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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO PROFESSOR Me. Vinícius Adriano de Freitas ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/1001 EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO Núcleo de Educação a Distância. DE MARINGÁ. FREITAS, Vinícius Adriano de. Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação. Vinícius Adriano de Freitas. Maringá - PR.: Unicesumar, 2021. Reimpresso em 2023. 200 p. “Graduação - EaD”. 1. Fundamentos 2. Filosóficos 3. Históricos. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Roney de Carvalho Luiz Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração André Morais de Freitas Design Educacional Giovana Vieira Cardoso Revisão Textual Meyre Barbosa e Cintia Prezoto Ferreira Ilustração Andre Luis Azevedo da Silva Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 370.9 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-65-5615-316-2 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Head de Produção de Conteúdo Franklin Portela Correia Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Supervisora de Produção de Conteúdo Daniele C. Correia Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi BOAS-VINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra- balhamos com princípios éticos e profissiona- lismo, não somente para oferecer educação de qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- versão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, pro- duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de exce- lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são, que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Me. Vinícius Adriano de Freitas Sou o Professor Vinícius Adriano de Freitas, mestre em Educação pela Universi- dade Estadual de Maringá (2016). Cursei Especialização em Filosofia: Teorias do Conhecimento pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) (2011), instituição na qual também me graduei em Pedagogia (2008) e em Filosofia (2015). Estou cursan- do o Doutorado em Educação (iniciado em 2018) pela UEM. Sou docente da rede municipal de ensino da cidade de Cianorte-PR e professor Assistente do Curso de Pedagogia da UEM, Campus Regional de Cianorte (CRC). Atuo principalmente com os seguintes temas: Ensino, Aprendizagem, Formação de Professores, Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, Alfabetização, Linguística, Metodologia da Pesquisa, Filosofia Moderna, Filosofia Contemporânea e Teoria Crítica da Sociedade. Para maiores informações, consulte na Plataforma Lattes o meu currículo: http:// lattes.cnpq.br/5865292371225852. Você também pode consultar o Orcid: https:// orcid.org/0000-0002-4922-9565. https://orcid.org/0000-0002-4922-9565 https://orcid.org/0000-0002-4922-9565 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO Caro(a) leitor(a), este livro objetiva levar você a refletir sobre os fundamentos históricos e filosóficos da educação. Ser professor é ter profissionalismo para atingir um objetivo maior: tornar possível que o edu- cando se desenvolva e aprenda. Contudo, desenvolvimento e aprendizagem são processos complexos. A epistemologia – também chamada ‘teoria do conhecimento’-, ao longo da história da filosofia, buscou estudar, entre outras questões, como é que o ser humano aprende e, a partir disso, construiu-se aquilo que atualmente chamamos de educação. A disciplina “Fundamentos históricos e filosóficos da educação” vem oferecer encaminhamentos para que você, docente em formação, construa as bases para sua reflexão durante o exercício da profissão docente. Questionamentos como: (i) o que ensino, (ii) para quem ensino, (iii) para que eu ensino, (iv) como facilitar o processo de aprendizagem, (v) quais estratégias de ensino posso utilizar etc. fazem parte do processo de construção da identidade profissional para a docência. Trataremos a educação a partir de seus fundamentos históricos e filosóficos por meio da exposição de filósofos, historiadores e pensadores que, com suas teorias, buscaram proble- matizar acerca da educação no Ocidente. Contudo, não se trata apenas da educação escolar. Quando se aborda a educação com base em concepções teóricas e filosóficas, estar-se-á a lidar com questões mais amplas. “Fundamentos históricos e filosóficos da educação” vem propor que, constantemente, o docen- te, um profissional em constante formação, coloque em questão suas crenças, valores, opiniões, conhecimentos sobre os processos de ensino e de aprendizagem em sala de aula. Direta ou indiretamente, a educação está sempre lidando com questões mais amplas como: sociedade, políticas educacionais, concepções de desenvolvimento e aprendizagem, abordagens históricas e concepções filosóficas. Pensando nisso, o livro está organizado em cinco unidades. Na Unidade 1, intitulada “História, Filosofia e Educação”, analisa-se os princípios da filosofia e a periodização usual (filosofia antiga, filosofia medieval, filosofia moderna e filosofia contem- porânea), buscando relacionar esses saberes com a identidade do ‘ser’ professor. Na Unidade 2, “Fundamentos históricos e filosóficos da educação nos períodos antigo e me- dieval”, o enfoque é compreender como se organizou a formação humana tanto do ponto de vista filosófico quanto pedagógico nas épocas ‘antiga’ e ‘medieval’. Para a educação, o fato mais importante desse período foi o surgimento da universidade, no século XIII. D A D I S C I P L I N AA P R E S E N TA Ç Ã O Na Unidade 3, “Fundamentos históricos e filosóficos da educação no período moderno”, o objetivo principal é compreender como se construíram as bases para a pedagogia moderna: racionalismo, empirismo e criticismo. Buscaremos ver como se deu o surgimento da escola nos moldes queconhecemos hoje, tendo como principais representantes no campo da educação: (i) Rousseau, como filósofo da educação e (ii) Comenius, como ‘fundador’ da didática moderna. A Unidade 4 busca analisar o dilema atual: época contemporânea ou pós-moderna? Intitulada “Fundamentos históricos e filosóficos da educação no período contemporâneo”, tem como objetivo refletir sobre os fundamentos históricos e filosóficos da educação do século XX e até os dias atuais. A Unidade 5, “Fundamentos históricos e filosóficos da educação no Brasil”, tem o propósito de explicitar os fundamentos das ideias pedagógicas que têm tido destaque ao longo da história da educação em nosso país: (i) a Pedagogia Jesuítica; (ii) a Pedagogia Nova; (iii) a Pedagogia Tec- nicista; (iv) a Pedagogia Histórico-Crítica; e (v) Paulo Freire como teórico brasileiro que trouxe importantes reflexões acerca da função da educação em nosso país e no mundo, buscando propor que educandos e educadores reflitam sobre si (autorreflexão) e sobre os fundamen- tos históricos e filosóficos da educação de sua concepção de mundo, sociedade, escola etc. ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. quadro-resumo Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando ideias Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO HISTÓRIA, FILOSOFIA E EDUCAÇÃO 10 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NOS PERÍODOS ANTIGO E MEDIEVAL 50 80 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE 112 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO 150 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL 186 CONCLUSÃO GERAL 1 HISTÓRIA, FILOSOFIA E EDUCAÇÃO PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Fundamentos históricos e filo- sóficos na formação de professores, para quê? • Principais áreas de estudo da filosofia: epistemologia, metafísica, ética, estética e filosofia política • Períodos na História Geral: Pré-história, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea • Períodos da História da Filosofia: Filosofia Antiga, Filosofia Medieval, Filosofia Moderna e Filosofia Contemporânea • Platão: um marco para a história da educação. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender a importância dos fundamentos históricos e filosóficos da educação. • Identificar as prin- cipais áreas de estudo da filosofia e seus respectivos objetos de estudo. • Compreender a periodização como estratégia de compreensão dos diferentes períodos da história geral. • Distinguir os diferentes períodos da História da Filosofia. • Compreender Platão como marco para a história da educação no mundo ocidental. PROFESSOR Me. Vinícius Adriano de Freitas INTRODUÇÃO Olá, estudante, seja bem-vindo(a)! Este estudo tem como objetivo principal formar professores com qualidade. O(a) estudante de cursos de licencia- tura tem como um dos fundamentos de sua formação a compreensão da interdisciplinaridade que há entre história, filosofia e educação. Este enten- dimento nos permite refletir sobre a função social da escola na época atual. A filosofia se consolidou como área do conhecimento na Grécia ainda na Antiguidade. Ela teve momentos altos e baixos, mas, afinal, como ela surgiu? Para que a presença da história e da filosofia em cursos de formação de professores? Diante das questões levantadas, nesta unidade, buscaremos: (i) escla- recer o porquê de estudar os fundamentos históricos e filosóficos da edu- cação em cursos de licenciatura; (ii) evidenciar que a filosofia tem objetos específicos de conhecimento; (iii) compreender, em caráter introdutório, os períodos na História Geral; (iv) compreender, também em caráter in- trodutório, os períodos da História da Filosofia e (v) evidenciar o projeto de Platão em relação à educação. Ao longo da história, a filosofia teve diferentes significados. Diante dis- so, nesta primeira unidade (Unidade 1), concentramo-nos na compreensão do seu surgimento, ou seja, uma introdução à filosofia; sempre buscando: (i) por um lado, explicitar a história e a filosofia como áreas do conheci- mento; (ii) por outro lado, integrar as três áreas do conhecimento: história, filosofia e educação. U N ID A D E 1 12 1 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS NA formação de professores, para quê? Olá, estudante! Ao longo desta aula, o objetivo é compreender o porquê da presença (i) da história, (ii) da filosofia e (iii) da educação no curso de formação de professores. Vamos conversar um pouco sobre os elementos da figura acima: o professor está em pé em uma sala de aula que dispõe de um quadro-negro. Ele está com um livro na mão esquerda e um giz branco na mão direita. Provavelmente irá iniciar a exposição de um conteúdo de uma aula aos estudantes. De certa forma, os quatro elementos descritos – professor, quadro-negro, giz e livro – formam um ícone que representa a ação do docente e a sala de aula nos dias atuais. Vamos pensar: há outras formas de organizar a sala de aula que se distingue do que ve- mos na imagem? pensando juntos A figura que abre este capítulo será objeto de nossa reflexão histórica e filosófica: (i) por que ensinar?, (ii) qual o melhor ambiente para o ensino?, (iii) quem é o educando?, (iv) por que a aula expositiva?, (v) o que o professor ensina?, (vi) como ensinar?, (vii) por que escrever na lousa?, (viii) como avaliar a aprendizagem?, (ix) o livro didático é necessário para uma aprendizagem de qualidade?, (x) qual a relação entre forma e conteúdo nos processos de ensino e de aprendizagem durante a escolarização? U N IC ES U M A R 13 O conteúdo programático deste tópico busca efetivar que você, futuro pro- fessor, tenha a oportunidade de se familiarizar com as principais vertentes da educação, situadas em determinados momentos histórico-filosóficos. Esses conhecimentos são importantes para a formação docente e para a posterior atuação profissional, pois contribuem para ampliar e complementar o pensar e o agir do professor. Direta ou indiretamente, questões filosóficas fazem parte do cotidiano huma- no. Estamos realizando o exercício filosófico quando paramos para refletir sobre o que é melhor para nossa vida. Assim sendo, o ato de filosofar decorre do fato de que sujeitos racionais e sensíveis (o ser humano) são capazes de dar sentido às coisas (filosofia da vida, da existência). Contudo, a filosofia do especialista em filosofia é diferente: ocupa-se com o rigor de conceitos filosóficos (o que pressupõe intimidade com a história da filosofia). No entanto, é necessário fazer uma observação: o pensar do filósofo não é melhor nem superior ao dos “cidadãos comuns”; apenas é diferente. A experiência filosófica está presente no dia a dia da profissão docente, porque problemas filosóficos fazem parte dos processos de ensino e de aprendizagem, ou seja, no seu dia a dia, o docente se questiona: (i) o que é conhecer?, (ii) tudo é passível de conhecimento?, (iii) por que alguns educandos têm mais facilidade para aprender?, (iv) para que é necessário aprender? etc. O estudo da filosofia é essencial, porque não se pode pensar emnenhum ser humano que não seja solicitado a refletir e agir (ARANHA; MARTINS, 1993). Quer dizer, cada ser humano tem uma concepção de mundo, uma linha de conduta moral e política e, então, tende a atuar filosoficamente em todos os contextos, seja (i) no sentido de manter ou (ii) modificar as maneiras de pensar e agir. explorando Ideias A filosofia oferece condições teóricas para a superação da consciência ingênua e o desenvolvimento da consciência crítica. Assim, mediante à filosofia, a “expe- riência vivida” é transformada em “experiência compreendida”, isto é, em um saber a respeito dessa experiência. Em última análise, cabe à filosofia fazer a crítica da cultura. Conforme argumentam Aranha e Martins (1993, p.28), “só assim será possível desvelar as formas de dominação que se ocultam sob o convencionalis- mo, a alienação e a ideologia”. U N ID A D E 1 14 Conforme Stigar (2010), a palavra “filosofia” acaba dando origem ao “filósofo”. “ Em sua origem na Grécia antiga a palavra ‘filósofo’ designava uma pessoa que sempre está em busca da sabedoria, ou seja, ‘amante da sabedoria’ [...](STIGAR, 2010, p. 29). Dessa forma, em sua origem, a filosofia “ [...] era a atividade do homem sábio, ou seja, do amigo do saber (filo + sophia = amor à sabedoria). O filósofo é um conhecedor de tudo, de todas as coisas, o sophós, o sábio (STIGAR, 2010, p. 29). Por que, então, o trabalho docente é filosófico? Porque o trabalho docente é episte- mológico, isto é, lida diretamente com o saber, o conhecimento humano. Envolve constante reflexão sobre o agir didático-metodológico, que, por sua vez, tem três processos que envolvem aspectos históricos e filosóficos: (i) o ensino, (ii) a aprendi- zagem e (iii) o desenvolvimento humano. Epistemologia ou teoria do conhecimento é uma área da filosofia que busca ex- plicar: “o que é conhecimento?” e “como ocorre o processo de conhecer?”. Atualmente, além da filosofia, a psicologia e a pedagogia trabalham com a epistemologia. A Filosofia da Educação é um campo que direciona e, ao mesmo tempo, pro- blematiza sobre a prática pedagógica e a formação humana. Vejamos a explicação dada por Luckesi (1994, p. 21) a respeito da relação entre a educação e a filosofia da educação: “ A educação é uma prática humana direcionada por uma determi-nada concepção teórica. A prática pedagógica está articulada com uma pedagogia, que nada mais é que uma concepção filosófica da educação. Tal concepção ordena os elementos que direcionam a prática educacional. Filosofia, do grego “Φιλοσοφία”, “filosofia”, é uma palavra que, traduzindo para a língua portuguesa, significa “amor à sabedoria”. conceituando U N IC ES U M A R 15 É importante ficar claro que, historicamente, a educação “[...] não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social” (LUCKESI, 1994, p. 30-31), ou seja, a educação sempre tem uma finalidade específica, de acordo com o momento histórico no qual está situada. Os problemas abordados pela filosofia da educação estão ligados aos sujeitos (professor, estudante, tutor, pedagogo, padre etc.) e aos objetos (lápis, livro didático, caderno, computador etc.), bem como a relação entre eles dentro do sistema educacional. Conforme Luckesi (1994, p. 32), nas relações entre filosofia e educação só há duas alternativas: “ [...] ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia – e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência. Retomando a questão, o que induz o educador a filosofar é a sua constante refle- xão acerca dos sujeitos e dos objetos com os quais lida profissionalmente. Dito de outro forma, o que leva o educador a filosofar “ [...] são os problemas (entendido esse termo com o significado que lhe foi consignado) que ele encontra ao realizar a tarefa educativa. E como a educação visa o homem, é conveniente começar por uma reflexão sobre a realidade humana, procurando descobrir quais os aspectos que ele comporta, quais as suas exigências referindo-as sempre à situação existencial concreta do homem brasileiro, pois é aí (ou pelo menos a partir daí) que se desenvolverá o nosso trabalho (SAVIANI, 2000, p. 23). Dessa forma, o exercício filosófico possibilita que as pessoas, diante dos proble- mas, respondam com reflexão e não com ideias prontas. E, diante dos problemas que a realidade educacional apresenta ao educador, a reflexão filosófica se faz necessária. U N ID A D E 1 16 2 PRINCIPAIS ÁREAS DE ESTUDO DA FILOSOFIA: epistemologia, metafísica, ética, estética e filosofia política Há um consenso entre nós, humanos, que aquilo que traz influência sobre nós – (i) os sujeitos e (ii) os objetos – dispõe de características tão complexas que, para nos apropriarmos disso, passou-se a categorizar que se exige diferentes tipos de conhecimento. Observe o quadro a seguir: Conhecimento Popular Conhecimento Científico Conhecimento Filosófico Conhecimento Religioso (Teológico) Valorativo Real (factual) Valorativo Valorativo Reflexivo Contingente Racional Inspiracional Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático Verificável Verificável Não verificável Não verificável Falível Falível Infalível Infalível Inexato Aproximadamente exato Exato Exato Quadro 1 – Os tipos de conhecimento Fonte: adaptado de Ferrari (1974). U N IC ES U M A R 17 Figura 1 - A morte de Sócrates Descrição da Imagem: “A morte de Sócrates” por Jacques Louis David de 1787. Pintura neoclássica francesa, óleo sobre tela. Sócrates, filósofo grego clássico, prestes a beber cicuta venenosa como o preço de manter a defesa de suas ideias. A imagem é um dos símbolos da filosofia ocidental. Afinal, o que distingue estes níveis de conhecimento? Vejamos. O conhecimento empírico diz respeito ao conhecimento imediato, àquilo que nossos sentidos nos repassam imediatamente. Contudo, ao longo da história da filosofia, houve um problema levantado: até que ponto podemos confiar no conhecimento imediato? Um exemplo: por meio da visão, observando o céu, vemos o Sol girando em torno da Terra. Entretanto, por meio do conhecimento científico, sabe-se atual- mente que, ao contrário, é a Terra que gira em torno do Sol. Em outras palavras, às vezes, o conhecimento imediato (empírico) nos engana. No entanto, não se pode desprezar o conhecimento empírico. Apesar de ele ser o imediato, muitas vezes, é verdadeiro e, de certa forma, uma das maneiras de se obter conhecimento é por meio da empiria, ou seja, da experiência imediata. O conhecimento científico diz respeito aos saberes obtidos por meio da ciência. Utiliza-se o método científico para a obtenção de conhecimentos confiá- veis e exatos. Por meio da ciência, certos saberes foram contestados. Por exemplo, atualmente, sabe-se que a saúde não é apenas uma questão de “sorte”, mas de ques- U N ID A D E 1 18 tões referentes à genética, do acesso ao sistema de saúde (enfermagem, medicina, farmácia, fisioterapia etc.), da alimentação, da prática de exercícios físicos entre outros. Assim sendo, de certa forma, o conhecimento científico é muito mais sistematizado e exato que o conhecimento empírico. O conhecimento filosófico tem origem em reflexões que o ser humano faz a partir de questões que levanta no ato de pensar. Contudo, o pensamento filosófico exige um certo rigor. Dito de outra forma, o conhecimento filosófico fica ao nível da linguagem, da lógica, da argumentação e da escrita, mas não é testável, ou seja, não é empírico. Quanto ao conhecimento teológico ou religioso, este também se baseia em questões estritamente relacionadas à crença em entidades que, no geral, não se pode ter experiência (no sentido científico). Assim, tem por base a fé religiosa para dar fundamentos ao conhecimento.Por exemplo, para analisar aquilo que chamamos de “vida”, há quatro formas diferentes de a conhecermos: (i) popular, isto é, diz respeito ao conceito de “vida” que ouvimos no dia a dia (empírico); (ii) científico, refere-se aos conhecimentos que uma ciência como a “biologia” busca documentar de maneira clara e objetiva a definição de “o que é vida”; (iii) o filosófico, por não ser verificável, resume-se à palavra e ao diálogo, ou seja, diz respeito à sabedoria que se busca expressar por meio do raciocínio lógico acerca do conceito de “vida”; por fim, o conhecimento mais aprofundado diz respeito aos estudos de ordem (iv) religiosa, isto é, refere-se à definição atribuída a seres e entidades sobrenaturais – com as quais não se pode ter um contato imediato, porque estão para além da experiência pos- sível – à vida (por exemplo, no cristianismo se diz que a origem da vida veio de um sopro dado por um ser semelhante a nós humanos). quadro-resumo Em outras palavras, a questão não é qual tipo de conhecimento é mais importan- te. O que está em evidência são os níveis de conhecimento diferentes: empírico, científico, filosófico e teológico. A figura a seguir busca sistematizar a discussão desenvolvida até aqui. U N IC ES U M A R 19 Figura 2 - Níveis de conhecimento Fonte: adaptada de Cervo, Bervian e Silva (2007). Ao longo da história, estes diferentes tipos e/ou níveis de conhecimento tiveram diferentes graus de importância: na Antiguidade, valorizava-se o conhecimento filosófico; na Era Medieval, priorizou-se o conhecimento teológico; na Moderni- dade, o conhecimento científico ganhou status; na Contemporaneidade, tem-se oscilado entre o conhecimento científico e o empírico. A partir do que foi teorizado até aqui, você também já deve ter percebido que, além de cada tipo de conhecimento lidar com características específicas do objeto de conhecimento, cada tipo de conhecimento apresenta limitações quan- do é posto em prática. Em outras palavras, cada tipo de conhecimento tem seus métodos e áreas de estudo que lhe são próprios. Apesar da particularidade dos diferentes níveis de conhecimento, pode-se dizer que os quatro níveis de conhecimento têm suas fronteiras. Estes limites acabam definindo as áreas de estudo. Descrição da Imagem: O conhecimento tem origem na relação do sujeito com o objeto em diferentes níveis. O CONHECIMENTO E SEUS NÍVEIS • Níveis do Conhecimento Sujeito Conhecimento Objeto Empírico Cientí�co Filosó�co Teológico U N ID A D E 1 20 A epistemologia, do grego “episteme” (conhecimento) + “logia” (estudo), ou seja, “estudo do conhecimento” ou “teoria do conhecimento” lida com a crença, a justi- ficação e o conhecimento. Segundo Losee (2001), os próprios filósofos praticantes da ciência frequentemente discordam sobre seu objeto de estudo. Losee (2001) adota a posição que distingue fazer ciência de pensar sobre como se faz ciência. A epistemologia é, então, “[...] uma disciplina [...] que se debruça sobre o pensar sobre como se faz ciência (a realidade ou a natureza estaria no plano zero e a Física, como ciência, seria o plano 1 – uma descrição da realidade)” (OSTER- MANN; CAVALCANTI, 2011, p. 9, grifo dos autores). Nessa posição, a epistemologia procura respostas a questões do tipo: ■ Como é obtido e validado o conhecimento científico? ■ Existe um método da Ciência? Se afirmativo, qual é esse método? ■ Em que circunstâncias se dá o abandono de uma teoria e a sua substitui- ção por outra? ■ Qual é o estado cognitivo das leis e princípios científicos? ■ É possível se estabelecer um critério de demarcação? (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 9). Para os racionalistas, o paradigma de conhecimento é a matemática e a lógica. Dessa forma, “ o pensamento racionalista defenderá como princípio inquestioná-vel da verdade científica e da formação da inteligência do homem, a evidência racional, não derivada da experiência ou contato com os objetos, mas de conteúdos mentais, manifestados no homem desde sua origem no mundo (PEREIRA; LIMA, 2017, p. 68). Ao focarmos no conhecimento filosófico, verifica-se que, na relação sujeito-objeto, ele lida com cinco áreas: epistemologia, metafísica, ética, estética e filosofia política. pensando juntos U N IC ES U M A R 21 Para os empiristas, é a ciência que depende da experiência. Defende, portanto, que a “experiência sensível” é o “[...] ponto de partida para a construção de con- clusões legítimas, abstrações e generalizações” (PEREIRA; LIMA, 2017, p. 68). A metafísica ou “ontologia” trata da realidade, do ser, do nada e da verdade. A palavra vem do grego antigo “μετα”, ou seja, “metà”, que significa “depois de”, “além de tudo”; e “Φυσις”, isto é, “physis”, “natureza” ou “físic”, quer dizer, examina a natureza fundamental da realidade. Esta área da filosofia pressupõe um “mundo transcendente”, isto é, a existência de seres (manifestados ou não) “[...] que não podem ser apreendidos por nossos sen- tidos, pelo raciocínio lógico ou por qualquer dos métodos disponibilizados por nossas ciências” (SECCO, 2013, p. 64). Por exemplo, a alma, enquanto objeto de estudo da metafísica, jamais será objeto de estudo do conhecimento científico, porque carece de existência, ou seja, não se faz presente no espaço nem no tempo; está para além do mundo físico (por isso metafísica, para além da física). A ética trata do certo e do errado; do bem e do mal. Pode-se dizer que a ética diz respeito a uma teoria da moral, sendo, então, a “filosofia da moral”, ou seja, o estudo racional sobre a experiência moral dos seres humanos. Ética é, portanto, o campo da filosofia que se preocupa com a definição de o que é bom e o que é mau. Por outro lado, a moral, embora tenha certa relação com a ética, é um campo diferente. Conforme escreve Foucault (1984, p. 26), moral “ [...] é um conjunto de valores e regras de ação propostas aos indivíduos e aos grupos por intermédio de aparelhos pres-critivos diversos, como podem ser a família, as instituições educativas, as Igrejas, etc. A estética, ou “filosofia da arte”, trata do belo. Na língua grega, aesthesis diz respei- to à nossa capacidade de receber impressões sensíveis dos objetos que nos cercam, nossa capacidade de sermos afetados, através dos sentidos, por esses objetos. A filosofia política trata da vida em sociedade. O termo política é derivado da língua grega antiga “πολιτεία”, isto é, “politeía”, é a área que, quando estudada pela filosofia, refere-se ao campo do conhecimento que tem como objeto princi- pal a pólis, ou seja, na língua portuguesa, a cidade. “Como conduzir a vida cole- tiva?” e “como melhorar a convivência com os outros na cidade?” são as questões centrais da política enquanto campo de estudos da filosofia. U N ID A D E 1 22 Neste quadro de áreas de estudo da filosofia, como surge a “filosofia da educação”? Assim, no que diz respeito aos níveis de conhecimento, tanto a “filosofia da educação” e como a “pedagogia” lidam com os quatro níveis – o conhecimento popular, o científico, o filosófico e o religioso. Quanto aos campos de estudo da filosofia, tanto a “filosofia da educação” como a “pedagogia” trabalham com eles: epistemologia, metafísica, ética, estética e filosofia política. Áreas de estudo da filosofia e seus objetos de estudo Epistemologia: questões sobre conhecimento. Metafísica: tempo, espaço, Deus, causa e realidade. Ética: bom e mau. Estética: arte e beleza. Filosofia política: liberdade, justiça e poder. Fonte: adaptado de Robinson e Groves (2012, p. 4). quadro-resumo anotações U N ID A D E 1 24 3 PERÍODOS NA HISTÓRIA GERAL: PRÉ-HISTÓRIA, IDADE ANTIGA, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea Você já se perguntou: qual o motivo da divisão da história em períodos? A gros- so modo, as divisões têm origens metodológicas e pedagógicas, ou seja, buscam facilitar o estudo da história. A divisão dahistória em três períodos – (i) antigo, (ii) medieval e (iii) mo- derno – foi consagrada pelo pedagogo alemão Christoph Keller, chamado em latim de “Cellarius” (nascimento em 22 de novembro de 1638 e falecimento em 4 de junho 1707). Embora a divisão “antiga-medieval-moderna” da história tenha sido usada anteriormente por estudiosos italianos renascentistas, Cellarius, por meio de sua obra História Universal dividido em um período antigo, medieval e Nova ajudou a popularizar estes três períodos. Depois dele, essa divisão tripartite se tornou padrão. A Pré-História diz respeito ao período anterior à invenção da escrita. Trata- -se de uma época na qual o ser humano começa a viver em comunidade. Contudo, a questão de ser a escrita o “divisor de águas” entre pré-história e história, confor- me afirmam Rosa e Zingano (2013, p. 33), atualmente é uma ideia questionável: “ Por muito tempo a Pré-História foi definida como o período que vai desde o aparecimento do homem (mais ou menos três milhões de anos a.C.) até a invenção da escrita (mais ou menos quatro mil anos a.C.). Atualmente, os historiadores discutem este conceito, pois, ainda que uma civilização não tenha desenvolvido a escrita, não significa que ela não tenha sua própria história. http://en.wikipedia.org/wiki/Renaissance U N IC ES U M A R 25 No que diz respeito à formação (educação) na Pré-História, de certa forma ela estava diretamente ligada à sobrevivência humana. Como não havia distinção entre ciência e magia, as pessoas agiam por instinto e, então, os saberes que iam sendo internalizados eram, depois, transmitidos dos mais velhos para os mais jovens sobretudo por meio da oralidade (diálogo). A Idade Antiga ou Antiguidade é o primeiro período da história propria- mente dita. Tem como marco inicial o desenvolvimento da escrita, fato ocorrido cerca de 4000 anos a.C. Tradicionalmente, considera-se que a Idade Antiga se encerra com a queda do Império Romano do Ocidente, no ano 476 d.C. A Idade Média é o período que tem início em 476 d.C. e vai até a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos (1453 d.C.). São destaques da Idade Média: (i) Alta Idade Média; (ii) Feudalismo (iii) Baixa Idade Média; (iv) Cultu- ra Medieval e (v) Formação das Monarquias Nacionais. O Período Medieval é marcado pelo domínio da religião, sobretudo pela Igreja Católica. A Idade Moderna é o período da História que vai de 1453 até 1789 (ano no qual ocorre a Revolução Francesa). Nesse período, podemos destacar: (i) ex- pansão marítima europeia; (ii) revolução comercial e o mercantilismo; (iii) co- lonialismo europeu na América; (iv) périplo africano; (v) renascimento cultural; (vi) reforma protestante e contrarreforma; (vii) absolutismo e (viii) iluminismo. Conforme indica Araújo (2007, p. 25), a modernidade se caracteriza “ [...] pela antitradição, pela derrubada das convenções, dos costumes e das crenças, pela saída dos particularismos e entrada no universa-lismo, ou ainda pela entrada da idade da razão. Mas, muitas combi- nações do moderno e do tradicional podem ainda ser encontradas nos cenários sociais concretos. Como afirma Habermas (2002, p. 5), a modernidade, que faz jus ao conceito de “modernização”, se refere “ [...] a um conjunto de processos cumulativos e de reforço mútuo: à formação de capital e mobilização de recursos; ao desenvolvimento das forças produtivas e ao aumento da produtividade do trabalho; ao estabelecimento do poder político centralizado e à formação de identidades nacionais; à expansão dos direitos de participação político, das formas urbanas de vida e da formação escolar formal; à secularização de valores e normas etc. U N ID A D E 1 26 Modernidade é, portanto, “sinônimo de sociedade moderna ou civilização indus- trial e está associada a um conjunto de atitudes perante o mundo [...]” (ARAÚJO, 2007, p. 26), como a predominância da ideia de que o mundo “ [...] é passível de transformação pela intervenção humana; um com-plexo de instituições econômicas, em especial a produção industrial e a economia de mercado; toda uma gama de instituições políticas, como o Estado nacional e a democracia de massa; a primazia e a centralidade do indivíduo e não, do grupo como sujeito de direitos e de decisões; o primado da subjetividade; o pluralismo e a ideo- logia; a concepção linear de história; a realimentação mútua entre ciência e tecnologia, com a hegemonia de sua racionalidade própria; o predomínio cada vez maior do simbolismo formal de cunho nu- mérico-matemático (informática); a pesquisa e industrialização em níveis diversos de qualidade técnica (transformadora, inovadora, criadora); a burocratização e a organização política da sociedade (ARAÚJO, 2007, p. 26-27). A Idade Contemporânea diz respeito ao período que tem início em 1789 e chega até os dias atuais. O termo “contemporâneo” vem do latim contemporaneus e quer dizer “o que coincide com o tempo”. O conceito contemporâneo é usado como sinônimo de “atual”, “atualidade”. A época contemporânea se refere ao período de consolidação do capitalismo como modo de produção. Refere-se também à globalização da economia, con- forme Moreira e Kramer (2007): “ A expressão [globalização] refere-se à maciça presença, no mundo de hoje, de instituições transnacionais, cujas decisões interferem nas opções políticas que se fazem no âmbito de qualquer Estado-nação. Designa também o efeito de processos econômicos, entre os quais se incluem processos de produção, consumo, comércio, fluxo de capitais e interdependência monetária. Em outros momentos, a pa- lavra corresponde à difusão do discurso neoliberal, crescentemente hegemônico e visto como inevitável. Ainda em outros, associa-se ao surgimento de novas tecnologias da informação e da comunicação que socializam saberes e, em certo grau, padronizam os significados atribuídos ao mundo, à vida, à sociedade, à natureza. Finalmente, U N IC ES U M A R 27 em muitos casos, o termo corresponde às mudanças decorrentes de regras globais, formuladas por organismos como o Fundo Monetá- rio Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BURBULES; TORRES, 2000 apud MOREIRA; KRAMER, 2007, p. 1039). Contudo, há uma problemática com relação à denominação da época atual: con- temporaneidade ou pós-modernidade? Embora ambos os termos se refiram à época atual, a pós-modernidade tem uma perspectiva bem distinta em relação ao tempo presente. Conforme indica Adelman (2009, p. 187), o “pós-moderno” diz respeito à “ [...] fase histórica do capitalismo tardio e seu ‘reflexo’ no pensamen-to - também é representado como deterioração [...], triunfo final de uma sociedade capitalista, sem mais capacidade de manter uma oposição política e cultural autêntica. Pré-história: do surgimento do ser humano ao ano 4000 a.C. 1. Idade Antiga: do ano 4000 a.C. ao ano 476 d.C. 2. Idade Média: do ano 476 ao ano 1453. 3. Idade Moderna: do ano 1453 ao ano 1789. 4. Idade Contemporânea: do ano 1789 aos dias atuais. quadro-resumo Diante do exposto, a seguir buscaremos relacionar os períodos da história geral com os períodos da história da filosofia. U N ID A D E 1 28 4 PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA: filosofia antiga, filosofia medieval, filosofia moderna e filosofia contemporânea Geralmente a periodização da história da filosofia é feita a partir de uma corre- lação com os períodos da história: (i) filosofia antiga; (ii) filosofia medieval; (iii) filosofia moderna e (iv) filosofia contemporânea. Tradicionalmente, a Filosofia Antiga é dividida em três épocas: (1) período pré-socrático ou cosmológico, (2) período socrático ou antropológico e (3) período helenístico ou greco-romano. Estas três fases na história da filosofia antiga aconteceram, sobretudo, em Atenas e, depois, em Roma. Vejamos as ca- racterísticas deste período de acordo com “ o período pré-socrático ou cosmológico, em que a filosofia se ocupa principalmente com a origem do mundo e as causas das transfor-mações da natureza; o períodosocrático ou antropológico, ocorrido entre o final do Sé- culo V até o final do Século IV a.C., cujas figuras principais são Sócrates, Platão e Aristóteles, em que o objeto de estudo da filosofia passa a ser o homem, sua vida política e moral, e sua capacidade de conhecer as coisas; e o período helenístico ou greco-romano, entre o final do Século III a. C até o Século II d. C, quando começa a consolidar-se a supremacia da visão cristã, sobretudo com o pensamento de Santo Agostinho. Neste período, deixa-se de acreditar em soluções mais coletivas para a vida humana e se começa a introduzir uma saída individual, U N IC ES U M A R 29 consolidando-se uma nova ética e uma política que deixa de ser vista como boa. É o período em que predominam as doutrinas dos estoicos, dos epicuristas e dos céticos. Neste período, as doutrinas filosóficas helenísticas deixaram de ter sua sede em Atenas, e Roma passara a ser o lugar em que tais doutrinas continuaram consoli- dando-se e modificando-se (ASSMANN, 2014, p. 35, grifo do autor). Do ponto de vista epistemológico – da teoria conhecimento –, no período pré- -socrático, já se investigava a natureza de maneira racional, ou seja, a filosofia surge por meio de um “desligamento” entre o mítico (fundamentado em deuses) e o filosófico (fundamentado na racionalidade humana). Neste sentido, os dois principais filósofos pré-socráticos são Heráclito e Parmênides. Heráclito (544-484 a.C.) nasceu em Éfeso, na Jônia. Seu principal propósito foi compreender a multiplicidade do real. Para ele, o ser é múltiplo, não apenas no sentido de multiplicidade das coisas, mas também no sentido de oposições internas. Aranha e Martins (2009, p. 150) explicam o pensamento de Heráclito explicitando que, para ele, o que mantém o “ [...] fluxo do movimento não é o simples aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários, pois ‘a guerra é pai de todos, rei de todos’. É da luta que nasce a harmonia, como síntese dos contrários. O dinamismo de todas as coisas pode ser representado pela metáfora do fogo, expresso visível da instabilidade, símbolo da eterna agitação do devir: ‘o fogo eterno e vivo, que ora acende e ora se apaga, Com relação a Parmênides (540-470 a.C.), que viveu em Eleia, cidade do sul da Magna Grécia, Aranha e Martins (2009) conceituam que sua teoria filosófica influenciou de maneira decisiva no pensamento ocidental. Para Parmênides, o ser é único, imutável, infinito e imóvel. Dessa forma, cabe explicitar que sua teoria se contrapõe à filosofia de Heráclito, de que uma coisa poder ser e não ser ao mesmo tempo. Todavia, Parmênides não nega a existência do movimento, porém, considera que este processo existe apenas no mundo sen- sível, mas a percepção deste movimento pelos sentidos é ilusória, sendo apenas o mundo inteligível o verdadeiro. No período socrático ou antropológico, investigam-se as questões hu- manas, tais como a ética, os comportamentos e conhecimentos humanos. Este período se estende do final do século V a.C. ao final do século IV a.C. U N ID A D E 1 30 No período helenístico ou greco-romano, acompanham-se as transforma- ções da cultura grega, que passa a fazer parte do Império Romano. Mais tarde, surge o cristianismo, que influencia no desenvolvimento posterior. Este período se estende do final do século III a.C. até o século VI depois de Cristo. Na transição da antiguidade para o período medieval, na época da chamada “filosofia patrística” – elaborada por padres da Igreja, por isso a palavra “patrísti- ca” –, é um período em que a preocupação principal é com as questões religiosas, tais como (a) a criação do mundo, (b) o pecado original, (c) a ressurreição dos mortos, avançando, assim, para temas mais complexos de caráter moral como (d) consciência, (e) livre-arbítrio e (f) as relações entre fé e razão. Este período se estende do século I até o século VII d.C. A Filosofia Medieval foi fortemente influenciada pelos pensamentos de Platão e Aristóteles, abrangendo também pensadores árabes, judeus e europeus. Este período se estende entre o século VIII e o século XIV. Na maior parte da Europa, a Idade Média durou mil anos. É um período muito longo se comparado com a Antiguidade (cinco a seis séculos, dependendo da região), que o precedeu, e a Idade Moderna (três séculos). Uma ideia que causou intenso debate durante o desenvolvimento da Filosofia Medieval foi a questão dos universais. O universal é a ideia e a essência comum a todas as coisas. Esta problemática teve início com as questões formuladas por Por- fírio de Tiro (234-305). O questionamento deste pensador acerca dos “predicáveis” geralmente é sistematizado da seguinte forma: (a) são os predicáveis realidades subsistentes em si mesmas? Ou (b) consistem apenas em simples conceitos men- tais? Se são os predicáveis realidades subsistentes em si mesmas (a), são corpóreas? U N IC ES U M A R 31 Descrição da Imagem: A Acrópole de Atenas, Grécia, com o Templo Parthenon no topo da colina durante um pôr-do-sol de verão, é um dos símbolos mais conhecidos da capital grega. Figura 3 - Acrópole de Atenas (x) ou incorpóreas? (y). Se a resposta entre (x) e (y) for a de que são corpóreas (a), são separadas das coisas sensíveis (I) ou subsistem nas coisas corpóreas e delas dependem (II)? As principais soluções apresentadas para estas perguntas foram (i) o realismo, (ii) o realismo moderado, (iii) o nominalismo e (iv) o conceptualismo. “ Para os realistas, como Santo Anselmo (séc. XI) e Guilherme de Champeaux (séc. XIII), o universal tem realidade objetiva (são res, ou seja, “coisa”). Essa posição é claramente influenciada pela teoria das ideias de Platão. O realismo moderado é representado no século XIII por Tomás de Aquino. Como aristotélico, afirma que os universais só existem formal- mente no espírito, embora tenham fundamento nas coisas. Para os nominalistas, como Roscelino (séc. XI), o universal é apenas o que é expresso em um nome. Ou seja, os universais são palavras, sem nenhuma realidade específica correspondente. A tendência no- minalista reapareceu com algumas nuanças diferentes no século XIV com o inglês Guilherme de Ockam, franciscano que representa a reação à filosofia aristotélico-tomista. A posição conceptualista é intermediária entre o realismo e o nomina- lismo e teve como principal defensor Pedro Abelardo (séc. XII), grande mestre da polêmica. Para ele, os universais são conceitos, entidades mentais, que existem somente no espírito (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 162, grifo das autoras). U N ID A D E 1 32 A Filosofia Moderna valoriza principalmente a reflexão como ponto de partida do raciocínio filosófico. Na Filosofia Moderna, defende-se que tudo o que deseja- mos conhecer pode ser transformado em uma ideia clara, formulada pelo intelecto. Neste período, que se estende do século XVII até o século XVIII, a percepção de realidade dá origem à ciência moderna, a qual tem início com René Descartes. “Pai da filosofia moderna” e matemático, de fato, Descartes merece o lugar de destaque. Primeiro, “[...] por ter buscado com afinco um método em todos os ramos da investigação humana [...]” (SCRUTON, 1981, p. 35), segundo, “[...] por ter introduzido na filosofia [...], muitos dos conceitos e argumentos que desde então têm servido de fundamento”, argumenta Scruton (1981, p. 35). Contudo, o teórico adverte que, a tradição de dizer que Descartes deu início à filosofia moderna, “[...] não deve induzir-nos a erigir uma barreira intransponível [...]” (SCRUTON, 1981, p. 20). “ Embora o pensamento de Descartes tenha mudado de forma radical o método filosófico, grande parte de seu conteúdo não mudou. Por-tanto, não deveríamos surpreender-nos caso se possa demonstrar que algum argumento filosófico moderno foi antecipado pelos pen- sadores medievais, nas diversas tentativas que eles empreenderam no sentido de reconciliar a religião e a filosofia ou de separá-las. Por fim, a filosofia nos dias atuais, a chamadaFilosofia Contemporânea, vol- ta-se para os problemas referentes ao avanço técnico-científico. Devemos nos lembrar de uma sociedade que nos últimos 200 anos sofreu uma série de mudan- ças radicais como, por exemplo, a ascensão da burguesia ao poder, duas Guerras Mundiais e ameaças de extinção da vida na Terra. Este período se estende de meados do século XIX aos dias atuais. Nietzsche, filósofo alemão, é considerado o pensador que deu início à Filoso- fia Contemporânea. Crítico da modernidade, Nietzsche representa, na verdade, uma crítica à filosofia e à sua história. Com base em outros critérios, é possível elaborar outras formas de perio- dização da filosofia. González Porta (2003), por exemplo, organiza a história da filosofia conforme quadro a seguir : U N IC ES U M A R 33 Período filosófico Correspondência ao período histórico Grandes nomes Disciplina- chave Conceito- chave 1. Período metafísico Época antiga, me- dieval e início da moderna Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino Metafísica (ontologia) Ser 2. Período epistemo- lógico (ou transcen- dental) Época moderna Descartes, Kant Episte- mologia, Teoria transcen- dental Verdade, objetivida- de, validez 3. Período semântico- -hermenêu- tico Época contempo- rânea Husserl, Dilthey, Heidegger, Frege, Wit- tgenstein Teoria da significa- ção, Feno- menologia, Herme- nêutica, Semântica (análise lógica da linguagem) Signi- ficado, semânti- ca: análise lógica da linguagem Quadro 2 – A história da filosofia a partir de seus problemas Fonte: adaptado de Porta (2003). Diante do exposto no decorrer desta unidade, fica evidente a importância da pe- riodização da história da filosofia. Contudo, como mostra o quadro apresentado, existem outras formas de organizá-la. Assim sendo, a periodização não pode ser usada como critério determinante para compreender a filosofia, a filosofia da educação, os filósofos, os problemas filosóficos, a pedagogia etc. U N ID A D E 1 34 5 PLATÃO: UM MARCO PARA A HISTÓRIA DA educação Ao longo da história da humanidade, o processo educativo passou (e tem passa- do) por constantes mudanças. Neste contexto, evidenciam-se “pedaços” de cultu- ras antigas em nossa educação contemporânea. Como afirma Marrou (2015, p. 4), “a história da educação na Antiguidade não pode deixar indiferente nossa cultura moderna; ela retraça as origens diretas de nossa própria tradição pedagógica”. De fato, muito do que ocorre na educação aqui no Brasil, desde o “descobrimento” até os dias atuais, é uma herança das culturas europeias. “Somos grego-latinos; o essencial da nossa civilização veio da deles; isto é verdadeiro, em um grau emi- nente, para nosso sistema de educação”, diz Marrou (2015, p. 4). Antes dos gregos e dos romanos, diversos povos já haviam se preocupado com educação. Contudo, não se tratava de uma escolarização institucionalizada, isto é, de uma formação organizada por uma instituição ou pelo Estado, tampouco situada em prédios próprios e/ou coordenada por profissionais especializados (os docentes). Conforme indica Mariano (2012, p. 62), nas sociedades primitivas, “[...] os mais velhos eram os responsáveis por transmitir para os mais novos os ensinamentos necessários para a sobrevivência em suas sociedades [...]”, isto é, os conhecimentos “[...] de caça e pesca; as artes da guerra; os rituais religiosos; lendas e histórias de seu povo”. U N IC ES U M A R 35 Academia de Atenas “Em geral as fontes indicam que a Academia foi fundada por ele [Platão] em 387 a.C., em Atenas, e subsistiu por mais de 9 séculos, até 529, fechada por um Editum do imperador Justiniano”. Fonte: Wermann e Machado (2016, p. 8). conceituando “ Tais formas de educação, no entanto, não se encaixam no que com-preendemos hoje por educação institucionalizada, e muito menos no que entendemos por sistema educacional ou ensino, que envolve hierarquias, normas, leis de regência e controle aplicadas às escolas, aos colégios, às universidades de um determinado país, estado ou cidade (MARIANO, 2012, p. 62, grifo da autora). A educação, como conhecemos hoje, teve como marco o filósofo Platão – nas- cimento em 427 a.C. em Atenas (Grécia) e falecimento em Atenas (Grécia) 347 a.C. Foi ele o pensador que fundou a Academia de Atenas, escola que tinha o nome do herói Academos. Descrição da Imagem: Na imagem, a Academia de Atenas e a Biblioteca Nacional de Atenas, Grécia. Da direita para a esquerda, a imagem apresenta sete prédios, com cores variando entre o bege e o cinza. O destaque é o primeiro prédio, no qual há, no telhado, uma bandeira da Grécia que tem as seguintes características: nove listras horizontais iguais alternando de azul com o branco. Na bandeira, há também um quadrado azul no canto superior esquerdo, contendo uma cruz branca. Na frente do prédio que tem a bandeira, há um gramado verde com uma passarela cercada de árvores pequenas (baixas). Figura 4 - Academia de Atenas U N ID A D E 1 36 Há uma relação entre o conhecimento e a felicidade? “A filosofia de Platão tem em seu cerne um projeto sistemático de esclarecimento dos homens e combate à ignorância, fonte de todos os males da humanidade. Para ele, não há felicidade sem sabedoria”. (Vladimir Chaves dos Santos) pensando juntos Platão, ao problematizar sobre a educação e a pedagogia, nos fornece um im- portante retrato do problema da educação na Grécia de seu tempo. Conforme Pagni ([2020], p. 13), o filósofo buscava uma pedagogia (Paideia) justa, isto é, uma educação “[...] que fosse capaz de corrigir as distorções produzidas por poetas e sofistas e de colocar os cidadãos no caminho reto”. Uma das questões que seria necessário era um lugar para os estudos - a Academia, propriamente dita. Na Academia, Platão propõe que se ensine por meio do logos, isto é, da fala ou da palavra humana. São elas as fontes do conhecimento verdadeiro. Em outras palavras, em oposição aos mitos (mitologia grega), o filósofo propõe a razão, ou seja, a ciência. Ela surge como “[...] negação do mitos, enquanto fala sem justificativa e sem autoria, e da afirmação do logos, a fala que tem razão e autor” (SANTOS, 2009, p. 15, grifo do autor). Os conceitos, fonte do conhecimento universal e científico, não se obtêm de seres imaginários (mitos), mas por meio da própria lógica, da discussão, do discurso racional que nós humanos dispomos por meio de nossa linguagem. U N IC ES U M A R 37 Elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aní- sio Teixeira (INEP), é um Glossário que a Diretoria de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do INEP disponibilizou aos professores, estudantes, gestores, dirigentes, pesquisadores e estudiosos da educação. Coordenado pela Professora Marília Morosini (PUCRS), o trabalho foi concebido e produ- zido por integrantes da Rede Sulbrasileira de Investigadores da Educação Superior (RIES), ampliando e consolidando empreendimento anterior mate- rializado na Enciclopédia de Pedagogia Universitária, publicada em 2003 pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e pela Ries. conecte-se Assim, Platão “[...] lançou as bases para a ideia de que a emancipação e a reali- zação do homem se dão por meio do conhecimento; daí, a necessidade de uma educação pública, custeada pela sociedade” (SANTOS, 2009, p. 11), bases da pedagogia moderna. Estas reflexões platônicas influenciaram por séculos a edu- cação e a cultura ocidental, conforme veremos nas próximas unidades. “De acordo com o ideal pedagógico de Platão, a educação escolar deveria ser universal, pública e destinar-se a formar o carácter do indivíduo de harmonia com os valores tradi- cionais e ideais da cidade. Concebeu por isso um modelo de educação dividido em duas etapas fundamentais: a primeira, consagrada à apropriação das virtudes morais básicas, por meio do exercício e da habituação mimética; a segunda, dedicada à aquisição das chamadas virtudes superioresda justiça e da sabedoria, mediante uma radical conversão da vida dos sentidos a dos valores ideais. Ciente de que educar é introduzir ordem e har- monia na conduta humana, Platão não dispensou os valores tradicionais da [...] [paideia] arcaica, mas soube acrescentar-lhes algumas virtudes pedagógicas que a sua filosofia da educação teorizou”. Fonte: Alexandre Júnior (1995, p. 491-492). explorando Ideias Para fechar esta unidade, apresenta-se, a seguir, um quadro no qual está sistema- tizada uma síntese das características dos três primeiros períodos da história da filosofia: (i) Idade Antiga, (ii) Idade Média e (iii) Idade Moderna, com base em sete conceitos: (1) ideia básica, (2) seres humanos, (3) verdade, (4) saber mais importante, (5) trabalho, (6) política e ética e (7) história. http://portal.inep.gov.br/informacao-da-publicacao/-/asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/document/id/489875 U N ID A D E 1 38 Períodos históricos IDADE ANTIGA (século V a.C. – IV d.C) IDADE MÉDIA (século V d.C – XVI) IDADE MODERNA (século XVI – XX) Questões filosóficas Ideia básica (razão última) PHYSIS: razão da natureza Agir é contemplação. Valem os princípios. DEUS: razão de Deus Agir é contempla- ção. Valem os princí- pios. HOMEM: razão do homem Natureza a dominar. Agir é fabrica- ção. Prevale- cem os resulta- dos. Seres humanos Servos da natureza Livres e escravos. Servos de Deus Iguais entre si e irmãos da natu- reza. Senhores de si (eu sou), da natureza e de Deus Livres e iguais pela razão. Verdade Adequação do sujeito ao objeto Objetivismo. Adequação do sujeito ao objeto Objetivismo. Construção (Kant) ou representação Subjetivismo. Saber mais importante Mito e Filosofia Con- templação da nature- za – Ócio. Teologia Contem- plação de Deus – Fé. Ciência e Tecnologia Produção hu- mana. Fruto do trabalho. U N IC ES U M A R 39 Períodos históricos IDADE ANTIGA (século V a.C. – IV d.C) IDADE MÉDIA (século V d.C – XVI) IDADE MODERNA (século XVI – XX) Questões filosóficas Trabalho Atividade de escravos (negativo) Castigo devido ao pecado (negativo) Ação autocria- dora Homem – senhor de si e da natureza (positivo). Política e ética Atividade natural Só na pólis se realiza a ética. Cidade dos ho- mens Separação entre política e moral. Política = mal. Atividade artifi- cial Política: mal necessário (e passageiro). Se- paração entre ética e política. História Fisiológica Eterno retorno do mesmo. Teológica Início e fim em/ com Deus. Antropológica Início com ho- mem. Progres- so (processo). Quadro 3 - Esquema da História da Racionalidade Ocidental Fonte: adaptado de Assmann (2014, p. 56, grifo do autor). U N ID A D E 1 40 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desta unidade, buscou-se responder o porquê da presença dos funda- mentos históricos e filosóficos da educação na formação de professores. Agora já se pode explicitar a justificativa: o trabalho docente é histórico, filosófico, edu- cativo e pedagógico. Abordou-se os diferentes níveis/tipos de conhecimento. Vale relembrar: o conhecimento empírico (popular), o conhecimento científico, o conhecimento filosófico e o conhecimento religioso (teológico) têm similaridades e diferenças. Buscou-se trazer à tona o problema de que é possível analisar um mesmo objeto ou fenômeno sob diferentes questões, métodos e perspectivas. Diante do problema do conhecimento, definiu-se que a pedagogia é a ciência da educação. De certa forma, todo professor é um “especialista em pedagogia” em uma determinada área do saber. Mediante a união entre “história”, “filosofia” e “educação”, estamos a construir os fundamentos históricos e filosóficos da educa- ção. Ficou claro que o campo da filosofia que mais contribuições traz à educação é a epistemologia, pois lida diretamente com o problema do conhecimento. Ao longo de duas seções, o nosso enfoque foi o estudo da periodização: pri- meiramente, a periodização da história; depois, vimos a periodização da filosofia. Por meio da cronologia, busca-se facilitar a compreensão de ciclos presentes ao longo da história. Por fim, encerramos esta unidade com exposição de Platão como um marco na história da educação. Platão defende que todo o conhecimento está presente no próprio sujeito, mas, para realizar plenamente o potencial que o sujeito tem, é necessário o acesso à educação pública. 41 na prática 1. A respeito da filosofia e da “experiência filosófica”, analise as sentenças a seguir: I - A experiência filosófica está presente no dia a dia da profissão docente porque problemas filosóficos fazem parte dos processos de ensino e de aprendizagem. II - A filosofia oferece condições teóricas para a superação da consciência ingênua e o desenvolvimento da consciência crítica. III - O conhecimento filosófico tem origem em reflexões que o ser humano faz a par- tir de questões que levanta no simples ato de pensar. Contudo, o pensamento filosófico exige um certo rigor. IV - Filosofia, do grego “Φιλοσοφία”, “filosofia”, é uma palavra que, traduzindo para a língua portuguesa, significa “amor à sabedoria”. Assinale a única alternativa que contempla todas as alternativas que estão corretas. a) I, II, III e IV. b) I, II e III, apenas. c) I e II, apenas. d) I e IV, apenas. e) II e III, apenas. 2. A divisão da história em três períodos foi consagrada pelo pedagogo alemão Chris- toph Keller, chamado em latim de “Cellarius” (nascimento em 22 de novembro de 1638 e falecimento em 4 de junho 1707). Depois dele, essa divisão se tornou pa- drão. Contudo, na época atual, incluiu-se um quarto período. Assim, hoje, divide-se a história em quatro períodos. Assinale a única alternativa que contempla a ordem correta de periodização da história. a) 1°) Era Medieval, 2°) Antiguidade, 3°) Época Contemporânea e 4°) Era Moderna. b) 1°) Idade Contemporânea, 2°) Idade Antiga, 3°) Idade Média e 4°) Idade Moderna. c) 1°) Idade Antiga, 2°) Idade Média, 3°) Idade Moderna e 4°) Idade Contemporânea. d) 1°) Idade Média, 2°) Idade Moderna, 3°) Idade Contemporânea e 4°) Idade Antiga. e) 1°) Idade Antiga, 2°) Época Contemporânea, 3°) Era Antiga e 4°) Época Moderna. 42 na prática 3. Leia o texto que tem como tema central a periodização da história da filosofia: “A História da Filosofia, como toda divisão cronológica, é uma opção arbitrária de quem estabelece os pontos de ruptura para justificar as separações entre um período e ou- tro. É claro que esta ‘arbitrariedade’ está sustentada em algum princípio que permite aproximações entre temas, características e proposições dos autores. Neste caso, as periodizações da História da Filosofia devem ser buscadas nos critérios de quem as fez, mais do que nas relações dos próprios filósofos, que ao escreverem e muitas vezes dialogando com textos de antepassados não estavam preocupados em pertencer a um período específico. As caracterizações de um determinado período são úteis para uma sistematização didática, mas como toda caracterização, ao mesmo tempo em que dá identidade e especificidade ao período que está sendo caracterizado, também serve para simplificar e reduzir um determinado pensamento ao período em que ele surge. Falar de características do pensamento filosófico de uma época é uma forma de encobrimento das diversidades que existem, mas ao mesmo tempo, a procura por estas características nos auxiliam na identificação da abordagem filosófica. Dialogando entre uma caracteri- zação geral e as particularidades de cada filósofo, a periodização que fazemos a seguir parte de algumas das principais obras de História da Filosofia e se aproxima das divisões clássicas da própria História [...]” (FREITAS NETO, J. A; KARNAL, L. O ensino de filosofia na escola pública do Estado de São Paulo. São Paulo: SEE, s/d, p. 24-27). Tradicionalmente, divide-se a história da filosofia em quatro períodos. Assinale a única alternativa que contempla a ordem correta de periodização da história da filosofia:a) 1°) Filosofia Medieval, 2°) Filosofia Antiga, 3°) Filosofia Contemporânea e 4°) Filosofia Moderna. b) 1°) Filosofia Contemporânea, 2°) Filosofia Antiga, 3°) Filosofia Medieval e 4°) Filosofia Moderna. c) 1°) Filosofia Antiga, 2°) Filosofia Medieval, 3°) Filosofia Moderna e 4°) Filosofia Contemporânea. d) 1°) Filosofia Moderna, 2°) Filosofia Medieval, 3°) Filosofia Contemporânea e 4°) Filosofia Antiga. e) 1°) Filosofia Antiga, 2°) Filosofia Contemporânea, 3°) Filosofia Antiga e 4°) Filosofia Moderna. 43 na prática 4. Observe o quadro que busca sistematizar os níveis/tipos de conhecimento: 1. Conhecimento _____________ 2. Conhecimento _____________ 3. Conhecimento _____________ 4. Conhecimento _____________ Valorativo Real (factual) Valorativo Valorativo Reflexivo Contingente Racional Inspiracional Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático Verificável Verificável Não verificável Não verificável Falível Falível Infalível Infalível Inexato Aproximadamen- te exato Exato Exato Fonte: adaptado de Ferrari (1974). Observe que o quadro está incompleto (linha 1). Com base nas características dos di- ferentes tipos/níveis de conhecimento, complete-o na linha abaixo da palavra “conhe- cimento”. Assinale a única alternativa que apresenta as palavras que contemplam os diferentes níveis/tipos de conhecimento. a) 1. conhecimento histórico; 2. conhecimento evidente; 3. conhecimento contem- plativo; 4. conhecimento espiritual. b) 1. conhecimento teológico; 2. conhecimento metafísico; 3. conhecimento artís- tico; 4. conhecimento histórico. c) 1. conhecimento epistemológico; 2. conhecimento metafísico; 3. conhecimento positivo; 4. conhecimento evidente. d) 1. conhecimento moderno; 2. conhecimento falso; 3. conhecimento verdadeiro; 4. conhecimento duvidoso. e) 1. conhecimento popular; 2. conhecimento empírico; 3. conhecimento filosófico; 4. conhecimento teológico. 44 na prática 5. “[...] Qual a relação entre Filosofia e Educação? Afinal, a Filosofia é necessária para a Educação? Por que o educador deve filosofar? Vamos responder começando com outras perguntas: É importante refletir sobre qual ser humano se quer formar? É importante refletir para que educar? É importante analisar os valores que devem orientar a prática educativa? [...] [a filosofia da educação é importante] porque a reflexão filosófica não pode ser negligenciada pelo educador. E o que induz o edu- cador a filosofar? Segundo Saviani (2000, p. 23): ‘O que leva o educador a filosofar são os problemas (entendido esse termo com o significado que lhe foi consignado) que ele encontra ao realizar a tarefa educativa. E como a educação visa o homem, é conveniente começar por uma reflexão sobre a realidade humana, procurando descobrir quais os aspectos que ele comporta, quais as suas exigências referindo-as sempre à situação existencial concreta do homem brasileiro, pois é aí (ou pelo menos a partir daí) que se desenvolverá o nosso trabalho’. (SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 13. ed. Campinas: Autores Associados, 2000. p. 23). Assim, o exercício filosófico possibilita que as pessoas diante dos problemas respondam com reflexão e não com ideias prontas. E, diante dos problemas que a realidade educa- cional apresenta ao educador, este não deve abrir mão da reflexão filosófica.” (Disponí- vel em: http://unipvirtual.com.br/material/RECUPERACAO/EAD/FILOSOFIA_EDUCACAO/ geral_pdf.pdf. Acesso em: 11 fev. 2020). Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, REDIJA um texto dissertativo-argumentativo sobre a Filosofia da Educação, contemplando os seguintes aspectos: a) A conceituação do termo “Filosofia da Educação”. b) A caracterização dos problemas abordados pela Filosofia da Educação. 45 aprimore-se Vamos acompanhar o trecho de um diálogo, autoria de Platão, no qual Sócrates e Teeteto dialogam sobre “o que é conhecimento”. Durante a conversa, Sócrates compara sua função à de sua mãe, uma parteira: a parteira faz nascer filhos; o mes- tre (o filósofo) faz “nascer” ideias. Desde ponto de vista, Sócrates dá início à proble- mática: a função do professor não é fornecer o conhecimento pronto e acabado, mas conduzir o educando à descoberta. [...]. Sócrates — E nunca ouviste falar, meu gracejador, que eu sou filho de uma parteira famosa e imponente, Fanerete? Teeteto — Sim, já ouvi. Sócrates — Então, já te contaram também que eu exerço essa mesma arte? Teeteto — Isso, nunca. Sócrates — Pois fica sabendo que é verdade; porém não me traias; ninguém sabe que eu conheço semelhante arte, e por não o saberem, em suas referências à minha pessoa não aludem a esse ponto; dizem apenas que eu sou o homem mais esquisito, do mundo e que faço confusão no espírito dos outros. A esse respeito já ouviste dizerem alguma coisa? Teeteto — Ouvi. Sócrates — Queres que te aponte a razão disso? Teeteto — Por que não? Sócrates — Basta refletires no que se passa com as parteiras, para apanhares facilmente o que desejo assinalar. Como muito bem sa- 46 aprimore-se bes, não servem para exercer o ofício de parteira as mulheres que ainda concebem e dão à luz, mas apenas as que se tornaram incapa- zes de procriar. Teeteto — Perfeitamente. [...]. Sócrates — Eis aí a função das parteiras; muito inferior à minha, Em verdade, não acontece às mulheres parirem algumas vezes falsos fi- lhos e outras vezes verdadeiros, de difícil distinção. Se fosse o caso, o mais importante e belo trabalho das parteiras consistiria em decidir entre o verdadeiro e o falso, não te parece? Teeteto — Sem dúvida. VII Sócrates — A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às das par- teiras, com a diferença de eu não partejar mulher, porém homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, em seu trabalho de parto. Porém a grande superioridade da minha arte consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma dos jovens está na iminência de conceber é alguma quimera e falsidade ou fruto legítimo e verda- deiro. Neste particular, sou igualzinho às parteiras: estéril em matéria de sabedoria, tendo grande fundo de verdade a censura que muitos me assacam, de só interrogar os outros, sem nunca apresentar opinião pessoal sobre nenhum assunto, por carecer, justamente, de sabedo- ria. E a razão é a seguinte: a divindade me incita a partejar os outros, porém me impede de conceber. Por isso mesmo, não sou sábio não havendo um só pensamento que eu possa apresentar como tendo sido invenção de minha alma e por ela dado à luz. Porém os que tratam comigo, suposto que alguns, no começo pa- 47 aprimore-se reçam de todo ignorantes, com a continuação de nossa convivência, quantos a divindade favorece progridem admiravelmente, tanto no seu próprio julgamento como no de estranhos. O que é fora de dúvi- da é que nunca aprenderam nada comigo; neles mesmos é que des- cobrem as coisas belas que põem no mundo, servindo, nisso tudo, eu e a divindade como parteira. E a prova é o seguinte: Muitos desco- nhecedores desse fato é que tudo atribuem a si próprios, ou por me desprezarem ou por injunções de terceiros, afastam-se de mim cedo demais. O resultado é alguns expelirem antes do tempo, em virtude das más companhias, os germes por mim semeados, e estragarem outros, por falta da alimentação adequada, os que eu ajudara a pôr no mundo, por darem mais importância aos produtos falsos e enga- nosos do que aos verdadeiros, com o que acabam por parecerem ignorantes aos seus próprios olhos e aos de estranhos. [...]. Fonte: Platão ([2020], on-line)1. 48 eu recomendo! Dicionário de Filosofia da Educação Autor: Christopher Winch e John Gingell Editora: Contexto Sinopse: composto por 252 páginas, o “Dicionário de Filosofia da Educação” é um excelente instrumento de trabalho para es- tudantes e professores se aproximarem de termos e temas do campo da Filosofia da Educação. Oferece um panorama claro e instigante que orienta o leitor por meio de termos e conceitosnecessários para a “Filosofia da Educação”. Organiza e torna acessíveis os fundamentos, sempre em linguagem atraente e a partir de uma ótica atual. São mais de 150 conceitos des- critos e analisados. Além disso, há referências cruzadas e um detalhado índice re- missivo que servem como meio para levar mais a fundo a exploração do assunto. livro A República Autor: Platão Editora: La Fonte Sinopse: um só livro não seria o suficiente para demonstrar os principais pensamentos do filósofo. Por isso, depois de sua cria- ção, a obra foi dividida em 10 partes, sendo elas ainda subdividi- das em capítulos. Comentário: A República é o mais longo trabalho escrito por Platão e, certamente, o mais estudado. A República não é um tratado sobre a educação, mas a educação tem uma função fundamental na realização da cidade ideal ou justa. A proposta de Platão é: por meio da educação, alcançar-se-ia a república, na qual todos os ci- dadãos teriam os mesmos direitos e deveres. A formação, por meio da educação, seria o meio para se alcançar a sociedade harmônica, enfim, a felicidade humana. livro 49 eu recomendo! Linha do tempo da História: Geral e do Brasil Ano: 2019 Sinopse: vídeo no qual o Professor Colombo aborda a História Geral e do Brasil por periodização (linha do tempo): pré-história, Idade Antiga, Idade Mé- dia, Idade Moderna e Idade Contemporânea. conecte-se Web: https://www.youtube.com/watch?v=n1sw6IhKXQ0 2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA educação nos períodos antigo e medieval PROFESSORES Me. Vinícius Adriano de Freitas PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Platão e os princípios para a for- mação humana na “Alegoria da Caverna” • Aristóteles e a formação humana • Agostinho e a filosofia cristã • Filosofia da Educação no Período Medieval: Tomás de Aquino. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Reconhecer as contribuições de Platão aos fundamentos históricos e filosóficos da educação no mun- do ocidental. • Reconhecer as contribuições de Aristóteles aos fundamentos históricos e filosóficos da educação no mundo ocidental. • Compreender os fundamentos históricos, filosóficos e pedagógicos da educação em Agostinho. • Compreender os fundamentos históricos, filosóficos e pedagógicos da educação em Tomás de Aquino. INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a), na Unidade 1, nossos estudos acerca dos Funda- mentos Históricos e Filosóficos da Educação foram em caráter abrangente e introdutório. A partir desta seção – Unidade 2 –, passaremos a abordar e a problematizar com maior profundidade os fundamentos históricos e filosóficos da educação por períodos. O enfoque desta unidade são os períodos antigo e medieval. No entanto, você pode questionar: mas já havíamos estudado filósofos do Período Antigo (Antiguidade). Sim, você tem razão: já havíamos intro- duzido o estudo dos paradigmas da educação em Platão. Entretanto, con- vém retomar porque, neste período, um fato importante ocorreu: a época posterior, isto é, o Período Medieval, manteve seus fundamentos nos dois principais pensadores gregos: Platão e Aristóteles. Mais especificamente, a Idade Média, período que vai de 476 d.C. a 1453 d.C., apesar dos avanços no campo da cultura, da arte, da ciência e da filosofia, manteve o platonismo e o aristotelismo como base, mas com uma diferença importante: as obras dos filósofos gregos foram reinterpretadas com base no cristianismo. Por um lado, Agostinho formulou boa parte de sua filosofia cristã com base no estoicismo, no platonismo e no neoplatonismo. Por outro lado, To- más de Aquino, embora tenha sido influenciado por Agostinho, construiu suas ideias e obras com base em Aristóteles. Unir a fé com a razão ou, em outras palavras, o cristianismo e com a filosofia aristotélica, foi o propósito de Tomás de Aquino. Os fundamentos históricos e filosóficos do Período Medieval são mar- cados pelo conhecimento religioso, sobretudo pela Igreja Católica. Diante do exposto, a Unidade 2 dispõe de quatro planos de estudos: (i) Platão e os princípios para a formação humana na “alegoria da caverna”; (ii) Aristóteles e a formação humana, (iii) Agostinho e a filosofia cristã e (iv) Tomás de Aquino: a união entre fé e razão. U N ID A D E 2 52 1 PLATÃO E OS PRINCÍPIOS DA FORMAÇÃO HUMANA NA “ALEGORIA DA CAVERNA” Ao buscarmos os fundamentos históricos e filosóficos da educação na Antigui- dade, a primeira questão a esclarecer é que a educação escolar, em sociedades centradas em regimes de escravidão, predominantes na época, era um direito dos cidadãos, porém os escravos não faziam parte do grupo: cidadãos eram os sujeitos livres. Os gregos têm sua origem a partir de três povos, a saber, os cretenses, os aqueus e os dóricos. Os poemas de Homero, principalmente a Ilíada e a Odisseia, e os de Hesíodo, a Teogonia e Os trabalhos e os dias, são considerados os escritos mais antigos, capazes de nos permitir compreender a vivência dos gregos no início de sua civilização. “ O mundo grego foi pródigo em tendências educacionais, mas os ensinamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles prevaleceram, sem dúvida, sobre os demais pensadores daquela época. Duas cidades- -estado rivalizavam-se: Esparta e Atenas. Elas representavam dois paradigmas de organização social, duas concepções de educação. Esparta, uma sociedade guerreira, glorificava, sobretudo, os heróis guerreiros. Defendia uma educação totalitária, uma educação mili- tar e cívica repressiva, em que todos os interesses eram sacrificados à razão do Estado. Atenas, uma cidade-estado democrática, nos mol- des daquela época, usava o processo educativo como um meio para que o indivíduo alcançasse o conhecimento da verdade, do belo e do bem (PALMA FILHO, [2020], p. 1, grifo do autor). U N IC ES U M A R 53 Os pensadores anteriores a Sócrates, chamados de “filósofos da natureza” ou “pré-socráticos” – Tales (640-546 a.C.), Anaximandro (610-547 a.C.), Anaxímenes (585-528 a.C.), Pitágoras (580-497 a.C.), Xenófanes (580-475 a.C.), Parmênides (530-475 a.C.), Zenão (480-430 a.C.), Heráclito (540-470 a.C.), Empédocles (492- 432 a.C.), Leucipo (500-420 a.C.) e Demócrito (470-380 a.C.), por exemplo – em- bora tenham sido importantes, são poucos estudados por dois motivos: primeiro, porque é denso (são muitas ideias diferentes); segundo porque são de difícil acesso, “[...] uma vez que restam, quando muito, fragmentos de suas obras e citações fei- tas por aqueles que os sucederam” (COSTA, 2009a, p. 37). Além disso, como diz a própria terminologia, estes pensadores buscaram investigar a natureza, não o ser humano. O estudo da humanidade tem início de maneira filosófica somente a partir de Sócrates. Sócrates é o primeiro grande pensador a influenciar no desenvolvimento do pensamento educacional na Antiguidade. Defende que o primeiro passo a ser dado para o conhecimento da verdade é ir em direção ao autoconhecimento, ou seja, conhecer a si próprio. De certa forma, o pensador propõe a nós humanos o “pensar por si próprio” como condição para uma verdadeira ciência, uma filosofia autêntica. Neste sentido, surgem os conhecidos ditos socráticos: “Conhece-te a ti mesmo” e “Sei que nada sei”. No entanto, a filosofia de Sócrates incomodou as autoridades de seu tempo, sendo, então, condenado à morte por envenenamento (morto em 399 a.C.). Então, vem o questionamento: qual é, porém, o “perigo” de seu método? “ Ele começa pela fase ‘destrutiva’, a ironia, termo que em grego significa ‘perguntar, fingindo ignorar’. Diante do oponente, que se diz conhece-dor de determinado assunto, Sócrates afirma inicialmente nada saber. Com hábeis perguntas, desmonta as certezas até que o outro reconhe- ça a própria ignorância (ou desista da discussão). A segunda etapa do método, a maiêutica (em grego, ‘parto’), foi assim denominada em homenagem à sua mãe, que era parteira. Segundo Só- crates, enquanto ela fazia parto de corpos, ele ‘dava à luz’ ideias novas. Após destruir o saber meramente opinativo(a dóxa), em diálogo com seu interlocutor, dava início à procura da definição do conceito, de modo que o conhecimento saísse ‘de dentro’ de cada um. Esse processo está bem ilustrado nos diálogos de Platão, e é bom lembrar que, no final, nem sempre se chegava a uma conclusão definitiva: são os cha- mados diálogos aporéticos (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 152-153). U N ID A D E 2 54 Sócrates ou Platão como ponto de partida para a educação? Sócrates já demonstrava preocupação com a formação humana. Contudo, como vimos na Unidade 1, a proposta de uma educação escolar pública, para todos e formadora do caráter humano, surgiu somente a partir de Platão. pensando juntos Figura 1 - Estátua de Sócrates, em Atenas, Grécia Descrição da Imagem: Estátua de Sócrates feita de concreto. Sócrates aparece sentado, estando com a mão direita no queixo e a mão esquerda no braço da cadeira na qual está sentado. Na frente da estátua, aparece um arbusto com folhas verdes. Ao fundo, há duas colunas cinzas que fazem parte do edifício da Academia Nacional de Atenas. Platão consolidou a problemática do “mundo das ideias”. Para o filósofo, a “ideia” não é uma simples representação mental ou um conceito. Diz respeito a “[...] uma causa de natureza não-física, uma realidade inteligível, ou seja, representa aquilo que o pensamento mostra quando está livre do sensível, constituindo o chamado ‘verdadeiro ser’” (MAIRINQUE; ANDRADE E SILVA, 2003, p. 8). Em outras palavras, a “ideia” que temos sobre algo é a perfeição daquilo que a coisa é em si: por exemplo, a ideia de “livro” é a perfeição (está na mente do sujeito), enquanto U N IC ES U M A R 55 O conhecimento verdadeiro é o que a escola deve transmitir, porém, para chegar a ele, não é importante partir do conhecimento prévio (opinião) que o estudante tem sobre o assunto? pensando juntos o “livro” que vejo não é perfeito porque ele é algo exterior a nós (é um objeto), imperfeito porque tem diversos elementos que o tornam “interpretável” do ponto de vista de cada um. Cada um tem uma opinião sobre o “livro” enquanto objeto. Este problema entre “mundo sensível” versus “mundo das ideias”; “opinião” versus “ciência” até hoje levanta debates, pesquisas, teorias etc., sobretudo no cam- po da pedagogia e da educação como um todo. Diante do problema da “ideia” ser ou não o real, surge a questão: quando bus- camos aprender, saber sobre algo, o que é verdadeiro: (i) as imagens do sensível, ou seja, aquilo que adquirimos por meio de nossas intuições (autoconhecimento) e vivências, bem como opiniões ou (ii) o conhecimento matemático, filosófico e científico? Como vemos, estas questões são antigas, porém, de certa forma até hoje não foram totalmente resolvidas tanto é que, no geral, são discutidas em maior profundidade em disciplinas da área de metodologia científica em cursos de graduação e pós-graduação. Não podemos deixar de mencionar que Platão escreveu muitas obras, utilizan- do como gênero textual o diálogo. Os chamados “diálogos platônicos” tratam de questões como política, sociedade, lógica etc. Contudo, como retrato de um tempo (séculos V e IV a.C.), Platão – e até mesmo Sócrates e Aristóteles – preo- cupado com os rumos da sociedade ateniense, estava a lidar com uma questão particular que chama a atenção: a crítica aos sofistas. Platão estava incomodado com os sofistas – Protágoras (480-410 a.C.) e Górgias (483-384 a.C.), por exemplo –, porque, em sua visão, estes pensadores estavam tendo cada vez mais respeito entre os gregos. Para Platão, ao valorizarem a prática, a retórica (arte de persuadir) e o individualismo, era eminente o risco de que os sofistas acabariam levando a sociedade grega à decadência. Diante disso, em um de seus diálogos mais importantes, a saber, A República, o filósofo elabora o Estado ideal que deveria dar lugar ao que estava posto, ou seja, grosso modo, idealiza a cidade perfeita que, dentre outras questões, não haveria lugar para os sofistas. U N ID A D E 2 56 É o segundo diálogo mais longo escrito por Platão (o mais longo é As Leis). Di- vidida em dez livros que, na verdade, exercem a função de capítulos, A República representa os ideais de Platão para que uma sociedade funcionasse perfeitamente sendo que, cabe destacar, é por intermédio da educação que ela ocorreria. Para sistematizar sua teoria sobre o conhecimento (epistemologia), no Livro VII da obra A República, por meio de um diálogo entre Sócrates e Teeteto sobre a “ale- goria da caverna”, Platão expõe o problema ciência versus opinião. Observemos a figura a seguir: Figura 2 - Alegoria da caverna Fonte: Wikimedia ([2020], on-line)1. O que Platão problematiza na “Alegoria da caverna” é que muitos dos que vão em busca do conhecimento (ciência) têm, posteriormente, o desafio de divulgar este conhecimento àqueles que ainda não viram as coisas para além da aparência. Estes que não viram para além da opinião (estão “presos” na caverna) custam a acreditar naquilo que o pensador está dizendo. Temos, então, uma questão emi- nentemente pedagógica: quais estratégias o professor (filósofo) terá para ensinar aos educandos aquilo que está para além da aparência? A resposta é: as estratégias Descrição da Imagem: A figura se divide em três momentos: no primeiro, os prisioneiros estão no fundo de uma caverna desde o nascimento, acorrentados no pescoço e braços de maneira que não conseguem mover-se de um lado para o outro, levantar-se e nem virar a cabeça para baixo, Passam o tempo todo olhando para a parede ao fundo que é iluminada por uma fogueira. Essa fogueira fica atrás deles em uma parte mais alta da caverna. Atrás deles tem um grande muro e atrás deste muro pessoas carregam objetos estátuas de pessoas, animais, plantas e outros objetos, que devido à luz da fogueira, as sombras são refletidas no fundo da caverna. No terceiro momento, dois desses prisioneiros, já libertos da caverna, avistam uma ilha, o Sol, o mar cobrindo os olhos pela sensibilidade à luz do sol. U N IC ES U M A R 57 pedagógicas. Alguns exemplos: (i) ensinar do mais simples para o mais complexo, (ii) utilizar jogos para abordar um novo conteúdo, (iii) partir do conhecimento prévio que o educando já tem sobre o conteúdo escolar que será abordado. Edu- car é levar o estudante para fora da caverna, como diz Costa (2009b). Platão também abriu caminho para a teoria da reminiscência, à qual o puro espírito já contemplou o mundo das ideias, então, os sentidos são apenas ocasião para abrir os olhos da alma fazendo-a recordar das lembranças adormecidas. Portanto, conhecer é lembrar. Contudo, em Platão, o mundo verdadeiro, le- gítimo “[...] só poderia ser alcançado na esfera do inteligível”, explica Sancovsky (2012, p. 127). A imagem do livro a seguir nos faz levantar outra questão que está relaciona- da à problemática levantada por Platão: na relação entre educador e educando, ambos os conhecimentos são válidos ou apenas os conhecimentos transmitidos pelo professor por meio dos livros é que são importantes? O fato é que, passados mais de 2000 anos, predomina no mundo ocidental uma educação escolar centrada no livro e no professor. Pautada no pressuposto de que o conhecimento verdadeiro está no livro, caberá ao professor transmitir conteúdos, por meio do ensino verbalista, da aula expositiva. U N ID A D E 2 58 O princípio da “educação para todos” é uma discussão que tem início com o terceiro pensador grego clássico: Aristóteles. Aristóteles – nascimento em Estagira, Grécia (384 a.C.) e falecimento em Atenas, Grécia (322 a.C.) – tem um sistema filosófico vasto. “Pesquisou e escreveu sobre botânica, biologia, lógica, física, metafísica, estética, psicologia, retórica e política” (COSTA, 2009b, p. 53). Dentre as diversas obras do filósofo, muitas foram perdidas, restando, contudo, livros importantes como: Ética a Nicômaco, Política, De Anima, Metafísica e Organon, por exemplo. Nas obras Metafísica e Política, encontramos umaconcepção aristotélica de educação. Para ele, a formação é o processo que leva à realização do ser. Conhecer a essência de algo é ter ciência e é ela que é a felicidade humana. Diferentemente de Platão, Aristóteles não idealiza “o que” nem “de que forma” deve ser ensinado o conteúdo educacional aos cidadãos. Sua proposta é: a melhor educação é aquela que esteja de acordo com as leis da cidade, ou seja, a educação é um meio para se atingir um fim: para o bem-estar de todos, a educação deve ser volta à política. Na obra De Anima (“Sobre a alma”, em tradução literal para o português), Aristóteles também expôs questões referentes à educação e à pedagogia. Aristó- teles (2006) defende que a origem do conhecimento é o próprio corpo, ou seja, de certa forma, o filósofo está recorrendo à biologia para explicar a origem do saber e, a partir disso, extrair conclusões de ordem pedagógica (como aprimorar o conhecimento humano, por exemplo). As palavras de Cruz (2013, p. 37) siste- matizam o problema do conhecimento na obra De Anima de Aristóteles: 2 ARISTÓTELES E A FORMAÇÃO humana U N IC ES U M A R 59 “ [...] ao compreender a ideia de alma à luz da valorização da idéia de corpo, a obra De anima se apresenta, de forma inicial, como um tratado de biologia, porquanto investiga a alma também como princípio de vida orgânica. A alma se torna origem do movimento no corpo, sem ser ela mesma movida. São distinguidos três tipos de alma: nutritiva, comum a todos; perceptiva, sendo descrita como capacidade de discriminação, presente, portanto somente nos ani- mais que se locomovem e nos humanos, mas ausente nas plantas; e intelectiva, exclusiva dos seres humanos, que em função da relação que possuem com os sentidos lhes possibilita a capacidade de pen- samento, raciocínio, opinião, deliberação prática e conhecimento. A partir de seus estudos, Aristóteles, empirista, considera virtuosa a educação voltada à profissionalização, ou seja, valoriza a educação prática. O conhecimento é formado a partir de proposições que nós humanos formulamos e sistematiza- mos por meio de experiências que temos com o mundo. Pensando nisso, para pôr o seu “laboratório de experimentos” em prática, no ano de 335 a.C., Aristóteles funda sua escola, o Liceu. Descrição da Imagem: Estátua de cimento de Aristóteles segurando papiros na mão direita e apenas um papiro na mão esquerda. Ao fundo da estátua, um céu azul com poucas nuvens Figura 3 - Estátua de Aristóteles U N ID A D E 2 60 Devido à sua concentração no campo da política há, em Aristóteles, a ideia de uma escola organizada e mantida pelo Estado. Vale frisar que a educação deveria ter caráter político: todos os cidadãos da pólis teriam de frequentá-la, a fim de garantir a harmonia e o bem-estar da cidade. “ Apesar de ser uma sociedade escravista dividida em classes sociais antagônicas, foi na Grécia Antiga que surgiu a primeira ideia de uma escola de Estado, e quem a elaborou foi o filósofo Aristóteles. Preocupado com o bem comum da polis (a cidade-Estado), ele en- tendia que, se a finalidade do Estado era única, isto é, propiciar o bem comum, só uma educação igual para todos os cidadãos, a cargo do Estado e pública, seria capaz de atingir esse fim único. Assim, ele se posicionou contrário à educação privada, isto é, a cargo da família. Na sua época, fim do século IV a.C., ele informa que na maioria das cidades a educação era privada, mas mostra-se favorá- vel a que a educação fosse uma preocupação dos legisladores, pois a responsabilidade de educar deveria ser pública e não particular como cada um fazia, dando aos filhos a educação que lhe agradasse (BITTAR, 2009, p. 20-21). Seguindo o projeto que Aristóteles propunha, hoje, século XXI, a educação, orga- nizada pelo Estado, deve estar a favor da comunidade, deve ser política. Contudo, as ideias de Platão e Aristóteles acerca da educação para a formação do sujeito livre (o cidadão), no final de século III a.C., começa a ser substituída so- bretudo porque Atenas e as demais Cidades-Estado perdem a autonomia. Guerras e batalhas mudam o status de Grécia e de suas cidades independentes. Assim, ela passa a fazer parte de impérios: do século III a.C. ao I a.C., torna-se parte do Império Macedônico e do século I a.C. ao V d.C., território do Império Romano. Entretanto, apesar da mudança de perspectiva filosófica, a cultura grega se expande pelo mundo por meio do helenismo, movimento que teve como teó- ricos principais Epicuro (341-270 a.C.), Zenão (336-274 a.C.), Sêneca (4 a.C.- 65 d.C.) e Cícero (106-43 a.C.). Apesar de pensamentos e filosofias distintas, é importante explicitar que a filosofia do helenismo foi um terreno fértil para o pensamento que predominou no mundo ocidental por mais de 1000 anos: a filosofia cristã. É dela que trataremos a seguir. U N IC ES U M A R 61 Patrística “Como o próprio nome indica, esse período [século I e metade do século II] foi o cenário de ação dos primeiros Padres Apostólicos, cujas relações com os apóstolos foram mais ou menos diretas. Provavelmente eles tenham recebido a doutrina desses testemunhos oculares de Jesus”. Fonte: Melo (2009, p. 68). conceituando O pensamento clássico, sobretudo a filosofia grega, continuaria presente nos sé- culos I, II, III e IV. Contudo, com o início do pensamento cristão, um começa a influenciar o outro. Isto é notável no livro que passará a ser o mais estudado durante o fim da Filosofia Antiga e praticamente quase toda a Filosofia Medieval: a Bíblia. Por meio dos textos do Novo Testamento – quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), um livro histórico (Atos dos Apóstolos), vinte e uma epís- tolas (Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito, Filemom, He- breus, Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João, Judas) e um livro profético (Apocalipse), ou seja, 27 livros, no total –, o cristianismo nasce como uma “Igreja dos Apóstolos” e passa, depois, a ser uma “Igreja dos Padres”: a Patrística. 3 AGOSTINHO E A FILOSOFIA CRISTà U N ID A D E 2 62 Passados os primeiros séculos do cristianismo, constantemente haviam discus- sões por parte dos padres, que questionavam se os ensinamentos de Cristo eram compatíveis com a cultura clássica, sobretudo a filosofia grega. Melo (2009) ex- plica que a questão só seria resolvida no século IV com Agostinho. Agostinho – nascimento em Tagaste, Argélia (354 d.C.) e falecimento em Hi- pona, Argélia (430 d.C) –, como grande pensador, destacou-se, sobretudo como o mais importante filósofo e teólogo no limiar entre a Antiguidade e a Idade Média. “Crer para compreender, compreender para crer” foi um dos argumentos uti- lizado por Agostinho para explicar a necessidade de colocar a doutrina cristã em parcimônia com a filosofia. Assim Agostinho, tornou possível colocar a cultura greco-romana a serviço do desenvolvimento da filosofia cristã. Agostinho foi o “teólogo filosofante” de maior destaque no processo de construção da filosofia cristã, motivo pelo qual ele é considerado um dos mais importantes pensadores do cristianismo (até mesmo da teologia como um todo, diga-se de passagem) de todos os tempos. Agostinho foi capaz de garantir a inter-relação entre o “saber cristão” e o “saber pagão”. Ao considerar que (i) a cultura clássica (“saber pagão”) havia possibilitado o desenvolvimento humano antes de Cristo e que (ii) Deus havia enviado o “saber cristão” (seu filho, Jesus) ao mundo para a santificação do ser humano, Agostinho postulava que parte desses saberes da Antiguidade poderiam colaborar com a realização do plano divino. Descrição da Imagem: Pintura com uma imagem de Agostinho. Ele está sen- tado, vestindo uma batina na qual, na altura do pei- to, há uma cruz. Em uma de suas mãos, ele segura um lápis e na outra um caderno. Acima de sua cabeça há uma pintura de um céu azulado. Abaixo de seus pés estáescrito o seu nome em latim (S. AUGUS- TINUS). Nas laterais (direi- ta e esquerda), aparece a moldura da pintura. Toda a figura reluz como ouro. Figura 4 - Afresco de Agostinho U N IC ES U M A R 63 As chamadas sete artes liberais como um “currículo” para a filosofia cristã: o Trivium e o Quadrivium. [...]. “Para Santo Agostinho, a compreensão das Escrituras pelo estudioso pressupunha o sa- ber ler e escrever, pressupunha ainda o conhecimento do Trivium e do Quadrivium. O Trivium, que consistia nas disciplinas: gramática, dialética e retórica, compunha um con- junto de conhecimentos desde a forma da escrita, o significado das palavras, a lógica do pensamento e até ao uso da linguagem que deveria ser escolhida para comunicar e ensinar o que se compreendeu. Esta linguagem, na concepção da retórica, obedece a formas de estilo, a métodos para se alcançar o fim desejado – a comunicação, ou seja, o ensino. O Quadrivium, por sua vez, consiste num conjunto de conhecimentos externos de aritmética, geometria, música e astronomia, os quais também eram úteis, segundo Santo Agostinho, para a compreensão das expressões contidas nas Escrituras e que se referem a essas artes”. Fonte: Peinado e Oliveira (2007, on-line). explorando Ideias “ Santo Agostinho defende que o ‘saber’ cristão prescindia da ciência pagã, que, sem o suporte do ‘saber’ proposto pelo cristianismo, era ma-léfica, situação que os cristãos não poderiam desconsiderar. Mesmo que a essência do saber clássico esbarrasse no conhecimento religio- so, esse pensador argumentava que o cristianismo não deveria rom- per com ele ou abandoná-lo, já que representava um caminho para uma melhor apropriação dos saberes cristãos (MELO, 2009, p. 76). As principais obras de Agostinho foram A Cidade de Deus e Confissões. Centra- remo-nos na primeira obra. Um fato histórico foi determinante para que Agosti- nho escrevesse A Cidade de Deus: a decadência do Império Romano. Com isso “[...] ganha força e vitalidade a idéia neoplatônica de uma cidade ideal” (OLIVEI- RA, 2009, p. 85), ou seja, a obra é claramente uma versão cristã de A República, de Platão. “Formulações que estavam presentes desde o princípio do Cristianismo, como ideia de reino celeste, de paraíso e, fundamentalmente, a de Ressurreição [...]” (OLIVEIRA, 2009, p. 85) com A Cidade de Deus, de Agostinho, consoli- da-se como uma resposta sobre como alcançar a cidade ideal. A resposta era: a conversão de todos ao cristianismo. U N ID A D E 2 64 “Agostinho é um filósofo medieval ou um filósofo antigo? Alguns autores defendem que ele é um filósofo medieval porque desempenhou um papel central na absorção da filo- sofia grega num quadro teórico cristão. Sua importância na constituição do pensamento cristão é sem dúvida enorme, mas não fornece um bom argumento para uma tese sobre a periodização em história da filosofia. Agostinho é um filósofo antigo porque pertence ao mundo antigo, não ao mundo medieval, e esta fronteira histórica corresponde à queda do Império Romano do Ocidente. Os fatos que parecem sustentar ambas as respostas são bem conhecidos, o que deve ser ajustado, portanto, é a pergunta: o que explica modifica- ções amplas pelas quais a filosofia passou ao longo tempo? Os mecanismos envolvidos nessas modificações podem ser compreendidos uma vez que vemos a filosofia como parte da cultura, e parece claro haver uma ruptura muito importante entre os séculos V e XI”. Fonte: Perini-Santos (2015, p. 213, grifo nosso). quadro-resumo Para Agostinho, o ensino tem três funções: (i) comunicar o que se pensa, (ii) transmitir a experiência direta das coisas e (iii) comunicar o que é verdadeiro. Estas são as três funções do mestre (professor). “ Ao apresentar um roteiro de como se tornar cristão, Agostinho nos brinda com um verdadeiro programa de estudos, necessários, em nosso entender, para qualquer aprendizagem e que independe da época em que o estudo se realiza. O autor destaca a importância da linguagem, do conhecimento da escrita, portanto, das letras, da necessidade do aprendizado do cálculo, de se entender a música, de se conhecer as instituições nas quais e para quais se realizam determinados estudos, de se conhecer a língua na qual o estudo está sendo realizado. Dentro deste aspecto, destaca a precaução necessária em relação às traduções (OLIVEIRA, 2009, p. 6). Agostinho teve extensa experiência de ensino. Por vários anos, foi professor em Milão e Roma e, além disso, dedicou-se anos a especular sobre a origem do co- nhecimento e como atingir o verdadeiro saber. O método pedagógico proposto por Agostinho não é o socrático. O pensador, acreditava ser mais importante transmitir o conhecimento para os estudantes de maneira direta, por meio da exposição verbal. Assim, ele estabeleceu uma ‘metodologia de ensino cristã’, que influenciou estudiosos e educadores ao longo da história do Ocidente. No século V, temos, além de questões filosóficas e históricas, uma questão pedagógica em relação ao cristianismo: os mosteiros. Eles seriam os espaços autênticos para o estudo da filosofia cristã. U N IC ES U M A R 65 Chegamos à última seção da Unidade 2. Vamos terminar nossos estudos com o enfoque em um período da história que antecipa a modernidade: a Idade Média. Ela teve diversos momentos importantes, porém nosso enfoque aqui é a transição do feudalismo para o renascimento. Do ponto de vista histórico, com a queda do Império de Carlos Magno (800- 924), um novo modo de organização social e econômica se inicia: a vida con- centrada em pequenas comunidades, os feudos. Contudo, sua decadência logo se iniciará com o ressurgimento do comércio, o renascimento das cidades e dois acontecimentos histórico-filosóficos: a chegada das traduções das obras de Aris- tóteles à Europa e o surgimento das universidades, ambas as eventualidades entre os séculos XII e XIII. Diante destes fatores que representavam os primeiros passos rumo à modernidade, Tomás de Aquino foi o pensador de maior destaque. Tomás de Aquino – nascimento em Roccasecca (Itália) em 1225 e fale- cimento em Fossanova (Itália), no ano de 1274 – tem sua importância para a filosofia, para teologia e a educação medieval, sobretudo, no âmbito de sua an- tropologia filosófica. Em Tomás de Aquino, ocorre uma efetiva superação do dualismo platônico (corpo e alma), que era a doutrina dominante na época. Segundo alguns adeptos deste tipo de dualismo, a intelecção humana só seria possível se em cada caso ocorresse uma iluminação imediata de Deus. Por outro lado, a antropologia de Tomás de Aquino, embora não negue a iluminação divina, destaca que tal es- clarecimento que nós humanos temos é de nossa própria natureza. 4 FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO MEDIEVAL: Tomás de Aquino U N ID A D E 2 66 Conforme assinala Oliveira (2009, p. 96), Tomás de Aquino “[...] viveu para a evangelização e o ensino”, dedicando-se integralmente à pregação da totalidade do cristianismo. O conhecimento da verdade só é alcançável quando há a união entre os saberes da filosofia cristã (conhecimento sagrado, religioso, revelação divina) com a filosofia clássica (conhecimento científico, do mundo). Em outras palavras, o teólogo foi capaz de conciliar fé e razão, teologia e filosofia. Descrição da Imagem: Na figura, aparece uma pintura de Tomás de Aquino feita por Abraham Van Diepenbeek (1596-1675). Tomás de Aquino está vestindo uma túnica branca e, por cima, uma batina preta. Na mão direita, segura uma pena e na mão esquerda segu- ra um castiçal com uma cruz. Do seu lado direito, aparece um anjo se debruçando sobre um livro. Do seu lado esquerdo, aparece um bastão de madeira e uma mesa com um pano. No alto da imagem, aparecem mais dois anjos. Figura 5 - Tomás de Aquino Em Tomás de Aquino, há discussões de ordem didático-pedagógica. Segundo ele, é a partir daquilo que o estudante já conhece, que o professor levará seu edu- cando ao conhecimento em profundidade. “ O alunoconsegue aprender aquilo que já existe potencialmente em seu intelecto. Se esse conhecimento não existir como uma potên-cia, não existirá aprendizagem, mas simplesmente uma repetição do conhecimento do professor. Daí Tomás de Aquino defender a necessidade de se considerar a possibilidade de conhecimento do aluno (OLIVEIRA, 2009, p. 99). A partir da ideia de potência ativa para o conhecimento que Tomás de Aquino defende, há duas formas por meio das quais o ser humano obtém o conhecimen- to: descoberta e ensino. A descoberta ocorre quando nós humanos aprendemos algo por conta, enquanto o ensino dar-se-á quando temos a mediação de um sábio que nos auxilia neste aprendizado: o mestre. U N IC ES U M A R 67 Para ensinar, o que deve o professor saber sobre o conteúdo? “Ora, o ensino pressupõe um perfeito ato de conhecimento no professor; daí que seja necessário que o mestre ou quem ensina possua de modo explícito e perfeito o conheci- mento cuja aquisição quer causar no aluno pelo ensino”. Fonte: Tomás de Aquino (2000, p. 41-42). pensando juntos Em síntese, como fundamentos históricos e filosóficos da educação nas épocas Antiga e Medieval, tivemos o seguinte: * A Filosofia Antiga teve como filósofos principais Platão e Aristóteles. * A Filosofia Medieval teve como filósofos principais Agostinho e Tomás de Aquino. Em- bora ambos sejam filósofos cristãos, vale frisar: Agostinho se fundamenta em Platão, en- quanto Tomás de Aquino toma por base para seus estudos as obras de Aristóteles. quadro-resumo De certa forma, ao propor uma nova concepção de ser humano, de conheci- mento, de fé, de saber e de razão, Tomás de Aquino traz os princípios para aquilo que foi a Escolástica: a ideia de que a razão humana, aliada à fé cristã, produz o conhecimento (OLIVEIRA, 2009, p. 100). Por outro lado, o filósofo já começa a fornecer os pressupostos para o empirismo e a modernidade. A Idade Média foi uma época que, em um primeiro momento, a cultura ocidental se consolidou por meio da Igreja Católica. Contudo, conforme indicam Torra, Martins e Corrêa (2013), em um segundo momento, o catolicismo é abalado pela cisão – igreja do oriente versus igreja do ocidente – e, então, os modos e costumes da sociedade feudal começam a ser questionados. A fim de blindar o cristianismo, eis que surge a escolástica. Nas palavras dos autores: U N ID A D E 2 68 Artigo intitulado “Breve Estudo de uma Perspectiva de Educação Medie- val”, autoria de Rosana Silva de Moura. Como o próprio título indica, trata-se de um estudo ‘breve’. Assim mesmo, a autora aborda de maneira satisfatória as filosofias da educação de Agostinho (354-430) e Tomás de Aquino (1225- 1274), principais pensadores da educação no período medieval. conecte-se “ Tendo presente a proposição platônico-cristã, aprofundada por Agostinho ao encontrar na educação essencialista sentido para a própria vida humana, no contexto da Idade Média, com o avanço do conhecimento e do renascimento urbano, o gosto pelo racional passou a se efetivar na constituição de várias universidades. A Igreja Católica, nesse contexto, foi abalada pela cisão no século XI (entre a Igreja do Ocidente e do Oriente), que evidenciava uma crise política, bem como uma discordância nos fundamentos da teologia cristã. Além disso, as diversas interferências dos imperadores às questões próprias da fé provocaram, concomitantemente, a necessidade de fundamentação e justificação da relação entre fé e razão. Nessa conjuntura, a escolástica surgiu como nova expressão da filosofia cristã, tendo como pressuposto a submissão da razão à fé (TORRA; MARTINS; CORRÊA, 2013, p. 1089). A estrutura educativa que deixou uma marca fundamental no Ocidente foi o mosteiro. Por meio deles, estrutura-se um período de quase mil anos que será a época que Cambi (1999) denomina como o “tempo do cristianismo” e da Igre- ja Católica: a Idade Média. Nesta época, delineia-se um mundo articulado em diversas nações, mas que são unificadas pela religião e pela cultura: a Europa. Aqui também é fundada uma das principais instituições educativas da história do mundo ocidental: a universidade. U N IC ES U M A R 69 Esta unidade se encerra com uma síntese acerca daquele que foi o principal lega- do pedagógico da Idade Média: o surgimento das universidades. “ A Idade Média às vezes é tida como o período das ‘trevas’, mas se assim fosse, como entender o nascimento da universidade em ple-no ano 1000? Pois foi numa Europa cujo comércio e vida urbana começavam a se revigorar que a confluência entre mestres (dou- tores) e clérigos vagantes, ou ‘goliardos’ (estudantes que deixavam temporariamente os mosteiros) deu origem à universidade, uma das heranças culturais mais significativas da Idade Média. As universi- dades, a princípio, eram simplesmente encontros entre as duas par- tes interessadas no conhecimento, uma corporação de estudantes e mestres funcionando no interior das catedrais; portanto houve uma continuidade entre escolas episcopais (nas catedrais) e universida- des, que também nasceram sob o poder da Igreja Católica. Era ela que concedia, com exame prévio dos títulos de estudo, a autorização para ensinar (licença docente) (BITTAR, 2009, p. 28). Portanto, a instituição que é responsável nas sociedades modernas pelo desen- volvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, a universidade, teve sua origem ainda no período medieval. Para além de ‘idade das trevas’, sobretudo após o ano 1000, do ponto de vista da educação, a Idade Média foi um período de amplo desenvolvimento didático-pedagógico. U N ID A D E 2 70 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta unidade buscou consolidar a construção da identidade do professor por meio do conhecimento dos fundamentos históricos e filosóficos da educação com base em dois períodos que se complementam: a Idade Antiga e a Idade Média. Vale ressaltar: boa parte das características da educação e das práticas pedagógicas têm origem nestes dois primeiros períodos da história: (i) a aula expositiva, (ii) o ensino verbalista, (iii) o ensino enciclopédico e livresco, isto é, centrado em livros; (iv) a rotina escolar etc. são exemplos de práticas que remon- tam à patrística, à escolástica, às abadias, aos mosteiros e às catedrais sob tutela da Igreja Católica. Conforme abordado no início, as raízes da época medieval estão, sobretu- do, nos filósofos gregos Platão e Aristóteles. Platão, com seus princípios para a formação humana retratados na ‘alegoria da caverna’, busca dar superioridade ao mundo das ideias como a fonte da verdade. Aristóteles, discordando de seu mestre, considera que o conhecimento verdadeiro provém da experiência. Durante os dois períodos principais da era medieval, teremos então: (i) Alta Idade Média – que vai do ano 476 ao ano 1000 –, que tem como representante principal no campo da filosofia Agostinho e a patrística; (ii) Baixa Idade Média – que se estendeu do século XI ao século XV – foi marcada, ao mesmo tempo, pelo auge e pelo declínio do feudalismo (sobretudo com o surgimento da bur- guesia). Tomás de Aquino e a escolástica são os principais representantes deste período marcado pela união entre fé (cristianismo) e razão (a filosofia de Aristó- teles) para a construção de um modelo de educação para o indivíduo medieval. 71 aprimore-se “QUEM INVENTOU A IDADE MÉDIA Uma marchinha bastante conhecida perguntava e respondia: Quem foi que inventou o Brasil? Foi seu Cabral, foi seu Cabral; No dia vinte e dois de abril Dois meses depois do carnaval. Pois a idade média também foi inventada. Um pedagogo alemão chamado Christoph Keller, em latim Cellarius (1638-1707), consagrou a divisão da história ocidental em antiga, medieval e moderna. Consagrou também a idéia que se generalizou sobre o período medieval. [...]. Keller fixou também a idéia de que este período intermediário entre a antiguidade e a época moderna nada produziu de importante. Foi um período não só estéril, mas de retrocesso: a ‘idadedas trevas’. Tanto a periodização da história ocidental em antiga, medieval e moderna como a interpretação negativa do período medieval foram e são objeto de profundas críticas. Não há nenhuma razão evidente para privilegiar como marcos de início e fim estas da- tas constituam um único período. Além disso, nada mais estranho do que supor que a humanidade tenha sido vítima durante tão longo tempo de uma irreparável estupidez e, repentinamente, se tenha curado da doença com o renascimento do século XV. Se consultarmos os próprios medievais, constataremos que eles não se consideram no meio de coisa nenhuma. Achavam, antes, que estavam no final da história ou, no mínimo, que eram os herdeiros de gente muito mais importante que tinha vivido antes deles. Bernardo de Chartres, no século XII, fez uma comparação que ficou famosa: “ ‘Somos comparáveis a anões montados nos ombros de gigantes, o que nos possibilita ver mais coisas que os antigos e mais longínquas; não pela acuidade de nossa própria vista nem pela nossa grande estatura corporal; mas porque os levantam e nos exaltam àquelas alturas pela sua grandeza gigantesca’.” Fonte: Nascimento (1992, on-line)2. 72 na prática 1. Sobre o pensamento de Sócrates, analise as afirmativas a seguir: I - Sócrates propõe o “pensar por si próprio” como condição para uma verdadeira ciência, uma filosofia autêntica. II - “Conhece-te a ti mesmo” e “Sei que nada sei” são as duas afirmações que melhor caracterizam a filosofia socrática. III - Do ponto de vista pedagógico, para Sócrates, é por meio do diálogo entre edu- cador e educando que se chega ao saber. IV - O método criado por Sócrates tinha dois momentos: a ironia e, depois, a maiêu- tica. É correto o que se afirma em: a) II e III, apenas. b) I e II, apenas. c) I, II e III, apenas. d) I e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 2. Sobre Platão e a sua “Alegoria da caverna”, diálogo entre Sócrates e Teeteto presente no Livro VII da obra A República, analise as questões a seguir I - Na “Alegoria da caverna”, Platão distingue dois tipos de conhecimento: o sensível e o inteligível. II - Platão, na “Alegoria da caverna”, considera que a “ideia” que temos das coisas é uma simples representação mental. III - Na “Alegoria da caverna”, Platão utilizou a fé como ponto de partida para o conhecimento. IV - Platão, na “Alegoria da caverna”, a partir da frase que maior representa o seu pensamento, isto é, “Penso, logo existo”, dá origem à pedagogia moderna. 73 na prática É correto o que se afirma em: a) II e III, apenas. b) I e II, apenas. c) I, II e III, apenas. d) I, apenas. e) I, II, III e IV. 3. Leia o texto a seguir sobre a educação na Idade Média: “Com o surgimento do Cristianismo mudam os rumos da cultura ocidental e con- sequentemente as ideias sobre o processo educacional. Entretanto, a História do Ocidente nos ensina que, durante cinco séculos, o Cristianismo conviveu com o Império Romano. Dentro do Cristianismo, Jesus foi o primeiro mestre, seguido pe- los apóstolos, pelos evangelistas e, em geral, pelos discípulos do próprio Jesus. Era uma educação sem escolas como, aliás, fora em outras religiões. A comunidade cristã primitiva é o meio pelo qual se desenvolve o processo educacional. Este, pouco a pouco, vai se convertendo na organização da Igreja de um lado e da família de outro. Estes são os dois núcleos básicos fundantes do processo educacional, à medida que o Cristianismo se institucionaliza em Igreja. Trata-se de uma educação elementar catequista. Mas pouco a pouco vão surgindo os primeiros educadores cristãos” (PALMA FILHO, J. C. A educação através dos tempos. [2020]. Disponível em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/173/1/01d06t01.pdf. Aces- so em: 03 fev. 2020). Sobre os mais importantes educadores “Padres”, considerados santos pela Igreja Cató- lica, um se destacou na Patrística e outro na Escolástica. Foram eles, respectivamente: a) São Paulo e São Boaventura. b) São Jerônimo e São Benedito. c) Santo Efigênio e São João Bosco. d) Santo Antão e São Francisco. e) Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. 74 na prática 4. As chamadas sete artes liberais, que estavam na base do ensino na Idade Média Ocidental, compreendiam dois grupos. Acerca da denominação destes dois grupos que embasaram o pensamento educacional na Idade Média, assinale a única alter- nativa correta: a) Antigo Testamento e Novo Testamento. b) Alcorão e Suma Teológica. c) O Trivium e a Didática Magna. d) O Trivium e o Quadrivium. e) O Trivium e o doutorado em artes mágicas. 5. Sobre as instituições de ensino no período da Idade Média, assinale a única alterna- tiva que contempla as duas que predominaram neste período: a) Os liceus e as academias. b) As academias e as escolas públicas. c) Os mosteiros e as universidades. d) As escolas públicas e as escolas privadas. e) As universidades e os ginásios. 75 eu recomendo! História da Pedagogia Autor: Franco Cambi Editora: Editora Unesp Sinopse: História da Pedagogia, autoria de Franco Cambi, consiste em um volume que propõe a reconstrução/interpretação da his- tória da pedagogia ocidental da Antiguidade pré-grega aos dias atuais. livro Apologia de Sócrates Autor: Platão Editora: L&PM Sinopse: o julgamento de Sócrates (469-399 a.C.) foi um dos fa- tos históricos mais importantes da Grécia Antiga e até hoje ins- pira escritores, artistas e filósofos. Em 399 a.C., Atenas estava se recompondo após a derrota para Esparta na Guerra do Pelopo- neso, tentando consolidar o ainda frágil regime democrático. O posicionamento crítico de Sócrates pareceu uma afronta aos costumes da cidade e ele foi incri- minado, julgado e condenado à morte por envenenamento sob as acusações de não cultuar os deuses da cidade, tentar introduzir novas divindades e corromper a juventude com suas ideias. As acusações não intimidaram o pensador, que de- cidiu conduzir a própria defesa, dando origem aos textos aqui reunidos, Êutifron, Apologia de Sócrates e Críton. livro 76 eu recomendo! Metafísica Autor: Aristóteles Editora: Edipro Sinopse: uma das disciplinas fundamentais da filosofia, em sua forma clássica, a Metafísica, tem como foco principal analisar, en- tre outras coisas, os fundamentos, as condições, as leis, o sentido e a finalidade dos seres em geral. Neste estudo imprescindível sobre a investigação da condição humana, Aristóteles firma um tratado composto por 14 livros, nos quais tenta esclarecer as noções de como as pessoas entendem o mundo, levando-se em conta sua natureza e a existência em relação ao espaço, ao tempo, à causalidade e às possibilidades. livro Política Autor: Aristóteles Editora: Edipro Sinopse: esta obra primordial da cultura clássica encanta a todos os que buscam compreender a formação, a estrutura e o desen- volvimento da vida em comunidade. Para Aristóteles, o principal motivo desta associação humana é o bem comum, capaz de pro- porcionar felicidade aos seus cidadãos e prosperidade à cidade. A instituição de leis e a sua observância são fundamentais para que a cidade seja uma associação humana feliz e próspera. livro 77 eu recomendo! A Cidade de Deus (parte I) Autor: Santo Agostinho Editora: Vozes de Bolso Sinopse: a Cidade de Deus é uma interpretação do mundo à luz da fé cristã. Esta primeira parte contém os livros de I a X da obra completa. livro A Cidade de Deus (parte II) Autor: Santo Agostinho Editora: Vozes de Bolso Sinopse: a Cidade de Deus é uma interpretação do mundo à luz da fé cristã. Esta segunda parte contém os livros de XI a XXII da obra completa. livro Confissões Autor: Santo Agostinho Editora: Vozes de Bolso Sinopse: as Confissões de Santo Agostinho estão entre os textos mais importantes da literatura cristã. Marcadamente espiritual, mas profundamente filosófica e teológica, a obra reflete a tra- vessia pessoal de Agostinho rumo à sua libertação e ao encon- tro com Deus. É obra referencial na mística cristã, escrita por um dos autores de maior relevânciae influência na história cristã e ocidental. livro 78 eu recomendo! Sobre o ensino (De Magistro) e Os sete pecados capitais Autor: Tomás de Aquino Editora: Martins Fontes Sinopse: o livro apresenta ao leitor dois importantes estudos de Tomás de Aquino: um dedicado ao ensino (De Magistro) e outro à ética (Os sete pecados capitais). livro O que é Filosofia Medieval Autor: Carlos Arthur Nascimento Editora: Editora Brasiliense Sinopse: neste pequeno livro (88 páginas), Nascimento nos con- vida a rever a ideia de que “Idade Média” é a “idade das trevas”. Buscando explanar as riquezas intelectuais e culturais que a Filo- sofia Medieval tem, o autor organiza a obra em sete tópicos: 1) “Introdução explicativa de tudo o mais”; 2) “Um imperador semi-analfabeto e seu ilustrado secretário de cultura”; 3) “A renascença do século XII”; 4) “Uma nova terra e um novo céu”; 5) “Esses teólogos desconfiados”; 6) “Para concluir sem terminar”; e 7) “Para saber mais”. É uma obra importante para estudantes de cursos de li- cenciatura, sobretudo para aprofundar os conhecimentos sobre os fundamentos históricos e filosóficos da educação no período medieval. livro 79 eu recomendo! O nome da rosa Ano: 1986 Sinopse: em 1327, William de Baskerville (Sean Connery), um monge franciscano e Adso von Melk (Christian Slater), um noviço, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de Bas- kerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igre- ja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assassinatos que acontecem no mosteiro. William de Baskerville começa a investigar o caso, que se mostra bastante intrincado, além dos mais religiosos acreditarem que é obra do Demônio. William de Baskerville não partilha desta opinião, mas antes que ele conclua as investigações, Bernardo Gui (F. Murray Abraham), o Grão-Inquisidor, chega no local e está pronto para tor- turar qualquer suspeito de heresia que tenha cometido assassinatos em nome do Diabo. Como não gosta de Baskerville, ele é inclinado a colocá-lo no topo da lista dos que são diabolicamente influenciados. Esta batalha, junto com uma guerra ideológica entre franciscanos e dominicanos, é travada enquanto o motivo dos assassinatos é lentamente solucionado. Comentário: entre os séculos XII e XIII, temos o surgimento da escolástica, que constitui o contexto filosófico-teológico das disputas que se dão na abadia em que se situa O Nome da Rosa. A escolástica significa literalmente “o saber da escola”, ou seja, um saber que se estrutura em torno de teses básicas e de um método básico que é compartilhado pelos principais pensadores da época. Assim, o filme representa a transição da Idade Média para o Renascimento e, de certa forma, a Idade Moderna, o que significa do ponto de vista filosófico-pedagógico: do conhecimento e aprendizagem como “revelação divina” para a razão, o pen- samento científico, para a investigação. A influência desse saber corresponde ao pensamento de Aristóteles, trazido pelos árabes (muçulmanos), que traduziram muitas de suas obras para o latim. Essas obras continham saberes filosóficos e científicos da Antiguidade que despertariam imediatamente interesses pelas ino- vações científicas decorrentes. filme 3 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS da educação na modernidade PROFESSOR Me. Vinícius Adriano de Freitas PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Descartes e o racionalismo no Discurso do Método • David Hume e o empirismo • Kant e a Filosofia Crítica: a síntese entre o racio- nalismo e o empirismo • Rousseau e a pedagogia moderna • Comenius e a didática para a pedagogia moderna: fundamentos históricos e filosóficos. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender as ideias de Descartes acerca do conhecimento humano. • Compreender as ideias de David Hume acerca do conhecimento humano. • Compreender a síntese entre o racionalismo e o empirismo proposta por Kant. • Analisar as contribuições de Rousseau para os fundamentos históricos e filosóficos da pedagogia moderna. • Reconhecer as contribuições de Comenius para a elaboração de uma didática para a pedagogia moderna. INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a). Chegamos à Unidade 3 e, a partir daqui, começam a ficar mais evidentes os fundamentos históricos e filosóficos que têm in- fluenciado na tomada de decisões políticas, pedagógicas e didáticas em relação à formação humana na época atual. Os fundamentos da educação nos dias atuais têm influências da anti- guidade e da medievalidade. No entanto, a modernidade é bem mais in- fluente no que diz respeito à educação escolar para todos organizada pelo Estado nos dias atuais. A modernidade tem como características princi- pais em relação à educação: (i) a “descoberta” da infância (Rousseau); (ii) o ideário de “ensinar tudo a todos” (Comenius); (iii) o dilema de “o que ensinar” aos cidadãos do novo modelo de organização socioeconômica que se consolidava: a sociedade capitalista. Contudo, a modernidade também é marcada por um grande embate epistemológico sobre a origem do conhecimento. Afinal, um dos ideários da modernidade era formar o sujeito livre e emancipado. Neste embate, três grandes correntes ocidentais (teorias) referentes às relações do sujeito com o objeto do conhecimento se destacaram: racionalismo, empirismo e criticismo. Essas grandes correntes teóricas referentes ao conhecimento se dão pela maior ou menor ênfase que cada uma delas dá ao sujeito, ao ambiente (objeto) e à interação sujeito-objeto. Não há concepção de conhecimento, de desenvolvimento e de aprendi- zagem neutra. Contudo, o racionalismo e o empirismo sempre buscaram manter suas concepções de mundo, de sociedade, de economia política e de história, distantes de seus estudos, sobretudo porque almejavam atingir aquilo que é impossível de ser alcançado: a neutralidade científica. Enfocando na compreensão da modernidade – época que tem início no ano de 1453 e termina no ano de 1789 –, esta unidade busca construir os fundamentos para a formação humana diante dos paradigmas e dos desafios que a modernidade trouxe. U N ID A D E 3 82 1 DESCARTES E O RACIONALISMO NO discurso do método Os séculos XV e XVI foram marcados por intensas alterações na visão de mundo ocidental. No tempo e no espaço, surgem novos horizontes: eruditos redescobrem antigas doutrinas filosóficas e científicas, tornando possível constituir uma sabe- doria nova, oposta às concepções que prevaleceram durante a Idade Média. Ao mesmo tempo, viajantes vão por continentes e mares, descobrindo terras e povos. A antiguidade greco-romana renasce por meio de seus pensadores e artistas, enquanto se constitui uma nova imagem geográfica do mundo. Em meio a um clima de ceticismo (dúvida), pensadores veem a necessidade de um caminho certo, capaz de conduzir a ciência a verdades permanentes. Havia a incessante busca por um método para a ciência moderna. Essa preocupação se generaliza a partir do século XVI. Dada sua profunda inquietação com o tipo de ensinamento, com as formas de filosofia e de ciência predominantes naquela época, um pensador francês se destaca por suas inovações: estamos falando de Descartes. Para ele, a filosofia e a ciência estavam em crise, pois tinham como ponto de referência o “indubi- tável” e o “verdadeiro”, baseados na Escolástica (que vimos na Unidade 2), como se coubesse tão-somente uma disputa sobre a interpretação de “verdades” tidas como eternas. Resgatar o princípio verdadeiro da filosofia implicava em um pen- samento autônomo, livre de quaisquer amarras, considerava Descartes. René Descartes nasceu, em 1596, em La Haye (antiga província de Touraine, na França) e faleceu em 1650 em Estocolmo (Suécia). É considerado o “fun- dador da filosofia moderna” e o “pai da matemática moderna”. Descartes U N IC ES U M A R 83 é ainda considerado o “fundador do racionalismo moderno”. Do ponto de vista epistemológico, para ele, a dúvidaé o ponto de partida para se chegar ao conhecimento verdadeiro. Para criar o seu método, Descartes buscou explanar quais são os preceitos lógicos que organizam o pensamento e o raciocínio para se alcançar o conhecimento indubitável. O teórico acredita que “[…] em lugar de um grande número de preceitos de que a Lógica é composta, acreditei que já me seriam bastante quatro [...]” (DESCARTES, 2011, p. 39) regras, pontos de partida, para o “método”, expostos por ele na obra “Discurso do método”. Os quatro preceitos aos quais Descartes se refere são: o primeiro, a regra da evidência e da clareza: “nunca aceitar, por verdade, coisa nenhuma que não conhecesse como evidente; [...] nada incluir em meus juízos que não se apresen- tasse tão clara e tão distintamente ao meu espírito” (DESCARTES, 2011, p. 40); pois “[...] as coisas que concebemos muito clara e muito distintamente são todas verdadeiras, havendo apenas dificuldade em bem distinguir quais são aquelas que concebemos distintamente” (DESCARTES, 2011, p. 51). O segundo preceito é a divisão ou a análise: “[...] dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas pudessem ser e fossem exigidas para melhor com- preendê-las” (DESCARTES, 2011, p. 40). O terceiro é a regra da ordem ou da dedução (síntese) que parte do pressuposto de “[...] conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de serem co- nhecidos, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos” (DESCARTES, 2011, p. 40). O quarto preceito é o da enume- ração: “[...] fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais, que ficasse certo de nada omitir” (DESCARTES, 2011, p. 40). Diante disso, percebe-se em Descartes os princípios da epistemologia ra- cionalista moderna: 1) jamais aceitar algo como verdadeiro que não seja evi- dente; 2) dividir as dificuldades em tantas partes quanto possível e necessário; 3) começar pelo mais elementar e passar aos poucos ao mais complexo; 4) fazer enumerações e revisões do conhecimento adquirido. Entretanto, conforme alerta Bagatin (2012), o racionalismo, apesar de apa- rentar ser uma busca pela neutralidade é, na verdade, um propósito ideológico que encontrou seu caminho no alvorecer da sociedade capitalista. “ A ênfase no método e a tentativa de desvinculação de uma teoria geral também cumpre um propósito ideológico. É necessário con-siderar que a mitificação do método, que teria surgido nas ciências U N ID A D E 3 84 humanas como sinônimo de exatidão e confiabilidade, aproximan- do-as das ciências exatas, retirou delas (ou ao menos tentou retirar) toda função de turbulência e de audácia (BAGATIN, 2012, p. 85). Descartes atribuiu exclusivamente à razão a capacidade de alcançar a verdade. Assim sendo, o racionalismo coloca a razão em uma posição de centralidade. Descartes supõe que o ser humano dispõe de uma estrutura mental inata. Deste ponto de vista, a aprendizagem é um processo interno, que depen- de exclusivamente do sujeito, de sua introspecção; de pensar sobre o próprio pensamento (raciocinar). Relacionando o raciocínio de Descartes para o campo da educação, podería- mos afirmar que, para ele, todo o conhecimento provém da dúvida. Assim sendo, caberia a qualquer professor pôr seus educandos a ‘duvidar’. Desafiá-los seria o caminho para a aprendizagem. O método único, a que Descartes presta tanta confiança, não convinha apenas a uma ciência, mas se aplicava a todas: “ visto que todas as ciências nada mais são do que a sabedoria huma-na, a qual permanece sempre una e idêntica, por muito diferentes que sejam os objetos a que se aplique [...]. É estranho, pois, que a maior parte dos homens indague sobre a particularidade das coi- sas e que quase ninguém pense no bom senso ou nesta Sabedoria Universal (DESCARTES, 1989, p. 12-13). A ‘educação racionalista’, isto é, com base na razão, proposta por Descartes, é oposta ao pensamento pedagógico da Idade Média (período medieval), que se dava com base na fé. Contudo, aos poucos foi se considerando os limites do pensamento de Descartes para a construção da identidade do ‘sujeito moderno’, tanto é que hoje se enquadra- a abordagem deste pensador sobre o conhecimento na concepção ‘tradicional’, como aponta Carvalho ([2020], p. 10): “ [...] estudiosos sugerem que a expressão ‘Educação Tradicional’ aplica-se de um modo especial à metodologia pedagógica imple-mentada, nomeadamente, a partir do século XVII. Segundo eles, a definição dessa metodologia foi, especialmente, influenciada pelas tentativas de elaboração, durante o século XVII, tanto do método U N IC ES U M A R 85 científico, em que se destacaram F. Bacon, como do método filosó- fico, em que sobressaiu Descartes. Esse último não tinha o propó- sito de ensinar o método que cada qual devesse seguir para bem conduzir sua razão, mas somente mostrar de que modo se esforçou para conduzir sua vida. Conforme Retondar (2013), do ponto de vista histórico, a educação e a pedagogia modernas serão caracterizadas sobretudo pelo primado da laicidade (liberdade religiosa) e da autonomia intelectual. “O conhecimento deve, antes de tudo, ser livre e guiado pelos princípios da razão em detrimento de orientações exclusi- vamente teológicas e ou religiosas” (RETONDAR, 2013, p. 3). Contudo, apesar da tentativa de inovar, a verdade é que, na modernidade, dentre tantas possibilidades de conhecimento de mundo, prevalece a centrali- dade no método, persiste o padrão racionalista em práticas escolares, conforme Colello (2012, p. 17): “ Entre tantos parâmetros de interpretação, prevalece o modelo racio-nalista, advindo da revolução científica do século XVI, que privilegia as formas de saber quantificadas, ordenadas e classificadas. A pre- tensão de desvendar a natureza para poder controlá-la e de reduzir a complexidade dos fenômenos a fórmulas simples e leis gerais, por si só explicativas, é efeito de um ‘paradigma clássico’ que, regido pelos princípios positivistas e funcionalistas, é necessariamente parcial, reducionista e autoritário. Para o racionalismo, as estruturas cognitivas são pré-formadas. Portanto, como não são frutos da ação do sujeito sobre o mundo objetivo e do mundo objetivo sobre o sujeito, não há porque recorrer aos saberes desse sujeito. De certa for- ma, a epistemologia racionalista tem como enfoque o professor, porque parte do pressuposto de que o conhecimento verdadeiro está nele, então, caberá a ele transmitir conteúdos, por meio do ensino verbalista, da aula expositiva. O objetivo da escolarização é fazer com que o aprendiz memorize as “verdades” que lhes forem transmitidas. Em síntese, do ponto de vista do conhecimento, Descartes tem um paradoxo: por um lado, propõe que o sujeito tenha a liberdade de pensar – daí sua famosa máxima “Penso, logo existo” –, mas, por outro lado, este pensar não pode ser de qualquer forma: necessita guiar-se por um método, a fim de evitar o erro. U N ID A D E 3 86 Opondo-se ao racionalismo, eis que surge o empirismo, tendo como um de seus principais representantes David Hume. 2 DAVID HUME E O EMPIRISMO “[...] Corrente filosófica para a qual a experiência é critério ou norma da verdade [...]” Fonte: ABBAGNANO (2007, p. 326, grifo nosso). conceituando Hume nasceu em 1711 (Edimburgo, Escócia) e faleceu em 1776 (Edimburgo, Escócia). Foi um dos pensadores mais importantes do século XVIII. Seu pen- samento filosófico foi particularmente elaborado em oposição a Descartes. No chamado “empirismo britânico”, Locke, Berkeley e Hume foram os teóricos que buscaram, dentre outras questões, demonstrar o limite das ‘ideias inatas’, isto é, os limites do racionalismo moderno. “ Opondo-se então a algumas das teses centrais do racionalismo de Descartes, em especial a sua doutrina das idéias inatas, os empiristas, a partir de meados do século XVII até meados do século XVIII – sucessivamente: Locke, Berkeley e Hume –, se apoiaramna tradição de pensamento britânico, de tendências empiristas e nominalistas desde a Idade Média, com autores como Roger Bacon, John Duns Scot e Guilherme de Occam [...]” (DUTRA, 2008, p. 80). U N IC ES U M A R 87 O empirismo enfatiza que o ambiente e a experiência são as origens da constitui- ção das características humanas. A concepção é a de que a aprendizagem se dá por um processo de associação de ideias, indo “das mais simples” às “mais complexas”. Em outras palavras, parte-se do pressuposto de que, para conhecer um objeto complexo, o sujeito necessita primeiro aprender as características “mais simples” que estariam associadas àquele objeto de conhecimento e, posteriormente, esta- ria apto a “absorver” – como uma esponja – o novo objeto e, então, finalmente, conhecê-lo. Uma das terminologias que são mais utilizadas para se referir ao empirismo é “tábula rasa” ou, em latim, “tabula rasa”. Contudo, como professores em formação, vem-nos a pergunta: qual a relação entre empirismo, tabula rasa (em latim) ou tábula rasa (em português) e educa- ção? Paulo Freire (pensador brasileiro que será estudado em profundidade mais à frente) relaciona a concepção de “tábula rasa” à ideia de “educação bancária”. “ A educação bancária inclui toda a educação centrada nos conteúdos e no professor e que encara o aluno como um recipiente de matérias previamente preparadas pelo professor. A mente do aluno é vista como uma tábua rasa onde o professor deposita um conhecimento já feito (MARQUES, [2020], p. 106, grifo nosso). Fundamentada no empirismo, a abordagem associacionista de aprendizagem considera que as ideias têm origem no processo de abstração e, então, as caracte- rísticas individuais do sujeito são determinadas por fatores externos ao indivíduo. Considera, portanto, que desenvolvimento e aprendizagem se confundem e ocorrem simultaneamente. A epistemologia empirista, que dá respaldo ao modelo de escolarização tradicional, ainda predomina no mundo ocidental. Não há como negar que a escola tradicional, isto é, aquela marcada por características que podem parecer naturais, tais como, (i) seriação dos conteúdos, (ii) a entrada e a saída da sala em filas, (iii) o ensino com base em manuais (cartilhas, apostilas e livros didáticos), (iv) punição por reprova e (v) a memorização de termos ou frases como sinônimo de aprendizagem, faz-se presente nos dias atuais (século XXI). O principal limite desta abordagem é considerar que existe um único caminho para a aprendizagem, conforme indica Colello (2012, p. 63-64). U N ID A D E 3 88 “ Acredita-se que a aprendizagem é formada pelo ‘somatório de in-formações’ veiculadas pelo professor (ou pelo livro didático). O processo de conhecimento é mais ou menos garantido pela com- petência do mestre em fragmentar o conteúdo em etapas a serem aprendidas, seguindo o princípio do ‘mais fácil para o mais difícil’. O processo de conhecimento é mais ou menos possível, de acordo com a capacidade do aluno em ‘manter abertos os canais de entrada das informações’. A possibilidade de retê-las na memória é a meta desejável que se traduz pelo estoque de conhecimentos, o verdadeiro objeto de avaliação final. Propostas pedagógicas que tomam por base o associacionismo partem do pres- suposto de que a aprendizagem se produz por meio do fortalecimento da respos- ta correta dentre muitas esboçadas por parte do aprendiz (a função do professor é afastar o educando do ‘erro’), pela influência do exercício e do efeito do hábito. Um dos principais limites da concepção de aprendizagem empirista é que, mediante a falta de diálogo entre educador e educando, um tende a não reco- nhecer os limites e capacidades do outro e, assim, os processos de (i) escolarização, (ii) desenvolvimento e (iii) aprendizagem podem ficar abaixo das expectativas do sistema de ensino, isto é, na qualidade do ensino. Quais os limites das duas concepções abordadas até aqui quando aplicadas à educação? Ser um “professor racionalista” é tratar o conhecimento como ‘dom’, por exemplo. Por outro lado, ser um “professor empirista” é tratar o educando como uma ‘tábula rasa’, uma folha em branco a ser preenchida por conhecimento, por exemplo. pensando juntos Em síntese, com as discussões expostas até aqui, (i) para o racionalismo, a razão, produto da ação do sujeito sobre o objeto a ser conhecido, constitui a fonte do saber; (ii) para o empirismo, a experiência é a fonte do conhecimento e, então, é o objeto (daí a ênfase no material didático, o laboratório, os experimentos etc.) é o que promove o conhecimento. No próximo tópico, estudaremos o criticismo de Kant. Buscando resolver o embate entre o racionalismo e o empirismo, Kant centraliza o objeto do co- nhecimento no sujeito, considerando, porém, que a cognição depende de uma interação do sujeito com o objeto e vice-versa. U N IC ES U M A R 89 Como superar as tensões e ambiguidades entre o empirismo e o racionalis- mo? Por mais improvável que possa parecer, Kant foi capaz de esclarecer os limites e as possibilidades destes dois sistemas explicativos fundando, então, a Filosofia Crítica. Buscando superar a disputa entre razão versus experiência, Kant propõe que, em vez de investigar “como deve ser o mundo?” para que se possa conhe- cê-lo (centrar a investigação entre o que é possível e o que impossível de ser conhecido, como se havia feito até então), a questão seria passar a investigar a razão e seus limites. Para Kant, a filosofia não deve ser cética, isto é, não deve desacreditar da ra- zão, como pensavam os empiristas; nem dogmática, ou seja, confiar somente na razão, como defendiam os racionalistas. O único caminho ainda aberto, então, é o da crítica, ou melhor, o da autocrítica da razão. Kant define que “conhecer” é “esclarecer”. “Esclarecimento” (Aufklärung, em alemão) é a saída do ser humano da sua menoridade para sua maioridade, da heteronomia para a autonomia, con- forme o filósofo expõe em seu texto ‘Resposta à pergunta: que é esclarecimento?’. “ Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua minoridade, pela qual ele próprio é responsável. A minoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela 3 KANT E A FILOSOFIA CRÍTICA: A SÍNTESE ENTRE o racionalismo e o empirismo U N ID A D E 3 90 de um outro. É a si próprio que se deve atribuir essa minoridade, uma vez que ela não resulta da falta de entendimento, mas da falta de resolução e de coragem necessárias para utilizar seu entendimento sem a tutela de outro. Sapere aude! Tenha a coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é portanto a divisa do Esclarecimento (KANT, 1783, p. 1, grifo do autor). Kant resolve o impasse existente entre os racionalistas e os empiristas, pois une essas duas perspectivas, evidenciando que o conhecimento do objeto não pode acontecer separado do sujeito, por haver entre estes uma interdependência. Em outras palavras, o ato de conhecer ocorre por meio de uma interação entre o sujeito e objeto, um afetando o outro. A relação do sujeito com o objeto acontece em um constructo. KANT E A SUA “REVOLUÇÃO COPERNICANA” NA EPISTEMOLOGIA “Na obra Crítica da Razão Pura, especificamente, no prefácio da segunda edição, Kant apresenta uma ‘revolução’ importante no pensamento filosófico na era moderna. [...]. No entanto, o filósofo não sugere um novo sistema, mas antes uma mudança de méto- do: em vez de adequar a razão humana ao objeto, como nas filosofias anteriores, Kant propõe que o objeto se adeque à razão; este método é inspirado na chamada revolução copernicana, agora aplicada à filosofia. O termo ‘revolução copernicana’ vem do cientista da natureza, Copérnico, que propõe a passagem do antropocentrismo ao heliocentrismo. No sentido de remover o objeto do centro das atenções, Kant propõe para a metafísica alocar o sujeito no centro, fazendo com que os objetos girem à sua volta. Por essa opera- ção Kant examina com a maior liberdade possívelas condições ínsitas no sujeito, no con- junto das operações por ele previamente executadas, a fim de constituir as possibilidades do conhecimento dos objetos materiais”. Fonte: Tibério (2019, p. 43-44). explorando Ideias A partir do criticismo kantiano, a finalidade da educação é oferecer instrumentos ao sujeito cognoscente que o habilitem a ter a capacidade de realizar a autorreflexão crítica. Kant considera que educar e governar a humanidade são as duas artes mais difíceis. Isso acontece porque a natureza não dotou os seres humanos para tal tarefa. Há necessidade de se compreender “o que é o ser humano”, sujeito que precisa de cuidados, instrução e disciplina. Então, o objetivo maior da educação seria atingir o conhecimento verdadeiro, ético e moral, para alcançar a maioridade humana. U N IC ES U M A R 91 Por meio das três obras guiadas pela Filosofia Crítica – Crítica da Razão Pura (a primeira edição é de 1781; a segunda é de 1787), Crítica da Razão Prática (1788) e a Crítica do Juízo (1790) –, Kant funda o chamado idealismo trans- cendental. Posteriormente, Fichte, Schelling e Hegel, principais representantes do idealismo pós-kantiano, passaram a discutir que não se pode ignorar, como faz a teoria tradicional (HORKHEIMER, 1975), os condicionantes históricos no estudo da realidade social, quando, na verdade, todo conhecimento é histo- ricamente assentado, sob pena de não ser possível conhecer em sua totalidade as reais conexões da realidade. Como afirma Leopoldo e Silva (1997, on-line), “jamais chegaríamos a notar que a razão iluminista traz em si o seu contrário se a abordássemos a partir de sua definição puramente lógica e a-histórica” . Então, o que a teoria crítica tem de diferente da teoria tradicional, para além da questão do método, “[...] é a consideração do caráter histórico da própria razão” (LEOPOLDO E SILVA, 1997, on-line). A partir de Kant, surge o que atualmente na educação chamamos de intera- cionismo. Trata-se de uma abordagem que “busca acabar com a exacerbação do sujeito (racionalismo) ou do objeto (empirismo), propondo uma relação entre am- bos” (LEPRE, 2008, p. 311). Posteriormente, já no século XX, surgem teorias edu- cacionais que se fundamentam na abordagem interacionista. São as chamadas ‘teorias psicogenéticas’, que “[...] enfocam essa relação homem ativo/mundo ativo nas suas pesquisas acerca da construção do conhecimento” (LEPRE, 2008, p. 311). Por mais discordantes que possam ser, as chamadas “teorias psicogenéticas” – (i) epistemologia genética de Piaget, (ii) a teoria histórico-cultural de Vygot- sky e (iii) a teoria da afetividade de Wallon – podem ser consideradas teorias da aprendizagem que têm fundamentos em pressupostos de Kant. Ao destacarem a criança como o centro da compreensão da relação entre o ensino, a aprendizagem e o desenvolvimento humano, as três teorias trazem implicações teórico-práticas que revolucionam a pedagogia. As três teorias concordam que, para ter ciência de um dado conteúdo, o su- jeito precisa do objeto, mas, ao mesmo tempo, o objeto só pode ser conhecido pelo sujeito quando o torna cognoscível. Ao regular suas faculdades intelectivas, o sujeito interage com o objeto do conhecimento. Não por acaso, estas teorias estabelecem uma questão central para o conhecimento, para a aprendizagem e para o desenvolvimento: a interação. U N ID A D E 3 92 Jean-Jacques Rousseau, nascido em 1712 (Genebra, Suíça), falecido em 1778 (Er- menonville, França) foi um dos teóricos mais influentes da educação na moder- nidade. Em suas obras, Rousseau buscou sistematizar toda uma nova concepção de educação e formação humana, atualmente conhecida como ‘Escola Nova’. É considerado o “pai” da filosofia da educação moderna. Para Rousseau, o fundamental na educação da criança é a liberdade. Em termos gerais, pode-se dizer que, assim sendo, o educador e/ou o professor deve partir de situações naturais para tornar a criança um futuro adulto “bom”. Esta “educação natural” proposta por Rousseau dispensa medidas consideradas por ele cruéis: castigos e disciplina rígida, por exemplo, de nada adiantam para formar a criança. A criança, por si só, por meio da convivência com bons exemplos vai aprendendo o que pode e o que não pode ser feito; ela é capaz de aprender. Em outras palavras, aprenderá pelo próprio “erro”. Vejamos um exemplo desta questão da natureza na aprendizagem da leitura e da escrita. Embora Rousseau nada tenha escrito sobre ‘alfabetização’, ensinar a ler e a escrever de maneira “natural” seria: aprende-se a ler e escrever, lendo e escrevendo de maneira autêntica, com textos reais (gêneros textuais): panfletos, bilhetes, jornais, livros de literatura infantil, receitas culinárias etc. “despertam” a criança a “querer aprender” a ler e escrever e, então, ela mobiliza sua cognição, enfim, se alfabetiza. Por oposição, (i) exercícios de cópia, (ii) ditados, (iii) “treino” de leitura de sílabas’, (iv) leitura de textos artificiais – “Ivo viu a uva” – não ensi- nam a criança a ler. Pelo contrário: podem até frear o aprendizado da criança, 4 ROUSSEAU E A PEDAGOGIA moderna U N IC ES U M A R 93 simplesmente porque ler e escrever só se efetiva quando ocorre como um ato de comunicação, de interlocução entre pessoas; não por meio da memorização de sílabas e de palavras. INFÂNCIA: UM CONCEITO MODERNO “Na Idade Média [...], a figura da criança, tal qual a concebemos hoje, não existia. Os pe- quenos, que eram tratados literalmente como ‘pequenos adultos’ já tinham responsa- bilidades em relação ao trabalho, às atividades domésticas e até mesmo estabeleciam relações de aliança e sexuais. Neste sentido, podemos perceber que o espaço da infância como um espaço da inocência, da proteção e da não sexualidade é uma criação histórica da sociedade moderna e que compõe nosso imaginário social como algo que não pode ser violado. Inclusive, criminalizamos o trabalho infantil, o estabelecendo como delito. Ins- titucionalizamos, por assim dizer, o espaço da infância como um espaço de aprendizado, como uma esfera onde primordialmente a criança deve brincar e aprender, um espaço que deve, acima de tudo, ser lúdico em oposição a atividade laboral” Fonte: Retondar (2013, p. 12). explorando Ideias Rousseau considera que a educação muda o indivíduo e também toda a socieda- de. Defende que a educação naturalista se dá afastada dos costumes da aristo- cracia, da vida artificial, das convenções sociais. Critica a educação intelectualista que, segundo ele, fatalmente, leva ao ensino formal e livresco. Emílio, ou Da Educação, lançado por Rousseau em 1762, é considerado o mais importante tratado de educação da modernidade. A tese filosófico-pedagó- gica defendida por ele é: a verdadeira educação moderna, esclarecedora, só pode ser a educação pela liberdade. “ Uma tal educação, além de ser a única pertinente, responderia às necessidades naturais da criança (Ravier, 1941, p. 335). Ao longo do Emílio, Rousseau reitera incansavelmente a sua recomendação segundo a qual é preciso respeitar a liberdade da criança e criar à sua volta um clima propício para a sua reprodução. O respeito à liberda- de, desse modo, deve ser presenciado desde os primeiros instantes em que a criança saiu do seio de sua progenitora (Rousseau, 1969a, p.278). Com o seu crescimento, a criança deve ganhar espaço para se deslocar com toda liberdade e praticar jogos que lhe possibilitem o exercício dos membros (SAHD, 2005, p. 113). U N ID A D E 3 94 Vale frisar: as ideias defendidas por Rousseau no Emílio levariam a uma poste- rior ‘revolução pedagógica’, chegando até mesmo ao século XX como uma das principais fontes teóricas do movimento escolanovista. ROUSSEAU E A (DES)EDUCAÇÃO “Se perguntássemos a Rousseau como devemos proceder para melhor educarmos as crianças, provavelmente ele responderia: não as educando.” (José Carlos Rothen) pensando juntos E você, professor em formação, já se perguntou: até que ponto adisciplina e a liberdade são fundamentais na educação da criança, do adolescente e do adul- to? Como estamos a discutir desde o início dos estudos acerca de ‘Fundamentos históricos e filosóficos da educação’, nem história tampouco a filosofia trazem prescrições para a educação, mas, de certa forma, instrumentaliza o docente para o seu autoconhecimento e sua autorreflexão. Contudo, Rousseau, como teórico de uma educação para liberdade, nos dá indícios de muitas questões que fazem parte da educação nos dias atuais: a criança é um pequeno cientista, como disse Piaget. Experimentando, brincando, testando, vivenciando e experienciando o conteúdo escolar que está estudando, facilita muito mais a aprendizagem que a repetição, o treino e a memorização. Caro(a) professor(a) em formação: Rousseau é fundamental para avaliarmos/ refletirmos sobre os fundamentos históricos e filosóficos da educação tanto na modernidade quanto na contemporaneidade! Neste sentido, teremos aqui um podcast no qual há uma entrevista com um pesquisador com a seguinte temá- tica: “Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação: Rousseau e Educação Moderna e Contemporânea”. Convidamos você a ouvi-lo! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3040 U N IC ES U M A R 95 Se considerarmos que a função principal do professor é ensinar, emerge a neces- sidade deste profissional teorizar sobre ‘como ensinar’. A ciência que dá respaldo técnico-científico ao ensino é a didática. Quem primeiramente cunhou a ex- pressão “didática como arte de ensinar” foi Ratke, em 1617, quando apresentou oficialmente sua obra Introdução geral à didática ou arte de ensinar. Entretanto, foi Comênio, em 1629, quem, ao escrever a Didática Tcheca, consagrou a ex- pressão. Essa obra foi, em 1633, traduzida para o latim como Didáctica Magna e finalmente publicada em 1657. A gênese da didática, ou seja, a origem da didática moderna como ‘arte de ensinar tudo a todos’, deu-se no século XVII. Esse século foi palco de uma série de transformações na visão de mundo no ocidente. “ Na transição da Idade Média para a Idade Moderna, a forma de trabalho foi, gradativamente, deixando o artesanato e passando para a manufatura, e desta para a maquinofatura, acentuando-se a divisão do trabalho. No campo científico, houve um grande desen- volvimento da ciência da natureza, que se expressou por meio da observação científica e da experimentação; acelerou-se o processo de desenvolvimento das artes mecânicas; foram feitas novas desco- bertas no campo da astronomia; realizaram-se grandes viagens na 5 COMENIUS E A DIDÁTICA PARA A PEDAGOGIA moderna: fundamentos históricos e filosóficos U N ID A D E 3 96 busca de novas terras, na conquista de outros povos pelas nações mais desenvolvidas; o homem começou a passar do teocentrismo para o antropocentrismo; a Bíblia foi posta em confronto com os dados das novas descobertas científicas; o prestígio da Igreja Cató- lica foi abalado pela Reforma; surgiu uma nova filosofia, um novo modo de pensar, uma nova educação (GASPARIN, 2010, p. 13- 14, grifo nosso). Em sua obra fundamental sobre o método de ensino, Comenius anunciou sua proposta, a grande novidade que se impunha e devia ser ouvida por todos: Di- dáctica Magna: Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos. Assim, Comenius teve a ousadia de publicar uma obra na qual dizia ter encontrado um método por meio do qual todos poderiam aprender, não apenas os “iluminados pela revelação divina” ou de determinada classe ou grupo social: todos, a partir de então, iriam conseguir aprender! “ Seu comunicado se fundamentou no essencial, no que é substantivo – didática: arte de ensinar – acrescentando-lhe, em seguida, o quali-ficativo Magna, que expressava a universalidade das conquistas do homem no início dos tempos modernos. Explicitando sua obra, não a propôs como algo a ser discutido, mas a ser seguido, para respon- der aos novos desafios sociais. Por isso afirmou: Tratado: conjunto de princípios que deviam orientar o novo ensino; Arte: trabalho à imitação dos artesãos que, em seu fazer, seguiam o modelo da na- tureza; e assim deviam proceder os professores em seu novo modo de ensinar; Universal: a nova didática devia ser da mesma grandeza dos novos conhecimentos sociais para que pudessem ser ensinados; Ensinar: essa palavra, pela etimologia latina, provém de ‘insignare’ que significa marcar, distinguir, tornar diferente. A nova tarefa dos professores consistia em marcar as mentes dos alunos com os gran- des conhecimentos daquele momento; Tudo: já não bastavam os rudimentos com que o homem medieval se servia para sua sobre- vivência na agricultura ou nos cuidados dos rebanhos. Era neces- sário que ler, escrever, contar e os demais conhecimentos científicos passassem a fazer parte do ensino escolar; Todos: não somente os filhos dos nobres, dos príncipes ou dos que seguiam a carreira das artes liberais, ou se destinavam à vida religiosa, mas todos: homens, mulheres, crianças, jovens, adultos (GASPARIN, 2010, p. 14-15). U N IC ES U M A R 97 A obra Didáctica Magna é constituída por quatro partes: na primeira, apresenta os fundamentos filosóficos e teológicos da educação e da didática; na segunda, trata dos princípios gerais e fundamentais da arte de ensinar; a terceira descreve os prin- cípios metodológicos específicos de cada ciência; e a quarta os planos de ensino. Conforme considera Gasparin (2010), Comenius é uma síntese da filosofia e da ciência moderna aplicadas à pedagogia. Assim sendo, possui base em (i) Bacon, (ii) Ratke e (iii) Descartes. Em (i) Bacon que, expressando sua época, tornou-se um anunciador do novo tempo, buscando substituir uma cultura retórico-lite- rária por uma de tipo técnico-científica. Com base nele, Comenius “propõe seu método universal de ensinar tudo a todos, com tal certeza, facilidade e rapidez que será impossível não aprender. Esse método rompe com todas as formas de ensinar existentes, até então, nas escolas” , explicita Gasparin (2010, p. 21). Fundamentando-se em (ii) Ratke, que, do ponto de vista didático, recomenda que cada coisa deve ser repetida muitas vezes, porque isso fará com que se grave convenientemente no espírito do aluno, vem Comenius e faz o mesmo: inclui “[...] em sua didática exercícios constantes para todas as matérias, até que o aprendido se torne uma segunda natureza, um hábito, por meio do qual o aluno possa agir naturalmente” (GASPARIN, 2010, p. 23). Com relação à influência de (iii) Descartes, notamos várias influências na proposta de Comenius. Destaca-se a questão da gradação do ensino: do mais simples para o mais complexo. “ Tanto a matemática de Descartes quanto a natureza de Comênio seguem uma estrita, rigorosa e semelhante ordem em seus proce-dimentos. Desta forma, podemos observar que enquanto o método cartesiano propala que deve proceder do mais fácil ao mais difícil, o método comeniano responde que ‘a natureza também caminha das coisas mais fácies para as mais difíceis’ (COMÊNIO, 1976, p. 238). Em relação à gradualidade que caminha do mais simples ao mais complexo em matemática, Comênio (1976, p. 221) responde que ‘a natureza não dá saltos, mas procede gradualmente’, superando as dificuldades de cada etapa antes de passar a outra (GASPARIN, 2010, p. 27). Outro ponto importante que Comenius utiliza que é importante destacar é o da divisão: “parcelar”, “fragmentar” o conteúdo escolar, a fim de facilitar o aprendizado. U N ID A D E 3 98 “ Ao princípio cartesiano que preconiza dividir as dificuldades em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias para melhor resolvê-las corresponde o fundamento comeniano da natureza se- gundo o qual suas obras não se realizam na confusão, mas através de procedimentos distintos, uma por vez, de tal maneira que tanto o professor quanto o aluno entendam sem nenhuma obscuridade o ensinado e saibam o que se está fazendo. Portanto, ensine-se e aprenda-se uma só coisa de cada vez,da mesma forma que os olhos não se voltam com a mesma clareza para vários objetos ao mes- mo tempo. Assim procede também a mente ao apreender as coisas (GASPARIN, 2010, p. 27). Em relação ao método único da ciência de Descartes e o método único de ensi- no de Comênio, há muitas semelhanças, especificamente no que se referem aos passos sequenciais de cada processo. De certa forma, Comenius também é o “pai” do livro didático moderno, isto é, o manual de ensino tendo como recurso a imagem. Em outras palavras, antes de Comenius, os livros dispunham apenas de escritos. Em 1658, Comenius publicou a obra Orbis sensualium pictus: o mundo em imagens, mantendo sua meta: “Se alguma coisa poderia ser percebida por diversos sentidos, ofereçamos a todos eles […]. Posto que os sentidos são os fidelíssimos provedores da memória” . Uma enciclopédia visual dividida em cento cinquenta capítulos, Orbis sensualium pictus, também conhecido como Orbis Pictus, introduz uma proposta nova e revolucionária em seu momento, ao utilizar ilustrações com fins didáticos. O estudo dos fundamentos históricos e filosóficos da educação explicitam que a prática de ensino e a didática sempre estão ligadas a questões mais amplas. Conforme indica Gasparin (2010, p. 29), na modernidade, “ [...] a didática, em sua origem, não se constituiu de um mero con-junto de normas, de técnicas de ensino, um regrário, mas uma apreensão singular das novas necessidades sociais que emergiam e uma resposta educacional e escolar ao novo tempo. Torna-se evi- dente, portanto, que a didática se origina desde fora da escola como uma apreensão filosófico-científico-educacional-metodológica e torna-se na escola uma resposta teórico-prática na transmissão- -assimilação dos conteúdos que, por sua vez, se originam na vida extra-escolar. U N IC ES U M A R 99 Em síntese, Comenius organiza as bases para formação humana por meio da compreensão de exercícios de cartilhas e livros didáticos que acabam condicio- nando a aprendizagem a uma perspectiva tecnicista, prescritiva e enciclopédica. Durante esta unidade, analisamos os fundamentos históricos e filosóficos da educa- ção na época moderna. Contudo, cabe a nós encerrar o debate questionando: quais os limites e possibilidades da formação humana na sociedade moderna capitalista? Na medida em que trabalho escravo e servil vai sendo substituído pelo traba- lho assalariado, surgem novas demandas formativas. Para que todos se tornassem capazes de trabalhar com as máquinas, requeria-se cada vez mais uma mão de obra especializada. O domínio da leitura, da escrita e do cálculo passa a ser cada vez mais primordial. “ O novo conhecimento social necessitava, portanto, entrar para a escola a fim de preparar os espíritos dos jovens para o novo tempo. Ora, como esse conhecimento, em todas as áreas, possuía amplas dimensões, não podia ser ensinado com os velhos e particulares métodos escolares. Era necessário, pois, um novo método, uma nova didática, da mesma grandeza dos conhecimentos que deviam ser ensinados aos alunos (GASPARIN, 2010, p. 14). Descartes com o racionalismo, David Hume com o empirismo, Kant com o criti- cismo, Rousseau com sua proposta de uma pedagogia moderna e Comenius com o objetivo de elaborar uma didática para a pedagogia moderna estão inseridos em um contexto histórico que, fundamentalmente, a existência humana não tem mais como ênfase a religião: o enfoque agora é a ciência, o capital. Técnica e tec- nologia passam a ser os novos desafios da educação. Um vídeo composto por esquemas e diagramas com base nos quais se bus- ca relacionar os fundamentos da educação com a didática. Embora o enfo- que seja a relação entre a didática e a formação do professor, é importante o estudo dos organogramas que o vídeo propõe, de maneira que você se questione: quais os fundamentos das diferentes tendências pedagógicas? O que isto interfere no agir do docente? conecte-se https://youtu.be/yh6OKKaCozU U N ID A D E 3 100 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta seção (Unidade 3) trouxe para a discussão os paradigmas que o contexto dos séculos XVI, XVII e XVIII estava a demandar, ou seja, a Modernidade. Tendo em vista que uma nova forma de organização social, econômica e política entra em ascensão – a sociedade capitalista –, surgem novas formas de trabalho e novas práticas de formação humana. O percurso seguido pelo nosso estudo partiu do ‘pai da modernidade’: Des- cartes. Em seguida, adentramos no principal representante do empirismo britâ- nico: David Hume. Posteriormente, chegamos no pensador que é considerado o mais importante da modernidade: Immanuel Kant. Como não poderíamos deixar de tratar da filosofia da educação na moder- nidade, abordamos as ideias de Rousseau. Do ponto de vista da educação, este pensador traz uma questão primordial para a escolarização na modernidade: a infância. A criança é um sujeito que pensa diferente do adulto. Sua lógica de aprendizagem exige que o adulto compreenda o seu modo de agir sobre o mundo. O espírito epistemológico da modernidade é marcado pelo novo: “[...] nova ciência, a nova filosofia, a nova educação e a nova didática” (GASPARIN, 2010, p. 28). Neste contexto, o teórico que mais explicitamente tratará da necessidade de formação de um “novo” sujeito por meio de uma “nova” educação é Comenius. Para isso, ele propõe que a sociedade moderna necessita de instrumentos para esta formação: “[...] escolas universais, livros universais, professores universais, inserindo o ensino e a educação na totalidade social” (GASPARIN, 2010, p. 17). Assim sendo, Comenius foi capaz de incorporar o discurso filosófico da mo- dernidade e aplicá-lo à educação e à pedagogia. Como o título de sua principal obra expressa, a educação moderna tem agora novos desafios: “Ensinar Tudo a Todos”. Como somos um sujeito deste tempo, como professor em formação, ainda estamos em busca de estratégias, políticas, didáticas e materiais que sejam capazes de atingir o objetivo da modernidade em relação ao conhecimento: que todos possam aprender tudo com qualidade! 101 na prática 1. Considere a assertiva a seguir que fala sobre a vida e a obra de Descartes: René Descartes, filósofo francês, é considerado o pai da Filosofia Moderna. Descartes ansiava conhecer a partir das faculdades racionais e, assim, procurou sistematizar seu pensamento através de um método a partir do qual seria possível alcançar a verdade. Sobre a filosofia e o pensamento de Descartes, assinale a única alternativa correta. a) A única certeza que Descartes tinha era a ausência da dúvida. b) A afirmação “penso, logo existo” revela a perspectiva cartesiana em considerar como verdadeiro aquilo que é complexo. c) A obra Discurso do Método demonstra que Descartes era um empirista, isto é, do ponto de vista metodológico, para ele, todo o conhecimento provém da experiência. d) René Descartes se tornou amplamente conhecido pela preposição “cogito, ergo sum” (penso logo existo), afirmação que permitiu ao filósofo concluir que opinião, conhecimento e verdade são conceitos equivalentes. e) A primeira certeza alcançada por Descartes foi o cogito: “Penso, logo existo”. 102 na prática 2. Leia com atenção o texto a seguir no qual o filósofo escocês David Hume expõe seus argumentos sobre a origem das ideias humanas: “Entretanto, embora nosso pensamento pareça possuir [...] liberdade ilimitada, veri- ficaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapas- sa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas idéias compatíveis, ouro e montanha, que outrora conhecêramos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, pois o sentimento que temos de nós mesmos nos permite conceber a virtude e podemos uni-la à figura e forma de um cavalo,que é um animal bem conhecido. Em resumo, todos os materiais do pensamento derivam de nossas sensações externas ou internas; mas a mistura e composição deles dependem do espírito e da vontade. Ou melhor, para expressar-me em linguagem filosófica: todas as nossas idéias ou percepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas” (HUME, D. Investigação Acerca do Entendimento Humano. Disponível em: http://www. ebooksbrasil.org/eLibris/hume.html. Acesso em: 12 mai. 2020, p. 10-11). Sobre a teoria do conhecimento (epistemologia) de David Hume, teórico empirista, e com base no trecho apresentado de seu livro Investigação Acerca do Entendimento Humano, assinale a única alternativa correta que contempla o argumento de Hume sobre a origem das ideias no ser humano. a) As ideias têm origem a partir dos sentidos e da experiência. b) As ideias têm origem a partir da união entre fé e razão. c) Haja vista que Hume entende que o conhecimento humano provém da razão, o “método” é a origem das ideias no ser humano. d) Hume busca uma união entre razão e experiência. Por isso, a origem das ideias humanas tem sua origem na “crítica”. e) Para Hume, as ideias humanas provêm da fé. Por isso: “crer para entender, en- tender para crer” é o argumento que sintetiza o pensamento de David Hume. 103 na prática 3. No texto aseguir, Dutra (2008) expõe como Immanuel Kant (1724–1804) se expôs diante da disputa entre o racionalismo e o empirismo. Leia-o com atenção: “O próprio Kant sugere a interpretação que até hoje é usual sobre a posição de sua filosofia transcendental em relação ao racionalismo dos pensadores europeus con- tinentais, especialmente Descartes, Espinosa e Leibniz, e os empiristas britânicos: Locke, Berkeley e Hume. Ou seja, o que se supõe é que sua doutrina tenha associado as virtudes de ambas essas escolas – racionalismo e empirismo –, evitando seus ví- cios. Em outras palavras, na avaliação que Kant faz do conhecimento humano, ele dá razão aos empiristas em determinados aspectos, mas, por outro lado, em outros, dá razão aos racionalistas” (DUTRA, L. H. de A. Teoria do conhecimento. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 2008, p. 97). Em virtude da demonstração dos limites e das possibilidades de ambas as correntes – ra- cionalismo e empirismo –, Kant teve sua teoria conhecida e, por ele próprio, denominada: a) Filosofia analítica. b) Filosofia escolástica c) Filosofia cética. d) Filosofia empirista. e) Filosofia crítica. 104 na prática 4. Os princípios subjacentes ao ideário pedagógico de Comenius, educador do século XVII, sustentam-se nos ideais de uma escola na qual todas as classes sociais sejam educadas, isto é, onde o ensino seja destinado a todos sem qualquer tipo de discri- minação. As contribuições de Comenius impulsionaram reflexões sobre a escola e o papel da educação na sociedade. Leia o texto no qual João Luiz Gasparin comenta da vida e da obra de Comenius: “Os novos conhecimentos tornavam-se universais. Necessitavam, portanto, de uma didática que lhes correspondesse, isto é, uma arte universal. Os grandes educadores dessa época, cada um a seu modo, captaram o espírito do novo tempo e o transpu- seram para a escola. Dentre esses pensadores, destacamos Comênio, cognominado Pai da Didática Moderna. [...]. Em sua obra fundamental sobre o método de ensino, Comênio anunciou solenemente sua proposta, a grande novidade que se impunha e devia ser ouvida por todos: Didáctica Magna [...]. Não anunciou uma didática apenas, mas uma grande didática” (GASPARIN, J. L. Fundamentos históricos e filosóficos da didática. In: ALTOÉ, A; GASPARIN, J. L.; NEGRÃO, M. T. F.; TERUYA, T. K. (orgs.). Didá- tica: processos de trabalho em sala de aula. 2. ed. Maringá: EDUEM, 2010, p. 13-33). Considerando os princípios que garantem a facilidade de ensinar que foram elencados por Comenius na Didática Magna, ANALISE as afirmativas a seguir. I - Iniciar pelas coisas mais gerais em direção às mais particulares. II - Começar pelas coisas mais fáceis e só depois incluir as difíceis. III - Comenius propõe um ‘método universal de ensinar tudo a todos’. IV - Ensinar o que seja imediatamente útil. V - Ensinar tudo por meio de hipóteses e abstração. Em relação à proposta de Comenius de ‘ensinar tudo a todos’, é correto o que se afirma nas alternativas: a) I, II e IV, apenas. b) I, II e III, apenas. c) II, IV e V, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) III, IV e V, apenas. 105 na prática 5. Leia o texto no qual Gasparin comenta da vida e da obra de Comenius: “Os novos conhecimentos tornavam-se universais. Necessitavam, portanto, de uma didática que lhes correspondesse, isto é, uma arte universal. Os grandes educadores dessa época, cada um a seu modo, captaram o espírito do novo tempo e o transpu- seram para a escola. Dentre esses pensadores, destacamos Comênio, cognominado Pai da Didática Moderna. Ele apreendeu esse momento e os novos conhecimentos e os transpôs para a sala de aula por meio de um método correspondente ao tama- nho desse conteúdo social e científico. Em sua obra fundamental sobre o método de ensino, Comênio anunciou solenemente sua proposta, a grande novidade que se impunha e devia ser ouvida por todos: Didáctica Magna [...]. Não anunciou uma didática apenas, mas uma grande didática (GASPARIN, J. L. Fundamentos históricos e filosóficos da didática. In: ALTOÉ, A.; GASPARIN, J. L.; NEGRÃO, M. T. F.; TERUYA, T. K. (orgs.). Didática: processos de trabalho em sala de aula. 2. ed. Maringá: EDUEM, 2010, p. 13-33). Com base em seus conhecimentos sobre Comênio e a didática moderna, redija um texto dissertativo-argumentativo, contemplando os seguintes tópicos: a) As características do método idealizado por Comenius e o porquê deste teórico buscar um método para “ensinar tudo a todos” naquele momento – século XVII – condições objetivas. b) O modelo de escola defendido por Comenius. 106 aprimore-se Podemos dizer, então, que escrita, escola e cultura letrada “[...] estão historicamente em relação simbiótica” (FARACO, 2016, p. 62). Assim sendo, para além do “deco- rar” conteúdos, o desafio da escola e do educador na modernidade é desenvolver o educando em sua totalidade. Conforme expõe Colello (2012), formar o ser humano como sujeito letrado é desenvolvê-lo como: a) falante, b) poliglota, c) produtor de texto, d) intérprete, e) leitor, f) revisor de texto, g) estudante, h) pesquisador, i) ser pensante, j) ser social e k) ser pessoal (COLELLO, 2012, p. 27-28, grifo da autora). a) Falante – Já que o processo de construção da escrita não só parte da oralidade como também acaba por redimensioná-la (o sujeito que escreve tende a organi- zar melhor a sua fala). b) Poliglota – Aquele que fala muitas línguas, o que é entendido aqui como a pos- sibilidade de compreender, dominar e usar as várias formas de linguagem, não necessariamente as línguas estrangeiras, mas os dialetos de uma mesma língua e os outros meios de expressão ou representação simbólica (desenho, música, arte, mímica etc.). c) Produtor de texto – O autor que, além de escrever palavras e frases, tem a com- petência para compor textos, enfrentando os desafios da sua produção e tam- bém tendo a satisfação de poder dar vida aos seus pensamentos, a suas ideias e fantasias. d) Intérprete – Em processos de leitura que, superando a mera decodificação, guiam- -se pela busca de sentido e, assim, resgatam a dimensão dialógica do texto. e) Leitor – Aquele que, além de compreender e ‘dialogar com o texto’, é capaz de des- cobrir o valor e o prazer da leitura nas suas diversas possibilidades e situações. f) Revisor de texto – Sujeito que, tendo compreendido as regras, as arbitrariedades da língua (consciência metalinguística) e principalmente o seu valor para a de- codificação e leitura, coloca-se como agente e principal interessado no processo de autocorreção. g) Estudante – Pela multiplicação dos meios de aprendizagem (a língua escritaa serviço do aprender a aprender) e constituição dos hábitos de estudo. h) Pesquisador – Pela possibilidade ampliada de busca do saber, visando ao atendi- mento de curiosidades, interesses e necessidades não apenas escolares. 107 aprimore-se i) Ser pensante – Porque integra o processo de construção da escrita ao conjunto de experiências que favorecem a constituição de si, a organização do pensamen- to, assim como a possibilidade de interpretação e análise das ideias. j) Ser social – Uma vez que promove novos meios de inserção social, seja pelo de- sempenho de atividades funcionais rotineiras (assinar o nome, ler rótulos de produtos, anotar endereços e telefones), seja pela possibilidade de intercâmbio com o mundo em manifestações conscientes e críticas. k) Ser pessoal – Tendo em vista a concepção bakhtiniana da linguagem como fator constitutivo da pessoa porque, ao agir com e sobre a linguagem, o indivíduo não só se torna capaz de interagir com o mundo, dando vida à linguagem, como também conquista um modo pessoal de se colocar e de se situar nesse mun- do (a internalização da consciência sígnica como parte da identidade) (Geraldi, 1998/2009; Bakhtin, 2003). Conforme alertou a autora, o estudo dos processos cognitivos demonstrou que “[...] entre ‘o que se ensina’ e ‘o que se aprende’ há uma relativa disparidade conforme o processo interno (absolutamente pessoal) de assimilação” (COLELLO, 2012, p. 29). “ Ao admitir a inexistência de fórmulas preestabelecidas ou de méto-dos independentes do sujeito aprendiz, impõe-se a necessidade de investir em iniciativas de formação [...] que possam sustentar a cons- trução de uma prática pedagógica atualizada, crítica, coerente e cada vez mais ajustada às demandas dos alunos: o professor como um artífice responsável em sala de aula! (COLELLO, 2012, p. 137). Assim, o grande desafio é considerar o ponto de vista de cada criança, ou seja, “[...] en- tender como os indivíduos interpretam as informações e lidam com elas, como assi- milam e valorizam as experiências vividas dentro e fora da escola” (COLELLO, 2012, p. 29) e, além disso, diagnosticar e fazer intervenções acerca de como os aprendizes “[...] evoluem nas diferentes competências para ler, escrever, compreender, inter- pretar, compor etc.” (COLELLO, 2012, p. 29). 108 eu recomendo! Discurso do Método Autor: René Descartes Editora: L&PM Pocket Sinopse: cogito ergo sum. “Penso, logo existo”. Tal proposição resume o espírito de René Descartes (1596-1650), sábio fran- cês cujo Discurso do Método inaugurou a filosofia moderna. Em 1637, em uma época em que a força da razão tal qual a conhece- mos era muito mais do que incipiente, e em que textos filosóficos eram escritos em latim, voltados apenas para os doutores, Descartes publicou ‘Discurso do Mé- todo’, redigido em língua vulgar, isto é, o francês. Ele defendia o “uso público” da razão e escreveu o ensaio pensando em uma audiência ampla. Queria que a razão – este privilégio único dos seres humanos – fosse exatamente isso, um privilégio de todos homens dotados de senso comum. livro Tratado da Natureza Humana – Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais Autor: David Hume Editora: Editora Unesp Sinopse: fundamental para o entendimento do pensamento do filósofo e historiador escocês, esta é a segunda edição em portu- guês de um dos maiores clássicos da filosofia. Ajuda a compreen- der como Hume – partindo da filosofia de Francis Bacon e do empirismo de John Locke – concluiu pelo ceticismo, fazendo a crítica da filosofia tradicional e estabe- lecendo ideias importantes para a formulação da filosofia de Kant. livro 109 eu recomendo! Crítica da Razão Pura Autor: Immanuel Kant Editora: Editora Unesp Sinopse: a obra “Crítica da Razão Pura” (em alemão, Kritik der rei- nen Vernunft) é a principal referente ao campo da teoria do co- nhecimento de Immanuel Kant, cuja primeira edição é de 1781, com alterações substanciais feitas pelo autor em determinadas seções, de 1787. A obra é considerada como um dos mais influentes trabalhos na história da filosofia e dá início ao chamado idealismo alemão. Kant escreveu a Crítica da Razão Pura como a primeira de três ‘Críticas’, seguida pela Crítica da Razão Prática (1788) e a Crítica do Juízo (1790). Fundamental para o entendimento do pensamento de Kant. livro Didática Magna Autor: Johann Amos Comenius Editora: WMF Martins Fontes Sinopse: Comenius (1592-1670), professor, reitor de colégios e escritor fecundíssimo, foi talvez o pedagogo mais significativo do século XVII. Didática magna se trata de obra fundamental para a compreensão do atual estágio dos métodos pedagógicos con- temporâneos. Comentário: “Quem primeiramente cunhou a expressão ‘didática como arte de ensinar’ foi Ratke, em 1617, quando apresentou oficialmente sua obra Introdu- ção geral à didática ou arte de ensinar. Entretanto, foi Comênio, em 1629, quem, ao escrever a Didática Tcheca, consagrou a expressão. Essa obra foi, em 1633, traduzida para o latim como Didáctica Magna e finalmente publicada em 1657” (GASPARIN, 2010, p. 13). livro 110 eu recomendo! Emílio ou da educação Autor: Jean-Jacques Rousseau Editora: WMF Martins Fontes Sinopse: publicado em 1762, este incontornável clássico da filo- sofia moderna provoca e fascina o leitor de hoje quase com a mesma intensidade com que chocou o século das Luzes. Rejei- tando os métodos pedagógicos de seu tempo, Jean-Jacques Rous- seau mostra como é possível educar uma criança segundo a natureza e, com isso, protegê-la dos vícios da sociedade. Contudo, Emílio é muito mais que um tratado de educação. O relato romanceado da vida de um menino, do nascimento até o casamento, forma uma obra rica e desconcertante, que se volta contra os siste- mas de pensamento dominantes da época ao mesmo tempo em que contempla todos os temas cruciais da filosofia do século XVIII. No horizonte da pedagogia de Rousseau está a preocupação, essencialmente política, de formar o homem para a sociedade europeia de seu tempo. Na ocasião de sua publicação, o livro foi considerado revolucionário e escandaloso em diversos aspectos, e tanto pre- cipitou os malogros de Rousseau quanto consolidou seu renome como filósofo e escritor. Síntese de décadas de reflexão e resultado de anos de redação, Emílio é a obra-mestra para entender o pensamento de Rousseau. É uma referência sempre fundamental para a reflexão sobre o problema da educação. livro Filosofia da Educação - Descartes o vídeo aborda como o filósofo francês René Descartes desenvolveu o método investi- gativo e como ele revolucionou o pensamento filosófico e científico. https://www.youtube.com/watch?v=M3oLEGlzs6kr conecte-se https://www.youtube.com/watch?v=M3oLEGlzs6k https://www.youtube.com/watch?v=M3oLEGlzs6kr 111 eu recomendo! Pink Floyd - Another Brick In The Wall (HQ) Ano: 1982 Sinopse: retirado do filme “Pink Floyd - The Wall”, este vídeo é composto de duas mú- sicas: “Os Dias Mais Felizes de Nossas Vidas” e “Outro Tijolo na Parede”. Este vídeo se tornou o vídeo oficial de “Another Brick In The Wall Pt. 2”, após o lançamento do filme em 1982. Esta música (clipe) single é o maior sucesso do Pink Floyd, alcançando instan- taneamente o status clássico, e talvez seja o seu trabalho mais famoso. A música em si é um protesto contra a rigidez das escolas britânicas. Pode-se dizer que a música (clipe e filme, ao mesmo tempo), representa uma crítica à educação escolar e suas tradições: (i) rigidez, (ii) centrada no professor, (iii) ensino verbalista, (iv) didática centrada na repe- tição e (v) currículo prescritivo. https://www.youtube.com/watch?v=YR5ApYxkU-U conecte-se Another Brick In The Wall, Pt. 2 We don’t need no education We don’t need no thought control No dark sarcasm in the classroom Teachers leave them kids alone Hey! Teachers! Leave them kids alone! All in all it’s just another brick in the wall. All in all you’re just another brickin the wall. We don’t need no education We dont need no thought control No dark sarcasm in the classroom Teachers leave them kids alone Hey! Teachers! Leave us kids alone! All in all it’s just another brick in the wall. All in all you're just another brick in the wall. Mais um tijolo na parede, parte 2 Nós não precisamos de nenhuma educação Nós não precisamos de controle em nossas mentes Sem humor negro na sala de aula Professores deixem essas crianças em paz Hey! Professores! Deixem essas crianças em paz! Eu resumo isso é apenas mais um tijolo na parede Eu resumo você é apenas mais um tijolo na parede. Nós não precisamos de nenhuma educação Nós não precisamos de controle em nossas mentes Sem humor negro na sala de aula Professores deixem essas crianças em paz Hey! Professores! Deixem essas crianças em paz! Eu resumo isso é apenas mais um tijolo na parede Eu resumo você é apenas mais um tijolo na parede. https://www.youtube.com/watch?v=YR5ApYxkU-U 4 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS da educação no período contemporâneo PROFESSOR Me. Vinícius Adriano de Freitas PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Entre o moderno, o contemporâ- neo e o pós-moderno: Hegel, Marx e Nietzsche • Positivismo e pragmatismo • Declaração Universal dos Direitos Humanos e os fundamentos da educação na época contemporânea • Pedagogia da essência versus pedagogia da existência • O século XXI e a formação humana. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Analisar as contribuições de Hegel, Marx e Nietzsche para a educação contemporânea. • Compreender as contribuições e os limites do positivismo e do pragmatismo para a educação contemporânea. • Reconhecer os princípios para a formação humana propostos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. • Compreender os limites e possibilidades da Pedagogia Tradicional e da Pedagogia Nova. • Avaliar a necessidade de historicidade e filosofia para a educação nos dias atuais. INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a), chegamos ao período contemporâneo. Iniciou-se em 1789 e chega até o momento presente, ou seja, é um período ainda em construção. Os fundamentos históricos e filosóficos da educação contem- porânea são evidenciados em documentos internacionais que exigem a educação como um direito humano. Um escola que seja “laica”, “gratuita” e “obrigatória” são lemas de diversos países e até mesmo de organismos inter- nacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mun- dial (BM), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) etc. Acordos internacionais exigem que governos garantam o acesso e a permanência de todos na escola, como condição para o desenvolvimento econômico da sociedade capitalista, da equidade social, do desenvolvi- mento humano e da paz. Nesta unidade, percorreremos o caminho iniciado com a Revolução Francesa (1789) e chegaremos aos dias atuais. Mediante a defesa por “liber- dade”, “igualdade” e “fraternidade” como ideais das sociedades contempo- râneas desenvolvidas, tivemos, pela primeira vez na história, o desenvol- vimento dos sistemas nacionais de ensino. A educação passa a ser tratada como um dever do Estado. A pedagogia se consolida como uma ciência. Paralelamente a ela, ou- tras “ciências da educação”, como a psicologia educacional, a didática, a metodologia do ensino e a linguística, ganham espaço nas universidades, buscando alcançar um objetivo: ensinar tudo a todos. Do ponto de vista histórico e filosófico, ocorre a presença de um mo- vimento pendular entre o moderno e o pós-moderno. Esta questão está presente nos fundamentos da educação contemporânea: (i) “como ensinar no momento em que a tecnologia (computador, internet e canais de vídeo) se sobrepõe às estratégias tradicionais de ensino (cópia, ditado, aula exposi- tiva)?”; (ii) “quem é a criança, quem é o adolescente e quem é o profissional ‘professor’ na época atual?”. Na educação, como conciliar o “tradicional” com o “novo”? O que muda e o que mudará na educação no decorrer do século XXI? U N ID A D E 4 114 1 ENTRE O MODERNO, O CONTEMPORÂNEO e o pós-moderno: Hegel, Marx e Nietzsche Caro(a) acadêmico(a). Chegamos à época contemporânea. De certa forma, os fundamentos históricos e filosóficos da contemporaneidade ainda estão em processo de construção. Assim sendo, trata-se de um período sobre o qual temos mais perguntas que respostas. Do ponto de vista econômico, o período contemporâneo é marcado pela consolidação do capitalismo. O capitalismo é o sistema econômico e social que surgiu na Europa durante a Idade Média, entre os séculos XI e XV. Lentamente, ele se sobrepôs a outro sistema de produção, o feudalismo, tornando-se predo- minante a partir do século XVIII. O capitalismo é um sistema econômico, político e social no qual os agentes econômicos (empresários), proprietários dos meios de produção, permitem que esta produção seja comercializada em um mercado, em que as transações são de natureza monetária. Contudo, se, por um lado, temos a “liberdade econômica” e a “liberdade de mercado”, com o capitalismo temos desafios sociais que interferem na formação humana. Por exemplo, pessoas com maiores salários ou comerciantes com maiores lucros têm maior acesso ao conhecimento (internet, livros, escolas melhores, mais anos de escolarização etc.). Então, do ponto de vista histórico, o período contem- porâneo tem sido marcado, por um lado, por defensores do sistema econômico capitalista e, por outro lado, críticos do capitalismo. É neste contexto que surge a Filosofia da Educação Contemporânea (século XVIII até os dias atuais). U N IC ES U M A R 115 Quando falamos em Filosofia Contemporânea, estamos a abordar, primei- ramente, a filosofia alemã pós-kantiana, o “idealismo alemão”, corrente filosófica que se iniciou na segunda metade do século XVIII. Sob clara influência de Kant, é representada pelos seguintes pensadores: Fichte, Schelling e Hegel. Do ponto de vista filosófico, estes pensadores colocaram Descrição da Imagem: Tela em óleo retratando “A Liberdade guiando o povo”, que se trata de uma pintura de Eugène Delacroix. Apresenta com maior distinção um total de treze pessoas em meio a uma guerra. No chão, há três cadáveres. Sobre eles, há dois meninos de rua – um deles, usando uma boina e segurando duas armas. O outro menino de rua, abaixado, quase rente ao solo, usa um boné de policial e segura uma espada. Há também um homem de cartola e, atrás dele, há um trabalhador (proletário) usando uma boina e com um sabre na mão. Contudo, no centro de tudo isto está uma mulher, com os seios à mostra: ela representa a Liberdade. Ela usa uma touca na cabeça (barrete frígio) que se tornara símbolo da liberdade durante a Primeira República Francesa (1789-1794). Ela segura pelo mastro uma bandeira tricolor (vermelha, branca e azul) que ocupa o meio da tela. Ao fundo, aparece o céu mostrando o caos da guerra urbana: poeira e fumaça. Figura 1 - “A Liberdade guiando o povo” U N ID A D E 4 116 “ [...] uma confiança no poder da razão e na missão da filosofia, mos-trando a realidade como uma automanifestação infinita da razão, onde o processo vital desta auto-expressão da razão pode ser des- coberto pela reflexão. Estes filósofos do Idealismo Alemão estavam convencidos de que se podia atingir o espírito Absoluto ou a Idéia através de uma investigação transcendental da razão e que a natu- reza da realidade pode ser revelada à consciência humana e cada um expressava sua visão do universo com certa confiança em sua objetividade. Assim, a temática culminante no Idealismo Alemão é o problema teológico das relações entre o Absoluto, o divino in- finito e o finito, sendo a preocupação central no pensamento de Fichte, Schelling e Hegel, que começaram seus estudos com a teo- logia, estando presentes em suas pesquisas e obras publicadas que, suas intenções eram demonstrar que a filosofia ea teologia eram as explicações culminantes do mundo, mesmo que em um ou outro, uma contivesse a outra e, assim, vice-versa (SANTOS, 2006, p. 24). Dentre os pensadores do idealismo alemão, destaca-se Georg Wilhelm Friedrich Hegel – nascido em Estugarda (Alemanha) em 1770 e falecido em Berlim (Ale- manha) em 1831. O teórico alemão se destacou como pensador que, do ponto de vista metodológico, buscou recuperar a dialética. Descrição da Imagem: Retrato de Friedrich Hegel (1770-1831). A figura está em preto e branco. Apresenta-o apenas dos ombros para cima. Hegel apresenta um semblante sério. Os cabelos são curtos e lisos. Utiliza como vestimenta, um lenço no pescoço e um blazer. Figura 2 - Retrato de Friedrich Hegel U N IC ES U M A R 117 Para a uma “pedagogia dialética marxista”, a apropriação do conhecimento ocorre por meio da contradição entre indivíduo e sociedade e vice-versa: (i) tese, (ii) antítese e (iii) síntese. Qualquer novo conhecimento a ser assimilado nunca é totalmente desconhecido pelo educando, ou seja, ele sempre tem uma (i) tese sobre aquele conteúdo, mas, para avançar (“saber mais”), precisa da mediação do professor com o conteúdo mais amplo, negando algumas hipóteses sobre o saber que possivelmente eram equivocadas (ii) antítese e, então, consolidando novos conhecimentos, isto é, (iii) síntese. DIALÉTICA HEGELIANA “Toda a realidade move-se dialeticamente e, portanto, a filosofia hegeliana vê em toda parte tríades de teses, antítese e sínteses, nas quais a antítese representa a ‘negação’, ‘o oposto’ ou ‘outro’ da tese, e a síntese constitui a unidade e, ao mesmo tempo, a certifica- ção de ambas”. Fonte: Abbagnano (2007, p. 273). Conforme esclarece Novelli (2001), Hegel não elaborou uma teoria educacional, tampou- co uma pedagogia. Contudo, o método dialético trouxe grande influência à pedagogia no século XX. Sobretudo, após Karl Marx, discípulo de Hegel, aplicar a dialética às “ciências humanas”, a questão da aprendizagem escolar passou a ser analisada do ponto de vista da sociedade. MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO E EDUCAÇÃO Embora o materialismo histórico-dialético, a abordagem dialética elaborada por Karl Marx, tenha trazido influência indireta sobre a educação no século XX, a Escola de Vygot- sky é que fará a aplicação direta do marxismo à educação. conceituando U N ID A D E 4 118 Figura 3 - Estátuas de Karl Marx e Friedrich Engels Utilizando-se do método dialético hegeliano e, ao mesmo tempo, buscando su- perá-lo, tivemos os “jovens hegelianos”: Feuerbach, Engels e, o mais conhecido deles, Karl Marx. No entanto, há uma problemática: Karl Marx foi filósofo ou não? Vejamos como Hamlyn (1990, p. 245, grifo do autor) trata a questão. “ Nega-se algumas vezes que Karl Marx (1818-83) tenha sido um filósofo ou, de qualquer maneira, uma grande figura na filosofia. Não se pode negar, no entanto, que suas idéias foram imensamente influentes tanto política como filosoficamente. Deixá-lo de fora de qualquer história da filosofia seria absurdo. Por outro lado, muitas das obras de Marx, em especial em seu último período – trabalhos como O Capital (o primeiro volume publicado em 1876 e os de- Descrição da Imagem: Foto do memorial dedicado a Marx e Engels, localizado na cidade de Berlim (Alemanha). As estátuas são de metal na cor cinza. Marx está do lado esquerdo, sendo retratado dos ombros para cima. Em destaque, está a sua barba volumosa e bigode. Engels está do lado direito, sendo retratado um pouco mais alto que Marx. Também apresenta barba volumosa e bigode. Ao fundo, o céu está azul e com várias nuvens. U N IC ES U M A R 119 mais postumamente) e o anterior Grundrisse ([Para a crítica da economia política], iniciado em 1857 como um esboço do qual foi extraído o Contribuições para uma crítica da economia política, de 1859) – tinham a economia como seu principal tema. Eruditos têm discutido se deveremos distinguir entre um anterior e posterior Marx, com certo grau de descontinuidade entre eles. A opinião cor- rente parece enfatizar a continuidade de seu pensamento filosófico, o qual, embora não hegeliano, foi profundamente influenciado por Hegel. Não obstante, o maior volume de conteúdo filosófico é en- contrado nos primeiros trabalhos, como o A ideologia alemã, escri- to em colaboração com Friedrich Engels (1820- 95), e o Manuscritos econômicos e filosóficos de 1844 (Marx e Engels colaboraram ainda no Manifesto comunista, de 1848). Como Hamlyn (1990) explicou, atribuir a Marx o título de filósofo ou não é uma questão discutível. Contudo, é inegável a influência de Marx na educação contemporânea. A preocupação com relação ao conhecimento histórico e o método de análise histórica permeia as obras de Marx, justamente no sentido de superar o materia- lismo que havia feito parte do meio acadêmico de sua época. Nas obras Contri- buição à Crítica da Economia Política, Teses sobre Feuerbach, A Ideologia Alemã e Manifesto do Partido Comunista de 1848, observa-se Marx demonstrando sua concepção materialista da história. Marx defende que “a personalidade humana é constituída intrinsecamente (em sua própria natureza) por relações de trabalho e de produção de que o ho- mem participa para prover às suas necessidades” (ABBAGNANO, 2014, p. 750). Neste sentido, tudo o que se torna “consciência” na mente humana (suas crenças religiosas, seus conhecimentos científicos, seus saberes morais, suas visões polí- ticas etc.) é resultado dessas relações com a sociedade e com a economia política. Portanto, Marx constata que as formas assumidas pela sociedade ao longo de sua história dependem das relações econômicas predominantes em certas fases dela. Nas palavras de Marx: U N ID A D E 4 120 “ [...] na produção social da própria existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; essas relações de produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalida- de dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurí- dica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência (MARX, 2008, p. 47, grifo nosso). Na perspectiva de Marx, a história tem sido um processo de modificações nas condições de trabalho dos seres humanos. E para o ser humano fazer as mudanças que considerar necessárias, é preciso pensar e agir historicamente. Entretanto, conforme Marx afirmou no início do Manifesto do Partido Co- munista de 1848, a história de todas as sociedades até nossos dias é a história das lutas de classes. Na visão de Marx e Engels, a luta das classes entre burgueses e proletários, uma constante oposição uns aos outros, são lutas em busca de seus próprios direitos, cuja sociedade se divide em diferentes classes sociais de níveis também diversificados. Contudo, neste emaranhado, existe uma classe revolucionária que é capaz de tirar o homem de seu processo de alienação: a classe trabalhadora. A aplicação do materialismo histórico-dialético (marxismo) no campo da educação e da pedagogia ocorre com o desenvolvimento da psicologia soviética. Luria, Leontiev e Vygotsky foram os principais teóricos a se empenhar na cons- trução de uma psicologia da educação de base marxista. Diante do exposto até aqui, percebemos que a época contemporânea é mar- cada por uma ambiguidade: por um lado, temos o otimismo com o desenvolvi- mento tecnológico e das forças produtivas; por outro lado, temos o pessimismo com a destruição da natureza, a luta de classes e a desigualdade socioeconômica (Marx). Diante disso, entre o final do século XIX e o início do século XX, os de- safios da sociedade contemporânea seintensificam. É aí que aparece Nietzsche como o filósofo que se mostra pessimista em relação ao desenvolvimento do sujeito contemporâneo. U N IC ES U M A R 121 De acordo com Nietzsche, em sua época, a civilização europeia apre- senta uma doença com relação ao ser humano: “[...] grande nojo ao homem e também a grande compaixão pelo homem” (NIETZSCHE, 1998, p. 111, grifos do autor). Se um dia este nojo e Descrição da Imagem: Foto de Friedrich Nietzsche em preto e branco, na qual o filósofo não aparece de corpo inteiro (está apenas do peito para cima na foto). Virado um pouco para a direita, Nietzsche apresenta cabelos curtos e um bigode grande. Está vestindo uma camisa preta e branca e, por cima, um blazer acinzentado. Figura 4 - Friedrich Nietzsche esta compaixão se unissem, o mundo seria realizado, seria alcançada a “última vontade” do homem: a vontade do nada, o niilismo. Portanto, o niilismo diz res- peito a um princípio desorganizador que arruína as instituições e valores, fazendo com que a moral chegue ao nada (NIETZSCHE, 1987). Desta forma, Nietzsche inaugura o ponto de inflexão entre a modernidade e a pós-modernidade: estaria a modernidade arruinada? Estaríamos caminhando para um niilismo, ou seja, para o “nada”? Se não é a fé – como foi na Idade Média –, nem a ciência – como foi na Idade Moderna – o objetivo da humanidade nos dias atuais, o que estamos buscando? Com relação ao diagnóstico do niilismo nos dias atuais, Nietzsche chega às seguintes conclusões: “ Resultado: A crença nas categorias da razão é a causa do niilismo -, medimos o valor do mundo por categorias, que se referem a um mun-do puramente fictício. Resultado final: todos os valores com os quais até agora procuramos tornar o mundo estimável para nós e afinal, justamente com eles, o desvaloramos, quando eles se demonstram inaplicáveis - todos esses valores são, do ponto de vista psicológico, resultados de determinadas perspectivas de utilidade para manuten- ção e intensificação de formações humanas de dominação: e apenas falsamente projetados na essência das coisas. É sempre ainda a hiper- bólica ingenuidade do homem: colocar a si mesmo como sentido e medida de valor das coisas (NIETZSCHE, 1987, p. 431-432). U N ID A D E 4 122 Podemos dizer que a era pós-moderna teve duas fases: a primeira, com a crise da razão no início do século XX, devido a Auschwitz e a Hiroshima; a segunda, com a crise das ideologias – metanarrativas – após o colapso da União Soviética, ini- ciando-se uma fase de cultura niilista. Então, a pós-modernidade também pode ser considerada como a lógica cultural do capitalismo tardio (JAMESON, 2007). Nesta mudança cultural – o pós-modernismo –, obviamente, há uma mu- dança de perspectiva na formação humana e no processo de escolarização, pois ocorre uma reação aos princípios educacionais modernos (educação pública, gratuita e de qualidade) e da escola tradicional (aula expositiva, exercícios, por exemplo), ou seja, uma reação aos ideais iluministas. Nietzsche é claramente um dos críticos aos fundamentos dos ideais iluministas e modernos no que diz respeito à educação e à pedagogia. Com o advento do pós-modernismo, os objetivos da educação mudaram. Prova disso é um dos principais documentos que sistematizam as finalidades da educação para os dias atuais, o Relatório Jacques Delors, que tem proposto de “ampliar o saber escolar para outros saberes”: (i) aprender a conviver, (ii) aprender a ser, (iii) aprender a aprender e (iv) aprender a conhecer são os “quatro pilares” da educação no século XXI. Diante desse cenário, em uma crítica às concepções de educação ditas “tra- dicionais” – que priorizam o intelecto, o aspecto lógico, os conteúdos cognitivos e, além disso, havia grande valorização do professor e considerava-se que o im- portante era aprender –, passou-se a uma defesa das chamadas “epistemologias da prática”, opondo-se ao saber acadêmico, teórico e científico. Diante do niilismo e do pós-moderno, supervaloriza-se o saber tácito, ou seja, o conhecimento adquirido por meio de experiências imediatas. Levando esta concepção de conhecimento às últimas consequências, implicaria no fato de a escola deixar de trazer conceitos científicos historicamente construídos, o que reflete o momento epistemológico atual: a teoria passa a ser considerada perda de tempo ou especulação metafísica; um campo do saber que não passa de uma oratória persuasiva que está presa a uma estrutura discursiva (MORAES, 2003), instaurando-se um mal-estar epistemológico marcado por profundo ceticismo e desencanto pelos outros, pelo mundo e pela ciência (MORAES, 2003). Assim sendo, percebemos o discurso pós-moderno chegando à escola da seguinte maneira: 1) ênfase na afetividade, em detrimento do conhecimento científico; 2) avaliação flexível (ênfase nas concepções diagnóstica e formativa, relativização da avaliação somativa); 3) a educação passa a tratar os sujeitos como U N IC ES U M A R 123 naturalmente diferentes; 4) com o destaque dado à diversidade cultural, perde- -se o ser humano genérico; 5) enfatiza-se que todos têm percursos diferentes de aprendizagem. De certa forma, estas cinco perspectivas estão presentes no documento-texto Indagações sobre currículo: Currículo, conhecimento e cul- tura, sobretudo quando se propõe uma flexibilização do processo de aprender (MOREIRA; CANDAU, 2007). Se o projeto moderno de emancipação humana por meio da formação e da educação já não tem mais a razão de ser, para que iremos formar/educar? Com a globalização, formaremos todos iguais? É possível uma convivência entre o univer- sal e o particular? Como conciliar o conhecimento científico com o conhecimento popular? São desafios que a Filosofia da Educação Contemporânea nos traz. U N ID A D E 4 124 2 POSITIVISMO E PRAGMATISMO Figura 5 - A minuciosidade da verdade Fonte: Wikimedia (2015, on-line)3. Descrição da Imagem: A imagem é uma parede que faz parte do túnel “Buraco da Minhoca”, na cidade de São Paulo. O túnel conta com diversos grafites bastante expressivos (no alto da parede há três rostos com expressão de desespero; logo abaixo há códigos escritos em amarelo e vermelho escuro). No entanto, o grafite produzido pela dupla de irmãos “OS GÊMEOS” se destaca diante dos outros desenhos citados. O boneco é característico deles: pintado na parede, o boneco está de costas, vestindo uma calça roxa, uma blusa laranja e verde e um boné azul – representa a liberdade que qualquer cidadão quer ter: ser livre é poder fazer o que quer. O boneco aparece escrevendo na parede de dentro do túnel as palavras da bandeira nacional do Brasil: “Ordem e Progresso”. Abaixo da frase “Ordem e Progresso?”, estão escritas seis palavras: (1) violência, (2) corrupção, (3) desemprego, (4) censura, (5) sem educação... (6) abandono! U N IC ES U M A R 125 A imagem que dá início à discussão sobre a relação entre (i) filosofia, (ii) positivismo e (iii) pragmatismo foi capturada no Buraco da Minhoca – túnel embaixo da Praça Roosevelt que faz a ligação com o Minhocão, na cidade de São Paulo. A parede de dentro do túnel conta com diversos grafites bastante expres- sivos, mas o produzido pela dupla de irmãos “OS GÊMEOS” se destaca diante dos outros. O boneco é característico deles: está pintado de costas na parede, vestindo uma calça roxa, uma blusa laranja e verde e um boné azul – representa a liberdade que qualquer cidadão quer ter: ser livre é poder fazer o que quer. O boneco aparece escrevendo na parede de dentro do túnel as palavras da bandeira do Brasil: “Ordem e Progresso”, porém, adiciona um ponto de interrogação, ou seja: ordem e progresso? Onde? Abaixo da frase “Ordem e Progresso?”, estão escritas seis palavras: (1) violência, (2) corrupção, (3) desemprego, (4) censura, (5) sem educação... (6) abandono! Con- tudo, o que isto tem a ver com o positivismo e o pragmatismo? A resposta é: as pala- vras presentes na bandeiranacional – “Ordem e Progresso” – são de Augusto Comte, teórico francês considerado “pai” do positivismo. Vejamos o que isto tem a ver com fundamentos históricos e filosóficos da educação no período contemporâneo. Se na Alemanha encontramos uma filosofia pós-kantiana pessimista em rela- ção à modernidade, na França e nos Estados Unidos encontramos um otimismo em relação à modernidade. Respectivamente, Augusto Comte com o positivismo e Charles Sanders Peirce, William James e John Dewey com o pragmatismo buscam superar a filosofia enquanto disciplina crítica e negativa, tornando-a positiva. Augusto Comte considerava a possibilidade da elaboração de uma “verdadeira ciência da sociedade”, uma “física social”, isto é, o estabelecimento de um campo do conhecimento que pudesse “matematizar” como uma sociedade se desenvolve, permitindo a previsibilidade dos encaminhamentos sociais: era a criação da So- ciologia. Esse posicionamento do autor é percebido quando, na obra Apelo aos conservadores, Comte considera que, para que o desenvolvimento da história da humanidade possa se perpetuar dentro da vertente científica e positiva, é necessária uma nova ciência, a Sociologia. Assim, o objetivo político-social comteano era “a combinação das leis socio- lógicas [...] para instituir a filosofia da história, única filosofia que faltava a nossa inteligência, a fim de sistematizar nossa sociabilidade” (COMTE, 1899, p. 11). Em outras palavras, a tese comtiana busca conciliar radicalmente a ordem e o progresso (COMTE, 1899). Superti explica esse lema comteano da seguinte maneira: U N ID A D E 4 126 “ A conciliação destas duas ideias, Ordem e Progresso, só era pos-sível no último estado da sociedade, aquele para o qual tendia naturalmente o espírito humano, o positivismo. Este se afirmou plenamente quando seu método, depois de fundada a física social, passou a coordenar universalmente todas as ciências, dando-lhes uma unidade lógica fundamental para a explicação racional dos fenômenos naturais como resultado de um conjunto estável e soli- dário de relações entre circunstâncias de produção, ou seja, de leis invariáveis, que uma vez reconhecidas deveriam ser aceitas como dogmas. Nesse momento, o espírito positivo podia oferecer os prin- cípios essenciais para a constituição da unidade consensual de uma nova Ordem, agora assentada na razão. Ordem essa que era capaz de engendrar o próprio Progresso, na medida em que esse é fruto do desenvolvimento da natureza humana, que se determina por leis que, só no estado positivo, são passíveis de compreensão. E, portan- to, só no positivismo a história era compreendida em sua verdadeira base, ou seja, como a história determinada pelas leis invariáveis do desenvolvimento intelectual e material da humanidade (SUPERTI, 2003, p. 5, grifo da autora). Comte propôs o positivismo para “ex- pulsar” a “consciência” do sujeito para que este se tornasse obediente/ordeiro. Para que houvesse o desenvolvimento do sujeito moderno, era primordial o reconhecimento de uma hierarquia a ser obedecida, pois somente assim seria possível o progresso dentro de uma determinada ordem. Assim, para Comte, com a consolidação do capi- talismo, a história chegou ao fim. Não temos mais para onde avançar. Cabe à humanidade apenas a contemplação: “ordem e progresso” é o lema da con- temporaneidade. Figura 6 - Monumento ao filósofo francês Auguste Comte Descrição da Imagem: Monumento feito de concreto representando o filósofo francês Auguste na Praça Sorbonne, em Paris, inaugurado em 1902. Comte aparece apenas do busto para cima, estando retratado com um semblante sério e sem cabelos. Ao fundo, aparecem galhos verdes de árvores e um prédio com as paredes na cor bege. U N IC ES U M A R 127 “O pragmatismo é entendido como uma doutrina em que as idéias são instrumentos da ação; isto é, só têm utilidade quando produzem efeitos práticos. Sua força está, particular- mente, na aplicação prática; ou seja, na idéia que se consolida em ação. Assim, a verdade para o pragmático é só aquilo que se concretiza como ação. Desse modo, é estabelecida uma oposição ao intelectualismo e, mais do que isso, uma redução do mesmo às instân- cias das atitudes utilitárias e de ações concretas”. Fonte: Meneguetti (2007, p. 2). explorando Ideias Adentramos, agora, no pragmatismo. Daremos ênfase ao conceito em John Dewey. O pragmatismo tem uma relação de proximidade com o empirismo, haja vista que considera como válido e verdadeiro os fenômenos que têm utilidade prática. Somen- te o que é possível experienciar, pôr em prática, é que tem razão para ser ciência. John Dewey – nascimento em Burlington, Estados Unidos (1859) e faleci- mento em Nova York, Estados Unidos (1952) – opõe-se ao dualismo tanto de Platão como de Descartes. Isto porque, do ponto de vista epistemológico, com o seu “pragmatismo”, considera que a realidade é única: teoria e prática, razão e experiência, alma e corpo, homem e natureza são inseparáveis. Do ponto de vista didático, o lema do pragmatismo de Dewey é “aprender fazendo”. Como professor e pedagogo, ajudou a fomentar o desenvolvimento de diversos laboratórios pedagógicos na Universidade de Chicago, nos quais bus- cou teorizar e aplicar suas ideias pedagógicas baseadas na atividade da própria criança. O ponto de partida da aprendizagem é o “problema”, considera Dewey. Dewey tinha grande expectativa com a ciência e seus métodos de pesquisa e, de certa forma, estava convencido de que a filosofia tinha muito a contribuir com o desenvolvimento da sociedade estadunidense. Com otimismo em relação ao pragmático e à experiência como fontes do conhecimento verdadeiro, era “[...] convicto das reais possibilidades de haver progressos práticos nos assuntos humanos” (ROBINSON; GROVES, 2012, p. 111). Assim sendo, defendia que “a sociedade só avança se seus membros forem educados para ser inteligentes e sensíveis” (ROBINSON; GROVES, 2012, p. 111). https://pt.wikipedia.org/wiki/Fen%C3%B4meno U N ID A D E 4 128 A época contemporânea – marcada pela afirmação da individualidade – tem um dilema a resolver no que diz respeito aos fundamentos históricos e filosóficos da educação: como manter a liberdade de aprender com a obrigatoriedade de conteúdos escolares? Diante dessa questão, desde 1990, todos os anos o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) tem encomendado o Relatório do Desenvolvimento Humano a um grupo de trabalho formado por profissionais de campos como educação, sociologia, economia etc. (presentes sobretudo em órgãos governamentais e de pesquisas) que desenvolvem coleta de dados e, em seguida, disponibilizam relatórios e propostas que, por sua vez, nortearão a prá- tica de governos em campos como a educação, a saúde e a economia, sempre buscando atender às propostas publicadas no Relatório. O conceito de Desenvolvimento Humano não se limita a ter em consideração o rendimento per capita, o desenvolvimento dos recursos humanos e as neces- sidades básicas como medidas de avaliação do progresso humano, pois também avalia fatores como a liberdade humana, a dignidade e a intervenção humana, isto é, o papel das pessoas no desenvolvimento. Em uma ampla análise das questões da identidade em dezenas de comuni- dades e nações, o Relatório do Desenvolvimento Humano 2004 analisa muitas e diferentes abordagens políticas das nações e comunidades multiculturais, desde planos de educação bilíngue e de ação afirmativa até sistemas inovadores de re- presentação proporcional e de federalismo. 3 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS e os fundamentos da educação na época contemporânea U N IC ES U M A R 129 Assim sendo, desde meados do século XX até os dias atuais, documentos, relatórios e convenções vêm dando fundamentos históricos e filosóficos à edu- cação global. Exemplos: 1948: Declaração Universal do Direitos Humanos; 1960: Convenção internacional contra a discriminação no ensino; 1965: Convençãointernacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação social; 1978: Declaração sobre raça e preconceito racial; 1990: Declaração Mundial so- bre Educação para Todos (Conferência de Jomtien, Tailândia); 1995: Declaração sobre Princípios de Tolerância; 2001: Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e a Intolerância Correlata; 2002: Declaração Uni- versal sobre a Diversidade Cultural; 2001-2010: Década por uma Cultura de Paz e Não-Violência para as Crianças do Mundo; 2010: Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (Educação: um tesouro a descobrir ou Relatório Delors). No caso da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o destaque para o direito de todos à educação se encontra no Artigo XXVI. Artigo XXVI: “ 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-pro- fissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos di- reitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promo- verá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instru- ção que será ministrada a seus filhos (ONU, 1948, p. 14). Portanto, todos os 193 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) têm a obrigação de ofertar instrução gratuita pelo menos de educação fundamental. Em tese, este documento é um dos que dão fundamentos histó- ricos e filosóficos à educação na contemporaneidade. Com base nela – Decla- ração Universal dos Direitos Humanos –, a prática escolar deve ser orientada para a ‘Educação em Direitos Humanos’, assegurando o seu caráter transversal e a relação dialógica entre os diversos atores sociais. U N ID A D E 4 130 Diante das diversas abordagens que dão fundamentos históricos e filosóficos à educação, constantemente surgem pensadores que buscam sistematizar o “estado da arte”. Um dos mais conhecidos teóricos que fez este trabalho na contempora- neidade foi Bogdan Suchodolski – nascimento em Sosnowiec, Polônia (1903) e falecimento em Konstancin-Jeziorna, Polônia (1992). Suchodolski, em sua obra intitulada A pedagogia e as grandes correntes filo- sóficas, ao analisar os fundamentos históricos e filosóficos da educação ao longo dos quatro períodos conhecidos – Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea – revolucionou ao demonstrar que as manifestações pedagógicas originadas desde a antiguidade até a atualidade são formadas por duas correntes distintas: a pedagogia da essência e a pedagogia da existência. A pedagogia da essência foi iniciada por Platão e desenvolvida pelo cristia- nismo. Platão diferenciou no homem o que pertence ao mundo das sombras (o corpo, o desejo, os sentidos) e o que pertence ao mundo das ideias (o espírito na sua forma pensante). A pedagogia da essência (no Brasil, aproxima-se do termo “Pedagogia Tradicional”, conforme veremos na Unidade 5) procura pesquisar tudo que é empírico no ser humano e entender a educação como ação que desen- volve no indivíduo a sua essência “verdadeira”. O cristianismo segue esses rumos do pensamento platônico, inclusive as concepções de Agostinho, considerando, evidentemente, as diferenças devidas. Nessa fase, há uma reafirmação do ideal dualista mundo sensível versus mundo inteligível. Similar à educação em Platão, na pedagogia cristã, deve-se buscar tudo o que aproxima o ser humano do divino 4 PEDAGOGIA DA ESSÊNCIA VERSUS PEDAGOGIA da existência U N IC ES U M A R 131 e evitar as coisas terrenas, mundanas. Com algumas restrições, Tomás de Aquino também procura seguir a mesma linha de pensamento. “ Como o conhecimento está pronto e acabado, imutável, organiza-do e hierarquizado, sob um ponto de vista pedagógico, era preciso impor um sistema que possibilitaria a condução do ser humano para além do mundo material, parcial e imperfeito, ou seja, exis- tencialmente, o ser humano deveria ser conduzido, por meio do conceito e das ideias, ao mundo das essências, no qual seria o que deveria ser essencialmente, visto que o homem e todas as coisas existentes são verdadeiramente apenas no mundo das ideias. Cabe, desse modo, o entendimento de uma noção peculiar na concep- ção pedagógica acerca do conhecer em Platão: o mundo empírico é caótico, múltiplo e imperfeito, já o mundo das ideias constitui-se por uma dinâmica ascendente no processo dialético, tornando as impressões múltiplas ideias unas e imutáveis. Sendo ascendentes, tais ideias também são hierarquizadas, o que leva, por meio desse exercício, à noção de sumo bem e beleza absoluta, que, para o filó- sofo, é a ideia mais perfeita de todas, bem como a mais abrangente (TORRA; MARTINS; CORRÊA, 2013, p. 1087). Entretanto, no início da Modernidade, esses ideais pedagógicos platônicos e cris- tãos são questionados. A vida social, a tradição e, principalmente, a autoridade clerical são cada vez mais contestadas. Nesse período, surgem também as indaga- ções sobre o que se entende por essência. Será ela única, universal e manifestada de forma semelhante em todos os homens ou há uma diversidade? Há construção, transformação da essência? Eis que surge a visão de Rousseau sobre a educação, a pedagogia e a infância. Este transfere a concepção de natureza metafísica para o olhar empírico. Por se interessar pela vida cotidiana do homem, Rousseau foi o primeiro a sugerir uma pedagogia da existência (no Brasil, aproxima-se do termo “Pedagogia Nova”, conforme veremos na Unidade 5). Desde modo, a pedagogia é voltada para o olhar concreto do ser humano, tal como é. É no século XX que as concepções educacionais se revolucionam. A criança passa a ser vista como sujeito da educação, sua atividade é valorizada e tudo o que despertar seu interesse, curiosidade e criatividade deve ser adotado no processo educacional. U N ID A D E 4 132 Como é praticamente impossível a fusão das concepções pedagógicas da essência com a existência, é possível seguir outro caminho: a trilha da educação direcionada para o futuro. É aí que a obra A pedagogia da essência e a pedagogia da existência, de Suchodolski, representa uma das grandes referências da pers- pectiva socialista dentro da educação. Suchodolski (2002) vem nos propor que a realidade em que vivemos não é a única e, portanto, não deve ser tida como o único critério de se pensar educa- ção. O teórico argumenta que é somente por meio da participação na luta pelo desenvolvimento de um mundo verdadeiramente humano que se poderá dar a cada ser humano condições de vida e desenvolvimento em todo o seu potencial. 5 O SÉCULO XXI E A FORMAÇÃO HUMANA Um dos campos que mais tem conferido fundamentos históricos e filosóficos à formação humana no século atual – século XXI – é a psicologia educacional. Dentre as temáticas emergentes em psicologia da educação na época contem- porânea, destacam-se três: (i) indisciplina, (ii) gênero e (iii) diversidade cultural. É notável que a sociedade contemporânea tem se tornado cada vez mais com- plexa, constituindo, assim, um quadro de conflitos e mudanças de valores, em que as esferas da vida privada e pública, a um só tempo, polarizam-se e se (con) U N IC ES U M A R 133 fundem. Diante do problema referente a estes conflitos, temas como (i) indisci- plina, (ii) gênero e (iii) diversidade cultural têm feito parte do cotidiano escolar e têm, de certa forma, convertido-se nas temáticas em destaque na psicologia da educação (época contemporânea). Os estudos de psicologia da educação têm tudo a ver com sujeitos entendidos como “consciência em ação”; portanto, com os significados quese constroem e se transmutam; há ordem, mas também há ambiguidades, rupturas, desordem nas relações entre educandos e educadores, educadores e sociedade, educadores e escolas etc. De certa forma, os processos educativos são ricos em evoluções imprevistas, com fluxos turbulentos traçados por relações não lineares entre causa e efeito. Educação no século XXI: imprevisibilidade, descontinuidade e ruptura “Essa imprevisibilidade, descontinuidade e ruptura podem trazer um novo olhar sobre a busca da compreensão de situações escolares não apenas pelos ângulos sociais e psicoló- gicos, mas também pela integração desses ângulos, numa perspectiva psicoeducacional” Fonte: Rosin, Paini e Melo (2013, p. 112). conceituando De fato, o contexto histórico instável do século XXI tem nos apresentado diversos desafios. Começamos com a questão “indisciplina” como um elemento presente na educação nos dias atuais. O argumento em relação a essa questão é o de que a chegada do sujeito no ambiente escolar, por vezes, representa um “novo mundo”: regras e convivências diferentes do que está habituado em sua vida. Novas pes- soas, novas atitudes, nova organização. Um ambiente no qual, independentemen- te de suas experiências, todos são enquadrados em um novo modelo de ser e agir. A escola tradicional valoriza a retenção do saber no professor e tem como função a transmissão do conhecimento, não respeitando o tempo nem o ritmo de cada educando, suas possíveis dificuldades e limitações. Aqueles que não conse- guem acompanhar se dispersam e não mantêm a atenção, por vezes sendo taxa- dos como “indisciplinados”. Por outro lado, os educandos que têm mais facilidade e possuem um ritmo mais rápido, sentem-se frustrados a terem que repetir tantas vezes atividades e, então, acabam apresentando um comportamento desmotivado. Contudo, a disciplina não deve ser compreendida como o ato de manter os educandos sentados, calados e quietos, mas sim possibilitar que todos possam se expressar e participar da aula, respeitando as regras e limites combinados entre o U N ID A D E 4 134 grupo. Para tanto, o professor, autoridade em sala de aula, além de conhecimentos da psicologia da educação, necessita de saberes referentes à didática e à meto- dologia do ensino, a fim de que possa criar estratégias de ensino, aprendizagem e organização do espaço escolar, de maneira que a indisciplina seja superada. Uma segunda temática presente no contexto atual que tem trazido reflexões históricas, pedagógicas e filosóficas é “gênero e sexualidade”. Diversos estudos jus- tificam a relevância de a psicologia escolar e a filosofia da educação contribuírem com subsídios teórico-metodológicos voltados à formação de professores para o trabalho de educação sexual. O estudo realizado por Avila, Toneli e Andaló (2011) reafirmou a dificuldade dos professores quando se veem diante do desafio de in- serir a questão da sexualidade em suas atividades docentes, sobretudo no tocante à tensão existente entre os pressupostos de direitos humanos e a moral religiosa. Conforme esse estudo, a produção das posturas docentes diante da sexuali- dade e dos gêneros não passa somente pelo crivo dos conteúdos escolares, das técnicas pedagógicas e das prescrições oficiais, mas no psicológico e no ideológico da própria pessoa do professor. Assim, a sexualidade é uma temática da psicologia da educação que se insere na ordem da pessoalidade e da significação do tema no contexto da trajetória profissional, devendo fazer parte da formação inicial e continuada do docente. O terceiro tema contemporâneo que destacamos é a chamada “diversidade cultural”, o “multiculturalismo”. “ A consciência dessa multiplicidade não era tão explícita há 50 anos. Antes do processo de globalização dos meios de comunicação, havia uma representação de humanidade bastante homogênea e defini- da, construída ideologicamente no processo histórico ocidental. E tudo aquilo que fugia de determinados padrões de imagens, com- portamentos e expressões culturais eram considerados “desvios” da norma e, portanto, como algo diferente, estranho e reprovável. Daí a origem de muitos preconceitos (CARDOSO, [2020], p. 2). Daí a origem de muitos preconceitos. O mundo globalizado pelos meios de comunicação exige, hoje, que estejamos preparados para a convivência na di- versidade, isto é, para o diálogo não apenas com os semelhantes, mas também com quem pensa e age de maneira diferente de nós. A educação de valores na cultura da diversidade é bem mais complexa do que aquela fundada em uma U N IC ES U M A R 135 visão homogênea do mundo. O próprio conceito de convivência na diversidade tem sentido ideológico diferente; exigindo conhecimento e posicionamento do educador consciente. Diante destas temáticas apresentadas – (i) indisciplina, (ii) sexualidade e gêne- ro e (iii) diversidade cultural –, afirma-se que, hoje, é necessário exigir que o direito à educação seja assegurado e, para isso, políticas de acesso e permanência nela devem ter como foco o combate às desigualdades de gênero, sexualidade e cultura. O uso de metodologias ativas na educação vem ao encontro dos anseios da escola atual que precisa se adaptar às mudanças intensas em nossa sociedade e a esse educando que não consegue apenas aprender dentro de um modelo enges- sado de ensino, centrado no professor. Do ponto de vista didático-metodológico, o século XXI ainda tem o desafio de formar docentes que tenham a capacidade de superar a dicotomia entre en- sino direto, explícito, e ensino indireto, construtivista. O ensino explícito se refere a uma prática pedagógica “[...] que determina claramente os objetivos a alcançar e se constitui de procedimentos que conduzam em direção a objetivos prefixados, por meio de permanente orientação e apoio às crianças” (SOARES, 2016, p. 337). O ensino construtivista se refere a “[...] um ensino não diretivo, em que orientação à criança só é dada quando é demandada ou se revela necessária” (SOARES, 2016, p. 337). Assim, em sua formação, o professor necessita ter a ciên- cia e desenvolver a habilidade de unir o ensino explícito (direto), conduzido por ele; com o ensino construtivista (indireto), conduzido pela criança (uma espécie de autoensino), porque certas aprendizagens não podem ser propria- mente ensinadas (SOARES, 2016), mas provocadas, orientadas (SOARES, 2016). Toda aprendizagem é uma atividade de construção, um processo ativo e in- tencional, então a controvérsia entre ensino direto e ensino indireto, ensino ver- sus aprendizagem, deve ser conhecida pelo professor em formação, justamente para que ele possa superar esta dicotomia e compreender a razão de cada uma destas estratégias didático-metodológicas, validadas conforme os fundamentos históricos e filosóficos de cada uma delas ao longo da história da filosofia. Nesse sentido, as metodologias ativas trazem ao docente o papel de media- dor do conhecimento existente e o conhecimento a ser produzido. Diante disso, surge a necessidade de um paradigma inovador que parta do pressuposto de que a prática pedagógica possibilite a construção do conhecimento. Dessa forma, a tecnologia pode ser uma parceira, uma vez que, aliada à atuação, à autonomia U N ID A D E 4 136 Tendências pedagógicas Sinopse: o vídeo aborda as tendências pedagógicas modernas e contempo- râneas: Pedagogia Liberal: Tradicional, Renovada Progressivista e Tecnicista; Pedagogia Progressista: Libertadora, Libertária e Crítico-social dos Conteúdos. Contudo, não aborda explicitamente os fundamentos destas tendências. Ca- berá a você, estudante, este exercício intelectual! conecte-se do estudante, pode favorecer práticas pedagógicas mais dinâmicas, exigindo, in- clusive, maior participação daquele que aprende no processo de aprendizagem. Nos dias atuais (século XXI), a escola tem como um dos maiores desafios a mudança de paradigma, qual seja, de que “não somos todos iguais”: “somos todos diferentes”. Se somos todos diferentes,não é verdade que aprendemos da mesma forma, com o mesmo método, com a mesma abordagem em relação ao conteúdo escolar! A escola contemporânea tem o desafio de se tornar apta a responder às necessidades de cada um dos seus educandos, de acordo com suas especificidades. A inclusão e a diversidade são os maiores desafios da edu- cação contemporânea. Encerramos esta unidade com a ciência de que o estudo dos fundamentos históri- cos e filosóficos da educação no período contemporâneo trazem muitos desafios. Tendo a educação básica passado a ser garantida a todos (em termos quanti- tativos), estamos, atualmente, em busca de fundamentos históricos e filosóficos para o qualitativo, ou seja, melhorar a qualidade da formação humana. Parabéns por seus esforços na construção de sua identidade profissional de professor. https://youtu.be/HLZtZILFAps U N IC ES U M A R 137 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta Unidade 4, o enfoque foi a época contemporânea. Os séculos XIX, XX e XXI foram marcados pela tentativa de dar novos fundamentos históricos e filo- sóficos à educação: ela se torna direito de todos e dever do Estado. Hegel (1770-1831), filósofo do “absoluto”, considera o negativo o ponto de partida para o conhecimento. Por meio da dialética (tese, antítese e síntese), busca demonstrar que a união dos contrários leva o “espírito” humano em direção à ver- dade. Marx (1818-1883), embora tenha sido fortemente influenciado pelo pensa- mento de Hegel, busca superar sua concepção filosófica por meio do materialis- mo histórico-dialético, revolucionando a maneira de pensar o desenvolvimento humano: são as relações sociais e econômicas que dão origem ao conhecimento. Nietzsche (1844-1900), porém, não vê o avanço da época contemporânea com o otimismo de Hegel e Marx. Sua crítica à filosofia e à história ocidental como um todo traz o ponto de inflexão: o fim da modernidade, abrindo caminhos para novas correntes filosóficas, tais como o pós-estruturalismo, o existencialismo e, a principal delas, o pós-modernismo. Sem a tradicional filosofia ocidental, Nietzs- che considera que chegamos ao niilismo, ou seja, o “nada” e, então, sem dogma- tismo, sem religião, sem verdades criadas por grandes sistemas filosóficos, o que será da humanidade? Ora, seremos o que somos: “Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres”, título de uma obra de Nietzsche. Posteriormente, a abordagem se voltou ao positivismo de Comte (1798-1857) e ao pragmatismo de Dewey. Em seguida, o enfoque foi com relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento que tem norteado o direito de todos à educação dos 193 países-membro da ONU (incluído o Brasil). A Unidade 4 foi encerrada com o paradoxo trazido por Bogdan Suchodolski (2002): “pedagogia da essência” (“Pe- dagogia Tradicional”, no Brasil) versus “pedagogia da existência” (“Pedagogia Nova”, no Brasil). Finalizou-se com os paradigmas da educação no século XXI. 138 na prática 1. O texto a seguir comenta sobre as características principais do modo de produção capitalista. Leia-o com atenção. O capitalismo é um sistema econômico, político e social no qual os agentes eco- nômicos (empresários), proprietários dos meios de produção permitem que esta produção seja comercializada em um mercado, onde as transações são de natureza monetária. Acerca do surgimento do capitalismo no mundo, é correto o que se afirma em: a) O capitalismo é o sistema econômico e social que surgiu na Europa durante a Ida- de Média, entre os séculos XI e XV. Lentamente, ele se sobrepôs a outro sistema de produção, o socialismo, tornando-se mais dominante a partir do século XVIII. b) O capitalismo é o sistema econômico e social que surgiu na Europa durante a Ida- de Média, entre os séculos XI e XV. Lentamente, ele se sobrepôs a outro sistema de produção, o feudalismo, tornando-se predominante a partir do século XVIII. c) O capitalismo é o sistema econômico e social que surgiu na África durante a Idade Média, entre os séculos XI e XV. Lentamente, ele se sobrepôs a outro sistema de produção, o feudalismo, tornando-se predominante a partir do século XVIII. d) O capitalismo é o sistema econômico e social que surgiu na Ásia durante a Idade Média, entre os séculos XI e XV. Lentamente, ele se sobrepôs a outro sistema de produção, o mercantilismo, tornando-se predominante a partir do século XVIII. e) O capitalismo é o sistema econômico e social que surgiu na Europa durante a Idade Média, entre os séculos XX e XXI. Lentamente, ele se sobrepôs a outro sistema de produção, o socialismo, tornando-se predominante a partir do início do século XXI. 139 na prática 2. Sobre a aplicação do materialismo histórico-dialético (marxismo) no campo da edu- cação e da pedagogia, ANALISE as questões a seguir: I - Luria, Leontiev e Vygotsky foram os principais teóricos a se empenhar na cons- trução de uma psicologia da educação de base marxista. II - Piaget e Maria Montessori foram os principais teóricos a se empenhar na cons- trução de uma psicologia da educação de base marxista. III - Do ponto de vista da educação, a Declaração Universal dos Direitos Humanos tem uma base fundamentada no materialismo histórico-dialético (marxismo). IV - Dewey e Comte foram os principais teóricos a se empenhar na construção de uma psicologia da educação de base marxista. É correto o que se afirma em: a) I, II, III e IV. b) I, II e III, apenas. c) I e II, apenas. d) I, apenas. e) II e III, apenas. 3. “A Educação em Direitos Humanos emerge como uma forte necessidade capaz de reposicionar os compromissos nacionais com a formação de sujeitos de direitos e de responsabilidades. Ela poderá influenciar na construção e na consolidação da democracia como um processo para o fortalecimento de comunidades e grupos tradicionalmente excluídos dos seus direitos” (BRASIL. Parecer CNE/CP Nº 08/2012, de 06 de março de 2012. Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. Brasília, 2012). 140 na prática Sobre a Educação em Direitos Humanos, é correto afirmar que: a) Igualdade e diversidade são dois conceitos antagônicos e, por isso, não podem coexistir em uma sociedade que respeita os direitos humanos. b) A sociedade brasileira já superou as suas contradições a partir da construção de uma educação baseada nos direitos humanos. c) A implementação da “Educação para os Direitos Humanos” requer a discussão sobre concepções e práticas exclusivamente em cursos superiores de graduação. d) A prática escolar deve ser orientada para a ‘Educação em Direitos Humanos’, assegurando o seu caráter transversal e a relação dialógica entre os diversos atores sociais. e) A criação de uma legislação para a defesa dos direitos humanos por si só garante a efetivação de uma cultura escolar voltada aos direitos humanos. 4. Leia o trecho a seguir que trata da problemática dos desafios da educação escolar para a escola pública e obrigatória: “A ideia de escola pública e obrigatória para todos data dos séculos XVIII e XIX e constituía-se como ponto central e gerador do processo de homogeneização cultural e de formação de uma cidadania nacional, como bem pontua Libâneo. Trata-se de uma concepção delineada sob a perspectiva de uma escola e alunos ideais, portanto, de contornos concretamente excludentes”. (DAVID, C. M.; SILVA, H. M. G. da; RIBEIRO, R.; LEMES, S. de S. L. (Orgs.). Desafios contemporâneos da educação. Disponível em: https://static.scielo.org/scielo- books/zt9xy/pdf/david-9788579836220.pdf. Acesso em: 05 jun. 2020). Partindo do pressuposto de que, na contemporaneidade, sobretudo na escola pública, temos os mais diferentes perfis de educandos, são desafios da escola para o século XXI: a) A autonomia da escola. b) A inclusão e a diversidade. c) A necessidade de educação moral e cívica. d) O conselho escolar. e) A direção participativa. 141 na prática 5. Sobre as metodologias nos processos de ensino e aprendizagem no século XXI, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre asmetodologias ativas, contemplando os seguintes tópicos: a) O que são as metodologias ativas? (paradigma do aprendizado); b) Como superar a dicotomia entre ensino direto, explícito, passivo e ensino indi- reto, construtivista, ativo. 142 aprimore-se A seguir, temos parte da “Declaração universal dos direitos humanos”, um dos documentos que tem guiado os fundamentos históricos e filosóficos da educação contemporânea. “DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS A ASSEMBLÉIA GERAL proclama A PRESENTE DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREI- TOS HUMANOS como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas pro- gressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados- -Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Artigo I: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Artigo II: 1 - Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as li- berdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 2 - Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou interna- cional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um terri- tório independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. Artigo III: Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo IV: Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo V: Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo VI: Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconheci- do como pessoa perante a lei. 143 aprimore-se Artigo VII: Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discrimina- ção que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo VIII: Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais com- petentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. Artigo IX: Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo X: Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. Artigo XI: 1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garan- tias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou in- ternacional. Também não será imposta 3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. Artigo XVII: 1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade. Artigo XVIII: Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciên- cia e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liber- dade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular. Artigo XIX: Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Artigo XX: 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo XXI: 1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu 144 aprimore-se país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou pro- cesso equivalente que assegure a liberdade de voto. Artigo XXII: Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à se- gurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. Artigo XXIII: 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de em- prego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desempre- go. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remunera- ção justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, ou- tros meios de proteção social. 4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses. Artigo XXIV: Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas. [...]” Fonte: ONU (1948, on-line). 145 eu recomendo! A Gaia Ciência Autor: Friedrich Nietzsche Editora: Companhia de Bolso Sinopse: esta obra traz algumas das discussões mais originais de Nietzsche a respeito de arte, moral, história, conhecimento, ilusão e verdade. Ao longo de suas 383 seções, aparecem três elementos particularmente associados ao filósofo: a proclama- ção da “morte de Deus”, a ideia do “eterno retorno” e a mítica figura de Zaratustra. Ao mesmo tempo, A gaia ciência é o livro de Nietzsche com a maior diversidade de formas literárias, incluindo versos humorísticos, aforismos, breves diálogos, parábolas, poemas em prosa e pequenos ensaios. livro Dialética do Esclarecimento Autor: Theodor Adorno e Max Horkheimer Editora: Jorge Zahar Sinopse: considerado como a pedra angular das ideias que tive- ram por berço a Escola de Frankfurt, esse livro é uma crítica filo- sófica e psicológica de amplo espectro das categorias ocidentais da razão e da natureza, de Homero a Nietzsche. A expressão “in- dústria cultural” foi empregada pela primeira vez neste livro, saudado como um clássico desde sua publicação em 1947. Melancólico, pessimista, iluminista, duro, datado, perene. Inegavelmente um livro com a marca deste século XX. Uma longa digressão sobre a história do pensamento, mostrando como a mitologia se trans- forma em filosofia e depois em ciência, como o progresso técnico vira regressão ideológica e, finalmente, como a cultura serve de base para a barbárie fascista. livro 146 eu recomendo! O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica Autor: Jean-Paul Sartre Editora: Vozes Sinopse: publicado, em 1943, O ser e o nada dá continuidade a uma reflexão que já se iniciara no princípio do século com pen- sadores como Kierkegaard, Jaspers e Heidegger, exercendo umaincontornável influência sobre as cinco últimas décadas. Sartre desenvolveu um prodigioso e completo sistema de “explicação total do mundo” por meio de um exame detalhado da realidade humana como ela se manifesta, estudando o abstrato concretamente. Ao ser publicado, O ser e o nada causou espanto, polêmica, protestos, admiração. Com sua originalidade transgressora e contestações às verdades eternas da tradição filosófica, constitui o apogeu da primeira fase da filosofia sartriana. livro O discurso filosófico da modernidade Autor: Jürgen Habermas Editora: Dom Quixote Sinopse: nesta obra, o autor procura reconstruir passo a passo o discurso filosófico da modernidade, tomando como ponto de partida a perspectiva proposta pela crítica neoestruturalista da razão. “Modernidade – um projeto inacabado” era o título de um discurso que Habermas pronunciou em setembro de 1980, quando recebeu o Prêmio Adorno. Esse tema, controvertido e multifacetado, não mais deixou os estudos de Habermas. Seus aspectos filosóficos têm penetrado mais fortemente na consciência pública, na estreia da recepção do neoestruturalismo francês – assim como o slogan “pós-modernidade”, na sequência de uma publicação de F. Lyotard. O desafio proposto pela crítica neoestruturalista da razão constitui, as- sim, a perspectiva a partir da qual procurou reconstruir passo a passo o discurso filosófico da modernidade. Nesse discurso, a modernidade foi elevada, desde os fins do séc. XVIII, a tema filosófico. livro 147 eu recomendo! Desafios contemporâneos da educação Autor: Célia Maria David, Hilda Maria Gonçalves da Silva, Ricardo Ribeiro e Sebastião de Souza Lemes (Orgs.) Editora: UNESP Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/zt9xy/pdf/ david-9788579836220.pdf. livro A pedagogia e as grandes correntes filosóficas: a pedagogia da essência e a pedagogia da existência Autor: Bogdan Suchodolski Editora: Livros Horizonte Sinopse: o autor da obra fornece um fio condutor para entender as concepções pedagógicas e atribui uma espécie de unidade or- gânica a história pedagógica, permitindo-nos a compreensão de diversas facetas e correção de muitas ideias feitas. Suchodolski, durante a obra, faz uma concentração sábia entre as pedagogias da evolução da criança e as pe- dagogias da adaptação às condições do meio, a propósito do movimento da edu- cação nova. Também o autor evidencia nesta obra o veto entre os defensores da evolução e os da adaptação, no conflito em que travaram também as pedagogias essencialistas e existencialistas. Aqui, a ideia-chave do autor não é de tecer um compromisso entre a essência e a existência, pois ele perfilha uma concepção ativa segundo a qual “o homem é criador do seu próprio meio e de si mesmo”. Ele parte de uma teoria da natureza social do homem. Para o autor da obra, o objetivo visceral da educação moderna é de contribuir para que a existência hu- mana possa tornar-se base para a criação da essência humana, o que pressupõe a “instalação de um sistema social à escala humana”, onde a educação criadora deve desempenhar um papel fulcral. livro 148 eu recomendo! Os quatro pilares da educação do século XXI Sinopse: o vídeo apresenta uma breve síntese de “Os quatro pilares da educação do século XXI”, considerados fundamentais para o desenvolvimento humano. São os ali- cerces da formação do cidadão contemporâneo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-oCv_SyjbFs&pbjreload=10. conecte-se A transformação da filosofia na contemporaneidade - Pós-modernidade e novos temas da Filosofia Ano: 2018 Sinopse: neste vídeo, o Professor Colombo aborda a filosofia contemporânea, a pós- -modernidade e novos temas que se têm feitos presentes na filosofia nos dias atuais. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oae9O6k4mkI. conecte-se https://www.youtube.com/watch?v=-oCv_SyjbFs&pbjreload=10 https://www.youtube.com/watch?v=oae9O6k4mkI anotações 5 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS da educação no Brasil PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • A Pedagogia Jesuítica no Brasil: fundamentos históricos e filosóficos • A Pedagogia Nova no Brasil: fundamentos históricos e filosóficos • A Pedagogia Tecnicista no Brasil: fundamentos históricos e filosóficos • A Pedagogia Histórico-Crítica no Brasil: fundamentos históricos e filosóficos • Paulo Freire e seus impactos nos fundamentos históricos e filosóficos na educação no Brasil e no mundo. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender as bases epistemológicas e pedagógicas da Pedagogia Jesuítica no Brasil. • Compreender as bases epistemológicas e pedagógicas da Pedagogia Nova no Brasil. • Compreender as bases episte- mológicas e pedagógicas da Pedagogia Tecnicista no Brasil. • Compreender as bases epistemológicas e pedagógicas da Pedagogia Histórico-Crítica no Brasil. • Reconhecer o impacto de Paulo Freire nos fundamentos históricos e filosóficos na educação no Brasil e no mundo. PROFESSOR Me. Vinícius Adriano de Freitas INTRODUÇÃO Caros(a) acadêmicos(a), chegamos à última unidade! Ela busca aproximá- -lo ainda mais dos “fundamentos históricos e filosóficos da educação” e, para isso, trabalharemos com um tempo e um espaço específico: o nosso país, ou seja, o enfoque desta unidade é o Brasil. A primeira perspectiva pedagógica que se fez presente na história da educação no Brasil foi a Pedagogia Jesuítica, hoje incluída no campo das tendências pedagógicas consideradas de “tradicionais”. Por quase dois sé- culos, a educação brasileira foi organizada pelos primeiros “professores” do nosso país: os padres jesuítas. O século XIX foi marcado pela transição do Império para a República. Com a expulsão dos jesuítas, a principal característica deste período foi a instituição das chamadas aulas régias (aulas avulsas). Com a abolição da escravidão (ano de 1888) e a Proclamação da República (ano de 1889), têm-se o início das primeiras propostas de escolas “para todos”: o discur- so se inicia porque, para o país se “modernizar” e se adequar ao trabalho assalariado, necessitaríamos de cidadãos escolarizados. Na transição do século XIX para o século XX, tivemos a instituição das primeiras escolas primárias e os cursos normais para a formação dos professores. Ao mesmo tempo que o ideário de que a república, a democra- cia e a cidadania só se alcançariam com a escola para todos, já temos um movimento que põe em questão os modelos escolares vigentes. É aí que a Pedagogia Nova vem propor novos fundamentos à educação brasileira. Durante o Regime Militar (1964-1985), com o predomínio de uma educação voltada ao “aprender a fazer”, tivemos como tendência a Peda- gogia Tecnicista. Com a redemocratização do país, sobretudo na década de 90, o Brasil passa a buscar uma educação crítica. A tendência predominante passa a ser a Pedagogia Histórico-Crítica. Por fim, buscaremos investigar um dos teóricos que mais impactou nos fundamentos históricos e filosóficos da educação no Brasil: Paulo Freire. U N ID A D E 5 152 1 A PEDAGOGIA JESUÍTICA NO BRASIL: FUNDAMENTOS históricos e filosóficos Caro(a) professor(a) em formação, nesta última unidade, o enfoque será o Brasil. Então, perguntamos: qual o tempo dos fundamentos históricos e filosóficos da educação no Brasil? Bem, aqui temos um problema: havia educação no Brasil antes do “descobrimento” (em 22 de abril de 1500, por Pedro Álvares Cabral). Contudo, os povos nativos que habitavam o espaço hoje denominado Brasil não praticavam a educação formal, ou seja, em escolas. Portanto, a educação funda- mentada em princípios ocidentais só tem início no Brasil após o século XVI. Neste sentido, o nosso recorte é do ano de 1500 aos dias atuais. Assim sendo, a abordagem começa pela primeira concepção filosófica que deu fundamento à educação em nosso país: o Processo Tradicional. O Processo Tradicional ou “Pedagogiada essência” – como vimos na Uni- dade 4 –, atualmente, é condenado por quase todas as correntes da pedagogia. Ele é acusado de reproduzir o conhecimento dominante, perpetuar a opressão, a cultura do silêncio e por meio da “concepção bancária de educação”, que consiste no “ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimento” (FREI- RE, 1981, p. 67). Nesta visão bancária de educação, são negadas a criatividade e a transformação, pois o educador é aquele que possui os saberes considerados universais, imutáveis e fixos e o educando não possui esses saberes, por isso deve receber, memorizar e repetir o que foi dito pelo mestre. U N IC ES U M A R 153 Historicamente, diversas tendências filosóficas, sociológicas e psicológicas podem caracterizar a Pedagogia Tradicional, “[...] desde o ensino verbalista adotado na Idade Média e na Idade Moderna até o ensino baseado no empirismo e no po- sitivismo, dos séculos XVII, XVIII e XIX” (TERUYA, 2010, p. 33). Dessa forma, quando nos referimos à Pedagogia Tradicional, é importante saber que diversos fundamentos históricos e filosóficos dão embasamentos a esta concepção: (i) a ca- tequese, pautada no cristianismo, (ii) a pedagogia e a didática proposta por Come- nius (vimos na Unidade 3), (iii) o ensino verbalista centrado na aula expositiva etc. Após o início da colonização pelos portugueses, houve a tentativa da intro- dução de uma educação escolar católica no Brasil. Sobretudo sob a égide do Ratio Studiorum – documento escrito em latim –, ocorre o que Saviani (2007) chama de “esboço de um sistema educacional”. Composto de 467 regras, o Ratio Studiorum tem o pensamento de Tomás de Aquino (tomismo) como base, isto Figura 1 - Pátio do Colégio Jesuíta Descrição da Imagem: Fotografia do Pátio do Colégio Jesuíta em um dia ensolarado. Da esquerda para a direita, temos um poste com cinco luzes. Ao fundo está o Colégio, cujo prédio apresenta três partes: a primeira tem uma porta, três janelas e uma cruz no telhado; a segunda parte apre- senta uma torre com quatro janelas e uma cruz no alto; por último, há um prédio horizontal que apresenta duas portas – uma azul que está fechada e a segunda porta está aberta. Esta parte do prédio apresenta nove janelas e ao lado há árvores verdes. Na frente, há pessoas caminhando pelo pátio do Colégio. U N ID A D E 5 154 Como funcionava uma aula com os jesuítas? Para os padres jesuítas, as explicações eram muito importantes na vida dos estudantes. Utilizando-se do método expositivo, o mestre explicava e o educando se limitava em repe- tir após ele. Não era exercitado para penetrar por si o pensamento dos autores antigos. O exercício ativo exigido dele era, além da lição de memória, o tema escrito. Entre os Jesuítas foi que nasceu esse sistema pedagógico que faz do tema escrito (hoje denomina- do “conteúdo”) o tipo de tema escolar, sistema esse herdado pela universidade e que se perpetuou até tempos recentes. quadro-resumo é, as ideias teológicas e filosóficas deste pensador (considerado santo pela Igreja Católica, vale lembrar) norteou o ideário pedagógico do Ratio Studiorum. Vigo- rou no Brasil entre 1599 e 1759. O documento definiu “ [...] a cultura escolar e formativa da Igreja, manifesta nos documen-tos e nas inserções feitas pela Companhia de Jesus no século XVI, influenciando profundamente a formação de professores por meio de suas regras, visto que todo o processo formativo docente reflete, como em todo aspecto adaptativo humano, as estruturas sociais, culturais, econômicas e morais de uma época. Em contrapartida, dialeticamente, a educação e a formação pedagógica sustentam de algum modo aquilo que se determina como essencial a uma so- ciedade, do ponto de vista ético, moral e no que tange à formação intelectual, bem caracterizado no processo formativo docente efeti- vado pelos jesuítas. Assim, a formação docente no âmbito do Ratio Studiorum remonta a um extenso detalhamento de regras estabe- lecidas para compor uma ação diária permanente que garantisse o ideário religioso e, principalmente, a formação do professor jesuíta na mais restrita moralidade cristã (TORRA; MARTINS; CORRÊA, 2013, p. 1091-1092). Do ponto de vista pedagógico, o Ratio Studiorum, fundamentado em princípios da Igreja Católica, recomenda: (i) ensino predominantemente verbal e memo- rístico; (ii) a posição das mãos e o modo de levantar os olhos, por exemplo (GA- DOTTI, 2003); (iii) repetições dos conteúdos estudados em casa todos os dias, a fim de facilitar a memorização. U N IC ES U M A R 155 Conforme indica Saviani (1999), críticas à Pedagogia Tradicional começaram a aparecer no Brasil no final do século XIX. Contudo, foi no início do século XX que a corrente pedagógica Escola Nova, em um movimento de crítica à pedagogia e ao sistema de ensino dos séculos anteriores no Brasil, passou a denominar a pedagogia jesuítica de Pedagogia Tradicional. E afinal, o que é a Pedagogia Tra- dicional? De que a acusam? Vejamos a explicação dada por Teruya (2010, p. 32): “ O processo tradicional tem o objetivo de ensinar os indivíduos a se tornarem receptores passivos. Nessa perspectiva, compreende-se que, ao nascer, a mente humana é uma tabula rasa e aos poucos a socieda- de, por meio das instituições como família, igreja e escola, vai impri- mindo as imagens e as informações do ambiente. A visão de mundo é transmitida de geração a geração, no sentido de preservar a tradição. Apesar de ser uma concepção pedagógica que se inicia ainda na Grécia, na An- tiguidade; no período moderno, o teórico que a legitimou como “científica” e como “ciência” foi Johann Friedrich Herbart. Pode, então, ser considerado o “pai” da Pedagogia Tradicional na modernidade. Johann Friedrich Herbart nasceu em 4 de maio de 1776, na cidade de Olden- burg, situada ao norte da Alemanha, e morreu em 11 de agosto de 1841, na cidade universitária de Göttingen (Alemanha). Entre 1794 e 1797, foi aluno do filósofo Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) na Universidade de Iena. No entanto, o jovem Herbart rapidamente tomará distância da “teoria da ciência” e da filosofia prática de seu mestre. No terreno fértil das contradições do pensamento idealista, fará ger- minar sua própria filosofia realista. Herbart, no entanto, permanecerá em sua vida inteira fiel ao rigor intelectual de seu mestre Fichte, tentando, a exemplo dele, apre- sentar os elementos mais importantes de sua reflexão sob a forma de “deduções”. Dentre os teóricos que dão respaldo aos métodos, propostas de ensino e ten- dências pedagógicas “tradicionais”, tivemos, inicialmente, os empiristas, como Bacon e Locke, por exemplo, que apesar de nada terem escrito especificamente sobre didática ou pedagogia, davam respaldo à visão empirista/associacionista sobre a criança e, então, serviram de respaldo para a escola tradicional. Segundo o verbete criado pelo filósofo e pedagogo brasileiro Dermeval Saviani, a introdução da denominação “Concepção Pedagógica Tradicional ou Pedagogia Tradicional” ocorreu no final do século XIX com o advento do movimento renovador que, U N ID A D E 5 156 para marcar a “novidade” das propostas que começaram a ser veiculadas, classi- ficaram como “tradicional” a concepção até então dominante. Os pressupostos da aprendizagem (Pedagogia Tradicional) são fundamen- tados na receptividade dos conteúdos e na mecanização de sua recepção. A aprendizagem se dá por meio da resolução de exercícios e da repetição de con- ceitos e recapitulação do saber adquirido sempre que necessário for reavivá-lo na mente. A avaliação também é mecânica e ocorre por meio de “resolução de tarefas” enviadas para casa e provas (sobretudo escritas). Segundo Saviani (1999), a Escola Tradicional para todos, que, no caso do Brasil, data do final do século XIX, surge para a “superação da marginalidade”. Nesse quadro, “[...] a causa da marginalidade é identificada com a ignorância. É marginalizado da nova sociedade quem não é esclarecido. Aescola surge como um antídoto à ignorância [...]” (SAVIANI, 1999, p. 18), e, então, terá o professor como figura central: é ele quem traz os “conteúdos verdadeiros” e, assim, só terá aprendido aquele que memorizar exatamente o que foi exposto, o que foi dito pelo professor. Assim sendo, é papel da educação, para a Pedagogia Tradicional, “ [...] difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente. O mestre-escola será o artífice dessa grande obra. A escola se organiza, pois, como uma agência centrada no professor, o qual transmite, segundo uma gradação lógica, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que lhes são transmitidos. Como as iniciativas cabiam ao professor, o essencial era contar com um professor ra- zoavelmente bem preparado. Assim, as escolas eram organizadas na forma de classes, cada uma contando com um professor que expunha as lições que os alunos seguiam atentamente e aplicava os exercícios que os alunos deveriam realizar disciplinadamente (SAVIANI, 1999, p. 18). Os procedimentos didáticos da Pedagogia Tradicional, quando postos em prática, propõem que o professor deve seguir os cinco passos apresentados por Herbart (2010) em sua obra Pedagogia geral: deduzida da finalidade da educação: 1) preparação, 2) apresentação, 3) associação, 4) generalização e 5) aplicação (SA- VIANI, 1999), o que evidencia a proposta ser de base empirista/associacionista. A figura a seguir busca sistematizar a didática proposta pela Pedagogia Tradicional mediante os cinco “passos”. U N IC ES U M A R 157 Fonte: adaptado de Saviani (1999 apud HERBART, 2010). Conforme alerta Saviani (1999), os críticos da Pedagogia Tradicional buscam reforçar que ela não é científica. Contudo, Saviani (1999) aproxima os cinco passos propostos por Herbart do método indutivo (“passos para uma pesquisa investigativa” proposta por Bacon) e, portanto, refuta o argumento de que a Peda- gogia Tradicional não tem embasamento científico. Ela tem! O quadro a seguir apresenta uma síntese dos fundamentos históricos e filosóficos da educação de acordo com a Pedagogia Tradicional e o método indutivo (empirismo). 1° passo: “Preparação” 2° passo “A presentação” 3° passo “Com paração e A ssim ilação” 4° passo “G eneralização” 5° passo “A plicação” Inicialm ente, a tarefa docente é preparar os educandos. O professor deve com eçar a aula recordando a aula anterior. Esse procedim ento faz com que os alunos se interessem pelas ideias das novas lições a serem transm itidas e prestem atenção ao novo conteúdo. N a prática... Rotina de “início da aula” O segundo passo é a apresentação. O conteúdo deve ser apresentado com clareza e objetividade, para que as ideias apareçam com nitidez aos estudantes. O terceiro passo é a associação. É o m om ento da assim ilação dos conteúdos novos transm itidos pelo professor por m eio da com paração com os conteúdos antigos. É o m om ento de fazer com parações, identi�car as diferenças e sem elhanças entre o novo e o velho conhecim ento ou ideias. N a prática... O professor apresenta o ‘conteúdo’ novo N a prática... O s educandos fazem exercícios com o apoio do professor sobre o ‘conteúdo’ novo O quarto passo é a generalização. É o m om ento de re�etir sobre o conhecim ento no sentido de sair da situação individual e partir para as observações das leis gerais oferecidas pelas lições N a prática... O s educandos fazem exercícios com sem o apoio do professor sobre o ‘conteúdo’ novo (prova escrita, por exem plo) O quinto passo é a aplicação. É o m om ento de exercitar e incorporar o novo conhecim ento de tal m aneira que o conteúdo faça parte da m ente do aprendiz. D essa form a, os educandos são instruídos e ensinados pelo professor em um a sala de aula. N a prática... “Tarefa para na casa” U N ID A D E 5 158 Relação entre a Pedagogia Tradicional e o método científico Método pedagógico Método científico Método associacionista (aprendizagem por associação) Método indutivo (empirismo) “Passos” da aula Herbart (1776-1841) “Passos” da pesquisa investigativa Bacon (1561-1626) 1) Preparação. 2) Apresentação. 3) Comparação e assimilação. 4) Generalização. 5) Aplicação. 1) Observação. 2) Generalização. 3) Confirmação. Quadro 1 - Fundamentos filosóficos, epistemológicos e científicos da Pedagogia Tradicional e a sua “didática” / Fonte: adaptado de Saviani (1999). De certa forma, a organização do ensino proposta por Herbart busca atender o projeto de educação da modernidade. As “novas” concepções para desvendar o mundo vão se consolidando no campo filosófico e no campo pedagógico. Nesse processo de modernização, o empirismo é a base epistemológica que sustenta os métodos de ensino. Segundo Valdemarin (2004, p. 35), “ pode-se dizer que o marco epistemológico no qual se amparam sucessivos tratados pedagógicos é o empirismo, e o elemento a partir do qual se torna possível estabelecer a continuidade entre Bacon, Locke, Hume, Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Fröebel e Spencer é a consideração da origem do conhecimento nas percepções humanas e a valorização da utilidade do saber. Para estes autores, os sentidos humanos afiançam a possibilidade do conhecimento humano, per- mitindo ao homem construir um saber sem tutelas, descobrindo e interpretando as leis naturais e colocando a natureza a seu serviço. Nessa perspectiva, os métodos de ensino deveriam partir do concre- to para o abstrato, das partes para o todo. Essa concepção empirista atendia às necessidades do desenvolvimento econômico dos séculos XVII, XVIII e XIX, pois possibilitava a liberdade de raciocínio em relação à tradição e à intervenção humana sobre o mundo. U N IC ES U M A R 159 2 A PEDAGOGIA NOVA NO BRASIL: FUNDAMENTOS históricos e filosóficos Contudo, devido ao insucesso da escola moderna de “ensinar tudo a todos”, so- bretudo no final do século XIX, acentuam-se as críticas às bases epistemológicas, bem como aos fundamentos históricos e filosóficos da Pedagogia Tradicional e, assim, tem-se o início do movimento de renovação pedagógica, conhecido atualmente como Pedagogia Nova. O Cristo Redentor, inaugurado em 1931, atualmente, é reconhecido como um dos cartões-postais da cidade do Rio de Janeiro, do Brasil e até mesmo da Amé- rica Latina. Símbolo da influência da Igreja Católica no Brasil, o monumento está localizado no Corcovado, no Parque Nacional da Tijuca. A cidade do Rio de Janeiro é o maior destino turístico internacional do Brasil, da América Latina e de todo o Hemisfério Sul. A cidade do Rio de Janeiro foi a capital do Brasil de 1763 a 1960, quando o governo se transferiu para Brasília. A vinda da corte portuguesa, em 1808, marca- ria profundamente a cidade, então convertida no centro de decisões do Império Português, debilitado com as guerras de Napoleão. Após a Abertura dos Portos, o Rio de Janeiro se tornou um centro comercial. U N ID A D E 5 160 Nas primeiras décadas do século XIX, foram criados diversos estabelecimen- tos de ensino, como: (i) a Academia Militar, (ii) a Escola Real de Ciências, (iii) a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, (iv) a Academia Imperial de Belas Artes, (v) a Biblioteca Nacional e (vi) o Jardim Botânico. Contudo, com a Independên- cia do Brasil, em 1822, é que, definitivamente, a Pedagogia Tradicional tem uma crise acentuada no Brasil e, então, surgem propostas de uma educação escolar diferenciada, centrada na criança, laica e obrigatória. São dados os primeiros passos para o escolanovismo no Brasil. A primeira Escola Nova foi fundada em 1889, na Inglaterra. Nos Estados Uni- dos da América (EUA), as primeiras “escolas novas” surgem no início do século XX, com a ideia de renovação pedagógica. Esse movimento de renovação peda- gógica recebeu diferentes denominações:Escola Nova, Educação Progressiva e Educação Ativa (BRANCO, 2014). O grande nome do movimento na América foi o filósofo e pedagogo John Dewey (1859-1952). John Dewey, filósofo norte americano, influenciou a elite brasileira com o movimento da Escola Nova. Para John Dewey, a educação é uma necessidade que está para além dos muros da escola: ela é um fenômeno coletivo, social e democrático. Dessa forma, a escola não pode formar apenas para “passar de ano” ou para “conquistar um diploma”: o desenvolvimento proposto pela escolarização teria, para Dewey, o progresso do social, do coletivo. Mediante o desenvolvimento do talento dos educandos, a sociedade avança. A Pedagogia Renovada (Pedagogia Nova) mantém o propósito de adaptar o estudante ao meio social, daí seu interesse em reproduzir no seu contexto a própria existência humana. O conhecimento se resume ao que está vinculado à atuação e às descobertas dos aprendizes, configurando o que Piaget descreve como o mecanismo de conscientização. A Pedagogia Escolanovista e a relação entre o educador e o educando A Pedagogia Escolanovista entende que, na relação professor-estudante, “não há lugar pri- vilegiado para o professor; antes, seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâ- neo da criança; intervém-se é para dar forma ao raciocínio dela”. Fonte: Libâneo (1994, p. 58) conceituando U N IC ES U M A R 161 Já sob o regime republicano e um processo que combinou a urbanização com a industrialização, o Brasil passará a ter a presença de uma educação técnico-pro- fissional na escolarização de seus cidadãos. Paralelamente a este fator ocorre a “descoberta” da psicologia infantil. De acordo com Saviani (1999), quem melhor articulou estes dois aspectos no Brasil foi Lourenço Filho. O ponto culminante deste período se deu com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Outro ponto importante foi a promulgação da Lei nº 4.024 (BRASIL, 1961), nossa pri- meira lei de diretrizes e bases da educação, que entrou em vigor em 1962. Segundo Saviani (1999), a Pedagogia Nova representou uma espécie de biop- sicologização da sociedade, da educação e da escola. Segundo Saviani (1999, p. 20-21) “[...] alguns dos principais representantes da pedagogia nova se conver- teram à pedagogia a partir da preocupação com os ‘anormais’ (ver, por exemplo, Decroly e Montessori)” . A partir das experiências levadas a efeito com crianças “anormais” é que se pretendeu generalizar procedimentos pedagógicos para o conjunto do sistema escolar. A fim de facilitar a compreensão das mudanças decorrentes da disputa entre a Pedagogia Tradicional para a Pedagogia Nova, Saviani (1999) faz algumas com- parações. Compreende-se, então, que essa maneira de entender a educação, por referência à pedagogia tradicional, tenha deslocado o eixo da questão pedagógica da seguinte forma, conforme o quadro a seguir. A Pedagogia Tradicional A Pedagogia Nova Do intelecto Para o sentimento Do aspecto lógico Para o psicológico Dos conteúdos cognitivos Para os métodos ou processos peda- gógicos Do professor Para o aluno Do esforço Para o interesse Da disciplina Para a espontaneidade Do diretivismo Para o não diretivismo Da quantidade Para a qualidade U N ID A D E 5 162 De uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência lógica Para uma pedagogia de inspiração experimental baseada principalmente nas contribuições da biologia e da psicologia De “o importante é aprender” Para “o importante é aprender a aprender” Quadro 2 - Pedagogia tradicional versus Pedagogia Nova Fonte: Adaptado de Saviani (1999). Diante do exposto, para funcionar de acordo com a concepção escolanovista, a organização escolar teria de passar por reformulações consideráveis, isto é, “[...] a escola deveria agrupar alunos segundo áreas de interesses decorrentes de sua atividade livre. O professor agiria como um estimulador e orientador da aprendizagem [...]” (SAVIANI, 1999, p. 21). Seria, portanto, uma aprendizagem que partiria do agir do educando sobre o próprio objeto de conhecimento. Por exemplo, para aprender a ler, não seria necessário ensinar primeiro as vogais, depois as consoantes e depois as sílabas: mediante a convivência com textos que circulam socialmente, recorte de letras, atividades em equipes, jogos e brincadei- ras a criança seria capaz de se alfabetizar. Contudo, isto não quer dizer que não precisa do apoio do professor: o docente ajudará a criança a “resolver problemas” que forem surgindo durante o processo de aprendizagem. Assim, a educação e a escola no Brasil passam a ter novos encaminhamentos no início do século XX. O documento que representa esta mudança é o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932) e dos Educadores (1959). Diferentes teorias psicológicas, com seus conceitos e métodos, com sua con- cepção de homem, educação e sociedade, trazem elementos que interferem di- retamente no trabalho do docente e este, por sua vez, poderá fazer diferentes intervenções que favoreçam uma aprendizagem de qualidade. Assim sendo, a aula se organiza de maneira diferente. O quadro a seguir busca sistematizar os “passos” que guiam a aula na Pedagogia Tradicional (Herbart) e os que guiam a aula de acordo com a Pedagogia Nova (Dewey). U N IC ES U M A R 163 A Pedagogia Tradicional A Pedagogia Nova Herbart Dewey 1° passo: preparação 1° passo: atividade 2° passo: apresentação 2° passo: problema 3° passo: assimilação 3° passo: coleta de dados 4° passo: generalização 4° passo: hipótese 5° passo: aplicação 5° passo: experimentação Quadro 3 - Organização do ensino: Pedagogia Tradicional versus Pedagogia Nova Fonte: elaborado com base em Saviani (1999). No final do século XX, outro movimento de renovação dos fundamentos da educação no Brasil se fez presente com a chegada das obras de Jean Piaget com tradução para o português. Jean William Fritz Piaget – nascimento em Neuchâtel, Suíça (1896) e falecimento em Genebra, Suíça (1980) – foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço. Defendeu uma abordagem interdisciplinar para a investi- gação epistemológica e fundou a Epistemologia Genética, teoria que tem como base o estudo da gênese psicológica do pensamento humano. Piaget revolucionou a educação de crianças ao mostrar que elas não pensam como os adultos e constroem o próprio aprendizado. Contudo, Piaget não cria um método, como ele próprio gostava de frisar. Ele nunca atuou como pedagogo. Em outras palavras, Piaget chega à conclusão que a chave para o desenvolvimento e a aprendizagem infantil é o desafio: quando se sente instigada a ir em busca do conhecimento, a criança mobiliza seus esquemas mentais e, assim, procura resol- ver a situação e a fim de se adaptar (“resolver”) ao problema ao qual foi exposta. U N ID A D E 5 164 3 A PEDAGOGIA TECNICISTA NO BRASIL: FUNDAMENTOS históricos e filosóficos Saviani (1999) argumenta que as mudanças que ocorreram no trabalho peda- gógico e que desembocaram na Escola Tecnicista estavam de acordo com as ocorridas no trabalho fabril. A Pedagogia Tecnicista foi teorizada com base no pressuposto da “neutralidade científica” e inspirada nos princípios de “racionali- dade”, “eficiência” e “produtividade”. Neste sentido, essa pedagogia advoga a reor- denação do processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e operacional. De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril, pretende-se a objetivação do trabalho pedagógico. “ Buscou-se planejar a educação de modo a dotá-la de uma organi-zação racional capaz de minimizar as interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua eficiência. Para tanto, era mister opera- cionalizar os objetivos e, pelo menos em certos aspectos, mecanizar o processo. Dar a proliferação de propostas pedagógicas tais como o enfoque sistêmico, o microensino, o teleensino, a instrução pro- gramada, as máquinas de ensinar etc. Daí também o parcelamento do trabalho pedagógico com a especialização de funções, postu- lando-se a introdução no sistemade ensino de técnicos dos mais diferentes matizes. Daí, enfim, a padronização do sistema de ensino a partir de esquemas de planejamento previamente formulados aos quais devem se ajustar as diferentes modalidades de disciplinas e práticas pedagógicas (SAVIANI, 1999, p.25). U N IC ES U M A R 165 Em outros termos, a Pedagogia Tecnicista propôs a reorganização dos processos de ensino e de aprendizagem de maneira que a educação se tornasse voltada ao útil, ao prático, ao “aprender fazer”, no lugar do “pensamento” e da “reflexão”. Buscou-se, então, com base em justificativas teóricas derivadas da corrente filo- sófico-psicológica behaviorista/comportamentalista – abordagem que, grosso modo, considera que a aprendizagem efetiva só ocorre quando há mudança de comportamento no sujeito, daí o termo “comportamentalismo” –, planejar a edu- cação de modo a dotá-la de uma organização racional capaz de minimizar as interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua eficiência. Se na Pedagogia Tradicional a iniciativa cabia ao professor e se na Pedago- gia Nova a iniciativa se deslocou para o educando, na Pedagogia Tecnicista o elemento principal passou a ser a organização racional dos meios, ocupando o professor e o aluno posição secundária. A organização do processo se converteu na garantia da eficiência, compensando e corrigindo as deficiências do professor e maximizando os efeitos de sua intervenção. Tendo como “pano de fundo” a teoria do capital humano, os princípios da racionalidade, eficiência e produtividade passam a fazer parte das ideias pedagó- gicas no Brasil. Em uma comparação, se na Pedagogia Tradicional o centro era o professor, na Pedagogia Nova o centro passa a ser o educando, na Pedagogia Tecnicista o centro passa a ser a organização racional dos meios. Então, se na Pedagogia Tradicional o importante era aprender, na Pedagogia Nova o impor- tante passa a ser o “aprender a aprender”, na Pedagogia Tecnicista o importante passa a ser o “aprender a fazer”. O quadro a seguir sistematiza a distinção que há entre as três tendências pedagógicas que organizaram e, ao mesmo tempo, buscaram didatizar os fundamentos históricos e filosóficos da educação no Brasil do século XVI ao século XX: U N ID A D E 5 166 A Pedagogia Tradicional (pressupostos e fundamentos) A Pedagogia Nova (pressupostos e fundamentos) A Pedagogia Tecnicista (pressupostos e fundamentos) O intelecto O sentimento O objetivo O aspecto lógico O psicológico O operacional Os conteúdos cogni- tivos Os métodos ou proces- sos pedagógicos A objetivação do traba- lho pedagógico O professor O aluno Os meios O esforço O interesse A eficiência A disciplina Para a espontaneidade A produtividade O diretivismo Para o não diretivismo O operacionalismo A quantidade A qualidade Para o controle do com- portamento Uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência lógica Uma pedagogia de inspiração experimental baseada principalmente nas contribuições da biologia e da psicologia Para uma pedagogia de inspiração na psicologia behaviorista (comporta- mentalismo), ênfase no estímulo-resposta “O importante é aprender” O importante é “apren- der a aprender” O importante “aprender a fazer” Quadro 4 - Comparação entre os fundamentos da Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Tecnicista / Fonte: elaborado com base em Saviani (1999). Mediante estas três abordagens, denominadas por Saviani (1999) como “teorias não críticas”, tivemos (e ainda estamos tendo) a presença daquilo que Saviani (1999) denomina como “ensaios contra-hegemônicos” nas ideias pedagógicas, isto é, as pedagogias críticas passam a se fazer presentes na orientação da prática educativa, sobretudo entre 1980 e 2010. Dentre estas, destacamos a “pedagogia crítico-social dos conteúdos”, de José Carlos Libâneo, e a “pedagogia histórico- -crítica”, autoria do próprio professor Saviani. U N IC ES U M A R 167 4 A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA NO BRASIL: fundamentos históricos e filosóficos Para Saviani (1999), as três concepções que se fizeram presentes no Brasil até o final do século XX – Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Tecnicista –, embora tenham cada uma sua especificidade, do ponto de vista dos fundamentos históricos e filosóficos que dão à educação escolar, têm uma mesma visão em relação às bases do processo de escolarização: a reprodução da sociedade. A diferença é que (i) os métodos de ensino “tradicionais” privilegiam os métodos de transmissão dos conhecimentos já obtidos; (ii) os métodos de en- sino “novos” privilegiam os processos de obtenção dos conhecimentos. Para além dos métodos novos e tradicionais, a proposta de uma Pedagogia Revolucionária, Histórico-Crítica, fundamentada nos ideais democráticos e nas ideias de Karl Marx (marxismo), em discussão no Brasil da década de 80 aos dias atuais, busca “[...] superar por incorporação as contribuições de uns e de outros” (SAVIANI, 1999, p. 79). No campo das teorias críticas, temos, no Brasil, a Psicologia Históri- co-Cultural. Dentre os teóricos e obras principais desta teoria, temos: Vigotskii, Luria e Leontiev (2016) e Vygotsky (1984 e 1989). Segundo a teoria de Vygotsky, “[...] há uma diferença entre o que o sujeito pode fazer sozinho e o que ele pode fazer com a ajuda de um parceiro” (BRASIL, U N ID A D E 5 168 2015, p. 103). Dessa forma, pode-se dizer que o professor “[...] pode atuar a partir da zona de desenvolvimento proximal dos alunos, qualquer que seja o nível, e assim promover o desenvolvimento de cada aluno” (BRASIL, 2015, p. 103). Nas palavras de Vygotsky (1984, p. 97), “ [...] a Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de ma-turação, funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente, em estado embrionário. Dentre as pedagogias críticas que passam a se fazer presentes na orientação da prática educativa, destacamos a “pedagogia crítico-social dos conteúdos”, de José Carlos Libâneo, e a “pedagogia histórico-crítica”, autoria do próprio professor Dermeval Saviani. O quadro a seguir busca sistematizar como se diferencia a organização da aula na medida em que o docente tem como base (1) a Pedagogia Tradicional; (2) A Pedagogia Nova e (3) A Pedagogia Revolucionária (crítica) e seus fundamentos históricos e filosóficos. A Pedagogia Tradicional A Pedagogia Nova A Pedagogia Revolucionária (crítica) Herbart Dewey Saviani 1° passo: preparação 1° passo: atividade 1° passo: prática social 2° passo: apresen- tação 2° passo: problema 2° passo: problematização 3° passo: assimilação 3° passo: coleta de dados 3° passo: instrumentali- zação 4° passo: generaliza- ção 4° passo: hipótese 4° passo: catarse 5° passo: aplicação 5° passo: experimen- tação 5° passo: prática social Quadro 5 - Comparação entre os passos da aula - Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Histórico-Crítica / Fonte: adaptado de Saviani (1999). U N IC ES U M A R 169 Atualmente, as diferentes abordagens pedagógicas expostas acimas podem coexistir no ambiente escolar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (9.394/96) garante a pluralidade de ideias pedagógicas na escola pública brasilei- ra. Cabe ao professor refletir: a criança, ao chegar à escola, traz consigo sua his- tória e sua cultura. Isto deve ser considerado como algo relevante nos processos de ensino e de aprendizagem. A ação educativa só tem sentido se estiver adequada a este sujeito, sua idade e seu contexto de vida. O que escrevo? Quando escrevo? Como escrevo? Para quem escrevo? O que leio? Quando leio? Como leio? Para quem leio? Por que estudo? O que estou estudando? São perguntas que devem estar presentes e serem res- pondidas no dia a dia no processo de escolarização. Respostas a estas perguntas são encontradas nos fundamentos históricos e filosóficos que a educação escolar brasileira vem tendo ao longo do desenvolvimento doacesso à escolarização para todos. Cabe ao professor definir qual estratégia, pedagogia, abordagem, funda- mento e prática guiará o seu agir na sala de aula. U N ID A D E 5 170 5 PAULO FREIRE E SEUS IMPACTOS NOS FUNDAMENTOS históricos e filosóficos na educação no Brasil e no mundo Paulo Freire é um pensador que não pensa as ideias, mas a existência humana. Por isto, propõe uma escolarização na qual o sujeito seja capaz de aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se. Na proposta de Paulo Freire, por meio dos círcu- los de cultura, o professor passa a propiciar condições favoráveis à dinâmica do grupo, reduzindo ao mínimo sua intervenção direta no curso do diálogo. Neste sentido, o educando começa a escrever livremente, não copia palavras, mas expressa juízos. Então, Freire não inventa um método de ensino, mas, po- deríamos dizer, um “método de conscientização”. O conhecimento do mundo da leitura, da escrita, da literatura e das ciências se tornam toda a pedagogia: os saberes ocorrem quando o sujeito aprende a dizer a sua própria palavra. E a palavra humana é criadora, então, aprende-se criando, pensando, filosofando; dialogando com o outro. Quanto à justificativa em relação à “Pedagogia do oprimido”, Paulo Freire explicita que ela é necessária diante da necessidade de que haja o desapareci- mento da rigidez nas relações educador-educando. Neste sentido, a pedagogia do oprimido é “[...] aquela que tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade” (FREI- RE, 2005, p. 34). O autor considera que a grande tarefa humanística e histórica dos oprimidos é libertar a si e aos opressores. U N IC ES U M A R 171 é, a aula expositiva, tendo como metodologia principal o ensino verbalista (a Pedagogia Tradicional, como vimos anteriormente). Consiste em uma relação educador-educandos na qual a narração se torna produto didático, sendo, então, o educador o sujeito que “ [...] conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em ‘vasilhas’, em recipientes a serem ‘enchidos’ pelo educador. Quanto mais vá ‘en- chendo’ os recipientes com seus ‘depósitos’, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente ‘encher’, tanto melhores educandos serão (FREIRE, 2005, p. 66). Na visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sá- bios aos que “nada sabem”. Nesta concepção, os seres humanos são vistos como seres da adaptação, do ajustamento. Para se perpetuar, a concepção “bancária” (Pedagogia Tradicional) nega a dialogicidade, ou seja, o diálogo, a “conversa” e, portanto, faz-se antidialógica. Figura 2 - Paulo Freire Fonte: Wikimedia (1977, on-line)4. Descrição da Imagem: Retrato em preto e branco de Paulo Freire. O pedagogo está de terno preto e blusa branca por baixo. Ele usa óculos de grau e tem uma barba branca que vai até o pescoço. Um dos elementos básicos na media- ção opressores-oprimidos é a prescri- ção. “Toda prescrição é imposição da opção de uma consciência a outra”, diz Paulo Freire (2005, p. 36-37). A Pedagogia do Oprimido é a pedago- gia dos sujeitos empenhando-se na luta por sua libertação. Ela “busca a restauração da intersubjetividade, se apresenta como pedagogia do ho- mem” (FREIRE, 2005, p. 45). Impor- tante apontar que, para Paulo Freire, ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os seres humanos se libertam em comunhão. Por isto, não existe autolibertação – ninguém se liberta sozinho. A Pedagogia do Oprimido se opõe ao que Paulo Freire denomina “con- cepção ‘bancária’ da educação”, isto U N ID A D E 5 172 “A obra de Paulo Freire tem sido reconhecida mundialmente não apenas como uma res- posta a problemas brasileiros do passado ou do presente, mas como uma contribuição original e destacada da América Latina ao pensamento pedagógico universal. Não se pode dizer que seu pensamento responda apenas à questão da educação de adultos ou à pro- blemática do chamado ‘Terceiro Mundo’”. (Moacir Gadotti) pensando juntos Por outro lado, a Pedagogia do Oprimido afirma a dialogicidade e se faz dialógica. Considera que ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mes- mo, os seres humanos se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Trata-se de uma concepção de educação problematizadora que parte exatamente do caráter histórico e da historicidade dos homens. “Enquanto a concepção ‘bancária’ dá ênfase à permanência, a concepção problematizadora reforça a mudança”, diz Paulo Freire (2005, p. 84). A dialogicidade é a essência da educação como prática da liberdade tendo como sua essência a palavra, pois “não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí que dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo” (FREIRE, 2005, p. 89). En- tretanto, não há diálogo quando não se acredita no potencial de desenvolvimento e de aprendizagem que há no ser humano. É a “fé” no poder humano “[...] de fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens” , diz o autor (FREIRE, 2005, p. 93). O diálogo começa na busca pelo conteúdo programático. Será, portanto, “a partir da situação presente, existencial, concreta, refletindo o conjunto de aspira- ções do povo, que poderemos organizar o conteúdo programático da educação ou da ação política” (FREIRE, 2005, p. 100). Metodologicamente, na Pedagogia do Oprimido/Pedagogia Dialógica, deli- mitada a área em que se vai trabalhar, conhecida por meio de fontes secundárias, começam os investigadores a primeira etapa de investigação. Em seguida, vem a segunda fase da investigação que começa quando os investigadores, por meio dos dados colhidos, chegam à apreensão daquele conjunto de contradições em torno do tema gerador investigado. A última etapa se inicia quando os investi- gadores (os educandos), terminadas as descodificações nos círculos, dão começo ao estudo sistemático e interdisciplinar de seus achados. U N IC ES U M A R 173 Paulo Freire diz que não há revoluções com verbalismos, nem tampouco com ativismo, mas com práxis, portanto, com reflexão e ação incidindo sobre as estruturas a serem transformadas. Desta forma, atores, no plural, em intersubjeti- vidade e intercomunicação estarão em oposição à ação antidialógica, mecanicista. A teoria da ação antidialógica se respalda em uma visão localista dos problemas humanos e não na visão deles como dimensão de uma totalidade, pela manipu- lação das massas oprimidas e pela invasão cultural, isto é, “[...] é a penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão do mundo, enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua expansão” (FREIRE, 2005, p. 173). Por sua vez, a teoria da ação dialógica tem como carac- terísticas a “co-laboração”, a união, a organização e a síntese cultural. O quadro a seguir busca demonstrar a distinção entre a educação bancária e a educação libertadora, nos termos defendidos por Paulo Freire. Educação bancária versus Educação libertadora Educação bancária Educação libertadora Contradição entre educador-educando Superação da contradição entre edu- cador-educando Serve à dominação Serve à libertação Antidialógica Dialógica Inibe a criatividade Estimula a criatividade e a reflexão Domesticadora Crítica Conservadora Revolucionária Quadro 6 - Contradição entre educação bancária e educação libertadora Fonte: elaborado com base em Freire (2005). Em síntese, por meio da Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire busca uma nova concepção de educação que se efetive em busca da mudança/transformação so- cial e, assim, a construção de uma sociedade humanizada. U N ID A D E 5 174 O Ministério da Educação (MEC) disponibiliza on-line a Coleção Educadores, com 62 títulos. Dentre as obras, 31 são de autores brasileiros, 30 são livrosde pensadores estrangeiros e um livro é intitulado Manifesto dos pioneiros da Educação Nova (1932) e dos educadores (1959). conecte-se Esta última unidade do nosso livro se centrou nos estudos dos fundamentos his- tóricos e filosóficos da educação no Brasil. Com base em Saviani (2007), identifi- camos quatro períodos da história da educação no Brasil: 1° Período (1549-1759): Monopólio da vertente religiosa da pedagogia tradicional; 2° Período (1759- 1932): Coexistência entre as vertentes religiosa e leiga da pedagogia tradicional; 3° Período (1932-1969): Predominância da pedagogia nova; 4° período (1969- 2001): Configuração da concepção pedagógica produtivista. O conhecimento dos diferentes momentos que fizeram parte da construção dos fundamentos da educação no Brasil nos possibilita refletir sobre o que é ser professor nos dias atuais. Somos o que somos mediante uma identidade que foi sendo construída ao longo do desenvolvimento do pensamento educacional ocidental. Parabéns por seus estudos! CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desta última unidade (Unidade 5), buscamos compreender os funda- mentos históricos e filosóficos da educação no Brasil. Primeiramente, analisamos a influência dos padres jesuítas como o primeiro esboço de uma concepção de educação sistemática. Com uma pedagogia de base cristã, esta predominou em nosso país até a expulsão dos jesuítas em 1759. Neste período, predominou a Pedagogia Tradicional no Brasil. Com a abolição da escravidão (1888) e a Proclamação da República (1889), o ideário de “ensinar tudo a todos” passa a se fazer presente. Logo que surgem os primeiros grupos escolares, a abordagem hoje denominada “tradicional” começa a ser questionada, tendo o seu ápice com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, ou seja, a Pedagogia Nova foi uma das principais vertentes que deram fundamentos históricos e filosóficos à educação no Brasil no século XX. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.do?first=50&skip=0&ds_titulo=&co_autor=&no_autor=&co_categoria=133&pagina=1&select_action=Submit&co_midia=2&co_obra=&co_idioma=&colunaOrdenar=DS_TITULO&ordem=null U N IC ES U M A R 175 Contudo, ainda no século XX, tivemos a Pedagogia Tecnicista, que predomi- nou durante o regime militar. Centrada no “aprender a fazer”, tinha como funda- mento ideológico o produtivismo. Com a redemocratização do Brasil, a Constituição de 1988 estabelece o desafio de melhorar a qualidade da educação no Brasil. Temos, então, as Pedagogias Críti- cas. O Estados e os governos, com diferentes enfoques com relação à escolarização, têm o desafio de encontrar fundamentos históricos e filosóficos para uma educação que seja capaz de alcançar o ideário contemporâneo: ensinar tudo a todos. Nos dias atuais – século XXI –, o Brasil ainda enfrenta inúmeros desafios na (i) formação cultural, (ii) na educação e (iii) na pedagogia. Sobre os fundamen- tos históricos e filosóficos da educação para o século XXI, por um lado, temos o desafio de responder qual a finalidade da educação que está sendo ofertada atual- mente como obrigatória, bem como quais os fundamentos do ensino superior (graduação e pós-graduação); por outro lado, se damos uma resposta como, por exemplo, de que “a educação no Brasil centra-se na formação para o trabalho”, cabe a nós, professores, questionarmos se é exclusivamente para o trabalho que a educação forma e/ou deve formar. 176 na prática 1. Leia com atenção a assertiva a seguir que comenta sobre a pedagogia tradicional: Algumas concepções pedagógicas norteiam o trabalho realizado nas instituições de ensino. Dentre elas, temos a da Pedagogia Tradicional que muito contribuiu para o surgimento de outras concepções. Acerca das características da Pedagogia Tradicional e seu processo (Processo Tradicio- nal), analise as questões a seguir. I - A Pedagogia Tradicional defende que o educando elabore/construa seus pró- prios conhecimentos. A criança é o centro do processo educativo. II - A Pedagogia Tradicional é uma tendência pedagógica centrada no professor. III - A Pedagogia Tradicional se caracteriza pela ênfase dada à necessidade de que ocorra a apropriação do conhecimento, porém, isto só ocorre quando o edu- cando decora o conteúdo ensinado. IV - A Pedagogia Tradicional evidencia o professor como o “centro” do saber e o principal agente para que ocorra a aprendizagem. Estão corretas as alternativas: a) I, II, III e IV. b) II, III e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) I, II, III, apenas. e) I e IV, apenas. 2. Considere a seguinte citação: “[...] uma forma intermediária de castigo, entre o físico e o moral, era deixar o aluno em pé, durante a aula, enquanto os colegas permane- ciam sentados. Nesse caso, era castigado fisicamente, pela posição, e moralmente, pelo fato de tornar-se visível a todos os colegas sua fragilidade. Era a exposição pública do erro” (LUCKESI, C. C. Prática Escolar: do Erro Como Fonte de Castigo ao Erro Como Fonte de Virtude. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ ideias_08_p133-140_c.pdf. Acesso em: 29 ago. 2020. 177 na prática O rígido controle e a disciplina dos conteúdos são procedimentos adotados na: a) Escola Tradicional. b) Pedagogia das Competências. c) Escola Nova. d) Pedagogia Anarquista. e) Escola Libertária. 3. Considerando os fundamentos históricos e filosóficos do Processo Construtivista (Jean Piaget) e sua influência sobre a educação na contemporaneidade, assinale a única alternativa correta. a) No Processo Construtivista, o método é o responsável pela aquisição da apren- dizagem. b) No Processo Construtivista, a obtenção do conhecimento é resultado da atividade do próprio sujeito (“sujeito cognoscente”). c) No Processo Construtivista, o ponto de partida para a aprendizagem é o conteú- do transmitido pelo professor. d) No Processo Construtivista, a linguagem oral, a escrita e a leitura se desenvolvem separadamente, atuando, porém, de maneira interdependente no processo de aprendizagem. e) No Processo Construtivista, o ponto de partida para o conhecimento é a diver- sidade cultural e a pluralidade. 4. Leia com atenção os Textos 1 e 2 que tratam dos fundamentos históricos e filosóficos da educação da Pedagogia Tradicional no Brasil. Texto 1 “O termo pedagogia tradicional [...] adveio do estudo das concepções antigas de educação. Essa teoria ou concepção pedagógica formou-se a partir dos pontos re- correntes nas práticas de ensino evidentes ao longo da história da educação. Daí o termo Pedagogia Tradicional, para explicitar a sua recorrência, a sua gênese históri- co-cronológica”. (Disponível em: http://www.infoescola.com/pedagogia/concepcao- -pedagogica-tradicional/. Acesso em: 01 jul. 2020). 178 na prática Texto 2 Segundo o verbete criado pelo filósofo e pedagogo brasileiro Dermeval Saviani para o glossário do sítio da Unicamp [...], a introdução da denominação “Concepção Pe- dagógica Tradicional ou Pedagogia Tradicional foi introduzida no final do século XIX com o advento do movimento renovador que, para marcar a novidade das propostas que começaram a ser veiculadas, classificaram como ‘tradicional’ a concepção até então dominante” (Disponível em: http://www.infoescola.com/pedagogia/concep- cao-pedagogica-tradicional/. Acesso em: 01 jul. 2020). Considerando que os textos têm caráter unicamente motivador, redija um texto disser- tativo explicando, de acordo com os pressupostos de Dermeval Saviani na obra Escola e Democracia acerca da Pedagogia Tradicional, contemplando os seguintes aspectos: a) Como a Pedagogia Tradicional vê a função da escola. b) Como a escola se organiza de acordo com a Pedagogia Tradicional. 179 na prática 5. Na obra Escola e Democracia, a fim de demonstrar que, por referência à Pedagogia Tradicional, a maneira de entender a educação passou por um “deslocamento do eixo da questão pedagógica”, implicando na Pedagogia Nova, Saviani sistematiza estas mudanças da seguinte forma: A Pedagogia TradicionalA Pedagogia Nova Do intelecto Para o sentimento Do aspecto lógico Para o psicológico Dos conteúdos cognitivos Para os métodos ou processos pedagógi- cos Do professor Para o aluno Do esforço Para o interesse Da disciplina Para a espontaneidade Do diretivismo Para o não diretivismo Da quantidade Para a qualidade De uma pedagogia de inspi- ração filosófica centrada na ciência lógica Para uma pedagogia de inspiração experi- mental baseada principalmente nas contri- buições da biologia e da psicologia De “o importante é aprender” Para “o importante é aprender a aprender” Considerando que o quadro tem caráter unicamente motivador, redija um texto dis- sertativo-argumentativo sobre a pedagogia tradicional e sua didática, contemplando os seguintes tópicos: a) A função da escola de acordo com a Pedagogia Tradicional (considere os funda- mentos históricos e filosóficos desta abordagem pedagógica). b) Como a escola é organizada de acordo com essa Pedagogia. c) A didática da Pedagogia Tradicional (método expositivo – Herbart). 180 aprimore-se A PROBLEMÁTICA ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE ENSINO E MÉTODOS DE APRENDIZAGEM E CONHECIMENTO Como professores, buscando refletir sobre os fundamentos históricos e filosóficos da educação, é importante compreender que método não cria conhecimento, isto é, mais importante que escolha do método de ensino é a permissão de que o edu- cando possa agir sobre o objeto de conhecimento da disciplina, como explicitam Ferreiro e Teberosky (1999, p. 32). “ A concepção da aprendizagem (entendida como um processo de ob-tenção de conhecimento) inerente à psicologia genética supõe, neces-sariamente, que existem processos de aprendizagem do sujeito que não dependem dos métodos (processo que, poderíamos dizer, pas- sam ‘através’ dos métodos). O método (enquanto ação específica do meio) pode ajudar ou frear, facilitar ou dificultar; porém, não pode criar aprendizagem. A obtenção de conhecimento é um resultado da própria atividade do sujeito. [...]. Um sujeito intelectualmente ativo não é aquele que ‘faz muitas coisas’, nem um sujeito que tem uma atividade obser- vável. Um sujeito ativo é aquele que compara, exclui, ordena, categori- za, reformula, comprova, formula hipóteses, reorganiza, etc., em ação interiorizada (pensamento) ou em ação efetiva (segundo seu nível de desenvolvimento). Um sujeito que está realizando materialmente algo, porém, segundo as instruções ou o modelo para ser copiado, dado por outro, não é habitualmente, um sujeito intelectualmente ativo. De fato, com a modernidade, a educação se defronta com a divergência entre: por um lado, (i) as tendências de uma instrução ligada à tradição medieval, qual seja, ao ensino centrado no método, que tem como nuances o ensino livresco, escolás- tico, prescritivo, centrado no professor; por outro lado, (ii) a proposta de uma esco- la fundada na experiência, no saber pragmático, centrado na criança, próprio das exigências da nova ordem de relações que se instaura nas sociedades capitalistas avançadas e com as novas tecnologias (internet, redes sociais, smartphones, com- putadores, tablets etc.). 181 eu recomendo! Johann Herbart Autor: Norbert Hilgenheger Editora: Ministério da Educação (MEC), Fundação Joaquim Nabu- co e Editora Massangana Sinopse: as principais obras filosóficas de Herbart são: Haup- tpunkte der Metaphysik [Elementos essenciais da metafísica] (1806); Allgemeine Praktische Philosophie [Filosofia prática geral] (1808); Psychologie als Wissenschaft: neugegründet auf Erfahrung, Metaphysik und Mathematik [A psicologia como ciência, novamente fundada na experiência, na metafísica e nas matemáticas] (1824-1825) e Allgemeine Metaphysik nebst den Anfängen der Philosophischen Naturlehre [Metafísica geral com os primeiros ele- mentos de uma filosofia das ciências da natureza] (1828-1829). Este livro aborda vida e obra de Herbart, tanto do ponto de vista filosófico como do ponto de vista pedagógico. Comentário: esta publicação tem a cooperação da UNESCO no âmbito do Acordo de Cooperação Técnica MEC/UNESCO, o qual tem como objetivo a contribuição para a formulação e implementação de políticas integradas de melhoria da equi- dade e qualidade da educação em todos os níveis de ensino formal e não formal. Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos nes- te livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não são, necessariamente, as da UNESCO, nem comprometem a Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo desta publicação não implicam a manifesta- ção de qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, tampouco da delimitação de suas fronteiras ou limites. livro 182 eu recomendo! Seis estudos de psicologia Autor: Jean Piaget Editora: Forense Universitária Sinopse: as pesquisas psicológicas de Jean Piaget visam não so- mente conhecer a própria criança e aperfeiçoar os métodos peda- gógicos e educativos, mas também compreender o homem. Este livro, composto de artigos e conferências do mestre genebrino, propõe-se a ser uma introdução à obra de Piaget. Na primeira parte, apresenta a síntese das descobertas de Piaget no campo da Psicologia da criança, demons- trando como se verifica o seu desenvolvimento mental. Na segunda parte, são abordados problemas centrais do pensamento, da linguagem e da afetividade na criança, através de numerosos exemplos e estudos de casos. Trata-se de obra indispensável para professores, psicólogos, pedagogos e demais profissionais da área de educação. livro 183 eu recomendo! Ciência e comportamento humano Autor: Burrhus Frederic Skinner Editora: Martins Fontes Sinopse: de início, “Pode-se dizer que as bases fundamentais que norteiam a obra de Skinner estão vinculadas à sua pretensão de fazer da Psicologia uma ciência e, para compreender essas bases filosóficas, precisamos identificar os modelos de ciência que ele adota” (MICHELETTO, 2001, p. 31). É assim que, para nos aproximarmos da abor- dagem comportamentalista radical – definida pelo próprio Skinner (1974/1995), inclusive, como a de uma filosofia da ciência – a obra busca empreender uma análise da sua concepção de ciência, pilar essencial para a fundamentação de qualquer modo dito científico de encarar o homem e o seu comportamento. In- dissociável desse objetivo, aparece como essencial, também, a discussão da sua concepção de comportamento humano. livro A formação social da mente Autor: Lev Semyonovich Vygotsky Editora: Martins Fontes Sinopse: há muito tempo o grande psicólogo russo L. S. Vigots- ki é reconhecido como um pioneiro da psicologia do desenvolvi- mento. No entanto, sua teoria do desenvolvimento nunca foi bem compreendida no Ocidente. A formação social da mente vem su- prir grande parte dessa falha. Trata-se de uma seleção cuidadosa dos ensaios mais importantes de Vigotski, editada por um grupo de eminentes estudiosos da obra. livro 184 eu recomendo! Escola e democracia Autor: Dermeval Saviani Editora: Autores Associados Sinopse: o livro é composto por uma apresentação, quatro capí- tulos, um apêndice e um anexo. Nesta obra, Saviani buscou a arti- culação entre o trabalho desenvolvido nas escolas com o proces- so de democratização da sociedade brasileira. O fio condutor é a questão da marginalidade da escola da maioria das crianças e jovens latino-ameri- canos que não tem sido resolvida nem pelas teorias liberais nem pelos seus críticos. livro História das ideias pedagógicas no Brasil Autor: Dermeval Saviani Editora: Autores Associados Sinopse: História das ideias pedagógicas no Brasil, autoria de Der- meval Saviani, consiste em uma obra cujo objeto de investigação busca compreender a evolução do pensamento pedagógico bra- sileiro a partir da identificação, classificação e periodização das principais concepções educacionais. A partir da articulação de três níveis de análise(os níveis da filosofia da educação, da teoria da educação e da prática pedagógica), Saviani expõe a periodização revelada pelo estudo: 1° Período (1549-1759): Mono- pólio da vertente religiosa da pedagogia tradicional; 2° Período (1759-1932): Coe- xistência entre as vertentes religiosa e leiga da pedagogia tradicional; 3° Período (1932-1969): Predominância da pedagogia nova; 4° período (1969-2001): Configura- ção da concepção pedagógica produtivista. livro 185 eu recomendo! Fundamentos da Educação De maneira lúdica, o vídeo propõe a reflexão: Fundamentos da Educação, para quê? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sLSNtMWTYeA. conecte-se A educação através dos tempos No documento intitulado “A educação através dos tempos”, o Professor João Cardoso Palma Filho aborda os períodos da história da educação e, além disso, no final do documento, apresenta a síntese do pensamento de diversos pensadores: Sócrates, Platão, Aristóteles, Marco Fábio Quintiliano, Aurélio Agostinho, Martinho Lutero, Fran- cis Bacon, René Descartes, Galileu Galilei, Johannes Kepler, Nicolau Copérnico, John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Augusto Comte, Karl Marx, Émile Durkheim, Fernando de Azevedo, Thomas Morus, John Dewey, Anísio Teixeira, Ovide Decroly, Maria Mon- tessori, Édouard Claparède, Jean Piaget, Lev Semenovich Vygotsky, Henri Wallon, Pau- lo Freire, Edgar Morin etc. https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/173/1/01d06t01.pdf. conecte-se https://www.youtube.com/watch?v=sLSNtMWTYeA https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/173/1/01d06t01.pdf 186 conclusão geral conclusão geral Mediante o estudo dos quatro períodos da história da filosofia ocidental – Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea –, percebe-se que os pilares da educação vão se alterando ao longo do tempo e são influenciados por questões políticas, sociais, econômicas, filosóficas, psicológicas e históricas. Contudo, por que na prática docente do professor brasileiro, de acordo com pes- quisas, perdura o apego ao método, à autoridade e à rotina? A grosso modo, a res- posta a estas questões está relacionada a cinco fatores principais: (i) a concepção de infância (ainda persiste a ideia da criança como tábula rasa), (ii) a concepção de lin- guagem (a língua ainda é tratada como código), (iii) o ideológico (perdura no ideário pedagógico a perspectiva de escola como detentora de conteúdos), (iv) o psicológico (os docentes não são preparados psicologicamente para um novo agir pedagógico, conduzido pelo “como se aprende”, isto é, centrado na criança) e (v) o didático-me- todológico (professores centram o seu agir, no qual predomina a aula expositiva, a cópia e o ditado, porque desconhecem outras formas de trabalho). No momento atual, questionar o que significa uma “prática docente tradicional” é oportuno, especialmente porque encontramos no cenário nacional e internacio- nal o “desejo de mudanças” na área da educação. Almejamos práticas educacionais críticas, inovadoras e ativas. Os estudos dos fundamentos históricos e filosóficos da educação estão a propor, portanto, que possamos refletir sobre o presente. Ser professor no século XXI exige constante pensar sobre o porquê da educação para a contemporaneidade. referências 187 ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007. ADELMAN, M. Visões da Pós-modernidade: discursos e perspectivas teóricas. Sociologias, Porto Alegre, ano 11, n. 21, p. 184-217, jan./jun. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/ pdf/soc/n21/09.pdf. Acesso em: 02 fev. 2020. ALEXANDRE JÚNIOR, M. Paradigmas de educação na antiguidade greco-romana. In: HVMA- NITAS, v. XLVII, 1995. 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A Filosofia da Educação é um saber crí- tico e reflexivo sobre o sentido da edu- cação, que discute e problematiza as questões relativas à formação humana. Nessa perspectiva, busca investigar os modos como determinados questiona- mentos ontológicos, epistemológicos, antropológicos, políticos, éticos e esté- ticos atuam sobre o agir educativo. Os problemas abordados pela filosofia da educação são datados e situados historicamente e respondem pelo tipo de racionalidade que orienta o agir educacional. Na medida em que a filo- sofia problematiza as origens, as justifi- cações e os limites do saber e o sentido da ação humana, ela torna consciente, para os envolvidos no processo edu- cativo, a racionalidade que determina suas ações. Assim, não é a filosofia que estabelece os fins ou o sentido ético da educação, mas ela problematiza essas questões. Unidade 2 1. E. 2. D. 3. E. 4. D. 5. C. Unidade 3 1. E. 2. A. 3. E. 4. D. 5. Comenius busca por um método de ensino que tem como características principais: uma didática mais racio- nal, ordenada e mais apropriada. Por meio desta didática, Comenius busca- va garantir aos indivíduos o acesso aos conhecimentos produzidos pela socie- dade moderna que começava a se in- dustrializar. Comenius defendia uma escola univer- sal, partindo do pressuposto da natu- reza educável do homem e da neces- sidade de uma educação escolarizada para ele. A construção de seu projeto educativo incluía todos. Unidade 4 1. B. 2. D. 3. D. 4. B. 5. As aulas expositivas correspondem a um modelo de ensino explorado por muito tempo e por muitas escolas. gabarito 196 Dessa maneira, o professor é o único responsável por conduzir a aula e os alunos participam de forma passiva. O principal impasse nesse cenário é fazer com que os alunos se mantenham mo- tivados, interessados e engajados. As metodologias ativas consistem na mudança do paradigma do aprendi- zado e da relação entre o educando e o professor. O aluno passa, então, a ser o protagonista e transformador do processo de ensino, enquanto o educa- dor assume o papel de um orientador, abrindo espaço para a interação e par- ticipação dos estudantes na constru- ção do conhecimento. A dinâmica do aprendizado no contex- to educacional tem passado por mui- tas transformações, sobretudo devido à facilitação do acesso às informações. O educador não é mais o único respon- sável pela exposição do conteúdo, a partir de agora ele se torna um inter- mediador dos processos de ensino e de aprendizagem. O ensino explícito se refere a uma prá- tica pedagógica “[...] que determina claramente os objetivos a alcançar e se constitui de procedimentos que con- duzam em direção a objetivos prefixa- dos, por meio de permanente orienta- ção e apoio às crianças” (SOARES, 2016, p. 337). O ensino construtivista se refere a “[...] um ensinonão diretivo, em que orien- tação à criança só é dada quando é demandada ou se revela necessária” (SOARES, 2016, p. 337). Assim, em sua formação, o professor necessita ter a ciência e desenvolver a habilidade de unir o ensino explícito (direto), conduzi- do por ele; com o ensino construtivista (indireto), conduzido pela criança (uma espécie de autoensino), porque certas aprendizagens não podem ser pro- priamente ensinadas (SOARES, 2016), mas provocadas, orientadas (SOARES, 2016). Toda aprendizagem é uma atividade de construção, um processo ativo e in- tencional, então a controvérsia entre ensino direto e ensino indireto, ensino versus aprendizagem, deve ser conhe- cida pelo professor em formação, justa- mente para que ele possa superar esta dicotomia e compreender a razão de cada uma destas estratégias didático- -metodológicas, validadas conforme os fundamentos históricos e filosóficos de cada uma delas ao longo da história da filosofia. Unidade 5 1. B. 2. A. 3. B. 4. A escola se organiza, pois, como uma agência centrada no professor, o qual transmite, segundo uma gradação lógi- ca, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que lhes são transmitidos. Como as inicia- tivas cabiam ao professor, o essencial era contar com um professor razoa- gabarito 197 velmente bem preparado. Assim, as escolas eram organizadas na forma de classes, cada uma contando com um professor que expunha as lições que os alunos seguiam atentamente e aplica- va os exercícios que os alunos deveriam realizar disciplinadamente. 5. Por considerar-se a principal instituição transmissora do conhecimento, para a pedagogia tradicional, a escola tem como principal função combater a ig- norância, logo, ela serve como um ins- trumento para equacionar o problema da marginalidade. Mediante a visão que a pedagogia tra- dicional tem acerca da escola como transmissora de conhecimentos, elas eram organizadas na forma de classes, cada uma contando com um professor que expunha as lições que os alunos seguiam atentamente e aplicava os exercícios que os alunos deveriam rea- lizar disciplinadamente. O ensino dito “tradicional” se estrutu- rou através de um método pedagógico, que é o método expositivo, cuja matriz teórica pode ser identificada nos cinco passos formais de Herbart. Esses passos são: 1) o passo da preparação, 2) o pas- so da apresentação, 3) o passo da com- paração e assimilação, 4) o passo da generalização e, por último, 5) o passo da aplicação. No ensino herbartiano, o passo da preparação significa basica- mente a recordação da lição anterior, logo, do já conhecido; através do passo da apresentação, é colocado diante do aluno um novo conhecimento que lhe cabe assimilar; a assimilação, portanto o terceiro passo, ocorre por compara- ção, isto é, a comparação do novo com o velho; o novo é assimilado a partir do velho. Esses três passos correspon- dem, no método científico indutivo, ao momento da observação. Trata-se de identificar e destacar o diferente entre os elementos já conhecidos. O passo seguinte, o da generalização, significa que, se o aluno já assimilou o novo co- nhecimento, ele é capaz de identificar todos os fenômenos correspondentes ao conhecimento adquirido. O passo da aplicação, que é o quinto passo do método herbartiano, coincide, via de regra, com as “lições para casa”. Fazen- do os exercícios, o aluno vai demons- trar se ele aprendeu, se assimilou ou não o conhecimento. Trata-se de veri- ficar por meio de exemplos novos, não manipulados ainda pelo aluno, se ele efetivamente assimilou o que foi ensi- nado. Corresponde, pois, ao momento da confirmação, no caso do método científico, uma vez que, se o aluno apli- cou corretamente os conhecimentos adquiridos, se ele acertou os exercícios, a assimilação está confirmada. Pode-se afirmar que ao ensino correspondeu uma aprendizagem. Por isso, a prepa- ração da lição seguinte começa com a recapitulação da anterior, o que é feito normalmente mediante a correção da lição de casa. Eis, pois, a estrutura do método tradicional; na lição seguin- te começa-se corrigindo os exercícios, porque essa correção é o passo da pre- paração. anotações anotações anotações CONCEITOS E ABORDAGENS, ESTRUTURAS e ciclo de vida de projetos PMI - PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE Áreas de Conhecimento I PMI - PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE Áreas de Conhecimento II PMI - PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE Áreas de Conhecimento III conclusão geral Botão 1: Button 2: Button 3: Botão 2: Button 1: