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PSICOLOGIA APLICADA A ODONTOPEDIATRIA – PARTE 1. A principal diferença do atendimento é o comportamento que a criança tem. 1. Introdução: O olhar para o homem como uma totalidade, que além dos problemas bucais também traz questões de natureza psicológica e social, nos faz refletir a importância da relação entre psicologia e a odontologia. Não tem como não considerar questões emocionais do nosso paciente. Diferentes etapas de desenvolvimento: Motor; Cognitivo; Emocional; Social Facilita na compreensão das atitudes no atendimento e também ajuda a orientar essa criança. O grau de cooperação depende de vários fatores: a. Nível de desenvolvimento; b. Temperamento; c. Conduta profissional manifestada pelo dentista; d. Atitudes e crenças dos pais; e. Experiências anteriores vivenciadas. 2. Teoria do desenvolvimento psicológico: P.S.: não existe somente uma teoria aceita. TEORIA PSICANALISTA (FREUD): Ajuda a compreender as construções da afetividade e formação da personalidade que é muito influenciado pelo que foi vivido na infância. Baseada nas fases de maturação de energia de cada parte do corpo, em que a energia é mais focalizada em determinada época do desenvolvimento. A formação da personalidade acontece na infância (6anos) – comportamentos atuais devem ser explicados pela representação psíquica de situações vividas na primeira infância. Compreende 8 fases: 1ª Fase oral (0 - 1 ano e meio) 2ª Fase anal (1 ano e meio a 3 anos) 3ª Fase fálica (edipiana) (3 a 5 anos) 4ª Fase de latência (5 a 12) 5ª Fase genital (adolescência 13-19) 6ª Adulto jovem 7ª Idade adulta 8ª Idade de maturidade Cada fase é marcada por uma crise e conforme essa fase é resolvida, marca a personalidade. Cada fase deve ter um equilíbrio entre o meio e o indivíduo. Se não tiver equilíbrio interrompe o desenvolvimento que pode regredir uma fase ou passar direto para próxima. Os primeiros anos são fundamentais para desenvolvimento de personalidade. FASE ORAL (0-1 ano e meio): Boca é o órgão mais importante do corpo, pois é onde entra em contato com ar e alimento. Primeira interação com ambiente e mãe (doador). A criança é o receptor que recebe tudo que precisa pra sobreviver. Mae transmite segurança e satisfação. Até 6 meses não distingue limites entre o eu e a mãe – “simbiose” = dependência absoluta. Quando o desenvolvimento é positivo: Criança aprende a receber e reter aquilo que lhe é dado; Autoconfiança e confiança do ambiente e da existência representam o inicio das habilidades de fazer contato. Quando o desenvolvimento é negativo: Insegurança e insatisfação – sugar e dormir inadequadamente ou mostrar outro desvio de comportamento; Dificuldade na capacidade de fazer contatos. Após 6 meses: A criança começa a descobrir um limite entre o eu e o ambiente – mãe é a primeira pessoa a desenvolver esse formato (mãe pode ausentar- se por períodos gradativamente aumentados). Tipo de informação e para quem será dada modifica o tipo de linguagem Depende do estágio de desenvolvimento. 18/05/2023 – Amanda Pollo. Aprende a mastigar e morder mesmo que ela ainda prefira a sucção. Aumenta capacidade motora e mental, já é capaz de tolerar insatisfações e separações - distingue ela mesmo da mãe. Se nesse período o desenvolvimento for positivo: Sensação de segurança e satisfação; Aprendizagem de receber e reter (fundamental para o desenvolvimento mental); Mais tarde: capacidade de formar uniões duradouras e emocionalmente profundas. Se o desenvolvimento for negativo: Distúrbios de comportamento: criança que agarra e é chorona, não aceita o que lhe é oferecido, necessidade constante de atenção; Mais tarde: dificuldade de assimilar e manter relacionamentos duradouros; Autoconfiança nessa fase serão importantes para o contato social. # Sucção: importante para sobrevivência física e psicológica do bebe. Essa necessidade física e psicológica vai diminuindo com a introdução alimentar e conforme aprende a mastigar. Com a parada gradual da amamentação, a criança aprende a deixar a fase inicial, dando continuidade ao processo de maturação sem se sentir abandonada ou privada de qualquer coisa; Necessidade fisiológica cessa entre 9 e 12 meses e a psicológica pode durar mais. Se essa necessidade perdurar principalmente para depois dos 3 anos causa problemas tanto de oclusão quanto de fala. # Atendimento odontológico: reação, geralmente, é o choro e a resistência. A criança tem medo de pessoas estranhas, ruídos altos e movimentos bruscos. Atendimento deve ser rápido, sem se preocupar em aguardar que a criança pare de chorar. FASE ANAL (1 ano e meia a 3 anos): “Período de autonomia”. A criança alcança o controle da bexiga e dos intestinos; Autonomia de locomoção e linguagem (o centro do corpo deixa de ser na boca); Visão mais clara do seu “eu” e experimenta as próprias vontades; Os pais passam a sensação do que é bom e do que é ruim – educar as vontades. # Idade dos “desafios”: Sentimentos fortes e contraditórios; O padrão de comportamento normalmente se alterna com retenção (atividades repetidas/ estabelecer hábitos) e eliminação (impaciente); Deseja coisas diferentes ao mesmo tempo – reflete a dificuldade de organizar a mente. Quando o desenvolvimento é positivo: Equilíbrio nos padrões de comportamento, atividades, interesses e sentimentos.; Confiança com o conhecimento do que ela quer e a capacidade de ser independente. Desenvolvimento negativo: Repetição compulsiva do padrão de comportamento: mudanças constantes de atividades e sofrimento com sentimentos ambivalentes. Timidez e insegurança. # Atendimento odontológico: inicia a maturidade para o tratamento odontológico, a criança já compreende algumas explicações simples. Permanece sentada de 10-20 minutos; Já pode ter duas atividades ao mesmo tempo (sentar e abrir a boca); Reforço positivo – elogios; Dificilmente colaboração total para procedimentos mais invasivos/ intervenções curativas. FASE FÁLICA (3 a 5 anos): “Fase genital inicial” Interesse por genitais e sexualidade - o centro do corpo é o sexo; Percebem as diferenças de aparência entre meninos e meninas - questionam essas diferenças; Pais transmitem a ideia de feminilidade/masculinidade; “Complexo de Édipo/Electra”: se apaixona pelos adultos do sexo oposto (pai e mãe); Busca identificação com pessoas próximas e tentam imitar (pais na maioria); Passa a ter os valores morais e o estilo de vida de cada um dos pais; Formula perguntas e hipóteses; Desejo de explorar, curiosidade sobre o mundo e fazer regras; Pais devem ter cuidado com excesso de precauções, proibições e repreensões. Pode levar a curiosidade a passividade. Quando o desenvolvimento é positivo: Propicia o desenvolvimento dos sentimentos básicos de identidade e iniciativa. Quando o desenvolvimento é negativo: Sentimento de culpa e não ser bom o bastante, como pessoa ou como homem/mulher; Perda de criatividade e iniciativa; Identidade do sexo pode se tornar incerta. # Atendimento odontológico – maturidade: A criança consegue se concentrar por até 30 minutos. Elogiar aparência e o reforço positivo são importantes; São capazes de usar imaginação e entender metáforas. Dominam mais a linguagem. * Fase que mais usa a técnica da distração. FASE DE LATÊNCIA (5 a 12 anos): Criança em seu contexto social. – centro do indivíduo não é em nenhum órgão. Sem alterações significativas no desenvolvimento emocional; Deixa de ser o centro e participa mais do ambiente; Escola, companheiros, atividades recreativas e adultos fora do contexto familiar; Explora o mundo, estabelece relações com adultos e se compara comos outros; Os pais e a escola passar a ter o papel de transmitir conhecimento e exercem controle; A criança quer estabelecer diálogos e discussões abstratas; Gosta de colecionar e competir - auto estima. # Atendimento odontológico: Visão mais realista do tratamento - não adianta inventar histórias; Pedem explicações; Aceitam e querem receber o tratamento; Além de continuar experimentando seu corpo, agora a criança treina o seu pensamento. FASE GENITAL (13 a 19 anos): Início da maturidade sexual, mudança física e psicológica (mundo adulto). Busca pela identidade (auto estima e autoconhecimento) - crises mal resolvidas em outras fase estão de volta; Desinteresse pelo meio, não ouvem quando lhe falam, são sonhadores e esquecidos; Oscilação entre o desejo de ser livre e de ser protegido, dependente. Quando o desenvolvimento é positivo: Dará oportunidade de amadurecimento e algumas integrações das contribuições de fases anteriores - amadurecimento de questões não resolvidas; Formação da identidade própria. Quando o desenvolvimento é negativo: Resoluções inadequadas de fases anteriores que acarretam em crises na busca de identidade; Comportamento antissocial, drogas, preenchendo o vazio de identidade; Isolamento numa introversão inacessível – psicoses e depressões. Resumindo: - Os primeiros anos são fundamentais para o desenvolvimento da personalidade; - Vital a participação da família em todo o precoce de crescimento. Em odontopediatria, a compreensão do desenvolvimento humano torna-se aspecto fundamental a interação do profissional e sua equipe com o paciente e seu acompanhante. 3. Medo: É compreendido como um estado emocional frente a um perigo, provocando uma sensação psicológica. Em geral diz-se que é o estágio intelectual da ansiedade. Difícil distingui medo de ansiedade. Medo odontológico pode ter efeito negativo na saúde bucal, no bem estar psicológico e emocional, causando danos psicossociais. # Etiologia: o ambiente familiar é o causador da maioria dos temores e problemas de medo. A superproteção, a ansiedade, a rejeição, a preocupação e apreensão exagerada dos pais são os principais desencadeadores do medo. a. Medo objetivo: proveniente de experiência desagradável anterior vivido pela própria criança em consultório odontológico ou ambiente semelhante. Pode ser direto quando foi no dentista e indireto quando sofreu em ambiente semelhante; b. Medo subjetivo: ocorre principalmente por informação de adulto ou crianças maiores que relatam experiências desagradáveis vividas no consultório odontológico ou especialidades afins. Escuta experiências de outras pessoas. Não está obrigatoriamente relacionado a verbalização do problema. As vezes a mãe faz alguma cara ou expressão que a criança entende como algo ruim. # Medo do desconhecido e do inesperado: primeira vez em um consultório. De forma geral, nessas situações a sala de consulta e instrumental deve ser apresentado a criança, para ela se sentir bem no local. Um estimulo inesperado ou desconhecido pode pôr a perder todo o bom comportamento - por isso mostrar e avisar tudo. ANSIEDADE: Um grau de ansiedade está sempre presente e é normal, ainda mais quando estamos frente a algo desafiador. Se o grau for normal de ansiedade conseguimos controlar com conversa e carinho. - Quando é em um grau patológico, precisa de outras medidas para contornar. # CHORO: em crianças muito pequenas quase sempre vai estar presente, principalmente nos primeiros atendimentos (fase oral é muito comum); Em geral esse choro sessa depois de algumas sessões. No entanto alguns casos que teremos que realizar todo procedimento com a criança chorando. O mais importante é saber reconhecer a causa do choro. Possíveis causas: Apreensão/ ansiedade; Medo do tratamento; Dor ou cansaço; Medo do desconhecido; Birra. Analisar a situação e origem do choro, entender qual a melhor atitude a ser tomada nesse momento. Como identificar o choro por: a) Medo ou ansiedade? Profusão de lagrimas; Som de lamentação, até gritos; Respiração convulsiva e soluçante. Como devemos proceder? Analisar a situação com a criança e faze-la entender que não há motivos para o medo; Usar a distração e o falar mostrar fazer como recurso; Se o motivo for a apreensão, a atitude devera ser a mesma, demostrando compreensão quanto ao choro e tranquilizando a criança. b) Devido a dor? Pode ser muito baixo, com lagrimas, respiração presa; Tranca a respiração para não sentir dor. Início abrupto. Como devemos proceder? 1º passo: descobrir a causa da dor – desconforto ou sensação diferente do habitual. c) Devido a birra? Ausência de lagrimas e soluços, apenas um barulho constante, que pode ter “ritmo”; A criança chora alto para não permitir que se estabeleça um diálogo com ela; Normalmente vem acompanhado de chutes, socos e pontapés. Objetivo de “abafar” outros sons e retardar o atendimento. Como proceder? Tentar manejo do comportamento sem a interferência dos pais, pois a criança pode ser acostumada a usa-los em ataques dessa forma. 4. Tríade: profissional, pais e filhos Os pais confiam a nós o que há de mais valioso em sua vida que são os filhos. Por isso devemos buscar: Bom relacionamento entre todas as pessoas envolvidas - o sucesso ou fracasso não dependem só dessa relação, mas é muito importante; Qualidades básicas do profissional: ✓ Amar crianças; ✓ Fazer-se gostar pelas crianças; ✓ Gostar de tratar crianças; ✓ Conhecimento de odontologia e, especificamente, de odontopediatria; ✓ Conhecimentos de psicologia infantil; ✓ Paciência; ✓ Intuição e bom senso; ✓ Capacidade de persuadir e convencer; ✓ Expressão de autoridade; ✓ Capacidade de manter diálogos com as crianlas; ✓ Aptidão para a especialidade. Atributos básicos para tratar crianças: ✓ Aparência profissional: dentes saudáveis (usar os próprios dentes como exemplo); ✓ Apresentação física: unhas e mãos bem cuidados. Roupa limpa, bem apresentada; ✓ Segurança profissional: para conseguir confiança dos responsáveis; ✓ Habilidade e rapidez: desenvolve-se com a pratica; ✓ Ordem e cuidado com o instrumental: observada antes, durante e depois - auxilia rapidez do trabalho. ✓ Mesa clinica coberta no início do procedimento, e durante o tratamento fora do campo visual da criança; ✓ Pontualidade: hora de inicio e tempo da consulta. O atendimento pediátrico é dinâmico e envolve muitas pessoas – VIAS DE COMUNICAÇÃO. Ter em mente que a principal via de comunicação deve ser entre o cirurgião dentista e o paciente. Existem evidencias que mostram que equipe mais humanizada, atenciosa, empático e de contato físico (elogios verbais) diminui a ansiedade e melhora no comportamento do paciente # Relações: a) AUXILIAR DE SAUDE BUCAL: Precisa estar bem treinado e ser a pessoa mais alerta da sala, antecipando os passos da consulta e as necessidades do CD. Também entender as técnicas de manejo com crianças. b) CIRURGIÃO DENTISTA - PAIS: é a partir das informações obtidas pelo profissional com os pais ou responsáveis que se inicia a relação criança - CD. Os pais oferecem informações sobre tudo da criança, campo familiar, comportamento. Fala sobre comportamento da criança. O profissional deve fazer parte do contexto e contribuir com a sua informação, sem julgar ou se posicionar de forma contraria; Orientar, alerta e conduzir essa relação com os pais e transmitir confiança e confiabilidade; Pesquisar sobre a criança; Observar a relação de pais e criança durante a anamnese (já nos traz um pouco do perfil psicológico da criança e da família como um todo); A partir disso, desenvolver uma abordagem individual para aquela situação.Atitudes familiares especialmente as das mães, apresentam grande influencia sobre o comportamento da criança (aumento da ansiedade). Estudo: Maternal and child’s anxiety – effect on child’s behaviour at dental appointments and treatments. Crianças com alto grau de ansiedade cooperam menos com o tratamento odontológico; Menor ansiedade da mãe proporcionou melhor comportamento da criança. Mesmo com a familiarização da criança com o ambiente odontológico a ansiedade materna afeta de forma negativa no comportamento das crianças de 7 a 12 anos. Será a partir de uma conversa informal e da anamnese que conseguiremos traçar o perfil psicológico da criança e encontraremos a melhor forma de solucionar os problemas dela e da família. c) CIRURGIÃO DENTISTA E CRIANÇA: O profissional deve: Compreender as reações das crianças principalmente na primeira infância; Estar munido de autoconhecimento e segurança, com conhecimento real das suas habilidades e limitações, além de coragem para admiti-las. A postura da odontopediatra deve transparecer: segurança, confiança e carinho. Esse é o primeiro passo para uma relação saudável. A segurança dada pelo profissional ao paciente e aos seus pais consiste em: Ausência de julgamento, aceitação e amor gratuitos, embora seu comportamento, as vezes, não seja aceitável (manha, mordidas, vomito, choro); Tratamento com o mesmo respeito que deseja para si; Respeito a sua personalidade e integridade; Limite, assim como a afetividade, é importante para a construção e desenvolvimento da personalidade e as práticas seguras e éticas em odontopediatria.