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FUNDAMENTOS E PRÁTICAS EM RELAÇÕES PÚBLICAS Fernanda Lery Pereira Constante Projetos comunitários Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir projetos comunitários. Explicar a relevância do desenvolvimento de projetos comunitários por parte das organizações. Propor o exercício do planejamento de um projeto comunitário. Introdução Neste capítulo, você vai entender o que são os projetos comunitários e, mais do que isso, qual é o conceito de responsabilidade social dentro das organizações. Vai entender as suas origens, a sua evolução, a sua situação e a sua importância no meio organizacional atual. Entendendo todo esse contexto, você vai compreender, ainda, a relevância de executar projetos com esse fim, tanto para a comunidade envolvida quanto para a organi- zação que o planejou, criou e implantou. Depois disso, vamos mostrar, passo a passo, como se realiza um planejamento para implantação de um projeto comunitário. Responsabilidade social e projetos comunitários Responsabilidade social é um assunto antigo. É bastante difícil precisar o exato momento do seu surgimento; além disso, muitos autores apresentam opiniões distintas em relação a esse fato. No entanto, sabe-se que o seu passado está ligado aos tempos das grandes descobertas feitas pelos europeus, quando os monarcas concediam autorizações às empresas, mediante a concessão de alguns benefícios públicos. Podemos falar de responsabilidade pessoal individual, da atitude consciente de cada cidadão, por meio de pequenos atos diários, ou mesmo por parte de uma organização, por meio de um sistema já mais organizado. No passado, o que chamamos atualmente de responsabilidade social empresarial (RSE) existia devido ao interesse por subsídios do governo. Em uma etapa seguinte, ela passou a ter uma característica mais voltada à caridade, assumindo um caráter filantrópico, como se a empresa fosse cari- dosa por realizar ações sociais. Somente pelo fato de a organização empregar pessoas, ela já se sentia com o dever cumprido perante a sociedade, não dava importância a questões relacionadas à salubridade, à jornada de trabalho, a benefícios, ou à qualidade de vida em geral. Isso não acontecia nem em relação ao seu público interno, muito menos em relação à comunidade local. Com o passar dos anos, essa questão foi mudando e a sociedade passou a exigir uma postura mais responsável das organizações; assim, a responsabilidade social foi se incorporando aos valores das empresas e passando a fazer parte da cultura dessas instituições, conforme a realidade atual. Torquato (2015, p. 214) diz que é: [...] cada vez mais oportuna e legítima a função social da empresa voltada para o meio exterior. Isto é, no sentido de reforçar a confiança do consumidor em seus serviços e produtos, a empresa deve se abrir para a sociedade, dizendo- -se presente em atividades e programas que possam carrear-lhe simpatia e escopo de seriedade. No entanto, Farias (2011, p. 183) afirma que: [...] por um lado a sociedade tem exigido mais comprometimento social e am- biental de suas organizações, bem como se inclina a, cada vez mais, requerer que prestem conta de suas ações; por outro, parte das organizações ainda não se importa com isso, parte tem assumido atitudes que “parecem” mais res- ponsáveis e outra (acredita-se que ainda é a menor) tem realizado importante esforço para que a ideia de responsabilidade social empresarial seja presença permanente em sua filosofia e até esteja nos seus pressupostos básicos. O autor utiliza a expressão “parecem mais responsáveis” para demonstrar que essas empresas criam determinadas ações denominadas responsáveis apenas para atender a legislação, não com um verdadeiro intuito de respon- sabilidade social (FARIAS, 2011). Alguns exemplos são os programas de diversidade; caso a empresa optar por não ter uma política que abrange a diversidade, poderá ser autuada pelo Ministério do Trabalho, ou se não fizer Projetos comunitários2 o controle das suas emissões atmosféricas, poderá ser autuada pelo órgão ambiental competente. Essas são algumas ações de cunho social que não são da escolha das empresas, mas impostas pelo Estado. Segundo Prado (2011, documento on-line), RSE são: [...] são as ações realizadas pela empresa, associadas ao engajamento de todas as partes interessadas, na comunidade local e em seu entorno, no intuito de formar cidadãos que contribuam para o desenvolvimento da sociedade, com sustentabilidade de forma integrada em sua economia, para que seja politi- camente correta e socialmente justa para todos. O autor afirma ainda que uma empresa socialmente responsável é aquela que corresponde às expectativas dos seus stakeholders (acionistas, fornecedores, clientes, colaboradores, governo, comunidade e todas as partes interessadas nos negócios atuais e futuros). O papel tradicional de gerar bens e serviços, lucro, trabalho e de pagar impostos, está somado, agora, a desafios como o de se tornar socialmente responsável e de realizar investimentos sociais (PRADO, 2011). Para Farias (2011, p. 186–187): A responsabilidade social empresarial é inerente à gênese da organização, fundamento basilar do ser/existir organizacional. Assim, como fundamento filosófico da organização, tende a atualizar-se em sua postura sobre si mesma e perante sua alteridade, traduzindo-se em percepções, apresentações, ações, projetos e comportamentos dentre outras coisas. Instituída na organização, a responsabilidade social macula todo o seu ser/existir, de modo a comprometer a organização com os demais sistemas, como o social, o cultural, o ecológico, o político e o econômico. Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC apud SOUZA; COSTA, 2012, documento on-line): [...] engloba a preocupação e o compromisso com os impactos que determi- nada ação causa aos consumidores, ao meio ambiente, aos trabalhadores e à comunidade local; os valores professados na ação prática cotidiana no mercado de consumo, refletida na publicidade e nos produtos e serviços oferecidos; a postura da empresa em busca de soluções para eventuais problemas; e, ainda, transparência nas relações com os envolvidos em suas atividades. 3Projetos comunitários Quando falamos de forma específica nos projetos comunitários, podemos afirmar que esses são, portanto, parte integrante de um programa de respon- sabilidade social. São projetos criados para benefício de uma comunidade, para melhoria da sua qualidade de vida e satisfação de algumas das suas necessidade básicas. Tenório (1995) diz que podemos definir projetos comunitários como um conjunto de atividades organizadas em ações concretas, que objetivam atender as necessidades identificadas por uma comunidade. Os projetos comunitários podem ser criados tanto para a comunidade interna de uma organização quanto para a externa, ou mesmo envolver as duas em um único fim. Podem, ainda, ser iniciativas essencialmente privadas, realizadas em parceria público-privada ou, então, parcerias realizadas com diferentes segmentos da sociedade civil. Esse, por sua vez, é um dos campos em que as relações públicas podem contribuir para o auxílio da transformação social, ou seja, ajudando essas comunidades por meio das suas técnicas e instrumentos, desenvolvendo projetos e ações de comunicação comunitária que podem estar voltados ao meio ambiente, à educação, à sociabilização, à inclusão, à cultura, à saúde, ao apoio a minorias e a muitos outros temas. É dentro desse contexto que abordamos mais um conceito, o de relações públicas comunitárias. Para Kunsch e Kunsch (2007, p. 172), “[...] relações públicas comunitárias autênticas são muito mais do que um trabalho “para” a comunidade, nos moldes tradicionais, por meio de ações paternalistas”. Projetos comunitários4 As autoras afirmam também que é “[...] um trabalho comprometido com os interesses dos segmentos sociais organizados ou com o interessepúblico” (KUNSCH; KUNSCH, 2007, p. 107). Para Peruzzo (1993, documento on-line), falar de relações públicas popu- lares ou comunitárias: [...] significa falar de "novas" relações públicas. "Novas" no sentido de estarem comprometidas com a realidade concreta e com as necessidades e interesses majoritários da população sofrida, impossibilitada de usufruir dos direitos plenos de cidadania. Com base nisso, a autora (PERUZZO, 1993, documento on-line) nos relaciona algumas das possibilidades de uso das técnicas e instrumentos de relações públicas que podem ser desenvolvidas no campo popular, em relação às ações de respon- sabilidade social que buscam criar projetos comunitários para essa população: a) no levantamento do conjunto da situação ou no diagnóstico, para subsidiar a ação a ser implementada; b) no planejamento, de preferência participativo, das atividades das entidades sem fins lucrativos, inclusive para a implementação de programas ou de políticas públicas; c) no incremento da comunicação e na articulação dentro do próprio movi- mento e dele para com outros movimentos similares; d) na obtenção de informações para os movimentos populares e sua efetiva democratização dentro dos próprios movimentos; e) no relacionamento adequado com organismos da sociedade civil: meios de comunicação de massa, igrejas, entidades de assessoria, organizações não governamentais, etc., bem como especialistas individuais, como engenheiros, jornalistas, advogados e pedagogos; f) no relacionamento adequado com os partidos políticos, com a Câmara de Vereadores, com a Assembleia Legislativa e com outros órgãos do Parlamento, com as Prefeituras e com outros órgãos dos Poderes Exe- cutivo e Judiciário; g) na elaboração de cartazes, faixas, jornais murais, boletins, programas radiofônicos, releases, correspondência, vídeos, etc.; h) na organização de eventos educativos, culturais e de lazer (cursos, se- minários, exposições artísticas, festivais, torneios, festas, etc.), os quais podem favorecer a organização e a ação coletivas; i) na preparação e na aplicação de pesquisas de opinião; j) na escolha de meios adequados para o encaminhamento das reivindicações junto aos órgãos competentes; k) na preparação de reuniões e de entrevistas coletivas; l) na documentação da história do movimento. 5Projetos comunitários Para não haver engano, é importante diferenciar a conceituação de res- ponsabilidade social do conceito de marketing social. Este trata, de uma forma resumida, de uma “[...] estratégia de negócios que busca criar uma imagem positiva da empresa por intermédio da defesa de causas sociais, culturais ou ambientais” (BEGHIN, 2005, p. 30). Esse tipo de marketing está mais voltado a trabalhar o lado da reputação da empresa ou de uma marca e de valorizar o consumidor, em detrimento do cidadão. A RSE, por meio dos projetos comunitários, não se resume ao marketing social. Mesmo existindo um componente mercadológico importante há uma questão maior e de efeitos mais fortes, que envolvem a busca por verdadeiros resultados que proponham melhorias na sociedade como um todo. Projetos comunitários e sua relevância Os benefícios que a realização de projetos comunitários pode oferecer a uma comunidade são inquestionáveis. Dependendo do seu objetivo e do seu foco de ação, um projeto comunitário pode libertar crianças do trabalho escravo, da exploração sexual, pode retirar jovens da marginalidade, resgatar a cultura de povos indígenas ou de outras culturas, pode salvar animais abandonados, auxiliar no bem-estar de pessoas idosas, diminuir a mortalidade infantil, promover e criar oportunidades de trabalho, etc. Os exemplos são muitos, mas você sabe que as organizações também são benefi ciadas ao exercerem ações e atitudes socialmente responsáveis? São benefícios da realização de projetos comunitários: tangíveis — são aqueles em que as empresas recebem incentivos e subsídios governamentais por suas ações; intangíveis — são aqueles relacionados à imagem da empresa perante seus consumidores e à sociedade como um todo. Prado (2011) afirma que a estratégia de RSE, bem como a execução de projetos comunitários, contribui para a perenidade da empresa, promove e fortalece sua imagem corporativa, agrega valor aos produtos e serviços, inova no alcance de objetivos empresariais e cria um pacto social envolvendo empresas, sociedade civil e o governo. Além disso, pode tornar a empresa reconhecida pelas suas ações, bem como levar a uma maior fidelização por Projetos comunitários6 parte dos consumidores, a uma relação mais amistosa com a comunidade e a opinião pública e a uma maior valorização das ações com os acionistas. Para Melo Neto e Froes (2001), a empresa ganha internamente e externa- mente com ações de responsabilidade social à medida que: cria maior motivação, autoestima e orgulho entre os funcionários; aumenta a produtividade e a qualidade de vida no trabalho; diminui gastos com saúde dos funcionários; desenvolve o potencial e os talentos dos seus funcionários, propiciando cada vez mais inovações; melhora seus relacionamentos com seus stakeholders, de forma externa, e ganha retorno institucional de imagem; goza de maior credibilidade e confiança de clientes e consumidores (o que reflete, por fim, em aumento de vendas); proporciona o desenvolvimento e maior capacitação do local em que atua; profissionaliza a mão de obra local ao se inserir e agir na comunidade. Segundo Robbins e Coultier (apud SOUZA; COSTA, 2012), os motivos pelos quais as organizações devem ser socialmente responsáveis são: expectativa pública — a opinião pública apoia empresas que perseguem objetivos tanto sociais quanto econômicos; lucros em longo prazo — esse é o resultado normal das melhores relações com a comunidade e da melhor imagem de relações públicas da empresa em termos de cidadania; obrigação ética — ser socialmente responsável é a coisa ética ou correta a fazer; imagem pública — as empresas procuram melhorar sua imagem pú- blica para aumentar vendas, manter melhores empregados, ter acesso a financiamentos e outros benefícios; melhor ambiente — o envolvimento das empresas pode ajudar a re- solver problemas sociais complicados, a criar uma melhor qualidade de vida e uma comunidade mais desejável, que possa atrair e manter empregados qualificados; desencorajamento de regulamentações governamentais posteriores — regulamentos do governo acrescentam custos econômicos e restrin- 7Projetos comunitários gem a flexibilidade decisória da administração; tornando-se socialmente responsáveis, as empresas podem esperar menos regras do governo; equilíbrio entre responsabilidade e poder — quando o poder é muito maior do que a responsabilidade, o desequilíbrio estimula o comporta- mento irresponsável que vai contra o bem comum; interesses dos acionistas — ela pode ser boa para os acionistas já que tais medidas obterão aprovação pública, levarão a empresa a ser vista pelos analistas financeiros como menos expostas à crítica social e produzirão um aumento no preço das ações; posse de recursos — as empresas possuem recursos financeiros, espe- cialistas técnicos e talento administrativo para apoiar projetos públicos e de caridade que necessitem de assistência; superioridade da prevenção em relação à cura — as empresas devem agir antes que esses problemas se tornem sérios e caros, desviando a energia da administração da tarefa de cumprir sua missão de produzir bens e serviços. Na realidade em que vivemos e considerando as exigências impostas pela sociedade, o sucesso de uma empresa não está vinculado apenas ao que ela entrega ao mercado, ou seja, à qualidade ou ao preço dos seus produtos ou serviços. A imagem, o sucesso e o bom desempenho econômico de uma organização podem facilmente ser abalados por algum tipo de ação que seja prejudicial à sociedade ou que possa causar algum impacto negativo ao meioambiente. E, com a rapidez da disseminação das informações por meio da tecnologia, não é preciso menos de alguns segundos para que a imagem de uma organização seja prejudicada de forma rápida. Clique no link a seguir e conheça o Coletivo Jovem, em exemplo de um projeto comunitário criado pelo Instituto Coca-Cola. Trata-se de um belo exemplo de como as organizações podem beneficiar muitas pessoas e auxiliar na inserção de jovens no mercado de trabalho. https://qrgo.page.link/EB7Y Projetos comunitários8 Com base nos elementos e afirmações apontados a respeito da importância dos projetos comunitários na sociedade, não podemos deixar de citar Prado (2011, documento on-line), que afirma o seguinte: Não se pode perder a ideia de que, mesmo havendo uma perspectiva de ganhos, às vezes, em curto prazo, é importante perceber que a prática da responsabi- lidade social das empresas consiste em um dever moral dos empresários, em cumprimento de sua cidadania, uma estratégia de sustentação do negócio e da sociedade em longo prazo. Vamos planejar? Decidir colocar a responsabilidade social no planejamento e nos objetivos de uma organização é um passo bastante importante. Tornar as atitudes social- mente responsáveis presentes no dia a dia dessa organização é um grande desafi o. Mas e quando a empresa decide que implantará um projeto comuni- tário? Por onde começar? É preciso lembrar que a execução de qualquer tipo de projeto, e não apenas de um projeto comunitário, não acaba no planejamento. Ele é seguido por outras etapas tão importantes quanto, por isso são necessárias uma cuidadosa implantação e uma posterior e rigorosa avaliação. Ter consciência da impor- tância dessas etapas é essencial para a eficiência, a eficácia e a efetividade de um projeto social. Planejamento, segundo Corrêa e Sena (2009), é o processo e a forma de pensar como se organizará a sequência de atividades e ações futuras, de modo que nos articulemos de forma lógica e ordenada para diminuir o risco de fracasso. O planejamento de qualquer atividade é essencial para se alcançar um objetivo. É o que indica o que se deve fazer, com quem, quando, como, onde, com quê e quais recursos são necessários. Sem o planejamento corremos o risco de dar “tiros às cegas”, sem chegar a lugar algum e sem atingir os nossos objetivos. 9Projetos comunitários Iniciaremos por um formato mais abrangente, proposto por Kunsch (2016). Nessa situação, a autora cria uma única estrutura para diversos tipos de projetos específicos de relações públicas, sendo os comunitários, um exemplo. Veja, no Quadro 1, a proposta criada pela autora e o seu passo a passo. Fonte: Adaptado de Kunsch (2016). 1 — Título do projeto 2 — Entidade promotora e realizadora 3 — Identificação do projeto (livre descrição do conteúdo e da proposta básica) 4 — Objetivos gerais e específicos 5 — Justificativas: destacar razões, necessidades e vantagens, relações custo-benefício 6 — Identificação e caracterização dos públicos que serão atingidos 7 — Estratégias gerais 8 — Escolhas dos programas de ação: relacionar todas as atividades que deverão ser desenvolvidas 9 — Determinação dos recursos necessários: humanos — coordenador responsável, equipe executora e todo o pessoal envolvido, contratação de especialistas ou serviços de terceiros; materiais — previsão de todos os materiais permanentes, infraestrutura física, equipamentos e materiais de consumo; financeiros — orçamento detalhado com todas as previsões de alocação de recursos. 10 — Cronograma de execução 11 — Controle: previsão de todos os instrumentos de controle 12 — Avaliação dos resultados: parâmetros e indicadores 13 — Recomendações e resultados esperados 14 — Fontes consultadas e relação de anexos, se houver Quadro 1. Estrutura de um projeto específico de comunicação Projetos comunitários10 Kunsch (2016, p. 379) afirma que: A escolha e a decisão de fazer projetos nesse segmento dependerão das de- mandas sociais do ambiente e da demanda da história. A princípio, temos de levar em conta os menos favorecidos, que são vítimas das desigualdades sociais. Pensar em ações sociais em parceira com o poder público (o Estado) e o terceiro setor é um caminho para chegar a algo que possa de fato trazer uma contribuição efetiva. Em uma proposta um pouco mais completa, Tenório (1995) divide a elabora- ção do planejamento de projetos comunitários em quatro etapas: identificação, viabilidade, projeto e análise. A etapa de identificação é aquela em que, como o próprio nome diz, são identificadas algumas necessidades, por meio da constatação de determina- dos problemas de uma comunidade. São essas necessidades que poderão ser atendidas por meio da implantação de um projeto comunitário. O projeto deve ter uma estratégia de ação na qual a comunidade deixe de ser o sujeito passivo para ser o sujeito determinante do processo de transformação de sua condição socioeconômica e política. O projeto só alcançará resultados positivos se a população a ser beneficiada se envolver em todas as etapas de sua elaboração (TENÓRIO, 1995, p. 18). A afirmação de que a população a ser beneficiada deve participar das etapas de elaboração do projeto é um dos grandes desafios dessa construção participativa, pois os grupos envolvidos não são homogêneos e o projeto deve atender as necessidades de toda a comunidade em questão, como os organizadores, os financiadores, os parceiros e, logicamente, os beneficiários. O autor ainda nos relaciona algumas atividades que são desenvolvidas nessa etapa de identificação: realizar um levantamento de dados e informações preliminares, para caracterizar o problema a ser estudado; especificar a área na qual o projeto será realizado; identificar a importância das necessidades que deverão ser atendidas dentro da área especificada; 11Projetos comunitários definir os objetivos que deverão ser alcançados; identificar os públicos que serão beneficiados com a execução do projeto; identificar os recursos necessários: financeiros, humanos, materiais e tecnológicos (TENÓRIO, 1995). A segunda etapa é a de viabilidade. Esse é o momento em que se deve identificar qual das alternativas anteriormente pensadas será mais viável de realizar. A viabilidade de um projeto deve ser analisada sob os aspectos técnicos, econômicos, financeiros, gerenciais, sociais e ecológicos. A etapa seguinte, segundo Tenório (1995), é a do projeto. É nela que se descreve todo o conteúdo que deverá constar no documento que será apresen- tado em forma de projeto. Nessa etapa, devem ser explicitados os seguintes aspectos (TENÓRIO, 1995): diagnóstico — análise da área em que será implantado o projeto, com informações sobre aspectos socioeconômicos e outras informações relevantes; beneficiários — o público-alvo do projeto; objetivos gerais e específicos; justificativa — importância do projeto em relação aos problemas identificados; programação de todas as atividades; descrição da metodologia de ação; identificação de órgãos e de instituições financiadoras ou apoiadoras; programação orçamentária de todos os recursos necessários (financeiros, humanos, materiais e tecnológicos); administração do projeto; metodologia de acompanhamento; anexos, quando necessário. A última etapa do planejamento de um projeto comunitário é a avaliação. O seu objetivo é o de examinar se a proposta será capaz de atender a ideia ou o problema originalmente identificado. Corrêa e Sena (2009, documento on-line) salientam que a etapa de avaliação deve responder às seguintes perguntas: O projeto... • É fundamentalmente estável (é consistente dentro dos limites estabelecidos)? • É razoavelmente flexível (permite variações e exceções)? • É factível (pode se realizar)? Projetos comunitários12 • Ajusta-se ao tempo estipulado (toma em conta o fator tempo durante toda a situação)? • Leva em consideração os recursos humanos, materiaise financeiros existentes (considera os recursos que há e os solicitados)? • Assegura a coordenação e a cooperação entre as diversas pessoas e unidades executoras (é claro e compreensível para as pessoas e instituições envolvidas)? • É oportuno (se faz com a devida antecipação, o momento é adequado)? É importante ter em mente que, para planejar a implantação de um projeto comunitário, é preciso respeitar e trabalhar com afinco cada uma das suas etapas. Isso é essencial para superar a prática do improviso, bastante comum entre as organizações. BEGHIN, N. A filantropia empresarial: nem caridade, nem direito. São Paulo: Cortez, 2005. CORRÊA, E. J.; SENA, R. R. Planejamento e organização de projetos para grupos comunitários. Belo Horizonte: Nescon; UFMG, 2009. (Série Nescon de Informes Técnicos, no. 4). E-book. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/0274.pdf. Acesso em: 25 abr. 2019. FARIAS, L. A. (org.). Relações públicas estratégicas: técnicas, conceitos e instrumentos. 2. ed. Summus Editorial, 2011. KUNSCH, M. M. K. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. 6. ed. rev. São Paulo: Summus Editorial, 2016. KUNSCH, M. M. K.; KUNSCH, W. L. Relações públicas comunitárias: a comunicação em uma perspectiva dialógica e transformadora. 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Responsabilidade social empresarial e desenvolvimento sustentável: conceitos, práticas e desafios para a contabilidade. Organizações em Con- texto, São Bernardo do Campo, SP, v. 8, n. 15, p. 21–238, 2012. Disponível em: https:// www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/OC/article/view/2866. Acesso em: 25 abr. 2019. TENÓRIO, F. G. (coord.). Elaboração de projetos comunitários: uma abordagem prática. São Paulo: Edições Loyola, 1995. TORQUATO, G. Comunicação nas organizações: conceitos, estratégias, planejamento e técnicas. São Paulo: Summus Editorial, 2015. Projetos comunitários14