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AULA 2 GESTÃO DO SUAS – PLANO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E PACTO DE APRIMORAMENTO DO SUAS Profª Adriana Zanqueta Wilbert Ito 2 TEMA 1 – CONTEXTUALIZANDO O PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Para que o Estado possa atender às demandas da população com devida prudência e responsabilidade, o planejamento se torna uma ferramenta imprescindível. Corroborando Justin e Frota (2006) – pensando especialmente no contexto brasileiro, com diferenças peculiares nas perspectivas geográfica, cultural e econômica –, pensar planos, programas e serviços demanda considerar uma grande diversidade de fatores. Fazendo uma retrospectiva histórica sobre a maneira de desenvolver políticas públicas no cenário brasileiro, ficam evidentes as características conservadoras e centralizadoras. As referidas autoras enfatizam que o fator econômico geralmente está diante de questões sociais. A burocracia e a falta de diálogo entre os setores são muito frequentes, dificultando a formulação das agendas públicas. Geralmente, observamos que os responsáveis pela gestão pública procuram responder aos problemas oriundos do cotidiano da vida em sociedade atendendo às urgências e emergências e destinando pouco tempo, ou quase nada, para uma atitude preventiva. Também é comum observar que, muitas vezes, são atendidos problemas de interesse político, de instituições ou de pequenos grupos, em detrimento da genuína necessidade do coletivo. Morato e Silva (2016, p. 2) utilizam uma reflexão de Azevedo (2004), que afirma: em um contexto socioeconômico complexo o papel do planejamento para a elaboração das políticas públicas é fundamental, o que exige da gestão pública o desenvolvimento de estratégias não simplificadoras da realidade, ou melhor, estratégias que atendam às complexidades das situações existentes. É possível afirmar que a resistência em desenvolver políticas públicas pautadas em metodologias de cunho científico advém de um contexto cultural, que tem em suas raízes históricas o entendimento de que a política pública seja utilizada como uma ferramenta de controle e manipulação para os interesses de pequenos e seletos grupos. Ao se debruçarem sobre os conceitos, Morato e Silva (2016) apresentam planejamento como uma das funções administrativas prioritárias. Assim sendo, planejar demanda “conhecer e entender o contexto; é saber o que se quer e como atingir os objetivos; é saber como se prevenir; é calcular os riscos e buscar 3 minimizá-los; é preparar-se taticamente; é ousar as metas propostas e superar- se de maneira contínua e constante” (Chiavenato; Sapiro, 2003, p. 1, citados por Morato; Silva, 2016, p. 3). Outra reflexão importante apresentada por esses autores é a de que o planejamento organizacional utilizado na esfera privada pode ser utilizado no âmbito das organizações públicas, porém demanda adaptações que atendam às complexidades existentes nesse cenário. Contextualizando historicamente, o planejamento na esfera governamental iniciou no fim da década de 1930, quando “diversos governos utilizaram o planejamento para alcançar o desenvolvimento nacional, mas foi na década de 1950 que a experiência com o planejamento governamental no Brasil tornou-se mais significativa” (Paludo; Procopiuck, 2014 citados por Morato; Silva, 2016, p. 3). Planejar implica olhar para a realidade concreta, a qual é mutante, por isso a atitude de planejar demanda criar estratégias para alcançar os objetivos estabelecidos. Nesse sentido, Morato e Silva (2016, p. 4) afirmam que: no setor público o processo de planejamento tem o objetivo de conduzir a sociedade a um futuro melhor. O planejamento no setor público defronta-se com os interesses da sociedade, os quais são múltiplos e, na maioria das vezes, apresentam interesses que geram conflitos sociais. O desenvolvimento do planejamento no setor público é mais complexo que o planejamento voltado para o setor privado, visto que envolve um âmbito maior e complexo de análise de situações, identificação de tendências e analises de alternativas. Ainda seguindo essa linha de pensamento, Paludo e Procopiuck (2014), citados por Morato e Silva (2016, p. 4), afirmam que: o planejamento governamental, para ser oportuno e eficaz em suas ações, deve prever vários cenários de futuro, com diferentes ações para cada um. É preciso estar preparado para as surpresas e ter capacidade de agir com rapidez. É necessário ter planos de contingência para poder atuar com rapidez e eficácia a fim de minimizar a vulnerabilidade do plano principal. (Paludo; Procopiuck, 2014, p. 137). O planejamento governamental é um processo constituído por normas e técnicas exclusivas que buscam proporcionar o desenvolvimento nacional, regional e local. Diante do exposto, de acordo com os autores supracitados, ao desenvolver o planejamento no âmbito das organizações públicas, o foco é garantir segurança, geração de riqueza e bem-estar para a população, procurando não prejudicar o equilíbrio das finanças públicas no presente e no futuro. 4 Estudos de Justin e Frota (2006) destacam que os primeiros atos de planejamento no âmbito governamental no Brasil tiveram evidência nos anos 1930. Salientam, ainda, que nos anos 1980 surge o Plano Plurianual, que existe até hoje, em especial como referência para a área orçamentária nas três esferas do governo. Dessa maneira, cabe deixar claro o que são as políticas públicas. Para compreendermos melhor sobre o assunto, nos embasaremos nas autoras Justin e Frota (2006), que sintetizam desta forma o contexto histórico: As políticas públicas surgem nos Estados Unidos como área de conhecimento e disciplina acadêmica, sem estabelecer relações com as bases teóricas sobre o papel do Estado, passando direto para a ênfase nos estudos sobre a ação dos governos, diferenciando-se da tradição europeia de estudos e pesquisas nessa área, que estavam concentradas na análise do Estado e suas instituições. Assim, na Europa, a área de política pública começa como um desdobramento de trabalhos baseados em teorias sobre o papel do Estado e do governo, produtor, por excelência, de políticas públicas. (Justin e Frota, 2006, p. 2-3) Conceituar políticas públicas não é tarefa fácil, pois na revisão de literatura é possível encontrar conceitos em diversas perspectivas, da vertente clássica à contemporânea. Os autores Rezende, Almeida, Almeida e Wander (2009) referendam Frey, citado por Tude (2000), o qual destaca que o termo política advém da língua inglesa, possuindo três dimensões de significados: uma dimensão institucional (polity), uma dimensão processual (politics) e uma dimensão material (policy/policies). A dimensão institucional (polity): como o próprio termo já diz, essa dimensão do conceito de “politica” na língua inglesa se refere ao ordenamento institucional do sistema político, as disposições jurídicas a que está sujeito e a estrutura institucional do sistema político- administrativo. A dimensão processual (politics): refere-se ao processo político como comumente entendemos, as relações conflituosas entres os diversos atores políticos, partidos e agentes do governo, diz respeito aos objetivos a serem alcançados, aos conteúdos e as decisões de distribuição de poderes. A dimensão material (policy): faz referência ao que entendemos como políticas (no plural), ou mais especificamente Políticas Públicas. São os conteúdos concretos da ação política, isto e, o resultado material dos chamados programas políticos ou planos de governo, são as resoluções do Estado para os problemas técnicos e mais imediatos da sociedade em sua concepção mais material. (Tude, 2021, p. 15) Nesse sentido, é possível afirmar que políticas públicas se caracterizam como diretrizes de ação do poder público. Teixeira (2002) afirma que nesse ínterim, para além das linhas mestres que direcionam as açõesdo poder público, 5 também estão presentes as regras e os procedimentos que são estabelecidos entre os atores da sociedade civil e o Estado. Assim sendo, o planejamento contribui para conhecer a realidade social vigente, pensar estratégias que possam responder às genuínas necessidades da população. TEMA 2 – CICLO DE GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: PLANEJANDO AS AÇÕES DO GOVERNO Raeder (2014) afirma que o ciclo da gestão de políticas públicas é uma ferramenta que possibilita analisar de forma didática as fases que compõem a implantação e/ou implementação das ações na esfera pública. No entanto, ressalta a importância de que não devemos considerar essas etapas de forma rígida. É fundamental saber que as políticas públicas são constituídas em estágios que possuem características próprias. Homlett, Ramesh e Perl (2013, p. 13), citados por Raeder (2014), afirmam que o pioneiro dessa abordagem foi Harold Lasswell (1971), o qual dividiu o processo das políticas públicas em sete etapas: informação, promoção, prescrição, invocação, aplicação, término e avaliação. Raeder (2014), por sua vez, desenvolveu o processo em um ciclo de cinco fases: percepção e definição de problemas; formação da agenda decisória; formulação de programas e projetos; implementação das políticas delineadas; e monitoramento e avaliação de ações planejadas. No que diz respeito à primeira fase (percepção e definição de problemas), cabe aos trabalhadores do SUAS, responsáveis pelo planejamento: • mapear as necessidades da população presente nos territórios de abrangência da política pública de assistência social; • identificar os indicadores que sinalizam as urgências e emergências de intervenção profissional; • definir características da população que vive nesse cenário; • conhecer a rede socioassistencial presente no local; • conhecer as diretrizes nacionais e estaduais do plano municipal de assistência social, observando os indicadores apontados por ele; • observar as deliberações apontadas nas conferências de assistência social; 6 • analisar os apontamentos dos técnicos que trabalham no cotidiano com as famílias e os usuários da assistência social; • delinear os indicadores secundários, aqueles destacados por instituições de pesquisa, e o banco de dados contidos no CADÚnico. Raeder (2014) aponta também para o próprio feedback das políticas em curso, que podem contribuir para a definição de problemas. A segunda fase (formação da agenda decisória) é constituída por um conjunto de demandas e/ou problemas entendidos como fundamentais para os principais atores da política pública, que, no caso, é a assistência social. Raeder (2014) apresenta o conceito de agenda de Secchi (2013), que, segundo o texto: pode ser concretizada em um programa de governo, um planejamento orçamentário ou mesmo um estatuto partidário. O autor apresenta três tipos de agendas: (a) agenda política (ou sistêmica); (b) agenda formal (ou institucional); (c) agenda da mídia. No primeiro caso, a agenda política é caracterizada por um conjunto de problemas que a comunidade política entende como merecedor de uma intervenção pública. A agenda formal é aquela formada por problemas que o governo já decidiu enfrentar. Em relação à agenda da mídia, esta se refere aos problemas que recebem atenção dos meios de comunicação, que, em muitos casos, têm o poder de influenciar fortemente as demais agendas. (Secchi, 2013, p. 46 citado por Raeder, 2014) Após a definição dos problemas que demandam soluções por meio das ações públicas, Raeder (2014) apresenta a terceira fase (formulação de programas e projetos), os quais orientarão a execução das atividades. Nesse caso, o autor baseia-se novamente em Secchi (2013, p. 48-55), citada por Raeder (2014), que separa essa fase em dois estágios: “(a) o da formulação de alternativas e (b) o da tomada de decisão”. Já Menicucci (2007, p. 303, citado por Reader, 2014) acredita em retroalimentação na formulação de políticas. Para a autora, o processo que forma uma política demanda da “interação entre formulação, implementação e avaliação. Trata-se de uma perspectiva, também defendida aqui, que reforça o cuidado que o analista deve ter ao tomar o ciclo de políticas como um rígido sistema linear e sequencial.” Na sequência, temos a quarta fase (implementação das políticas delineadas), que se caracteriza pela elaboração de soluções pensadas para resolver os problemas que foram definidos na agenda decisória. Secchi (2013, p. 58-59) citada por Reader (2014, p. 133) “também explicita alguns exemplos de instrumentos de implementação de política pública: regulamentação, legalização, 7 impostos, subsídios, prestação de serviço público, transferências de renda, campanhas e concursos”. Por fim, a quinta fase (monitoramento e avaliação de ações planejadas) também possui várias vertentes de compreensão. Vamos seguir a lógica de Reader (2014, p. 135), que apresenta uma avaliação processual, que, segundo o autor, pode ocorrer em três etapas da política: antes (ex ante), durante (in itinere ou monitoramento) ou depois (ex post). Corroborando com o autor, vale destacar que os critérios a serem avaliados e os parâmetros escolhidos para serem observados precisam ficar evidentes, de forma a contribuir efetivamente para a qualificação das atividades a serem desenvolvidas, bem como para a formação dos envolvidos mais diretamente com a política. Após finalizar a quinta fase, reinicia-se o ciclo, dando a processualidade necessária para o fortalecimento e a efetividade das políticas públicas. TEMA 3 – TIPOS DE PLANEJAMENTO Quando vamos utilizar a ferramenta de planejamento estratégico no âmbito das políticas públicas, de forma geral, utilizamos as referências dos autores da administração pública. Nesse sentido, os tipos de planejamento existentes são: estratégico, tático e operacional. Mesmo ocorrendo nas três dimensões, é importante que estejam integradas, para que as metas e os objetivos traçados sejam efetivados. Zapelini (2010) contribui para a conceituação desses tipos de planejamento, como podemos acompanhar a seguir. • Planejamento estratégico: constitui-se como um processo administrativo que delineia a metodologia a ser utilizada para pensar as estratégias sobre a melhor direção a se tomar ao pensar a política pública. Visa otimizar a relação com o ambiente, atuando de forma inovadora e diferenciada. Esse cenário está sob responsabilidade dos níveis mais altos da organização e está centrado na elaboração dos objetivos e escolha dos rumos a serem tomados, observando as condições externas e internas do contexto em que a política está inserida. É um olhar ampliado que permite a criação das diretrizes a serem tomadas. • Planejamento tático: tem como objetivo otimizar os resultados de uma determinada área. Seu foco está voltado para as etapas dos objetivos de 8 prazos curtos e das estratégias, definidas no planejamento estratégico. Concentra-se nos níveis organizacionais intermediários e está sob a responsabilidade dos níveis médios de gestão, que fazem a mediação entre as decisões da direção e as transforma em planos concretos de aplicabilidade. Geralmente, tem um tempo médio de alcance dos resultados. • Planejamento operacional: materializa-se por meio de documentos escritos, das metodologias de desenvolvimento e implantação estabelecidas, ou seja, são estruturados os planos de ação ou planos operacionais. Ao dedicar-se aos procedimentos e às tarefas de nível simples, tem como propósito pôr em prática o que está dentro dos planos táticos de cada área da política pública. Na maioria das vezes, suas ações ocorrem em tempo curto. Oliveira (2007, p. 6-10), citado por Zapelini (2010, p. 26-27), afirma que o planejamento envolve princípios gerais e específicos, os quais contribuem para criar uma basesólida no processo de tomada de decisões dos gestores. Segundo o autor supracitado, os princípios gerais do planejamento são: • Contribuição com os objetivos da organização em sua totalidade; • Precedência do planejamento sobre as demais funções administrativas; • Influência e abrangência, considerando que poderão ocorrer grandes modificações nas características e atividades da instituição; • Princípio da maior eficiência, eficácia e efetividade (medidas de avaliação da boa administração), que visa maximizar os resultados e minimizar as deficiências. Desse modo, esses conceitos são assim definidos pelo autor: • Eficiência: é fazer as coisas de maneira adequada; resolver problemas; manter os recursos aplicados; cumprir com o dever; reduzir custos. • Eficácia: é fazer as coisas certas; produzir alternativas criativas; maximizar o uso de recursos; obter resultados; aumentar o lucro (setor privado). • Efetividade: é manter-se no mercado; apresentar resultados globais positivos com o decorrer do tempo. 9 Para Oliveira (2007, p. 6-10), citado por Zapelini (2010, p. 27-28), ainda existem os princípios específicos, os quais se embasam na atitude e na visão interativa diante do planejamento: • Planejamento participativo: o foco está no processo a ser desenvolvido. • Planejamento coordenado: deve existir uma interdependência entre todos os aspectos envolvidos no projeto. • Planejamento integrado: todos os escalões devem ter seus planejamentos integrados. • Planejamento permanente: como o ambiente é turbulento e instável, sujeito a constantes mudanças, o planejamento deve ser permanente, contemplando o fluxo das transformações. TEMA 4 – INSTRUMENTOS DE GESTÃO DO SUAS A política de assistência social no Brasil tem sua descentralização política administrativa prevista no art. 204 da Constituição Federal de 1988. Dessa forma, as três esferas de governo e as entidades beneficentes podem coordenar e executar as ações previstas na referida política. A legislação que rege a política da assistência social é a Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (Brasil, 1993), que foi alterada pela Lei n. 12.435/2011. Segundo Sousa et al. (2017), a LOAS é a diretriz-mestra que organiza a referida política no Brasil, incluindo os benefícios socioassistenciais, os serviços, as formas de financiamento e recursos a serem aplicados. Ainda nessa linha de pensamento, temos a Norma Operacional Básica do SUAS – NOB SUAS (Brasil, 2005) e a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Brasil, 2009). Seguindo o pensamento dos autores acima, o SUAS é responsável pela organização dos serviços e tem como objetivos: enfrentar a pobreza; promover a proteção social; fortalecer os vínculos familiares e comunitários; e fomentar a participação social (Brasil, 2005). Desse modo, propõe a descentralização dos serviços entre as três esferas de governo e cria instrumentos de gestão que viabilizam a participação da população na elaboração da agenda das demandas sociais (Marques; Santos, 2016, citados por Sousa et al., 2017, p. 287). Outro elemento a ser destacado é que a LOAS, em seu artigo 30, prevê, como condição obrigatória para repassar recursos aos municípios, estados e ao 10 Distrito Federal, a efetiva instituição e o funcionamento de um Conselho de Assistência Social, de composição paritária entre governo e sociedade civil; de um Fundo de Assistência Social, com orientação e controle dos respectivos Conselhos de Assistência Social; e da elaboração de um Plano de Assistência Social. Sendo assim, esses instrumentos de gestão pública possibilitam a articulação do planejamento e do orçamento de forma descentralizada e democrática (Brasil, 1993). A LOAS determina, ainda, em seu art. 16, que os Conselhos Municipais de Assistência Social são instâncias deliberativas, de caráter permanente e de composição paritária entre o governo e sociedade civil (Brasil, 1993). Já os Planos Municipais de Assistência Social se constituem em um instrumento de planejamento estratégico que organiza a execução da Política Nacional de Assistência Social (Brasil, 2004) com base nas diretrizes do SUAS. A responsabilidade de elaboração desse instrumento é do órgão gestor, e o monitoramento e a fiscalização são responsabilidade do Conselho Municipal de Assistência Social (Sousa et al., 2017). O Fundo de Assistência Social, por sua vez, tem o propósito de disponibilizar meios para financiar os serviços, programas e projetos de assistência social. É responsabilidade dos gestores municipais aplicarem esses recursos. Mas, precisam dar prioridade às ações definidas no Plano Municipal de Assistência Social, o qual deve ter sido aprovado pelo conselho (Silva, 2009 citado por Sousa et al., 2017). Segundo a NOB/SUAS, os instrumentos de gestão são ferramentas de planejamento técnico e financeiro do SUAS. A seguir, podemos acompanhar os conceitos escritos pelos trabalhadores do SUAS da Secretaria Estadual do Desenvolvimento Social de Santa Catarina – Gerência de Gestão da Política de Assistência Social (GEPAS, 2021), que seguem: 1) Plano Plurianual (PPA) O Plano Plurianual (PPA) é um instrumento de planejamento de médio prazo que estabelece as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública para o período de quatro anos em cada nível da federação. Ele contém os programas, projetos e ações do Poder Executivo e é formulado no primeiro ano de governo para ser implantado no segundo ano. 2) Plano de Assistência Social O Plano de Assistência Social é um instrumento técnico, político e operacional que organiza, regula e norteia a execução da Política de Assistência Social e define as ações prioritárias a serem desenvolvidas. É o elemento estratégico para a implantação do SUAS definindo objetivos, garantindo racionalidade às práticas sociais, estabelecendo metas, compatibilizando recursos, tempo, métodos e 11 técnicas a fim de obter eficácia e efetividade nas ações pretendidas pela política de assistência social. 3) Pacto de Aprimoramento de Gestão do SUAS O Pacto de Aprimoramento do SUAS é o instrumento pelo qual se materializam as metas e as prioridades no âmbito do SUAS, e se constitui em mecanismo de indução do aprimoramento da gestão, dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais. 3.1) Plano de Acompanhamento e Apoio Técnico O Plano de Acompanhamento e Apoio Técnico consiste num instrumento de planejamento anual de apoio técnico do estado aos Municípios no que se refere à gestão do SUAS na execução dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais visando ao alcance das metas estabelecidas no Pacto de Aprimoramento do SUAS para os municípios. 4) Planos de Providência Os Planos de Providência constituem-se instrumentos de planejamento das ações para superação de dificuldades dos entes federados na gestão e execução dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, a ser elaborado pelos Estados, Distrito Federal e Municípios. Por meio desse instrumento planejam-se formas de superação das dificuldades encontradas 5) Relatório de Gestão É o instrumento que apresenta os resultados alcançados na Política de Assistência social e orienta eventuais redirecionamentos que se fizerem necessários, sendo avaliados: cumprimento das realizações; dos resultados ou produtos obtidos em função das metas prioritárias estabelecidas no PAS e aplicação dos recursos. A autonomia, assentada na legislação, demanda a adoção de instrumentos de gestão que possibilitem uma articulação das demandas advindas da população e contribui para a transparência no uso dos recursos públicos. Vale salientar que esses instrumentos de gestão pública possibilitam o exercício do controle social por conta da participação da sociedade civil nas etapas de decisão da política (Neves; Santos; Silva, 2012 citados porSousa et al., 2017, p. 285). Dessa forma, são fundamentais para a efetivação da assistência social de modo a garantir o atendimento das necessidades elementares dos usuários dessa política pública. TEMA 5 – DESAFIOS PARA O PLANEJAMENTO NA ESFERA DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (PNAS) Até o momento, pudemos ver o quão importante é o processo de planejamento para a implantação ou implementação de uma política pública. Este tema vai abordar sobre os desafios que precisamos enfrentar para qualificar esse processo. Oliveira (2006) nos convida em seu texto a olhar para um elemento importante: Como os trabalhadores do SUAS compreendem o processo de planejamento? Para além de elaborar documentos e atribuir 12 responsabilidades, é necessário embasar esse processo no aparato jurídico, bem como determinar o orçamento e o financiamento da política e tela. Muitos trabalhadores do SUAS entendem o processo de planejar como algo determinista, “como uma coisa quase que estritamente tecnicista dominada por economistas e burocratas” (Oliveira, 2006, p. 274). Outro elemento importante para ser analisado é que, uma vez tendo em mãos um documento, o processo finaliza, ou a materialização das ações ocorrerá automaticamente. Muitas vezes, escrevem palavras bonitas ou criam ações distantes das necessidades reais, tornando impossível pôr em prática e frustrando tanto os trabalhadores quanto os usuários, que ficam sem ter acesso aos seus direitos. Corroborando com Oliveira (2006), no Brasil é comum evidenciar a burocracia em todo o processo, desde a formulação até o processo de avaliação da política, esquecendo-se da parte mais rica do processo, que é a “construção política e social” (Oliveira, 2006, p. 275). Para que o planejamento se torne um efetivo instrumento de gestão no âmbito das políticas públicas, deve ser percebido como um processo e não apenas como um produto técnico. Oliveira (2006) aponta uma série de desafios que precisamos estar atentos no cotidiano do nosso trabalho, vejamos: • A dissociação entre a elaboração e implementação no processo de planejamento. Dessa forma, a avaliação de um processo de planejamento é compreendida por meio da ideia de elaboração de planos. Se o documento for bem elaborado, automaticamente, se colherá bons resultados; • Outras vezes, reconhecemos o papel da implementação, mas ainda enfatizamos a elaboração de planos como elemento fundante dos melhores resultados do processo. Nesse sentido, alguns planos bons falham porque houve problemas técnicos na implementação; • Caso seja adicionada, a etapa de implementação demanda monitoramento, auditorias e reuniões técnicas de acompanhamento. Porém, muitas vezes, diante de problemas institucionais, ações planejadas não são executadas ao longo do tempo; • Em alguns processos de planejamento se garante a participação dos usuários e da população. Nesse caso, eles precisam contribuir no monitoramento e participar de reuniões e/ou assembleias. Criam-se 13 comissões de acompanhamento, que podem falhar em virtude da lentidão no encaminhamento dos processos. É salutar refletir sobre a complexidade dos cenários que envolvem o processo de planejamento. Nesse contexto, existe um conjunto de forças sociais que possuem interesses diversificados. Morato e Silva (2016) enfatizam a necessidade de assegurar, no momento da aplicabilidade do planejamento, coerência entre os interesses sociais, demandando dos técnicos que conduzem esse processo o domínio da metodologia e técnica a ser aplicada; promover a participação entre os atores envolvidos; buscar elaborar estratégias que atendam aos objetivos e ofereçam bem-estar para a sociedade. Dessa forma, é possível perceber que é necessário investir em processos de formação e exercícios constantes de planejamento dos processos de políticas públicas. É importante observar os passos que já amadureceram e aqueles que precisam de maior atenção por parte dos trabalhadores do SUAS, em especial aqueles que estão trabalhando diretamente na área da gestão. É preciso se descortinar de conceitos antigos e pensar na importância da gestão para que as políticas públicas possam atender seu objetivo primordial, que é o de atender aos direitos dos cidadãos brasileiros. 14 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. ______. Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 dez. 1993. ______. CNAS. Resolução n. 145, de 15 de outubro de 2004. Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 out. 2004. ______. CNAS. Resolução n. 130, de 15 de julho de 2005. Norma Operacional Básica da Assistência Social (NOB/SUAS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 jul. 2005. ______. CNAS. Resolução n. 109, de 11 de novembro de 2009. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 nov. 2009. ______. Lei n. 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 jul. 2011. GEPAS – Gerência de Gestão da Política de Assistência Social. Instrumentos de Gestão do SUAS, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social de Santa Catarina. Florianópolis, 2021. Disponível em: <https://www.sds.sc.gov.br/index.p hp/assistencia-social2/gerencia-de-gestao-da-politica-de-assistencia-social-gepa s/instrumentos-de-gestao-do-suas>. Acesso em: 18 mar. 2021. JUSTEN, A. F.; FROTA, M. B. 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