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P_CienciaPolitic_FilosofiaPolitic (Pons Aula_6)

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FILOSOFIA POLÍTICA 
AULA 06: O CONTRATUALISMO DE JEAN-JACQUES ROUSSEAU 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Dr. Rafael Pons Reis 
 
 
CONVERSA INICIAL 
 
O objetivo do presente texto consiste em apresentar a visão política e os 
principais argumentos de Jean-Jacques Rousseau a partir de duas importantes 
obras que serão analisadas ao longo deste trabalho. Neste sentido, na primeira 
seção explanaremos o pensamento político de Rousseau, dando ênfase sobre 
seu entendimento de estado de natureza, sobre qual seria a melhor forma de 
se organizar o Estado, e sobre a vontade geral. Na seção seguinte, 
delinearemos as principais características acerca da condição humana no 
estado de natureza, e como o surgimento da propriedade privada alterou a 
liberdade do homem no ambiente natural. Na terceira seção apresentaremos a 
visão do autor sobre a passagem do estado de natureza ao estado civil, em 
especial, sobre a necessidade de se estabelecer uma sociedade civil permeada 
por leis criadas pelos próprios membros, a fim de que seja respeitada e 
garantida a vontade geral. Na quarta seção delinearemos brevemente algumas 
características do poder político oriundo do contrato civil; e na última seção 
será apresentada a visão de Rousseau sobre a importância da participação 
civil nas decisões relacionadas ao processo político a partir da construção de 
um ambiente democrático. 
 
TEMA 1 – O PENSAMENTO POLÍTICO DE ROUSSEAU 
 
Na sexta vídeo-aula estudamos o pensamento político de um dos 
autores que influenciou sobremaneira o pensamento político moderno, estamos 
nos referindo a Jean-Jacques Rousseau a partir de suas duas obras, o 
“Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os 
Homens” (1753) e “Do Contrato Social” (1762). Rousseau nasceu em Genebra, 
Suíça, em 1712, e ao longo de sua vida foi filósofo (considerado um dos 
principais pensadores do iluminismo francês), escritor, teórico político e 
compositor. 
Assim como outros filósofos contratualistas, seu pensamento político 
influenciou o iluminismo por toda a Europa e em outras regiões do mundo, em 
que pese suas contribuições para o movimento de independência dos Estados 
Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1789). O pensamento político de 
Rousseau é devoto do modelo contratualista, que, assim como em Hobbes e 
 
 
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em Locke, consiste em fundamentar a origem do Estado e da sociedade 
política a partir do estado de natureza. 
Nas aulas anteriores vimos que cada um dos pensadores políticos 
apresentava e defendia um conjunto de argumentos a fim de prescrever a 
melhor de governo entre os homens. Nesse sentido, para Aristóteles (no livro 
“A Política”), a melhor forma de governo consistia na criação de um governo 
misto; para Maquiavel, seria o Estado absolutismo (“O Príncipe”), e a República 
(“Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio”); para Hobbes (“Leviatã”), a 
melhor forma de governo seria uma monarquia absolutista; e, para Locke 
(“Segundo Tratado Sobre o Governo Civil”) consiste na criação do Estado 
liberal, tendo como poder soberano o Legislativo (Parlamento). E qual seria a 
proposta de Rousseau como melhor forma de se organizar o Estado? O autor 
apresenta uma formidável inovação em relação aos autores apresentados, pois 
para ele, o exercício do poder soberano do Estado deve estar alicerçado na 
soberania popular, isto é, o governo civil deve estar nas mãos do povo, um 
governo construído com base na vontade do povo ou vontade geral. 
Uma segunda inovação trazida pelo autor consiste na distinção entre 
“soberano” e o “governo”. Conforme vimos, para Hobbes, o poder soberano da 
sociedade civil cabe ao governante (um monarca, na condição de chefe do 
Executivo), enquanto que para Locke o poder estaria nas mãos do poder 
Legislativo (Parlamento). Já para Rousseau o poder do Estado deve estar 
explicitado na vontade geral, em uma perspectiva global acerca dos 
sentimentos da sociedade e do cidadão (BOBBIO, 1998). 
Outro ponto que merece ser ressaltado da visão política de Rousseau 
consiste sobre seu entendimento de liberdade, neste sentido destaca-se “(...) 
seu empenho em conjugar a liberdade do cidadão com o Estado, de modo que 
o cidadão só é considerado livre se viver em sociedade civil” (QUADROS, 
2016, p. 101). De fato, não encontramos essa preocupação nos demais autores 
contratualistas, por exemplo, Hobbes entende que o homem perde a liberdade 
ao aderir ao pacto social em troca de proteção e segurança. Para Locke, por 
sua vez, o homem não perde a liberdade natural ao aderir à sociedade civil, 
antes disso, a liberdade do cidadão passa a ser respeitada e garantida pelo 
Estado. Já para Rousseau, a liberdade e a igualdade do homem passam por 
uma transformação “química”, reencontrando-as no Estado de forma 
 
 
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“desnaturadas” a partir de uma perspectiva inteiramente nova por meio da 
maior participação política dos indivíduos. 
 Neste momento faz-se necessário estabelecermos algumas 
aproximações e nuances entre os pensadores contratualistas acerca da 
relação entre liberdade e Estado. Neste sentido, Hobbes nos ensina que existe 
uma incompatibilidade entre a liberdade natural e o Estado, isto é, a liberdade 
seria danosa, um obstáculo para o convívio social em razão do homem ser 
dominado pelas paixões, desse modo o indivíduo abriria mão da liberdade em 
prol da segurança provida pelo Estado. Locke, por sua vez, entende que o 
Estado não pode cercear a liberdade natural do indivíduo, uma vez que a 
liberdade é inalienável (não pode ser vendida, transferida ou cedida) em que o 
governo não pode interferir na mesma. Por fim, Rousseau entende que o 
homem só é livre sob a proteção do Estado, uma vez que o estado de natureza 
é danoso para o homem por conta da corrupção humana. 
É possível encontrarmos mais elementos da visão política de Rousseau 
em duas principais obras, resumidamente, na obra “Discurso”, o autor defende 
o argumento de que o homem era feliz no estado de natureza, mas ao fazer 
parte de uma sociedade, o mesmo seria corrompido por sentimentos de 
ganância, individualidade e exploração sobre os demais; já no “Contrato 
Social”, o homem abriria mão do estilo de vida natural, descrito no Discurso, 
para viver no seio da sociedade em prol do bem comum. 
 
TEMA 2 – O ESTADO DE NATUREZA 
 
 O ponto de partida para entendermos a visão de Rousseau acerca das 
razões que levam os homens a firmar um pacto social e, portanto, construir o 
Estado, assenta suas bases em temas tais como o estado de natureza, o 
surgimento da propriedade e o problema da escravidão. 
 Partindo do livro “Discurso sobre a origem e os fundamentos da 
desigualdade entre os homens”, o autor menciona que no momento anterior à 
criação do Estado, ou seja, no momento apolítico, ele concorda com os demais 
contratualistas acerca do argumento de que o principal objetivo do homem no 
estado de natureza é a autopreservação. Ora, neste momento pré-estatal, o 
homem é livre, ou seja, não há impedimentos para sua ação e nenhuma 
prescrição de comportamento em termos de normas e regras (leis). No estado 
 
 
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de natureza, o homem é feliz, são e saudável, e vive em comunhão com a 
natureza. Ele faz uso desta para tirar seu sustento (caça e coleta), utiliza seus 
recursos (madeira, resina, óleo) e por meio da confecção de instrumentos 
produtivos, o homem aprimora suas técnicas para a caça (arco e flecha) e para 
a produção de alimentos (arado). A harmonia vivida pelo homem no estado de 
natureza com o ambiente natural reflete inclusive na harmonia entre os 
homens. 
 Rousseau expõe nesta obra a famosa teoria do “bom selvagem”, que por 
sua vez influenciaria milhares de pensadores em todo o mundo, trazendo a 
ideia de que o único momento feliz da Humanidade foi quanto o homem vivia 
no estágio tribal, porque nele ainda não existia a desigualdade econômica e 
social, que viria depois. 
Conforme o professorDoacir Quadros apresenta no terceiro capítulo do 
nosso livro-base, “Nesse estágio inicial do estado de natureza, o homem vive 
solitário, errante pelos campos, mas, segundo Rousseau, ao descrever suas 
habilidades do corpo e do espírito, passa a adquirir sentimentos que dão razão 
para formar famílias, tribos e hordas” (2016, p. 103.). Adicionalmente, nesse 
estágio inicial do estado de natureza, a propriedade era ilimitada, ou seja, o 
homem dispunha de inúmeras propriedades, de terras para plantar a fim de 
obter os recursos do ambiente natural. Importante mencionarmos que essas 
propriedades não eram demarcadas e nem privadas, as terras bem como seus 
frutos estavam à disposição de todos. O que dava direito para o homem 
permanecer e trabalhar à terra era o trabalho, o seu esforço, dando-lhe direito a 
gleba (terra crua, sem qualquer regulamentação) até a colheita e, segundo 
Rousseau, “(...) de ano a ano – o que, tornando-se uma posse contínua, 
transforma-se facilmente em propriedade (Rousseau, citado por Quadros, 
2016, p. 103) 
Essa realidade descrita por Rousseau começa a mudar quando a 
propriedade (que antes pertencia a todos) passa a ser demarcada, tornando-se 
privada. Neste contexto, o filósofo argumenta: 
“As coisas teriam continuado sempre nesse estado se os 
talentos fossem iguais [...] mas a proporção que em nada se 
apoiava logo se rompeu; o mais forte trabalhava mais, o mais 
esperto tirava melhor partido do seu trabalho [...]. Assim, a 
desigualdade natural insensivelmente se desenvolve com a 
desigualdade de combinação, e as diferenças entre os homens 
tornam-se mais sensíveis [...] (ROUSSEAU, 1989, p. 209-210). 
 
 
 
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 Na passagem acima Rousseau apresenta algumas pistas acerca do seu 
posicionamento crítico em relação as origens da desigualdade entre os 
homens. Dada a emergência e a evolução da sociedade e da desigual 
distribuição de bens e recursos, em que o homem precisa dominar a natureza e 
explorá-la, retirando da mesma os frutos necessários para a sua sobrevivência, 
o homem passou a ficar aprisionado por conta dos próprios vícios (ganância, 
exploração, egoísmo) oriundos da luta pelos recursos. Em outras palavras, de 
modo a garantir a autopreservação, a harmonia entre os homens passa a ser 
corrompida por conta da luta desenfreada pela acumulação dos “frutos” da 
natureza. Neste raciocínio, os indivíduos passarão a acumular além daquilo 
que é necessário para sua sobrevivência, o que em um determinado momento 
inevitavelmente incorrerá em uma repartição desigual dos recursos, criando 
uma situação em que os indivíduos serão escravos de sua própria ganância e 
da ânsia por mais recursos. 
 Para o filósofo, o surgimento da propriedade privada faz com que o 
homem seja tomado por sentimentos perversos, tais como a astúcia, a 
ambição, a ostentação, inveja e usurpação, os quais se manifestam inclusive 
pela busca do lucro. Para o autor, tais sentimentos passam a ser danosos para 
o homem que vive em estado de natureza e se mostram como obstáculos para 
a autopreservação, porque conduz os homens a um estado de permanente 
competição e conflito (QUADROS, 2016). 
 
TEMA 3 – O ESTADO EM ROUSSEAU 
 
 Nos primeiros parágrafos no livro “Do Contrato Social”, Rousseau traz a 
seguinte afirmação: “O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se 
aprisionado. O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo 
do que eles. Como se deve esta transformação? Eu o ignoro: o que poderá 
legitimá-la? Creio poder resolver esta questão” (ROUSSEAU, 1997, p.3). Neste 
excerto Rousseau sinaliza ao leitor a passagem do estado de natureza ao 
estado civil e, mais ainda, ele pergunta como ocorreu a mudança da liberdade 
para a servidão, e responde que não sabe a resposta, mas que pode resolver o 
problema de legitimidade do pacto social, por meio do qual os indivíduos, após 
terem perdido sua liberdade natural, ganham, em troca, a liberdade civil. 
 
 
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É neste contexto que Rousseau propõe a formação de um poder político 
de modo a pôr fim o estado de guerra de todos contra todos. Nas palavras do 
pensador suíço: 
“Reduzamos todo esse balanço a termos de fácil comparação. 
O que o homem perde pelo contrato social é a sua liberdade 
natural e um direito ilimitado a tudo que o seduz e que ele pode 
alcançar. O que com ele ganha é a liberdade civil e a 
propriedade de tudo que possui. [...] impõe-se distinguir entre a 
liberdade natural, que só conhece limites nas forças do 
indivíduo, e a liberdade civil, que se limita pela vontade pela 
vontade geral [...] (ROUSSEAU, 1997, p. 26). 
 
A passagem acima retrata o argumento de Rousseau acerca da 
necessidade de fazer um pacto legítimo entre os indivíduos, por meio do qual 
abririam mão da liberdade no estado de natureza, a qual não tem limites, uma 
vez que não é controlada por leis, liberdade esta que contribuiria para a criação 
do estado de guerra. Ao abrir mão da liberdade natural, os homens recebem 
em troca a liberdade civil, composta por um ordenamento jurídico permeado de 
normas e regras, de cuja elaboração também participam. 
Dentre os pontos em comum entre os contratualistas, destacamos o 
argumento acerca da existência na sociedade civil de uma certa hierarquia 
entre aqueles que comandam e aqueles que obedecem. Por exemplo, Hobbes 
entende que o poder soberano deve estar nas mãos do governante, do 
monarca; para Locke, o poder soberano deve estar nas mãos do Legislativo, 
com destaque para o sistema político parlamentarista. Rousseau, por sua vez, 
traz uma inovação neste aspecto ao sugerir que a melhor forma de evitar que o 
governante abuse de seu próprio poder é ceder esse poder a alguém que não 
irá abusar contra si mesmo, neste caso, o pensador suíço está se referindo ao 
povo. É por isso que a preocupação dele consiste da sociedade ser capaz de 
garantir a vontade popular, a soberania popular, que veremos de modo mais 
detalhado na seção seguinte. 
 
TEMA 4 – ESTADO CIVIL (PODER POLÍTICO) 
 
O contrato civil representa não apenas o fim do estado de guerra, mas 
também a união entre os homens, união esta caracterizada pela criação de um 
corpo político, coletivo e moral que chamamos de Estado. Uma vez criado, os 
homens ficam submetidos às leis criadas pelo próprio corpo político. Para 
 
 
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tanto, o autor ressalta o argumento de que não basta que tenha havido um 
momento inicial de legitimidade, é necessário que a legitimidade permaneça ou 
que se refaça a cada instante. Em outras palavras, não basta o ato de vontade 
da fundação do Estado, pois, para que o corpo político se desenvolva é 
necessário que essa vontade se realize continuamente por meio da soberania 
popular de forma a atender ao interesse comum. 
O corpo político que surge após a instituição do Estado é o único a 
determinar o modus operandi do aparelho estatal. O autor se refere ao poder 
político, o conjunto de instituições formadas pelo Executivo e pelo Legislativo, 
cuja função desse poder consiste, de modo geral, em executar a vontade do 
poder soberano do povo. Dito de outra forma, os dois poderes têm a função 
não apenas de executar a Vontade Geral, mas também de protegê-la. 
Ao longo do livro “Do Contrato Social”, Rousseau nos traz a aplicação de 
algumas ricas metáforas que nos ajudam a compreender a relação do poder do 
corpo político, representado pelas instituições (Executivo e o Legislativo), com 
a Vontade Geral. Enquanto que as instituições corresponderiam ao “cérebro” 
do corpo político, a Vontade Geral, por sua vez, corresponderia o “coração”. Na 
visão do pensador, o cérebro poderia, porventura, parar de funcionar (no 
sentido de uma alteração do sistema político), mas se o coração continuar 
funcionando, daí sim se mantém a vitalidade da sociedade, que consiste em 
nada mais e nada menos do que a vontade do povo. Ainda usando a metáfora 
descrita pelo autor, o fato do “coração continuar batendo”significa a 
capacidade do povo de mobilização popular em prol da luta pelos seus 
interesses e pelos seus direitos, o que por sua vez permite a possibilidade do 
Estado de garantir a sua manutenção e atualização. 
Rousseau destaca a importância da participação popular, do 
envolvimento contínuo dos cidadãos no processo político em prol do interesse 
coletivo e, principalmente, na fiscalização das ações do seu governante bem 
como das instituições que compõem o corpo político do Estado. As 
mobilizações populares em diversos países ao redor do globo atestam a 
importância da participação dos indivíduos enquanto agentes fiscalizadores das 
instituições e das ações de seus governantes. 
Importante enfatizarmos que o poder político é constituído pelos Poderes 
Legislativo e Executivo, os quais têm como objetivo principal filtrar e executar a 
vontade geral da população, ou seja, executar a vontade do poder soberano. 
 
 
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Para Rousseau, em tese, cabe ao Executivo o papel de executor das leis e da 
manutenção da liberdade civil; ao passo que cabe ao Legislativo (instituição 
máxima que representa a vontade da sociedade) o papel de elaborar as 
normas e regras (leis) de acordo com a soberania popular. 
 
TEMA 5 – DEMOCRACIA 
 
Vimos até aqui a importância dada por Rousseau acerca da participação 
da sociedade civil no processo político. Para ele, é imprescindível que o povo, 
além do fato de estar sujeito às leis, seja ele o próprio autor das normas e 
regras, de modo a fazer com que as mesmas concretizem as vontades da 
sociedade. Neste contexto, o processo da construção da lei representa a 
expressão da vontade geral e somente por meio dela é possível subjugar os 
cidadãos para torná-los livres, na condição do que Doacir Quadros chama de 
“servos sem senhores” (2016, p. 107). 
De posse destas considerações podemos afirmar que a forma ideal de 
governo, para Rousseau, é a democracia, a rigor, a democracia direta, em que 
se observa a intensa participação dos cidadãos na elaboração das leis, 
momento que estes afirmam sua verdadeira condição de liberdade. Na 
democracia direta os membros de uma comunidade deliberam diretamente 
sobre as decisões políticas, sem intermediação de representantes. Neste 
contexto Rousseau alertava acerca da importância de se empregar alguns 
meios para evitar a degeneração do governo, por exemplo, a partir da 
mobilização dos cidadãos em assembleias com o objetivo não apenas de 
fiscalizar as ações do governante, mas de fazer com que a vontade geral 
prevaleça sobre os interesses particulares. Tais ações poderiam contribuir para 
reduzir a apatia política e o individualismo dos individíduos, uma vez que 
ambos os comportamentos contribuem para a degeneração do governo 
(QUADROS, 2016). Sobre a relação do individualismo do indivíduo e o governo 
civil, Marcos Acquaviva menciona que: “A própria família somente se mantém 
em razão de laços contratuais. O individualismo, aliás, reduz o casamento a um 
contrato e, como tal, dependente de um acordo de vontades, que podem 
dissolvê-lo livremente; daí o divórcio” (2010, p. 122). 
Na obra “Do Contrato Social” podemos verificar que Rousseau era 
contrário à chamada democracia representativa, na seguinte passagem: “A 
 
 
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soberania não pode ser representada, pois não admite alienação. Ela se 
expressa pela vontade geral, e esta não admite representantes; ou é ela ou 
não é; não há meio-termo” (ROUSSEAU, 1997, Livro Terceiro, Capítulo XV). É 
muito importante levarmos em consideração o contexto histórico do autor para 
entendermos sua visão política, uma vez que nas democracias atuais é 
praticamente impossível aplicar a democracia direta de forma plena em virtude 
das dimensões populacionais e da complexidade assumida pelo sistema 
representativo. Desse modo, atualmente, não existe em nenhum país uma 
democracia direta segundo a perspectiva de Rousseau, contudo, em alguns 
cantões da Suíça e na cidade sueca de Vallentuna, encontramos exemplos de 
democracia direta em que cidadãos participam (por meio de assembleias) para 
deliberação de decisões de caráter estritamente local. 
 
 
NA PRÁTICA 
 
 Em face das inovações trazidas por Jean-Jacques Rousseau para o 
pensamento político contemporâneo, recomendamos fortemente a leitura do 
terceiro capítulo de nosso livro-base, a saber, “O Estado na Teoria Política 
Clássica”; a leitura dos respectivos slides da aula escrito pelo Professor Dr. 
Doacir Quadros, bem como assistir a sexta vídeo-aula. 
Além disso, recomendamos as seguintes leituras: i-) Teoria Geral do 
Estado, escrito por Marcus C. Acquaviva, em especial o capítulo seis (Formas 
de Governo), em especial a subseção 1.7 sobre o pensamento de Rousseau; 
no mesmo capítulo, recomendamos a leitura da subseção 2.4 sobre 
Democracia, com destaque para a Democracia direta e a representativa; ii-) 
recomendamos a leitura do sexto capítulo do livro “Os clássicos da política, de 
Francisco Weffort, intitulado “Rousseau: da servidão à liberdade”. 
. 
 
FINALIZANDO 
 
 O objetivo deste material referente à sexta vídeo-aula de nossa 
disciplina foi trazer alguns conceitos e pensamentos de um dos autores 
contratualistas mais influentes de sua época, Jean-Jacques Rousseau. Na 
 
 
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primeira seção apresentamos o pensamento político do filósofo suíço a partir 
das duas obras mencionadas. Dentre as inovações trazidas por ele 
destacamos o argumento de que o exercício do poder soberano do Estado 
deve estar alicerçado na soberania popular, isto é, em contrato social 
construído com base na vontade geral. 
 Não poderíamos deixar de mencionar o entendimento de Rousseau de 
conceitos muito importantes para o pensamento político moderno, tais como a 
liberdade, o surgimento da propriedade privada e o problema do 
aprisionamento do homem por conta de seus próprios vícios (exploração, 
ganância, egoísmo) oriundo da luta pelos recursos. 
 O pensador traz outra inovação ao sugerir que a melhor forma de 
governo é a democracia direta, em que os cidadãos participariam diretamente 
das decisões relacionadas à máquina estatal, com destaque para os poderes 
Executivo e Legislativo na condição de executores da vontade geral. 
 
REFERÊNCIAS 
ACQUAVIVA, Marcus C. Teoria Geral do Estado. Barueri, São Paulo: Manole, 
2010. 
BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de 
Brasília, 1ª ed., 1998. 
QUADROS, Doacir G. de. O Estado na teoria política clássica: Platão, 
Aristóteles, Maquiavel e os contratualistas. Curitiba: Editora Intersaberes, 2016. 
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da 
desigualdade entre os homens. Apresentação e comentários de Jean-François 
Braunstein. Tradução de Iracema Gomes Soares e Maria Cristina R. Nagle. 
Brasília: Universidade de Brasília; São Paulo: Ática, 1989. 
__________. Do Contrato Social. Tradução de Lourdes Santos Machado; 
Introdução e notas de Paul Arbousse-Bastide e Lourival Gomes Machado São 
Paulo: Nova Cultural, 1997. (Os Pensadores). 
WEFFORT, Francisco C. Os clássicos da política. Volume 1, 1ª. Ed. São Paulo: 
Ática, 2011.

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