@import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700&display=swap); 10 UMA SÍNTESE DIDÁTICA: COSTURANDO A PEDAGOGIA E A PSICOLOGIA.Após a apresentação das quatro principais correntes psicológicas que, mesmo com objetivos distintos, versam sobre a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, podemos nos perguntar qual a relação de tudo isso com as práticas pedagógicas e também com a prática do psicólogo no campo escolar. Na verdade, isto nos remete à relação entre teoria e prática e convém deixarmos claro que a prática alimenta e é alimentada pela teoria e vice-versa. Quando estamos imersos no mundo prático, nossas ações não estão o tempo todo pautadas em uma determinada teoria. Por outro lado, seria ingenuidade não considerar que nossos atos e posicionamentos profissionais estão impregnados de nossa visão de mundo.No caso do trabalho na instituição escolar, nossas intervenções, posicionamentos e decisões estão norteados pela nossa forma de ver as pessoas, a sociedade e a própria educação. Dessa forma, ao lançarmos olhar sobre o nosso campo de trabalho (aluno, professor, escola, relações institucionais, etc.), utilizamos a lente teórica que mais se adéqua a nossa visão de mundo e de sujeito. No entanto, não podemos afirmar que a prática é aplicação de uma teoria. Na prática escolar, por exemplo, as crianças riem, brincam, choram, brigam, inventam e os professores perdem a paciência, divertem-se, passam tarefas, desentendem-se, estão satisfeitos ou não com o processo de trabalho, e todas as experiências são práticas cotidianas e não aplicação de uma teoria.Vivemos a prática cotidiana sem refletir a respeito dela. Só paramos para refletir quando nos deparamos com um problema. Um problema suscita questões que requerem explicações. Exigem, pois, que nos afastemos da realidade em questão buscando compreender seus aspectos e elementos essenciais. Buscamos organizar nosso processo de reflexão sobre nossas vivências num sistema explicativo coerente. Logo a prática não pode ser considerada aplicação da teoria, mas base para sua construção. E a teoria elaborada, por sua vez, seria a sistematização sobre aspectos da prática que nos ajudam a problematizá-la e redefini-la, revelando o movimento dinâmico entre teoria e prática.A maneira como um professor lida com a complexidade da prática relaciona-se com a compreensão que ele tem dela, sendo esta compreensão, muitas vezes, mediada pela teoria, na articulação entre teoria e prática. Voltando às teorias anteriormente apresentadas, não precisamos nos posicionar de forma excludente, isto é, escolher entre uma e outra. Percebemos que cada teoria explica, se dedica a aspectos diferentes do tema desenvolvimento e aprendizagem.Se tomemos como exemplo as dificuldades de aprendizagem no âmbito escolar, lentes diferentes para apreendermos esta realidade nos farão olhar deformas diferentes para esta questão, produzindo intervenções também diferenciadas. Assim, se uma criança encontra-se com dificuldade em aprender determinado conteúdo e nos baseamos na abordagem maturacionista, diremos que isso se deve à falta de maturidade da criança ou a algum atraso no seu desenvolvimento. Mas, se utilizamos a abordagem histórico-cultural, compreenderíamos a dificuldade de aprendizagem não como algo inerente à criança, mas às suas condições de produção no contexto interativo na qual ela se insere, uma vez que para esta teoria tanto a aprendizagem como o desenvolvimento são processos que ocorrem no plano das interações sociais.Vimos que os problemas existentes no cotidiano escolar são compreendidos de forma bastante distintas, dependendo da abordagem que utilizamos. É conveniente, portanto, ao analisarmos as questões colocadas pela prática escolar, que utilizemos as diferentes abordagens teóricas para apurarmos nossa compreensão sobre suas idiossincrasias.No próximo módulo, nos debruçaremos sobre a prática do psicólogo na escola, entendendo que esta prática, longe de ser neutra, muitas vezes, contribui para a institucionalização de um problema emocional, que muitas vezes tem seu cerne nas relações estabelecidas no interior da própria escola. Portanto, o psicólogo para atuar neste campo, e em tantos outros, precisa ampliar o seu olhar clínico até incluir o contexto onde os ditos \u2018problemas de aprendizagem\u2019 acontecem, sob o sério risco de estigmatizar a criança.
Compartilhar