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CAPÍTULO 05 – JOSÉ FELICIANO DE OLIVEIRA: TRAJETÓRIA E PENSAMENTO
EDUCACIONAL DE UM MESTRE POSITIVISTA EM SÃO PAULO DA PRIMEIRA
REPÚBLICA. Bruno Bontempi Jr. e Omair Guilherme Tizz...
Chapter · April 2021
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Knowledge and practices in frontiers: toward a transnational History of Education (1810-...) View project
Bruno Bontempi Jr.
University of São Paulo
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https://www.researchgate.net/publication/350845293_CAPITULO_05_-_JOSE_FELICIANO_DE_OLIVEIRA_TRAJETORIA_E_PENSAMENTO_EDUCACIONAL_DE_UM_MESTRE_POSITIVISTA_EM_SAO_PAULO_DA_PRIMEIRA_REPUBLICA_Bruno_Bontempi_Jr_e_Omair_Guilherme_Tizzot_FilhoTitulo_In_Shigu?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf
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https://www.researchgate.net/project/Knowledge-and-practices-in-frontiers-toward-a-transnational-History-of-Education-1810?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf
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https://www.researchgate.net/institution/University-of-Sao-Paulo?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
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Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
- - - - - 
 4 
 
Título: A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA PRIMEIRA REPÚBLICA: 
REVISITANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PARA COMPREENDER 
O PRESENTE 
 
Organizadores: Alexandre Shigunov Neto, Ivan Fortunato e Maria 
Elisabeth Blanck Miguel 
 
 
Apresentação 
 
 
CAPÍTULO I - A FORMAÇÃO DOCENTE NA REFORMA BENJAMIN CONSTANT: 
ALGUMAS REFLEXÕES 
Alexandre Shigunov Neto e André Coelho da Silva 
 
CAPÍTULO II - IDEAL CÍVICO, MORAL, PATRIÓTICO E NACIONALISTA, 
SABERES A SER APRENDIDOS NA ESCOLA PRIMARIA NA PRIMEIRA 
REPÚBLICA NO PARANÁ: uma leitura de relatórios de instrução 
Rosa Lydia Teixeira Corrêa 
 
CAPÍTULO III - O ENSINO SECUNDÁRIO NA PRIMEIRA REPÚBLICA: ENTRE A 
TRADIÇÃO E AS INOVAÇÕES EDUCACIONAIS 
Ariclê Vechia e Karl Michael Lorenz 
 
CAPÍTULO IV - A REORGANIZAÇÃO EDUCACIONAL NO PARANÁ E EM SANTA 
CATARINA APÓS O ACORDO DE LIMITES (1917): O DIFÍCIL RECOMEÇO. 
Eliane Nilsen Konkel e Maria Elisabeth Blanck Miguel 
 
 
 
 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 5 
CAPÍTULO V – JOSÉ FELICIANO DE OLIVEIRA: TRAJETÓRIA E PENSAMENTO 
EDUCACIONAL DE UM MESTRE POSITIVISTA EM SÃO PAULO DA PRIMEIRA 
REPÚBLICA. 
Bruno Bontempi Jr. e Omair Guilherme Tizzot Filho 
 
CAPÍTULO VI – O QUE SIGNIFICAVA UMA MULHER ESCREVER SOBRE 
MULHERES NO BRASIL DE 1920? UMA REFLEXÃO SOBRE A 
INTELECTUALIDADE FEMININA NO CAMPO DA PRODUÇÃO HISTÓRICA 
Evelyn de Almeida Orlando 
 
CAPÍTULO VII – NESTOR DOS SANTOS LIMA E OS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO 
NO RIO GRANDE DO NORTE 
Olívia Morais de Medeiros Neta, Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo e Arthur 
Cássio de Oliveira Vieira 
 
CAPÍTULO VIII – UM INTELECTUAL SOB CONTRASTE: O DEBATE 
HISTORIOGRÁFICO EM TORNO DA OBRAE AÇÃO POLÍTICA DE MANOEL 
BOMFIM 
Ligiane Aparecida da Silva e Maria Cristina Gomes Machado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 6 
Apresentação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Alexandre Shigunov Neto, Ivan Fortunato e Maria Elisabeth Blanck 
Organizadores 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 7 
CAPÍTULO I - A FORMAÇÃO DOCENTE NA REFORMA BENJAMIN CONSTANT: 
ALGUMAS REFLEXÕES 
Alexandre Shigunov Neto e André Coelho da Silva 
 
 
No final do período imperial e início do processo de consolidação da república 
brasileira o pensamento liberal assumiu a vanguarda como ideologia dominante na 
sociedade brasileira. A partir desse momento o Brasil vivenciou um período de 
profundas transformações em todos os setores da sociedade, que o tornavam cada 
vez mais diversificado e complexo. Verificou-se, então, um “processo de 
modernização do país” com: o crescimento das cidades, o crescimento dos 
imigrantes que chagavam ao país; a expansão da malha ferroviária, o crescimento 
do sistema bancário e de crédito, a modernização da agricultura; a substituição do 
trabalho escravo pelo trabalho livre; a expansão da cafeicultura; a diversificação da 
economia; a expansão do mercado interno, a introdução do capital estrangeiro na 
economia do país, e a introdução do capitalismo industrial. Aliados a esse processo 
de transformação social e econômica, verificou-se um processo de transformação 
política, com a intensificação da propaganda republicana, que reaparece na cena 
política do país com a fundação do Clube Republicano, o lançamento do Manifesto 
Republicano e a edição do Jornal A República. 
 Entre os anos de 1885 e 1888 aprofunda-se a crise do regime monárquico, 
em contrapartida, cresce o movimento republicano, o abolicionismo, o fortalecimento 
do exércitocom a Guerra do Paraguai (1865-1870), a crise do trabalho escravo e 
sua substituição pelo trabalho livre. Todas essas transformações evidenciaram um 
desnível muito grande entre as bases materiais da sociedade brasileira e a estrutura 
política até então instalada. O ápice desse momento histórico da sociedade 
brasileira foi a queda do Império, incapaz de adaptar-se às novas exigências e 
satisfazer aos anseios de uma nova sociedade, e a instauração da República. 
 A produção cafeeira havia se consolidado como o principal produto nacional e 
a principal fonte de renda para o país, por intermédio das exportações. Inicialmente, 
organizada com base no trabalho escravo, com a abolição da escravatura e o fim do 
comércio de escravos, adotou-se como medida alternativa para suprir a carência de 
mão-de-obra, a imigração européia. Simultaneamente a esse processo surge um 
novo grupo social, que exercerá até a década o final da década de 1920 a 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 8 
supremacia no cenário político e econômico brasileiro, os empresários rurais. 
(CARONE, 1969; NAGLE, 1974; DELANEZE, 2006 e 2007; RIBEIRO,1998; CUNHA, 
2007; SHIGUNOV NETO, 2015) 
 A passagem do Império para a República refletiu a consolidação do modelo 
agrário-exportador como principal fonte de recursos da economia e a predominância 
dos grupos agrários na estrutura política e social da sociedade brasileira. 
 
Quando se introduziu, no Brasil, o regime republicano, nossa 
economia encontrava-se em situação de pronunciado atraso, em 
relação às da Europa e dos Estados Unidos, pois dependia única e 
exclusivamente da exportação de produtos agrícolas ou extrativos, 
com que obtínhamos o ouro e as divisas. E, na ocasião, pouca gente 
notava, pelo menos publicamente, a inconveniência de tal estado de 
coisas e pouco se cogitava das possibilidades de sairmos dessa fase 
semicolonial. 
Não foram tranqüilos, aliás, os primeiros anos da República 
brasileira. Logo de início surgiram sérias desinteligências entre os 
elementos militares e civis colocados à testa do Governo, e as lutas 
delas decorrentes só cessaram em 1894, graças à energia do 
Marechal Floriano Peixoto, que assumira a chefia da nação após a 
renúncia do primeiro presidente, Marechal Deodoro da Fonseca. 
Enquanto se travavam os combates, era a capital do país agitada por 
verdadeira febre de negócios de toda ordem. Já nos últimos tempos 
do reinado de D. Pedro II diversas pessoas que, em regra geral, 
deviam à lavoura apreciáveis fortunas, arriscaram-nas em ousados 
empreendimentos comerciais ou industriais. (Lobo,1969,p.326) 
 
Os estudos sobre as reformas educacionais brasileiras tem sido relegadas à 
segundo plano quando comparadas com pesquisas sobre outras temáticas da 
história da educação em específico na Primeira República. Contudo, e apesar de 
ainda ser pequena a quantidade de trabalhos sobre a Reforma Benjamin Constant é 
possível destacar os seguintes trabalhos: Mendes, 1894; Nogueira, 1936; Moacyr, 
1941; Fávero, 1977; Santos, 1955; Carone, 1969; Cartolano, 1994; Mezzari, 2001; 
Delaneze, 2006 e 2007; Silva e Machado, 2014; Oliveira e Machado, 2015; Cunha, 
2007). 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 9 
Este estudo, de caráter bibliográfico, visa compreender como a formação de 
professores é tratada na Reforma Benjamin Constant, considerada a primeira 
reforma do período republicado brasileiro. O Ministro da Instrução Pública, Correios 
e Telégrafos, Benjamin Constant Botelho de Magalhães apresentou em a reforma do 
ensino primário e secundário por meio do Decreto nº 891 de 08 de novembro de 
1890 para o Distrito Federal. Proposta que assinala uma nova fase do ensino 
secundário ao propor superar o caráter exclusivamente preparatório do ensino 
secundário, conferindo-lhe o de uma verdadeira formação educativa, seus ideais 
estavam pautados na doutrina positivista que visavam a atender as necessidades do 
Estado Nacionais e às demandas de setores da sociedade. Em relação a temática 
da formação de professores dedica um título com 12 artigos – Título III - Do pessoal 
docente das escolas primarias. A formação de professores para atuação no 
magistério primário só podia ser exercida pelos professores que concluíssem a 
Escola Normal, destinada exclusivamente a formação de professores. 
 
O momento vivenciado 
Com a queda do Império o novo regime republicano assumiu o rumo político 
do Brasil, e na tentativa de consolidar-se rapidamente, inicia a construção do Estado 
Republicano, apagando os resquícios do regime anterior. Assim, na tentativa de 
institucionalizar rapidamente a República foi instituído o Governo Provisório 
Basbaum (1986) ao analisar esse período de transição entre o declínio do 
Império e o surgimento da República afirma que a causa fundamental do surgimento 
da República foi a decadência econômica da aristocracia açucareira que sustentava 
o Império. Entretanto, ao contrário da tradição monárquica a República não era um 
anseio da população brasileira, e sim de uma pequena parcela intelectual das 
classes médias. 
O Governo Provisório foi instituído por meio do Decreto nº 1 de 15 de 
novembro de 1889, 
Art. 1º - Fica proclamada provisoriamente e decreta como a forma de 
governo da nação brazileira a República Federativa. 
Art. 2º - As províncias do Brazil, reunidas pelo laço de Federação, 
ficam constituindo os Estados Unidos do Brazil. 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 10 
Art. 3º - Cada um desses Estados, no exercício de sua legítima 
soberania, decretará oportunamente a sua Constituição definitiva, 
elegendo os seus corpos deliberantes e os seus governos locaes. 
Art. 4º - Enquanto, pelos meios regulares, não se pode proceder a 
eleição do Congresso Constituinte do Brazil, e bem assim a eleição 
das legislaturas de cada um dos Estados, será regida a Nação 
brazileira pelo Governo Provisório da República; e os novos Estados, 
pelos governos que hajam proclamado, ou, na falta destes, por 
governantes delegados do Governo Provisório. 
Art. 5º - Os Governos dos Estados federados adaptarão com 
urgência todas as providências necessárias para a manutenção da 
ordem e da segurança pública, defesa e garantia da liberdade e dos 
direitos dos cidadãos, quer nacionais, quer estrangeiros. 
Art. 6º - Em qualquer dos Estados, onde a ordem pública for 
perturbada, e onde faltem ao governo local meios eficazes para 
reprimir as desordens e assegurar a paz e tranqüilidade públicas, 
effectuará o Governo Provisório a intervenção necessária para, com 
o apoio da força pública, assegurar o livre exercício dos direitos dos 
cidadãos e a livre ação das autoridades constituídas. 
Art. 7º - Sendo a República Federativa Brazileira a forma de governo 
proclamada, o Governo Provisório não reconhece nem reconhecerá 
nenhum governo local contrário a forma republicana, aguardando 
como lhe cumpre o pronunciamento definitivo do voto da Nação, 
livremente expressado pelo sufrágio popular. 
Art. 8º - A força pública regular, representada pelas três armas do 
Exército e pela armada nacional, de que existem guarnições ou 
contingentes nas diversas províncias, continuará subordinada e 
exclusivamente dependente do Governo Provisório da República, 
podendo os governos locais, pelos meios ao seu alcance, decretar a 
organização de uma guarda cívicadestinada ao policiamento do 
território de cada um dos novos Estados. (Baleeiro,1999, p.17-18) 
 
Com a criação do Governo Provisório foi proclamada provisoriamente como 
forma de governo do Brasil a República Federativa, estabelecendo as normas pelas 
quais se deveriam reger os Estados Federais. Chefiado pelo Marechal Deodoro da 
Fonseca também foram nomeados os seguintes membros: Rui Barbosa – 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 11 
inicialmente assumiu a vice-chefia do Governo e foi Ministro da Fazenda, General 
Floriano Peixoto – assumiu alguns meses mais tarde a vice-chefia do Governo, 
Aristides da Silveira Lobo – Ministro do Interior, Manoel Ferraz Campos Sales – 
Ministro da Justiça, Quintino de Sousa Bocaiúva – Ministro dos Negócios 
Estrangeiros, Tenente Coronel Benjamin Constant – Ministro da Guerra, Eduardo 
Wandenkolk – Ministro da Marinha e Demétrio Ribeiro – Ministro da Agricultura. O 
Governo Provisório permaneceu até janeiro de 1891, quando seus membros 
pediram exoneração. Entre as principais providências tomadas pelo Governo 
Provisório foram: transformação das províncias em Estados; subordinação das 
forças armadas ao novo regime; estabelecimento da sede do Governo federal no Rio 
de Janeiro; abolição da vitaliciedade senatorial; extinção da Câmara dos Deputados 
e do Senado; reconhecimento dos compromissos assumidos pelo Governo imperial; 
instituição da bandeira republicana; estabelecimento da grande naturalização, para 
todos os estrangeiros que a desejassem; convocação de uma Assembléia 
Constituinte, para elaboração da Constituição Republicana; separação entre a Igreja 
e o Estado e a instituição do casamento civil; reforma no Código Penal; entre outras 
medidas. (SHIGUNOV NETO, 2015) 
O período inicial da República no campo da educação pode ser caracterizado 
pela manutenção da descentralização do ensino, instaurada pelo Ato Adicional 
(1834), ao mesmo tempo em que, há uma ação direta do Poder Público Federal na 
tentativa de expandir e democratizar o ensino secundário. Portanto, verifica-se, ao 
menos no discurso, a consciência da Administração Federal em enfrentar e 
solucionar os problemas do ensino secundário, e concomitantemente assegurar a 
eficiência e a qualidade do modelo de ensino propedêutico e implementar o seu 
novo papel formativo. É a partir desse momento que verifica-se o processo de 
consolidação da atual organização escolar brasileira. Assim, intensifica-se entre os 
parlamentares e administradores públicos a preocupação com a instrução pública, e 
mais especificamente, com o ensino profissionalizante. (SHIGUNOV NETO, 2015) 
O período compreendido entre a proclamação da República em 1889 e a 
Revolução de 1930 é denominado por diversas denominações, tais como: República 
Velha, Primeira República ou República Oligárquica. (CUNHA, 2007) 
A denominação mais utilizada pelos pesquisadores é Primeira República e 
será a que utilizaremos em nosso texto. 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 12 
Na Primeira República (1889-1930) a educação passa a ser considerada 
como problema fundamental da nacionalidade. Também se evidencia, ao menos nos 
discursos e discussões, a importância da criação de um sistema nacional de ensino, 
as medidas de curto e médio prazo não surtiram os efeitos esperados, pois o que 
ocorreu foi a criação de escolas públicas para atender ao aumento do número de 
pessoas que procuravam vagas nos estabelecimentos públicos de ensino. 
(SANTOS,1955; CARTOLANO, 1994; RIBEIRO,1998; SAVIANI, 2013; SHIGUNOV 
NETO, 2015) 
 Saviani (2013) destaca que apesar de ser a intenção no período republicano 
de criação de um sistema nacional de educação, a conjuntura econômica e política e 
os ideais liberais de orientação positivistas foram um obstáculo a criação e 
consolidação de um verdadeiro sistema nacional de educação. Tais orientações 
sustentavam a “desoficialização” do ensino e o afastamento do Estado do âmbito 
educativo. 
 
Conclui-se, pois, que as dificuldades para a realização da ideia de 
sistema nacional de ensino se manifestaram tanto no plano das 
condições materiais como no âmbito da mentalidade pedagógica. 
Assim, o caminho da implantação dos respectivos sistemas nacionais 
de ensino, por meio do qual os principais países do Ocidente 
lograram universalizar o ensino fundamental e erradicar o 
analfabetismo, não foi trilhado pelo Brasil. E as conseqüências desse 
fato projetam-se ainda hoje, deixando-nos um legado de agudas 
deficiências no que se refere ao atendimento das necessidades 
educacionais do conjunto da população. (Saviani, 2013.p. 168). 
 
 A educação, enquanto preocupação republicana começa a ganhar destaque 
nos discursos proferidos por políticos, inclusive pelo presidente Marechal Manuel 
Deodoro da Fonseca na abertura da Primeira Sessão Ordinária da Primeira 
Magistratura do Congresso Nacional, destacando que: 
 
(...) anteriormente ao atual regime, a constituição do ensino público 
se fizeram sem espírito sistemático e sob acanhados moldes. 
(...) Dado o advento da República, forma de governo em que a 
difusão do ensino se impõe com o caráter de suprema necessidade, 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 13 
cuidou o Governo Provisório de organizá-lo sob novas bases, por 
modo completo e harmônico, desde a escola primária até os 
institutos superiores, proporcionando aos estudos a orientação que o 
espírito moderno e as condições de nossa existência política 
imperiosamente exigiam. 
(...) Realizando as mais adiantadas aspirações liberais, essa nova 
constituição do ensino fez justiça particular. Não é a menos vantajosa 
de sua providência a que proclamou a liberação do ensino. 
(Brasil,1987,p.16) 
 
 Em 19 de abril de 1890, o Marechal Deodoro da Fonseca criou por intermédio 
do decreto nº 346, a Secretaria de Estado dos Negócios da Instrução Pública, 
Correios e Telégrafos. O artigo 1º, parágrafo 1º, estabelece: “Para a mencionada 
Secretaria de Estado, serão transferidos: da Secretaria do Interior, os serviços 
relativos à instrução pública, aos estabelecimentos de educação e ensino especial 
ou profissional, aos institutos, academias e sociedades que se dediquem às 
ciências, letras e artes.” 
 A Primeira República (1889-1930) foi um período de profundas 
transformações da sociedade brasileira, principalmente no que se refere às questões 
da educação nacional, até então relegadas ao esquecimento. Dessa maneira, após 
um período de escassas e insuficientes reformas educacionais, processadas durante 
o Império, o qual deixou como herança algumas poucas escolas, em condições 
precárias, em todos os níveis de ensino, verificou-se um período de intensas 
discussões e apresentações de propostas de reformas educacionais em todos os 
níveis. Nesse sentido, evidenciando essa preocupação com a questão educacional, 
foram apresentadas, entre outras, cinco reformas educacionais, que ficaram 
conhecidas pelos nomes de seus idealizadores – Benjamin Constant (1891), 
Epitácio Pessoa (1901), Rivadávia Corêa (1911), Carlos Maximiliano (1915) e Rocha 
Vaz (1925). Especificamente em relação ao ensino secundário, as reformas 
pretendiam aperfeiçoá-lo e expandir seu alcance para uma parcela maior da 
população. (RIBEIRO,1998; SILVA E MACHADO, 2014; SHIGUNOV NETO, 2015) 
 A análise das reformas educacionais é fundamental parao entendimento da 
gênese da história da educação brasileira e da historiografia brasileira. Nesse 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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sentido Seki e Machado (2008) destacam a importância da análise e estudo da 
Reforma Benjamin Constant. 
 
Em suma, é preciso considerar a Reforma de Instrução Pública de 
Benjamin Constant, no sentido de seu significado para a 
historiografia brasileira. Em que situação ela ocorreu, quais 
influências filosóficas ele recebeu, a quem ela pretendia alcançar, 
quais as mudanças que ocorreram, dentre tantas outras indagações. 
Visto que a Reforma aqui tratada foi a primeira da República, é válido 
considerar as suas tentativas de melhorar o ensino público no país 
naquele momento, em que o Brasil estava marcado por significativas 
mudanças em seu regime governamental e as implicações que 
tiveram a sociedade como um todo. Nesse sentido, é preciso 
considerar de que forma esta reforma buscou contribuir para o 
desenvolvimento do país, buscando formar cidadãos aptos a exercer 
sua cidadania, por meio da instrução oferecida naquele momento. 
(Seki e Machado, 2008, p.20) 
 
Além das mudanças estruturais na economia, esse período foi marcado por 
intensas crises políticas, de caráter ideológico. Dessa forma, a Primeira República 
representou um período de transição de uma sociedade essencialmente agrária para 
uma sociedade industrial, caracterizando-se por lutas pela hegemonia e pela 
manutenção da estrutura de poder – luta entre a situação (representada pelo grupo 
sustentado pela sociedade agrário-exportadora) e pela oposição (que lutava pela 
consolidação de uma sociedade pautada no modelo urbano-industrial). 
 
Análise da Reforma Benjamin Constant 
Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891) nasceu em Niterói, 
seguiu a carreira militar, onde exerceu a função de professor da Academia Militar. 
Com a proclamação da República foi nomeado Ministro da Guerra. Foi nomeado o 
primeiro Ministério dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos em 
1890. A influência positivista na política educacional brasileira tem início com 
Benjamin Constant, considerado um dos grandes nomes do positivismo brasileiro. 
Faleceu em 22 de janeiro de 1891. 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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Benjamin Constant adaptou os projetos da doutrina positivista às 
necessidades do Estado (à formação da sua burocracia) e às 
demandas de setores da sociedade civil. Não a dos operários, 
artesãos, camponeses sem terra, ex-escravos, mas às das camadas 
médias urbanas. Sua atuação como ministro da Instrução Pública, 
Correios e Telégrafos, em 1890 e 1891, evidencia isso. (Cunha, 
2007,p.154) 
 
Para Delaneze (2007) em seu mandato como Ministro Benjamin Constant foi 
responsável pela edição de inúmeros decretos que foram denominados de Reforma 
Benjamin Constant, que em sua maioria tratavam da educação e estabelecimentos 
de ensino mantidos pelo Governo Federal no Distrito Federal. Entre os decretos 
destacam-se: 
� Decreto nº 337 A de 05 de maio de 1890 que organiza a Secretaria de Estado 
dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos. 
� Decreto nº 407 de 17 de maio de 1890 que aprova o regulamento para a Escola 
Normal da Capital Federal. 
� Decreto nº 408 de 17 de maio de 1890 que aprova o regulamento para o Instituto 
Nacional dos Cegos. 
� Decreto nº 540 A de 01 de julho de 1890 que cria o lugar de preparador da 1ª 
cadeira do 1º ano do curso de Ciências Físicas e Naturais da Escola Politécnica. 
� Decreto nº 667 de 16 de agosto de 1890 que cria o Pedagogium. 
� Decreto nº 668 de 18 de agosto de 1890 que declara o modo como deve ser 
conferido o grau de bacharel nas faculdades de Direito da República. 
� Decreto nº 856 de 13 de outubro de 1890 que aprova o regulamento para a 
Biblioteca Nacional. 
� Decreto nº 859 de 13 de outubro de 1890 que cria no observatório do Rio de 
Janeiro uma Escola de Astronomia e Engenharia Geográfica. 
� Decreto nº 934 de 24 de outubro de 1890 que dá novo regulamento ao Instituto 
Nacional de Música. 
� Decreto nº 980 de 8 de novembro de 1890 que dá novo regulamento ao 
Pedagogium da Capital Federal. 
� Decreto nº 981 de 8 de novembro de 1890 que aprova o regulamento da 
Instrução primária e secundária do Distrito Federal. 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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� Decreto nº 982 de 8 de novembro de 1890 que altera o regulamento da Escola 
Normal da Capital Federal. 
� Decreto nº 983 de 8 de novembro de 1890 que aprova os estatutos para a Escola 
Nacional de Belas-Artes. 
� Decreto nº1036 A de 14 de novembro de 1890 que suprime a cadeira de direito 
eclesiástico dos cursos jurídicos do Recife e de São Paulo. 
� Decreto nº 1073 de 22 de novembro de 1890 que aprova os estatutos da Escola 
Politécnica. 
� Decreto nº 1075 de 22 de novembro de 1890 que aprova o regulamento para o 
Ginásio Nacional. 
� Decreto nº 1232 F de 02 de janeiro 1891 que confere aos ginásios particulares, 
equiparados ao Ginásio Nacional, a validade dos exames preparatórios 
realizados naqueles institutos. 
� Decreto nº 1232 G de 02 de janeiro 1891 que cria o Conselho de Instrução 
Superior da Capital Federal. 
� Decreto nº 1232 H de 02 de janeiro 1891 que aprova o regulamento das 
instituições de ensino jurídico dependentes do MIPCT. 
� Decreto nº 1258 de 10 de janeiro 1891 que dá novo regulamento à Escola de 
Minas de Ouro Preto. 
� Decreto nº 1270 de 10 de janeiro de 1891 que reorganiza as faculdades de 
Medicina do país. 
 
A reforma do ensino primário e secundário elaborada por Benjamin Constant 
(Decreto nº 891 de 08 de novembro de 1890) para o Distrito Federal assinala uma 
nova fase do ensino secundário, que propõe superar o caráter exclusivamente 
preparatório do ensino secundário, conferindo-lhe o de uma verdadeira formação 
educativa. Por intermédio de sua reforma aboliu os exames parcelados de 
preparatórios e introduziu o exame de madureza. No mandato de Benjamin Constant 
no Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos foram implementados 
projetos educacionais pautados na doutrina positivista, que visavam a atender as 
necessidades do Estado Nacionais e às demandas de setores da sociedade. Foi 
com Benjamin Constant que houve o alargamento dos canais de acesso ao ensino 
superior, por intermédio do decreto nº 981 de 8 de novembro de 1891, além disso, 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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ainda criou as condições legais para o funcionamento das escolas superiores 
particulares. (CUNHA, 2007; SHIGUNOV NETO, 2015) 
O decreto nº 981/1890 que aprova o regulamento da “instrucção primaria e 
secundaria do Districto Federal” foi aprovado em 8 de novembro de 1890 pelo então 
presidente Manoel Deodoro da Fonseca. 
O decreto contém 9 Títulos e 81 artigos assim repartidos: 
� Título I – “Principios geraes da instrucção primaria e secundaria” - artigo 1º 
� Título II – “Das escolas primarias, suas categorias e regimen” – art. 2º a 11 
� Título III – “Do pessoal docente das escolas primarias” – art. 12 a 23 
� Título IV – “Do Pedagogium” – art. 24 
� Título V - Do ensino secundário – art. 24 a 46� Título VI – Do fundo escolar – art. 47 a 51 
� Título VII – Das autoridades propostas ao ensino – art. 52 a 61 
� Título VIII - Faltas dos professores e directores de estabelecimentos publicos e 
particulares; penas a que ficam sujeitos – art. 62 a 67 
� Título IX - Disposições transitórias – art. 68 a 81 
 
O Título I do referido decreto trata dos “Principios geraes da instrucção 
primaria e secundaria” e destaca em seu artigo primeiro que: 
 
Art. 1º E' completamente livre aos particulares, no Districto Federal, 
o ensino primario e secundario, sob as condições de moralidade, 
hygiene e estatistica definidas nesta lei. 
 § 1º Para exercer o magisterio particular bastará que o individuo 
prove que não soffreu condemnação judicial por crime infamante, e 
que não foi punido com demissão, de conformidade com o disposto 
no art. 63 do presente decreto. 
 
Moacyr (1941) destaca a legitimação que o decreto fornece para que os 
particulares ofereçam o ensino primário e secundário no Distrito Federal, sob as 
condições de moralidade, higiene e estatística definidas em lei. 
O parágrafo primeiro do primeiro artigo estabelece as exigências para o 
exercício do magistério em instituições de ensino particular, que não tenha 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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condenação criminal e nem punido com demissão, sem ao menos fazer menção aos 
conhecimentos necessários. 
Moacyr (1941) explica que a instrução primária, livre, gratuita e leiga será 
ofertada em escolas públicas no Distrito Federal, estas escolas estão classificadas 
em duas categorias: escolas primárias de 1º grau destinadas a alunos de 7 a 13 
anos de idade e as escolas primárias de 2º grau para alunos de 13 a 15 anos. 
Como o foco de nosso estudo é como a formação de professores é tratada na 
Reforma Benjamin Constant a partir de agora nos deteremos à avaliação dos Títulos 
II e IV do Decreto nº 981/1890. 
 
A formação de professores na Reforma Benjamin Constant 
 A formação de professores é atualmente provavelmente um dos temas mais 
discutidos e estudados na área educacional. Sua gênese no Brasil pode ser 
encontrada na educação jesuítica por meio do Ratio Studiorum, na reforma 
pombalina, na pedagogia de Rui Barbosa, nas reformas educacionais de Leôncio de 
Carvalho, Benjamin Constant e na criação das escolas normais, instituições 
destinadas exclusivamente à formação de professores. Contudo, é preciso destacar 
que apesar de haver uma preocupação explícita com a formação dos professores 
nesses vários momentos históricos não se pode falar em um sistema formal de 
formação inicial e continuada de professores. 
 Sobre a preocupação de Benjamin Constant com a formação de professores 
é possível constatar pelos 13 artigos dedicados a questão no Decreto de sua 
reforma. 
 
Benjamin Constant se preocupou ainda com o aperfeiçoamento do 
magistério, por isso propôs reformar até mesmo a Escola Normal. 
Por conta disso, formulou um regulamento sobre a grade curricular 
pautado nos programas de Pedagogia da capital federal. (...) 
Benjamin Constant acreditava que a formação de professores 
deveria ser fundamentada no altruísmo, na paixão e no sentimento 
cívico. Para tanto, e para que isso acontecesse, deveria ser 
organizada uma instituição capacitada a transmitir-lhes tais saberes. 
Sobre isso, refere-se à importância da criação de um curso cujo 
ensino secundário fosse reorganizado sob o exercício pleno do 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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magistério em forma de seriação e com direito à diploma de Bacharel 
ao término. (Silva e Machado, 2014, p.206) 
 
 O artigo 12 do Título III – Do pessoal docente das escolas primárias define 
que o Governo Federal manterá na capital federal uma ou mais escolas normais, de 
acordo com as necessidades do ensino e que deverá estar vinculada a cada uma 
delas uma escola primária modelo. 
 E o parágrafo único do mesmo artigo estabelece que o curso da Escola 
Normal será constituído peas seguintes disciplinas: 
 
Portuguez, noções de litteratura nacional e elementos de língua 
latina; Francez; Geographia e historia, particularmente do Brazil; 
Matematica elementar; Mechanica e astronomia; Physica e chimica; 
Biologia; Sociologia e moral; Noções de agronomia; Desenho; 
Musica; Gymnastica; Calligraphia; Trabalhos manuaes (para 
homens); Trabalhos de agulha (para senhoras). 
 
 O art. 14 estabelece que só podem exercer o magistério público primário os 
alunos ou os graduados pela Escola Normal. O decreto determina que alunos que 
estejam cursando a Escola Normal possam atuar na docente enquanto terminam 
seus estudos. 
 O mesmo artigo em se parágrafo primeiro classifica os docentes em duas 
categoriais, assim denominadas 
 
Art. 14. Só podem exercer o magisterio publico primario os alumnos 
ou os graduados pela Escola Normal. 
 § 1º Dividem-se os professores em duas categorias: 
Professor adjunto - o que tiver pelo menos a approvação nas 
materias das tres primeiras series da Escola Normal, e um anno de 
pratica na escola de applicação, de accordo com o decreto n. 407 de 
17 de maio de 1890; 
Professor primario - o que tiver pelo menos todo o curso da mesma 
Escola. 
 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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Estabelece o documento duas categorias de professores, o professor adjunto 
com pelo menos um ano de experiência em magistério e o professor primário. E o 
provimento das cadeiras de ensino primário será feito por concurso entre os 
professores titulados pela Escola Normal. O concurso de ingresso será composto de 
prova teórica e de prova prática. Os professores primários catedráticos serão 
considerados vitalícios depois de cinco anos de exercício do magistério. (Moacyr, 
1941) 
 O art. 21 define os deveres dos professores catedráticos e adjuntos no 
exercício da docência: 
 
Art. 21. Tanto os professores cathedraticos como os adjuntos teem 
por dever: executar fielmente o regulamento escolar e os 
programmas de ensino; dirigir pessoalmente e com o maximo zelo os 
alumnos que estiverem a seu cargo, concorrer ás conferencias do 
Pedagogium sempre que para isso forem avisados pela Inspectoria 
Geral e observar tudo quanto nesta lei lhes diz respeito. 
 
 Pelos artigos presentes no item que regulamente o papel e função do 
professor primário fica clara a importância da Escola Normal na formação inicial dos 
professores para atuação no magistério primário. 
 Um importante instrumento de capacitação e formação continuada de 
professores foi criado pelo decreto com a denominação de “Pedagogium”, 
estabelecimento de ensino mantida pelo Governo Federal na capital federal. Sua 
finalidade foi assim definida: 
 
destinado a offerecer ao publico e aos professores em particular os 
meios de instrucção profissional de que possam carecer, a exposição 
dos melhores methodos e do material de ensino mais aperfeiçoado. 
 § 1º O Pedagogium conseguirá seus fins mediante: 
 A boa organização e exposição permanente de um museo 
pedagogico; 
 Conferencias e cursos scientificos adequados ao fim da instituição; 
 Gabinetes e laboratorios de sciencias physicas e historia natural; 
 Exposições escolares annuaes; 
 Direcção de uma escola primaria modelo; 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República:revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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 Instituição de uma classe - typo de desenho e de uma officina de 
trabalhos manuaes; 
Organização de collecções - modelos para o ensino concreto nas 
escolas publicas; 
Publicação de uma Revista pedagogica. 
 
Apesar de sua importância e da inovação para seu tempo, o Pedagogium 
criado por Benjamin Constant, estabelecimento de ensino destinado ao 
aperfeiçoamento profissional e compartilhamento de material de apoio ao exercício 
docente teve uma breve duração igualmente como a Reforma Benjamin Constant. 
 
Considerações finais 
Ao realizar um resgate histórico do período compreendido entre o fim do 
Império e o início da Primeira República fomos capazes de assimilar as 
transformações ocorridas nos âmbitos econômicos, sociais, políticos e educacionais 
no Brasil. Momento em que a educação passa a ser considerada como problema 
fundamental da nacionalidade e que a mesma é chamada para dar conta de novas 
demandas, a de preparação da população para o exercício da cidadania, de mão-
de-obra para atender ao novo ciclo de desenvolvimento e o predomínio de uma nova 
classe, a dos empresários rurais. Na tentativa de entender o papel das reformas 
educacionais nesse novo cenário e processo de transformação, decidimos analisar a 
Reforma Benjamin Constant, sua importância, seu papel e como trata a formação de 
professores. 
Apesar de na Primeira República (1889-1930) a educação ser considerada 
como problema fundamental da nacionalidade, de ser a intenção no período 
republicano de criação de um sistema nacional de educação, tais ideais ficam 
apenas no papel e não se tornam realidade. 
A Reforma Benjamin Constant apresentou um leque grande de preocupações 
em relação a temática da formação de professores, dedicando 13 artigos exclusivos 
à formação inicial e continuada de professores e à carreira docente. Merece 
destaque a importância fornecida a Escola Normal na formação dos professores 
para atuação no magistério primário, lócus destinado a formação inicial de 
professores. Outro destaque do decreto, que infelizmente teve vida curta, foi o 
Pedagogium estabelecimento de ensino mantido pelo Governo Federal e destinado 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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a oferecer aos docentes um espaço de aperfeiçoamento e aprimoramento 
profissional. 
Por fim, cabe destacar, que, apesar da Reforma Benjamin Constant 
compreender que o papel do professor era de extrema importância, e de que a 
Reforma Benjamin Constant dedicar atenção especial ao papel docente, não é 
possível afirmar que existisse ainda um sistema formal de formação inicial e 
continuada de professores. Como bem destacam Tanuri (2000) e Saviani (2009) no 
Brasil colonial e imperial não houve uma preocupação explícita sobre a formação 
docente, apenas com a reforma da instrução pública do estado de São Paulo em 
1890 é que começam a surgir políticas públicas de formação de professores. 
 
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Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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CAPÍTULO II - IDEAL CÍVICO, MORAL, PATRIÓTICO E NACIONALISTA, 
SABERES A SER APRENDIDOS NA ESCOLA PRIMARIA NA PRIMEIRA 
REPÚBLICA NO PARANÁ: uma leitura de relatórios de instrução 
 
Rosa Lydia Teixeira Corrêa 
 
Introdução 
 Os dados de pesquisa contidos neste texto resultam de trabalho desenvolvido 
no âmbito de um projeto de pesquisa que estuda a formação de professores para a 
atuação em nível de escolarização primária, do ponto de vista de concepções 
educativas e saberes escolares. Aqui busca enveredar pela apreciação que incide 
sobre o ideário educativo que esteve presente no discurso oficial, ou seja, do 
Estado,contido em Relatórios de Instrução do Paraná entre os anos de 1900 a 
1915.Primeira República, período no qual, os rumos da educação primáriasão 
definidos pelos diferentes Estados da Federação, responsabilidade que se afigura 
desde o Ato Institucional de 18341, corroborado pela Constituição de 1891, 
principalmente sob os desafios de atender a população escolar em sua maioria 
residente no campo. 
 O primeirodocumento que normatiza a organização da instrução publica no 
Paraná na implantação do regime republicano é o Regulamento de 1890, por meio 
do Decreto nº 31, de 29 de janeiro que define orientações de organização para os 
níveis de ensino, entre eles o normal e o primário. Esse Decreto acompanha o 
disposto pela primeira Reforma de Ensino republicana, a de Benjamin Constant que 
se deu por meio do Decreto de nº 981, de 1890. Procura compatibilizar orientações 
federais com possibilidades e necessidades regionais, em relação ao elenco de 
matérias e métodos a serem empregados na educação (Oliveira, 2005-2006, p. 3). 
Além disso, essa autora refere também que o Paraná durante a Primeira República 
instituiu varias medidas legais referentes ao ensino (Oliveira, 1994). 
 O Paraná do ponto de vista econômico adentra a Primeira República tendo 
sua economia baseada, sobretudo, na erva-mate desde meados do século XIX, 
atingindo apogeu nos fins dos anos de 1920 (Oliveira, 2001). Para esse autor, 
 
1 Nagle (1985) registra que “a ausência de uma “politica nacional de educação” e, portanto de um 
sistema escolar nacional, é um problema sem condições de ser solucionado durante a Primeira 
República, devido ao argumento de que qualquer esforço nesse sentido feria aos princípios 
federativos agasalhados pela Constituição” (p. 266) 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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Simultaneamente, a indústria do mate gerou expressivo crescimento 
das atividades dedicadas ao seu suporte. A manutenção e 
funcionamento dos engenhos e a embalagem e transporte da erva 
requeriam considerável soma de empresas voltadas para áreas 
como metalurgia, madeira e gráfica. Esse processo conferiu 
extraordinário impulso também ao conjunto da economia 
paranaense, pelo menos enquanto as exportações da erva se 
mantiveram em ascensão, o que ocorreu até a Crise de 1929 
(Oliveira, 2001, p. 28). 
 
 Além disso, não se pode descurar também da intensa politica migratória 
empreendida pelo Estado com vistas ao povoamento do território. Convém dizer que 
as imigrações não se constituíram uma questão somente do Paraná. Elas se 
processaram de modo livre e dirigido desde o tempo da colonização, tornando-se 
mais contundentes a partir de meados do século XIX e inicio do XX.2 Para atender 
aos interesses das províncias e depois dos Estados foram trazidos emigrantes 
alemães, italianos, espanhóis, poloneses e ucranianos para a ocupação da pequena 
propriedade no sul do país, que, embora arrefecida nos fins do século XIX foi 
importante para o Paraná no sentido de resolver também uma questão demográfica. 
 
Dessa forma, a imigração europeia revelava-se também uma 
estratégia de povoamento com finalidades de inovação técnica a 
também “industrial”, fundamentada no pressuposto da qualidade 
superior do elemento estrangeiro enquanto “produtor” de trabalho. 
Por este ângulo, apurar a raça significava também ensinar o nacional 
a trabalhar (Nadalin, 2001, p. 75). 
 
Ainda segundo Oliveira (2001), do modo geral, entre 1829 e 1911, instalaram-
se no Paraná 83.012 colonos estrangeiros. Os grupos majoritários foram de italianos 
e poloneses entre 1880 e 1889; de poloneses, italianos e alemães entre 1890 e 
1899, e, significativa participação de ucranianos, a, além desse conjunto somem-se 
de 1900 a 1911, os holandeses (Nadalin, 2001). 
 Esses dados sobre imigração e sua relação com o processo de povoamento 
do Estado são fundamentais para entender a preocupação de autoridades nacionais 
e locais com a questão da integração nacional do imigrante, sua instrução/ensino e 
da nacionalização. 
 Com efeito, a análise dados trazidos dos documentos anteriormente referidos 
constituem as fontes a serem interpretadas posteriormente. São as fontes principais 
 
2Dos 4,5 milhões de imigrantes chegados ao Brasil entre 1850 e 1918, 2,5 milhões dirigiram-se para 
São Paulo (Nadalin, 2001, p. 70). 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
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compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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nas quais se assenta este trabalho, além daquelas que consideramos coadjuvantes 
como decretos regulamentos de instrução e programas e códigos de ensino. Fontes 
documentais interpretadas sob o entendimento de que não se constituem em 
registros neutros, mas que contém as marcas de um tempo histórico e espaço 
geográfico importantes para entendê-las, e, desse modo, situá-las. Nesse sentido, 
 
(...). Um dos postos cruciais no uso de fontes reside na necessidade 
imperiosa de se entender o texto no contexto de sua época, e isso 
diz respeito, também, ao significado das palavras e das 
expressões.Sabemos que os significados mudam com o tempo, mas 
não temos, de inicio, obrigação de conhecer tais mudanças. No 
contrario, boa dose de desconfiança é o principio básico a nos 
orientar nesses momentos, além de uma leitura muito atenta dos 
autores que trabalham na mesma linha de pesquisa (Bacellar, 2005, 
p. 63) 
 
 Sob a compreensão dos sentidos das palavras e das expressões, a 
linguagem contida naqueles Relatórios, 
 
não é sistema arbitrário;está depositada no mundo e dele faz parte 
porque, ao mesmo tempo, as próprias coisas escondem e 
manifestam seu enigma como uma linguagem e porque as palavras 
se propõem aos homens como coisas a decifrar (Foucault, 1992, p. 
51). 
 
Assim é preciso ter em conta que quem escreve esses documentos, de modo 
subterrâneo parece fazer um apelo ao superior no sentido de que ele possa se 
sensibilizar sobre os graves problemas educacionais com os quais o Estado se 
depara.Além disso são falas de autoridades educacionais que demarcam lugares de 
onde são pronunciadas, o que antepõe o pretenso exercício de uma autoridade 
constituída que deseja se fazer ouvir. 
 Assim, trata-se de pensar que os aspectos, ideário educativo, formação de 
professores e saberes escolares articulam-se para atribuir significados a discursos 
em cujo conteúdo está à preocupação de quem escreve em fazer crer e, 
consequentemente, convencer a quem se destina sobre as agruras da educação 
escolar primária do Estado. 
 Assim, a Escola Normal de Curitiba foi instituída no ano 1876 anexa ao 
Ginásio Paranaense, condição na qual funcionou até 1906.Pelo Decreto nº 170 de 
24/04/1906, o Diretor Geral da Instrução Pública, Arthur Pereira de Cerqueira 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
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separou a Escola normal do Ginásio, mas ela só veio efetivamente ter prédio próprio 
com a inauguração do chamado Palácio da Instrução em 1922. 
 Essa instituição tem origem num período no qual são criadas outras Escolas 
Normais pelo Brasil3. Desde os seus primórdios é concebida como fundamental para 
formação de professores, concomitantemente às conferências pedagógicas e as 
boas recompensas pecuniárias para os professores (Wachowicz, 1984, Miguel, 
1997). Essa escola, como as que se seguiram antes e durante a Primeira República 
correspondem aos anseios já anunciados por Rui Barbosa em seus pareceres 
(1882-1883), sobre a importância da preparação técnica do professor como melhoria 
da arte de ensinar (Nascimento, 1997). É nesse sentido que sua defesa será feita 
por lideres políticos do Paraná quer em termos de sua organização como da 
formação e atuação de professores na escola primaria.A problemática da escola 
Normal de Curitiba traduz de maneira geral a precariedadeda situação da educação 
primária no Estado do Paraná do período no qual esses Relatórios foram escritos. 
Não parece haver ação organizada do Estado no sentido de empreender mudanças 
conjuntas na educação do Estado. 
 Com efeito, ideal e saberes na formação de professores estão sendo 
entendidos neste trabalho como elementos da cultura escolar na perspectiva de 
Julia (1992), levando-se em conta a maneira como são defendidos por autoridades 
do ensino no Estado, como prescrições, normas e práticas a serem inculcadas nos 
professores, e, consequentemente, nos alunos, visando à formação para a moderna 
sociedade paranaense. 
 Além da introdução, este trabalho contém duas seções. Na primeira 
realizamos analise de trechos de Relatórios de Instrução, destacando aspectos 
cívicos, patrióticos e nacionalistas que autoridades de ensino desejam ser incutidos 
nas crianças da escola primaria entre os anos de 1904 e 1915. Na segunda 
trazemos elementos da formação de professoras primarias que deveriam indicar 
para a apreensão de saberes a ser ensinados nessa escola. Por fim, as 
considerações finais nas quais trazemos, em consonância com o propósito deste 
estudo, algumas considerações sobre a apreciação de tal documentação. 
 
3Rio Grande do Sul (1870), Pará (1871), Sergipe (1871), Amazonas (1872), Espírito Santo (1873), , 
Rio Grande do Norte (1874), Maranhão (1874), Corte (1874). Anteriores a ela foram criadas a Minas 
Gerias (1840), Bahia (1841), São Paulo(1846), Pernambuco (1865), Piauí (1865), Alagoas (1869). 
Depois são instituídas a de Santa Catarina (1880), Ceará(1884), Paraíba (1885), Goiás (1886) 
(Tanuri, 2000). 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
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Ideal cívico, moral, nacionalismo e modos de ensinar na escola 
primáriaparanaense 
O primeiro Regulamento da Instrução Pública no Paraná, de 1890, já indicava 
as matérias que deveriam substituir o ensino religioso pelo de moral e civismo na 
formação do cidadão do recém-implantado Estado republicano. No art. 14, assim 
constava: 
 
O ensino da moral é destinado a completar, consolidar e 
enobrecertodos os outros ensinos da escola. O professor [...] deverá 
incutir no espírito das crianças [...] noções essenciais de moralidade 
humana comum a todas as doutrinas e necessárias a todos os 
homens civilizados. É interditada a discussão sobre seitas ou 
dogmas religiosos e recomendada a maior atenção ao 
desenvolvimento moral dos meninos, de modo a formar e aperfeiçoar 
o caráter de cada um. (Paraná, Decreto nº 31/1890). 
 
Embora dois outros regulamentos tenham sido aprovados, um em 1891 e 
outro em 1892, eles mantiveram o mesmo “espirito” em relação à formação moral e 
cívica do cidadão. Correspondentes a sesses Regulamentos, os Programas de 
Ensino seguiam a logica da formação moral, cívica e patriótica, para os anos de 
1890,1891 e 1892, o que demonstra a intenção de civilizar cívica e moralmente 
desde a perspectiva do Estado laico, no âmbito do ensino de primeiro e segundo 
graus das escolas publicas (Oliveira, 2005-2006). À semelhança do que referiu Julia 
(2001) em relação França e seu projeto republicano, trata-se de forjar uma nova 
consciência cívica. A moral e cívica, por assim dizer, desde o Estado estaria agora a 
ser incutida nos escolares e o professor é chamado a fazer dela efetivamente um 
dado da cultura escolar do novo regime. À proposito, Julia destaca que os 
professores são os gentes chamados a inculcar condutas, normas, regras, praticas 
por meio de dispositivos pedagógicos que atendem às finalidades da escola. 
 Não diretamente explicitas, as orientações moral ecívico-patriótica estiveram 
também presentes no regulamento de 1895 (Decreto nº 35/1895). Se pode 
depreendê-las das noções de direitos e deveres do cidadão e de geografia e história 
pátria. 
Aliás, desse sentimento já comungava em 1895, Ricardo Barbosa, antigo 
professor público e ex-inspetor geral da instrução do Rio de Janeiro, no livro 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
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“Instrução Moral e Cívica”, para uso nas escolas primárias do Rio de Janeiro, no 
preâmbulo traz o seguinte: 
 
Uma república, cujo governo deve ser confiado a quem maior 
soma se conhecimentos e de boas qualidades morais e cívicas 
apresentar e que não mantém religião alguma, porque se tal 
não fizesse iria de encontro ao princípio de toda a liberdade, 
necessita que em suas escolas as crianças comecem desde já 
o estudo da Instrução Moral e Cívica(Barbosa, 1895, 
Preâmbulo, p. V, grifos no original).4 
 
 O Regulamento de 1901, Decreto nº 93/1901, no programa do ensino de 1º e 
2º graus, as questões sobre moral, civismo a patriotismo mantem semelhança com 
as matérias de noções de geografia, e princípios de moral. 
Mais tarde,para o Sr. Victor Ferreira do Amaral e Silva Diretor Geral da 
Instrução Publica do Paraná, o civismo se constituía num imperativo diante da 
ausência do ensino religioso nas escolas5. 
 
Uma das minhas constantes cogitações no exercício deste cargo tem 
sido o estabelecimento do ensino cívico nas escolas. Uma vez que, 
ex-vi de nossa constituição política, o ensino tornou-se leigo, pela 
exclusão do ensino religioso, afigurou-se-me de inelutável 
importância a instrução cívica. Que o sentimento cívico seja um 
poderoso ímã de coesão, um foco luminoso a irradiar sentimentos 
nobres, qual uma verdadeira religião erigida nas aras sagradas da 
pátria (Paraná, 1904, p. 43). 
 
Assim,há explicitação de uma profunda preocupação com a formação moral e 
cívica da população que frequentaria a escola primária. Desse modo, para Victor 
Ferreira do Amaral e Silva, as Conferências Pedagógicas funcionariam também 
como uma espécie de cruzada em prol da disseminação cívica. 
 
Considerando a educação cívica como o fator mais valioso da 
formação do caráter nacional, mormente num povo como o nosso, 
oriundo de elementos tão heterogêneos, julguei de indubitável 
proveito, como fiz há mais de um ano, instituir nos dias de festa 
nacional conferências de ensino cívico, em lugar público, com seus 
respectivos professores(Paraná, 1904, p. 13): 
E, nas palavras proferidas por aquele diretor, a pátria laica se confunde com a 
própria religião, ao explicitar trechos do discurso que proferiu na Conferência 
 
4Grafia atualizada, grifo no original. 
5 De inspiração norte americana, a Constituição de 1891, institui a laicidade do Estado ao abolir a 
relação entre Igreja e Estado. 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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pedagógica por ele organizada e levada a efeito, da qual participaram professores e 
alunos de escolas primárias. 
 
Inaugurando conferencias cívicas dizia eu, outro escopo não tive que 
pontificar em nome da religião da pátria, fazendo praticar nos dias 
de festa nacional a unificação pomposa do patriotismo; outro móvel 
não tive que levantar bem alto o pavilhão estrelado de nossa pátria e 
o expõe a adoração da infância das escolas, para mostrar-lhe que, 
alem do culto ao Deus, que deve prestar no lar e nos templos, deve 
também prestar culto ao lábaro sagrado de nossa pátria. 
(...).(Paraná, 1904, p. 13,grifos nossos). 
 
 No âmbito dos assuntos de ordem patriótica, a preocupação com a 
nacionalização do ensino se faz presente nos relatórios de instrução. O Diretor geral 
interino da instruçãoPublica Dr. Jayme Dormund dos Reis, destaca preocupação 
com a escolarização primaria das crianças ao situar que a população do Estado está 
composta, além dos nacionais, de elementos heterogêneos representados por 
polacos, russos, alemães, sírios, entre outros. Dai , segundo ele, adviria uma raça a 
se impor no país. Decorrem disso, dois grupos, um vivendo nas cidades e outros 
densos radicados nas colônias, agrupamentos exclusivos de suas raças. O primeiro, 
pela variação de contatos e necessidades do meio tenderá a aceitar mais 
facialmente os nossos hábitos e costumes, o segundo não se modificará. Este 
manteria apropria língua e as ensinaria aos filhos, que não mantendo contato com 
os nacionais viverá à parte. Professores particulares são contratados para ensinar-
lhes em seu idioma. Assim, educa-se uma geração de estrangeiro em solo pátrio. O 
povoamento do território põe o desafio de instruir o estrangeiro em nossa língua, do 
contrario é o que se vê, jovens recém-chegados e crianças aqui nascidas se 
desenvolvem apresentando o estranho espetáculo de muitas e diversas nações 
vivendo sob um mesmo pavilhão. (Paraná, 1910) 
Mais tarde, o nacionalismo deveria ser enfatizado pelo estudo, por meio de 
fatos históricos que se caracterizam como degraus da evolução social de nossa 
nacionalidade, os perfis dos grandes homens, recomendáveis à gratidão nacional 
pela ação em paz e guerra, em prol dos mais altos interesses da Pátria (Paraná, 
1915, p. 10)6. Nesse sentido, pode-se dizer, ante os dados populacionais referentes 
à imigração para o Paraná, trazidos na introdução deste trabalho, que a questão da 
 
6Para Nagle (1985), em 1915 inicia-se o que chama de “entusiasmo pela educação”, marcado por 
uma gama de realizações por meio de ideias, planos e soluções advindas dos estados de matriz 
nacionalista dirigido à escola primaria popular. Tem inicio com Conferencias de Olavo Bilac e a 
posterior formação da Liga de Defesa Nacional em 1916. 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
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nacionalidade se constituiria um dado importante a merecer atenção por parte das 
autoridades do Estado. 
No Código de Ensino de 1915, na seção II destinada aos deveres dos 
professores, artigo 11, incisos XIV e XV, acerca da formação cívica e patriótica 
constam prescrições a serem consideradas pelos professores que indicam o 
seguinte: 
 
tomar parte, com seus alunos em comemorações, festas ou 
conferencias cívicas ou educativas, sem caráter partidário ou oficial, 
a convite de autoridade de ensino, sob a mesma pena à cima 
referida; promover quando do lhe parecer conveniente ou quando lhe 
for ordenado, pequenas festas cívicas, sob a mesma pena acima 
referida (Paraná, 1915, p. 28). 
 
Sobre o entendimento pedagógico, o ideário de lideranças educacionais 
passou a ser marcado por compreensões sobre o caráter científico da educação 
desde os pareceres de Rui Barbosa de 1881 e 1882 (Nascimento, 1997). Ele 
entendia que a educação escolar deveria ser científica e ministrada por meio de 
Lições de Coisas.7 
Essa concepção de ensino foi adotada em grupos escolares desde a 
implantação da República8. O Paraná como outros Estados da Federação procurou 
seguir o exemplo de São Paulo. Em 1903 foiinaugurado o primeiro grupo escolar em 
Curitiba, o Xavier da Silva. Para o Diretor Geral Interino da Instrução Pública do 
Paraná, não seria adequada a ideia de que os grupos escolares fossem uma reunião 
de escolas num edifício, mas de compreendê-los na perspectiva de organização 
sistemática e metódica, daí a necessidade de que fossem submetidos a uma 
organização científica (Paraná, 1905, p. 51). Lições de coisas ou método intuitivo se 
caracteriza por ser, 
 
concreto, racional e ativo, denominado ‘ensino pelo aspecto’, ‘lição 
de coisas’ ou ‘ensino intuitivo’. O novo método pode ser sintetizado 
em dois termos: observar e trabalhar. Observar significa progredir da 
percepção para a ideia, do concreto para o abstrato, dos sentidos 
para a inteligência, dos dados para o julgamento. Trabalhar consiste 
em fazer do ensino e da educação na infância uma oportunidade 
para a realização de atividades concretas, similares àquelas da vida 
 
7Sobre Lições de Coisas ver o estudo de Valdemarin, V. T. Estudando as Lições de Coisas. 
Campinas/SP: Autores Associados, 2004. Sobre As lições de coisas ou o cientificismo no campo 
educacional é corroborada pela Reforma Benjamin Constant (Nagle, 1985). 
8 Entre outros ver Souza (1998). 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
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adulta. Aliando a observação e trabalho numa mesma atividade, o 
método intuitivo pretende direcionar o desenvolvimento da criança de 
modo que a observação gere o raciocínio e o trabalho prepare o 
futuro produtor, tornando indissociável pensar e construir. 
(Valdemarin, 2001, pp. 158-159, grifos da autora) 
 
 No entanto, embora essa concepção de ensino tenha prevalecido,adesão a 
outras compreensõespodem ser constadas. Ver quando a seguir. 
 
MÉTODOS DE ENSINO PARA AS ESCOLAS PRIMÁRIAS PÚBLICAS 1890-1915 
ANOS MODO DE DAR AULA/documento MODO DE DAR 
CONTEÚDOS 
1890 Misto ou simultâneo mútuo -Regulamento 
de instrução Pública, art. 50 
Método intuitivo, fundado 
noconhecimento direto das 
coisas 
1891 Misto ou simultâneo mútuo -Regulamento 
de instrução Pública, art. 46 
Método intuitivo, fundado 
noconhecimento direto das 
coisas. 
1892 Simultâneo ou processo que parecer 
melhor ao professor - Regulamento do 
Ensino Popular, art. 16 
Ensino metódico, o mais 
possível, 
considerando o 
adiantamento do aluno 
1895 Regulamento da Instrução Pública Métodos ou processos 
adotados pelo professor (art. 
60, § 2º) 
1901 - Regulamento da Instrução Pública, art. 40, 
§ 1 
Método intuitivo, adotado na 
Escola 
Modelo, anexa à Escola 
Normal 
1915 Simultâneo para meninos e meninas em 
escolas ambulantes -Código de Ensino,art. 
65, §3º 
Métodos e processos de 
maior resultado com menor 
esforço 
Fonte: Paraná, 1890, 1891, 1892, 1895, 1901, 1915, adaptado de Oliveira (2005-2006). 
 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
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Na perspectivados métodos e processos, Claudino Rigoberto Ferreira dos 
Santos, Diretor Geral da Instrução Publica, se posicionou em Relatório enviado ao 
Secretario do Interior, Justiça e Instrução Pública: 
 
Por métodos e processos racionais, inteligentes e humanos que a 
ciência tem hoje desvendado, que a pedagogia moderna tem 
aplicado, e que os centros de instrução e educação tem posto em 
prática, e que melhor estudados e meditados possam, adaptar-se, 
segundo os fenômenos mesológicos que nos cercam, podemos 
chegar ao fim a que nos propomos, desbravando-se a capinzal na 
trama como se ela não fosse feita para, sobre o alvo leito macio, 
palmilharem as gerações em caminho da luz e do progresso(Paraná, 
1913, p. 10). 
 
Assim, inspirado na obra de Compayré o Diretor Geral da Instrução Publica 
inicia o item “Métodos e Processos” do Relatório desse ano, ou seja, 1913, com uma 
epígrafe retirada de um texto desse autor, em cujo trecho consta: os métodos podem 
variar segundo a natureza objetos de ensino. Nós ensinaremos a geografia diferente 
da gramatica e da física. Eles variam segundo a idade das crianças, do primário a 
escola normal e desta ao superior.(Paraná, 1913, p. 9). 
 Para Compayré, a educação significa a arte para criar um homem. A razão 
humana seria desenvolvida pela educação que é uma ciência, uma arte, uma 
habilidade prática. Ela precisa de um educador que aplique suas leis abstratas. É 
preciso diferençar pedagogia da educação. A pedagogia é a teoria da educação e 
educação a pratica da pedagogia. Como toda ciência pratica, a pedagogia é 
baseada num conjunto de dados teóricos, portanto sobre um suporte científico 
(Compayré,1897, p. 2.) 
Embora o Código de Ensino de 1915 instituísse que o ensino primário se 
daria com base nos métodos e processos, no capitulo II da seção 1, artigo 62, 
observação 2ª, na letra a, dessa seção a mesma observação refere que o ensino 
deve ser realizado por meio de colóquios variados e de lições de cousas(p. 16), 
portanto, sob as bases do método intuitivo. Esse código também prescreve o que 
deveria ser ensinado como educação cívica:geografia e corografia do Brasil, por 
meio de representações práticas, planos de viagens, exercícios cartográficos, bem 
como de História da Civilização do Brasil. 
Claudino Rigoberto Ferreira dos Santos, em relatório do ano anteriorindicava 
que o ensino precisava ser rapidamente atualizado. Esse era um imperativo 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
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modernizador. Urgia a criação de uma revista pedagógica,onde se divulgasse tudo o 
que fosse concernente ao ensino e onde o professorado visse consolidado tudo o 
que lhe dizia respeito (Paraná, 1912, p. 20). O Brasil que caminhava para a 
industrialização, deveria estar em dia com as conquistas do mundo e ela teria que vir 
imediatamente pelo campo da educação escolar e disso o Paraná não poderia se 
furtar. A necessidade de atualização pedagógica estaria voltada para um ensino 
que, na perspectiva das Lições de Coisas estivesse cada vez mais voltado para as 
coisas da vida: 
 
(....) proponho sejam instituídos os dias primeiros 1º de cada 
fevereiro para festa das aves (Bird Day); 24 de junho para a festa das 
árvores (arbor Day); 21 de setembro para a festa das flores; 19 de 
novembro para festa da Bandeira; além de outras tendentes a cultuar 
os nossos feitos memoráveis e os nossos grandes homens ; bem 
como a adoção de um hino inicial dos trabalhos escolares, 
consagrado ao trabalho e outro ao encerrar dos mesmos, 
consagrado à natureza; assim como os passeios ao campo, aos 
museus, aos jardins e as oficinas, feitos as 5ª feiras ou aos sábados, 
pelas escolas que forem escaladas com os seus respectivos 
professores (Paraná, 1912, p. 20). 
 
 Para tanto se fazia necessário também haver uma biblioteca 
convenientemente organizada e localizada. Sebastião Paraná então Diretor da 
biblioteca em Relatório do ano seguinte, 1913 enviado a Francisco Ribeiro de 
Azevedo Macedo, Diretor Geral da Instrução Pública, dizia: 
 
A instrução popular da capital muito lucrará se a Biblioteca for dotada 
de maior verba orçamentária, a fim de que possa adquirir 
mensalmente as obras que se impõem pelos benefícios que prestam 
a humanidade. (......). Tenho feito aquisição de livros didáticos, 
literários e científicos, inclusive a denominada biblioteca internacional 
(Paraná, 1913, p.35). 
 
Ao se manifestar pela localização da biblioteca em local adequado aos 
alunos, de modo geral, e àqueles que estudavam no ginásio paranaense, ondeeram 
formados os futuros professores, o Diretor daquele órgãotambém manifestava 
preocupação para com a ilustração do povo, pela formação que deveria ser 
propiciada na escola e esta estaria sendo buscada também na biblioteca (Idem). 
 Assim, os documentos estudados apontam para importantes preocupações 
de autoridades de governo e educacionais não somente para as diretrizes que 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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deveriam orientar o ensino primário em seu conjunto, o que incluía a formação de 
professores, como medidas que deveriam ser tomadas objetivamente para tanto. 
 
Saberes a ser aprendidos para ensinar 
 Neste aspecto depreende-se a existência de um ideário que corroborava com 
os existentes em amplo sentido na época, ou seja, o desejo de formação de sujeitos 
comprometidos com a pátria, o espírito nacional concomitantemente ao 
desenvolvimento e fomento das capacidades intelectuais dos alunos. Esta formação 
significaria erudição. Se os alunos deveriam ser intelectuais comprometidos, cívica, 
moral e patrioticamente com seu país, os professores mais ainda, por formarem as 
novas gerações (Paraná, 1904). 
 No relatório referente ao ano de 1914, apresentado aCarlos Cavalcante de 
Albuquerque, por Claudino Rigoberto Ferreira dos Santos, nota-se a preocupação 
dos professores da Escola Normal em ampliar o curso de três9 para quatro anos, 
julgando não serpossível ensinar todas as matérias em um prazo tão curto. Com a 
possível mudança, o currículo sofreria algumas alterações sendo o Ensino de 
Português aplicado nos três primeiros anos, acrescentado no terceiro, noções de 
Latim e o ensino de Aritmética. No terceiro e segundo anos, seriam acrescentadas 
noções de Álgebra; Geometria nos dois últimos anos, Geometria plana no terceiro e 
Geometria no espaço no quarto ano; História da civilização no terceiro ano, limitado 
ao Brasil e especialmente ao Paraná. O quarto ano ficaria descarregado de 
matérias, para que os estudantes pudessem praticar nas escolas que lhes forem 
designadas. 
 Mas, em Relatório diferente do citado anteriormente, ainda no ano de 1914, o 
Diretor Geral da Instrução Francisco Ferreira de Macedo, assim se posiciona ao 
Secretário de Estado Negócios do Interior, sobre as disciplinas que deveriam 
compor a formação professores. 
 
1º Ano: Português, Francês, Aritmética alcançando até o estudo 
completo das frações; geografia geral, parte física, pedagogia, 
 
9Informações sobre o currículo da Escola Normal de Curitiba ver o trabalho de MIGUEL, M. E. B.. A 
Escola Normal no Paraná: instituição formadora de professores e educadora do povo. In: José Carlos 
Souza Araújo; Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas; Antônio de Pádua Carvalho Lopes. (Org.). As 
Escolas Normais do Império à República. Campinas: Alínea Editora, 2008, p. 145-162: Ver também 
WACHOWICZ, L. A. A Relação Professor-Estado no Paraná Tradicional. São Paulo: Cortez Editora: 
Autores Associados, 1984. 
Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). 
Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para 
compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. 
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desenho, música e prenda doméstica para as alunas; 2º ano: 
Português; Francês; Elementos de Álgebra até as questões do 
primeiro grau e complemento do estudo de aritmética; Geografia 
Geral, parte plana; Desenho; Música e Prenda doméstica para as 
mulheres; 3º Ano: Noções de literatura; Geografia do Brasil; 
especialmente do Paraná e Cosmografia; Pedagogia; Elementos de 
Geometria no espaço; Elementos de mineralogia; Botânica; Zoologia; 
Elementos de Física; História Universal; Desenho; Música; Prática 
Escolar: Prendas Domésticas Para as Mulheres; 4º Ano: Noções de 
Moral, de direito pátrio e de economia doméstica; Noções de história 
Natural: Elementos de agronomia e de Higiene: Elementos de 
Química; História do Brasil e do Paraná; Desenho; Música; Pratica 
Escolar e Prendas Domésticas para as alunas (Paraná, 1914, p. 27). 
 
 Nota-se que a formação de professores primários requerida naquela 
oportunidade pelas autoridades do ensino seria

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