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3° Período Eduardo Zanella 1 APG 03 Objetivos: 1. Compreender os principais protozoários/parasitas humanos; 2. Explicar a fisiopatologia da doença de chagas; 3. Compreender o ciclo biológico da doença de chagas; 4. Explicar a manifestação clinica associada, seus exames de diagnostico e o tratamento da doença de chagas; 5. Conhecer os dados epidemiológicos da doença de chagas; 6. Entender as condições de saúde indígenas no Brasil; Compreender os principais protozoários/parasitas humanos; Explicar a fisiopatologia da doença de chagas; A tripanossomíase americana, também conhecida como doença de Chagas, é uma zoonose potencialmente fatal causada pelo parasita Trypanosoma cruzi. A doença é mais comumente vista na América Central e do Sul, Trinidad e no sul dos Estados Unidos. No entanto, é menos comum fora das áreas rurais, onde os vetores são comumente encontrados em habitações rústicas. A doença transmitida por vetor é transmitida por transmissão vertical entre mãe e feto ou por contato com fezes/urina contaminadas do inseto reduviídeo (triatomíneo, barbeiro) e, portanto, serve como hospedeiro intermediário para o parasita. Outros modos de transmissão incluem transfusão de hemoderivados, transplante do órgão infectado ou pelo consumo de alimentos ou bebidas infectados. As principais complicações desta doença incluem cardiomegalia, doença gastrointestinal e, em alguns casos, neuropatia periférica. 3° Período Eduardo Zanella 2 A doença de Chagas é uma doença de transmissão vetorial comumente transmitida através do contato com fezes/urina contaminadas do inseto reduviídeo, também conhecido como barbeiro ou triatomíneo. É esse inseto que, por sua vez, carrega o agente causador, o parasita Trypanosoma cruzi. Atualmente, existem 11 espécies diferentes do inseto triatomíneo. As espécies mais comuns no sul dos Estados Unidos são Triatoma sanguisuga e Triatoma gerstaeckeri. Os principais vetores para o México, América Central e América do Sul são Rhodnius prolixus e Triatoma dimidiata. Ambos os sexos do inseto reduviídeo se alimentam de sangue à noite, mas as fêmeas devem se alimentar de sangue para colocar seus ovos. Ao tomar a refeição ou mesmo após a refeição, defecam e expelem os parasitas nas fezes/urina próximo às mucosas, comumente a boca ou os olhos. O parasita então entra através da membrana mucosa ou através de uma mordida aberta. As fezes de insetos reduviídeos infectados carregam o maior número da forma infecciosa tripomastigota. Outras transmissões de modo incluem: Transmissão vertical da mãe para o feto levando à doença de Chagas congênita; Transplante de órgão; Transfusão de sangue e hemoderivados. Após a entrada do parasita por uma ferida aberta ou membrana mucosa, o tripomastigota infeccioso é encontrado no plasma da corrente sanguínea. O estágio amastigota dos parasitas é encontrado dentro de pseudocistos localizados em células musculares ou nervosas. Há uma predileção pelo miocárdio ou plexo mioentérico do trato gastrointestinal, onde se replica por fissão binária. Existem três fases da doença: aguda, indeterminada e crônica. Na infecção aguda, os sintomas podem ocorrer imediatamente após a infecção e podem durar aproximadamente 2 meses. As infecções crônicas podem durar anos. Compreender o ciclo biológico da doença de chagas; Ciclo de vida do protozoário: O protozoário parasita T. cruzi pertence ao reino protista, gênero Trypanosoma e espécie Trypanosoma cruzi. As diferentes formas de vida desse protozoário foram classificadas de acordo com a posição do cinetoplasto em relação ao núcleo da célula e pela exteriorização do flagelo. As principais formas são: amastigotas, tripomastigotas e epimastigotas. Amastigota: forma intracelular, encontrado nos tecidos do hospedeiro vertebrado. Não apresenta flagelo exterior ou membrana ondulante. Epimastigota: extracelular, flagelada e encontrada no trato digestivo do triatomíneo. Seu cinetoplasto tem posição anterior ao núcleo e sua membrana ondulante não é bem desenvolvida. Tripomastigota: é infectiva e encontrada tanto no hospedeiro vertebrado quanto no inseto vetor. O núcleo é central e o cinetoplasto com DNA altamente empacotado fica localizado na região 3° Período Eduardo Zanella 3 posterior. Essa fase pode ser dividida em tripomastigota metacíclico quando se encontra no intestino do inseto vetor e tripomastigota sanguíneo quando se encontra no sangue ou outros fluidos do hospedeiro vertebrado. 1. O vetor se nutre ingerindo o sangue contaminado de um reservatório, que pode ser um animal como ratos, gambás, cachorros... e até mesmo um humano já infectado. Nesse estágio, fala-se em tripomastigota sanguíneo. 2. O tripomastigota entra no barbeiro e começa a se modificar em epimastigotas para poderem se proliferar por divisão binária no intestino do vetor. 3. No intestino grosso do inseto, os epimastigotas aderem hidrofobicamente à cutícula cerosa da parede do intestino posterior e se transformam em tripomastigotas metacíclicos. As diferenciações do T. cruzi são estimuladas pelo AMP cíclico e por ativadores de adenilado ciclase. 4. Durante o repasto sanguíneo (ingestão de sangue), as formas tripomastigotas metacíclicas serão então eliminadas junto com as fezes, então o parasita pode infectar o hospedeiro mamífero entrando em contato com a ferida da picada ou com mucosas. 5. Dentro do hospedeiro vertebrado, T. cruzi irá penetrar uma célula para cumprir seu ciclo evolutivo. Ele pode infectar um gama de células presentes próximo ao local da infecção (musculatura lisa e estriada, macrófagos, células epiteliais, fibroblastos). No interior celular, o parasita se diferencia em amastigota e irá se proliferar por divisão binária no citoplasma da célula invadida. 6. Uma vez que a célula esteja preenchida, o parasita se transforma na forma infectante tripomastigota sanguínea que rompe a parede celular e alcança a corrente sanguínea podendo infectar novas células ou completar o ciclo pela ingestão de sangue contaminado pelo inseto vetor. 3° Período Eduardo Zanella 4 Formas de transmissão: Transmissão pelo vetor: O de maior importância epidemiológica; Penetração dos tripomastigotas metacíclicos em solução de continuidade da pele ou mucosa íntegra; Transfusão sanguínea (fiscalização); Transmissão congênita: Ocorre quando existem ninhos de amastigotas na placenta → circulação fetal; Pesquisa de IgM anti-T.Cruzi no soro do RN; Acidentes de laboratório; Transmissão oral: o leite materno na fase aguda da infecção; o animais ingerindo triatomíneos infectados; o canibalismo entre diferentes espécies de animais; o pessoas ingerindo alimentos contaminados com fezes ou urina de triatomíneos infectados (açaí); o Coito: nunca foi comprovado (apenas experimentalmente); o Transplante: pode desencadear fase aguda grave devido às drogas imunossupressoras. Explicar a manifestação clinica associada, seus exames de diagnóstico e o tratamento da doença de chagas; MANIFESTAÇÃO CLINICA: Considera-se como caso suspeito de DC alóctone o viajante que tenha ingerido alimento supostamente contaminado pelo T. cruzi ou visitado área com triatomíneos e apresente febre prolongada (superior a 7 dias), juntamente com pelo menos um dos seguintes sinais: edema de face ou membros, exantema, linfonodomegalia, hepatomegalia,esplenomegalia, cardiopatia aguda (taquicardia, sinais de insuficiência cardíaca), manifestações hemorrágicas, sinal de Romaña ou chagoma de inoculação; Sintomas: Fase aguda: febre,mal-estar, falta de apetite, edemas (inchaço) localizados na pálpebra ou em outras partes do corpo, aumento do baço e do fígado e distúrbios cardíacos. Em crianças, o quadro pode se agravar e levar à morte. 3° Período Eduardo Zanella 5 FASE AGUDA: Sintomática ou assintomática (+ frequente); A forma aguda sintomática é mais frequente na primeira infância (10%); Sinal de Romaña → penetração na conjuntiva; edema bipalpebral unilateral, congestão conjuntival, linfadenite-satélite,com linfonodos pré- auriculares, submandibulares e outros aumentados de volume, palpáveis, celulite do tecido gorduroso periorbitário e palpebral e presença de parasitos intra e extracelularesem abundância Chagoma de inoculação → penetração na pele; inflamação aguda local na derme e hipoderme, no ponto de inoculação do parasito. Esses sinais aparecem em 4-10 dias após a picada e regridem em 1 ou 2 meses (tbm pode ter linfonodomegalia); Manifestações gerais: febre, edema localizado e generalizado, poliadenia, hepatomegalia, esplenomeglia e, às vezes, insuficiência cardíaca e perhirbações neurológicas. FASE CRÔNICA ASSINTOMÁTICA (INDETERMINADA): Após a fase aguda, longo período assintomático (10 a 30 anos); Positividade de exames sorológicos e/ou parasitológicos; Ausência de sinais e sintomas; ECG normal; Coração, esôfago e cólon radiologicamente normais; Apesar de assintomáticos e de apresentarem lesões muito discretas, tem sido registrado morte súbita de pacientes com esta forma da doença. FASE CRÔNICA SINTOMÁTICA: Forma cardíaca, digestiva ou mista; Reativação intensa do processo inflamatório (nem sempre relacionado com o parasito, que se encontra escasso); FORMA CARDÍACA: - 20% A 40% dos pcts no centro-oeste e sudeste; - Insuficiência cardíaca congestiva (ICC); - Diminuição da massa muscular (substituída por fibrose), destruição do SNA (arritmias) e exsudato inflamatório; - Fenômenos tromboembólicos → cardíacos são mais frequentes, mas também podem ser formados nas veias dos MMII; - QUADRO DE ICC → dispnéia de esforço, insônia, congestão visceral e edema dos membros inferiores evoluindo em dispnéia continua, anasarca e morte. 3° Período Eduardo Zanella 6 FORMA DIGESTIVA: - 7% a 11% dos casos; - Incoordenação motora (aperistalse, discinesia) → Megaesôfago e Megacólon; - Megaesôfago: disfagia, odinofagia, dor retroestemal, regurgitação, pirose, soluço, tosse e sialose; - Megacólon: - Dilatação do sigmoide e reto; - Obstipação!; - Complicações mais graves: obstrução intestinal, perfuração, peritonite. FORMA NERVOSA: - Existência discutida; - Alterações psicológicas, comportamentais e perda de memória; - Denervação ou consequência da isquemia devido à ICC e arritmias? 3° Período Eduardo Zanella 7 DIAGNÓSTICO: CLÍNICO: Origem, sinais de porta de entrada, febre, adenopatia, hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema → AGUDA; Alterações cardíacas + ICC + Alterações digestivas no RX → CRÔNICA. LABORATORIAL: 1. Fase aguda → pesquisa direta e, se necessário, indireta; Exame de sangue a fresco / Gota espessa / Xenodiagnóstico + hemocultura; IgM detectado em média a partir do 15o dia de infecção (RIFI ou ELISA); Xenodiagnóstico: este método tem o objetivo de investigar a presença de parasitas nas fezes e/ou conteúdo intestinal dos insetos vetores mantidos em laboratórios e alimentados com sangue de indivíduos que serão testados. É comumente utilizado para se verificar a infecção chagásica em humanos e animais. Quatro caixas contendo dez triatomíneos cada, fechada em um de seus lados por uma fina rede, são colocadas sobre a face ventral do antebraço do paciente por cerca de trinta minutos. Antes da realização deste exame é necessário que os triatomíneos sejam mantidos em jejum por um período de duas semanas. Após a alimentação com sangue do paciente, os insetos devem ser mantidos a uma temperatura entre 25°C e 30°C e umidade relativa de aproximadamente 85% na ausência de luz. O exame fecal ou do conteúdo intestinal será feito após 30-60 dias para pacientes em fase crônica e 10-30 dias para pacientes em fase aguda. 2. Fase crônica → métodos sorológicos ou pesquisa do parasito por métodos indiretos; A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o diagnóstico sorológico da doença de Chagas seja realizado utilizando sempre dois testes sorológicos diferentes em paralelo, para a obtenção de resultados mais precisos TRATAMENTO: Dois medicamentos nitro-heterocíclicos, nifurtimox e benznidazol, são usados para tratar essa infecção. Ambos os agentes suprimem a parasitemia atuando através da bioredução do grupo nitro, formando radicais livres/metabólitos eletrolíticos. O benznidazol é considerada a 1a opção de tratamento. Além de não serem eficientes para todos os pacientes, o benzonidazol e nifurtimox causam também muitos efeitos colaterais. Durante o tratamento com Nifurtimox, os efeitos colaterais mais frequentes são a anorexia, perda de peso, alterações psíquicas, excitabilidade ou sonolência e manifestações digestivas, como náuseas, vômitos e ocasionalmente cólicas intestinais e diarreia. Já o benzonidazol causa reações de hipersensibilidade no início do tratamento, toxicidade medular e neuropatias periféricas no final do tratamento. O tratamento não é indicado para pacientes grávidas, pacientes com infecções sistêmicas, insuficiência cardíaca, respiratória, renal ou hepática, hemopatias e neoplasias sem possibilidade de tratamento, pessoas de idade avançada e muito debilitadas. Tanto o nifurtimox como o benznidazol são tóxicos e devem ser tomados por longos períodos. 3° Período Eduardo Zanella 8 Mecanismo de ação do benzonidazol: O benzonidazol (BZN) é a única terapia etiológica disponível no Brasil, sendo que seu mecanismo de ação reside na modificação covalente de macromoléculas do parasita através de espécies reativas geradas durante seu metabolismo nitroredutor; Mecanismo de ação do nifurtimox: O Nifurtimox forma um metabólito radical nitro-ânion que reage com os ácidos nucléicos do parasita, causando uma quebra significativa do DNA. Conhecer os dados epidemiológicos da doença de chagas; 16 a 18 milhões de habitantes de 18 países, causando 21.O00mortes anuais e uma incidência de 300.000 novos casos por ano; A transmissão pelos dejetos do triatomíneo é que tem maior importância epidemiológica; Era uma doença exclusiva de triatomíneos e animais silvestres, mas atingiu o humano na medida em que ele interferiu no ciclo silvestre; O T.cruzi circula entre humanos e animais, desde o sul dos EUA até a Argentina; Domiciliação de barbeiros: no peridomicílio, os refúgios correspondem a estábulos, chiqueiros, galinheiros e pombais; e no domicilio, em frestas de paredes de casas de barro batido ou em folhagens de palmeiras usadas para a cobertura de tais habitações, mas também podem refugiar-se nas casas melhor construídas, em fendas de paredes, nos móveis, em malas e baús, colchões e camas de todos os tipos; Os reservatórios silvestres mais importantes são o tatu e o gambá, e domésticos cão, rato e gato; No Brasil, a doença deChagas humana é encontrada nos seguintes estados: Rio Grande do Sul, parte de Santa Catarina e Paraná, São Paulo, Minas Gerais (exceto no sul de Minas), Goiás Tocantins e estados do Nordeste; Entender as condições de saúde indígenas no Brasil; No Brasil, os movimentos em prol da saúde indígena se consolidaram na década de 1990, após o estabelecimento do SUS como sistema universal de saúde e o reconhecimento, na Constituição Federal de 1988, dos direitos indígenas a suas terras, cultura, línguas e tradições; Desde 2011 existe grande incentivo governamental para o fortalecimento dos serviços de APS, através do programa Saúde da Família, que expandiu a cobertura do SUS para cidadãos em áreas remotas e distantes dos grandes centros; Em 2013, com a implantação do Programa Mais Médicos (PMM), mais de 18 mil médicos foram alocados em regiões consideradas de difícil acesso e maior vulnerabilidade, inclusive territórios indígenas; o PMM teve avaliações positivas por parte da população indígena assistida; A maioria das causas de morte entre crianças indígenas no Brasil ocorre por enfermidades preveníveis. Entre as doenças mais prevalentes estão tuberculose, malária, diarreia, parasitoses, desnutrição, dermatoses e doenças sexualmente transmissíveis. Nas últimas décadas houve expressiva redução das taxas de mortalidade infantil entre crianças brasileiras. No entanto, as taxas entre crianças indígenas têm decrescido em menor intensidade. De 2002 a 2007, a desnutrição infantil no país decresceu mais de 60%; todavia, a prevalência de crianças com baixo peso é 4 vezes maior na região Norte, particularmente em associação às comunidades indígenas. A cobertura vacinal no Brasil sofreu grande ampliação, através de estratégias de imunização regulares, inclusive nas populações indígenas.
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