Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Nutrição Clínica Canina e Felina Guia prático de referência para uso diário no exercício da medicina veterinária Nestlé® Purina® PetCare® // VERSO DA CAPA DURA // Publicado por The Gloyd Group, Inc. Wilmington, Delaware ©2010 Nestlé® Purina® PetCare Company Todos os direitos resevados. Impresso no Brasil, 2016 Nestlé Brasil Ltda Avenida Dr. Chucri Zaidan 246 Vila Cordeiro, São Paulo, SP Primeira Impressão, 2010. Este livro está protegido por direitos autorais. É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo. ISBN 978-0-9764766-0-3 As doses e informações apresentadas neste manual foram pesquisadas e descritas, baseadas nas referências bibliográficas citadas; entretanto, devido às constantes pesquisas e atualizações na área podem ocorrer alterações após a sua publicação. Recomendamos que o médico veterinário se informe no tocante às recomendações e contraindicações descritas para as medicações apresentadas e as utilize de acordo com a avaliação individual de cada paciente, sendo de sua total responsabilidade sua utilização. 11 Manual Nestlé® Purina® PetCare sobre Nutrição Clínica Canina e Felina Índice 4 n Colaboradores Doenças Alérgicas 6 n Dermatites alérgicas - Cães Stephen D. White, DVM, DACVD 8 n Dermatites alérgicas - Gatos Stephen D. White, DVM, DACVD Doenças Artríticas 10 n Osteoartrite - Cães Denis Marcellin-Little, DEDV, DACVS, DECVS, DACVSMR 12 n Osteoartrite/Doença degenerativa articular - Gatos B. Duncan X. Lascelles, BSc, BVSC, PhD, MRCVS, CertVA, DSAS(ST), DECVS, DACVS Doenças Cardiopulmonares 14 n Doença cardíaca - Cães Lisa M. Freeman, DVM, PhD, DACVN 18 n Doença cardíaca - Gatos Lisa M. Freeman, DVM, PhD, DACVN 22 n Quilotórax - Gatos Kathryn E. Michel, DVM, MS, DACVN Cuidados intensivos 24 n Nutrição em cuidados intensivos - Cães Daniel L. Chan, DVM, MRCVS, DACVECC, DACVN 26 n Nutrição em cuidados intensivos - lipidose hepática felina Daniel L. Chan, DVM, MRCVS, DACVECC, DACVN Doenças endócrinas e metabólicas 28 n Diabetes mellitus - Cães Linda Fleeman, BVSc, MACVSc, PhD Jacquie Rand, BVSc, DVSc, DACVIM 30 n Diabetes mellitus - Gatos Jacquie Rand, BVSc, DVSc, DACVIM Linda Fleeman, BVSc, MACVSc, PhD Rebecca Remillard, PhD, DVM, DACVN 33 n Sobrepeso/Obesidade - Cães Sean J. Delaney, DVM, MS, DACVN 36 n Sobrepeso/Obesidade - Gatos Rebecca Remillard, PhD, DVM, DACVN Transtornos Gastrointestinais 38 n Constipação - Cães Sally Perea, DVM, MS, DACVN 40 n Constipação - Gatos Sally Perea, DVM, MS, DACVN 42 n Diarreia do intestino delgado - Cães Debra L. Zoran, DVM, PhD, DACVIM 44 n Diarreia do intestino delgado - Gatos Debra L. Zoran, DVM, PhD, DACVIM 46 n Diarreia do Intestino Grosso - Cães Debra L. Zoran, DVM, PhD, DACVIM 48 n Diarreia do Intestino Grosso - Gatos Debra L. Zoran, DVM, PhD, DACVIM 52 n Colite - Cães Scott Campbell, BVSc, MACVSc, DACVN 54 n Colite - Gatos Scott Campbell, BVSc, MACVSc, DACVN 56 n Insuficiência pancreática exócrina - Cães Scott Campbell, BVSc, MACVSc, DACVN 58 n Gastroenterite/Vômitos - Cães Korinn E. Saker, DVM, PhD, DACVN 60 n Gastroenterite/Vômitos - Gatos Korinn E. Saker, DVM, PhD, DACVN 62 n Enteropatias crônicas - Cães Frédéric P. Gaschen, Dr.med.vet., Dr.habil., DACVIM, DECVIM-CA Dottie Laflamme, DVM, PhD, DACVN 64 n Enteropatias Crônicas - Gatos Frédéric P. Gaschen, Dr.med.vet., Dr.habil., DACVIM, DECVIM-CA Dottie Laflamme, DVM, PhD, DACVN 66 n Linfangiectasia - Cães Debra L. Zoran, DVM, PhD, DACVIM 68 n Pancreatite - Cães Kathryn E. Michel, DVM, MS, DACVN 70 n Pancreatite - Gatos Kathryn E. Michel, DVM, MS, DACVN Doenças Hepáticas 72 n Doença hepática - Cães David C. Twedt, DVM, DACVIM 74 n Doença hepática - Gatos David C. Twedt, DVM, DACVIM 76 n Encefalopatia hepática - Cães David C. Twedt, DVM, DACVIM 78 n Encefalopatia hepática - Gatos David C. Twedt, DVM, DACVIM 80 n Hiperlipidemia - Cães John E. Bauer, DVM, PhD, DACVN 82 n Hiperlipidemia - Gatos John E. Bauer, DVM, PhD, DACVN 2 Doenças do trato urinário 84 n Doença renal - Cães David J. Polzin, DVM, PhD, DACVIM 86 n Doença renal - Gatos David J. Polzin, DVM, PhD, DACVIM 88 n Urolitíase por Oxalato de Cálcio - Cães Joseph W. Bartges, DVM, PhD, DACVIM, DACVN 90 n Doença do trato urinário inferior - Cistite idiopática e urolitíase por estruvita/Oxalato de Cálcio - Gatos Joseph W. Bartges, DVM, PhD, DACVIM, DACVN 92 n Urolitíase por uratos - Cães Joseph W. Bartges, DVM, PhD, DACVIM, DACVN Manejo Nutricional de Doenças Concomitantes 96 n Diabetes mellitus e doenças renais - Gatos Rebecca Remillard, PhD, DVM, DACVN 98 n Diabetes mellitus e obesidade - Gatos Rebecca Remillard, PhD, DVM, DACVN 100 n Diabetes mellitus e cistite relacionada com cristais - Gatos Rebecca Remillard, PhD, DVM, DACVN 102 n Pancreatite e doença renal crônica - Cães Jennifer Larsen, DVM, PhD, DACVN 104 n Gastroenterite alérgica/Doença inflamatória intestinal e doença renal crônica – Cães Jennifer Larsen, DVM, PhD, DACVN 106 n Gastroenterite Alérgica/Doença Inflamatória Intestinal e Doença Renal Crônica – Gatos Jennifer Larsen, DVM, PhD, DACVN 108 n Urolitíase por oxalato de cálcio e hiperlipidemia - Cães Joseph W. Bartges, DVM, PhD, DACVIM, DACVN 110 n Doença renal crônica e obesidade - Cães Donna M. Raditic, DVM, CVA Joseph W. Bartges, DVM, PhD, DACVIM, DACVN 112 n Doença renal crônica e obesidade - Gatos Donna M. Raditic, DVM, CVA Joseph W. Bartges, DVM, PhD, DACVIM, DACVN 116 n Urolitíase por estruvita e obesidade - Gatos Donna M. Raditic, DVM, CVA Joseph W. Bartges, DVM, PhD, DACVIM, DACVN 118 n Referências 123 n Apêndice I - Sistema de escore de condição corporal (ECC) Nestlé® Purina® 125 n Apêndice II - Formulário de histórico alimentar 127 n Apêndice III - Cálculos úteis na nutrição clínica 3 Lisa M. Freeman, DVM, PhD, DACVN Professora do Departamento de Ciências Clínicas Faculdade de Medicina Veterinária Cummings Universidade de Tufts, North Grafton, Massachusetts Diabetes Mellitus – Cães Diabetes Mellitus – Gatos Frédéric P. Gaschen, Dr.med.vet., Dr.habil., DACVIM, DECVIM-CA Professor e Chefe, Medicina de Animais de Companhia Departamento de Ciências Clínicas Veterinárias Faculdade de Medicina Veterinária Universidade do Estado de Luisiana, Baton Rouge, Luisiana Enteropatias crônicas – Cães Enteropatias crônicas – Gatos Dottie Laflamme, DVM, PhD, DACVN Especialista em Comunicação – Nutrição Veterinária Nestlé PURINA PetCare Research Enteropatias Crônicas – Cães Enteropatias Crônicas – Gatos Jennifer Larsen, DVM, PhD, DACVN Professora Assistente de Nutrição Clínica Nutricionista Clínica, Serviço de Apoio Nutricional Hospital Escola de Medicina Veterinária Universidade da Califórnia, Davis, Califórnia Pancreatite e doença renal crônica – Cães Gastroenterite alérgica/Doença inflamatória intestinal e doença renal crônica - Cães Gastroenterite alérgica/Doença inflamatória intestinal e doença renal crónica – Gatos B. Duncan X. Lascelles, BSc, BVSC, PhD, MRCVS, CertVA, DSAS(ST), DECVS, DACVS Professor Associado, Cirurgia de Pequenos Animais Departamento de Ciências Clínicas Faculdade de Medicina Veterinária Universidade do Estado da Carolina do Norte, Raleigh, Carolina do Norte Osteoartrite/Doença degenerativa das articulações – Gatos Denis Marcellin-Little, DEDV, DACVS, DECVS, DACVSMR Professor, Ortopedia Departamento de Ciências Clínicas Faculdade de Medicina Veterinária Universidade do Estado da Carolina do Norte, Raleigh, Carolina do Norte Osteoartrite – Cães Colaboradores Joseph W. Bartges, DVM, PhD, DACVIM, DACVN Professor de Medicina Veterinária e Nutrição Responsável pela área de Pesquisas em Pequenos Animais Departamento de Ciências Clínicas de Pequenos Animais Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade do Tennessee, Knoxville, Tennessee Urolitíase por oxalato de cálcio – Cães Doença do trato urinário inferior em gatos – Cistite idiopática e urolitíase por estruvita/oxalato de cálcio Urolitíase por uratos – Cães Urolitíase por oxalato de cálcio e hiperlipidemia– Gatos Doença renal crônica e obesidade – Cães Doença renal crônica e obesidade – Gatos Urolitíase por estruvita e obesidade – Gatos John E. Bauer, DVM, PhD, DACVN Professor de Nutrição Clínica em Mark L. Morris Departamento de Ciências Clínicas de Pequenos Animais Faculdade de Medicina Veterinária e Ciências Biomédicas Universidade do Texas A&M, College Station, Texas Hiperlipidemia – Cães Hiperlipidemia – Gatos Scott Campbell, BVSc (Hons), MACVSc, DACVN Professor Titular, Serviço de Apoio em Nutrição Clínica Faculdade de Ciências Veterinárias da Universidade de Queensland, Brisbane, Austrália Proprietário do Booval Veterinary Hospital, Booval, Australia Colite – Cães Colite – Gatos Insuficiência pancreática exócrina – Cães Daniel L. Chan, DVM, MRCVS, DACVECC, DACVN Professor de Cuidados Intensivos e Emergências, e Nutricionista Clínico Seção de Cuidados Intensivos e Emergências Departamento de Ciências Clínicas Veterinárias Royal Veterinary College Hertfordshire, Reino Unido Nutrição em Cuidados Intensivos – Cães Nutrição em Cuidados Intensivos – Lipidose Hepática em gatos Sean J. Delaney, DVM, MS, DACVN Fundador, Davis Veterinary Medical Consulting, Inc. Davis, California Sobrepeso/Obesidade – Cães Linda Fleeman, BVSc, PhD, MACVSc Diabetes Animal Australia Boronia Veterinary Clinic Melbourne, Victoria, Australia Diabetes Mellitus – Cães Diabetes Mellitus – Gatos 4 5 Kathryn E. Michel, DVM, MS, DACVN Professora Associada de Nutrição Departamento de Estudos Clínicos - Filadélfia Faculdade de Medicina Veterinária Universidade da Pensilvânia, Filadélfia, Pensilvânia Quilotórax – Gatos Pancreatite – Cães Pancreatite – Gatos Sally Perea, DVM, MS, DACVN Davis Veterinary Medical Consulting, Inc. Davis, Califórnia Constipação – Cães Constipação – Gatos David J. Polzin, DVM, PhD, DACVIM Professor de Medicina Interna e Nefrologia Departamento de Ciências Clínicas Veterinárias Faculdade de Medicina Veterinária Universidade de Minnesota, St. Paul, Minnesota Doença renal crônica – Cães Doença renal crônica – Gatos Donna M. Raditic, DVM, CVA Professora Clínica Assistente Adjunta Serviço de Medicina Integradora Faculdade de Medicina Veterinária Universidade do Tennessee, Knoxville, Tennessee Residente de Nutrição Angell Animal Medical Center, Boston, Massachusetts Doença renal crónica e obesidade – Cães Doença renal crônica e obesidade – Gatos Urolitíase por estruvita e obesidade – Gatos Jacquie Rand, BVSc, DVSc, DACVIM Diretora, Centro para a Saúde de Animais de Companhia Faculdade de Ciências Veterinárias Universidade de Queensland, St. Lucie, QLD, Australia Diabetes ellitus – Cães Diabetes Mellitus – Gatos Rebecca L. Remillard, PhD, DVM, DACVN Membro do Grupo de Veterinários, Nutrição e Diretora de Pesquisas Clínicas Angell Animal Medical Center, Boston, Massachusetts Diabetes mellitus – Gatos Sobrepeso/Obesidade – Gatos Diabetes mellitus e doença renal – Gatos Diabetes mellitus e obesidade – Gatos Diabetes mellitus e cistite relacionada com cristais – Gatos Korinn E. Saker, DVM, PhD, DACVN Professora Associada, Nutrição Clínica Ciências Biomédicas Moleculares Faculdade de Medicina Veterinária Universidade do Estado da Carolina do Norte, Raleigh, Carolina do Norte Gastroenterite/Vômitos – Cães Gastroenterite/Vômitos – Gatos David C. Twedt, DVM, DACVIM Professor, Medicina de Pequenos Animais Departamento de Ciências Clínicas Faculdade de Medicina Veterinária e Ciências Biomédicas Universidade do Estado do Colorado, Fort Collins, Colorado Doença hepática – Cães Doença hepática – Gatos Encefalopatia hepática – Cães Encefalopatia hepática – Gatos Stephen D. White, DVM, DACVD Professor Departamento de Medicina e Epidemiologia Faculdade de Medicina Veterinária Universidade da Califórnia, Davis, Califórnia Dermatite alérgica – Cães Dermatite alérgica – Gatos Debra L. Zoran, DVM, PhD, DACVIM Professora Associada e Chefe da Medicina Interna de Pequenos Animais Departamento de Ciências Clínicas de Pequenos Animais Faculdade de Medicina Veterinária e Ciências Biomédicas Universidade do Texas A&M, College Station, Texas Diarreia do intestino delgado – Cães Diarreia do intestino delgado – Gatos Diarreia do intestino grosso – Cães Diarreia do intestino grosso – Gatos Linfangiectasia – Cães 6 Valores recomendados de nutrientes essenciais Princípios da Alimentação Coadjuvante Alergia a alimentos:O diagnóstico e o tratamento consistem em administrar uma dieta de eliminação "hipoalergênica"3. Esta dieta é baseada em exposição prévia a diversos alimentos, podendo ser dietas de eliminação (antígenos limitados) tanto caseiras como comerciais. Os animais não devem ter contato com qualquer outra substância no período de teste de eliminação de alimentos, incluindo suplementos de vitaminas, brinquedos mastigáveis, medicações ou cremes dentais específicos. Devido à dieta de eliminação caseira não ser uma dieta balanceada, os proprietários devem ser advertidos sobre a possibilidade de seu cão perder peso, de desenvolver uma pelagem sem brilho, escamosa, ou apresentar um apetite maior do que o habitual. Geralmente, a duração da dieta de eliminação é de 8 a 12 semanas. A persistência de algum prurido na semana 12 pode indicar a presença de outras hipersensibilidades concomitantes. Nos casos que foram administrados antibióticos para tratar infecções secundárias, ou corticosteroides orais para prurido intenso, a dieta deve continuar por mais 2 semanas após estes tratamentos serem interrompidos, com o intuito de avaliar corretamente a sua eficácia. Ao não apresentar os sinais clínicos, o cão é alimentado com a sua dieta padrão para confirmar o diagnóstico. A recorrência de sinais clínicos geralmente é apresentada dentro das duas semanas seguintes. O cão é então alimentado novamente com sua dieta de eliminação e o proprietário pode testar com os alérgenos suspeitos, administrando cada um deles por uma ou duas semanas de cada vez. Os alérgenos comprovadamente mais comuns nos cães são proteínas contidas em: carne, frango, leite, ovos, milho, trigo e soja. Uma vez que os alérgenos ofensivos são identificados, pode ser fornecida uma alimentação comercial sem esses alérgenos ou uma dieta de proteínas hidrolisadas. Quando os proprietários se recusam a realizar testes de provocação, pode ser usado um alimento para cães com antígenos limitados. nPetiscos – Durante o teste de eliminação não pode ser fornecido nenhum petisco, exceto aqueles que contenham os mesmos ingredientes que a dieta de eliminação. As dietas comerciais de eliminação úmidas ou secas podem ser assadas (esta última misturada com água), em forma de biscoitos para cães. Após ter o diagnóstico de alergia alimentar e encontrar uma dieta de manutenção apropriada, pode-se incorporar petiscos semanalmente para avaliar qualquer recorrência dos sinais clínicos. nDicas para aumentar a palatabilidade – Às vezes, aquecer o alimento antes da alimentação pode melhorar a palatabilidade. Se o cão recusa a alimentação de eliminação após 2 ou 3 dias, é melhor testar uma outra dieta com outra proteína. nRecomendações para a dieta – As dietas de eliminação devem evitar alimentos fornecidos anteriormente. Para as dietas caseiras, as escolhas podem ser proteínas "novas", como a carne de porco, feijão, coelho, pato e atum, e carboidratos como batatas, batatas doces e arroz. As dietas comerciais devem ser especificamente comercializadas com alérgenos limitados. Estas podem estar compostas por proteínas "novas" ou proteínas hidrolisadas cujo peso molecular seja muito pequeno para desencadear reações do sistema imunológico do cão. Dermatite Alérgica - Cães Stephen D. White, DVM, DACVD Definição A Dermatite alérgica refere-se a qualquer distúrbio de hipersensibilidade que produza uma condição inflamatória na pele. Os distúrbios mais comuns que afetam os cães incluem: alergia a picada de pulgas (DAPP), dermatite atópica e alergia a alimentos (também conhecida como hipersensibilidade alimentar). Ferramentas de diagnóstico e exames complementares O histórico clínico, incluindoa sazonalidade e a dieta ou as mudanças na dieta, são os primeiros passos para diagnosticar a causa da dermatite alérgica. Durante o exame físico, a localização das lesões pode fornecer informações importantes para o diagnóstico: se a causa é a alergia a picada de pulgas, as lesões são provavelmente no dorso; no caso da dermatite atópica, as lesões são encontradas em membros pélvicos, axilas, rosto e orelhas; e se é uma alergia alimentar, as lesões podem ser semelhantes às observadas na dermatite atópica. É preciso uma análise citológica da pele para verificar se há infecções bacterianas secundárias ou Malassezias fúngicas como a Malassézia. Fisiopatologia A dermatite atópica é mediada pela imunoglobulina E (IgE) específica para alérgenos. Os alérgenos, por via percutânea, são fixados aos anticorpos IgE ligados aos mastócitos, os quais liberam substâncias inflamatórias. Trabalhos recentes sugerem que: 1) alguns cães atópicos podem apresentar deficiência de filagrina (um componente do estrato córneo), e 2) em cães normais, a função de barreira do estrato córneo (contra as infecções) pode ser suplementada por niacinamida. A etiologia da alergia alimentar não é bem conhecida, mas provavelmente esteja envolvida tanto em processos mediados por células como em processos mediados por anticorpos. Na dermatite por picadas de pulgas, os alérgenos são proteínas encontradas na saliva dos parasitas. Predisposição As raças com predisposição são: Lhasa Apso, Schnauzer Miniature, Dachshund West Highland White Terrier, Pug, Poodle, Cocker Spaniel, Springer Spaniel, Collie, Dálmata, Boxer, Rhodesian Ridgeback, Pastor Alemão e Golden Retriever. No Reino Unido, ocorreu um relato sobre cães atópicos da raça Retriever com probabilidade de ter filhotes atópicos, especialmente os machos atópicos. Geralmente nos cães atópicos os indicadores se observam entre a idade de 1 e 7 anos. Predileções por gênero são desconhecidas. Trinta por cento dos cães com alergia a alimentos apresentam indicadores no decorrer do primeiro ano de idade. No que diz respeito a alergia a picada de pulgas, não existem predileções por idade, raça ou gênero. Alterações nos nutrientes essenciais Nos cães com dermatite atópica, os ácidos graxos essenciais (AGE) podem ser usados como antipruríticos1. É controversa a diferença da eficiência entre os suplementos de AGE com ácidos graxos Ômega 3 e aqueles que contêm uma mistura de Ômega 3 e Ômega 6. Nos cães, os AGE podem ter 25% de probabilidade de reduzir o prurido, especialmente quando combinados com um tratamento anti-histamínico. Quando os suplementos de AGE foram incluídos na alimentação dos cães, a taxa de sucesso em um estudo foi de 42% (controle do prurido bom ou excelente); em outro estudo foi de 44%. Um artigo recente demonstrou que as melhorias observadas em cães atópicos com suplementação de AGE nem sempre se correlacionam com a ingestão total de ácidos graxos ou com a relação de ácidos graxos ômega 6:3. Outro relatório documentou o efeito moderador dos esteroides dos AGE em alguns cães atópicos.² Se forem utilizados suplementos, uma recomendação informal é a utilização de pelo menos 36 - 44 mg/kg de peso corporal/dia de ácido eicosapentaenoico (EPA, em inglês) proveniente de óleo de peixe, ou aproximadamente 1 g de óleo de peixe/5 kg de peso corporal. Nutriente % MS mg/100 kcal % MS mg/100 kcal Valores recomendados na dieta Necessidade mínima na dieta* n3 Total 0.4–0.8 81–156 n/d n/d (de óleo de peixe) EPA 0.24–50 50–94 n/d n/d A ingestão modificada destes nutrientes pode ajudar a combater alterações metabólicas induzidas pelos estados de enfermidade. A composição recomendada da dieta é mostrada como percentual de matéria seca na dieta (MS) e como g ou mg por 100 kcal de energia metabolizável. Todos os outros nutrientes essenciais devem atender aos requisitos normais, de acordo com a fase de vida, estilo de vida e consumo de energia. *Necessidades de nutrientes para os animais adultos segundo determinação da Associação Americana de controle de Alimentos (AAFCO). 7 Pontos para a educação do proprietário nDermatite Atópica –Os proprietários devem reconhecer que esta doença precisa ser controlada e tratada durante toda a vida do cão; se os AGE são úteis no controle de prurido, então será necessário fornecê-los ao longo de toda a vida. nAlergia a Alimentos –Os proprietários precisam ser muito rigorosos ao longo do teste de eliminação do alimento. Devem manter um registro diário, constatando o prurido, tudo o que for ingerido que não esteja na dieta, sendo ideal também registrar qualquer mudança nas fezes (ex.: consistência, cheiro). nAlergia a Picada de Pulgas– Explicar o papel das pulgas e os diversos inseticidas disponíveis para proteger o cão das picadas de pulgas. Embora a eficácia dos AGE como auxiliares no tratamento do prurido causado por alergia a pulgas não tenha sido totalmente investigada, podem ser utilizados os AGE como complemento ao tratamento de parasitas. Comorbidades comuns A dermatite atópica, a alergia a picadas de pulgas e a alergia alimentar muitas vezes existem no mesmo cão. Podem ter infecções bacterianas secundárias (normalmente, Staphylococcusspp) e/ou por Malasseziaspp (fungo). As mesmas precisam ser tratadas, uma vez que as infeções podem produzir prurido. A alergia a alimentos também pode causar transtornos gastrointestinais. Enquanto diarreia e/ou vômitos provavelmente só ocorram em 10% dos cães com dermatite causada por alergia alimentar, fezes moles ou malformadas, são observadas com maior frequência; deve- se perguntar especificamente sobre o aparecimento no momento de registrar o histórico clínico do paciente⁴. Raramente foi observado que a alergia alimentar tenha causado epilepsia idiopática⁵. Tratar ou descartar infecções secundárias bacterianas ou por fungos Alergia alimentar Dermatite atópica Alergia a picada de pulgas Diagnosticar mediante um teste com dieta hipoalergênica ou de alérgenos limitados Diagnosticar com base no histórico e quadro clínico Tentar um tratamento com AGE, sozinhos ou em uma combinação com outras formas (anti-histamínicos, corticosteroides, injeções de hipossensibilização) Diagnosticar com base no histórico e quadro clínico Se o prurido não for resolvido, devem ser consideradas outras etiologias Se o prurido for resolvido, deve ser administrada a dieta anterior para confirmar o diagnóstico Se for confirmado, deve-se administrar alérgenos individuais para identificá-los, ou manter uma dieta balanceada com alérgenos limitados Começar o controle das pulgas; somar AGE como tratamento complementar Manejo Nutricional da Dermatite Alérgica em Cães Estratégias para o manejo das interações medicamentosas Como foi observado anteriormente, são necessários antibióticos e antimicóticos (geralmente azóis) para tratar infecções secundárias. Tais medicamentos são administrados normalmente durante 4 a 8 semanas. Os medicamentos tópicos, tais como xampu ou artigos para banho (enxágues) podem também ser utilizados para controlar as infecções secundárias, bem como ajudar no tratamento do prurido. Os corticosteroides podem ser necessários para controlar o prurido, embora a sua utilização deva ser limitada a produtos por via oral com efeito de ação curta, tais como a prednisona ou a prednisolona. Quando os corticosteroides são considerados necessários, o objetivo deve ser a menor dose diária possível. A ciclosporina é frequentemente útil para controlar os sinais clínicos de dermatite atópica; a sua eficácia em outras dermatoses alérgicas ainda não foi avaliada. É também importante para a dermatite atópica a hipossensibilidade com base em testes sorológicos (imunoterapia, ou “vacinas para alergia"). Hipossensibilidade não é recomendada para o tratamento da alergia alimentar; o seu papel na gestão da alergia a pulgas precisa ser pesquisado mais profundamente. Controle Os cães com dermatite alérgica deverão ser avaliados pelo menos duas vezes por ano depois do desaparecimento dos sinais clínicos; controles mais frequentes,dependendo dos potenciais efeitos adversos do tratamento (tal como os observados com ciclosporina ou corticosteroides) são sugeridos. Os cães também devem ser examinados se o prurido é repetitivo, porque isso pode significar tanto uma recaída no tratamento da dermatite alérgica (por exemplo, uma ingestão de alérgeno "proibido", ou um erro de controle das pulgas) a recorrência de uma infecção secundária ou o aparecimento de uma outra hipersensibilidade (ex.: o cão com alergia alimentar que desenvolve uma dermatite atópica). Princípios da alimentação coadjuvante Alergia Alimentar:O diagnóstico e o tratamento consistem em administrar uma dieta de eliminação “hipoalergênica". Esta dieta é baseada em exposição prévia a vários alimentos, podendo ser dietas de eliminação (antígenos limitados), tanto caseira como comercial. Os animais não devem ter contato com qualquer outra substância no período de teste de eliminação de alimentos, incluindo suplementos de vitaminas, brinquedos mastigáveis, medicações ou cremes dentais específicos. Dado que a dieta de eliminação caseira não é uma dieta equilibrada, os proprietários devem ser alertados sobre a possibilidade de perda de peso do gato, de desenvolver pelagem sem brilho, escamosa, ou um apetite maior do que o habitual. A nova dieta deve ser incorporada gradualmente ao longo de alguns dias, inicialmente misturada com a dieta anterior. Também é necessário alertar os proprietários caso o gato recuse a nova dieta por mais de dois dias, isso poderia causar doenças (lipidose hepática) e, portanto, deverão procurar rapidamente uma dieta mais palatável. Geralmente, a duração da dieta de eliminação é de 8 a 12 semanas. A persistência de algum prurido na semana 12 pode indicar a presença de outras hipersensibilidades simultâneas. Nos casos que os antibióticos são indicados para o tratamento de infecções secundárias, ou corticosteroides orais para prurido intenso, a dieta deve ser mantida por 2 semanas após a interrupção destes tratamentos, a fim de julgar corretamente sua eficácia. Após o tratamento dos sinais clínicos, o gato é alimentado com a sua dieta habitual para confirmar o diagnóstico. A recorrência de sinais clínicos geralmente aparece dentro das duas semanas seguintes. O gato é alimentado de novo com a dieta de eliminação e o proprietário pode administrar os alérgenos suspeitos, proporcionando cada um 1 a 2 semanas de cada vez. Os alérgenos mais comuns testados em gatos são proteínas encontradas em: leite e produtos lácteos, peixe e carne. Uma vez que os alérgenos ofensivos são identificados, pode ser fornecida comida comercial para gatos sem esses alérgenos. Quando os proprietários se recusam a realizar testes de provocação, você pode utilizar um alimento para gatos com antígeno limitado. nPetiscos – Durante o teste de eliminação de alimentos não pode ser utilizado nenhum petisco, exceto aqueles que contêm os mesmos ingredientes que a dieta de eliminação. Após o diagnóstico de alergia alimentar e após encontrar uma dieta de manutenção adequada, os petiscos podem ser incorporados semanalmente para avaliar qualquer recorrência de sinais clínicos. nDicas para aumentar a palatabilidade –Algumas vezes, aquecer a dieta antes da alimentação pode melhorar a palatabilidade. Se o gato se recusa a comer a dieta de eliminação depois de 2 dias, será necessário testar uma dieta com outra proteína. n Recomendações para a dieta – As dietas de eliminação deverão evitar os alimentos dados anteriormente. No caso das dietas caseiras, as opções podem ser proteínas "novas" como porco, coelho e pato, e carboidrato como as batatas e a tapioca. As dietas comerciais deverão ser especificamente comercializadas com alérgenos limitados. Estes podem estar compostos por proteínas "novas" ou proteínas hidrolisadas cujo peso molecular seja suficientemente pequeno para não acionar o sistema imunológico do gato. Pontos para a educação do proprietário • Dermatite atópica:Os proprietários devem reconhecer que esta doença precisa ser controlada e tratada durante toda a vida do gato; se os AGE são úteis para controlar o prurido, então será necessário fornecê-los por toda a vida • Alergia a alimentos: Os proprietários precisam ser muito rígidos ao longo do teste de eliminação de alimentos. Eles devem manter um registro diário, no qual conste o prurido, tudo aquilo que for ingerido que não esteja na dieta. Também seria interessante anotar qualquer mudança nas fezes (por ex.: consistência, cheiro). • Alergia a picada de pulgas: Deve ser explicado o papel da pulga e os diversos inseticidas disponíveis para proteger o gato das picadas de pulgas. Embora a efetividade de AGE como uma ajuda no tratamento do prurido causado pela alergia a picada de pulgas não tenha sido investigada completamente, o proprietário pode tentar usar AGE como complemento para tratar as lesões causadas pelos parasitas. Dermatite alérgica - Gatos Stephen D. White, DVM, DACVD Definição Adermatite alérgicase refere a qualquer distúrbio de hipersensibilidade que produza uma condição inflamatória da pele. Os distúrbios mais comuns que afetam os gatos são alergia a picada de pulgas, alergia alimentar (também conhecida como hipersensibilidade alimentar) e dermatite atópica. Ferramentas de diagnóstico e medidas básicas O histórico clínico, incluindo a sazonalidade e a dieta ou as mudanças na dieta, é o primeiro passo para diagnosticar a causa da dermatite alérgica. Durante o exame físico, a localização das lesões pode fornecer informações importantes para o diagnóstico: se a causa é a alergia a picada de pulgas, as lesões são provavelmente na metade caudal do corpo e na área dorsal do pescoço, e é frequente a presença de dermatite miliar (pápulas incrustadas). No caso da dermatite atópica e de alergia alimentar, as lesões incluem prurido na face, cabeça e pescoço, dermatite miliar, complexo granuloma eosinofílico e alopécia auto-induzida. É necessária uma análise citológica da pele para comprovar a existência de infecções secundárias bacterianas ou Malassezia. Fisiopatologia A dermatite atópica é mediada pela imunoglobulina E (IgE) específica para alérgenos. Os alérgenos, por via percutânea, se ligam a anticorpos IgE ligados aos mastócitos, os quais, em seguida, liberam substâncias inflamatórias.¹ A etiologia da alergia alimentar não é bem conhecida, mas provavelmente estejam envolvidos tantos processos mediados por células quantos processos mediados por anticorpos. Na dermatite por alergia a picada de pulgas, os alérgenos são proteínas na saliva das pulgas. Predisposição Nos casos de gatos com dermatite atópica, a alergia alimentar ou a alergia a picada de pulgas, não foi comprovado de forma constante a predileção por idade, raça ou sexo. Modificações nos nutrientes essenciais Em gatos com dermatite atópica, podem ser usados ácidos graxos essenciais (AGE) como antipruríticos. Valores recomendados dos nutrientes essenciais Caso sejam utilizados suplementos, uma recomendação informal no caso de cães é a utilização de, pelo menos, 36 a 44 mg/kg de peso corporal/dia de ácido eicosapentaenoico (EPA, em inglês) proveniente do óleo de peixe, ou cerca de 1 g de óleo de peixe/5 kg de peso corporal. Não há nenhuma evidência para determinar se isto é ou não é adequado no caso de gatos. Nutriente % MS mg/100 kcal % MS mg/100 kcal Valores recomendados na dieta Necessidade mínima na dieta* n3 Total 0.4–0.8 81–156 n/d n/d (de óleo de peixe) EPA 0.24–50 50–94 n/d n/d A ingestão modificada destes nutrientes pode ajudar a combater alterações metabólicas induzidas pelos estados de doença. A composição recomendada da dieta é mostrada como percentual de matéria seca na dieta (MS) e como g ou mg por 100 kcal de energia metabolizável. Todos os outros nutrientes essenciais devem atender aos requisitos normais, de acordo com a fase de vida, estilo de vida e consumo de energia. *Necessidades de nutrientes para os animais adultos como determinada pela Associação Americana de controle de Alimentos (AAFCO). 8 9 Comorbidades comunsTrês dermatoses alérgicas podem ter infecções bacterianas (em geral, Staphylococcus spp) e/ou por Malassezia spp (fungo).² Estas precisarão ser tratadas, assim como a dermatite alérgica, já que as infecções podem produzir prurido.³ A alergia a alimentos também pode causar deficiências orgânicas gastrointestinais, especialmente colite. Raramente foi observado que a alergia a alimentos tenha causado angioedema ou sintomas semelhantes à asma.4 Estratégias para o manejo das interações medicamentosas Como foi observado previamente, serão necessários antibióticos e medicamentos antimicóticos (evitando o cetoconazol devido a seu conhecido efeito hepatotóxico em gatos) para tratar as infecções secundárias. Tais medicamentos são habitualmente administrados durante 4 a 8 semanas. Os corticosteroides podem ser necessários para controlar o prurido, embora o uso deles deva ser limitado a produtos por via oral com efeito de ação curta, da mesma maneira que a prednisolona (mais efetivo que a predinisona para muitos gatos). Quando forem considerados necessários os corticosteroides, deverá ser usada a menor dose diária possível a cada dois dias. A Tratar ou descartar infeções secundárias bacterianas ou por fungos Alergia alimentar Dermatite atópica Alergia a picada de pulgas Diagnosticar mediante um teste com dieta hipoalergênica ou de alérgenos limitados Diagnosticar com base no histórico clínico e quadro clínico Tentar um tratamento com AGE, sozinhos ou em uma combi- nação com outras formas (anti- histamínicos, corticosteroides, injeções de hipossensibilização) Diagnosticar com base no histórico clínico e quadro clínico Se o prurido não for resolvido, devem ser consideradas outras etiologias Se o prurido for resolvido, deve ser administrada a dieta anterior para confirmar o diagnóstico Se for confirmado, deve-se administrar alérgenos individuais para identificá-los, ou manter uma dieta balanceada com alérgenos limitados Começar o controle das pulgas; somar AGE como tratamento complementar Manejo nutricional da dermatite alérgica em gatos 9 ciclosporina frequentemente é útil para controlar os sinais clínicos da dermatite atópica; sua efetividade em outras dermatoses alérgicas ainda não foi avaliada. Também é importante para a dermatite atópica a hipossensibilização (imunoterapia ou "vacinas para alergia") baseada em testes intracutâneos ou serológicos. A hipossensibilização não é recomendada para o tratamento da alergia a alimentos; seu papel no manejo da alergia a picada de pulgas precisa ser investigado mais profundamente. Controle Os gatos com dermatite alérgica deverão ser controlados novamente pelo menos duas vezes por ano depois do desaparecimento dos sinais clínicos; são sugeridos controles mais frequentes dependendo dos possíveis efeitos adversos do tratamento (como aqueles observados com ciclosporina ou corticosteroides). Os gatos também serão examinados se houver repetição do prurido, porque isto pode significar uma recaída no tratamento da dermatite alérgica (por ex.: ingestão de um alérgeno "proibido" ou um erro no controle das pulgas), ou recorrência de uma infecção secundária ou o aparecimento de outra hipersensibilidade (por ex.: o gato alérgico a alimentos que desenvolve uma dermatite atópica). A ingestão de calorias deve ser controlada para manter os cães artríticos numa condi- ção corporal magra. A ingestão dietética de proteínas não influencia a osteoartrite. Princípios da Alimentação Coadjuvante A primeira prioridade para o tratamento dos cães com osteoartrite é atingir e manter uma condição física magra. Entre outras prioridades encontra-se a administração dos compostos que possam reduzir a dor articular por meio das suas propriedades anti- inflamatórias. Entre eles estão o hidrocloreto ou sulfato de glicosamina, o sulfato de condroitina, e os ácidos graxos Ômega 3, especialmente o ácido eicosapentaenoico. nPetiscos – Os petiscos para os cães com osteoartrite devem ser altamente palatáveis e ter baixo teor de calorias e gordura para evitar ganho de peso. nDicas para aumentar a palatabilidade–O teor de gordura do alimento para cães com osteoartrite não é muito restrito, sendo assim, a palatabilidade parece ser geralmente elevada. n Recomendações para a dieta– Uma dieta formulada para as necessidades nutricionais de cães com osteoartrite contém ácidos graxos ômega 3 e glicosamina, e tem um teor moderado de gordura (12,0% min.), um elevado teor de proteínas (30% min.) e teor de fibra moderada (4,0% min.). Cães obesos com osteoartrite podem ingerir uma dieta que tenha um baixo teor de gordura (4,0% para 8,5%), um teor de proteínas moderado (26% min.) e rico em fibra (16,0% min.). Pontos para a educação do proprietário • A osteoartrite afeta negativamente a mobilidade dos cães e reduz sua expectativa de vida.7 • A doença progride mais rapidamente em cães com excesso de peso do que aqueles que estão em bom estado físico.1 • Os sinais clínicos da osteoartrite diminuem em cães com excesso de peso, quando estes perdem peso.8 • Os sinais clínicos podem diminuir após a administração de suplementos nutricionais.4 • As atividades de baixo impacto podem ser benéficas para pacientes com osteoartrite.4, 9 • As variações bruscas de temperatura podem aumentar a dor sentida nas articulações4. Comorbidades comuns A osteoartrite pode levar a uma dor crônica nas articulações. A dor sentida é variável entre as estruturas (articulação do cotovelo é menos favorável do que a articulação do quadril), os tamanhos dos cães (os sinais clínicos são mais graves em cães pequenos e gigantes em comparação com cães de tamanho médio), e os indivíduos. Como resultado da dor crônica nas articulações, a região afetada pode perder a mobilidade em direções específicas, membros afetados se tornam mais fracos, e os pacientes afetados perdem aptidão muscular e cardiovascular. A combinação de articulações com dor e com menor mobilidade, membros mais fracos e cães não aptos conduzem a uma tendência ao sedentarismo e, possivelmente, a um aumento de peso. Estratégias para o manejo das interações medicamentosas A osteoartrite não está automaticamente associada a doenças sistêmicas, mas como os sinais clínicos são mais intensos nos pacientes idosos, a osteoartrite e outras doenças crônicas (por exemplo, insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca, hiperadrenocorticismo) muitas vezes são tratadas simultaneamente. O tratamento nutricional e com medicamentos para as doenças crônicas cardíacas, renais, gastrointestinais e outras doenças sistêmicas são prioritarias sobre o manejo nutricional e medicamentoso da osteoartrite. Também podem ser implementadas outras Osteoartrite - Cães Denis J. Marcellin-Little, DEDV, DACVS, DECVS, DACVSMR Definição A osteoartrite é uma doença progressiva das articulações com perda da integridade da cartilagem, causando a formação de tecido ósseo na margem da superfície articular, um aumento na espessura da cápsula articular e dor. Ferramentas de diagnóstico e medidas fundamentais • Mudanças na vontade ou capacidade para o exercício ou brincadeira • Resposta de dor ante a manipulação da articulação, diminuição da mobilidade articular ou crepitação. • Claudicação ou deslocamento do peso diagnosticado quando utilizada uma plataforma dinamométrica. Fisiopatologia A subluxação da articulação, o impacto de carga excessiva, as fraturas articulares e outras causas geram a osteoartrite. Estes agentes desencadeantes ativam a divisão e a multiplicação dos condrócitos. Inicialmente, aumenta a produção de proteoglicano e de colágeno anormais, quantitativa e qualitativamente. Com o tempo, o conteúdo de proteoglicano diminui, a estrutura da matriz do colágeno é alterada, e o funcionamento e a estrutura da cartilagem normal são perdidos. Osteófitos são formados em torno da articulação. Predisposição A osteoartrite é comum em cães. Principalmente decorrente da consequência da displasia de quadril, displasia do cotovelo e ruptura do ligamento cruzado craniano. Os cães maiores temmais predisposição do que aqueles com menor relação entre massa muscular e massa de tecido subcutâneo (por exemplo: Raça São Bernardo). Também os cães com sobrepeso, os de idade avançada e os condodistróficos. Mudanças nos nutrientes essenciais O estado físico é o fator limitante que tem o maior impacto na progressão da osteoartrite1. Portanto, é muito importante manter os cães com a osteoartrite, confirmada ou potencial, numa pontuação ótima de 4 ou 5 no sistema de pontuação da condição física (vide Apêndice I) de 9 pontos, limitando a ingestão calórica6. O aumento na concentração das unidades estruturais dos proteoglicanos (glucosamina e sulfato de condroitina) conduz a uma diminuição dos sinais clínicos em diversos estudos realizados em humanos com osteoartrite moderada a severa2, 3 .A evidência que apoia o seu uso em cães é mais escassa. Em um estudo clínico, o aumento da concentração de ácidos graxos poliinsaturados N 3, especialmente ácido eicosapentaenoico, levou a uma diminuição na claudicação nos cães com osteoartrite.4 Demonstrou-se que várias ervas reduzem os sinais clínicos de artrite em seres humanos, mas a sua eficácia e segurança não estão documentadas no caso dos cães.5 Valores recomendados dos nutrientes essenciais Nutriente % MS mg/100 kcal % MS mg/100 kcal Valores recomendados na dieta Necessidade mínima na dieta n3 Total (de 1.0–2.0 240–300 n/d n/d óleo de peixe) EPA 0.5–1.0 100–200 n/d n/d A ingestão modificada destes nutrientes pode ajudar a combater alterações metabólicas induzidas pelos estados de doença. A composição recomendada da dieta é mostrada como percentual de matéria seca na dieta (MS) e como gr. ou mg. por 100 kcal de energia metabolizável. Todos os outros nutrientes essenciais devem atender aos requisitos normais, de acordo com a fase de vida, estilo de vida e consumo de energia. * Necessidades de nutrientes para os animais adultos como determinada pela Associação Americana de controle de Alimentos (AAFCO). 10 estratégias, incluindo exercícios terapêuticos, alongamento ou terapia com frio, dependendo das necessidades específicas do paciente. Os exercícios terapêuticos podem ser usados para fortalecer, aumentar a resistência e alongar. A taxa de emagrecimento recomendada para pacientes com artrite e com excesso de peso que sofrem de doenças sistêmicas é de aproximadamente 1% do peso corporal por semana. Este valor é inferior à taxa de 1% a 2% do peso corporal por semana recomendada para pacientes com artrite e excesso de peso que não sofrem com doenças sistêmicas. Controle O controle de sinais clínicos e as respostas à terapia nutricional ou medicamentos para os pacientes com artrite podem ser feitos com novos exames, incluindo a avaliação de habilidades motoras (postura, marcha ao caminhar e correr) e a resposta à dor ao apalpar a articulação. A frequência de monitoramento está Manejo Nutricional da Osteoartrite Sintomática em Cães • Manejo nutricional • Dor (medicamentos anti-inflamatórios) • Exercícios terapêuticos Novas avaliações Peso Normal Com sobrepeso ou Obeso Programa de perda de peso (1%–2% do peso corporal por semana) 11 relacionada com a gravidade dos sinais clínicos. Os pacientes mais jovens e menos afetados podem ser avaliados de forma intermitente (por exemplo, a cada 6 meses). Os pacientes de maior idade e gravemente afetados podem ser avaliados uma vez por mês. A perda de peso deve ser avaliada com frequência (a cada 2 ou 4 semanas). O manejo do paciente também inclui a comunicação com o proprietário, todas as semanas. Nesse momento, podem ser feitas as modificações necessárias para os programas de nutrição, exercício e medicação, conforme necessidade. Osteoartrite/Doença degenerativa das articulações - Gatos B. Duncan X. Lascelles, BSc, BVSC, PhD, MRCVS, CertVA, DSAS(ST), DECVS, DACVS Definição Normalmente, a artrite é definida como uma inflamação da articulação que se caracteriza por inchaço, dor e mobilidade restrita. A doença degenerativa das articulações (DAD) é a destruição progressiva de componentes comuns, ou seja, cartilagem, osso subcondral, cápsula articular e ligamentos. A DAD pode afetar articulações sinoviais, tais como anfiartrodias. Muito pouco se sabe sobre a doença das articulações nos gatos; portanto, o termo DAD será usado já que a artrite provoca graus variáveis de DAD. Ferramentas de diagnóstico e exames complementares Histórico da deterioração da mobilidade e da atividade. Têm-se realizado poucos estudos em gatos sobre a avaliação da dor osteoartrítica. 1,2. Entretanto, os trabalhos indicam que, assim como no caso dos cães, os proprietários devem estar particularmente envolvidos no processo. As atividades afetadas pela osteoartrite nestes animais ainda não são totalmente identificadas, dificultando a avaliação da dor. Um estudo recente em 28 gatos com osteoartrite mostrou que a claudicação óbvia não era uma característica clínica comum. 1 No entanto, características como saltos ascendentes e descendentes, a altura do salto, o movimento geral, o "mau humor" ao ser manipulado e o desejo de isolamento são possíveis atividades e comportamentos que devem ser estudados. Estes resultados foram confirmados em um teste cego aleatório publicado recentemente que utilizou monitores de atividade como uma medida objetiva da mobilidade.2 Neste estudo, as atividades que os proprietários escolheram para a avaliação foram saltos ascendentes/descendentes, brincadeiras (brinquedos, outros gatos), correr (até a comida, fugindo de outros animais), deitar-se, subir escadas, caminhar, arranhar, limpar-se, utilizar pedras sanitárias e caçar. Um trabalho mais recente dos mesmos autores tem dado mais enfoque sobre as atividades que poderiam ser apropriadas, eles pedem que os proprietários sejam consultados no momento de avaliar a dor causada pela DAD nos gatos.3 Testes de desempenho na clínica. Estes testes podem ser difíceis de realizar com os gatos, mas entre os testes simples são: 1) Colocar o gato no chão e observar como ele se move ao redor da sala, 2) encorajar o gato a saltar de uma mesa ou cadeira, e 3) encorajar o gato a saltar e alcançar o colo da pessoa que pratica o teste. Avaliar como o gato desempenha essas tarefas pode, em alguns casos, fornecer informações valiosas, ajudando o medico veterinário a identificar o problema e avaliar o grau do dano. Exame ortopédico. Os exames fisicos nem sempre apontam com clareza a patologia, onde a colaboração do animal é fundamental. A seguir algumas dicas para a manipulação dos animais: • Esteja preparado para dedicar o tempo necessário. • Tenha uma atitude calma. • Use uma sala calma, longe de cães latindo sem "esconderijos" onde o gato possa entrar. • Utilize uma superfície onde o animal possa ficar que seja macia e não escorregue. • Minimize as restrições. • Realize o teste na posição em que o gato esteja confortável (por exemplo, em pé ou deitado nos braços do proprietário). • Muitas vezes, o teste é facilitado quando o proprietário está presente, mas alguns gatos podem se sentir mais relaxados se o proprietário não está presente. • O teste deve incluir todas as articulações e o esqueleto axial. • Esteja preparado para realizar o teste por partes e repita se necessário. Os gatos parecem incomodados muito mais que os cães, quando suas articulações são estendidas, e frequentement e reagirão negativamente à extensão do cotovelo e da virilha. Esta reação não deve ser mal interpretada. Goniometria. A goniometria pode ser uma ferramenta válida no gato4, mas apenas um estudo utilizou a goniometria nesta espécie, provavelmente devido à dificuldade em definir reações de dor em gatos5. Nenhum estudo ainda utilizou a goniometria como uma ferramenta para avaliar a amplitude de movimento articular sem dor. Para os gatos têm se definido intervalos normais de movimento articular4. Dados não publicados do autor (B. Duncan X. Lascelles) indicam que a redução na amplitude de movimento está significativamente associada com evidência radiográfica de DAD. Avaliação radiográfica.Devem obter vistas ortogonais das articulações com dor. Ainda que não sejam observados indicadores radiográficos que correspondem à doença articular degenerativa, não se deve descartá-la. O autor descobriu que há apenas uma sobreposição moderada entre as articulações que se apresentam clinicamente com dor e aqueles que têm indicadores radiográficos de doença articular degenerativa. Fisiopatologia Enquanto Allan descreve causas comuns de osteoartrite em gatos6, há pouca evidência documentada sobre a causa do DAD em gatos. Duas formas principais de osteoartrite são bem conhecidas: a mucopolissacaridose e osteocondrodisplasia7-9 em gatos de raça pura Fold Escocês. Atualmente, as causas secundárias documentadas da DAD em gatos são nutricionais (secundárias por excesso de vitamina A), displasia de quadril, as poliartropatias não infecciosa e as artropatias infecciosas. Predisposição Parece que a incidência da DAD no gato aumenta com a idade, de 10 a 12 anos e isso foi confirmado em um estudo prospectivo transversal recente.13 Não é conhecida qualquer outra associação de identificação, mas surgiram sugestões de que a displasia do quadril que conduz à DAD é mais comum em gatos de raça pura.14 Modificações nos nutrientes essenciais É provável que as dietas com altos níveis de óleo de peixe Ômega 3, especialmente os ácidos docosahexaenoico (DHA) e eicosapentaenoico (EPA), sejam benéficos. Um estudo realizado em gatos sugeriu um efeito benéfico da dieta rica em EPA e DHA em alguns marcadores séricos da doença em gatos com artrite15. Há um teste cego, prospectivo e controlado por placebo que pesquisa os efeitos da dor uma “dieta para DAD” nos gatos16. O estudo avaliou uma dieta para a DAD com altos níveis de DHA e EPA e também de sulfato de condroitina, hidrocloreto de glicosamina e extrato de mexilhão verde. A atividade diminuiu significativamente no grupo alimentado com a dieta controle e houve um aumento significativo no grupo alimentado com a dieta para a DAD. Existem muitos trabalhos sendo desenvolvidos, mas a modulação da dieta pode ser um meio eficaz de tratar a dor associada à DAD em gatos. Valores recomendados dos nutrientes essenciais 12 Nutriente % MS mg/100 kcal % MS mg/100 kcal Valores recomendados na dieta Necessidade mínima na dieta* n3 Total (de 1.0–2.0 240–300 n/d n/d óleo de peixe) EPA 0.5–1.0 100–200 n/d n/d Se for utilizado ácidos graxos Ômega 3, deve-se proporcionar EPA preformado proveniente de óleo de pescado. Todos os outros nutrientes essenciais devem aten- der aos requisitos normais, de acordo com a fase de vida, estilo de vida e ingestão de energia. * Necessidades de nutrientes para os animais adultos como determinada pela Associação Americana de controle de Alimentos (AAFCO). Princípios da alimentação coadjuvante Como se observa, a ciência da proteção ou preservação das articulações em gatos não é totalmente precisa para recomendar um princípio de alimentação coadjuvante. Recomendações informais incluem o fornecimento de suplementos como o sulfato de glicosamina - condroitina e insaponificáveis de abacate/soja (ASU, em inglês) Pontos para a educação do proprietário • A claudicação clinicamente visível nos gatos tem sido associada ao peso; 17gatos que apresentaram excesso de peso são 4,9 vezes mais propensos a desenvolver uma claudicação que requer cuidados veterinários. No entanto, como no caso de outras espécies, devemos manter os gatos no escore de condição corporal (ECC) ideal. • Tradicionalmente, tem se aconselhado aos proprietários que evitem dar restos de alimento e petiscos para seus gatos obesos. No entanto, um estudo indicou poucos benefícios com a restrição de petiscos em programas de emagrecimento e perda de peso18. Na verdade, os autores deste estudo sugerem que seja permitido que os proprietários forneçam petiscos para auxiliar o cumprimento das metas e melhorar a relação dono-animal de estimação8. • É importante trabalhar para aliviar a dor associada à DAD em gatos para melhorar seu bem-estar e qualidade de vida Comorbidades comuns Nenhuma associação foi demonstrada para as comorbidades comuns com a DAD em gatos. No entanto, uma vez que a incidência da DAD em gatos parece aumentar com a idade, como foi comentado recentemente13 , todas as doenças mais frequentemente observadas em gatos idosos (como insuficiência renal, doença cardíaca, diabetes, doença inflamatória do intestino) devem ser consideradas como potenciais comorbidades e as dietas devem ser formuladas tendo em conta as doenças coexistentes em cada gato. Controle O controle da DAD em gatos e a dor associada a esta doença deverão estar alinhados conforme o capítuloFerramentas de Diagnóstico e Exames Básicos . 13 Manejo nutricional da suspeita de artrite/doença degenerativa das articulações nos gatos Avaliação Exame • Histórico clínico • Testes de desempenho • Radiografia Diagnóstico do DAD com dor Detecção de doenças coexistentes Formulação da dieta baseada principalmente em doenças coexistentes Considerações secundárias para a formulação da dieta Peso Normal Sobrepeso Consideração de suplementos nutricionais e ou dietas formuladas para DAD em gatos (se disponível) Dieta para reduzir o peso + suplementos para a dor do DAD Controle da dor (veja avaliação) Se a dor continua e a atividade declina, considere o tratamento com medicamentos, cirurgia ou outro tratamento adequado Doença cardíaca - Cães Lisa M. Freeman, DVM, PhD, DACVN Definição As doenças cardíacas são comuns em cães, afetando cerca de 11% dos animais; podendo ser congênitas ou adquiridas e afetar as válvulas coronárias, miocárdio ou sistema venoso/arterial.. A insuficiência cardíaca ocorre quando a doença se torna grave o bastante para que o coração não consiga bombear sangue suficiente para suprir todos os tecidos. É comum que os sinais clínicos, que variam entre leve a grave, acompanhem a insuficiência cardíaca. Na insuficiência cardíaca congestiva (ICC), a diminuição da função cardíaca provoca pressão venosa alta e consequente acúmulo de líquidos (por exemplo: edema pulmonar, derrame pleural, ascite). A ICC é a via final comum da maioria das doenças, sendo a doença valvular crônica(DVC) mais comum nos cães (> 75% de todas as doenças cardíacas). Em segundo lugar, destacamos a miocardiopatia dilatada (CMD). Também se produzem doenças cardíacas congênitas, especialmente em certas raças. Todas estas doenças podem levar à insuficiência cardíaca. Existem diversos sistemas para classificar a gravidade das enfermidades. Um deles é a classificação de insuficiência cardíaca do Conselho Internacional de Saúde Cardíaca em Pequenos Animais (ISACHC, em inglês) (Tabela 1). Ferramentas de diagnóstico e exames complementares Devem ser considerados para o diagnóstico de doenças cardíacas em cães o peso corporal (PC), a pontuação do Escore de Condição Corporal (ECC; ver Apêndice I), o desgaste muscular, o apetite/ingestão de alimentos (histórico alimentar; ver Apêndice II), os sinais clínicos (por exemplo: tosse, falta de ar, ascite, fraqueza, desmaios, vômitos, diarreia) e valores laboratoriais, incluindo níveis séricos de nitrogênio ureico (BUN, em inglês), creatinina, eletrólitos, hematócrito e taurina (em plasma e sangue total se houver suspeita de deficiência de taurina). Outros testes, se indicados, podem incluir raio-X de tórax, pressão arterial, eletrocardiograma, ecocardiograma e Holter. Fisiopatologia Entre as alterações produzidas em animais com insuficiência cardíaca que influenciam no manejo nutricional encontramos as seguintes: Calorias.Muitos animais com doenças cardíacas, especialmente quando surge o ICC, apresentam uma diminuição da ingestão de alimentos. Isto pode ser o resultado de um aumento da produção de mediadores inflamatórios (por exemplo: Citocinas, estresse oxidativo), os efeitos colaterais dos medicamentos para o coração, ou fraco controle dos indicadores de insuficiência cardíaca. Proteínas/Aminoácidos. A perda de massa muscular (caquexia) ocorre em animais com insuficiência cardíaca comoresultado da redução do apetite, da maior necessidade de energia, citocinas pró inflamatórias e da intolerância ao exercício. A deficiência de taurina pode estar presente em certas raças de cães com CMD (ex.: Cocker Spaniel, Golden Retriever, Terra Nova, São Bernardo, Cão de Água Português), e também tem sido associada a dietas com farinha de cordeiro e arroz, rica em fibras e baixo teor de proteínas. A arginina pode ser um fator, já que a função endotelial pode ser reduzida em animais com ICC, o que contribui para reduzir a tolerância ao exercício. Gordura. Os cães com ICC demonstraram ter uma deficiência relativa de ácidos graxos n-3, ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexanoico (DHA), em comparação com os cães saudáveis do grupo de controle. Os ácidos graxos n-3 reduzem os mediadores inflamatórios e têm efeitos antiarrítmicos. Minerais.A retenção de água e sódio ocorre na insuficiência cardíaca devido à ativação do sistema renina angiotensina aldosterona. A hipocalemia pode ocorrer em cães que receberam diuréticos da alça (por exemplo: Furosemida) ou tiazidas (por exemplo: Hidroclorotiazida). A hipocalemia pode aumentar o risco de arritmia cardíaca. A hipercalemia pode ocorrer em cães tratados com inibidores da ECA (enzima conversora de angiotensina) ou diuréticos retentores de potássio (por exemplo: Espironolactona). Os cães que recebem doses elevadas de diuréticos estão sob o risco de apresentar hipomagnesemia, o que pode aumentar o risco de arritmia cardíaca. Vitaminas.Nos cães que recebem diuréticos, é possível causar uma perda maior de vitamina B pela urina. Outros nutrientes. Foi relatado sobre a deficiência de carnitina em uma família de cães da raça Boxer com CMD. Suplementos com carnitina podem melhorar o metabolismo energético em animais com ICC. Além disso, cães com ICC apresentam maior estresse oxidativo (isto é, um desequilíbrio entre a produção de oxidantes e a proteção antioxidante). Predisposição Doença valvular crônica (DVC) é a doença cardíaca mais comum em cães e geralmente afeta as raças de tamanho pequeno e médio. Algumas das raças com maior risco de acidente vascular cerebral são Cavalier King Charles Spaniel, Chihuahua, Dachshund, Schnauzer miniatura e Poodle toy e miniatura. A cardiomiopatia dilatada (CMD) é geralmente encontrada em cães grandes e gigantes, raças como Doberman Pinscher, Boxer, Galgo Irlandês e Dogue Alemão. Alguns cães com CMD podem ter deficiência de taurina; as raças que são predispostas são: Cocker Spaniel, São Bernardo, Golden Retriever, Terra Nova, e Cão de Água Português. As raças com CMD, que geralmente não a desenvolvem CMD (por exemplo: Dachshund [salsicha], Corgi) também podem ser deficientes em taurina. Mudanças nos nutrientes essenciais Calorias.É crucial assegurar a ingestão adequada de calorias para manter um PC ideal. A obesidade pode estar presente, especialmente em cães com doença cardíaca precoce (assintomática). A medida que o ICC se desenvolve, a perda de peso (e massa magra) se torna comum. Portanto, assegurar a ingestão adequada de calorias é muitas vezes crucial nesta fase. 14 Tabela 1. Classificação da insuficiência cardíaca* do Conselho Internacional de Saúde Cardíaca em Pequenos Animais (ISACHC, em inglês). 1. Assintomática A doença cardíaca é detectável, mas o paciente não é abertamente afetado e não mostra sinais clínicos de insuficiência cardíaca. Achados diagnósticos podem incluir um sopro cardíaco, arritmia ou alargamento dos átrios que é detectado por radiografia ou ecocardiograma. 1a Há a presença de indicadores de doenças do coração, mas não é conhecido qualquer indicador de compensação, tais como hipertrofia ventricular com sobrecarga da pressão ou de volume. 1b Há presença de indicadores de doença cardíaca com evidência radiográfica ou ecocardiográfica de compensação, tal como a hipertrofia ventricular com sobrecarga de pressão ou volume 2. Insuficiência cardíaca leve a moderada Os sinais clínicos de insuficiência cardíaca são evidentes em repouso ou com esforço leve e afetam negativamente a qualidade de vida. Os indicadores típicos de insuficiência cardíaca incluem intolerância ao exercício, tosse, taquipnéia, desconforto respiratório leve (dispnéia) e ascite leve a moderada. Geralmente não há nenhuma presença de hipoperfusão em repouso. 3. Insuficiência cardíaca avançada Os sinais clínicos de insuficiência cardíaca congestiva avançada são óbvios de imediato. Estes sinais incluem dificuldade para respirar (dispnéia), ascite evidente, profunda intolerância ao exercício, ou hipoperfusão em repouso. Em casos mais graves, o paciente está morrendo e sofrendo choque cardiogênico. Sem tratamento, o prognóstico é reservado. 3a É possível o cuidado em casa. 3b A hospitalização é obrigatória quando houver a presença de choque cardiogênico, edema pulmonar, ascites refratária ou grande derrame pleural. * De acordo com o Conselho Internacional de Saúde em Pequenos Animais. Recomendações para o diagnóstico de doenças cardíacas e tratamento da insuficiência cardíaca em pequenos animais, de 1994. Princípios da alimentação coadjuvante Evite fazer grandes mudanças na dieta quando o cão está hospitalizado por um episódio agudo de insuficiência cardíaca. Continue alimentando o cão com sua dieta habitual (a menos que seja muito rica em sódio), mas peça ao proprietário para descontinuar qualquer petisco ou alimento da mesa com alto teor de sódio. Quando o cão retornar aos 7-10 dias para uma reavaliação, pode-se estabelecer uma mudança gradual para uma dieta mais adequada. Isso ajuda a evitar a aversão a alimentos que pode ocorrer quando uma nova dieta é imposta a um cão extremamente doente. Caloriasdevem ser alteradas para manter a condição física ideal (por ex.: reduzir a ingestão de calorias nos animais obesos; aumentar a ingestão calórica em animais que estão abaixo de seu peso corporal/Escore de Condição Corporal (ECC) ideal). Proteínas/Aminoácidos.A dieta deve conter > 5,1 g de proteína/100 Kcal. Note que muitas dietas para cães cardíacos têm baixo teor de proteínas. Devem ser evitadas dietas com <5,1 g de proteína/100 kcal, a menos que haja uma presença concomitante de doença renal. Em cães com CMD pertencentes a raças predispostas deficiência de taurina ou raças que geralmente não desenvolvem CMD, determinar a concentração de taurina e começar a suplementação deste elemento enquanto aguarda os resultados (250-1000 mg a cada 8 a 12 horas). Gorduras.A dose ideal de ácidos graxos n-3 ainda não foi determinada, no entanto, o autor recomenda, atualmente, uma dose de óleo de peixe de 40 mg/kg de EPA e 25 mg/kg de DHA no caso de animais com anorexia ou caquexia. A menos que a dieta seja uma das poucas dietas coadjuvantes especialmente formuladas, serão necessários suplementos para atingir esta dose de ácidos graxos n-3. Os suplementos de óleo de peixe podem variar na sua concentração de EPA e DHA por isto o autor recomenda uma cápsula de 1 grama com conteúdo de 180 mg de EPA e 120 mg de DHA. A esta concentração, o óleo de peixe pode ser administrado numa dose de 1 cápsula a cada 4,5 kg de peso corporal. Alternativamente, pode-se utilizar uma forma líquida de ácidos graxos n-3 (por exemplo: Cardiguard de Boehringer Ingelheim contendo 420 mg de EPA e 280 mg de DHA por grama). Tenha em mente que se o proprietário não puder administrar a cápsula, o cão vai ser exposto a um sabor muito forte de óleo de peixe, e nem todos os animais apreciam este sabor. No caso de cães que não gostam do sabor, pode não ser possível administrar ácidos graxos n-3 por causa dos efeitos adversos sobre a ingestão de alimentos. Os suplementos de óleo de peixe devem conter vitamina E como um antioxidante, mas não incluem outros nutrientes para prevenir toxicidade. O óleo de fígado de bacalhau e o óleo de linhaça não devem ser utilizados para fornecer os ácidos graxos n-3. Minerais. Com respeito ao sódio: • Etapa 1 segundo ISACHC: Sugerir ao proprietário que evite as dietas ricas em sódio (> 100 mg/100 kcal) e também petiscos e alimentosda mesa com esse conteúdo. • Etapa 2 segundo ISACHC: O objetivo deve ser <80 mg/100 kcal no alimento para cães. Também é importante a ingestão de sódio proveniente de outros alimentos (ex.: petiscos, alimentos da mesa, alimentos usados para administrar medicação). • Etapa 3 segundo ISACHC: O alimento para cães deve conter <50 mg/100 kcal, embora a anorexia possa requerer menos severidade quanto ao teor de sódio na Proteínas/Aminoácidos. O objetivo para ajudar a combater a perda de massa deve ser uma ingestão normal ou maior de proteína. Deve-se evitar a restrição de proteína a menos que haja presença concomitante de doença renal grave. Em cães com CMD pertencentes a raças predispostas a deficiência de taurina ou raças que geralmente não desenvolvem CMD, deve-se determinar a concentração de taurina e suplementação de taurina enquanto aguardam resultados. A taurina também pode fornecer alguns benefícios devido aos seus efeitos antioxidantes e inotrópicos positivos. Demonstrou- se que a suplementação de arginina em outras espécies melhora a disfunção endotelial associada à ICC. Isto ainda não foi comprovado no caso de cães. Gordura. Efeitos anti-inflamatórios e antiarrítmicos dos ácidos graxos n-3 podem proporcionar benefícios potenciais para animais com doenças cardíacas. A suplementação com ácidos graxos n-3 reduz a perda de massa em cães com ICC e melhora o apetite em alguns animais. Além disso, verificou-se que os ácidos graxos n-3 reduzem as arritmias ventriculares em cães da raça Boxer com cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito. Os ácidos graxos n-3 podem ser fornecidos em dietas altamente enriquecidas com esta forma de gordura ou suplementos dietéticos. Minerais. Não é recomendada a restrição severa de sódio ante a doença cardíaca precoce (assintomática), já que a restrição de sódio ativa o sistema renina angiotensina aldosterona. Na doença cardíaca precoce, o objetivo deve ser o de evitar o consumo excessivo de sódio e educar o proprietário sobre os petiscos e alimentos da mesa com alto teor de sódio. À medida que a doença cardíaca progride e a ICC desenvolve, o aumento da restrição de sódio é indicado; isto pode ajudar a reduzir as doses de diuréticos necessários para controlar os sinais clínicos. É importante controlar a ingestão de sódio proveniente de alimentos para cães, mas também é fundamental garantir que sejam consideradas outras fontes de ingestão de sódio, como petiscos, alimentos da mesa e os alimentos utilizados para administração de remédios. A recomendação para alterar o potássio dietético depende dos medicamentos que estejam sendo administrados e da concentração de potássio no soro. As dietas para cães possuem uma vasta gama de potássio, por isso, é importante o uso de uma alimentação apropriada para cada paciente individualmente (ou seja: evitar dietas ricas em potássio em cães com hipercalemia). Consequentemente, é preciso monitorar o potássio sérico, especialmente quando são administrados outros medicamentos ao paciente. Os níveis de magnésiosérico também devem ser controlados, especialmente em cães que receberam doses elevadas de diuréticos. Deve ser suplementado com magnésio, no caso de cães com hipomagnesemia. Vitaminas. A maioria das dietas para cardíacos contêm níveis mais altos de vitamina B. Se estiver administrando doses elevadas de diuréticos, pode indicar a suplementação de vitamina B. Outros nutrientes.Pode-se fornecer suplementos de L-carnitina aos proprietários que desejam fornecer suplementos dietéticos para seus cães com CMD além dos medicamentos cardíacos do cão (deve-se ter cuidado para evitar uma situação em que o proprietário forneça suplementos em vez de medicamentos para o coração). A deficiência primária de carnitina como uma causa do CMD é provavelmente baixa, ainda que a raça Boxer possa ser uma raça predisposta. A carnitina pode também melhorar a despolarização do miocárdio em cães com ICC. Às vezes, é recomendada a coenzima Q10 para cães com CMD como um antioxidante e para ajudar no metabolismo da energia do miocárdio. Não há estudos controlados em cães com doenças cardíacas espontâneas e os resultados de outras espécies são contraditórios sobre os possíveis benefícios da suplementação com a enzima Q10. A suplementação com antioxidantes demostrou reduzir o estresse oxidativo em um estudo em cães com DVC. No entanto, os efeitos sobre a progressão da doença e as consequências clínicas são desconhecidos. 15 Nutriente mg/100 kcal mg/100 kcal Níveis recomendados na dieta Necessidade mínima na dieta* Proteína (g) 5.5–8 5.1 Sódio (mg) 35–100 17 (depende da etapa da doença) A ingestão modificada destes nutrientes pode ajudar a combater alterações metabólicas induzidas pela doença cardíaca ou pelos medicamentos utilizados para tratar a doença. A composição recomendada da dieta é mostrada por g ou mg por 100 kcal de energia metabolizável. Todos os outros nutrientes essenciais devem atender aos requisitos normais, de acordo com a fase de vida, estilo de vida e consumo de energia, exceto por aqueles descritos de maneira diversa no texto. * Necessidades de nutrientes para os animais adultos como determinada pela Associação Americana de controle de Alimentos (AAFCO). Valores recomendados dos nutrientes essenciais dieta (<80 mg/100 kcal) de modo a proporcionar mais opções. É importante controlar a ingestão de sódio de outros alimentos (ex.: petiscos, alimentos da mesa, alimentos utilizados para administrar medicamentos), pois estes podem ser importantes fontes de sódio. A recomendação para alterar o potássio na dieta depende dos medicamentos que estejam sendo administrados e da concentração de potássio sérico. Devem ser usadas dietas ricas em suplementos de potássio ou magnésio por via oral em cães com hipomagnesemia. Vitaminas. Se doses elevadas de diuréticos são administradas, pode-se indicar a suplementação de vitamina B. Outros nutrientes. A dose ideal ou a mínima de L-carnitina necessária para um cão com baixos níveis de carnitina do miocárdio é desconhecida, mas a dose recomendada é de 50-100 mg/kg por via oral a cada 8 horas. Para a coenzima Q10, a dose atual recomendada (mas empírica) em cães é de 30-90 mg por via oral duas vezes por dia, dependendo do tamanho do cão. nPetiscos–A maioria dos cães com doença cardíaca (> 90% em um estudo) recebem petiscos ou alimentos da mesa. Portanto, é importante discutir isso com os proprietários. Fazer recomendações específicas para os proprietários sobre os petiscos que são apropriados (e aqueles que devem ser evitados) é importante, uma vez que grande parte dos petiscos comerciais são ricos em sódio e a maioria das pessoas ignora o teor de sódio nos alimentos humanos. Os alimentos a serem evitados são: a maioria dos petiscos comerciais para cães (a menos que indique especificamente ter baixo teor de sódio), alimentos para bebês, alimentos em conserva, pão, pizza, presuntos e embutidos, condimentos (por exemplo: ketchup, molho), a maioria dos queijos, alimentos processados (por exemplo: misturas com arroz, macarrões e queijo, comidas congeladas), vegetais enlatados (a menos que na lata se leia “sem sódio” ou “baixo teor de sódio”), biscoitos ou ossos de couro cru, sopas úmidas e petiscos (por exemplo:. batatas fritas, bolachas salgadas). Entre os petiscos aceitos incluem frutas frescas (ex.: maçãs, laranjas, bananas, evitar as uvas), legumes frescos (ex.: cenouras, ervilhas; evitar a cebola e o alho), petiscos para cães que indicam baixo teor de sódio (<20 mg de sódio/petiscos para cães de tamanho médio-grande; <10 mg/petiscos para cães de pequeno porte). Levar em consideração que mesmo os petiscos e os alimentos de baixo teor em sódio podem fornecer grandes doses de sódio, se eles são fornecidos em grandes quantidades, especialmente no caso de cães pequenos. Também é importante fornecer os métodos adequados para o proprietário administrar medicamentos, pois muitos proprietários de cães usam a comida para administrar medicamentos e muitos alimentos comuns utilizados são ricos em sódio.Pode-se ensinar ao proprietário a administrar um comprimido sem o uso de alimentos (à mão ou usando um dispositivo projetado para esta finalidade). Alternativamente, pode-se usar alimentos como frutas frescas (ex.: bananas, melões), alimentos enlatados de baixo teor de sódio, manteiga de amendoim (rotuladas como “sem adição de sal”), ou carne cozida em casa (sem sal, sem embutidos). Finalmente, pode-se considerar um medicamento líquido composto, embora a farmacocinética dos medicamentos possa ser modificada de forma significativa. nDicas para aumentar a palatabilidade –Com frequência, cães com ICC têm um apetite cíclico (ou seja, comem bem certo alimento por 7 a 14 dias, mas, em seguida, param de comer). Embora a diminuição do apetite em um cão que comeu bem anteriormente possa indicar a necessidade de uma nova avaliação e de um ajuste na medicação, às vezes, oferecer um alimento diferente aumenta o apetite novamente. A comunicação com o proprietário sobre estas questões pode ajudar a reduzir a ansiedade. Os potenciadores de palatabilidade, tais como caldo caseiro com baixo teor de sódio (por exemplo: frango, carne), podem melhorar a palatabilidade. A maioria dos caldos industrializados são ricos em sódio, mesmo aqueles rotulados com “baixo teor de sódio”. Pode-se adicionar ao alimento: frango, carne ou peixe cozido. Cães com ICC muitas vezes preferem sabores doces, portanto a adição de baunilha ou iogurte de frutas, xarope natural ou purê de maçã geralmente melhora a palatabilidade e consumo do alimento. Muitas vezes, os ácidos graxos n-3 melhoram o apetite dos cães com ICC; no entanto, vai demorar 2 a 4 semanas para que possamos identificar os efeitos. Também podem ser considerados estimulantes de apetite (por exemplo: Cipro-heptadina, mirtazapina). Muitas vezes, os cães com ICC têm preferências quanto à temperatura do alimento (isto é, alguns só comem alimentos à temperatura ambiente, outros preferem alimentos frios, outros preferem comida quente). Deve-se motivar o proprietário a experimentar, a fim de determinar qual temperatura funciona melhor para seu cão. Às vezes, alimentar o cão em um prato (no lugar do tradicional pote de comida para cães) e em um local diferente do habitual pode melhorar o apetite. Pontos para a educação do proprietário • Fazer recomendações específicas para a dieta e petiscos (tipos e quantidades). • Avisar o proprietário sobre mudanças comuns no apetite dos cães com insuficiência cardíaca. • Fornecer ao proprietário os métodos adequados para a administração de medicamentos. • Perguntar a cada visita se o proprietário está administrando suplementos dietéticos. Se assim for, verifique se os suplementos são seguros, se eles não estão interagindo com dieta ou medicamentos e se são administrados em doses adequadas. • Além da questão da segurança e eficácia, surgem questões importantes sobre o controle de qualidade de suplementos alimentares (por exemplo: controle de qualidade, biodisponibilidade). Portanto, os médicos veterinários devem considerar recomendar suplementos alimentares específicos que contenham uma composição segura para cães com problemas cardíacos. Cada animal deve ser analisado inividualmente de forma que receba o tratamento de acordo com o estado de debilidade diagnosticado. Uma alterantiva para o médico veterinário no momento da prescrição é pesquisar marcas de suplementos alimentares que contenham o logotipo do Programa de Verificação de Suplementos Dietéticos (DSVP, em inglês) da Farmacopéia dos Estados Unidos, que testa suplementos dietéticos para os seres humanos em busca de ingredientes, concentrações, solubilidades e contaminantes. Alguns destes medicamentos podem ser encontrados no Brasil. Outro bom recurso é o Consumerlab.com, que realiza testes independentes sobre suplementos alimentares (principalmente suplementos para os seres humanos, mas também alguns produtos para animais). Comorbidades comuns Em um estudo, 61% dos cães com doença cardíaca tinham pelo menos uma doença concomitante. Portanto, você pode precisar modificar os objetivos nutricionais no caso de um cão com insuficiência cardíaca que apresente uma doença concomitante sensível aos nutrientes (por exemplo: Um cão com ICC e doença renal crônica ou doença gastrointestinal). Estratégias para o manejo das interações medicamentosas As interações medicamentosas - são comuns na ICC. Os diuréticos da alça (por exemplo: furosemida) ou tiazidas (ex.: hidroclorotiazida) podem aumentar o risco de hipocalemia e hipomagnesemia, enquanto os inibidores da ECA e os diuréticos poupadores de potássio (por exemplo: espironolactona) podem aumentar o risco de hipercalemia. A azotemia pode ser o resultado do excesso de uso de diuréticos. A anorexia pode ser um efeito secundário de muitos fármacos cardíacos (por exemplo, diuréticos, digoxina, inibidores de ECA). Controle A diminuição do apetite/ingestão de alimentos pode indicar a necessidade de modificações da dieta, mas pode também ser uma descompensação cardíaca precoce da doença ou da necessidade de modificar o indicador de medicação. O peso corporal deve ser controlado em cães obesos para atingir o peso ideal. Em animais com caquexia são necessárias alterações na dieta para minimizar a perda de peso/massa muscular. Tenha em mente que em animais com ICC no lado direito, o acúmulo de líquido (derrame pleural ou peritoneal) podem esconder o emagrecimento, mas a perda de peso e massa muscular é muito comum nestes cães, onde a massa magra deve ser cuidadosamente controlada. A pontuação do Escore de Condição Corporal (ECC) é útil para controlar os animais com doença assintomática e os obesos ou com sobrepeso. Tenha em mente que os sistemas de pontuação do escore de condição corporal (ECC) avaliam os depósitos de gordura, mas não a musculatura, por isso, um animal pode ter sobrepeso ou obesidade e ainda apresentar uma perda de massa muscular. Portanto, é importante para controlar o PC, a pontuação do escore de condição corporal e o grau de perda de massa muscular. A perda de massa muscular geralmente é observada primeiramente nos músculos temporais, epaxial e nádegas. A pontuação do estado muscular classifica, de maneira 16 17 Avaliação dos temas nutricionais na doença cardíaca dos cães Obter antecedentes completos da dieta dada (ver anexo II) - perguntar especificamente sobre o alimento para cães, petiscos, alimentos da mesa, alimentos utilizados para administrar medicamentos e suplementos alimentares (quantidades e tipos específicos) A doença cardíaca está sendo tratada com medicação de forma ideal? Com os sinais clínicos bem controlados, a qualidade de vida do cão está boa? Avaliação sobre o apetite / ingestão de alimentos do cão por parte do proprietário Se é menor, cíclico ou esporádico: • Avaliar se é necessária qualquer alteração nos medicamentos cardíacos • Considere mudanças na dieta (por exemplo: alterar o tipo ou marca dos alimentos, fornecer refeições menores com mais frequência, adicionar palatabilizantes, iniciar a suplementação com ácidos graxos n-3, adicionar um estimulante do apetite) Pontuação da condição muscular (caquexia) - avaliar o grau de perda de massa muscular nos principais grupos musculares, incluindo os músculos temporais, glúteos e epaxial (sem perda de massa muscular, perda leve, perda moderada e acentuada) O peso corporal é ideal para o cão? Está mudando? (aumentando ou diminuindo?) Determinar a Pontuação do escore de condição corporal (ECC; ver Anexo I) Se o peso corporal /a pontuação do escore de condição corporal (ECC) não são ideais, modificar a dieta (por exemplo, reduzir calorias se estiver com sobrepeso, aumentar a ingestão de calorias se estiver abaixo do peso) O alimento para cães contém ≥5,1 g de proteína / 100 kcal? É recomendado ≥5,1 g de proteína / 100 kcal, a menos que o cão apresente doença renal grave concomitante Se o cão tiver cardiomiopatia dilatada: • É uma raça predisposta a deficiência de taurina (por exemplo, Cocker Spaniel, São Bernardo, Golden Retriever, Terra Nova,
Compartilhar