Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 | P á g i n a 2 | P á g i n a Sumário Volume 01 – Hipertensão Porta....................................................................................................03 Volume 01 – Insuficiência Hepatocelular.....................................................................................08 Volume 02 – Síndrome Disfágica..................................................................................................12 Volume 02 – Síndrome Dispéptica...............................................................................................17 Volume 03 – Hemorragia Digestiva..............................................................................................23 Volume 04 – Síndrome Álgica (Dor Abdominal)..........................................................................26 Volume 05 – Obstrução Intestinal.................................................................................................37 Volume 05 – Hérnias......................................................................................................................41 Volume 06 – Oncologia (Pulmão, Tireoide, Próstata e Bexiga)..................................................44 Volume 06 – Oncologia (Esôfago, Estômago, Cólon, Pâncreas e Fígado)................................50 Apêndice – Oncopediatria.............................................................................................................60 Volume 07 – Síndrome Álgica (Dor Lombar)................................................................................61 Apêndice – Disfunção Erétil..........................................................................................................65 Volume 08 – Trauma......................................................................................................................66 Apêndice – Trauma x Pediatria.....................................................................................................73 Volume 09 – Perioperatório...........................................................................................................75 Especial – Queimaduras e Manejo de Feridas.............................................................................79 Especial – Reumatismo de Partes Moles (Doenças Periarticulares).........................................83 Especial – Otorrinolaringologia....................................................................................................85 Cirurgia Vascular...........................................................................................................................89 Proctologia.....................................................................................................................................92 Cirurgia da Obesidade...................................................................................................................94 Cirurgia Pediátrica.........................................................................................................................96 Ortopedia.......................................................................................................................................98 3 | P á g i n a Volume 01 – Hipertensão Porta Anatomia Vascularização normal: artéria – capilar – veia. Sistema porta: artéria – capilares – veia – capilares – veia (veia entre capilares). Sistema porta hepático: o Veia mesentérica superior + veia esplênica = Veia porta – capilares – veias hepáticas. o Veia gástrica esquerda desemboca na veia porta., o Veias gástricas curtas desembocam na veia esplênica. o Veia mesentérica inferior desemboca na veia esplênica Hipertensão Porta Hipertensão porta: Definida pelo aumento do gradiente de pressão > 5 mmHg. Ninguém fica medindo na prática, o que observamos é a clínica do paciente. Clínica da hipertensão porta (se o sangue não passa direito, a pressão vai aumentar). Esplenomegalia Varizes (o sangue não consegue fluir pelo caminho ideal, acaba por pegar uma “rota” diferente – veias colaterais – para chegar na veia cava inferior). o Varizes esofágicas (veia gástrica esquerda) o Varizes de fundo gástrico (veias gástricas curtas) o Varizes anorretais (veia mesentérica inferior) o Varizes abdominais (veia umbilical) Encefalopatia (a amônia não é metabolizada em ureia, sendo tóxica ao SNC). Ascite (o sangue do espaço porta precisa ser levado para a veia centro lobular, mas no meio do caminho é ideal que o sangue entre em contato com os hepatócitos para que seja metabolizado a amônia, por exemplo, através de capilares fenestrados, chamados sinusóides; se obstruir a veia centro lobular, aumenta a pressão nos sinusoides que acabam por concentrar liquido para fora do sistema porta, na tentativa de diminuir a pressão dentro do sistema porta – assim, se tem muita ascite, não tem formação de muitas varizes o A ascite é uma válvula de escape – pois nas obstruções pós-sinusoidais, a pressão começa a se elevar e para isso ocorre o extravasamento de líquido pelos capilares fenestrados, para que a pressão venha a diminuir. Classificação da Hipertensão Portal Pré-hepática Intra-hepática muitas varizes e pouca ascite o Pré-sinusoidal o Sinusoidal o Pós-sinusoidal poucas varizes e muita ascite Pós-hepática Pré-Hepática Função hepática boa. Ascite não é esperada, mas pode ocorrer por outras causas associadas. Causas: o Trombose da Veia Porta (mais comum da pré-hepática) – Crianças, paciente em estado de hipercoagulabilidade (como SAF – síndrome antifosfolipídica) o Trombose de Veia Esplênica (Hipertensão porta segmentar) – ocorrendo varizes de fundo gástrico isoladas. A causa mais comum é a pancreatite crônica. Pode ocorrer de veia mesentérica inferior, mas é raro 4 | P á g i n a Intra-Hepática 1) Pré-sinusoidal Esquistossomose: parasita fica no espaço porta; uma infestação importante pode fazer uma reação granulomatosa que invade os sinusóides (pelos ovos) e provoca hipertensão sinusoidal, causando ascite. 2) Sinusoidal Cirrose → mais comum de todas. 3) Pós-sinusoidal: por oclusão da veia centrolobular (doença veno-oclusiva) Doença Enxerto-Hospedeiro – oclusão granulomatosa, mais comum no Brasil é o transplante Doença do Chá da Jamaica (Bush Tea Disease) – Chá de maria mole Pós-Hepática Síndrome de Budd-Chiari o Trombose da veia hepática + hepatomegalia o Causas: policitemia vera + hipercoagulabilidade, ACO, neoplasia hepática Obstrução da Veia hepática / Cava Inferior o Edema de membros inferiores o Causas: Trombose, neoplasia Doenças cardíacas (+ comum da pós) o Turgência Jugular o Causas: ICC, pericardite constritiva, insuficiência tricúspide Varizes Esofagogástricas Formação das Varizes Vai ocorrer quando o gradiente de pressão for > 10 mmHg Assim, a veia gástrica esquerda, por exemplo, que ia para a veia porta, faz um novo caminho por conta da alta pressão, desviando para a veia cava inferior, formando as varizes. Quando o gradiente de pressão for > 12 mmHg, temos em mente o risco aumentado da ruptura das varizes. A Abordagem 1º Cenário – Paciente que possui varizes, mas nunca sangrou Clínica de hipertensão portal ou com risco de hipertensão portal (cirrótico) = Rastreio com EDA. Se vier com varizes na endoscopia digestiva alta vamos fazer a profilaxia primária se: o Varizes de alto risco (médio calibre > 5mm ou grosso calibre > 20mm) o Child B e C o Cherry-red spots (pontos vermelhos) Na prática fazemos profilaxia primária em todos os pacientes. A profilaxia primária de escolha deve ser feita com: o β-bloqueador não-seletivo (propranolol, nadolol, carvedilol) o Ligaduraelástica por EDA (alternativa). o Obs.: O β-bloqueador deve ser feito com a maior dose tolerada pelo paciente. Este diminui o fluxo esplênico diminuindo a pressão do sistema porta. 2º Cenário – Paciente que possui varizes e está sangrando Estabilizar a hemodinâmica o Cristaloides ± Hemácias (Hb < 7) ± plaquetas (se < 50 mil) ± Plasma (se INR > 1,7), Prazol o Iniciar Terlipressina (vasoconstrição esplâncnica) Descobrir fonte e tratamento agudo do sangramento o EDA em até 12h – confirma e trata Ligadura elástica (padrão ouro) Escleroterapia (depende de fatores de coagulação) Se varizes gástricas: cianoacrilato. o Drogas – vasoconstricção do leito esplâncnico Octreotide / Terlipressina / Somatostatina OU 5 | P á g i n a o Balão (se sangramento incontrolável por EDA + drogas) Sengstaken-Blakemore – balão de 3 vias Pode utilizar por no máximo 24h pois traciona o esôfago podendo gerar necrose o TIPS (Shunt Portossistêmico Intra-Hepático Transjugular) Realizada pela hemodinâmica, contrasta a veia porta e mede sua pressão Se hemorragia refratária ou no lugar da cirurgia Vantagem: “ponte” para transplante pois controla sangramento e ascite Desvantagem: encefalopatia (± 30% dos casos, pois toxina não é depurada), estenose no trajeto e disponibilidade (não tendo TIPS, faz balão) Contraindicação: IC direita / doença cística o Cirurgias (urgência) Se faz shunts não seletivos – pouco utilizado hoje por conta do TIPS Causam encefalopatia / insuficiência hepática Prevenir complicações o Profilaxia de peritonite bacteriana espontânea (PBE) – paciente faz hiperperfusão intestinal fazendo translocação bacteriana (sobrevida cai para 9 meses) Ceftriaxone 1g EV, após melhora passar para Norfloxacino 400mg 12/12h VO até completar 7 dias 3º Cenário – Paciente já sangrou, resolveu e agora volta com novo sangramento 70% de ressangramento em 1 ano Profilaxia secundária: o β-bloqueador o Ligadura elástica Se não der certo: programar TIPS, transplante ou cirurgia eletiva (shunt seletivo esplenorrenal distal – Warren) ou cirurgia de desconexão ázigo-portal. O shunt seletivo esplenorrenal distal (Cirurgia de Warren) – acaba com as varizes, mas pode piorar a ascite o Vantagem: mantém fluxo mesentérico portal, diminuindo chance de encefalopatia o Desvantagem: pode piorar a ascite Desconexão ázigo-portal o Ligadura de veias gástricas + esplenectomia o Mais simples, boa para esquistossomose (Cirurgia de Vasconcelos – Esqueletização do esôfago distal e estômago proximal) Ascite Avaliação – Exame físico Piparote: ver se a onda de líquido se propaga pelo abdome com anteparo na linha média (> 500 ml) Macicez móvel – percussão em diferentes decúbitos Semicírculo de Skoda – percussão do centro para a periferia Toque retal – percebe liquido ascítico Diagnóstico USG – Exame de escolha, consegue identificar a ascite a partir de 100ml Paracentese diagnóstica o Todo paciente com ascite deve ser submetido à paracentese diagnóstica. o A paracentese deve ser feita do lado esquerdo, entre o terço distal e médio da linha entre a espinha ilíaca anterossuperior e o umbigo, devido ao sigmoide ser mais flexível e com reflexão posterior no peritônio. o Temos que diferenciar Transudato (hipertensão portal) e Exsudato (doença do peritônio) o Para isso usamos o gradiente de albumina soro-ascite (GASA) Gradiente Albumina Soro – Albumina Ascite (GASA) GASA ≥ 1,1 – Hipertensão Portal (Transudato) PTN < 2,5g/dl: Cirrose PTN > 2,5g/dl: IC, Budd-Chiari GASA < 1,1 – Neoplasia, TB, pâncreas, síndrome nefrótica (Exsudato) PTN < 2,5g/dl: Síndrome nefrótica PTN > 2,5g/dl: Neoplasia, BK, pâncreas 6 | P á g i n a Tratamento Restrição de sódio: 2g/dia (4-6g sal/dia) Restrição hídrica: 1 a 1,5 L/dia se Na < 125 (hiponatremia dilucional) Se não adiantar: o Diuréticos VO: espironolactona e furosemida (100:40) o Espironolactona: iniciar com 100, máximo 400mg/dia o Furosemida: iniciar com 40, máximo 160mg/dia (furosemida evita distúrbio hidroeletrolítico) o Aumentar doses a cada 3-5 dias o Objetivo: diminuição de 0,5kg/dia ou 1kg/dia se tiver edema Paracentese de alívio: indicado na ascite sintomática (tensa / dificuldade respiratória) Tratamento da Ascite Refratária o Falência, recorrência precoce ou azotemia, Na < 120, K > 6 o Não invasivo: considerar suspender β-bloqueador o Paracenteses terapêuticas seriadas Se paracentese de grande volume (> 5L) – repor 6-10g de albumina por litro retirado ao total (retirou 8L de líquido, faz 80g de albumina) o Outras opções: TIPS, shunt peritônio-venoso, transplante hepático Complicações Peritonite bacteriana espontânea Encefalopatia hepática Síndrome hepatorrenal Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE) Translocação monobacteriana (E. coli, Klebsiella) – o líquido da ascite tem poucas proteínas, não tem proteção contra a translocação. Clínica o Pode ser assintomática o Ascite o Febre (70%) o Dor abdominal (60%) o Encefalopatia (55%). Diagnóstico: ascite com Polimorfonucleares (PMN) ≥ 250/mm³ + cultura positiva monobacteriana Tratamento: cefotaxima 2g 8/8h por 5 dias o Obs.: ≥ 250/mm³ = tratamento antes da cultura. Profilaxia Primária – Quando faz? o Aguda: no sangramento varicoso → Ceftriaxone/ norfloxacino por 7 dias o Crônica: se PTN ascítica < 1,5 → Norfloxacino 400mg/dia para resto da vida Profilaxia Secundária o Após PBE para todos, tempo indeterminado o Norfloxacino 400mg/dia Diagnósticos diferenciais o Ascite neutrofílica: PMN > 250 mm³ / cultura negativa Tratamento = PBE (cefotaxima por 5 dias) o Bacterascite: PMN < 250 mm³ / cultura positiva Sintomático: fazer ATB (cefotaxima) Assintomático: nova paracentese, pode não ter dado tempo de resposta bacteriana na primeira. o Peritonite Bacteriana Secundária Etiologia polibacteriana. É abdome cirúrgico – peritonite franca (DB+) Ocorre por patologia intestinal (perfuração intestinal, apendicite, diverticulite) Diagnóstico: ascite com PMN ≥ 250/mm³ + 2 ou mais dos seguintes: Proteínas > 1g/dl Glicose < 50mg/dl LDH elevado Tratamento: cefotaxima + metronidazol + avaliação cirúrgica + Exame de imagem para investigação 7 | P á g i n a Encefalopatia Hepática Fisiopatologia: aumento da amônia (NH3) e outras toxinas pela não metabolização em ureia e consequente acúmulo com extravasamento pela barreira hemato-encefálica Causas: insuficiência hepatocelular (o sangue até chega, mas os hepatócitos não conseguem metabolizar), hipertensão porta; precipitada por hemorragia digestiva, infecções (PBE), constipação, hipocalemia e alcalose, diurético. Diagnóstico: clínico Clínica: sonolência, flapping, desorientação, inversão do ciclo sono-vigília (manifestação + precoce). Tratamento: o Evitar fatores precipitantes o Evitar restrição proteica – tem alto risco de desnutrição, deve-se manter o suporte nutricional, tentar priorizar proteínas de origem vegetal o Lactulose: efeito laxativo, também deixa o pH mais ácido, transformando NH3 (amônia) em NH4 (amônio), que não ultrapassa a barreira hemato-encefálica o ATB: neomicina, metronidazol, rifaximina (escolha: prevenção de recorrência, menor número de internamentos hospitalares, menor duração no tempo de internação hospitalar, maior economia de recursos apesar do custo da droga) – diminui bactérias do cólon o Transplante: tratamento definitivo Escala de West Haven Grau I – diminuição da atenção e euforia Grau II – Asterix ou flapping, letargia e desorientação Grau III – sonolência, desorientação grave e torpor Grau IV – coma Síndrome Hepatorrenal O paciente com falência hepática (cirrose mais avançada) tem tendência à vasodilatação, pelo aumento de oxido nítrico circulante. Ocorre naquele hepatopata quando o “rim se suicida”. Avasodilatação esplâncnica diminui a perfusão renal, e os rins fazem vasoconstrição intensa para compensar, sofrendo com isto. Em resumo, é uma vasodilatação periférica + vasoconstrição renal = IRA. Diagnóstico de exclusão o Hepatopata grave + Hipertensão Portal + IRA pré renal que não melhora com volume o Urina concentrada e diminuição de sódio o Sem choque, sem droga nefrotóxica e; o Urina com baixo teor de sódio. Classificação Tipo 1 Rápida progressão da IRA (<2 sem) Precipitada por PBE Creatinina duplica e fica > 2,5 Tipo 2 Insidiosa, melhor prognóstico, espontânea Creatinina 1,5-2mg/dl Tratamento o Evitar descompensação o Albumina + Terlipressina (vasoconstrictor esplâncnico) o ± Hemodiálise o Se não der certo: transplante hepático Profilaxia o Albumina 1,5g/kg no 1º dia e 1g/kg no 3º dia o Se creatinina > 1 ou BT > 4 (na prática... na prova sempre fazer!) 8 | P á g i n a Volume 01 – Insuficiência Hepatocelular Síndrome da Insuficiência Hepática Aguda (“fulminante”): icterícia, encefalopatia, hemorragia Crônica: “estigmas hepáticos” (Cirrose) o Entre o hepatócito e o sinusoide existe um espaço virtual chamado de espaço de Disse, que é onde inicia-se o processo de cirrose. No espaço de Disse encontram-se as células estreladas quiescentes, que se ativam em qualquer agressão crônica do fígado, causando fibrose hepática pela deposição de colágeno, fechando as fenestras dos sinusoides; desta forma, o hepatócito não consegue mais realizar sua função e perde suas microvilosidades. A fibrose “aperta” de fora para dentro o sinusoide hepático, aumentando sua pressão, que é transmitida retrogradamente, atingindo a veia porta. o Células de Kupffer – são macrófagos residentes que vão conter patógenos e toxinas entéricas, neutralizadas no fígado. o A fibrose forma “ilhas” de hepatócitos, que se tornam insuficientes. Como os hepatócitos tem grande capacidade de regeneração, a biópsia demonstra traves de fibrose com nódulos de regeneração hepática; apesar disso, estes nódulos não têm capacidade plena, pois continuam isolados pela fibrose. Cirrose = fibrose + nódulos de regeneração (o desarranjo estrutural é mais importante do que a perda de células parenquimatosas) – O processo de lesão-regeneração pode fazer com que ocorra um erro na divisão celular, levando à metaplasia. Logo, a cirrose hepática é um fator de risco para CHC (Carcinoma Hepatocelular). Manifestações da Insuficiência Hepática (Cirrose) Hiperestrogenismo (ginecomastia, atrofia testicular, telangiectasias, eritema palmar, rarefação de pelos, queda da libido). O fígado ativa testosterona e depura precursor de estrogênio, então, na doença hepática, sobram precursores de estrogênio, gerando hiperestrogenismo + hipoandrogrenismo (fenótipo feminino) Baqueteamento digital Contratura de Dupuytren – flexão 4o/5o dedo (álcool) Tumefação de parótidas (sugestivo de álcool) Causas de Insuficiência Hepática (Cirrose) Vírus – HBV / HCV / HDV Tóxica – Alcoólica/ Não alcoólica - Triglicerídeos / Drogas Autoimune – Hepatite AI / Colangite B. 1ª / Colangite Esclerosante Estadiamento Child-Pugh (BEATA) 1 ponto 2 pontos 3 pontos Bilirrubina < 2 2 – 3 >3 Encefalopatia ----------------- Grau I – II Grau III – IV Albumina >3,5 3,5 – 3,0 < 3 TAP < 4s 4 – 6 >6s Ascite ----------------- Leve (USG) Mod - Grave Child-Pugh A – 5 e 6 pontos Child-Pugh B – 7 e 9 pontos Child-Pugh C – Maior que 9 pontos MELD (BIC) Bilirrubina INR Creatinina Escore para estabelecer prioridade na fila de transplante 9 | P á g i n a Doença Hepática Gordurosa Não-Alcoólica Tem prevalência de 20% no mundo, e seu grande fator de risco é a síndrome metabólica. A fisiopatologia envolve a resistência insulínica, ocorrendo acúmulo de gordura no fígado pela deficiência de ação da insulina (triglicerídeos no fígado – agredindo os hepatócitos). Dos 25% com esteatose, 3-5% desenvolvem esteato-hepatite (NASH) e 1-3% evoluem para cirrose. 10 a 50% dos pacientes apresentam > 45 anos, DM, obesidade Manifestações Assintomático Dor; aumento de transaminases (TGP > TGO) Diagnóstico Esteatose por imagem (comum) ou biópsia (raro) Excluir álcool e outras causas de Esteatose (HCV, Wilson...) Tratamento: dieta + exercício / Glitazona / vitamina E As glitazonas reduzem a resistência insulínica; maior benefício que a metformina A vitamina E reduz o estresse oxidativo, diminuindo a possibilidade de progressão da doença Doença Hepática Gordurosa Alcoólica Os limites seguros de ingestão de álcool é de 21U e 14U para homens e mulheres, respectivamente (1 lata = 1,7U). Acima destes limites o indivíduo está exposto à doença hepática. Alguns questionários detectam abusadores de álcool, como o CAGE e o AUDIT. CAGE: Cut-Down, Annoyed, Guilty, Eye-Opener Alguns exames laboratoriais podem detectar abusadores, como o aumento de GGT e de VCM. A hepatite alcoólica ocorre por uma libação em um bebedor crônico, e o culpado é o acetaldeído. Hepatite: febre, icterícia, dor abdominal, TGO > TGP (AST > ALT), > 20-40g/dia etanol Leucocitose: reação leucemoide (acetaldeído tem efeito quimiotático) Biópsia: corpúsculos de Mallory Tratamento: consiste em corticoide por 4 semanas → Prednisolona + abstinência Hepatite Alcoólica Hepatite não Alcoólica Laboratório AST > ALT AST < ALT História >20-40g/dia de etanol Febre Dor abdominal Icterícia Síndrome metabólica Assintomática Tratamento Abstinência Corticoide Perda de peso Glitazona Hepatite B Crônica Caracteriza-se por HBsAg (+) > 6 meses Cronificação: o Adultos 1-5% cronificam, destes 20-50% evoluem para cirrose e destes 15% para CA, mas o paciente crônico pode ser um portador inativo também e mais nada. o Crianças 20-30% o RN 90% Indicações para o Tratamento Indicações Hepáticas Indicações Renais Indicações quando a história Lesão ativa: HBeAg (ou HBV- DNA > 2000 UI/ml) + ALT > 2x Atividade inflamatória: biópsia ou elastografia hepática Cirrose GN membranosa PAN (poliarterite nodosa) Coinfecção HIV e HCV Imunossupressão ou QT História familiar de hepatocarcinoma 10 | P á g i n a Tratamento Indicações Medicação Via + tempo de tratamento Contraindicações HbeAg (+) Interferon Via SC 48 sem Não pode se disfunção hepática ou cardíaca, gestante, citopenias, câncer, doença autoimune HbeAg (-), Sem resposta ao INF Ou HIV Tenofovir (tenefrovir) Via oral, tempo indefinido Não pode se doença renal Pacientes com HIV Hepatopata grave Doença renal Imunossupressão Quimioterapia Entecavir Via oral, tempo indefinido ------------------------------------------- Objetivo: negativar HBeAg, ou, pelo menos, anti-HBeAg + Hepatite C Crônica Caracteriza-se por HCV-RNA positivo > 6 meses Cronificação 80-90% o Cirrose 20-30% o Hepatocarcinoma 5-10% o Demais tem curso variável, diferente da hepatite B, por isso, todos que tem hep. C irão tratar o O tratamento depende do genótipo (1a, 1b, 2, 3, 4, 5, 6) e há diversos antivirais disponíveis Objetivo: HCV-RNA negativo (resposta virológica sustentada) REGRA 1 Todos os genótipos Sofosbuvir + Daclatasvir REGRA 2 Tratamento = 12 semanas, exceto...HIV / Cirrose Child B e C = 24 sem REGRA 3 Opcional para melhorar resposta Ribavirina Hepatite B Hepatite C Cronificação RN > Criança > Adulto 80 – 90% Extra-hepática PAN e GN membranosa Crioglobulina e GN mesangiocalicial Tratamento Alguns PEG-INF, TDF, Entecavir Todos (So+Da) Doença de Wilson → cobre Conceito O cobre é necessário na fabricação de proteínas e enzimas. O excesso é excretado através do fígado. Definição O indivíduo nasce com uma mutação na ATP7B (adenosina trifosfatase) que diminui a excreçãohepática de cobre na bile. O acúmulo inicia-se no fígado e posteriormente no organismo. O excesso de cobre liga-se à ceruloplasmina, assim ocorre cobre aumentado e ceruloplasmina baixa (por não fabricar). Epidemiologia Jovem (5 – 30 anos) Rara (1:30.000) Clínica Hepatite aguda e crônica Alteração do movimento e personalidade (“Parkinson”) Anéis de Kayser-Fleisher (99% com lesão SNC e 50% com hepatopatia) → lâmpada de fenda Outros: hemólise e tubulopatia 11 | P á g i n a Diagnóstico Triagem: Diminuição de ceruloplasmina Confirmação: anéis KF, aumento de cobre (urina, hepático), genética. Biópsia hepática se dúvida (padrão-ouro) Tratamento: Quelantes: trientina (preferível) / d-penicilamina (mais tóxica) Transplante (cura): casos graves ou refratários Hemocromatose hereditária Definição É uma doença genética causada pela mutação do gene HFE, levando ao aumento da absorção intestinal de ferro e seu consequente acúmulo. Epidemiologia Apesar de afetar geneticamente homens e mulheres, os homens apresentam a doença mais frequentemente, uma vez que as mulheres menstruam e eliminam ferro mensalmente. Doença comum (1:250), caucasiano, 40-50 anos Clínica – 6Hs Hepatomegalia Hiperglicemia Hiperpigmentação Heart (ICC, arritmia) Hipogonadismo “Hartrite” Diagnóstico Triagem: ↑ Ferritina e Saturação da transferrina Confirmação: Teste genético → mutação C282Y e H63D Dúvida: biópsia hepática/RNM. Tratamento Flebotomia (ferritina 50ng/mL) – sangria Transplante (não cura → o defeito está na absorção intestinal) 12 | P á g i n a Volume 02 – Síndrome Disfágica Anatomia do Esôfago O esôfago é um tubo muscular que empurra a comida para o estômago. Seu terço superior possui músculo estriado e seus dois terços inferiores possuem músculo liso, controlados pelos plexos mioentéricos de Meissner e Auerbach. O esfíncter esofagiano inferior (EEI) possui um epitélio de transição, de pavimentoso estratificado para glandular; esta região chama-se linha Z. A cárdia é a região que compreende 2cm acima e abaixo da linha Z. Disfagia Disfagia é a dificuldade de engolir os alimentos Pode ser de transferência ou de condução. o Disfagia de transferência → dificuldade de transferir o alimento da boca para o esôfago. o Disfagia de condução → alimento já está dentro do esôfago, e este não consegue conduzir o alimento até o estômago. Tipos de Disfagia Transferência Condução Mais alta (orofaringe) Dificuldade de iniciar a deglutição Clínica: “Engasgo” Causas: Doenças musculares e/ou Doenças neurológicas Inicia a condução, mas o alimento fica preso Clínica: “Entalo” Causas: Obstrução mecânica e/ou Distúrbio motor Disfagia de Condução Clínica Disfagia (entalo) Regurgitação Halitose – Como o alimento fica por muito tempo também dentro do tubo digestivo, acaba sofrendo a ação de bactérias (putrefação) Perda de peso Abordagem Inicial Esofagografia baritada Causas Obstrução mecânica Distúrbio motor Divertículos (Zenker) Anéis de Schatzki Estenose péptica Tumor Acalásia (Chagas) Espasmo Esofagiano Difuso Esclerodermia Divertículo de Zenker Hipertonia do Esfíncter Esofagiano Superior (músculo cricofaríngeo) – a princípio, como se trata de uma musculatura esquelética, voluntária, basta fazer uma deglutição com mais força (deglutição ruidosa), que o alimento consegue passar através do esfíncter, mas após alguns anos contraindo aquela musculatura com mais intensidade ocorre expulsão da mucosa e submucosa por entre as fibras horizontais do músculo cricofaríngeo e oblíquas do músculo tireofaríngeo (região chamada de Triangulo de Killin), formando por pulsão o divertículo falso de Zenker (falso pois só apresenta mucosa e submucosa) Hipertonia do cricofaríngeo Herniação da mucosa e submucosa (divertículo falso) Divertículo por pulsão Acomete mais idosos (7ª década), sendo mais à esquerda 13 | P á g i n a De maneira característica, nas provas é informado de que o paciente tem alívio das queixas com compressão dessa “bolsa” (empurra o alimento e esvazia o divertículo). Se houver rompimento dessa bolsa (ex.: por passagem de sonda) → alimentos + bactérias caem na cavidade torácica → quadro grave de mediastinite! Clínica Disfagia Halitose Regurgitação Massa palpável Diagnóstico Esofagografia baritada (padrão-ouro) – imagem adição Evitar EDA por risco de perfuração Tratamento Divertículo < 2 cm → cricofaringomiotomia Divertículo ≥ 2 cm → miotomia + diverticulopexia (até 5cm) ou diverticulectomia o Pexia – vai fixar o divertículo na fáscia pré-vertebral. o Ectomia – retirada do divertículo Divertículo ≥ 3cm → Endoscopia (cricofaringomiotomia + diverticulotomia) Divertículo Médio-Esofágico Ocorre por tração (divertículo verdadeiro), sendo mais à direita, pela presença de linfonodos inflamatórios. Divertículo Epifrênico Ocorre por pulsão (divertículo falso), por conta de distúrbios motores Diagnóstico – esofagografia com imagem em adição Tratamento em casos sintomáticos ou > 2 cm 14 | P á g i n a Acalásia O esôfago possui o plexo nervoso autônomo submucoso (de Meissner) e o plexo nervoso autônomo mioentérico (de Auerbach), os quais são responsáveis pela peristalse. Quando estes são destruídos ocorre perda da contração esofágica (bagunça tudo) Acalásia primária (idiopática) ocorre destruição do plexo de Auerbach, por ser antígeno específico. Acalásia secundária ocorre destruição pela Doença de Chagas, destruindo tanto o plexo de Auerbach quanto de Meissner. Características da acalásia Hipertonia do Esfíncter esofagiano inferior (P > 35 mmHg) Perda do relaxamento fisiológico do EEI Peristalse anormal Clínica Disfagia Regurgitação Perda de peso (difere do CA de esôfago na velocidade da perda de peso, no CA é muito rápido) Ocorre em pacientes mais jovens (40 – 50 anos), difere do CA, que apresenta pacientes mais velhos Doença arrastada. Diagnóstico Esofagografia baritada o Sinal do bico de pássaro / chama de vela – afilamento do esôfago distal e retenção do contraste com dilatação à montante Endoscopia digestiva alta – não é boa para diagnóstico, mas se faz para afastar possibilidade de câncer de esôfago Esofagomanometria (padrão-ouro) – fecha diagnóstico por identificar achados fisiopatológicos. o Ausência de relaxamento do EEI, hipertonia do EEI, peristalse anormal Tratamento – Classificação de Mascarenhas Grau I Até 4 cm Conservador – Nitrato, antagonistas de canal de cálcio, sildenafil, botox Grau II 4 - 7 cm Dilatação pneumática por balão (endoscopia) Grau III 7 - 10 cm Cardiomiotomia a Heller + fundoplicatura (evitar refluxo) Grau IV > 10 cm Dolicomegaesôfago libera nitrito/nitrado, não servindo mais como condutor, sendo fator de risco para CA. Conduta: Esofagectomia total 15 | P á g i n a Anel de Schatzki Estreitamento laminar em corpo do esôfago Clínica Disfagia intermitente: grandes pedaços de alimentos Síndrome do Steakhouse Diagnóstico Esofagografia baritada Tratamento Dilatação endoscópica do anel Síndrome de Plummer-Vinson ou Peterson-Kelly Presença de anel hipofaríngeo associado à anemia ferropriva – mais alto Espasmo Esofagiano Difuso (EED) Caracteriza-se por contrações vigorosas e simultâneas, principalmente nos 2/3 inferiores do esôfago. Clínica Disfagia Cólica esofágica (Precordialgia) Diferencial: IAM Diagnóstico Esofagografia baritada – esôfago em saca-rolhas (só aparece durante o espasmo) Esofagomanometria com teste provocativo (padrão-ouro) o Contraçõesvigorosas e simultâneas Tratamento Nitratos, antagonista de cálcio para relaxamento; psicoterapia Miotomia longitudinal (casos refratários, último recurso) Esclerodermia (Esclerose Sistêmica) Agressão ininterrupta, permanente, na qual os anticorpos não se desligam do tecido, levando a um processo de fibrose (esclerose) do tecido conjuntivo. Os anticorpos levam a uma vasoconstrição permanente do tecido conjuntivo, causando sofrimento isquêmico do território pela má perfusão. Atinge mais mulheres de meia idade (30 – 50 anos). Cursa com fibrose do tecido conjuntivo Manifestações em diversas partes do corpo Órgãos mais afetados: pele, esôfago, pulmão e rim Formas Clínicas Localizada: atinge somente a pele. o Morfeia: lesão em fibrose delimitada no tórax o Lesão em golpe de sabre: aprofundamento por fibrose na testa do paciente Sistêmica: atinge órgãos internos ± pele (FAN + em 90%) o Possui três formas de apresentação. o É a mais cobrada em provas Cutâneo difusa: atinge todo o corpo e a pele de forma difusa. Anti-topoisomerase I (anti-Scl 70) Anti-RNA polimerase III Cutâneo limitada: a lesão cutânea limita-se a regiões periféricas, distais. Anti-centrômero Visceral (< 5%): difícil diagnóstico, atinge apenas órgãos internos (pouco importante na prova!) 16 | P á g i n a Lesões da forma sistêmica visíveis à olho nu Esclerodactilia: a pele dos dedos sofre processo cicatricial, que inicia com espessamento dos dedos. o Os dedos mais espessados, inicialmente, são chamados de puppy-finger. o A pele tem aspecto reluzente, brilhosa. o A retração da pele em função da fibrose causa mão-em-garra. o Úlceras em pontas dos dedos, que induz reabsorção óssea das falanges distais, o que leva ao encurtamento dos dedos das mãos. Fácies da Esclerodermia: repuxamento da pele facial. o Afinamento do nariz. o Microstomia – retração da pele diminui a capacidade de abrir a boca. Calcinose: calcificação do subcutâneo, principalmente dos dedos das mãos. Algumas vezes pode ser vista à olho nu. Telangiectasia: principalmente das mucosas labiais. A teoria é de que os vasos sofram vasoconstrição e os remanescentes sofreram vasodilatação compensatória. Fenômeno de Raynaud: vasoconstrição transitória dos dedos das mãos, com alteração trifásica da cor. o Palidez → Cianose → Rubor o Inicia com palidez, e depois pelo acúmulo de hemoglobina carboxilada, fica cianótico, e depois, com o retorno da circulação, os dedos ficam ruborizados. Por vezes pode ser apenas palidez e rubor. o Precipitado por frio e estresse emocional. o Além de ser muito comum, pode ser a primeira manifestação da esclerodermia. Lesões da forma sistêmica não visíveis à olho nu Esôfago (80-90%): todas as formas sistêmicas lesam o esôfago. o Lesa o tecido conjuntivo próximo à musculatura esofagiana, causando alterações contráteis, pela lesão da musculatura lisa esofagiana. o Refluxo / disfagia de condução (alimento entalado no tórax). o Síndrome CREST. C – Calcinose R – Raynaud E – Esofagopatia S – Sclerodactily T – Telangiectasia Rim: Crise renal da esclerodermia (forma cutâneo difusa), por uma vasoconstrição difusa da vascularização renal, causando uma IRA oligúrica. o ↑PA, oligúria, anemia hemolítica microangiopática, ↓plaquetas → iECA o Ativação do SRAA – grande ativação, levando a alterações pressóricas graves, com aumento da PA. o Não é mais a que mais mata na esclerodermia, após ser tratada adequadamente. Pulmão o Alveolite com fibrose (forma cutâneo difusa) TC tórax: aspecto de vidro fosco (inflamação) / aspecto em favo-de-mel (fibrose) Tratamento: imunossupressão (trata apenas a inflamação) Principal causa de morte na esclerodermia. o Hipertensão pulmonar (forma cutâneo limitada) 17 | P á g i n a Volume 02 – Síndrome Dispéptica Caracteriza-se pela presença de uma das três manifestações Dor (queimação epigástrica que dura pelo menos 1 mês) Plenitude pós-prandial (embrulha o estômago) Saciedade precoce Observações Risco de CA: >40 anos, sinal de alarme (diminuição do peso, anemia, disfagia e/ou odinofagia) DRGE não é dispepsia, mas confunde (abordagem própria) Causas Doença orgânica (25%) – doença biliar, câncer, refluxo, úlcera péptica Sem causa aparente (75%) – dispepsia funcional (não há causa orgânica, sempre será um diagnóstico de exclusão) Quando iremos indicar a EDA na primeira consulta em um paciente com síndrome dispéptica? Idade > 45 anos Presença de sinais de alarme para câncer o Emagrecimento o Anemia o Disfagia (dificuldade de engolir) o Odinofagia (dor durante a deglutição) o História familiar ou cirurgia o Hematêmese o Linfadenopatia o Icterícia o Vômitos o Massa abdominal Não responde a terapia com IBP Recidivaram sintomas após o tratamento clínico Não tem indicação de EDA – faz sorologia para H. pylori (ELISA) Pirose não é sinal de alarme!!!! 18 | P á g i n a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) Definição Refluxo suficiente que gera alterações clínicas ou lesão associada quando vista no EDA Retorno de um conteúdo gástrico (ácido) na direção do esôfago. A ocorrência de um fenômeno de refluxo não é necessariamente patológica. Existe uma entidade chamada de refluxo fisiológico (todos já tiveram e podem voltar a apresentar algum episódio ao longo da vida). Fisiopatologia Perda de mecanismos antirrefluxo o Esfíncter esofagiano inferior com baixo tônus basal (hipotonia, relaxamento inadequado) o Junção esôfago-gástrica alterada (desestruturação anatômica – Hérnia de hiato) Quadro Clínico Esofagiano (Típicos): pirose e regurgitação Extra-esofagiano (Atípicos): faringite, rouquidão, tosse crônica, broncoespasmo, dor torácica, PNM de repetição. Complicações vistas no EDA – Esofagite, úlcera, estenose péptica (disfagia), esôfago de Barrett. As complicações são vistas em 50% dos casos na EDA (não são obrigatórias) Diagnóstico: Clínico – pirose + regurgitação Tratamento Medidas Antirrefluxo Perda de peso Elevação da cabeceira Evitar comer 2-3 horas antes de deitar (diminui sintomas noturnos) Eliminar alimentos que pessoalmente causem sintomas Farmacológico Objetivo: reduzir a acidez gástrica Duração: 8 semanas Inibidor de Bomba de Prótons (IBP) em dose plena Omeprazol 20mg / Pantoprazol 40mg / Esomeprazol 40mg / Lansoprazol 30 mg Posologia Tomar em jejum / 30 minutos antes do café da manhã (maior disponibilidade de receptores) Recorrência: IBP “sob demanda”(ficou sintomático, tomou, melhorou, pode parar) ou crônico Sem melhora com a dose padrão: IBP “dose dobrada” (2x/dia – café e jantar) Refratariedade: é aquele que não responde à dose dobrada da medicação. Cirurgia Antirrefluxo Para quem? Refratário (sintoma mesmo com IBP 2x) Alternativa ao uso crônico Complicação: estenose ou úlcera Fazer antes da cirurgia pHmetria 24 horas (padrão-ouro para confirmação de DRGE) Esofagomanometria (escolha da técnica – para saber qual cirurgia fazer) Fundoplicatura de Nissen ou Total – para pessoas com contratilidade esofágica boa. Evitar se contratilidade ruim (< 30mmHg e < 60% de atividade peristáltica) – se fizer pode dar acalásia Fundoplicatura parcial (anterior ou posterior) – faz quando não pode fazer Nissen 19 | P á g i n a Esôfago de Barret Trata-se de uma adaptação – uma troca de epitélio nativo do esôfago (escamoso estratificado) – geralmente da área mais distal, que é a que sofre mais agressão – por um epitélio colunar do tipo intestinal (mais resistente à acidez). Os pacientes dizem que os sintomas melhoram após esta metaplasia Diagnóstico só com Biópsia, que vem com a histologia de metaplasia intestinal A EDA não dá diagnóstico de esôfago de Barrett, mas sugere a existênciade áreas esofagianas de esôfago de Barrett. o Área esofagiana de cor vermelho-salmão o Conduta: biópsia Estas áreas de metaplasia são propícias a ocorrer displasia, sendo assim, evolução para adenocarcinoma. Ou seja o esôfago de Barrett é uma lesão pré-adenocarcinomatosa Esôfago de Barrett (Para a Prova) Inibidor da Bomba de Prótons 1x/dia (independente de manifestação clínica) Sem displasia EDA seriada com biópsia a cada 3-5 anos Displasia de Baixo Grau Ablação endoscópica (ou EDA a cada 12 meses) Displasia de Alto Grau Ablação endoscópica Adenocarcinoma Invasivo Aula de câncer... Úlcera Péptica (estômago e duodeno) Fisiopatologia Agressão: ácido Facilitadores: h. Pylori, aines, Cytomegalovirus (única e branca) e Herpes vírus (múltiplas) Ocorre mais agressão do que proteção (barreira) O estômago é um órgão produtor de ácido, podendo ser dividido em fundo, corpo e antro. No fundo encontram-se as células parietais que possuem as bombas de H+. A maior produção de ácido ocorre no fundo gástrico (onde há maior população de células parietais). Existem três maneiras de estimular a bomba de próton: o Células G do antro produzem gastrina, a qual estimula a bomba de próton. o Nervo vago estimula as células parietais do fundo gástrico, dessa forma aumentando a secreção ácida; o Histamina também estimula a bomba de prótons. A barreira de mucosa gástrica protege o estômago da ação do antro, sendo produzida e mantida pelas prostaglandinas. Reduz a Acidez o Inibidor da bomba de prótons (Omeprazol) o Bloqueio histamínico (ranitidina – proscrito) o Vagotomia / Antrectomia E v o lu ç ã o 20 | P á g i n a Anti-inflamatórios x Úlcera Péptica Mecanismo de ação: inibidores da COX (cicloxigenase) COX-1: prostaglandinas “do bem” → mantém a barreira mucosa gástrica COX-2: prostaglandinas “do mal” → responsáveis pelo processo inflamatório Tipos de AINES: Não seletivos: ao inibir a COX-1 → resolve a inflamação, mas perde a barreira mucosa Seletivos da COX-2 → podem induzir agregação plaquetária, levando a quadros isquêmicos (por esse motivo muitos já foram retirados do mercado) Helicobacter pylori Mecanismo de Ação Infecção no Antro (destruição das células D – Diminuição de somatostatina, estimulando a produção de gastrina, aumentando a produção de ácido) Infecção disseminada (destruição das células parietais, de bombas de prótons – diminuição de ácido clorídrico) Hipercloridria Hipocloridria + diminuição da barreira Úlcera péptica H. pylori é responsável por 80-95% das úlceras duodenais e 75% das úlceras gástricas Quadro Clínico Dispepsia que piora com alimentação (úlcera gástrica) Dispepsia que piora 2-3h depois da alimentação e à noite (úlcera duodenal) Diagnóstico < 40 anos e sem alarme – diagnóstico presuntivo > 40 anos ou alarme – diagnóstico por EDA Se úlcera gástrica na EDA, por poder ser CA fazer biópsia ao diagnóstico e nova EDA de controle de cura após o tratamento Tratamento 1) Reduzir acidez com IBP 4 – 8 semanas 2) Questionar AINE (suspender se possível) 3) Pesquisar e erradicar H. pylori Com Endoscopia: teste de uréase / histologia Sem Endoscopia: uréase respiratória (escolha) / Antígeno nas fezes / Sorologia Obs.: na sorologia o anticorpo pode ficar por anos positivo mesmo após erradicar a H. pylori Erradicação (14 dias) – “CAÔ” o Claritromicina 500 mg 2x/dia o Amoxacilina 1g 2x/dia o Omeprazol 20 mg 2x/dia Quando erradicar? Dispepsia, doença ulcerosa péptica, linfoma MALT, lesões pré- neoplásicas, história de CA gástrico em parente de 1º grau, anemia ferropriva inexplicada, deficiência de B12, usuário crônico de AINEs ou AAS e portadores de PTI 4) Controle de cura Úlcera gástrica → nova EDA H. pylori → 4 semanas depois; NÃO usar sorologia por conta da cicatriz sorológica. Cirurgia na Úlcera Péptica Indicações cirúrgicas de úlcera péptica Refratariedade / recidiva Complicação aguda (Perfuração, Obstrução ou Hemorragia refratária) 21 | P á g i n a Leis para a Cirurgia de Úlcera péptica o 1ª lei – úlcera de hipercloridria: vagotomia ± Antrectomia o 2ª lei – se úlcera gástrica, tem que retirar a úlcera por ser risco maior de CA. Tratamento Cirúrgico das Úlceras Pépticas Hipercloridria Úlcera duodenal Vagotomia troncular (o piloro vai parar de relaxar, o estômago deixa de esvazia, por isso precisamos de mais uma ação) + Piloroplastia ou Antrectomia Se Antrectomia (mais complexa, mas recidiva menos) precisamos de uma reconstrução que pode ser o Billroth I (gastroduodenostomia) o Billroth II (gastrojejunostomia + alça aferente) Ou Vagotomia superseletiva (gástrica proximal) e mais nada (complica menos, mas cura muito menos, mais recidiva) Úlcera Gástrica II (Corpo gástrico) Vagotomia troncular + Gastrectomia distal + Reconstrução a Billroth I ou II Úlcera Gástrica III (pré-pilórica) Hipocloridria Úlcera Gástrica I (pequena curvatura baixa) Gastrectomia distal + reconstrução a Billroth I Úlcera Gástrica IV (pequena curvatura alta) Gastrectomia subtotal + reconstrução em Y de Roux Custo Benefício das Cirurgias Vagotomia Superseletiva Recidiva complicações Vagotomia Troncular + Piloroplastia Intermediária Vagotomia Troncular + Antrectomia Recidiva complicações 22 | P á g i n a Neoplasia Endócrina Múltipla-1 (Síndrome de Wermer) Gastrinoma (Pâncreas) Prolactinoma (Pituitária) Hiperparatireoidismo (Paratireoide) *Lembrar: 3Ps Síndrome de Zollinger–Ellison Úlceras pépticas refratárias/de repetição sem relação com AINEs ou HP, pensar em Gastrinoma. Confirmação: Gastrinemia (> 1000pg/mL), pH gástrico (< 2,5) e Teste da secretina (↑ gastrinemia) Tratamento: Terapia antissecretora intensa, localizar e extrair o tumor Complicações Cirúrgicas Síndrome de Dumping o Normal – o piloro organiza o esvaziamento gástrico o Aqui – ocorre a perda da barreira pilórica, o alimento vai direto para o duodeno (derramamento) o Dumping Precoce (15-20 min da alimentação) o Distensão intestinal o Gastrointestinal (dor, náusea, diarreia) o Vasomotora (taquicardia, palpitação, rubor) o Dumping Tardio (2-3h após comer) o Hipoglicemia (o pâncreas libera muita insulina [exagero mesmo], no final acaba glicose e sobra insulina) Gastrite Alcalina ou Gastropatia por Refluxo Biliar o Refluxo biliar e suco pancreático irrita o estômago (gastrite) o Billroth I – menos comum, tem que fazer o caminho antiperistáltico para ocorrer o Billroth II – mais comum, fica íntimo ao estômago o Clínica – Dor contínua que não melhora com vômitos, estes biliosos o Tratamento o Reoperar o doente, fazendo agora Y de Roux o Colestiramina (quelante de sal biliar) inativa a bile, melhora os sintomas, mas não resolve, tem agregação pelo suco pancreático. Síndrome da Alça Aferente o Só pode ocorrer em Billroth II o Ocorre uma angulação da alça aferente (semi-oclusão), por um tempo que depois se desfaz, causando um vômito bilioso, melhorando a sintomatologia. o Clínica: a dor melhora com vômitos (biliosos e em jato – vem do nada, sem náusea) o Tratamento – Y de Roux Síndrome de Boerhaave Tríade de Mackler – vômitos + dor no peito + enfisema subcutâneo Sinal de Hamman (pneumo mediastino – som diferentes a cada batimento) 23 | P á g i n a Volume 03 – Hemorragia Digestiva Avaliação Inicial Estabilização clínica – nas primeiras 48h o Cristaloide/hemácia (se PAS < 90 mmHg e/ou FC > 120 bpm) o Plasma se < 50.000 plaquetas (variável) o Hematócrito não é confiável nas primeiras 24-48h, pois a % de hemácias total no sangue, vai continuar a mesma em uma hemorragia o Hemoglobina é mais confiável Descobrir fonte e tratar Ângulo de Treitz (duodenox Jejuno) o Alta (acima do ângulo) – 80% dos casos, sendo os mais graves (+ mata) o Hematêmese o Melena (fezes escurecidas, borra de café, odor fétido) o Hematoquezia (evacuação com sangue vivo, que ocorre pelo aumento da peristalse) – O sangue para ser digerido no tubo digestivo demora cerca de 14h, assim, diante de grandes hemorragias altas, o sangue não terá tempo para ser digerido e assim, o doente pode apresentar sangue vivo nas fezes – 10-20% das hematoquesias tem origem alta! o Cateter nasogástrico: se vier com sangue/borra de café (pensamos em HDA) o Exames: EDA nas primeiras 24h (resolve na maioria dos casos) o Baixa (abaixo do ângulo) – 20% dos casos o Hematoquezia (sangramento vermelho-vivo nas fezes em pequena quantidade) o Enterorragia (sangramento vermelho-vivo em grande quantidade) o Cateter nasogástrico: com bile e sem sangue (pensar em HDB, bom para afastar HDA) o Exame: colonoscopia (sensibilidade menor que a EDA) e outros Prevenir novos sangramentos Drogas / endoscopia / cirurgia Hemorragia Digestiva Alta Causas (Mnemônico – quando vai fazer a EDA você vê a ÚVULA) Úlcera Péptica Varizes esofágicas Laceração (Mallory-Weis) Úlcera Péptica Complicações Sangramento (mais comum e o que mais mata) Perfuração Obstrução Conduta 1) Terapia clínica e endoscópica Inibidor da bomba de prótons Tratar H. pylori Suspender AINES Classificação de Forrest Estima o risco de ressangramento de úlcera péptica I Sangramento ativo (Risco alto 90%) IA – sangramento arterial (em jato de sangue) IB – sangramento lento (babando) II Hemorragia recente IIA – vaso visível não-sangrante (risco alto 50%) IIB – coágulo aderido (risco intermediário 30%) IIC – hematina – coagulo digerido (risco baixo 10%) III Base clara, sem sangramento (risco baixo < 5%) Tratamento I / IIA / IIB inibidor da bomba de prótons EV + Endoscopia com 2 métodos (química, térmico ou mecânico) 24 | P á g i n a 2) Terapia cirúrgica Falha endoscópica: após 2 tentativas, pois a falha na primeira EDA, temos que fazer uma segunda EDA, se esta falhar, faremos a cirurgia. Choque: refratário (> 6U hemácias) ou hemorragia recorrente Hemorragia contínua: transfusão > 3U/dia Qual a cirurgia? Úlcera Duodenal Pilorotomia + Ulcerorrafia Paciente em condições: fazer + Vagotomia troncular + piloroplastia (de HEINEKE-MIKULICZ) Úlcera Gástrica Gastrectomia + BI / BII / Y de ROUX Outras Causas Varizes Esofágicas Risco: Pressão portal > 12mmHg Tratamento Volume: reposição cautelosa Droga: terlipressina, octreotide EDA: ligadura ou escleroterapia Se refratário: Balão, TIPS, cirurgia Profilaxia Primária – beta-bloqueador ou ligadura elástica Secundária – beta-bloqueador e ligadura elástica Laceração de Mallory-Weiss História Vômitos vigorosos Etilista, gestante, hérnia de hiato Endoscopia digestiva alta Laceração na junção esofagogástrica, pequena curvatura Tratamento Suporte (90% autolimitados) Hemobilia História Trauma Cirurgia hepatobiliar Clínica – Tríade de Sandblon Hemorragia Dor em hipocôndrio direito Icterícia Endoscopia Digestiva Alta Não ajuda nesse caso. É raro ver o sangue saindo pela ampola de Vater Diagnóstico e Tratamento Arteriografia Ectasia Vascular (estômago em Melancia) História Mulher Cirrose Colagenose Clínica Anemia ferropriva a esclarecer Tratamento Ferro / transfusão 25 | P á g i n a Lesão de Dieulafoy Endoscopia digestiva alta Artéria dilatada na submucosa, na pequena curvatura gástrica Clínica Homem de 40 anos sem causa aparente Sangramento maciço Indolor e recorrente (melena há algum tempo atrás) Tratamento Endoscopia digestiva alta Fístula Aorto-Entérica Aneurisma de aorta + prótese Sangramento de vulto / óbito (?) Tratamento: retirar prótese + fechamento da fístula + derivação axilobifemoral Hemorragia Digestiva Baixa Abordagem Será mesmo que é HDB? Precisamos afasta HDA antes! Fazer... o Toque retal o Anuscopia o EDA Se tudo vier negativo para HDA, agora posso colocar na conta da HDB Volume do Sangramento Leve ou moderado – colonoscopia (diagnóstico e terapêutico) Maciço – angiografia (pega desde 0,5 – 1 ml/min, também é diagnóstico e terapêutico) Se a colono não visualizar – fazer a angiografia ou a cintilografia (0,1 ml/min) A cintilografia é mais sensível, mas não consegue tratar e nem me falar o local preciso do sangramento. o Se vier negativa, nem adianta fazer arteriografia, pois é muito sensível. Se nada resolver – colectomia total Causas (3Ds) Divertículo Displasia “Denocarcinoma” Doença Diverticular Maioria assintomática Maioria de cólon esquerdo (pelo menor diâmetro) Complicações: Diverticulite ou sangramento Tratamento: colonoscopia / embolização / cirurgia Atenção: jovem (<30anos) – divertículo de Meckel o Íleo / origem no ducto onfalomesentérico o Tecido ectópico gástrico (erosão sangramento) o Diagnóstico – cintilografia o Tratamento – ressecção Angiodisplasia Má formação vascular intestinal Associação o Estenose aórtica (síndrome de Heyde) o Doença renal o Doença de Von Willebrand Local mais comum – Ceco (obs.: principal causa de HDB do delgado) Principal causa de sangramento obscuro (diagnóstico por cápsula endoscópica) Tratamento: colonoscopia / inibidor da VEGF (fator de crescimento do endotélio vascular) / embolização / cirurgia 26 | P á g i n a Volume 04 – Síndrome Álgica 1 (Dor Abdominal) Introdução Dor somática (parietal) – tem origem na pele e no peritônio parietal. É dor rápida (aguda), com boa localização. Dor visceral – é a dor mais lenta, mal localizada e persistente. Tem origem nos nociceptores viscerais. o Dor superior, Dor no abdome mediano e Dor no hipogástro Dor referida – percebida longe do estímulo de origem o Dor escapular na colecistite o Dor no braço direito no IAM Total de atendimento no PS por dor abdominal? 10% Destes, quantos permanecem sem diagnóstico? 25% Divisão didática: intra e extra-abdominal o Intra-abdominal: colecistite, apendicite, Diverticulite, pancreatite, obstrução, alterações vasculares e distensão de vísceras o Extra-abdominal: cardíaca, pulmonar, esofágica, hematológica, infecciosa, metabólica, intoxicação, neurogênicas. Anamnese e Exame Físico o Onde doi? o Vai para algum lugar? o Quando começou e por quanto tempo dura? o Como é a dor? o Quanto dói? o O que melhora/piora? o Outras manifestações? Intensidade o Piorando e com duração > 6h o Dor que melhora em poucas horas Início o Súbito sem sintomas prévios o Aumento progressivo o Desconforto vago, com localização posterior Vômitos o Dor precedendo o Dor após Ectoscopia geral, Inspeção abdominal (sinal dos olhos fechados), Ausculta, Palpação e Percussão Laboratório: hemograma, eletrólitos, glicemia, ureia e creatinina, amilase e lipase, bilirrubinas, fosfatase alcalina, TGO, TGP e gama-GT, urina 1 e beta-HCG Radiografia simples (rotina do abdome agudo): Raio X de tórax (PA) + Raio X de abdome (decúbito dorsal e em ortostase) Ultrassom e Tomografia Abordagem (Passo-a-passo) 1. Avaliar a gravidade (anamnese + exame físico + critérios de gravidade) 2. Alívio Sintomático (analgesia, antiemético) 3. Excluir gravidez/Doença pélvica (mulheres em idade fértil, DUM) 4. Abdome agudo clínico ou cirúrgico? Abdome Agudo Clínico Cirúrgico Intoxicação pelo chumbo Apendicite Porfiria Diverticulite Febre tifoide Pancreatite Isquemia mesentérica Colecistite 27 | P á g i n a Bater o olho e saber Dor no abdome superior que irradia para o dorso, com vômitos importantes: Pancreatite Dor por > 6h no hipocôndrio direito, irradiação escapular, após alimentação gordurosa: ColecistiteDor abdominal súbita, difusa, grande intensidade com defesa e rebote: Ruptura visceral e peritonite Dor subesternal, em queimação que melhora com alimentação ou antiácidos: Úlcera duodenal Dor súbita, mesogástrica + massa pulsátil + hipotensão: Ruptura de aneurisma de aorta abdominal Dor periumbilical que localiza na fossa ilíaca direita: Apendicite Dor abdominal no HCD, febre com calafrios e icterícia: Colangite infecciosa Dor difusa desproporcional ao exame físico + acidose metabólica + FA: Isquemia mesentérica Dor periumbilical que localiza na fossa ilíaca esquerda: Diverticulite Dor abdominal difusa + distensão + hiperperistaltismo: Obstrução (fase inicia) Desconfiar quando aparecer Dor abdominal difusa + distensão + hiperperistaltismo: Porfiria intermitente aguda Dor abdominal difusa + distensão + hipoperistaltismo Obstrução intestinal (fase tardia) Dor abdominal difusa + distensão + hipoperistaltismo Íleo paralítico Dor abdominal que piora com a contração do abdome Dor da parede abdominal Dor abdominal + disúria + punho-percussão positiva ITU, nefrolitíase Desidratação + acidose + hiperglicemia + abdome agudo Cetoacidose diabética Dor abdominal + doença aterosclerótica difusa + medo de comer Isquemia mesentérica crônica Dor abdominal em queimação/coçando/neuropática + distribuição em dermátomos Herpes-zóster Dor abdominal mais... Encefalopatia o Intoxicação: exposição ocupacional? o Metabólico: história familiar? Fatores precipitantes? Febre anterior (prévia – veio bem antes da dor) o Infecção Porfiria Definição Distúrbio na síntese da porfirina do heme (ferro + protoporfirina IX ou porfirina), ou seja, não consegue fazer a porfirina do heme, não formando a hemoglobina (heme + globina), não tendo hemácias, levando ao quadro anêmico. O defeito vai ocorrer pela falta de alguma enzima na cascata que forma a porfirina (Succinil-CoA → ácido aminolevulínico → 7 reações em cadeia → Porfirina). Cada etapa dessa cadeia de reações depende de uma enzima, e, a falha dessas enzimas determina as porfirias. Essas reações podem ocorrer na medula óssea e no fígado. No fígado, a porfirina é utilizada para a detoxificação (citocromo P450). Por exemplo: na porfiria cutânea tarda que é a deficiência da uroporfirinogênio descarboxilase, travando a formação da porfiria, acumulando HMG, PBG e ALA, que resulta em lesões de pele após exposição solar, que com o tempo podem ocorrer cicatrizes grotescas Porfiria Intermitente Aguda Fisiopatologia Deficiência da enzima HMB-SINTASE, que com a ação de insultos (precipitantes), como álcool, tabagismo, drogas, infecções, cirurgias e estresse, levam ao aceleramento da via de formação da porfirina, não tendo HMB-sintase suficiente, ocorrendo o acúmulo de ALA (ácido aminolevulínico) e PBG (porfobilinogênio) – herança autossômica dominante Epidemiologia Adulto (20-30 anos) 28 | P á g i n a Clínica Dor/Distensão abdominal (acompanhada de hiperperistaltismo) Hiperatividade simpática (HAS e peristalse) Neuropatia – diagnóstico diferencial de síndrome de Guillain Barré Convulsão Distúrbios psiquiátricos. Escurecimento da urina (arroxeada) Diagnóstico Exame inicial: dosagem de PBG urinário (PBGu > 50/dia) ALA urinário >20mg/dia Dosagem de PBG deaminase eritrocitária e testes genéticos Tratamento Afastar precipitantes – suspender fatores precipitantes (ex.: barbitúricos) Hematina, arginato de heme (drogas caríssimas) Soro glicosado hipertônico (10%) Saturnismo (Intoxicação pelo Chumbo) - CHatUrnisBO Definição Intoxicação pelo chumbo. O chumbo (assim como o cobre) em excesso causa hemólise; quando há hemólise, como uma forma de compensação, a medula começa a jogar reticulócitos para a circulação (presença de células com pontilhados basofílicos). O chumbo também dificulta a síntese de hemoglobina, de maneira que podemos ter anemia hipo/micro. Fatores de Risco Exposição: mineradoras, baterias, indústria automobilística, tintas (pintores), projéteis de arma de fogo, destilados clandestinos (moonshine), frentistas antigos Clínica Dor abdominal / náuseas / vômitos / anorexia / distensão Anemia hipo-microcitose / pontilhados basofílicos Encefalopatia / dificuldade de concentração Distúrbios psiquiátricos Queda do libido / disfunção erétil. HAS, nefrite proximal, gota, infertilidade, linha gengival azulada (linha gengival de Burton) Sobre a dor abdominal: interfere no metabolismo, levando ao acumulo de mediadores tóxicos. O chumbo inibe as enzimas da síntese do heme, acumulando precursores desta via (porfiria). Diagnóstico Dosagem de chumbo sérico (a partir de 25 mcg/dl) Outros achados: nefrite intersticial / HAS / gota Tratamento Interromper a exposição Quelantes do chumbo: dimercaprol / DMSA / EDTA Sinal de Faget (febre com bradicardia) Febre tifoide, Febre amarela e Leptospirose Febre Tifoide Etiologia Infecção por Salmonella entérica (sorotipo Typhi) Transmissão: água / alimentos / contato (fecal-oral) Fatores de risco: Falta de saneamento básico, higiene, hipocloridria Local preferido de infecção da bactéria: íleo (placas de Peyer) – disseminação para medula / baço / fígado (sistema reticulo-endotelial) - durante algum tempo a bactéria persiste na medula, passa pela vesícula e chega nas fezes 29 | P á g i n a Clínica 1ª semana – Febre + sinal de Faget + Dor abdominal 2ª semana – Roséola, torpor (fala nada com nada) 3ª semana – hepatoesplenomegalia o Complicações (se o sistema imune for exagerado) o Hemorragia digestiva (mais comum) o Perfuração ileal (mais grave) – sinal de Jobert (hipertimpanismo na loja hepática) 4ª semana o <5% evoluem para portador crônico – colelitíase (perpetua a doença) o Maior risco: mulher adulta com doença biliar (Typhoid Mary) Diagnóstico Cultura o Hemocultura (1ª/2ª sem) – 50 a 70% dos casos o Coprocultura (3ª/4ª sem) – 30 a 40% o Mielocultura (+ sensível + específico) – mais de 90% (mesmo usando ATB, permanece positivo por 5-6 dias). Biópsia o Roséolas o Placas de Peyer Sorologia o Pode ser feita, mas não é muito confiável. Tratamento Antibioticoterapia (ATB com C) o Agudo: Ceftriaxone (10-14d) ou Ciprofloxacina (7-10d) ou Cloranfenicol 50mg/kg de 6/6h (droga de escolha pelo ministério da saúde). o Crônica: ciprofloxacino por 4 semanas, se não der certo, fazer a colecistectomia Corticoide: fazer nos casos graves – choque, coma (dexametasona por 2-3d) Vacina: indicada para viajantes que vão pra área endêmica (mas é pouco imunogênica) Apendicite Aguda Fisiopatologia A apendicite aguda é a causa de abdome cirúrgico não traumático mais comum. É a grande causa de abdome agudo inflamatório (E. coli e Bacteroides fragilis) O apêndice possui todas as camadas que o intestino apresenta e situa-se na confluência das tênias. Além disso, há um lúmen no qual há presença de bactérias e secreção de muco. Obstrução da luz do apêndice (fecalito, corpo estranho, hiperplasia linfoide...) gera uma hiperproliferação bacteriana que com a secreção de líquido e muco para o interior da luz, ocorre a distensão (peritônio visceral → dor) A dor inicialmente na apendicite é inespecífica, vaga, em região periumbilical (as fibras que fazem a inervação do peritônio visceral são fibras não–mielinizadas) a vascularização do intestino vem de fora para dentro, quando há distensão, há um aumento de pressão e consequentemente uma dificuldade na irrigação que pode levar à isquemia Em 12-24h, o apêndice começa a sofrer um processo isquêmico, com repercussão agora do peritônio parietal (que apresenta fibras mielinizadas – informações específicas da dor) – dor localizada em fossa ilíaca direita Clínica Dor periumbilical que migra para FID. Onde provavelmente iremos encontraro apêndice no exame físico: Ponto de Mc Burney: linha entre crista ilíaca anterossuperior e cicatriz umbilical – divide-a em 3 e o ponto se localiza na junção da porção mais lateral com a porção média Anorexia – alguns autores dizem que a apendicite aguda teria de respeitar uma sequência, sendo que a anorexia deveria ser o primeiro sintoma. Caso o paciente não apresente anorexia, o diagnóstico deveria ser até duvidado. Outros autores, contudo, afirmam que a anorexia não é tão importante assim – que o sinal mais importante é uma dor periumbilical que migra para FID. Náuseas / vômitos Febre Disúria (piúria) 30 | P á g i n a Sinais Clássicos o Blumberg – Descompressão súbita dolorosa em McBurney o Rovsing – Pressão em FIE e dor em FID o Obturador – Flexão de coxa + rotação interna do quadril o Dunphy – Dor em FID que piora com a tosse o Lenander – T° retal > T° axilar em pelo menos 1°C Gestante, idosos e crianças – investigar melhor, pois a semiologia da dor não é tão bonita. Diagnóstico É clínico, desde que haja uma alta probabilidade (história clássica, <48h, homem) Escala de alvarado – não usa USG (5 a 6 – pode ser; 7 a 8 – provável; 9 a 10 – é) Se probabilidade intermediária ou dúvida – fazer exame de imagem o Criança ou gestantes – USG abdome (se exame negativo – fazer RNM) o Idosos, homem, mulher não gestante – TC de abdome Se suspeitar de complicação – fazer exame de imagem o Massa palpável ou Sintomas tardios >48h Ultrassom de abdome: Espessamento da parede > 7mm e Aumento da vascularização ao Doppler Tomografia computadorizada: Espessamento da parede > 7mm, Borramento da gordura perpendicular e Abscesso apendicolito Tratamento Simples ou Precoce (<48h) Hidratação venosa + ATB + Apendicectomia Complicada ou tardia (>48h) Solicitar exame e imagem (USG ou TC) Exame normal: Apendicite simples Abscesso: Drenagem + ATB + Colonoscopia (4-6 semanas) ± apendicectomia tardia Fleimão: ATB + colonoscopia (4-6 semanas) ± apendicectomia tardia Peritonite difusa: cirurgia de urgência + ATB Crianças e idosos apresentam maior risco de perfuração (diagnóstico mais tardio) Complicação mais comum: abscesso de parede Apendicite Epiplóica (apendagite) Torção em seu próprio eixo → isquemia → dor em FID. Em 10 - 14 dias a gordura necrosa, cai e o paciente melhora (evolução benigna) Tratamento: analgesia e aguardar involução espontânea (1-2 semanas) Diagnóstico diferencial: apendicite aguda, doença de Crohn, cisto de ovário roto, salpingite, linfadenite mesentérica, diverticulite a direita, diverticulite de Meckel, infarto omental. Doença Diverticular dos Cólons Epidemiologia População ocidental. A dieta ocidental é rica em proteínas e carboidratos e pobre em fibras, fazendo com que o bolo fecal seja fino e duro, dificultando a peristalse, ou seja, cólon necessita de contração intensa e vigorosa, sendo assim, são mais propensos a apresentarem divertículos em região de maior fragilidade (local de entrada dos vasos) Idosos e Aumento da pressão nos cólons Assintomáticos (diagnóstico incidental - achados de colonoscopia/clister opaco) Obs.: São divertículos falsos, pois apresentam apenas mucosa e submucosa, formado na região de infiltração das artérias retas. Diagnóstico – Colonoscopia e Clíter opaco Local mais comum de formação de divertículos Cólon Esquerdo (sigmoide), local de menor diâmetro e maior pressão. Complicações Hemorragia (ocorre mais no cólon direito) Diverticulite (ocorre mais no cólon esquerdo) 31 | P á g i n a Diverticulite Aguda Fisiopatologia Obstrução da luz do divertículo (formado de mucosa colônica) → ↑bactérias colônicas + secreção de líquido e muco → distensão → isquemia → microperfurações → epíplon tenta bloquear microperfurações → microperfurações com abscesso pericólico (diverticulite aguda) Clínica Apendicite Aguda do lado esquerdo Recorrente, dura alguns dias Idade avançada (constipação crônica) Diagnóstico Tomografia Evitar fazer colonoscopia e enema na inflamação. Fazer após 4-6 semanas para afastar CA colorretal. Classificação de Hinchey e Achados Tomográficos de Kaiser I – Abscesso pericólico (pequeno ou grande) o Ia – Fleimão (espessamento da parede colônica com densificação da gordura pericólica) o Ib – Abscesso pericólico (alterações em Ia + abscesso pericólico ou mesocólico) II – Abscesso pélvico ou à distância (alterações em Ia + abcesso à distância – pélvico) III – Peritonite purulenta (presença de gás associado a coleção localizada ou generalizada) IV – Peritonite fecal (Idem III) Tratamento Tem complicação? Não Sim Sintomas mínimos Sintomas Exuberantes Abscesso ≥ 4cm Peritonite Obstrução Dieta líquida + ATB VO Internação + Dieta zero + ATB EV Drenagem + ATB EV + colono + cirurgia eletiva Cirurgia de urgência + ATB (Colectomia à Hartmann) Novidade: peritonite purulenta admite lavagem laparoscópica com drenagem da cavidade. Estágio I Estágio I ou II Estágio III ou IV Quando operar as pacientes com Diverticulite não complicada? Imunodeprimidos Incapaz de excluir CA Fístula (cólon-vesical + comum no homem) Sigmoidectomia com anastomose primária Sigmoidectomia a Hartmann (Urgência) Sigmoidectomia + colostomia + fechamento retal (sepultamento) Fístulas – ATB + colonoscopia após 4-6 semanas + cirurgia eletiva (correção da fístula + ressecção do segmento acometido) Doença Vascular Intestinal Local de Acometimento Grandes vasos do intestino delgado (artéria mesentérica superior) o Isquemia mesentérica aguda o Isquemia mesentérica crônica Pequenos vasos (mucosa colônica) o Colite isquêmica Irrigação Vascular Tronco celíaco, mesentérica superior e inferior 32 | P á g i n a Isquemia Mesentérica Aguda Causas Embolia (50%) – Cardiopatia emboligênica (FA; IAM) “Dor desproporcional ao exame físico” Vasoconstrição (20%) – Isquemia não oclusiva: sepse / choque, vasoconstritor, cocaína Trombose Arterial (15%) – Paciente vascular (aterosclerose): insuficiência vascular periférica Trombose Venosa (5%) – Hipercoagulabilidade. Fator V de Leiden, SAF, trauma Clínica Dor abdominal intensa, desproporcional ao exame físico Piora rápida Temperatura retal < Temperatura axilar Metabolismo anaeróbio: acidose metabólica (taquipneia/Ofegante) Irritação peritoneal (tardio) Leucocitose Pneumatose intestinal (níveis hidroaéreos) História clássica: idoso com dor abdominal súbita, intensa, com vômitos, sem eliminação de fezes ou sangue e história de arritmia Fisiopatologia Êmbolo se desprende, corre pela circulação e obstrui algum vaso, levando ao quadro de isquemia, que resulta em dor abdominal muito intensa. Geralmente a obstrução ocorre na artéria mesentérica superior (irriga quase todo o intestino delgado, cólon ascendente e parte do cólon transverso) Grande segmento sofre com isquemia → dor abdominal extremamente intensa (sem necrose neste momento) → ainda não há irritação peritoneal → exame físico “normal” (a grande marca da doença é a dor abdominal intensa, desproporcional ao exame físico). Com o tempo ocorre a necrose do intestino. Diagnóstico Laboratório inespecífico: leucocitose, acidose, lactato elevado RX: alterações tardias como pneumatose intestinal Angiotomografia (mais utilizado) – dilatação, espessamento e falha no enchimento de contraste Padrão-ouro: Angiografia mesentérica seletiva (parada na vascularização intestinal) Tratamento Suporte: Hidratação EV, ATB, Controle dos distúrbios hidroeletrolítico e ácido-base. Restaurar o fluxo vascular + avaliar alça intestinal Embolo ou Trombo Heparinização: evitar a progressão da isquemia Laparotomia: embolectomia/trombectomia + avaliar a alça intestinal Papaverina pós-operatória – evitar vasoespasmoVasoconstrição Papaverina intrarterial – reestabelecer vascularização Cirurgia se: Refratariedade ou Irritação peritoneal Isquemia Mesentérica Crônica Causa Aterosclerose Clínica Angina mesentérica (comeu doeu) Emagrecimento (por não querer sentir dor) Doença aterosclerótica Quadro clássico: idoso com dor abdominal que piora com alimentação (horas após) Diagnóstico Angiografia mesentérica Tratamento Revascularização Cirurgia em jovens Stents em idosos ou pacientes com comorbidades 33 | P á g i n a Colite Isquêmica Epidemiologia Isquemia intestinal mais comum Acomete mais idosos, que por já apresentam hipoperfusão e colite Clínica Dor em cólica Diarreia mucossanguinolente Febre Distensão Causas Alergias, Amiloidose, ICC, arritmias, choque e infecções Diagnóstico Clíster opaco (impressões digitais – Thumbprinting) Retossigmoidoscopia (mucosa inflamada) Tratamento Suporte clínico (corrigir hipotensão) – maioria dos casos Cirurgia (colectomia parcial ou total) se peritonite, hemorragia, colite fulminante ou refratariedade Pancreatite Aguda Causas Biliar (mais comum – 30 a 60% dos casos, obstrução das vias biliares com obstrução do ducto pancreático principal → acúmulo de enzimas → as enzimas começam a digerir o próprio parênquima pancreático Alcoólica (15 a 30%) é a segunda causa mais comum de pancreatite aguda e a principal causa de pancreatite crônica (é sempre importante diferenciar pancreatite aguda de uma agudização de um quadro de pancreatite crônica). Drogas (ácido valproico, estrogênio, azatioprina, Pentamidina e didanosina no HIV), pós-CPRE, idiopática, escorpião Leve (intersticial) – 80 a 90% dos casos Grave (necrosante) – 10 a 20% dos casos Diagnóstico (2 de 3 critérios) Clínico – dor abdominal em barra que irradia para o dorso, náuseas e vômitos o Menos comum: icterícia, febre e atelectasia Laboratorial – amilase e lipase (>3x o valor de referência) o Leucocitose com desvio, alcalose metabólica, hipoalbuminemia o Lipase = é mais específica para pancreatite; outras causas podem causar hiperamilasemia. o Os valores de amilase e lipase não guardam relação com a gravidade do caso. Imagem – Tomografia (ideal após 48-72h) + USG (colelitíase) o Todo paciente com pancreatite aguda deve ser submetido a uma USG → a USG não é um bom exame para avaliar o pâncreas, mas deve ser solicitada para avaliar a presença de colelitíase (definir a causa da pancreatite aguda). o Tomografia Computadorizada: idealmente deve ser solicitada após 72 horas (caso seja feita antes desse período, podemos subestimar a gravidade do quadro). A TC demonstra necrose do parênquima pancreático, contudo, antes de 48h essa necrose pode ainda não ter se formado. Se a TC foi feita na admissão para diagnóstico, deverá ser repetida em 48-72h. Pâncreas com aumento de volume, Hipodensidade difusa, Limites imprecisos e Infiltração da gordura perivisceral Sinal de Cullen: mancha equimótica periumbilical Sinal de Grey-Turner: mancha equimótica em flancos Fox: equimose em base do pênis/períneo Hematoma retroperitoneal (obs.: são sugestivos, mas não patognomônicos de pancreatite aguda) 34 | P á g i n a Classificações Ranson o Não é imediato, não consegue dizer de maneira imediata se o quadro é leve ou grave (diferente do APACHE-II), mas pode ser calculado para qualquer paciente (ex.: para aqueles internados em enfermaria) o Não considera amilase, lipase, bilirrubina e TGP/ALT o ≥ 3 (pior prognóstico) o Importante lembrar totalmente da grande lista para evitar sequestro de homens na ur ca Apache II o ≥ 8 (pior prognóstico) o Quadros graves são identificados de imediato o Tem que estar no CTI o Avaliação de 12 parâmetros (idade e estado de saúde prévia). A desvantagem é que só pode ser calculado para internados em UTI. PCR > 150 mg/ml (>48h) – Inflamação persistente Baltazar Modificado (≥ 6 pontos) Grau A Aparência normal (0 pontos) Grau B Aumento focal ou difuso do pâncreas (1 ponto) Grau C Anormalidades pancreáticas acompanhadas por alterações inflamatórias peripancreáticas leves (2 pontos) Grau D Coleção fluida em uma única localização usualmente nos limites do espaço pararrenal (3 pontos) Grau E Duas ou mais coleções fluidas próximas ao pâncreas ou presença de gás ou no pâncreas ou em área de inflamação peripancreática (4 pontos) + Grau de necrose Nenhuma (0 pontos) Um terço – 30% (2 pontos) Metade – 30 a 50% (4 pontos) Mais da metade - >50% (6 pontos) BISAP (BUN > 25, Rebaixamento do nível de consciência, SIRS, idade > 60 anos e derrame pleural) ≥ 3 Revisão dos Critérios de Atlanta Leve Sem falência ou complicações Moderadamente grave Falência orgânica transitória (<48h) ou complicação local isolada Grave Falência orgânica persistente Tratamento Leve Dieta zero, analgesia (dolantina), hidratação venosa, correção de distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-base. Moderadamente grave CTI, hidratação venosa vigorosa (reanimação volêmica – diureses 0,5 ml/kg/h), analgesia, não fazer ATB, suporte nutricional (enteral x NPT) Exploração de vias biliares? CPRE? Fazer quando quadro de colangite ou icterícia progressiva ATB aumenta o risco de infecção fúngica, mas se for fazer, faz imipenem quando tiver necrose infectada. Importante (idade), Lembrar (leucocitose), Totalmente (TGO), Grande (glicose), Lista (LDH). Para (Pa02) Evitar (excesso de base), Sequestro (de fluidos), de Homens (Ht) na Ur (ureia) Ca (cálcio) A manipulação cirúrgica do pâncreas somente deverá ser considerada em caso de evidência de infecção da lesão (necrose pancreática) 35 | P á g i n a Complicações Coleção Fluida Aguda Bobagem Conduta expectante Se infectada: fazer punção + ATB (pico de febre, dor abdominal) Necrose Pancreática Estéril: conduta expectante Infectada: punção + necrosectomia + ATB (imipenem) Neste caso o paciente afunda do nada (3-4 semanas) Pseudocisto pancreático Não epitelizado Só se apresenta depois de 4-6 semanas (suspeitar quando tiver aumento de amilase ou massa regional) Conduta: expectante Se sintomático (quando comprimir estruturas, como o estômago) ou em casos de complicações (abscesso e sangramento), realizar o tratamento com EDA (drenagem endoscópica transgástrica) Antes da Alta hospitalar Alta se: dor controlada e alimentação normal Leve: Fazer colecistectomia na mesma internação Grave: fazer após 6 semanas Pancreatite Crônica Definição Lesão irreversível do parênquima pancreático com inflamação crônica, fibrose e destruição progressiva Etiologia Álcool (muito, dá até cirrose) > 70% - mais de 10 doses de álcool por dia. o Lesão direta ou do metabólito – aumenta o estresse oxidativo Tabagismo Crianças: fibrose cística Clínica (Tríade Clássica) Esteatorreia Diabetes Calcificação pancreática Outros achados: dor abdominal e emagrecimento (medo de comer) Diagnóstico Clinico + laboratorial (amilase e lipase normais ou pouco elevadas) + imagem Laboratório: o Elastase – 1 fecal < 200 o Teste da secretina o A fibrose não deixa a amilase se elevar Exame de imagem o Ultrassom endoscópico (microcalcificações) – Critérios de Rosemont o Mas o grande exame é a TC ou colangioRNM (bem evidente as calcificações). o Tem também a CPRE – Critérios de Cambridge, que vem com o ducto todo contorcido (era padrão ouro). Hoje só usa quando a TC e a RNM estão contraindicada, mas é obrigatório antes da cirurgia se necessária. o Padrão-ouro: histologia, mas não faz Tratamento Cessar etilismo e tabagismo (principal fator de risco para CA pâncreas) Dieta pobre em gordura (corrigir dislipidemia) Enzimas pancreáticas + Omeprazol para melhor absorção
Compartilhar