@import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700&display=swap); 13 VISÃO SISTÊMICA SOBRE A QUEIXA ESCOLAR: O ALUNO, A FAMÍLIA E A ESCOLA.Reconhecendo que o paradigma sistêmico vai além do paradigma linear de causa e efeito no qual um aluno não aprende porque possui uma deficiência, a compreensão que o sistema escolar dá aos problemas de aprendizagem pode ser virtuosamente transformada quando os elementos do sistema concebem-se como fazendo parte do mesmo e, portanto, também responsável pela sua construção e manutenção. É necessário, então, que sejam considerados, dentro dessa perspectiva o contexto e as relações estabelecidas com o aluno, assim como o sentido dado àquilo que chamamos de problema de aprendizagem.Podemos supor, dessa forma, que aquilo que a professora significa como problema de aprendizagem podem ser fruto de suas experiências prévias e apropriações geradas nas suas interações nos sistemas em que vive e viveu ao longo de sua história (ANDRADA, 2003, p. 172). Sendo assim, essa pode ser reestruturada ou reenquadrada. Assim como os significados construídos podem ser transformados, os sistemas movem-se através do tempo e se modificam, em uma perspectiva cíclica.A capacidade de mudança é decisiva para a saúde da família e também dos grupos e instituições. As mudanças acontecem porque as situações também são novas, exigem novas soluções. Cada sistema tem ciclos distintos que representam cada estágio de desenvolvimento. Como as famílias lidam com cada fase também é variável. É necessário que se inclua, também, os aspectos sociais, econômicos e culturais dentro das intervenções propostas pelo psicólogo escolar. A família, mas também a escola é transmissora de cultura, por esse motivo, a importância de se conhecer os valores religiosos, crenças, preconceitos, valores sociais, etc. Um psicólogo com visão sistêmica é parte sociólogo, parte antropólogo, parte filósofo e um observador a respeito das formas de funcionamento dos sistemas e de seu meio social.O pensamento sistêmico exige uma reflexão contextual, segundo Andrada (2003), pois apresenta os seguintes princípios:Totalidade \u2013 onde se compreende o todo maior do que a soma de suas partes, ou seja, não podemos entender o funcionamento do sistema a partir do funcionamento de um indivíduo.Integridade de subsistemas \u2013 os sistemas possuem subsistemas integrados, relacionados uns aos outros.Circularidade \u2013 onde todos os elementos se influenciam mutuamente.Sob esse olhar, a compreensão de um sintoma precisa ser considerada de diversas maneiras, determinado por diversas causas, bem como reconhecer a função que um dado problema exerce no sistema, num dado momento. Para Andrada (2003, p. 173), portanto, o aluno \u201cnão pode mais ser visto como sujeito dotado de problemas, separado do sistema sala de aula, mas como um sujeito relacional cujo problema exerce uma função no sistema\u201d.(...) é ainda preciso levar em conta que o problema manifestado por uma criança (...) é um conjunto importante da manutenção do equilíbrio(homeostasia) do sistema inteiro. É o que explica a persistência no tem pode algumas dificuldades e a pouca eficácia das medidas que tendem a fazer desaparecer o problema ao focar-se no indivíduo que o manifesta(CURONICI e MCCULLOCH In ANDRADA, 2003, p. 173).O trabalho do psicólogo na escola torna-se de fundamental importância, na medida em que abre espaço para discussões, para orientações colaborativas, para a reflexão e problematização dos problemas vividos. A utilização de uma só teoria para a compreensão dos fenômenos empobrece as intervenções e enfraquece seus efeitos. Quanto mais diversificadas forem as lentes que utilizamos na leitura e compreensão do significado de um problema, mais rica será nossa compreensão de mundo.No tópico seguinte refletiremos sobre a visão sistêmica do funcionamento familiar que nos oferece subsídios para uma compreensão mais ampliada dos elementos desse sistema, em especial, a criança, personagem central da cena escolar.13.1 A FAMÍLIA SEGUNDO UMA PERSPECTIVA SISTÊMICACarter e McGoldrick (In Andrada, 2003) classificam seis fases evolutivas na vida da família: o jovem solteiro; o casamento; família com filhos pequenos; famílias com filhos adolescentes; famílias no meio da vida e famílias no estado tardio da vida. É observado que o surgimento de um sintoma acontece nas passagens de estágio, pois o nível de estresse familiar aumenta nos períodos de transição. É de suma importância o reconhecimento desse processo na abordagem dos problemas escolares e dos comportamentos desviantes. Ter essa compreensão auxilia o psicólogo no diagnóstico situacional a partir de uma queixa escolar.Muitas vezes, o psicólogo pode atuar como mediador dos conflitos transgeracionais, principalmente relacionados com o choque cultural entre pais e filhos. Cada geração tem seus próprios comportamentos, jogos, linguagem, música, moda, arte e objetivos. O psicólogo pode solicitar o comparecimento da família para compreender melhor o comportamento do aluno e, nesse momento, pode realizar intervenções sistêmicas que ajudem a família a compreender seu processo de vida no ciclo vital.O psicólogo escolar não se configura como um terapeuta familiar, uma vez que seus objetivos são diferenciados. O papel do terapeuta familiar é também muito complexo. É preciso que a atenção esteja aguçada a todo o momento. Algumas atitudes ou reações são indícios de que algo está acontecendo com este terapeuta. Reagir rapidamente a um comentário ou opinião é um destes sinais. Sentimentos fortes como amor ou ódio por uma família, casal ou pessoa, também exige um foco especial. \u201cTomar partido\u201d de um membro ou subsistema em detrimento de outro, demanda atenção. É saudável querer saber sobre as competências, dificuldades e a história passada de cada família. A maioria das famílias conhece mais seus defeitos e fracassos do que seus talentos e sucessos.Dentro das famílias há subsistemas dinâmicos e flexíveis. Quanto maior é o número de subsistemas mais saudável é esta família. Outra função do terapeuta é clarificar a estrutura e as qualidades dinâmicas desses subsistemas. Chamamos de subsistemas as identificações e as alianças que vão se entrelaçando conforme os conflitos e as situações difíceis vão se apresentando.As relações pais e filhos denotam um capítulo extenso e a parte. Porém, uma coisa é evidente. O controle e o poder da família têm que estar nas mãos dos pais e quanto mais claro isso ficar, mais favorável será a dinâmica familiar. Famílias desorganizadas exigem que os terapeutas assumam mais poder e liderança até que possam assumir comportamentos mais adaptativos e coesos. As crianças não conseguem sustentar todo o medo (de crescer, de encarar o mundo etc.) sem a segurança de pais responsáveis. Quanto menor é a criança mais proteção ela exigirá. Um bebê morrerá se não for alimentado. Só que à medida que as famílias crescem, os filhos precisam cada vez menos desta proteção. Proteger demais é tão prejudicial quanto proteger de menos. Isso não significa que as famílias não errem esta medida. Pais saudáveis e atentos estão sempre reavaliando estas posições intermediárias na busca de uma construção mais correta.Muitas das ideias utilizadas na abordagem sistêmica das relações familiares podem ser aplicadas ao campo escolar, porém demanda mais trabalho, pois necessitem a os elementos são mais numerosos, os subsistemas mais variados, as relações de poder mais aguçadas o que exige um profissional sempre atento às mais variadas manifestações comportamentais.
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