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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/350845293 CAPÍTULO 05 – JOSÉ FELICIANO DE OLIVEIRA: TRAJETÓRIA E PENSAMENTO EDUCACIONAL DE UM MESTRE POSITIVISTA EM SÃO PAULO DA PRIMEIRA REPÚBLICA. Bruno Bontempi Jr. e Omair Guilherme Tizz... Chapter · April 2021 CITATIONS 0 READS 329 5 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Revista Educação e Pesquisa View project Knowledge and practices in frontiers: toward a transnational History of Education (1810-...) View project Bruno Bontempi Jr. University of São Paulo 42 PUBLICATIONS 44 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Bruno Bontempi Jr. on 13 April 2021. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/350845293_CAPITULO_05_-_JOSE_FELICIANO_DE_OLIVEIRA_TRAJETORIA_E_PENSAMENTO_EDUCACIONAL_DE_UM_MESTRE_POSITIVISTA_EM_SAO_PAULO_DA_PRIMEIRA_REPUBLICA_Bruno_Bontempi_Jr_e_Omair_Guilherme_Tizzot_FilhoTitulo_In_Shigu?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/350845293_CAPITULO_05_-_JOSE_FELICIANO_DE_OLIVEIRA_TRAJETORIA_E_PENSAMENTO_EDUCACIONAL_DE_UM_MESTRE_POSITIVISTA_EM_SAO_PAULO_DA_PRIMEIRA_REPUBLICA_Bruno_Bontempi_Jr_e_Omair_Guilherme_Tizzot_FilhoTitulo_In_Shigu?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Revista-Educacao-e-Pesquisa?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Knowledge-and-practices-in-frontiers-toward-a-transnational-History-of-Education-1810?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Bruno-Bontempi-Jr?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Bruno-Bontempi-Jr?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/University-of-Sao-Paulo?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Bruno-Bontempi-Jr?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Bruno-Bontempi-Jr?enrichId=rgreq-6298639fecdc432770368e7ce9d5ae65-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzM1MDg0NTI5MztBUzoxMDEyMTMyODMzNDExMDcyQDE2MTgzMjI2ODAwOTk%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 4 Título: A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA PRIMEIRA REPÚBLICA: REVISITANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PARA COMPREENDER O PRESENTE Organizadores: Alexandre Shigunov Neto, Ivan Fortunato e Maria Elisabeth Blanck Miguel Apresentação CAPÍTULO I - A FORMAÇÃO DOCENTE NA REFORMA BENJAMIN CONSTANT: ALGUMAS REFLEXÕES Alexandre Shigunov Neto e André Coelho da Silva CAPÍTULO II - IDEAL CÍVICO, MORAL, PATRIÓTICO E NACIONALISTA, SABERES A SER APRENDIDOS NA ESCOLA PRIMARIA NA PRIMEIRA REPÚBLICA NO PARANÁ: uma leitura de relatórios de instrução Rosa Lydia Teixeira Corrêa CAPÍTULO III - O ENSINO SECUNDÁRIO NA PRIMEIRA REPÚBLICA: ENTRE A TRADIÇÃO E AS INOVAÇÕES EDUCACIONAIS Ariclê Vechia e Karl Michael Lorenz CAPÍTULO IV - A REORGANIZAÇÃO EDUCACIONAL NO PARANÁ E EM SANTA CATARINA APÓS O ACORDO DE LIMITES (1917): O DIFÍCIL RECOMEÇO. Eliane Nilsen Konkel e Maria Elisabeth Blanck Miguel Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 5 CAPÍTULO V – JOSÉ FELICIANO DE OLIVEIRA: TRAJETÓRIA E PENSAMENTO EDUCACIONAL DE UM MESTRE POSITIVISTA EM SÃO PAULO DA PRIMEIRA REPÚBLICA. Bruno Bontempi Jr. e Omair Guilherme Tizzot Filho CAPÍTULO VI – O QUE SIGNIFICAVA UMA MULHER ESCREVER SOBRE MULHERES NO BRASIL DE 1920? UMA REFLEXÃO SOBRE A INTELECTUALIDADE FEMININA NO CAMPO DA PRODUÇÃO HISTÓRICA Evelyn de Almeida Orlando CAPÍTULO VII – NESTOR DOS SANTOS LIMA E OS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE Olívia Morais de Medeiros Neta, Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo e Arthur Cássio de Oliveira Vieira CAPÍTULO VIII – UM INTELECTUAL SOB CONTRASTE: O DEBATE HISTORIOGRÁFICO EM TORNO DA OBRAE AÇÃO POLÍTICA DE MANOEL BOMFIM Ligiane Aparecida da Silva e Maria Cristina Gomes Machado Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 6 Apresentação Alexandre Shigunov Neto, Ivan Fortunato e Maria Elisabeth Blanck Organizadores Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 7 CAPÍTULO I - A FORMAÇÃO DOCENTE NA REFORMA BENJAMIN CONSTANT: ALGUMAS REFLEXÕES Alexandre Shigunov Neto e André Coelho da Silva No final do período imperial e início do processo de consolidação da república brasileira o pensamento liberal assumiu a vanguarda como ideologia dominante na sociedade brasileira. A partir desse momento o Brasil vivenciou um período de profundas transformações em todos os setores da sociedade, que o tornavam cada vez mais diversificado e complexo. Verificou-se, então, um “processo de modernização do país” com: o crescimento das cidades, o crescimento dos imigrantes que chagavam ao país; a expansão da malha ferroviária, o crescimento do sistema bancário e de crédito, a modernização da agricultura; a substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre; a expansão da cafeicultura; a diversificação da economia; a expansão do mercado interno, a introdução do capital estrangeiro na economia do país, e a introdução do capitalismo industrial. Aliados a esse processo de transformação social e econômica, verificou-se um processo de transformação política, com a intensificação da propaganda republicana, que reaparece na cena política do país com a fundação do Clube Republicano, o lançamento do Manifesto Republicano e a edição do Jornal A República. Entre os anos de 1885 e 1888 aprofunda-se a crise do regime monárquico, em contrapartida, cresce o movimento republicano, o abolicionismo, o fortalecimento do exércitocom a Guerra do Paraguai (1865-1870), a crise do trabalho escravo e sua substituição pelo trabalho livre. Todas essas transformações evidenciaram um desnível muito grande entre as bases materiais da sociedade brasileira e a estrutura política até então instalada. O ápice desse momento histórico da sociedade brasileira foi a queda do Império, incapaz de adaptar-se às novas exigências e satisfazer aos anseios de uma nova sociedade, e a instauração da República. A produção cafeeira havia se consolidado como o principal produto nacional e a principal fonte de renda para o país, por intermédio das exportações. Inicialmente, organizada com base no trabalho escravo, com a abolição da escravatura e o fim do comércio de escravos, adotou-se como medida alternativa para suprir a carência de mão-de-obra, a imigração européia. Simultaneamente a esse processo surge um novo grupo social, que exercerá até a década o final da década de 1920 a Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 8 supremacia no cenário político e econômico brasileiro, os empresários rurais. (CARONE, 1969; NAGLE, 1974; DELANEZE, 2006 e 2007; RIBEIRO,1998; CUNHA, 2007; SHIGUNOV NETO, 2015) A passagem do Império para a República refletiu a consolidação do modelo agrário-exportador como principal fonte de recursos da economia e a predominância dos grupos agrários na estrutura política e social da sociedade brasileira. Quando se introduziu, no Brasil, o regime republicano, nossa economia encontrava-se em situação de pronunciado atraso, em relação às da Europa e dos Estados Unidos, pois dependia única e exclusivamente da exportação de produtos agrícolas ou extrativos, com que obtínhamos o ouro e as divisas. E, na ocasião, pouca gente notava, pelo menos publicamente, a inconveniência de tal estado de coisas e pouco se cogitava das possibilidades de sairmos dessa fase semicolonial. Não foram tranqüilos, aliás, os primeiros anos da República brasileira. Logo de início surgiram sérias desinteligências entre os elementos militares e civis colocados à testa do Governo, e as lutas delas decorrentes só cessaram em 1894, graças à energia do Marechal Floriano Peixoto, que assumira a chefia da nação após a renúncia do primeiro presidente, Marechal Deodoro da Fonseca. Enquanto se travavam os combates, era a capital do país agitada por verdadeira febre de negócios de toda ordem. Já nos últimos tempos do reinado de D. Pedro II diversas pessoas que, em regra geral, deviam à lavoura apreciáveis fortunas, arriscaram-nas em ousados empreendimentos comerciais ou industriais. (Lobo,1969,p.326) Os estudos sobre as reformas educacionais brasileiras tem sido relegadas à segundo plano quando comparadas com pesquisas sobre outras temáticas da história da educação em específico na Primeira República. Contudo, e apesar de ainda ser pequena a quantidade de trabalhos sobre a Reforma Benjamin Constant é possível destacar os seguintes trabalhos: Mendes, 1894; Nogueira, 1936; Moacyr, 1941; Fávero, 1977; Santos, 1955; Carone, 1969; Cartolano, 1994; Mezzari, 2001; Delaneze, 2006 e 2007; Silva e Machado, 2014; Oliveira e Machado, 2015; Cunha, 2007). Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 9 Este estudo, de caráter bibliográfico, visa compreender como a formação de professores é tratada na Reforma Benjamin Constant, considerada a primeira reforma do período republicado brasileiro. O Ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, Benjamin Constant Botelho de Magalhães apresentou em a reforma do ensino primário e secundário por meio do Decreto nº 891 de 08 de novembro de 1890 para o Distrito Federal. Proposta que assinala uma nova fase do ensino secundário ao propor superar o caráter exclusivamente preparatório do ensino secundário, conferindo-lhe o de uma verdadeira formação educativa, seus ideais estavam pautados na doutrina positivista que visavam a atender as necessidades do Estado Nacionais e às demandas de setores da sociedade. Em relação a temática da formação de professores dedica um título com 12 artigos – Título III - Do pessoal docente das escolas primarias. A formação de professores para atuação no magistério primário só podia ser exercida pelos professores que concluíssem a Escola Normal, destinada exclusivamente a formação de professores. O momento vivenciado Com a queda do Império o novo regime republicano assumiu o rumo político do Brasil, e na tentativa de consolidar-se rapidamente, inicia a construção do Estado Republicano, apagando os resquícios do regime anterior. Assim, na tentativa de institucionalizar rapidamente a República foi instituído o Governo Provisório Basbaum (1986) ao analisar esse período de transição entre o declínio do Império e o surgimento da República afirma que a causa fundamental do surgimento da República foi a decadência econômica da aristocracia açucareira que sustentava o Império. Entretanto, ao contrário da tradição monárquica a República não era um anseio da população brasileira, e sim de uma pequena parcela intelectual das classes médias. O Governo Provisório foi instituído por meio do Decreto nº 1 de 15 de novembro de 1889, Art. 1º - Fica proclamada provisoriamente e decreta como a forma de governo da nação brazileira a República Federativa. Art. 2º - As províncias do Brazil, reunidas pelo laço de Federação, ficam constituindo os Estados Unidos do Brazil. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 10 Art. 3º - Cada um desses Estados, no exercício de sua legítima soberania, decretará oportunamente a sua Constituição definitiva, elegendo os seus corpos deliberantes e os seus governos locaes. Art. 4º - Enquanto, pelos meios regulares, não se pode proceder a eleição do Congresso Constituinte do Brazil, e bem assim a eleição das legislaturas de cada um dos Estados, será regida a Nação brazileira pelo Governo Provisório da República; e os novos Estados, pelos governos que hajam proclamado, ou, na falta destes, por governantes delegados do Governo Provisório. Art. 5º - Os Governos dos Estados federados adaptarão com urgência todas as providências necessárias para a manutenção da ordem e da segurança pública, defesa e garantia da liberdade e dos direitos dos cidadãos, quer nacionais, quer estrangeiros. Art. 6º - Em qualquer dos Estados, onde a ordem pública for perturbada, e onde faltem ao governo local meios eficazes para reprimir as desordens e assegurar a paz e tranqüilidade públicas, effectuará o Governo Provisório a intervenção necessária para, com o apoio da força pública, assegurar o livre exercício dos direitos dos cidadãos e a livre ação das autoridades constituídas. Art. 7º - Sendo a República Federativa Brazileira a forma de governo proclamada, o Governo Provisório não reconhece nem reconhecerá nenhum governo local contrário a forma republicana, aguardando como lhe cumpre o pronunciamento definitivo do voto da Nação, livremente expressado pelo sufrágio popular. Art. 8º - A força pública regular, representada pelas três armas do Exército e pela armada nacional, de que existem guarnições ou contingentes nas diversas províncias, continuará subordinada e exclusivamente dependente do Governo Provisório da República, podendo os governos locais, pelos meios ao seu alcance, decretar a organização de uma guarda cívicadestinada ao policiamento do território de cada um dos novos Estados. (Baleeiro,1999, p.17-18) Com a criação do Governo Provisório foi proclamada provisoriamente como forma de governo do Brasil a República Federativa, estabelecendo as normas pelas quais se deveriam reger os Estados Federais. Chefiado pelo Marechal Deodoro da Fonseca também foram nomeados os seguintes membros: Rui Barbosa – Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 11 inicialmente assumiu a vice-chefia do Governo e foi Ministro da Fazenda, General Floriano Peixoto – assumiu alguns meses mais tarde a vice-chefia do Governo, Aristides da Silveira Lobo – Ministro do Interior, Manoel Ferraz Campos Sales – Ministro da Justiça, Quintino de Sousa Bocaiúva – Ministro dos Negócios Estrangeiros, Tenente Coronel Benjamin Constant – Ministro da Guerra, Eduardo Wandenkolk – Ministro da Marinha e Demétrio Ribeiro – Ministro da Agricultura. O Governo Provisório permaneceu até janeiro de 1891, quando seus membros pediram exoneração. Entre as principais providências tomadas pelo Governo Provisório foram: transformação das províncias em Estados; subordinação das forças armadas ao novo regime; estabelecimento da sede do Governo federal no Rio de Janeiro; abolição da vitaliciedade senatorial; extinção da Câmara dos Deputados e do Senado; reconhecimento dos compromissos assumidos pelo Governo imperial; instituição da bandeira republicana; estabelecimento da grande naturalização, para todos os estrangeiros que a desejassem; convocação de uma Assembléia Constituinte, para elaboração da Constituição Republicana; separação entre a Igreja e o Estado e a instituição do casamento civil; reforma no Código Penal; entre outras medidas. (SHIGUNOV NETO, 2015) O período inicial da República no campo da educação pode ser caracterizado pela manutenção da descentralização do ensino, instaurada pelo Ato Adicional (1834), ao mesmo tempo em que, há uma ação direta do Poder Público Federal na tentativa de expandir e democratizar o ensino secundário. Portanto, verifica-se, ao menos no discurso, a consciência da Administração Federal em enfrentar e solucionar os problemas do ensino secundário, e concomitantemente assegurar a eficiência e a qualidade do modelo de ensino propedêutico e implementar o seu novo papel formativo. É a partir desse momento que verifica-se o processo de consolidação da atual organização escolar brasileira. Assim, intensifica-se entre os parlamentares e administradores públicos a preocupação com a instrução pública, e mais especificamente, com o ensino profissionalizante. (SHIGUNOV NETO, 2015) O período compreendido entre a proclamação da República em 1889 e a Revolução de 1930 é denominado por diversas denominações, tais como: República Velha, Primeira República ou República Oligárquica. (CUNHA, 2007) A denominação mais utilizada pelos pesquisadores é Primeira República e será a que utilizaremos em nosso texto. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 12 Na Primeira República (1889-1930) a educação passa a ser considerada como problema fundamental da nacionalidade. Também se evidencia, ao menos nos discursos e discussões, a importância da criação de um sistema nacional de ensino, as medidas de curto e médio prazo não surtiram os efeitos esperados, pois o que ocorreu foi a criação de escolas públicas para atender ao aumento do número de pessoas que procuravam vagas nos estabelecimentos públicos de ensino. (SANTOS,1955; CARTOLANO, 1994; RIBEIRO,1998; SAVIANI, 2013; SHIGUNOV NETO, 2015) Saviani (2013) destaca que apesar de ser a intenção no período republicano de criação de um sistema nacional de educação, a conjuntura econômica e política e os ideais liberais de orientação positivistas foram um obstáculo a criação e consolidação de um verdadeiro sistema nacional de educação. Tais orientações sustentavam a “desoficialização” do ensino e o afastamento do Estado do âmbito educativo. Conclui-se, pois, que as dificuldades para a realização da ideia de sistema nacional de ensino se manifestaram tanto no plano das condições materiais como no âmbito da mentalidade pedagógica. Assim, o caminho da implantação dos respectivos sistemas nacionais de ensino, por meio do qual os principais países do Ocidente lograram universalizar o ensino fundamental e erradicar o analfabetismo, não foi trilhado pelo Brasil. E as conseqüências desse fato projetam-se ainda hoje, deixando-nos um legado de agudas deficiências no que se refere ao atendimento das necessidades educacionais do conjunto da população. (Saviani, 2013.p. 168). A educação, enquanto preocupação republicana começa a ganhar destaque nos discursos proferidos por políticos, inclusive pelo presidente Marechal Manuel Deodoro da Fonseca na abertura da Primeira Sessão Ordinária da Primeira Magistratura do Congresso Nacional, destacando que: (...) anteriormente ao atual regime, a constituição do ensino público se fizeram sem espírito sistemático e sob acanhados moldes. (...) Dado o advento da República, forma de governo em que a difusão do ensino se impõe com o caráter de suprema necessidade, Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 13 cuidou o Governo Provisório de organizá-lo sob novas bases, por modo completo e harmônico, desde a escola primária até os institutos superiores, proporcionando aos estudos a orientação que o espírito moderno e as condições de nossa existência política imperiosamente exigiam. (...) Realizando as mais adiantadas aspirações liberais, essa nova constituição do ensino fez justiça particular. Não é a menos vantajosa de sua providência a que proclamou a liberação do ensino. (Brasil,1987,p.16) Em 19 de abril de 1890, o Marechal Deodoro da Fonseca criou por intermédio do decreto nº 346, a Secretaria de Estado dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos. O artigo 1º, parágrafo 1º, estabelece: “Para a mencionada Secretaria de Estado, serão transferidos: da Secretaria do Interior, os serviços relativos à instrução pública, aos estabelecimentos de educação e ensino especial ou profissional, aos institutos, academias e sociedades que se dediquem às ciências, letras e artes.” A Primeira República (1889-1930) foi um período de profundas transformações da sociedade brasileira, principalmente no que se refere às questões da educação nacional, até então relegadas ao esquecimento. Dessa maneira, após um período de escassas e insuficientes reformas educacionais, processadas durante o Império, o qual deixou como herança algumas poucas escolas, em condições precárias, em todos os níveis de ensino, verificou-se um período de intensas discussões e apresentações de propostas de reformas educacionais em todos os níveis. Nesse sentido, evidenciando essa preocupação com a questão educacional, foram apresentadas, entre outras, cinco reformas educacionais, que ficaram conhecidas pelos nomes de seus idealizadores – Benjamin Constant (1891), Epitácio Pessoa (1901), Rivadávia Corêa (1911), Carlos Maximiliano (1915) e Rocha Vaz (1925). Especificamente em relação ao ensino secundário, as reformas pretendiam aperfeiçoá-lo e expandir seu alcance para uma parcela maior da população. (RIBEIRO,1998; SILVA E MACHADO, 2014; SHIGUNOV NETO, 2015) A análise das reformas educacionais é fundamental parao entendimento da gênese da história da educação brasileira e da historiografia brasileira. Nesse Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 14 sentido Seki e Machado (2008) destacam a importância da análise e estudo da Reforma Benjamin Constant. Em suma, é preciso considerar a Reforma de Instrução Pública de Benjamin Constant, no sentido de seu significado para a historiografia brasileira. Em que situação ela ocorreu, quais influências filosóficas ele recebeu, a quem ela pretendia alcançar, quais as mudanças que ocorreram, dentre tantas outras indagações. Visto que a Reforma aqui tratada foi a primeira da República, é válido considerar as suas tentativas de melhorar o ensino público no país naquele momento, em que o Brasil estava marcado por significativas mudanças em seu regime governamental e as implicações que tiveram a sociedade como um todo. Nesse sentido, é preciso considerar de que forma esta reforma buscou contribuir para o desenvolvimento do país, buscando formar cidadãos aptos a exercer sua cidadania, por meio da instrução oferecida naquele momento. (Seki e Machado, 2008, p.20) Além das mudanças estruturais na economia, esse período foi marcado por intensas crises políticas, de caráter ideológico. Dessa forma, a Primeira República representou um período de transição de uma sociedade essencialmente agrária para uma sociedade industrial, caracterizando-se por lutas pela hegemonia e pela manutenção da estrutura de poder – luta entre a situação (representada pelo grupo sustentado pela sociedade agrário-exportadora) e pela oposição (que lutava pela consolidação de uma sociedade pautada no modelo urbano-industrial). Análise da Reforma Benjamin Constant Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891) nasceu em Niterói, seguiu a carreira militar, onde exerceu a função de professor da Academia Militar. Com a proclamação da República foi nomeado Ministro da Guerra. Foi nomeado o primeiro Ministério dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos em 1890. A influência positivista na política educacional brasileira tem início com Benjamin Constant, considerado um dos grandes nomes do positivismo brasileiro. Faleceu em 22 de janeiro de 1891. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 15 Benjamin Constant adaptou os projetos da doutrina positivista às necessidades do Estado (à formação da sua burocracia) e às demandas de setores da sociedade civil. Não a dos operários, artesãos, camponeses sem terra, ex-escravos, mas às das camadas médias urbanas. Sua atuação como ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, em 1890 e 1891, evidencia isso. (Cunha, 2007,p.154) Para Delaneze (2007) em seu mandato como Ministro Benjamin Constant foi responsável pela edição de inúmeros decretos que foram denominados de Reforma Benjamin Constant, que em sua maioria tratavam da educação e estabelecimentos de ensino mantidos pelo Governo Federal no Distrito Federal. Entre os decretos destacam-se: � Decreto nº 337 A de 05 de maio de 1890 que organiza a Secretaria de Estado dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos. � Decreto nº 407 de 17 de maio de 1890 que aprova o regulamento para a Escola Normal da Capital Federal. � Decreto nº 408 de 17 de maio de 1890 que aprova o regulamento para o Instituto Nacional dos Cegos. � Decreto nº 540 A de 01 de julho de 1890 que cria o lugar de preparador da 1ª cadeira do 1º ano do curso de Ciências Físicas e Naturais da Escola Politécnica. � Decreto nº 667 de 16 de agosto de 1890 que cria o Pedagogium. � Decreto nº 668 de 18 de agosto de 1890 que declara o modo como deve ser conferido o grau de bacharel nas faculdades de Direito da República. � Decreto nº 856 de 13 de outubro de 1890 que aprova o regulamento para a Biblioteca Nacional. � Decreto nº 859 de 13 de outubro de 1890 que cria no observatório do Rio de Janeiro uma Escola de Astronomia e Engenharia Geográfica. � Decreto nº 934 de 24 de outubro de 1890 que dá novo regulamento ao Instituto Nacional de Música. � Decreto nº 980 de 8 de novembro de 1890 que dá novo regulamento ao Pedagogium da Capital Federal. � Decreto nº 981 de 8 de novembro de 1890 que aprova o regulamento da Instrução primária e secundária do Distrito Federal. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 16 � Decreto nº 982 de 8 de novembro de 1890 que altera o regulamento da Escola Normal da Capital Federal. � Decreto nº 983 de 8 de novembro de 1890 que aprova os estatutos para a Escola Nacional de Belas-Artes. � Decreto nº1036 A de 14 de novembro de 1890 que suprime a cadeira de direito eclesiástico dos cursos jurídicos do Recife e de São Paulo. � Decreto nº 1073 de 22 de novembro de 1890 que aprova os estatutos da Escola Politécnica. � Decreto nº 1075 de 22 de novembro de 1890 que aprova o regulamento para o Ginásio Nacional. � Decreto nº 1232 F de 02 de janeiro 1891 que confere aos ginásios particulares, equiparados ao Ginásio Nacional, a validade dos exames preparatórios realizados naqueles institutos. � Decreto nº 1232 G de 02 de janeiro 1891 que cria o Conselho de Instrução Superior da Capital Federal. � Decreto nº 1232 H de 02 de janeiro 1891 que aprova o regulamento das instituições de ensino jurídico dependentes do MIPCT. � Decreto nº 1258 de 10 de janeiro 1891 que dá novo regulamento à Escola de Minas de Ouro Preto. � Decreto nº 1270 de 10 de janeiro de 1891 que reorganiza as faculdades de Medicina do país. A reforma do ensino primário e secundário elaborada por Benjamin Constant (Decreto nº 891 de 08 de novembro de 1890) para o Distrito Federal assinala uma nova fase do ensino secundário, que propõe superar o caráter exclusivamente preparatório do ensino secundário, conferindo-lhe o de uma verdadeira formação educativa. Por intermédio de sua reforma aboliu os exames parcelados de preparatórios e introduziu o exame de madureza. No mandato de Benjamin Constant no Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos foram implementados projetos educacionais pautados na doutrina positivista, que visavam a atender as necessidades do Estado Nacionais e às demandas de setores da sociedade. Foi com Benjamin Constant que houve o alargamento dos canais de acesso ao ensino superior, por intermédio do decreto nº 981 de 8 de novembro de 1891, além disso, Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 17 ainda criou as condições legais para o funcionamento das escolas superiores particulares. (CUNHA, 2007; SHIGUNOV NETO, 2015) O decreto nº 981/1890 que aprova o regulamento da “instrucção primaria e secundaria do Districto Federal” foi aprovado em 8 de novembro de 1890 pelo então presidente Manoel Deodoro da Fonseca. O decreto contém 9 Títulos e 81 artigos assim repartidos: � Título I – “Principios geraes da instrucção primaria e secundaria” - artigo 1º � Título II – “Das escolas primarias, suas categorias e regimen” – art. 2º a 11 � Título III – “Do pessoal docente das escolas primarias” – art. 12 a 23 � Título IV – “Do Pedagogium” – art. 24 � Título V - Do ensino secundário – art. 24 a 46� Título VI – Do fundo escolar – art. 47 a 51 � Título VII – Das autoridades propostas ao ensino – art. 52 a 61 � Título VIII - Faltas dos professores e directores de estabelecimentos publicos e particulares; penas a que ficam sujeitos – art. 62 a 67 � Título IX - Disposições transitórias – art. 68 a 81 O Título I do referido decreto trata dos “Principios geraes da instrucção primaria e secundaria” e destaca em seu artigo primeiro que: Art. 1º E' completamente livre aos particulares, no Districto Federal, o ensino primario e secundario, sob as condições de moralidade, hygiene e estatistica definidas nesta lei. § 1º Para exercer o magisterio particular bastará que o individuo prove que não soffreu condemnação judicial por crime infamante, e que não foi punido com demissão, de conformidade com o disposto no art. 63 do presente decreto. Moacyr (1941) destaca a legitimação que o decreto fornece para que os particulares ofereçam o ensino primário e secundário no Distrito Federal, sob as condições de moralidade, higiene e estatística definidas em lei. O parágrafo primeiro do primeiro artigo estabelece as exigências para o exercício do magistério em instituições de ensino particular, que não tenha Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 18 condenação criminal e nem punido com demissão, sem ao menos fazer menção aos conhecimentos necessários. Moacyr (1941) explica que a instrução primária, livre, gratuita e leiga será ofertada em escolas públicas no Distrito Federal, estas escolas estão classificadas em duas categorias: escolas primárias de 1º grau destinadas a alunos de 7 a 13 anos de idade e as escolas primárias de 2º grau para alunos de 13 a 15 anos. Como o foco de nosso estudo é como a formação de professores é tratada na Reforma Benjamin Constant a partir de agora nos deteremos à avaliação dos Títulos II e IV do Decreto nº 981/1890. A formação de professores na Reforma Benjamin Constant A formação de professores é atualmente provavelmente um dos temas mais discutidos e estudados na área educacional. Sua gênese no Brasil pode ser encontrada na educação jesuítica por meio do Ratio Studiorum, na reforma pombalina, na pedagogia de Rui Barbosa, nas reformas educacionais de Leôncio de Carvalho, Benjamin Constant e na criação das escolas normais, instituições destinadas exclusivamente à formação de professores. Contudo, é preciso destacar que apesar de haver uma preocupação explícita com a formação dos professores nesses vários momentos históricos não se pode falar em um sistema formal de formação inicial e continuada de professores. Sobre a preocupação de Benjamin Constant com a formação de professores é possível constatar pelos 13 artigos dedicados a questão no Decreto de sua reforma. Benjamin Constant se preocupou ainda com o aperfeiçoamento do magistério, por isso propôs reformar até mesmo a Escola Normal. Por conta disso, formulou um regulamento sobre a grade curricular pautado nos programas de Pedagogia da capital federal. (...) Benjamin Constant acreditava que a formação de professores deveria ser fundamentada no altruísmo, na paixão e no sentimento cívico. Para tanto, e para que isso acontecesse, deveria ser organizada uma instituição capacitada a transmitir-lhes tais saberes. Sobre isso, refere-se à importância da criação de um curso cujo ensino secundário fosse reorganizado sob o exercício pleno do Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 19 magistério em forma de seriação e com direito à diploma de Bacharel ao término. (Silva e Machado, 2014, p.206) O artigo 12 do Título III – Do pessoal docente das escolas primárias define que o Governo Federal manterá na capital federal uma ou mais escolas normais, de acordo com as necessidades do ensino e que deverá estar vinculada a cada uma delas uma escola primária modelo. E o parágrafo único do mesmo artigo estabelece que o curso da Escola Normal será constituído peas seguintes disciplinas: Portuguez, noções de litteratura nacional e elementos de língua latina; Francez; Geographia e historia, particularmente do Brazil; Matematica elementar; Mechanica e astronomia; Physica e chimica; Biologia; Sociologia e moral; Noções de agronomia; Desenho; Musica; Gymnastica; Calligraphia; Trabalhos manuaes (para homens); Trabalhos de agulha (para senhoras). O art. 14 estabelece que só podem exercer o magistério público primário os alunos ou os graduados pela Escola Normal. O decreto determina que alunos que estejam cursando a Escola Normal possam atuar na docente enquanto terminam seus estudos. O mesmo artigo em se parágrafo primeiro classifica os docentes em duas categoriais, assim denominadas Art. 14. Só podem exercer o magisterio publico primario os alumnos ou os graduados pela Escola Normal. § 1º Dividem-se os professores em duas categorias: Professor adjunto - o que tiver pelo menos a approvação nas materias das tres primeiras series da Escola Normal, e um anno de pratica na escola de applicação, de accordo com o decreto n. 407 de 17 de maio de 1890; Professor primario - o que tiver pelo menos todo o curso da mesma Escola. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 20 Estabelece o documento duas categorias de professores, o professor adjunto com pelo menos um ano de experiência em magistério e o professor primário. E o provimento das cadeiras de ensino primário será feito por concurso entre os professores titulados pela Escola Normal. O concurso de ingresso será composto de prova teórica e de prova prática. Os professores primários catedráticos serão considerados vitalícios depois de cinco anos de exercício do magistério. (Moacyr, 1941) O art. 21 define os deveres dos professores catedráticos e adjuntos no exercício da docência: Art. 21. Tanto os professores cathedraticos como os adjuntos teem por dever: executar fielmente o regulamento escolar e os programmas de ensino; dirigir pessoalmente e com o maximo zelo os alumnos que estiverem a seu cargo, concorrer ás conferencias do Pedagogium sempre que para isso forem avisados pela Inspectoria Geral e observar tudo quanto nesta lei lhes diz respeito. Pelos artigos presentes no item que regulamente o papel e função do professor primário fica clara a importância da Escola Normal na formação inicial dos professores para atuação no magistério primário. Um importante instrumento de capacitação e formação continuada de professores foi criado pelo decreto com a denominação de “Pedagogium”, estabelecimento de ensino mantida pelo Governo Federal na capital federal. Sua finalidade foi assim definida: destinado a offerecer ao publico e aos professores em particular os meios de instrucção profissional de que possam carecer, a exposição dos melhores methodos e do material de ensino mais aperfeiçoado. § 1º O Pedagogium conseguirá seus fins mediante: A boa organização e exposição permanente de um museo pedagogico; Conferencias e cursos scientificos adequados ao fim da instituição; Gabinetes e laboratorios de sciencias physicas e historia natural; Exposições escolares annuaes; Direcção de uma escola primaria modelo; Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República:revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 21 Instituição de uma classe - typo de desenho e de uma officina de trabalhos manuaes; Organização de collecções - modelos para o ensino concreto nas escolas publicas; Publicação de uma Revista pedagogica. Apesar de sua importância e da inovação para seu tempo, o Pedagogium criado por Benjamin Constant, estabelecimento de ensino destinado ao aperfeiçoamento profissional e compartilhamento de material de apoio ao exercício docente teve uma breve duração igualmente como a Reforma Benjamin Constant. Considerações finais Ao realizar um resgate histórico do período compreendido entre o fim do Império e o início da Primeira República fomos capazes de assimilar as transformações ocorridas nos âmbitos econômicos, sociais, políticos e educacionais no Brasil. Momento em que a educação passa a ser considerada como problema fundamental da nacionalidade e que a mesma é chamada para dar conta de novas demandas, a de preparação da população para o exercício da cidadania, de mão- de-obra para atender ao novo ciclo de desenvolvimento e o predomínio de uma nova classe, a dos empresários rurais. Na tentativa de entender o papel das reformas educacionais nesse novo cenário e processo de transformação, decidimos analisar a Reforma Benjamin Constant, sua importância, seu papel e como trata a formação de professores. Apesar de na Primeira República (1889-1930) a educação ser considerada como problema fundamental da nacionalidade, de ser a intenção no período republicano de criação de um sistema nacional de educação, tais ideais ficam apenas no papel e não se tornam realidade. A Reforma Benjamin Constant apresentou um leque grande de preocupações em relação a temática da formação de professores, dedicando 13 artigos exclusivos à formação inicial e continuada de professores e à carreira docente. Merece destaque a importância fornecida a Escola Normal na formação dos professores para atuação no magistério primário, lócus destinado a formação inicial de professores. Outro destaque do decreto, que infelizmente teve vida curta, foi o Pedagogium estabelecimento de ensino mantido pelo Governo Federal e destinado Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 22 a oferecer aos docentes um espaço de aperfeiçoamento e aprimoramento profissional. Por fim, cabe destacar, que, apesar da Reforma Benjamin Constant compreender que o papel do professor era de extrema importância, e de que a Reforma Benjamin Constant dedicar atenção especial ao papel docente, não é possível afirmar que existisse ainda um sistema formal de formação inicial e continuada de professores. Como bem destacam Tanuri (2000) e Saviani (2009) no Brasil colonial e imperial não houve uma preocupação explícita sobre a formação docente, apenas com a reforma da instrução pública do estado de São Paulo em 1890 é que começam a surgir políticas públicas de formação de professores. Referências Basbaum, Leôncio. (1986). História sincera da República: das origens à 1889. 5.ed. São Paulo: Alfa-Omega. Brasil. (1890). Decreto nº 981 de 8 de novembro de 1890: Aprova o regulamento da instrução primária e secundária do Distrito Federal. Rio de Janeiro. Carone, Edgard. (1969). A Primeira República (1889-1930). Texto e Contexto. São Paulo: Difusão européia do livro. Cartolano, Maria Teresa Penteado. (1994). Benjamin Constant e a instrução pública no início da República. 1994. 201p. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. Cunha, Luiz Antônio. (2007). A universidade temporã – o ensino superior, da colônia à Era Vargas. 3.ed. São Paulo: Unesp. Delaneze, Taís. (2006). A proclamação da República e a primeira reforma educacional do novo regime: democracia X educação popular. VII Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas “História, sociedade e educação no Brasil”. Campinas, Universidade Estadual de Campinas. Delaneze, Taís. (2007). As reformas educacionais de Benjamim Constant (1890- 1891) e Francisco Campos (1930-1932): o projeto educacional das elites republicanas. São Carlos: UFSCar. Fávero, Maria de Lourdes de Albuquerque. (1977). A universidade brasileira em busca de sua identidade. Petrópolis: Vozes. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 23 Mendes, Raimundo Teixeira. (1894). Benjamin Constant: esboço de uma apreciação sintética da vida e da obra do Fundador da República Brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Peças Justificativas. Mezzari, Vilma Apda de Souza. (2001). A trajetória Pedagógica de Benjamin Constant. UEM. (Dissertação de Mestrado). Moacyr, Primitivo. (1941). A instrução e a República. .v. 1. Reforma Benjamim Constant (1890-1892). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional. Nagle, Jorge. (1974). Educação e sociedade na Primeira República. São Paulo: EPU. Nogueira, Nelson Garcia. (1936). O ideal republicano de Benjamin Constant. Rio de Janeiro: Tip. Do Jornal do Comércio Rodrigues e C. Oliveira, Luiz Antonio de; Machado, Maria Cristina Gomes. (2015). O papel da república na instrução primária segundo Primitivo Moacyr. Revista HISTEDBR On- line, Campinas, SP, v. 15, n. 61, p. 30-50, jul. 2015. ISSN 1676-2584. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8640513>. Acesso em: 06 abr. 2019. Ribeiro, Maria Luisa Santos. (1998). História da educação brasileira: a organização escolar. 15. ed., Campinas: Autores Associados. Santos, Theobaldo Miranda. (1955). Noções de história da educação. 6.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional. Seki, Ariella Lucia Sachertt; Machado, Maria Cristina Gomes. (2008). A disciplina de instrução moral e cívica na reforma educacional de Benjamin Constant de 1890. In: JORNADA DO HISTEDBR, 8. Anais. São Carlos. v. 1, p. 1-22. Shigunov Neto, Alexandre. (2015). História da educação brasileira: do período colonial ao predomínio das políticas educacionais neoliberais. São Paulo, Salta. Silva, Daniele Hungaro da e Machado, Maria Cristina Gomes. (2014). O método de ensino intuitivo e a política educacional de Benjamin Constant. Revista eletrônica de Educação, São Carlos, v.8, n.2, p.198-211. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 24 CAPÍTULO II - IDEAL CÍVICO, MORAL, PATRIÓTICO E NACIONALISTA, SABERES A SER APRENDIDOS NA ESCOLA PRIMARIA NA PRIMEIRA REPÚBLICA NO PARANÁ: uma leitura de relatórios de instrução Rosa Lydia Teixeira Corrêa Introdução Os dados de pesquisa contidos neste texto resultam de trabalho desenvolvido no âmbito de um projeto de pesquisa que estuda a formação de professores para a atuação em nível de escolarização primária, do ponto de vista de concepções educativas e saberes escolares. Aqui busca enveredar pela apreciação que incide sobre o ideário educativo que esteve presente no discurso oficial, ou seja, do Estado,contido em Relatórios de Instrução do Paraná entre os anos de 1900 a 1915.Primeira República, período no qual, os rumos da educação primáriasão definidos pelos diferentes Estados da Federação, responsabilidade que se afigura desde o Ato Institucional de 18341, corroborado pela Constituição de 1891, principalmente sob os desafios de atender a população escolar em sua maioria residente no campo. O primeirodocumento que normatiza a organização da instrução publica no Paraná na implantação do regime republicano é o Regulamento de 1890, por meio do Decreto nº 31, de 29 de janeiro que define orientações de organização para os níveis de ensino, entre eles o normal e o primário. Esse Decreto acompanha o disposto pela primeira Reforma de Ensino republicana, a de Benjamin Constant que se deu por meio do Decreto de nº 981, de 1890. Procura compatibilizar orientações federais com possibilidades e necessidades regionais, em relação ao elenco de matérias e métodos a serem empregados na educação (Oliveira, 2005-2006, p. 3). Além disso, essa autora refere também que o Paraná durante a Primeira República instituiu varias medidas legais referentes ao ensino (Oliveira, 1994). O Paraná do ponto de vista econômico adentra a Primeira República tendo sua economia baseada, sobretudo, na erva-mate desde meados do século XIX, atingindo apogeu nos fins dos anos de 1920 (Oliveira, 2001). Para esse autor, 1 Nagle (1985) registra que “a ausência de uma “politica nacional de educação” e, portanto de um sistema escolar nacional, é um problema sem condições de ser solucionado durante a Primeira República, devido ao argumento de que qualquer esforço nesse sentido feria aos princípios federativos agasalhados pela Constituição” (p. 266) Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 25 Simultaneamente, a indústria do mate gerou expressivo crescimento das atividades dedicadas ao seu suporte. A manutenção e funcionamento dos engenhos e a embalagem e transporte da erva requeriam considerável soma de empresas voltadas para áreas como metalurgia, madeira e gráfica. Esse processo conferiu extraordinário impulso também ao conjunto da economia paranaense, pelo menos enquanto as exportações da erva se mantiveram em ascensão, o que ocorreu até a Crise de 1929 (Oliveira, 2001, p. 28). Além disso, não se pode descurar também da intensa politica migratória empreendida pelo Estado com vistas ao povoamento do território. Convém dizer que as imigrações não se constituíram uma questão somente do Paraná. Elas se processaram de modo livre e dirigido desde o tempo da colonização, tornando-se mais contundentes a partir de meados do século XIX e inicio do XX.2 Para atender aos interesses das províncias e depois dos Estados foram trazidos emigrantes alemães, italianos, espanhóis, poloneses e ucranianos para a ocupação da pequena propriedade no sul do país, que, embora arrefecida nos fins do século XIX foi importante para o Paraná no sentido de resolver também uma questão demográfica. Dessa forma, a imigração europeia revelava-se também uma estratégia de povoamento com finalidades de inovação técnica a também “industrial”, fundamentada no pressuposto da qualidade superior do elemento estrangeiro enquanto “produtor” de trabalho. Por este ângulo, apurar a raça significava também ensinar o nacional a trabalhar (Nadalin, 2001, p. 75). Ainda segundo Oliveira (2001), do modo geral, entre 1829 e 1911, instalaram- se no Paraná 83.012 colonos estrangeiros. Os grupos majoritários foram de italianos e poloneses entre 1880 e 1889; de poloneses, italianos e alemães entre 1890 e 1899, e, significativa participação de ucranianos, a, além desse conjunto somem-se de 1900 a 1911, os holandeses (Nadalin, 2001). Esses dados sobre imigração e sua relação com o processo de povoamento do Estado são fundamentais para entender a preocupação de autoridades nacionais e locais com a questão da integração nacional do imigrante, sua instrução/ensino e da nacionalização. Com efeito, a análise dados trazidos dos documentos anteriormente referidos constituem as fontes a serem interpretadas posteriormente. São as fontes principais 2Dos 4,5 milhões de imigrantes chegados ao Brasil entre 1850 e 1918, 2,5 milhões dirigiram-se para São Paulo (Nadalin, 2001, p. 70). Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 26 nas quais se assenta este trabalho, além daquelas que consideramos coadjuvantes como decretos regulamentos de instrução e programas e códigos de ensino. Fontes documentais interpretadas sob o entendimento de que não se constituem em registros neutros, mas que contém as marcas de um tempo histórico e espaço geográfico importantes para entendê-las, e, desse modo, situá-las. Nesse sentido, (...). Um dos postos cruciais no uso de fontes reside na necessidade imperiosa de se entender o texto no contexto de sua época, e isso diz respeito, também, ao significado das palavras e das expressões.Sabemos que os significados mudam com o tempo, mas não temos, de inicio, obrigação de conhecer tais mudanças. No contrario, boa dose de desconfiança é o principio básico a nos orientar nesses momentos, além de uma leitura muito atenta dos autores que trabalham na mesma linha de pesquisa (Bacellar, 2005, p. 63) Sob a compreensão dos sentidos das palavras e das expressões, a linguagem contida naqueles Relatórios, não é sistema arbitrário;está depositada no mundo e dele faz parte porque, ao mesmo tempo, as próprias coisas escondem e manifestam seu enigma como uma linguagem e porque as palavras se propõem aos homens como coisas a decifrar (Foucault, 1992, p. 51). Assim é preciso ter em conta que quem escreve esses documentos, de modo subterrâneo parece fazer um apelo ao superior no sentido de que ele possa se sensibilizar sobre os graves problemas educacionais com os quais o Estado se depara.Além disso são falas de autoridades educacionais que demarcam lugares de onde são pronunciadas, o que antepõe o pretenso exercício de uma autoridade constituída que deseja se fazer ouvir. Assim, trata-se de pensar que os aspectos, ideário educativo, formação de professores e saberes escolares articulam-se para atribuir significados a discursos em cujo conteúdo está à preocupação de quem escreve em fazer crer e, consequentemente, convencer a quem se destina sobre as agruras da educação escolar primária do Estado. Assim, a Escola Normal de Curitiba foi instituída no ano 1876 anexa ao Ginásio Paranaense, condição na qual funcionou até 1906.Pelo Decreto nº 170 de 24/04/1906, o Diretor Geral da Instrução Pública, Arthur Pereira de Cerqueira Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 27 separou a Escola normal do Ginásio, mas ela só veio efetivamente ter prédio próprio com a inauguração do chamado Palácio da Instrução em 1922. Essa instituição tem origem num período no qual são criadas outras Escolas Normais pelo Brasil3. Desde os seus primórdios é concebida como fundamental para formação de professores, concomitantemente às conferências pedagógicas e as boas recompensas pecuniárias para os professores (Wachowicz, 1984, Miguel, 1997). Essa escola, como as que se seguiram antes e durante a Primeira República correspondem aos anseios já anunciados por Rui Barbosa em seus pareceres (1882-1883), sobre a importância da preparação técnica do professor como melhoria da arte de ensinar (Nascimento, 1997). É nesse sentido que sua defesa será feita por lideres políticos do Paraná quer em termos de sua organização como da formação e atuação de professores na escola primaria.A problemática da escola Normal de Curitiba traduz de maneira geral a precariedadeda situação da educação primária no Estado do Paraná do período no qual esses Relatórios foram escritos. Não parece haver ação organizada do Estado no sentido de empreender mudanças conjuntas na educação do Estado. Com efeito, ideal e saberes na formação de professores estão sendo entendidos neste trabalho como elementos da cultura escolar na perspectiva de Julia (1992), levando-se em conta a maneira como são defendidos por autoridades do ensino no Estado, como prescrições, normas e práticas a serem inculcadas nos professores, e, consequentemente, nos alunos, visando à formação para a moderna sociedade paranaense. Além da introdução, este trabalho contém duas seções. Na primeira realizamos analise de trechos de Relatórios de Instrução, destacando aspectos cívicos, patrióticos e nacionalistas que autoridades de ensino desejam ser incutidos nas crianças da escola primaria entre os anos de 1904 e 1915. Na segunda trazemos elementos da formação de professoras primarias que deveriam indicar para a apreensão de saberes a ser ensinados nessa escola. Por fim, as considerações finais nas quais trazemos, em consonância com o propósito deste estudo, algumas considerações sobre a apreciação de tal documentação. 3Rio Grande do Sul (1870), Pará (1871), Sergipe (1871), Amazonas (1872), Espírito Santo (1873), , Rio Grande do Norte (1874), Maranhão (1874), Corte (1874). Anteriores a ela foram criadas a Minas Gerias (1840), Bahia (1841), São Paulo(1846), Pernambuco (1865), Piauí (1865), Alagoas (1869). Depois são instituídas a de Santa Catarina (1880), Ceará(1884), Paraíba (1885), Goiás (1886) (Tanuri, 2000). Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 28 Ideal cívico, moral, nacionalismo e modos de ensinar na escola primáriaparanaense O primeiro Regulamento da Instrução Pública no Paraná, de 1890, já indicava as matérias que deveriam substituir o ensino religioso pelo de moral e civismo na formação do cidadão do recém-implantado Estado republicano. No art. 14, assim constava: O ensino da moral é destinado a completar, consolidar e enobrecertodos os outros ensinos da escola. O professor [...] deverá incutir no espírito das crianças [...] noções essenciais de moralidade humana comum a todas as doutrinas e necessárias a todos os homens civilizados. É interditada a discussão sobre seitas ou dogmas religiosos e recomendada a maior atenção ao desenvolvimento moral dos meninos, de modo a formar e aperfeiçoar o caráter de cada um. (Paraná, Decreto nº 31/1890). Embora dois outros regulamentos tenham sido aprovados, um em 1891 e outro em 1892, eles mantiveram o mesmo “espirito” em relação à formação moral e cívica do cidadão. Correspondentes a sesses Regulamentos, os Programas de Ensino seguiam a logica da formação moral, cívica e patriótica, para os anos de 1890,1891 e 1892, o que demonstra a intenção de civilizar cívica e moralmente desde a perspectiva do Estado laico, no âmbito do ensino de primeiro e segundo graus das escolas publicas (Oliveira, 2005-2006). À semelhança do que referiu Julia (2001) em relação França e seu projeto republicano, trata-se de forjar uma nova consciência cívica. A moral e cívica, por assim dizer, desde o Estado estaria agora a ser incutida nos escolares e o professor é chamado a fazer dela efetivamente um dado da cultura escolar do novo regime. À proposito, Julia destaca que os professores são os gentes chamados a inculcar condutas, normas, regras, praticas por meio de dispositivos pedagógicos que atendem às finalidades da escola. Não diretamente explicitas, as orientações moral ecívico-patriótica estiveram também presentes no regulamento de 1895 (Decreto nº 35/1895). Se pode depreendê-las das noções de direitos e deveres do cidadão e de geografia e história pátria. Aliás, desse sentimento já comungava em 1895, Ricardo Barbosa, antigo professor público e ex-inspetor geral da instrução do Rio de Janeiro, no livro Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 29 “Instrução Moral e Cívica”, para uso nas escolas primárias do Rio de Janeiro, no preâmbulo traz o seguinte: Uma república, cujo governo deve ser confiado a quem maior soma se conhecimentos e de boas qualidades morais e cívicas apresentar e que não mantém religião alguma, porque se tal não fizesse iria de encontro ao princípio de toda a liberdade, necessita que em suas escolas as crianças comecem desde já o estudo da Instrução Moral e Cívica(Barbosa, 1895, Preâmbulo, p. V, grifos no original).4 O Regulamento de 1901, Decreto nº 93/1901, no programa do ensino de 1º e 2º graus, as questões sobre moral, civismo a patriotismo mantem semelhança com as matérias de noções de geografia, e princípios de moral. Mais tarde,para o Sr. Victor Ferreira do Amaral e Silva Diretor Geral da Instrução Publica do Paraná, o civismo se constituía num imperativo diante da ausência do ensino religioso nas escolas5. Uma das minhas constantes cogitações no exercício deste cargo tem sido o estabelecimento do ensino cívico nas escolas. Uma vez que, ex-vi de nossa constituição política, o ensino tornou-se leigo, pela exclusão do ensino religioso, afigurou-se-me de inelutável importância a instrução cívica. Que o sentimento cívico seja um poderoso ímã de coesão, um foco luminoso a irradiar sentimentos nobres, qual uma verdadeira religião erigida nas aras sagradas da pátria (Paraná, 1904, p. 43). Assim,há explicitação de uma profunda preocupação com a formação moral e cívica da população que frequentaria a escola primária. Desse modo, para Victor Ferreira do Amaral e Silva, as Conferências Pedagógicas funcionariam também como uma espécie de cruzada em prol da disseminação cívica. Considerando a educação cívica como o fator mais valioso da formação do caráter nacional, mormente num povo como o nosso, oriundo de elementos tão heterogêneos, julguei de indubitável proveito, como fiz há mais de um ano, instituir nos dias de festa nacional conferências de ensino cívico, em lugar público, com seus respectivos professores(Paraná, 1904, p. 13): E, nas palavras proferidas por aquele diretor, a pátria laica se confunde com a própria religião, ao explicitar trechos do discurso que proferiu na Conferência 4Grafia atualizada, grifo no original. 5 De inspiração norte americana, a Constituição de 1891, institui a laicidade do Estado ao abolir a relação entre Igreja e Estado. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 30 pedagógica por ele organizada e levada a efeito, da qual participaram professores e alunos de escolas primárias. Inaugurando conferencias cívicas dizia eu, outro escopo não tive que pontificar em nome da religião da pátria, fazendo praticar nos dias de festa nacional a unificação pomposa do patriotismo; outro móvel não tive que levantar bem alto o pavilhão estrelado de nossa pátria e o expõe a adoração da infância das escolas, para mostrar-lhe que, alem do culto ao Deus, que deve prestar no lar e nos templos, deve também prestar culto ao lábaro sagrado de nossa pátria. (...).(Paraná, 1904, p. 13,grifos nossos). No âmbito dos assuntos de ordem patriótica, a preocupação com a nacionalização do ensino se faz presente nos relatórios de instrução. O Diretor geral interino da instruçãoPublica Dr. Jayme Dormund dos Reis, destaca preocupação com a escolarização primaria das crianças ao situar que a população do Estado está composta, além dos nacionais, de elementos heterogêneos representados por polacos, russos, alemães, sírios, entre outros. Dai , segundo ele, adviria uma raça a se impor no país. Decorrem disso, dois grupos, um vivendo nas cidades e outros densos radicados nas colônias, agrupamentos exclusivos de suas raças. O primeiro, pela variação de contatos e necessidades do meio tenderá a aceitar mais facialmente os nossos hábitos e costumes, o segundo não se modificará. Este manteria apropria língua e as ensinaria aos filhos, que não mantendo contato com os nacionais viverá à parte. Professores particulares são contratados para ensinar- lhes em seu idioma. Assim, educa-se uma geração de estrangeiro em solo pátrio. O povoamento do território põe o desafio de instruir o estrangeiro em nossa língua, do contrario é o que se vê, jovens recém-chegados e crianças aqui nascidas se desenvolvem apresentando o estranho espetáculo de muitas e diversas nações vivendo sob um mesmo pavilhão. (Paraná, 1910) Mais tarde, o nacionalismo deveria ser enfatizado pelo estudo, por meio de fatos históricos que se caracterizam como degraus da evolução social de nossa nacionalidade, os perfis dos grandes homens, recomendáveis à gratidão nacional pela ação em paz e guerra, em prol dos mais altos interesses da Pátria (Paraná, 1915, p. 10)6. Nesse sentido, pode-se dizer, ante os dados populacionais referentes à imigração para o Paraná, trazidos na introdução deste trabalho, que a questão da 6Para Nagle (1985), em 1915 inicia-se o que chama de “entusiasmo pela educação”, marcado por uma gama de realizações por meio de ideias, planos e soluções advindas dos estados de matriz nacionalista dirigido à escola primaria popular. Tem inicio com Conferencias de Olavo Bilac e a posterior formação da Liga de Defesa Nacional em 1916. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 31 nacionalidade se constituiria um dado importante a merecer atenção por parte das autoridades do Estado. No Código de Ensino de 1915, na seção II destinada aos deveres dos professores, artigo 11, incisos XIV e XV, acerca da formação cívica e patriótica constam prescrições a serem consideradas pelos professores que indicam o seguinte: tomar parte, com seus alunos em comemorações, festas ou conferencias cívicas ou educativas, sem caráter partidário ou oficial, a convite de autoridade de ensino, sob a mesma pena à cima referida; promover quando do lhe parecer conveniente ou quando lhe for ordenado, pequenas festas cívicas, sob a mesma pena acima referida (Paraná, 1915, p. 28). Sobre o entendimento pedagógico, o ideário de lideranças educacionais passou a ser marcado por compreensões sobre o caráter científico da educação desde os pareceres de Rui Barbosa de 1881 e 1882 (Nascimento, 1997). Ele entendia que a educação escolar deveria ser científica e ministrada por meio de Lições de Coisas.7 Essa concepção de ensino foi adotada em grupos escolares desde a implantação da República8. O Paraná como outros Estados da Federação procurou seguir o exemplo de São Paulo. Em 1903 foiinaugurado o primeiro grupo escolar em Curitiba, o Xavier da Silva. Para o Diretor Geral Interino da Instrução Pública do Paraná, não seria adequada a ideia de que os grupos escolares fossem uma reunião de escolas num edifício, mas de compreendê-los na perspectiva de organização sistemática e metódica, daí a necessidade de que fossem submetidos a uma organização científica (Paraná, 1905, p. 51). Lições de coisas ou método intuitivo se caracteriza por ser, concreto, racional e ativo, denominado ‘ensino pelo aspecto’, ‘lição de coisas’ ou ‘ensino intuitivo’. O novo método pode ser sintetizado em dois termos: observar e trabalhar. Observar significa progredir da percepção para a ideia, do concreto para o abstrato, dos sentidos para a inteligência, dos dados para o julgamento. Trabalhar consiste em fazer do ensino e da educação na infância uma oportunidade para a realização de atividades concretas, similares àquelas da vida 7Sobre Lições de Coisas ver o estudo de Valdemarin, V. T. Estudando as Lições de Coisas. Campinas/SP: Autores Associados, 2004. Sobre As lições de coisas ou o cientificismo no campo educacional é corroborada pela Reforma Benjamin Constant (Nagle, 1985). 8 Entre outros ver Souza (1998). Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 32 adulta. Aliando a observação e trabalho numa mesma atividade, o método intuitivo pretende direcionar o desenvolvimento da criança de modo que a observação gere o raciocínio e o trabalho prepare o futuro produtor, tornando indissociável pensar e construir. (Valdemarin, 2001, pp. 158-159, grifos da autora) No entanto, embora essa concepção de ensino tenha prevalecido,adesão a outras compreensõespodem ser constadas. Ver quando a seguir. MÉTODOS DE ENSINO PARA AS ESCOLAS PRIMÁRIAS PÚBLICAS 1890-1915 ANOS MODO DE DAR AULA/documento MODO DE DAR CONTEÚDOS 1890 Misto ou simultâneo mútuo -Regulamento de instrução Pública, art. 50 Método intuitivo, fundado noconhecimento direto das coisas 1891 Misto ou simultâneo mútuo -Regulamento de instrução Pública, art. 46 Método intuitivo, fundado noconhecimento direto das coisas. 1892 Simultâneo ou processo que parecer melhor ao professor - Regulamento do Ensino Popular, art. 16 Ensino metódico, o mais possível, considerando o adiantamento do aluno 1895 Regulamento da Instrução Pública Métodos ou processos adotados pelo professor (art. 60, § 2º) 1901 - Regulamento da Instrução Pública, art. 40, § 1 Método intuitivo, adotado na Escola Modelo, anexa à Escola Normal 1915 Simultâneo para meninos e meninas em escolas ambulantes -Código de Ensino,art. 65, §3º Métodos e processos de maior resultado com menor esforço Fonte: Paraná, 1890, 1891, 1892, 1895, 1901, 1915, adaptado de Oliveira (2005-2006). Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 33 Na perspectivados métodos e processos, Claudino Rigoberto Ferreira dos Santos, Diretor Geral da Instrução Publica, se posicionou em Relatório enviado ao Secretario do Interior, Justiça e Instrução Pública: Por métodos e processos racionais, inteligentes e humanos que a ciência tem hoje desvendado, que a pedagogia moderna tem aplicado, e que os centros de instrução e educação tem posto em prática, e que melhor estudados e meditados possam, adaptar-se, segundo os fenômenos mesológicos que nos cercam, podemos chegar ao fim a que nos propomos, desbravando-se a capinzal na trama como se ela não fosse feita para, sobre o alvo leito macio, palmilharem as gerações em caminho da luz e do progresso(Paraná, 1913, p. 10). Assim, inspirado na obra de Compayré o Diretor Geral da Instrução Publica inicia o item “Métodos e Processos” do Relatório desse ano, ou seja, 1913, com uma epígrafe retirada de um texto desse autor, em cujo trecho consta: os métodos podem variar segundo a natureza objetos de ensino. Nós ensinaremos a geografia diferente da gramatica e da física. Eles variam segundo a idade das crianças, do primário a escola normal e desta ao superior.(Paraná, 1913, p. 9). Para Compayré, a educação significa a arte para criar um homem. A razão humana seria desenvolvida pela educação que é uma ciência, uma arte, uma habilidade prática. Ela precisa de um educador que aplique suas leis abstratas. É preciso diferençar pedagogia da educação. A pedagogia é a teoria da educação e educação a pratica da pedagogia. Como toda ciência pratica, a pedagogia é baseada num conjunto de dados teóricos, portanto sobre um suporte científico (Compayré,1897, p. 2.) Embora o Código de Ensino de 1915 instituísse que o ensino primário se daria com base nos métodos e processos, no capitulo II da seção 1, artigo 62, observação 2ª, na letra a, dessa seção a mesma observação refere que o ensino deve ser realizado por meio de colóquios variados e de lições de cousas(p. 16), portanto, sob as bases do método intuitivo. Esse código também prescreve o que deveria ser ensinado como educação cívica:geografia e corografia do Brasil, por meio de representações práticas, planos de viagens, exercícios cartográficos, bem como de História da Civilização do Brasil. Claudino Rigoberto Ferreira dos Santos, em relatório do ano anteriorindicava que o ensino precisava ser rapidamente atualizado. Esse era um imperativo Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 34 modernizador. Urgia a criação de uma revista pedagógica,onde se divulgasse tudo o que fosse concernente ao ensino e onde o professorado visse consolidado tudo o que lhe dizia respeito (Paraná, 1912, p. 20). O Brasil que caminhava para a industrialização, deveria estar em dia com as conquistas do mundo e ela teria que vir imediatamente pelo campo da educação escolar e disso o Paraná não poderia se furtar. A necessidade de atualização pedagógica estaria voltada para um ensino que, na perspectiva das Lições de Coisas estivesse cada vez mais voltado para as coisas da vida: (....) proponho sejam instituídos os dias primeiros 1º de cada fevereiro para festa das aves (Bird Day); 24 de junho para a festa das árvores (arbor Day); 21 de setembro para a festa das flores; 19 de novembro para festa da Bandeira; além de outras tendentes a cultuar os nossos feitos memoráveis e os nossos grandes homens ; bem como a adoção de um hino inicial dos trabalhos escolares, consagrado ao trabalho e outro ao encerrar dos mesmos, consagrado à natureza; assim como os passeios ao campo, aos museus, aos jardins e as oficinas, feitos as 5ª feiras ou aos sábados, pelas escolas que forem escaladas com os seus respectivos professores (Paraná, 1912, p. 20). Para tanto se fazia necessário também haver uma biblioteca convenientemente organizada e localizada. Sebastião Paraná então Diretor da biblioteca em Relatório do ano seguinte, 1913 enviado a Francisco Ribeiro de Azevedo Macedo, Diretor Geral da Instrução Pública, dizia: A instrução popular da capital muito lucrará se a Biblioteca for dotada de maior verba orçamentária, a fim de que possa adquirir mensalmente as obras que se impõem pelos benefícios que prestam a humanidade. (......). Tenho feito aquisição de livros didáticos, literários e científicos, inclusive a denominada biblioteca internacional (Paraná, 1913, p.35). Ao se manifestar pela localização da biblioteca em local adequado aos alunos, de modo geral, e àqueles que estudavam no ginásio paranaense, ondeeram formados os futuros professores, o Diretor daquele órgãotambém manifestava preocupação para com a ilustração do povo, pela formação que deveria ser propiciada na escola e esta estaria sendo buscada também na biblioteca (Idem). Assim, os documentos estudados apontam para importantes preocupações de autoridades de governo e educacionais não somente para as diretrizes que Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 35 deveriam orientar o ensino primário em seu conjunto, o que incluía a formação de professores, como medidas que deveriam ser tomadas objetivamente para tanto. Saberes a ser aprendidos para ensinar Neste aspecto depreende-se a existência de um ideário que corroborava com os existentes em amplo sentido na época, ou seja, o desejo de formação de sujeitos comprometidos com a pátria, o espírito nacional concomitantemente ao desenvolvimento e fomento das capacidades intelectuais dos alunos. Esta formação significaria erudição. Se os alunos deveriam ser intelectuais comprometidos, cívica, moral e patrioticamente com seu país, os professores mais ainda, por formarem as novas gerações (Paraná, 1904). No relatório referente ao ano de 1914, apresentado aCarlos Cavalcante de Albuquerque, por Claudino Rigoberto Ferreira dos Santos, nota-se a preocupação dos professores da Escola Normal em ampliar o curso de três9 para quatro anos, julgando não serpossível ensinar todas as matérias em um prazo tão curto. Com a possível mudança, o currículo sofreria algumas alterações sendo o Ensino de Português aplicado nos três primeiros anos, acrescentado no terceiro, noções de Latim e o ensino de Aritmética. No terceiro e segundo anos, seriam acrescentadas noções de Álgebra; Geometria nos dois últimos anos, Geometria plana no terceiro e Geometria no espaço no quarto ano; História da civilização no terceiro ano, limitado ao Brasil e especialmente ao Paraná. O quarto ano ficaria descarregado de matérias, para que os estudantes pudessem praticar nas escolas que lhes forem designadas. Mas, em Relatório diferente do citado anteriormente, ainda no ano de 1914, o Diretor Geral da Instrução Francisco Ferreira de Macedo, assim se posiciona ao Secretário de Estado Negócios do Interior, sobre as disciplinas que deveriam compor a formação professores. 1º Ano: Português, Francês, Aritmética alcançando até o estudo completo das frações; geografia geral, parte física, pedagogia, 9Informações sobre o currículo da Escola Normal de Curitiba ver o trabalho de MIGUEL, M. E. B.. A Escola Normal no Paraná: instituição formadora de professores e educadora do povo. In: José Carlos Souza Araújo; Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas; Antônio de Pádua Carvalho Lopes. (Org.). As Escolas Normais do Império à República. Campinas: Alínea Editora, 2008, p. 145-162: Ver também WACHOWICZ, L. A. A Relação Professor-Estado no Paraná Tradicional. São Paulo: Cortez Editora: Autores Associados, 1984. Shigunov Neto, Alexandre; Fortunato, Ivan e Miguel, Maria Elisabeth Black. (org.). Educação brasileira na Primeira República: revisitando a história da educação para compreender o presente. São Paulo: Edições Hipótese, 2019. - - - - - 36 desenho, música e prenda doméstica para as alunas; 2º ano: Português; Francês; Elementos de Álgebra até as questões do primeiro grau e complemento do estudo de aritmética; Geografia Geral, parte plana; Desenho; Música e Prenda doméstica para as mulheres; 3º Ano: Noções de literatura; Geografia do Brasil; especialmente do Paraná e Cosmografia; Pedagogia; Elementos de Geometria no espaço; Elementos de mineralogia; Botânica; Zoologia; Elementos de Física; História Universal; Desenho; Música; Prática Escolar: Prendas Domésticas Para as Mulheres; 4º Ano: Noções de Moral, de direito pátrio e de economia doméstica; Noções de história Natural: Elementos de agronomia e de Higiene: Elementos de Química; História do Brasil e do Paraná; Desenho; Música; Pratica Escolar e Prendas Domésticas para as alunas (Paraná, 1914, p. 27). Nota-se que a formação de professores primários requerida naquela oportunidade pelas autoridades do ensino seria
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