@import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700&display=swap); 6.5 PRINCÍPIOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO PARA ARMINDA ABERASTURY.6.5.1 Trajetória e lógica profissional da autora Arminda AberasturyArminda Aberastury, de nacionalidade Argentina, reconhecida como uma das maiores autoridades na área de análise infantil. Trabalhou muito na difusão do método psicanalítico no país. O desenvolvimento inicial do trabalho de Aberastury foi muito solitário, contava apenas com uma colaboradora. Seu trabalho teve influências de vários analistas diferentes, como Hug Hellmuth, Anna Freud e Sophie Morgenstein, o pensamento de Melanie Klein foi o que mais marcou o seu trabalho com análise de crianças, que teve o seu início supervisionado pela própria Klein.Como Klein, a autora formula sua teoria a partir do material clínico, usando a sua experiência com crianças para desenvolver a investigação e a metodologia psicanalíticas. Também como Klein, considera a subjetividade como constituída pelo mundo interno, apesar de ter um interesse especial pela realidade externa do paciente.A princípio Aberastury se nutriu da técnica de Melaine Klein durante muitos anos, porém permitiu-se depois fazer nela uma série de modificações. Diferenciando-se de Klein, a autora passa a apresentar uma preocupação em examinar a família do paciente.Aberastury mostra uma forma diferenciada de conduzir e utilizar as entrevistas com os pais das crianças candidatas a tratamento analítico. Já nos contatos preliminares com os pais, o analista poderia perceber como se apresenta o funcionamento da família, observando se vêm ambos os pais as entrevistas, como lhes foi recomendado, se vem só a mãe justificando de alguma forma a ausência do pai, ou mesmo outra pessoa representando os pais (ABERASTURY,1984).Para a autora, desde o primeiro contato é importante que o analista tenha uma postura de analista da criança, embora seu papel seja também o de tentar aliviar a angústia e a culpa que a doença do filho desperta (ABERASTURY, 1984).Na entrevista inicial, Aberastury interroga os pais a respeito de vários aspectos básicos que considera conveniente tratar antes de se atender a criança. Esses aspectos são os seguintes: o motivo da consulta, a história da criança, como é um dia de sua vida diária e o que faz nos finais de semana e feriados, como costuma passar seu aniversário, como é a relação dos pais entre si, com seus filhos e que proximidade tem de seus familiares (ABERASTURY, 1984).Todos esses detalhes, ajudam o analista a entender, durante a análise da criança as suas necessidades. Na anamnese é essencial saber também, se exigem seda criança movimentos compatíveis com a sua idade, se os pais submetem acriança a castigos e prêmios, se a criança apresenta uma precocidade ou um atraso no seu desenvolvimento e como são suas reações diante das negativas que recebe dos pais. Para a autora, poucos dados verdadeiros são obtidos na entrevista sobre as relações entre pais e filhos, pois os pais tendem a distorcer a realidade por estarem muito mobilizados pela culpa e com o seu narcisismo ferido.Existem outros dados importantes também como, as diferenças de idade entre os irmãos, da profissão dos pais, das horas que permanecem fora de casa, de quem é o responsável pela casa, das condições gerais de vida e de sociabilidade deles e de seus filhos. Essa postura do analista interessado também pela realidade externa da criança provoca nos pais uma redução das suas ansiedades persecutórias, favorecendo uma aliança terapêutica (ABERASTURY, 1984).Uma vez que o tratamento seja contratado, na entrevista subsequente ao contato inicial com a criança o analista assume integralmente o seu papel, enquanto a função dos pais se limita ao compromisso de fazer o filho chegar ao tratamento e pagá-lo. Caso os pais se proponham a colaborar com o analista, a autor recomenda que se deixe claro para os pais o quanto já estão cooperando ao permitir que o filho tenha um tratamento, dessa forma favorecendo o seu êxito(ABERASTURY, 1984).Uma das técnicas utilizadas é o método do desenho de Sophie Morgenstein(1937), considerado um dos mais importantes no tratamento psicanalítico de crianças. A autora manifesta uma restrição ao método do desenho, com relação acrianças muito inibidas ou mesmo crianças muito pequenas teriam dificuldades em sua utilização. A primeira sessão de brinquedo é de grande importância, pois toda criança, mesmo muito pequena mostra desde a primeira sessão a compreensão de sua doença e o desejo de curar-se.A utilização sistemática da primeira hora de brinquedo para diagnóstico foi realizada pela primeira vez na Argentina, para depois passar a ser uma prática reconhecida mundialmente por todos os analistas que se dedicam à análise infantil (ABERASTURY, 1984). Imagem112 - Livro Aberastury desenvolveu um trabalho original sobre a primeira sessão de brinquedo. Segundo a autora, por meio da técnica do brincar, apresentava-se a fantasia inconsciente da doença ou da cura. Essa sua conclusão era completamente diferente das afirmações que faziam Anna freud e Malaine Klein a respeito de suas experiências com crianças. Elas afirmavam categoricamente que as crianças, diferente dos adultos, não têm consciência de que estão doentes e não desejam ser curadas, de sorte que não possuem incentivo para iniciar a análise e tampouco estímulo para prosseguir com ela (ABERASTURY, 1984).Para Aberastury, desde o início do tratamento a criança traz suas fantasias inconscientes sobre sua doença, e na maioria das vezes também sua fantasia de cura, por temer que se repita com ela o comportamento daqueles que provocaram seus conflitos. A criança tem o desejo de que o analista assuma um papel diferente do papel dos objetos originários que a prejudicaram, ou seja, um papel que possa suprir a criança do que necessita para recuperar-se(ABERASTURY, 1984).A autora faz um paralelo entre as ansiedades do nascimento e o início do tratamento da criança. Ao começar sua terapia, o pequeno paciente vive a separação inicial dos pais com ansiedades semelhantes às que conheceu à época de seu nascimento. A desconfiança que a criança apresenta em relação ao analista seria produto do medo de que se repita com esse a mesma relação que a criança tem com o objeto original temido e ameaçador. Quanto aos aspectos amorosos do objeto, estariam projetados no terapeuta como aquilo que é próprio para curar o paciente (ABERASTURY, 1984).Assim, segundo Aberastury tanto a transferência negativa como a positiva deve ser interpretada à criança desde a primeira sessão de brinquedo, bem como no decorrer do tratamento, já que ambos os aspectos apresentam-se sempre. Quanto aos pais, muitas vezes têm dificuldades em aceitar um tratamento psicanalítico para seu filho. Nesse caso, a atitude de manter a indicação para o tratamento da criança deve ter lugar apenas se tem-se a convicção de que esta é a única saída para libertar a criança de sua doença.Uma das alternativas seria marcar entrevistas com a mãe, com a intenção de prepará-la para a aceitação de um tratamento para o filho. Outra seria encaminhá-la para um grupo de mães, já que muitas vezes o sintoma de uma criança é fabricado por sua mãe, que frequentemente mantém ou mesmo agrava o sintoma de seu filho. Por outro lado, nem sempre uma orientação pode mudar a atitude da mãe, uma vez que seus próprios conflitos a impedem de ter outro tipo de comportamento com seu filho (ABERASTURY, 1984).Os grupos oferecem possibilidades otimistas para a profilaxia das neuroses infantis, principalmente quando começam a ser frequentados pelas mães ainda grávidas. São grupos que visam oferecer informações para que se promova um desenvolvimento saudável da criança e para que haja uma boa relação da criança com seus familiares durante a primeira infância. Trata-se de um trabalho de prevenção da doença mental, já que é na infância que surgem os problemas que mais tarde vão resultar em um indivíduo muito prejudicado psicologicamente.Podemos perceber que a postura de Aberastury de ver os pais como principais responsáveis pela problemática dos filhos a coloca em contradição com a teoria kleiniana que adotava. Embora na teoria Aberastury afirme que a subjetividade é constituída apenas pelo mundo interno, na prática procurou meios alternativos de considerar a influência do mundo externo na subjetividade da criança, como por exemplo no caso dos grupos de orientação de mães. Essa foi uma solução intermediária, pois ao mesmo tempo em que os pais eram levados em consideração, não eram incluídos diretamente no tratamento (ABERASTURY, 1984).Por outro lado, Aberastury reconhece a limitação do trabalho de orientação das mães, já que, como os seus conflitos com os filhos são inconscientes, não era por meio de conselhos e recomendações que a mãe poderia elaborá-los. No entanto, adotava esse tipo de trabalho por acreditar que poderia diminuir as ansiedades da mãe.6.5.2 Pontos relevantes na Psicologia do AdolescenteO trabalho específico sobre adolescência começou com os grupos de estudos preparatórios para colocar e acrescer ideias e experiências ao 1º Congresso Interno e ao IX Simpósio da Associação Psicanalítica Argentina, realizado em Buenos Aires em fins de 1964. A partir daí, Arminda Aberastury e Mauricio Knobel, resolveram organizar e reproduzir alguns estudos psicanalíticos da adolescência em obra intitulada \u201cAdolescência Normal\u201d. Segundo os autores, esta temática provoca o interesse de diversos setores de estudiosos da conduta humana e exige todas as contribuições das diferentes disciplinas científicas.Entrar no mundo dos adultos, desejado e temido, significa para o adolescente a perda definitiva de sua condição de criança. É o momento crucial na vida do homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento que começou com o nascimento (ABERASTURY, 1991).As mudanças psicológicas que se reproduzem neste período, e que são a correlação de mudanças corporais, levam a uma nova relação com os pais e com o mundo. Isso só é possível quando se elabora, lenta e dolorosamente, o luto pelo corpo de criança, pela identidade infantil e pela relação com os pais da infância (ABERASTURY, 1991).Quando o adolescente se inclui no mundo com este corpo já maduro, a imagem que tem do seu corpo mudou também sua identidade, e precisa então adquirir uma ideologia que lhe permita sua adaptação ao mundo e/ou sua ações obre ele para mudá-lo (ABERASTURY, 1991).Nesse período flutua entre uma dependência e uma independência extrema, e só a maturidade lhe permitirá, mais tarde, aceitar ser independente dentro de um limite de necessária dependência. Mas, no começo, mover-se-á entre o impulso ao desprendimento e a defesa que impõe o temor à perda do conhecido. É um período de contradições, confuso, ambivalente, doloroso, caracterizado fricções com o meio familiar e social. Este quadro é frequentemente confundido com crises e estado patológico (ABERASTURY, 1991).Adolescência é sinônimo de crise, pois nessa fase busca-se uma identidade adulta a qual passa por um período "turbulento", variável segundo o seu ecossistema sociofamiliar, em que comportamentos considerados como anormais ou patológicos em outras fases do desenvolvimento devem ser considerados normais nessa transição para a vida adulta (KNOBEL, 1999).Segundo Knobel (1981) a adolescência é entendida como um período marcado por mudanças não apenas orgânicas, constituindo-se em um período no qual o indivíduo busca estabelecer sua identidade adulta e, nesse intento, necessidades prender-se do seu mundo infantil e enfrentar o mundo adulto. O autor esclarece que, quando fala de identidade, se refere a um contínuo processo evolutivo humano, definindo a adolescência como a etapa da vida durante a qual o indivíduo procura estabelecer sua identidade adulta, apoiando-se nas primeiras relações objeto-parentais, internalizadas e verificando a realidade que o meio social lhe oferece, mediante ouso dos elementos biofísicos em desenvolvimento à sua disposição e que por sua vez tendem à estabilidade da personalidade num plano genital, o que só é possível quando consegue o luto pela identidade infantil. (ABERASTURY e KNOBEL, 1981).Aberastury (1981) destaca que a adolescência é um momento crucial na vida do homem, constituindo a etapa decisiva de um processo de desprendimento atravessando três momentos fundamentais: o primeiro é o nascimento, o segundo surge ao final do primeiro ano com a eclosão da genitalidade, a dentição, a linguagem, a posição de pé e a marcha.O terceiro momento aparece na adolescência, quando a maturidade sexual estimula um relacionamento com um objeto externo fazendo também possível, a consumação do incesto e, ao mesmo tempo, define-se seu papel procriador e, escapando do incesto, o adolescente inicia a busca do objeto de amor no mundo externo, o que concretizará com a descoberta do par, se for conseguido o desprendimento interno dos pais. Somente a maturidade lhe dará permissão de aceitar-se independente dentro de um marco de necessária dependência; é um período de contradições, confuso, doloroso e permeado de conflitos com o meio familiar e o meio circundante.Aberastury (1981) considera que a adolescência está implicada tanto na questão da busca da identidade adulta, assim como em uma série de modificações ou reestruturações que se expressam das mais variadas formas que poderão refletir na existência de conflitos e angústias subjacentes. Knobel (1981) enfatiza que o adolescente busca a sua identidade adulta; no entanto assinala a identidade não como fenômeno próprio apenas do adulto, mas que a cada momento do desenvolvimento o indivíduo tem uma identidade própria, fruto das identificações e experiências vitais (interação mundo interno-externo).Assim, a identidade adulta não é alcançada antes que o adolescente tenha elaborado o que chama de as três perdas fundamentais desse período evolutivo apresentadas por Aberastury. A autora aponta como característica da adolescência a flutuação entre dependência e independência, período esse permeado de contradições, confuso, ambivalente, doloroso, caracterizado por \u201cfricções com o meio familiar e social\u201d (ABERASTURY,1981).Entende que são três os lutos fundamentais que o adolescente deve realizar para desprender-se do mundo infantil e enfrentar o mundo adulto:a) O luto pelo corpo infantil perdido, base biológica da adolescência, imposta ao indivíduo que, não poucas vezes, tem que sentir suas mudanças como algo externo, frente aos quais se encontra como um espectador impotente em relação ao que ocorre no seu próprio organismo.b) Luto pelo papel e identidade infantis, que o obriga a uma renúncia da dependência e uma aceitação de responsabilidade que muitas vezes desconhece.c)O luto pelos pais da infância, os quais persistentemente tenta reter na sua personalidade, procurando o refúgio e a proteção que eles significam. Esta situações e complica pela própria atitude dos pais, que também são obrigados a aceitar o seu envelhecimento assim como o fato de que seus filhos já não são mais crianças, mas adultos, ou então, em vias de sê-lo. A elaboração destes lutos, para Aberastury, se faz de forma lenta e dolorosa. Muitas vezes, para se defender desse processo, o adolescente recorre a mecanismos psicopáticos de atuação, ou ainda, à intelectualização e à onipotência narcísica. No capítulo IV será abordado maiores detalhes sobre o processo de desenvolvimento do adolescente, na visão de outros autores.
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