúdos. Diante de tal assertiva, é im-
perativo que reflitamos acerca das possibilidades 
de abordagem de tais conteúdos e, em nosso caso 
específico, estamos refletindo sobre uma manifes-
tação corporal que, aparentemente, ao ser definida 
como luta, apresenta uma característica agressiva. 
Quais são as implicações que isto demanda para o 
ambiente escolar? 
Ao abordarmos uma prática corporal com 
as características da capoeira, estaremos ali-
mentando a agressividade entre os alunos? 
Será que o nosso trabalho desencadeará uma 
onda violência na escola?
REFLITA
16 
CAPOEIRA 
Estudos como o de Oliveira e Santos (2006) nos aju-
dam a refletir acerca dessa temática ao destacarem 
a existência de um discurso no imaginário popular 
que gera, por sua vez, certa resistência e mesmo re-
jeição no trato com as lutas de forma geral, no con-
texto escolar. Para os autores, é bastante comum 
que, “quando pensamos na palavra luta, primeira-
mente, associamos a contato corporal, chutes, socos, 
quedas, disputa e atitudes agressivas” (OLIVEIRA; 
SANTOS, 2006, p. 5). Invariavelmente, estes aspec-
tos nos levam a uma associação entre a deflagração 
de golpes e o inevitável confronto corporal.
Essas questões que, à primeira vista, mostram-se 
desencorajadoras para a abordagem da capoeira, ao 
menos por sua vertente bélica, são, na verdade, uma 
oportunidade para reflexão. Rufino e Darido (2015, 
p. 22), ao pensarem a relação entre o conteúdo “lu-
tas” e a cultura corporal, defendem a necessidade 
da promoção de situações que permitam aos alunos 
“contato e vivências significativas com essas práticas 
e sobre o mundo em que vivem”.
Retomemos o foco de nossa discussão, que é o 
sentido atribuído à capoeira. Até aqui, identificamos 
uma característica combativa que conferiu a ela ares 
de luta. De fato, Campos (2003), ao elaborar uma 
proposta de abordagem da prática na escola, o faz 
a partir de algumas concepções, dentre as quais, a 
“capoeira luta”. O autor argumenta em favor de tal 
concepção, entendendo-a como a forma que repre-
senta a capoeira em sua origem. Neste sentido, ex-
por a capoeira no contexto escolar como uma luta 
é garantir a sua representação original e, sobretudo 
garantir sua preservação “através dos tempos na sua 
forma natural como instrumento de defesa pessoal 
genuinamente brasileira” (CAMPOS, 2003, p. 23).
Se por um lado, não é difícil reconhecer a capo-
eira como uma luta, especialmente, quando conside-
ramos o seu contexto de gênese, por outro, os demais 
argumentos abalam as nossas convicções. Barbieri 
(2003) afirma ser impossível estabelecer limites para 
as perspectivas da capoeira. Você notou o uso do plu-
ral? Pois é! Para o autor, não é possível uma definição 
que supere a polissemia de sentidos da manifestação. 
Isso significa que a característica predominante 
da capoeira é a ambiguidade. Você lembra que Cas-
cudo (1959), quando nos apresentou a capoeira, de-
finiu-a como jogo atlético defensivo e ofensivo. Bas-
tam esses termos para evidenciarmos os múltiplos 
sentidos dessa prática. A ideia de jogo nos remete à 
ludicidade, enquanto que o termo atlético nos lem-
bra um caráter esportivo, já os termos defensivo e 
ofensivo denotam a noção de combate, de luta. Per-
ceba que definir a capoeira não é uma tarefa tão sim-
ples quanto parece.
Há, no entanto, atualmente, certa aceitação no 
entendimento da capoeira como “uma manifestação 
cultural afro-brasileira que se expressa pela combina-
ção de jogo, luta e dança praticada ao som de instru-
mentos musicais” (FALCÃO, 2010, p. 56). A coexis-
tência dos diferentes sentidos atribuídos à capoeira 
pode não fazer muito sentido, mas lembre-se que 
estamos falando de uma manifestação cuja origem se 
deu a partir de outra lógica cultural que não a nossa. 
Neste sentido, o Instituto do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional - Iphan (2007, p. 11) nos apresen-
ta a capoeira como “uma manifestação cultural que 
se caracteriza por sua multidimensionalidade – é, ao 
mesmo tempo, dança, luta e jogo”. A sua ligação com 
práticas de sociedade tradicionais, onde a separação 
de habilidades não é um aspecto comum, como ocor-
re na sociedade ocidental moderna, é o que confere à 
capoeira a possibilidade multidimensional. Ou seja, 
a coexistência de múltiplas dimensões e sentidos sem 
que estes se anulem ou se confrontem.
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 17
E, ao contrário do que possa parecer, isso não re-
presenta um problema. Essa ambiguidade é, inclusi-
ve, enaltecida por Reis (2000, p. 177) como caracte-
rística de todos os elementos do sistema cultural da 
capoeira, o que impossibilita o seu enquadramento, 
permitindo que ela “deslize entre as categorias: não é 
esporte mas é, não é uma dança, mas é, e não é uma 
luta, mas é”.
Uma das estratégias que podemos adotar para 
compreendermos essa multiplicidade dos sentidos 
da capoeira, talvez, seja lançarmos um olhar mais 
atento aos seus primórdios. Entretanto, você vai 
perceber que, quando falamos de capoeira, há pou-
ca unanimidade. Esta situação se agrava conformeregredimos historicamente, muito em função da es-
cassez de registros. Arriscamos dizer que a capoeira, 
como prática marginal que foi por muito tempo, não 
era digna de registros.
Uma das exceções, no entanto, são os registros 
iconográficos creditados ao pintor Johann Moritz 
Rugendas (1802-1858) que retratou, no século XIX, 
muitos aspectos naturais e sociais do Brasil à épo-
ca. Em sua obra Viagem Pitoresca através do Brasil, 
publicada pela primeira vez em edição bilíngue, em 
1827, o pintor retrata a paisagem, os tipos e os hábi-
tos, tanto dos índios e negros quantos dos europeus 
que por aqui viviam. Na descrição de “jogo da ca-
poeira”, Rugendas (s. d.) o expõe como um folgue-
do guerreiro muito violento. Perceba, novamente, a 
ambivalência de sentidos atribuídos à capoeira. O 
termo folguedo denota brincadeira, festa, festejo, 
enquanto “guerreiro” nos remete ao combate. As-
sim, fica evidente que o cariz polissêmico da capo-
eira a acompanha já há bastante tempo. Rugendas 
(s. d.) destaca ainda a violência com que os negros a 
praticam, e assim descreve o andamento de tal fol-
guedo guerreiro.
[...] dois campeões se precipitam um contra o 
outro, procurando dar com a cabeça no peito 
do adversário que desejam derrubar. Evita-se o 
ataque com saltos de lado e paradas igualmen-
te hábeis; mas, lançando-se um contra o ou-
tro, mais ou menos como bodes, acontece-lhes 
chocarem-se fortemente cabeça contra cabeça, 
o faz com que a brincadeira não raro degenere 
em briga e que as facas entrem em jogo, ensan-
guentando-as (RUGENDAS, s. d., p. 252).
Ainda tratando da contribuição de Rugendas por 
meio de seus registros à história da capoeira, além 
da descrição, as gravuras deixadas pelo artista ale-
mão nos permitem analisar outros elementos carac-
terísticos que compunham a manifestação naquele 
período. 
Figura 1 - Jogar capoeira
Fonte: Wikipédia ([2019], on-line)1.
A partir da análise da gravura “jogo da capoeira”, é 
possível que identifiquemos elementos característi-
cos da atualidade, e outros que, ao que parece, so-
freram transformações drásticas. É possível notar 
que a disposição das pessoas, tanto dos jogadores 
quanto daqueles que assistem, é muito semelhante 
à disposição em roda que temos hoje. A presença de 
18 
CAPOEIRA 
um instrumento que, na gravura, está representada 
por uma espécie de tambor, é outro elemento que 
caracteriza a capoeira. A este respeito, é interessante 
notar que o instrumento que, atualmente, caracte-
riza a capoeira não aparece registrado na gravura. 
A ausência do berimbau sugere que este não estava 
incorporado aos códigos da manifestação no perío-
do retratado.
Retomando a nossa empreitada de discutir o 
sentido da capoeira, Conduru (2008) faz algumas 
inferências a partir da análise da gravura “jogo da 
capoeira”. Para o autor, é possível atribuir um caráter 
bélico ao que se retrata. Tal inferência se dá muito 
em função da descrição, mas também na medida em 
que o autor verifica os punhos cerrados dos conten-
dores que ocupam o centro da roda.
Pois bem, poderíamos concluir que: se, atual-
mente, a capoeira é caracterizada como uma prática 
corporal polissêmica, multidimensional, onde co-
existem múltiplos sentidos sem que haja exclusão, 
na sua origem, o sentido bélico foi predominante. 
Na verdade, não. Vimos que, na própria descrição 
de Rugendas (s. d.), ela aparece com um sentido 
dúbio. E, para fecharmos esta inconclusa discussão, 
recorramos a autores que se dedicaram a estudar a 
capoeira e que discutem, entre outras questões, a sua 
origem e os seus sentidos. 
Neste sentido, Rego (1968, p. 35) defende a tese 
de que a capoeira surgiu, inicialmente, como diver-
timento, “mas, na realidade, funcionava como uma 
faca de dois gumes. Ao lado do normal e do quoti-
diano, que era divertir, era luta também no momen-
to oportuno”. Contrariamente, temos a exposição de 
Araújo (1997, p. 106) para quem “a utilização da ca-
poeira como instrumento de guerra, logo, arte mar-
cial, foi a primeira expressão desta prática plural”. 
Na opinião do autor, o contexto sociocultural teria 
sido responsável por, posteriormente, agregar na es-
trutura da manifestação o caráter lúdico. Carneiro 
(1957, p. 199), analisando a capoeira por um viés 
folclórico, a identifica como uma manifestação de 
caráter lúdico, afirmando que “os capoeiras da Bahia 
denominam seu jogo de vadiação – e não passa disto 
a capoeira, [...]. Nem sempre terá sido assim”.
Façamos, prezado(a) aluno(a), uma síntese acer-
ca da questão deste tópico. Afinal, o que é a capoei-
ra? Essa manifestação carrega, em seu cerne, múlti-
plas possibilidades de expressão e, como nos disse 
Barbieri (2003), é impossível separá-las. Em dado 
momento, ela se apresenta como luta, em outros, 
como dança, ou ainda, como jogo. Reconhecermos 
tais possibilidades é imprescindível para aqueles(as) 
profissionais que as abordarão. Mesmo para aque-
les(as) que não têm a intenção de abordá-las, tais 
questões nos permitirão repensar a forma como 
vemos tantas outras práticas corporais. Essa lógica 
multidimensional foi consolidada ao longo do tem-
po, ou seja, em diferentes contextos, a capoeira se 
adequou à estrutura social vigente, agregando à sua 
própria estrutura uma nova forma de representação. 
E se falaremos do percurso social da capoeira, co-
mecemos do princípio e discutamos as questões ati-
nentes às suas origens.
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 19
20 
CAPOEIRA 
Prezado(a) aluno(a), no tópico anterior, as nossas 
discussões buscaram identificar o sentido atribuído 
à capoeira e buscamos entender o que é a capoeira, 
se uma luta, uma dança, um jogo etc. Chegamos à 
conclusão que a característica primeira dessa ma-
nifestação corporal é, justamente, a sua polissemia 
de sentidos. Ou seja, a capoeira é tanto luta quanto 
dança, quanto jogo. Um dos argumentos apresenta-
dos foi que a sua multidimensionalidade se deve à 
sua ligação com a lógica tradicional, cuja coexistên-
cia de diversos sentido é bastante comum. Então, 
caro(a) aluno(a), eu lhe convido a me acompanhar 
na leitura de hipóteses que tratam das origens da 
capoeira. E quem sabe encontrarmos, aí, indícios 
que nos permitam entender melhor a lógica dessa 
prática corporal.
Iniciaremos a nossa reflexão com algumas ques-
tões. Esta postura nos ajudará a manter uma direção 
precisa, ou, pelo menos, evitará que nos peguemos 
sem direção. Uma primeira questão referente à ori-
gem da capoeira, tanto no meio acadêmico quanto 
no universo cultural da própria prática corporal e 
que, por vezes, culmina em discussões acaloradas, 
é se a capoeira é africana ou brasileira. É recorren-
te o discurso que apresenta a capoeira como uma 
manifestação, genuinamente, brasileira. E você, o 
que acha? Não responda ainda! Pois outras tantas 
questões serão postas, dentre elas: se a capoeira é 
Capoeira
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 21
africana, por que em locais onde africanos foram 
traficados e escravizados não há registros da sua 
presença? E por que na própria África não há regis-
tro da capoeira? Se ela é brasileira, onde foi criada? 
Com que finalidade? Veja que são muitas questões.
Quando falamos de capoeira, a unanimidade 
de opiniões só ocorre quanto à imprecisão e às con-
trovérsias, sobretudo se o tema tratado é o da sua 
origem. Entretanto, de maneira geral, as discussões 
referentes às origens da capoeira têm orbitado em 
torno de três hipóteses, ou três “mitos fundadores”, 
como nos apresenta o Iphan (2007, p. 11):
1. A capoeira nasceu na África central e foi 
trazida intacta por africanos escravizados.
2. A capoeira é uma criação de escravos qui-
lombolas no Brasil.
3. A capoeira é criação dos índios, daí a ori-
gem do vocábulo que nomeia o jogo.
Preservadas as devidas especificidades argumentati-
vas, Abreu (s. d.) já refletia acerca da origem da ca-
poeira em seu clássico romance do final do século 
XIX, Os Capoeiras, ao afirmar que:
Uns atribuem-na aos pretos africanos, o que 
julgo um erro pelo facto de que na África não é 
conhecidaa nossa capoeiragem, e sim, algumas 
sortes de cabeças. Aos nossos índios também 
não se pode atribuir, porque apesar de possuí-
rem a ligeireza que caracteriza os capoeras, con-
tudo, não conhecem os meios que estes empre-
gam para o ataque ou defesa. O mais racional 
é que a capoeragem creou-se, desenvolveu-se e 
aperfeiçoou-se entre nós (ABREU, s. d., p. 1). 
Basta que ignoremos a ordem dos argumentos ex-
postos nas duas citações e constataremos que, tanto 
em uma quanto em outra, a questão da origem da 
capoeira é concebida a partir de uma matriz africana 
nata, por uma matriz indígena ou por uma matriz 
que comporta elementos africanos e cujo desenvol-
vimento se deu em território brasileiro.
Pensemos, então, a origem da capoeira a partir 
de cada uma dessas matrizes. Dentre elas, talvez a 
concepção indígena seja a que careça de mais es-
tudos, uma vez que os argumentos em sua defesa 
estão fundamentados, basicamente, na questão ter-
minológica. No entendimento de Abreu (s. d.), a 
principal justificativa que impossibilitaria a criação 
da capoeira por grupos indígenas repousa no des-
conhecimento, por parte desses grupos, das técni-
cas corporais, especialmente as de ataque e defesa, 
características da capoeira. O Iphan (2007) reforça 
a impossibilidade de sustentação da tese da origem 
indígena, argumentando a inexistência de docu-
mentação, ou mesmo de relatos que reivindicam a 
paternidade da capoeira.
De fato, Lussac (2015), ao analisar as possibilida-
des das origens indígenas da capoeira e as possíveis 
contribuições dos índios brasileiros no desenvolvi-
mento do jogo-luta, conclui que, apesar das possibi-
lidades de interação entre negros e índios em trocas 
culturais, ainda não é possível afirmar que existiram 
contribuições, diretamente, ligadas a grupos indíge-
nas brasileiros.
Por qual motivo, então, cogita-se a possibilidade 
de a capoeira ser brasileira e criada por índios bra-
sileiros? O elo entre estas culturas (e que serve de 
argumento) parece ser o vocábulo que nomeia a ma-
nifestação. Uma vez que o termo capoeira “faz parte 
da língua tupi e significa ‘mato ralo’, o que remete a 
uma das explicações sobre sua origem. Diz respeito 
ao mito do escravo fugitivo que surpreenderia seus 
algozes na capoeira, local da cilada” (IPHAN, 2007, 
p. 12). Entretanto, há divergências mesmo quanto 
22 
CAPOEIRA 
à terminologia. Rego (1968) demonstra, fortemen-
te, inclinado a aceitar outra acepção etimológica do 
termo capoeira, uma que defende a origem do vocá-
bulo a partir do termo “capão”.
Tendo como base capão, do qual Adolfo Coelho 
tirou o étimo de capoeira para o português, Be-
aurepaire Rohan faz o mesmo para o vocábulo 
capoeira na acepção brasileira, apresentando, 
em defesa de sua opinião, a seguinte explicação: 
- Como o exercício da capoeira, entre dois in-
divíduos que se batem por mero divertimento, 
se parece um tanto com a briga de galos, não 
duvido que este vocábulo tenha sua origem em 
Capão, do mesmo modo que damos em portu-
guês o nome da capoeira a qualquer espécie de 
cesto em que se metem galinhas (REGO, 1968, 
p. 24).
Outro estudioso que tem se destacado no debate 
acerca da origem da capoeira é Matthias Rohring 
Assunção (2012). Este autor nos apresenta uma 
perspectiva que considera duas “narrativas-mes-
tres”; uma versão nacionalista e uma versão afro-
cêntrica. A primeira “enfatiza tudo que a capoeira 
tem de novo, para ressaltar a sua originalidade e, 
portanto, a originalidade da cultura brasileira”, en-
quanto que a versão afrocêntrica “ressalta apenas 
aspectos ‘derivados da África’ para demonstrar que 
a capoeira é, antes de tudo, africana” (ASSUNÇÃO, 
2012, p. 1).
Você, obviamente, se atentou ao fato de a hipó-
tese indígena não compor os argumentos desse au-
tor, não é? De fato, no universo cultural da capoeira, 
as discussões em torno de sua origem podem ser 
entendidas, de forma bastante simplificada, como 
polarizadas entre África e Brasil. Discutamos, do-
ravante, os argumentos que consideram a capoeira 
uma manifestação africana.
De acordo com Rego (1968), o fato de histo-
riadores e africanistas apresentarem certa tendên-
cia de apontarem Angola como o ponto de partida 
dos primeiros negros trazidos como escravos para 
o Brasil gerou forte aceitação e perpetuação, sobre-
tudo entre os capoeiras, à ideia desta manifestação 
corporal ter vindo da África. Vicente Ferreira Pas-
tinha (1988), um dos mestres mais expressivos da 
capoeira Angola, senão o mais, afirma que “não há 
dúvida que a capoeira veio para o Brasil com os es-
cravos africanos” (PASTINHA, 1988, p. 26). O mes-
tre afirma também que o próprio nome “capoeira 
Angola” se deve ao fato de os negros angolas terem 
se sobressaído na prática da capoeiragem, ao menos 
no contexto baiano. Entretanto, Gerhard Kubik, ci-
tado por Jardim (1976), não encontra qualquer co-
notação cultural com a África na expressão capo-
eira Angola, afirmando ser uma criação brasileira. 
A expressão é utilizada para designar um estilo de 
capoeira o qual abordaremos mais adiante, em um 
momento mais oportuno. Por ora, nos detenhamos 
à questão da origem.
Estamos discutindo a vertente que considera a 
capoeira africana, e vimos que esta hipótese encon-
trou bastante aceitação entre os capoeiras. É impor-
tante ter em mente que estamos abordando, em um 
ambiente acadêmico em que se privilegia a visão 
científica do mundo, uma manifestação cuja pro-
dução de conhecimento, bem como a difusão des-
se conhecimento, apresenta uma dinâmica bastante 
distinta do mundo acadêmico científico. A lógica da 
capoeira, bem como da maioria das manifestações 
oriundas do universo da cultura popular, privilegia a 
figura do mestre como um guardião do saber e, por-
tanto, responsável pela transmissão desse saber. Este 
processo de transmissão se dá, predominantemente, 
de maneira informal, sobretudo por meio da orali-
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 23
dade. Neste sentido, a figura do mestre está envolta 
em uma espécie de aura que finda por legitimar os 
seus discursos.
Não foi somente entre os capoeiras que foi aceita e 
difundida a hipótese dessa manifestação corporal ter 
a sua origem na África. Edison Carneiro (1957;1977) 
foi um dos intelectuais que defenderam a ancestrali-
dade africana da capoeira, ao expor esta como um 
“jogo de destreza que tem suas origens remotas em 
Angola” (CARNEIRO, 1977, p. 3). Outro intelectu-
al com contribuição significativa para a difusão e a 
aceitação da origem africana da capoeira foi Luís da 
Câmara Cascudo (1959; 1967). Em sua obra Folclo-
re do Brasil: pesquisas e notas, o autor afirma que “a 
unanimidade das fontes brasileiras indica a capoeira 
como tendo vindo de Angola” (CASCUDO, 1967, p. 
181). O autor que, na época da referida publicação, 
era presidente da comissão brasileira de folclore, de-
fende de forma contundente a teoria da capoeira ter 
como elemento ancestral o N’golo. Da perspectiva de 
Cascudo (1967), a capoeira seria o desdobramento 
de técnicas que compunham, na África, tanto lutas 
quanto ritos cerimoniais. A capoeira seria, desta for-
ma, uma versão brasileira do n’golo. 
O n’golo, ou dança da zebra, como também é 
conhecido, é uma dança em forma de comba-
te típico de povos do sul de Angola, que ocorre 
durante a enfudula. Neste rito de passagem, o 
vencedor do n’golo tem o direito de escolher a 
esposa sem ter de pagar o dote esponsalício.
Fonte: Cascudo (1967). 
SAIBA MAIS
Figura 2 - “N’golo”. Aquarela de Albano Neves e Sousa, 1955-1956. 
Fonte: Assunção (2012, p. 3).
24 
CAPOEIRA 
O próprio Cascudo (1967, p. 185) afirma: “o n’golo é 
a capoeira”. As conclusões do autor estão embasadas 
na descrição de Albano Neves e Souza, um poeta, 
pintor e etnógrafo a quem Cascudo atribuiu o mé-
rito do desvelamento da ancestralidade da capoeira. 
Em linhas gerais, Neves e Souza descreveu, por meio 
de cartas, o andamento do n’golo, e é a partir de tal 
descrição que Cascudo concluiu ser o n’golo o cerne 
da capoeira. Na transcrição que segue, poderemosacompanhar o raciocínio de Albano Neves e Souza e 
o seu entendimento de como algumas práticas cor-
porais, entre elas o n’golo, chegaram ao Brasil.
Os escravos das tribos do sul que foram para 
aí através do entreposto de Benguela levaram 
a tradição da luta de pés. Com o tempo, o que 
era, em princípio, uma tradição tribal, foi-se 
transformando numa arma de ataque e defe-
sa que os ajudou a subsistir e a impor-se num 
meio hostil. Razão da sua permanência nos 
meio urbanos. O pastor sem rebanho torna-se 
um marginal. Os piores bandidos de Benguela 
em geral são Muxilengues que na cidade usam 
os passos do N’golo como arma. Em Luanda, 
esses passos, possivelmente trazidos do sul, 
chamam-se Bassula. Até no nome há qualquer 
que sugere a origem da luta nos povos pasto-
ris do sul. Ba-ssula, os do sul. Em Luanda, os 
técnicos desse tipo de luta são os pescadores 
da ilha que se engajam como marinheiros dos 
palhabotes, que fazem viagens pela costa até 
Mossâmedes. Outra das razões que me levam a 
atribuir a origem da Capoeira ao N’golo é que, 
no Brasil, é costume dos malandros tocarem 
um instrumento aí chamado de Berimbau e 
que nós chamamos hungu, ou m’bolumbumba, 
conforme os lugares e que é tipicamente pasto-
ril, instrumento esse que segue os povos pasto-
ris até a Swazilândia, costa oriental de África 
(CASCUDO, 1967, p. 186).
A citação é bastante extensa, porém necessária. Ob-
serve a quantidade de detalhes apresentada pelo au-
tor. Quero lhes chamar a atenção para duas práticas 
corporais citadas, o n’golo e a bassula.
Figura 3 - Ilustração de movimentos da Bassula
Fonte: Cultura (2012).
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 25
Há, todavia, alguns pontos na ideia do n’golo ou de 
outras práticas corporais específicas como ancestrais 
diretas da capoeira que são questionados por Assun-
ção e Peçanha (2008), por exemplo, o fato da não 
transmissão da capoeira pelos “mestres africanos”. A 
presença do berimbau foi outro argumento apresen-
tado por Cascudo (1967) para sustentar a sua teoria, 
sem, contudo, nos trazer maiores detalhes da relação 
de tal instrumento com o n’golo. O autor limitou-se 
apenas a registrar a popularidade do instrumento 
em terras africanas. A este respeito, Assunção (2012, 
p. 12) nos esclarece que “na África, os arcos musicais 
não acompanham jogos de combate” como o n’golo, 
por exemplo.
Há de se destacar que, na imagem analisada, no 
tópico anterior, “o jogo da capoeira” de Rugendas (s. 
d.), o berimbau não apareceu como componente da 
luta. Apesar do berimbau ter sido registrado pelo 
pintor alemão, no Brasil, no mesmo período, ao que 
tudo indica, o referido instrumento estava relacio-
nado a outras atividades, e não à manifestação da 
capoeira.
Assunção (2012) entende que a capoeira não 
pode ser tomada como simples desdobramento do 
n’golo no Brasil. Contudo, reconhece a inegável pre-
sença na capoeira de elementos que remetem tanto 
ao n’golo quanto a outros jogos de combate africa-
nos. Metaforicamente, nos diz o autor, que o n’golo é 
um primo distante da capoeira.
A partir dos argumentos expostos, inferimos 
não haver consenso quanto à aceitação da tese que 
trata a origem da capoeira por sua vertente africa-
na. A terceira tese exposta no início deste tópico 
defende a sua origem brasileira. Rego (1968, p. 31) 
é um dos autores que defendem tal hipótese e con-
clui que “no caso da capoeira, tudo leva a crer que 
seja uma invenção dos africanos no Brasil, desen-
volvida por seus descendentes afro-brasileiros”. Por 
esse viés, a capoeira é vista não como uma criação 
brasileira, mas sim, afro-brasileira, uma manifesta-
ção criada a partir de elementos culturais africanos 
em nossas terras.
Em convergência com Rego (1968), Soares 
(1999) enfatiza a teoria de a capoeira ser uma inven-
ção dos escravos no Brasil, isto é, negros de diversas 
etnias africanas, submetidos ao contexto da escra-
vidão, mesclaram diversos traços culturais, dando 
origem a uma gama infinda de manifestações, en-
tre elas, a capoeira. Soares (1999, p. 26) a entende 
como uma espécie de “síntese de uma disparidade 
de ritos, rituais e danças, cerimoniais e guerreiras, 
ela representou a forma cultural possível que jovens 
africanos encontraram de responder às violências e 
demandas de uma sociedade urbana hostil”.
Então, podemos encerrar o debate em torno das 
origens da capoeira? Não, claro que não! Muitas ou-
tras questões têm sido levantadas. A maioria delas 
giram em torno de especificidades, como o local de 
origem, o ambiente, se urbano ou se rural, se nos 
quilombos ou em um quilombo em específico, como 
o de Palmares, e por aí vai... Por agora, precisamos 
reconhecer que este é um momento de introdução 
a tal temática e, nesse sentido, tivemos contato com 
uma quantidade significativa de argumentos. Para 
continuarmos a nossa incursão ao universo cultural 
da capoeira, analisaremos como esta manifestação 
cultural foi tratada ao longo de seu desenvolvimen-
to. Espero contar com a sua estimada companhia no 
tópico seguinte. Até lá!
26 
CAPOEIRA 
Olá, prezado(a) aluno(a). Neste tópico, trataremos 
de um tema, no mínimo, curioso. Tentaremos en-
tender como se deu o processo de criminalização 
da capoeira. Isto mesmo, essa mesma capoeira que, 
hoje, transita livremente por diferentes níveis edu-
cacionais, desde o ensino infantil, passando pelo 
fundamental e médio e que compõe o currículo de 
renomadas universidades, já foi considerada uma 
prática criminosa. Reflitamos um instante sobre isso. 
Neste momento, estamos inseridos em um cur-
so universitário de formação profissional, e não de 
qualquer profissão, mas sim, de uma área que, por 
meio da abordagem de práticas corporais, se pro-
põe a contribuir com a educação das gerações mais 
novas de nossa sociedade. E é, nesse contexto, que 
a capoeira se insere como uma dessas práticas cor-
porais que podem auxiliar no processo educativo. A 
questão é, se, atualmente, consideramos a capoeira 
uma prática virtuosa, o que a fez ser tratada como 
criminosa?
Primeiramente, pensamos que seja muito útil 
considerarmos a dinamicidade histórica, ou seja, 
olharmos, historicamente, um dado contexto com to-
dos os seus elementos e reconhecer que tal contexto 
não é estanque. Pois bem, será com esse olhar, histori-
camente situado, que nos debruçaremos no texto a se-
guir, no qual procuraremos entender como a capoeira 
que, hoje, transita livremente por toda sociedade foi, 
em dado momento, considerada uma prática ilegal. 
CAPOEIRA, 
uma Atividade Criminosa
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 27
Uma informação que vale a pena retomarmos 
se refere às suas origens, mais precisamente aos seus 
criadores. No tópico anterior, nós vimos que, a res-
peito de sua origem ser africana ou brasileira, são 
aos negros escravizados, aqui, no Brasil, a quem se 
atribui a criação da capoeira, tal criação sendo rea-
lizada por meio de um processo de convergências 
culturais. E este é um aspecto importante para a nos-
sa discussão, visto que, por muito tempo, a capoeira 
esteve restrita ao universo escravo, sendo uma prá-
tica escrava. E que, posteriormente, esse escravo, ao 
abandonar tal condição, não encontrou uma estru-
tura social que o considerasse e o tratasse como um 
cidadão de direitos, restando-lhe viver à margem da 
sociedade.
Em condição marginal, viveu não apenas o ne-
gro, mas também boa parcela dos imigrantes que 
vieram para o Brasil, após a abolição da escravatura. 
Esse cenário nos ajuda a entender como esta popu-
lação entregue à própria sorte, por vezes, fez uso de 
práticas, como a capoeira, para, em busca da garantia 
da sobrevivência, cometer delitos. Desta forma, um 
dos muitos sentidos atribuídos à capoeira ao longo 
de sua história e, consequentemente ao seu prati-
cante, foi o de uma atividade marginal. Uma práti-
ca que representa demérito social, como nos afirma 
Cascudo (1967, p. 188): “a capoeira é sempre uma 
atividade de vadios urbanos”. Ao que Rego (1968, p. 
291) endossa: “o capoeira desde seu aparecimento 
foi considerado umamarginal, um delinquente, em 
que a sociedade deveria vigiá-lo, e as leis penais, en-
quadrá-lo e puni-lo”.
E assim se fez, pois o código criminal de 1830 
do Império do Brasil, mesmo sem fazer nenhuma 
menção explícita ao capoeira, enquadrava-o indi-
retamente. Isso porque o capoeira era reconhecido 
socialmente, naquele período, como desocupado, 
um sujeito sem profissão, logo, se enquadrava no 
Capítulo IV, Art. 295, que trata dos “vadios e mendi-
gos”. Naquele momento, a capoeira era considerada 
uma forma de contravenção, o que já era suficiente 
para que cerca de 9% das prisões efetuadas entre os 
anos de 1819 e 1821, na cidade do Rio de Janeiro, 
apresentassem, como motivo registrado, “capoei-
ra”. Isto significa que, das 4.853 prisões realizadas, 
438 ocorreram pela acusação de prática da capoeira 
(ALGRANTI, 1988).
Pensando em localidades específicas como a ci-
dade do Rio de Janeiro, a capoeira esteve associa-
da às ações de grupos bem organizados, chamados 
de maltas, que representaram momentos de terror 
aos citadinos. Luiz Sergio Dias, em sua obra de títu-
lo sugestivo, Quem Tem Medo da Capoeira? (2001), 
analisou a capoeiragem, no Rio de Janeiro, no sé-
culo XIX, e identificou em tal prática a conjunção 
da agilidade, ousadia e organização, mas, sobretudo 
uma incrível capacidade de incutir temor em grande 
parcela da população.
Deste modo, a capoeira, ou capoeiragem, como 
a prática era denominada na época, representava 
um problema de segurança pública. E logo foi en-
quadrada como crime no código penal da República 
dos Estados Unidos do Brasil. A capoeiragem e os 
capoeiras, os seus praticantes, receberam tratamen-
to específico no código de 11 de outubro de 1890, 
em seu Capítulo XIII, que trata “Dos vadios e capo-
eiras” onde fica estabelecido que:
Art. 402 – Fazer nas ruas e praças públicas exer-
cício de agilidade e destreza corporal conhecida 
pela denominação capoeiragem: andar em cor-
rerias, com armas ou instrumentos capazes de 
produzir lesão corporal, provocando tumulto 
ou desordens, ameaçando pessoa certa ou in-
certa, ou incutindo temor de algum mal:
28 
CAPOEIRA 
Pena – prisão celular por dois a seis meses.
Parágrafo único – É considerada circunstância 
agravante pertencer o capoeira a algum bando 
ou malta. Aos chefes ou cabeças se imporá a 
pena em dobro.
Art. 403 – No caso de reincidência será apli-
cada ao capoeira, no grau máximo a pena do 
art. 400 [Pena de um a três anos em colônias 
penais que se fundarem em ilhas marítimas, ou 
nas fronteiras do território nacional, podendo 
para esse fim serem aproveitados os presídio 
militares existentes].
Parágrafo único – Se for estrangeiro será de-
portado depois de cumprir a pena.
Art. 404 – Se nesses exercícios de capoeiragem 
perpetrar homicídios, praticar lesão corporal, 
ultrajar o pudor público e particular, e pertur-
bar a ordem, a tranqüilidade e a segurança pú-
blica ou for encontrado com armas, incorrerá 
cumulativamente nas penas cominadas para 
tais crimes (SOARES, 1999, p. 338).
No entendimento de Reis (2000), a oficial crimina-
lização da capoeira foi fruto da idealização de um 
projeto modernizador do país concebido para a re-
cém-proclamada República. Neste sentido, o negro, 
ainda, em maior número, enquanto praticante da 
capoeira, era tido como representante de um perí-
odo que se deseja superar, a monarquia, mas que, 
acima de tudo, representa, de acordo com as teorias 
de evolução social que vigoravam na época, atraso e 
inferioridade. O projeto de um Brasil moderno e ci-
vilizado implicava, naquele momento, em suprimir 
a herança africana. Portanto, não é só por uma ques-
tão de ordem ou desordem, mas também por uma 
questão de eugenia.
De acordo com Soares (1999), a empreitada con-
tra os capoeiras teve na figura de João Batista Sam-
paio Ferraz o seu maior representante. Ocupando o 
cargo de primeiro chefe de polícia do regime repu-
blicano, Sampaio Ferraz, que ficou conhecido pela 
alcunha de “cavanhaque de aço”, foi retratado pela 
crônica literária da época como um herói que, ao 
desarticular as maltas de capoeira, “livrou a cidade 
e seus habitantes de um flagelo que a dominava há 
mais de cem anos” (SOARES, 1999, p. 329).
Há outra questão acerca do processo de crimina-
lização da capoeira e destacada por Araújo (2005), 
que consideramos importante para as nossas discus-
sões. Para o autor, houve uma generalização na cri-
minalização da prática da capoeira, sobretudo, pela 
ausência da conceituação precisa de quem eram os 
seus praticantes. Araújo (2005, p. 25), após realizar 
os devidos enquadramentos temporais e espaciais, 
conceitua os capoeiras como: “indivíduo(s) que pro-
moviam ações criminosas, que atentam contra a in-
tegridade física e patrimonial dos cidadãos, nos es-
paços circunscritos dos centros urbanos ou áreas de 
entorno”. A confusão conceitual se dá na medida em 
que o praticante da capoeiragem também foi defini-
do como um capoeira, o que o levou a ser confun-
dido com todo o tipo de malfeitores. Logo, conclui 
o autor (2005, p. 26), “grande parte dos praticantes 
da luta/jogo conhecida por capoeira seriam efetivos 
capoeiras, entretanto, nem todos os capoeiras po-
deriam ser considerados efetivos praticantes desta 
manifestação”. Isso significa que todo o indivíduo 
socialmente desajustado era tratado como capoeira, 
sem que fosse necessariamente um praticante da ca-
poeiragem. Tal fato trouxe implicações aos pratican-
tes, os quais, mesmo não sendo desordeiros, passa-
ram a ser considerados e tratados como tal.
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 29
É incontestável que, de sobremaneira, no espa-
ço urbano, malfeitores e arruaceiros fizeram uso de 
suas habilidades corporais, ocasionando temor à po-
pulação. Por agora, é importante que nós reflitamos 
acerca do contexto social, no qual a capoeira figurou 
para que possamos entender a suas características e, 
sobretudo, a sua dinâmica. Se, no tópico que esta-
mos prestes a encerrar, discutimos o contexto que 
levou a capoeira a ser considerada uma prática cri-
minosa, não nos esqueçamos que as ações sociais, a 
grosso modo, não se dão de forma unânime. Con-
vido-lhe, prezado(a) aluno(a), à leitura do tópico 
seguinte, onde buscaremos demonstrar que havia 
aqueles que defendiam e enalteciam as qualidades 
da capoeira como prática corporal.
30 
CAPOEIRA 
Olá, prezado(a) aluno(a). Iniciaremos o nosso quar-
to tópico de discussões sobre o desenvolvimento 
histórico da capoeira, fazendo uma breve reflexão 
daquilo que já discutimos até aqui! Em um primeiro 
momento, procuramos identificar os diferentes sen-
tidos atribuídos à capoeira, discutimos, naquele mo-
mento, se ela é luta, jogo ou dança. Em seguida, nos 
foram apresentadas algumas teorias que discutem a 
sua origem, e percebemos que, desde as primeiras 
descrições dessa manifestação, já havia um sentido 
dúbio! E com o intuito de entender o processo de 
criminalização da capoeira, transitamos pela leitura 
de autores que demonstraram como a prática cor-
poral capoeira, sendo utilizada como instrumento 
de delito por uma parcela de seus praticantes, teve o 
seu sentido generalizado a todos os praticantes. Para 
o tópico que segue, caro(a) aluno(a), pretendemos 
descrever o processo de reestruturação da capoeira 
que a levou a ser socialmente aceita.
Comecemos a nossa conversa com uma imagem. 
Talvez, na fotografia a seguir (Figura 4), reconhe-
çamos com alguma facilidade pelo menos um dos 
rostos retratados, o do, então, presidente da Repú-
blica, Getúlio Vargas. O que há de especial para nós 
nessa imagem? É que ela registra o presidente, cum-
primentando Manuel dos Reis Machado, o mestre 
Bimba após uma apresentação de capoeira realizada 
pelo mestre e os seus discípulos em 1953. Na oca-
sião, Getúlio Vargas, impressionado pelo que viu, te-
ria se referido à capoeira como “a única colaboração 
autenticamente brasileira à educação física, devendo 
ser considerada a nossa luta nacional”.
Ascensão Social da 
Capoeira
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 31
Este foium momento decisivo para a história da 
capoeira. Você deve lembrar que, a poucas páginas 
atrás, discutíamos o seu status de prática criminosa 
e, agora, visualizamos um presidente da República, 
cumprimentando um mestre representante dessa 
manifestação e a reconhecendo como contribuição 
à Educação Física. Retomaremos, então, alguns pon-
tos para entendermos o percurso que levou a capo-
eira à legalidade.
Se a partir da proclamação da República, na úl-
tima década do século XIX, houve a intensificação 
da repressão policial aos capoeiras e à capoeiragem 
como um todo, havia, no mesmo período, um mo-
vimento de reabilitação da capoeira encabeçado 
por alguns intelectuais, políticos e militares (PIRES, 
2010). Esse movimento é descrito por Pires (2010, p. 
138) como um “processo histórico que se propagou 
por todo o Brasil e influenciou uma nova invenção 
para a prática da capoeira”. Este processo contou 
com iniciativas mais contundentes no Rio de Janeiro 
e na Bahia. Em ambos os casos, ficava evidente o de-
sejo do distanciamento da criminalidade que outro-
ra caracterizou a manifestação, o que somente seria 
possível, atribuindo-lhe um caráter desportivo.
É possível verificarmos que, na ânsia de revita-
lização da capoeira, alguns autores, a exemplo de 
Alexandre José de Mello Moraes Filho (1816-1882), 
questionam a própria origem da manifestação. Para 
este autor (1979, p. 261), a forma como a capoeira 
se apresentava, lamentavelmente, ligada à margina-
lidade, se dera pelos “excessos cometidos pelo povo 
baixo, que a afogou nas desordens”. Segundo a pers-
pectiva do autor, o passado da capoeira era nobre e 
glorioso, mas foi depreciado a partir do momento 
que a sua prática tornou-se majoritariamente negra. 
Reis (2000, p. 62) entende o discurso apresentado 
por Moraes Filho como uma forma de apropriação 
simbólica da capoeira, entendendo que ele procurou 
“afastar dela [a capoeira], ou pelo menos minimizar 
a sua herança étnica africana, a fim de que lhe fosse 
possível, através de seu embranquecimento, civilizar-
-se, tornando-a um símbolo de distinção nacional”.
Figura 4 - Mestre Bimba sendo cumprimentado pelo presidente Getúlio Vargas, Salvador, 1953
Fonte: Campos (2009).
32 
CAPOEIRA 
Seguindo esta linha de reestruturação da ca-
poeira, atribuindo-lhe um caráter esportivo, por-
tanto, socialmente aceito e valorizado, é que, em 
1907, foi editado o opúsculo Guia do Capoeira ou 
Ginástica Brasileira como a primeira tentativa de 
criar um método para o ensino dessa manifesta-
ção. O autor desse opúsculo apresenta-se com o 
pseudônimo de O.D.C. e é descrito como um “dis-
tinto oficial do exército brasileiro, mestre em to-
das as armas, professor de militares e habilíssimo 
na ginástica defensiva ou a verdadeira capoeira” 
(O.D.C., 1907, p. 1).
Talvez você esteja se perguntando: como um ofi-
cial do exército seria um habilidoso capoeira, já que 
estamos falando de uma prática criminosa? Lembre-
-se dos argumentos apresentados por Araújo (2005) 
quanto à generalização do termo capoeira. Este foi 
utilizado para designar toda a sorte de malfeitores, 
e também os praticantes da capoeiragem, no entan-
to, nem todo malfeitor era praticante e nem todo 
praticante era malfeitor. No início do século, eram 
chamados de cultores aqueles sujeitos da elite adep-
tos da prática da capoeiragem. Parte desse cultores 
entendia a iniciativa de esportivização da capoeira-
gem como a única forma de redenção. São muitos os 
defensores desta proposta, nomes de peso da épo-
ca, como o deputado Coelho Neto, “Juca Paranhos, 
o Barão do Rio Branco (Parlamentar), Lite Ribeiro 
(Parlamentar) Luiz Murat (Jornalista e Parlamentar) 
Castro Soromento (Parlamentar) e outros” (PIRES, 
2010, p. 139).
Em 1909, outro fato trouxe notoriedade à ca-
poeira. Naquele ano, o estivador Ciríaco Francisco 
da Silva, de 38 anos, derrotou o lutador de jiu-jitsu 
Sada Miako. De acordo com Moura (2009, p. 127), 
a vitória de Ciríaco sobre Miako “contribuiu deci-
sivamente para a credibilidade, a difusão, o renas-
cimento da capoeiragem, que atravessava uma fase 
de declínio, de ostracismo”, a qual enfrentava des-
de o processo de repressão policial deflagrado por 
Sampaio Ferraz.
Figura 5 - Reportagem de “A Careta” de 29 de maio de 1909
Fonte: A Careta (1909, on-line)2. 
Apesar da pugna entre Ciríaco e Miako trazer vi-
sibilidade à capoeira, em especial, no rol das artes 
marciais, o processo de sistematização demoraria, 
aproximadamente, mais duas décadas, quando, em 
1928, a obra Gynastica Nacional (capoeiragem) Me-
thodizada e Regrada, escrita por Annibal Burlama-
qui, propõe uma metodologia não só de ensino, mas 
também de estruturação da capoeira com caráter 
desportivo, com regras bem definidas para o com-
bate. A obra é tida como um ponto de ruptura com 
uma tradição social predominante, durante todo o 
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 33
século XIX, que vinculava o capoeira ao estereóti-
po do malandro e do vadio. Opondo-se diametral-
mente a essa tradição social, Burlamaqui desponta 
como “sportman”, como um capoeira desportista 
(PIRES, 2010). Neste mesmo sentido de ruptura, 
Araújo (1997) analisa a obra de Burlamaqui (1928) 
como um marco fundamental da transformação da 
capoeira em prática desportiva ao evidenciar os as-
pectos positivos dessa manifestação até, então, mar-
ginalizada. Desta perspectiva, a capoeira se igualaria 
a outros métodos gímnicos, lutas e desportos, mas, 
sobretudo, ficava evidente “os benefícios de ordem 
física e moral advindos do desenvolvimento desta 
manifestação corporal, sem, contudo, desconsiderar 
a sua essência como uma prática de defesa pessoal” 
(ARAÚJO, 1997, p. 208).
O discurso de Burlamaqui (1928) apresenta a 
pretensão de elevar a capoeira ao consagrado mun-
do dos esportes atribuindo-lhe, então, regras bem 
definidas. Entretanto, a despeito dessas iniciativas 
de legitimação serem advindas do cenário carioca, 
ainda nas duas primeiras décadas do século XIX, foi 
a partir do advento da capoeira regional que se deu 
a inserção da prática no rol das modalidades des-
portivas brasileiras (VIEIRA, 1998). Nós teremos a 
oportunidade de entendermos a capoeira regional, 
quando falarmos dos estilos de capoeira, os quais se-
rão apresentados na unidade seguinte. Por ora, bas-
ta saber que o contexto baiano passou, a partir da 
década de 30, a irradiar hegemonicamente os pre-
ceitos de uma capoeira esporte, mas carregada de 
tradicionalidade. Destacaram-se, neste processo, os 
mestres Bimba e Pastinha, respectivamente, o cria-
dor da capoeira regional e o maior expoente da ca-
poeira angola. O discurso desses mestres, guardadas 
as devidas proporções, refletia a preocupação com a 
legitimação social da capoeira.
Para que os anseios de ambos os mestres fossem 
efetivados, Reis (2000, p. 96) ressalta que:
A capoeira teria que sair das ruas e limitar-se ao 
espaço fechado das academias. Através da cria-
ção de uma pedagogia para ensino da capoeira, 
os dois mestres (principalmente Bimba) envi-
daram esforços para ampliar o espectro social 
e étnico dos praticantes de capoeira, buscando 
a adesão das classes médias e brancas da cidade 
de Salvador.
Por meio do processo de retirada da capoeira das 
ruas e dos terreiros, onde era praticada às escondi-
das, operou-se uma mudança na lógica da própria 
manifestação. A capoeira passou a ser vista não mais 
como uma prática violenta, marginal e indisciplina-
da. Foi, nesse contexto, que ela se consolidou como 
uma prática corporal utilitária, destinada “para fins 
pacíficos, voltados apenas para preservação da in-
tegridade física de seus iniciados, como também 
para o ensino da educação física de caráter técnico 
e profissional” (ARAÚJO, 1997, p. 218). Aliás, me-
rece destaque o fato de que, quando o mestre Bim-
ba conseguiu o certificado de registro oficial para o 
funcionamento do Centro de Cultura Física e Ca-
poeira Regional, expedido em 1937, tal documento 
lhe foi conferido pela Secretária de Educação, Saúde 
e Assistência Pública da Bahia.Tal órgão qualificou 
o “ensino de sua capoeira como ensino de Educação 
Física” (REGO, 1968, p. 282). O reconhecimento e o 
prestígio alcançados pelo mestre Bimba levaram-no 
a demonstrar a sua capoeira regional ao dirigente 
máximo da nação, naquela apresentação, em 1953, 
que Araújo (1997) considerou como um momento 
expressivo no que se refere ao reconhecimento e à 
afirmação social da capoeira como prática desporti-
va e como luta.
34 
CAPOEIRA 
A sua oficialização como manifestação despor-
tiva, no entanto, tramitaria entre as décadas de 60 
e 70. Dois congressos nacionais de capoeira foram 
patrocinados e organizados pela Comissão de Des-
portos do Ministério da Aeronáutica, nos anos de 
1968 e 1969, ambos na cidade do Rio de Janeiro. O 
objetivo desses congressos era discutir a institucio-
nalização dessa prática (FRIGERIO, 1989; ARAÚJO, 
1997; REIS, 2000). Para Lyra Filho (1973), somente 
por meio de sua institucionalização a capoeira teria 
concretamente reconhecimento social.
O Conselho Diretor da 
Confederação Brasileira de 
Pugilismo, por meio de 
uma comissão de mestres 
e estudiosos da capoeira, 
ficou responsável por ela-
borar um regulamento técnico 
que permitisse enquadrar a capoeira 
nos parâmetros competitivos. Em 26 de de-
zembro de 1972, foram homologadas as con-
clusões apresentadas pelo relator da comissão, 
o general Jair Jordão Ramos (ARAÚJO, 
1997), as quais passaram a vigorar em 1º 
de janeiro de 1973 (CAMPOS, 2001).
Para Frigerio (1989), o desenvol-
vimento da capoeira como prática des-
portiva ocasionou diversas implicações tanto 
para a prática quanto para a concepção da própria 
manifestação. Sem a intenção de discutir profun-
damente tais transformações, basta que nos lem-
bremos do primeiro tópico desta unidade, no qual 
discutimos as concepções de capoeira e vimos que 
já são muitas: luta, jogo, dança... Pois é! Por conta 
do processo de reestruturação, visando a sua re-
denção social, mais um foi incorporado. Pensa-
mos que seja pertinente à retomada de uma breve 
reflexão. A ascensão social da capoeira se deu de 
forma tão efetiva que hoje é ensinada nas escolas 
e universidades, mas com que sentido? Quando 
abordada nas aulas de Educação Física, a capoeira 
é apresentada como esporte? E o que significa esta 
classificação?
 35
considerações finais
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da primeira unidade, na qual discutimos, so-
bretudo, questões relacionadas ao desenvolvimento histórico da capoeira. Nesta 
unidade, nós tivemos a oportunidade de refletir a abordagem da capoeira, quan-
do nos questionamos a sua definição. Nós podemos perceber que se trata de uma 
manifestação da cultura corporal, cujos sentidos e significados coexistem. Neste 
contexto, a capoeira é uma luta, um jogo, uma dança, um esporte... Tudo ao mes-
mo tempo.
A fim de entendermos como a capoeira surgiu, deparamo-nos com argu-
mentos que vislumbram tal manifestação como de origem africana, outros que 
a percebem como uma criação de africanos escravizados no Brasil, portanto, 
afro-brasileira, e há aqueles que argumentam uma origem indígena. Dentre tais 
hipóteses, a mais aceita, atualmente, é aquela que concebe a capoeira como um 
processo de encontro de culturas africanas em terras brasileiras.
Além disso, vimos como a figura do capoeira e da própria manifestação foi 
enquadrada no código penal, inicialmente, como contravenção, e a partir de 
1890, como crime. Isto porque a capoeira foi utilizada como instrumento para 
promover desordem e tumultos pelas maltas, especialmente, na cidade do Rio de 
Janeiro, desde os tempos do Império, o que desencadeou um processo de perse-
guição e extermínio de tais grupos.
Se por um lado, havia quem desejasse o fim da capoeira, por considerá-la 
um flagelo social, por outro, havia quem defendesse as suas qualidades atléticas 
e a sua representatividade nacional. Foi com o intuito de elevar a capoeira ao 
panteão desportivo que alguns entusiastas apresentaram propostas de reestrutu-
ração, apresentando-a como um desporto, genuinamente, brasileiro.
Pensamos, prezado(a) aluno(a), que a leitura desta unidade nos permitiu vi-
sualizar alguns detalhes dessa prática corporal que, apesar de ser bastante conhe-
cida, ainda, carece de esclarecimentos e desmistificações sobre certos aspectos.
36 
atividades de estudo
1. Ao longo desta unidade, nós tivemos a oportuni-
dade de refletir acerca da abordagem da capo-
eira. Para tanto, questionamos-nos sobre a sua 
definição. Nesse sentido, como podemos definir 
a capoeira?
2. Disserte sobre as origens da capoeira.
3. No que se refere às discussões em torno das ori-
gens da capoeira, assinale a alternativa correta: 
a) A hipótese mais aceita, atualmente, é 
aquela que concebe a capoeira como uma 
manifestação criada na África e trazida in-
tacta para o Brasil.
b) A hipótese mais aceita, atualmente, é 
aquela que concebe a capoeira como um 
processo de encontro de culturas africa-
nas em terras brasileiras.
c) A hipótese mais aceita, atualmente, é 
aquela que concebe a capoeira como uma 
criação indígena que fora assimilada pelos 
negros africanos.
d) A hipótese mais aceita, atualmente, é 
aquela que concebe a capoeira como des-
dobramento do n’golo, uma dança dos ín-
dios brasileiros.
e) A hipótese mais aceita, atualmente, é 
aquela que concebe a capoeira como des-
dobramento de lutas trazidas pelos imi-
grantes europeus.
4. Quanto ao processo de criminalização da capo-
eira e dos seus praticantes, leia as afirmativas a 
seguir.
I - Grande parte dos praticantes seriam efe-
tivos capoeiras, deste modo, todos os ca-
poeiras eram efetivos praticantes desta 
manifestação.
II - São designados “capoeiras” indivíduos que 
promoviam ações criminosas que atenta-
vam contra a integridade física e patrimo-
nial dos cidadãos dos centros urbanos e 
das áreas de entorno.
III - A oficial criminalização da capoeira, a par-
tir de 1890, foi fruto da idealização de um 
projeto modernizador do país para a re-
cém-proclamada República.
IV - Grande parte dos seus praticantes seriam 
efetivos capoeiras, entretanto, nem todos 
os capoeiras podiam ser considerados 
efetivos praticantes dessa manifestação. 
É correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I, II, III, IV.
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
 37
5. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) quanto às in-
formações referentes ao processo de ascensão 
social da capoeira.
( ) No século XIX, houve a intensificação da 
repressão policial aos capoeiras e à capoeira-
gem como um todo, mas havia, no mesmo perí-
odo, um movimento de reabilitação da capoei-
ra encabeçado por alguns intelectuais, políticos 
e militares.
( ) No século XIX, houve a intensificação da re-
pressão policial aos capoeiras e à capoeiragem 
como um todo, sem que houvesse nenhum tipo 
de movimento de reabilitação.
( ) Uma das estratégias empregadas para a 
reabilitação social da capoeira foi a de lhe confe-
rir um caráter desportivo e, neste contexto, uma 
das primeiras iniciativas registradas foi a edição 
do Guia do Capoeira ou Ginástica Brasileira como 
a primeira tentativa de criar um método para o 
seu ensino.
( ) Em 1909, o lutador japonês de jiu-jitsu Sada 
Miako derrotou o capoeira Ciríaco Francisco da 
Silva, fato que trouxe descrédito para a capoei-
ra, uma vez que esta não se mostrava eficiente 
como luta.
( ) A despeito dessas iniciativas de legitima-
ção da capoeira como desporto nacional serem 
advindas do cenário carioca, ainda, nas duas 
primeiras décadas do século XIX, foi a partir do 
advento da capoeira regional que se deu a sua 
inserção no rol das modalidades desportivas 
brasileiras. 
A sequência correta para a resposta da questão é:
a) V, F, F, F, V.
b) F, V, V, V, F.
c) F, V, F, F, F.
d) V, F, V, F, V.
e) V, V, F, F, F.
38 
LEITURA
COMPLEMENTAR
O excerto que segue foi retirado de uma pesquisa que 
teve por objetivo investigar as representações sociais da 
capoeira por parte de professores(as)de educação física 
e estudantes do ensino fundamental e médio. Peço que 
leiam esse texto tendo em mente as discussões que ti-
vemos durante essa unidade. Mas, principalmente, pen-
sem como a capoeira tem sido abordada e representada 
no contexto escolar e como vocês futuros profissionais 
de educação física irão lidar com tal cenário. Boa leitura.
[...] As experiências analisadas evidenciaram alguns mo-
tivos para a abordagem da manifestação no ambiente 
escolar, dentre eles destacamos; imposição oficial via 
planejamento curricular; datas comemorativas especi-
ficamente relacionadas à cultura negra; quando se faz 
necessária a preparação dos estudantes para algum pro-
cesso avaliativo que a envolva de alguma forma.
Nossa hipótese não foi confirmada, pois as representa-
ções de Capoeira objetivadas pelos sujeitos participantes 
dessa pesquisa apresentam polifasia cognitiva. A mani-
festação em questão, na perspectiva dos (as) professores 
(as), é objetivada, predominantemente, enquanto luta, 
na perspectiva das crianças não praticantes a objetiva-
ção que predomina é da representação da Capoeira, en-
quanto um esporte, enquanto que as crianças pratican-
tes objetivam-na como um jogo. O que constatamos na 
fala dos participantes foi o emprego de diversas repre-
sentações, concomitantemente, na tentativa de definir 
a Capoeira, caracterizando-se num estado de polifasia 
cognitiva.
A análise das representações do cotidiano das aulas por 
parte dos participantes permitiu verificar que a aborda-
gem da Capoeira ocorre com ênfase teórica em seus as-
pectos históricos, sobremaneira ao período da escrava-
tura. Existe uma defasagem quanto à abordagem prática 
do fenômeno que se reflete tanto nos gestos técnicos, 
quanto nos demais elementos constitutivos.
Estes elementos nem sempre são expostos, e quando o 
são, o são de forma limitada. A música, que no univer-
so da manifestação representa uma forma de comuni-
cação, transmitindo a história, os valores e as normas 
simbólicas da Capoeira, na escola quando é abordada é 
de forma limitada, visto que cumpre apenas a função de 
embalar o jogo. Além do que os estudantes não acessam 
propriamente dito as cantigas, pois seu contato é media-
do por equipamentos eletrônicos.
A realização da roda de Capoeira é entendida pelos 
professores como a reunião dos alunos em círculo e a 
realização dos gestos técnicos por alguns deles. Não 
consideram a execução dos toques pelos instrumentos 
característicos, tampouco o entoar das cantigas. Nesse 
sentido, não há a realização da roda de Capoeira nas au-
las de Educação Física.
Levando-se em conta o que foi observado, concluímos 
que a abordagem da Capoeira no contexto formal é in-
consistente. Aspecto que se confirma no reconhecimen-
to por parte dos sujeitos das dificuldades enfrentadas 
por esses agentes ao tratarem da Capoeira nas aulas de 
Educação Física.
Dentre as principais dificuldades destacamos àquela li-
gada diretamente ao domínio da manifestação, o domí-
nio das especificidades da Capoeira é de ordem prática 
para todos os elementos constitutivos. Os responsáveis 
pelas aulas não dominam os gestos técnicos próprios do 
fenômeno. Não dominam a manipulação dos objetos, 
neste caso, os instrumentos característicos. Não domi-
nam a linguagem própria da Capoeira como o andamen-
to dos jogos ou da própria roda. [...]
Fonte: Lima (2014).
 39
material complementar
O que é Capoeira
Anande das Areias
Editora: da Tribo
Sinopse: capoeira é uma luta? Ou é uma dança? Quem sabe é briga, defesa pes-
soal, esporte, cultura, arte, folclore...? Capoeira é tudo isso e muito mais. Porém, 
para compreendê-la e aceitá-la em seu todo e em sua diversidade como criação 
do ser humano, é preciso que, livres de preconceitos e imagens preconcebidas, 
conheçamos um pouco mais de sua história e de seu desenvolvimento.
Indicação para Ler
Jogo de Corpo: Capoeira e Ancestralidade
Ano: 2013
Sinopse: este documentário leva o mestre brasileiro de capoeira do gênero an-
golano, Cinézio Peçanha, mais conhecido como Mestre Cobra Mansa, até An-
gola. Vivendo a ancestralidade do povo e da capoeira que o mestre ensina, as 
conexões, desde a escravidão entre Brasil e África, são reforçadas pela dança, 
pela música e pelo conhecimento.
Indicação para Assistir
40 
referências
ABREU, P. D. Os capoeiras. Rio de Janeiro: Seraphin 
Alves de Brito, [s. d.].
ALGRANTI, L. M. O feitor ausente. Estudos sobre 
escravidão urbana no Rio de Janeiro – 1808-1822. 
Petrópolis: Vozes, 1988.
ARAÚJO, P. C. D. Abordagens sócio-antropológicas 
da luta/jogo da capoeira. Maia: Publismai, 1997.
______. Capoeira: um nome, uma origem. Juiz de 
Fora: Notas & Letras, 2005.
ASSUNÇÃO, M. R. Capoeira, arte crioula. Capo-
eiras? objets sujets de la contemporanéité. Cul-
tures-Kairós, Paris, déc. 2012. Disponível em: 
<https://www.academia.edu/38176437/CapoeiraAr-
te_Crioula_Incl_Biblio_Kairos2012_.pdf>. Acesso 
em: 20 fev. 2019. 
ASSUNÇÃO, M. R.; PEÇANHA, C. F. A dança da 
zebra. Revista de História da Biblioteca Nacional, 
Rio de Janeiro, n. 30, p. 14-21, mar. 2008.
BARBIERI, C. A. S. O que a escola faz com o que o 
povo cria: até a capoeira entrou na dança! São Carlos, 
2003. 311 f. Tese (Doutorado em Educação) – Uni-
versidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2003. 
BURLAMAQUI, A. Gymnastica Nacional (capoei-
ragem) Methodizada e Regrada. Rio de Janeiro: [s. 
n.], 1928.
CAMPOS, H. Capoeira na escola. Salvador: EDU-
FBA, 2003.
______. Capoeira na universidade: uma trajetória 
de resistência. Salvador: SCT; EDUFBA, 2001.
______. Capoeira Regional: a escola de Mes-
tre Bimba. Salvador: EDUFBA, 2009. Disponível 
em: <http://books.scielo.org/id/p65hq/pdf/cam-
pos-9788523217273.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2019. 
CARNEIRO, E. A sabedoria popular. Rio de Janeiro: 
Ministério da Educação e Cultura; Instituto Nacio-
nal do Livro, 1957.
______. Cadernos de folclore: Capoeira. 2. ed. Rio 
de Janeiro: MEC; Funarte, 1977. Volume 1. 
CASCUDO, L. D. C. Dicionário do folclore brasi-
leiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1959. 
Volume 1. 
______. Folclore do Brasil: pesquisas e notas. Brasil-
-Portugal: Fundo de Cultura, 1967.
CONDURU, G. F. As metamorfoses da capoeira: 
contribuição para uma história da capoeira. Revista 
Textos do Brasil, Brasília, n. 14, p. 21-33, 2008.
COSTA, L. P. D. Capoeira sem mestre. Rio de Janei-
ro: Tecnoprint, [s. d.]. 
CULTURA. Jornal Angolano de Artes e Letras. A 
Bassula. Cultura, Luanda, n. 9, a. 1, 23 jul./15 ago. 
2012. Caderno de Artes. p. 14. Disponível em: < ht-
tps://imgs.sapo.pt/jornalcultura/content/files/cultu-
ra_ix.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2019.
DIAS, L. S. Quem tem medo da capoeira? Rio de 
Janeiro: Secretaria Municipal de Culturas, Departa-
mento Geral de Documentação e Informação Cul-
tural, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 
Divisão de Pesquisa, 2001.
FALCÃO, J. L. C. Capoeira. In: GONZÁLES, F. J.; 
FENSTERSEIFER, P. E. Dicionário crítico de Edu-
cação Física. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2010. p. 56-59.
FILHO, A. J. D. M. M. Festas e tradições populares 
no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Uni-
versidade de São Paulo, 1979.
FILHO, J. L. Introdução à sociologia dos desportos. 
Rio de Janeiro: Bloch; Brasília: INL, 1973.
 41
referências
FRIGERIO, A. Capoeira: de arte negra a esporte 
branco. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Rio 
de Janeiro, v. 4, 1989. 
IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artísti-
co Nacional. Dossiê Inventário para Registro e Sal-
vaguarda da Capoeira como Patrimônio Cultural 
do Brasil. Brasília: Iphan, 2007.
JARDIM, M. P. D. S. V. Capoeira. São Paulo: Xerox 
do Brasil, 1976.
LUSSAC, R.M.P. Especulações acerca das possíveis 
origens indígenas da capoeira e sobre as contribui-
ções desta matriz cultural no desenvolvimento do 
jogo-luta. Revista Brasileira de Educação Física e 
Esporte, São Paulo, v. 29, p. 267-278, abr./jun. 2015.
MOURA, J. A capoeiragem no Rio de Janeiro atra-
vés dos séculos. Salvador: JM; Ministério da Cultura; 
Capoeira viva, 2009.
O. D. C. Guia do capoeira

Outros materiais